segunda-feira, 4 de julho de 2016

Michael Cimino

Nos últimos dias tivemos notícias sobre as mortes de pessoas bem relevantes dentro do cenário cultural internacional. O guitarrista de Elvis Presley em seus anos pioneiros, Scotty Moore, faleceu em Memphis. Na Itália veio a triste nota sobre a morte de Bud Spencer, um popular ator de filmes de western spaghetti, muito querido no Brasil e finalmente foi noticiado poucos dias atrás a morte do cineasta Michael Cimino (ele faleceu no dia 2 de julho). Eu tive o privilégio de acompanhar grande parte de sua carreira e posso afirmar que foi um dos cineastas mais injustiçados da história de Hollywood.

Para perceber bem isso basta constatar que ele ao todo só dirigiu oito filmes em quatro décadas de carreira! Sem dúvida um número bem abaixo do que seria esperado. Como quantidade nem sempre anda de mãos dadas com qualidade é fácil percebermos que quase todos os seus filmes tiveram, à sua maneira, uma importância fora do comum dentro da história do cinema americano. Sua carreira como cineasta começou em 1974 com "O Último Golpe", onde além da direção escreveu o roteiro. O filme era estrelado por Clint Eastwood e Jeff Bridges. É curioso que Clint, já naquela altura de sua carreira um grande astro de Hollywood, tenha aberto espaço para ser dirigido por Cimino, pois ele já naquela época estava com a ideia fixa de dirigir ele mesmo em seus futuros filmes. Perfeccionista e centralizador, Clint queria controlar tudo no que dizia respeito a sua filmografia, mas abriu espaço para aquele novato mostrar o que poderia fazer atrás das câmeras. Como Eastwood era um dos astros do momento o filme acabou fazendo uma bela bilheteria, o que abriu as portas dos grandes estúdios para Cimino.

Apesar da ótima experiência ao lado de Clint, Cimino queria realizar um cinema mais autoral e sua primeira grande chance nesse sentido veio com a produção seguinte, "O Franco Atirador" com Robert De Niro e Christopher Walken. A proposta do filme mexeu com a sociedade americana pois lidava com o complicado tema da guerra do Vietnã e seus efeitos colaterais. Consagrado pela crítica, Michael Cimino, já em sua segunda direção, conseguiu ser premiado com o Oscar de Melhor diretor do ano, um feito praticamente inédito e surpreendente para alguém como ele, considerado apenas um novato no exclusivo mundo dos diretores. Apesar de sua inegável consagração (o filme foi premiado com cinco estatuetas no Oscar daquele ano, inclusive a de melhor filme) nunca foi um dos meus preferidos de Cimino.

Depois de "O Franco Atirador" todos os estúdios queriam o diretor. Essa disputa pelo seu passe acabou inflando seu ego e Cimino talvez tenha dado um passo maior do que a perna no exagerado e megalomaníaco "O Portal do Paraíso". Foi uma produção cara, complicada e problemática, envolvendo muitas disputas entre diretor e estúdio, que acabaria destruindo seus planos de sucesso em Hollywood. Lançado com cortes promovidos pelos produtores (que tinham considerado sua duração excessiva) o filme se tornou um enorme fracasso comercial. Tão ruim foi seu retorno em termos de bilheteria que a produtora United Artists pediu falência. É incrível como Michael Cimino foi do céu ao inferno em tão pouco tempo. Da noite em que foi consagrado no Oscar ao fracasso monumental de "O Portal do Paraíso" não se passaram nem dois anos. Depois disso a carreira do diretor afundou em termos de credibilidade perante os grandes estúdios de Hollywood.

É curioso que após essa queda ele tenha dado início a uma fase extremamente criativa e original (a melhor fase de sua filmografia em minha opinião). "O Ano do Dragão", filme policial estrelado por Mickey Rourke, foi o primeiro passo nesse recomeço. O filme é o meu preferido de Cimino, uma ótima combinação de filme policial com a estética do cinema noir, aqui adaptada para os novos tempos (entenda-se os anos 80). Com orçamento mais enxuto o diretor conseguiu uma boa resposta de público e crítica, justamente na fase que mais precisava. Seguiram-se a ele dois bons outros filmes, "O Siciliano" com Christopher Lambert, baseado na obra de Mario Puzo, e "Horas do Desespero", novamente com Mickey Rourke, aqui ao lado de Anthony Hopkins, em um remake de um antigo filme de Humphrey Bogart. Infelizmente nenhum deles fez sucesso comercial, apesar de suas inegáveis qualidades cinematográficas. Com isso sua carreira caiu no ostracismo quase completo.

Sua despedida só veio com "Na Trilha do Sol" de 1996, um filme menor que pouca atenção chamou. É isso, muito provavelmente se tivesse tido melhor sorte em termos comerciais o diretor teria se dado melhor em sua carreira, dirigindo ótimos projetos que tinha em mente... Infelizmente nenhum estúdio comprou suas ideias. O cinema americano é uma grande indústria, que precisa de lucros e quando eles não aparecem nas bilheterias a tendência é o esquecimento, mesmo que se trate de um cineasta talentoso como foi Michael Cimino.

Pablo Aluísio.

7 comentários:

  1. Michael Cimino por Pablo Aluísio
    Todos os direitos reservados.

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  2. Deixei mais um pitaco pra você no post "Será o fim da União Europeia?".

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  3. Pablo, é verdade que o Michael Cimino quando morreu estava virando mulher? Justo ele, o diretor do cinema de macho?

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  4. Sinceramente falando é a primeira vez que ouço isso...

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  5. Falou hoje no Estudioi da Globo News. o Arthur Checheo e a Maria Beltrão.

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  6. Mostraram até uma foto atual. O bicho está meio hibrido.

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  7. Não duvido... vivemos em um mundo estranho...

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