Gus Van Saint foi o queridinho da crítica especializada nas décadas de 1980 e 1990. Não é para menos. Van Saint dirigiu pelo menos três grandes obras naqueles anos: "Drugstore Cowboy" (sobre viciados em drogas),"Garotos de Programa" (sobre a triste realidade da prostituição masculina) e "Gênio Indomável", que o consagrou definitivamente. Depois desse êxito inicial ele teve a péssima idéia de fazer um remake cena a cena do grande clássico "Psicose" de Alfred Hitchcock. Foi um desastre e a partir daí sua carreira entrou em parafuso. Depois de uma série de produções apagadas ele finalmente voltou aos holofotes com esse sensível drama político "Milk". O enredo conta a estória de Harvey Milk (1930-1978), um corajoso político norte-americanno que resolveu assumir sua homossexualidade na década de 1970. Na época a simples menção de que algum político fosse gay já era suficiente para destruir sua carreira. Milk assim quebrou esse estigma e demonstrou que honestidade e espírito público nada tinham a ver com a opção sexual de cada um. São coisas completamente independentes. Como sempre a democracia americana se tornou o grande palco dessa verdadeira mudança de mentalidade dentro da sociedade. Assim Milk, mesmo sendo assumidamente gay, acabou sendo eleito para um importante cargo público em sua cidade. Gus Van Saint procurou ser sutil. Não estigmatiza seu personagem principal, pelo contrário, o respeita e o trata da forma mais digna possível. O roteiro também conta sua história da forma mais honesta possível, sem manipulações.
A interpretação de Milk valeu o Oscar de melhor ator para Sean Penn. Eu gosto bastante de seu trabalho, tanto aquele desenvolvido como ator como também diretor. O fato, pelo menos na minha opinião, é que sua interpretação não foi melhor ou mais bem elaborada do que a de Mickey Rourke em "O Lutador". Nesse filme Mickey foi literalmente visceral, absoluto. Em "Milk" não vemos tanta grandeza. Acredito que até mesmo Sean ficou constrangido na noite do Oscar pois assim que subiu ao palco apontou em direção a Rourke (quase pedindo desculpas por ter vencido, na verdade). Foi uma premiação controvertida que não convenceu a todos. De qualquer modo acredito que essa foi a forma encontrada pela Academia para não deixar o filme sair da noite de premiação de mãos vazias, o que se revelou um erro pois quando os prêmios foram anunciados "Milk" acabou sendo também premiado com o Oscar de Melhor Roteiro Original. Assim Rourke deveria ter vencido seu prêmio pois era mais do que merecido. Deixando de lado esses aspectos ligados a prêmios temos que chamar a atenção para o fato de que "Milk" é uma daquelas produções que ajudam a criar uma consciência positiva no grande público. Mostra que a sexualidade pertence a cada um e que isso não define ninguém como digno ou não, pelo contrário, todos possuem sua própria dignidade como pessoa, ser humano, e isso independe de suas preferências sexuais ou afetivas. Esse é o grande valor de "Milk".
Milk (Milk, Estados Unidos, 2008) Direção: Gus Van Saint / Roteiro: Dustin Lance Black / Elenco: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, Diego Luna, James Franco, Alison Pill, Victor Garbe / Sinopse: Biografia do político americano e ativista gay, Harvey Milk. Eleito na década de 1970 a um importante cargo público, mesmo se declarando homossexual assumido, Milk se tornou um marco dentro da mudança de mentalidade da sociedade americana.
Pablo Aluísio.