segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O Nascimento de Uma Nação

O filme conta a história real de um escravo negro chamado Nat Turner. Ele viveu em Southampton, na Virgínia, sul dos Estados Unidos, no século XIX. Nascido e criado em uma fazenda de algodão ele poderia ter sido apenas um dos milhares de escravos que existiam nas extensas fazendas sulistas se não fosse por um detalhe que o diferenciava dos demais: ele aprendeu a ler e começou a estudar o evangelho. Naqueles tempos isso era extremamente raro pois a imensa maioria dos cativos eram analfabetos. Isso despertou a curiosidade dos demais fazendeiros brancos que começaram a pagar ao seu dono para levá-lo para pregar aos demais escravos da região.

Em um primeiro momento poderia até parecer que isso seria uma atitude caridosa dos donos de escravos, porém as intenções eram outras. Eles determinavam a Nat que ele apenas recitasse e ensinasse os trechos bíblicos que justificavam a escravidão, uma forma de amenizar e reprimir os desejos de rebelião dos escravos negros. Assim Nat nada mais era do que um instrumento a mais de dominação e repressão e não um verdadeiro pregador da mensagem bíblica. Aos poucos porém ele vai percebendo a deplorável situação de seus irmãos, muitos deles submetidos a torturas, castigos físicos e toda série de brutalidades que se possa imaginar. A partir desse ponto não é complicado imaginar o sentimento de revolta que acabou tomando conta de seus pensamentos e atos. Após ser brutalmente chicoteado, apenas por ter batizado um homem branco, Nat resolveu então liderar uma revolta de escravos, dando origem a um conflito sangrento que entrou para a história.

Esse é um excelente filme. Ele foi prejudicado nos Estados Unidos em seu lançamento porque o ator e diretor Nate Parker foi acusado de estupro, justamente na semana em que o filme chegava nos cinemas americanos. Isso fez com que a imprensa se concentrasse apenas nisso, deixando os méritos cinematográficos dessa produção completamente de lado. Uma pena. O filme conta uma história relevante, desconhecida até mesmo pelos negros americanos. Seria o resgate histórico da figura de Nat Turner, que apesar de ter escolhido os meios errados pela luta de sua causa, teve o importante papel de ser um dos pioneiros na busca pela liberdade dos escravos de sua época. Por fim um dado histórico estarrecedor: a história de Nat e sua rebelião serviram de justificativa para que uma lei fosse aprovada na Virgínia. Essa lei determinava que era proibido, a partir daquele momento, o ensino e aprendizado dos escravos negros, ou seja, era proibido ensinar a um escravo a ler e escrever. Tempos completamente obscuros eram aqueles.

O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation, Estados Unidos, 2016) Direção: Nate Parker / Roteiro: Nate Parker / Elenco: Nate Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller / Sinopse: Nat Turner (Nate Parker) é um jovem escravo que decide liderar uma rebelião pela liberdade de seu povo no sul racista dos Estados Unidos do século XIX, dando origem a um verdadeiro banho de sangue entre negros e brancos. Filme indicado aos prêmios da African-American Film Critics Association (AAFCA) e Black Reel Awards.

Pablo Aluísio.

6 comentários:

  1. Avaliação:
    Direção: ★★★★
    Elenco: ★★★★
    Produção: ★★★
    Roteiro: ★★★★
    Cotação Geral: ★★★★
    Nota Geral: 7.9

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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  2. Eu até conseguiria entender o desprezo que os americanos dispensavam aos negros, uma vez que tanto socialmente, como espiritualmente eram considerados seres de segunda categoria (a igreja dizia que eles, assim como os animais, não tinham alma), mas o difícil de engolir é o ódio (hate). Porque? Hoje até que os negros inspiram um certo medo pela revolta que estes carregam e a violência que podem gerar, mas na época da escravidão eram uns coitados de uns cordeiros. Americano é um povo estranho: vislumbraram a liberdade do ser humano, mas se tornaram reacionários como seus algozes.

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  3. O americano médio é racista. Tenho um amigo que foi morar por uns anos nos Estados Unidos. Uma coisa que lhe chamou a atenção é que os americanos sempre categorizam as pessoas. Sendo você um brasileiro será colocado no grupo dos latinos, mesmo que haja pouca semelhança cultural entre um brasileiro e um mexicano, um colombiano, etc. E em relação aos negros, nem preciso dizer. Na mente de um americano do interior sulista eles sempre serão seres humanos de segunda categoria, não tem jeito.

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  4. Se olharmos bem de perto, bem de pertinho mesmo, chegaremos na conclusão que a sociedade americana é bem doentia.

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  5. Você tem toda a razão. Quando eu percebo, em filmes normais, com que tipo de puritanismo eles encaram o sexo, praticamente como uma coisa suja e a ser evitado ao máximo, eu me pergunto: como esse país conseguiu ter 300 milhões de habitantes? Eles devem ter sofrido muito para fazer esse monte de filhos tendo a repugnância e falta de jeito para o sexo que eles obviamente tem.

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