sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 31

Joe Esposito, em recente entrevista, procurou desfazer essa imagem de um Elvis Presley completamente submisso ao tirânico Tom Parker. Perguntado sobre a recusa de Parker para Elvis fazer a refilmagem de "Nasce uma estrela" (com Barba Streisand), um dos símbolos máximos da teoria "Elvis, marionete de Tom", ele explicou: "As pessoas esquecem que Elvis e o Coronel formavam um time. Elvis não era uma pessoa fácil de manipular. Ele era uma pessoa muito obstinada com as coisas. Todos não percebem que quando ele colocava sua mente contra alguma coisa, você não conseguia mais conversar com ele sobre isso. Ele fazia o que queria. Definitivamente não foi o Coronel que recusou o convite para filmar "Nasce uma estrela". Elvis é que não queria mais fazê-lo após uma conversa. Eu estava lá com Elvis, Barbra Streisand, Jon Peters e o Coronel. A idéia era fabulosa, era a chance de Elvis retomar com estilo sua carreira de ator, que muitos considerava morta e enterrada. Mas depois Elvis pensou e percebeu que o diretor iria ser Jon Peters, namorado de Barbra. Ele percebeu com isso que não teria nenhum controle sobre o resultado final. Ele definitivamente não queria Peters na direção do filme, mas alguém com talento e que não fosse tão íntimo assim da atriz principal. Para Elvis isso iria prejudicar o resultado final, porém ele não tinha como falar isso pessoalmente e abertamente para Barbra. Além disso Elvis estava certo que Barbra, de personalidade extremamente forte e dominadora, iria tomar o controle absoluto sobre isso. O ego de Elvis era muito grande, assim como o de Barbra. Elvis achou que iria perder o controle durante as filmagens. Elvis sentiu que iria entrar em algo que não teria controle. Então ele disse a Parker que ele fizesse uma proposta inaceitável, como pedir uma fabulosa soma de dinheiro que não poderia ser bancada pelo estúdio. E assim Parker o fez. Depois Elvis comentou comigo: 'Deixei o Coronel levar a culpa, ele não se importa com isso'. O Coronel errou muitas vezes durante a carreira de Elvis, ele não era perfeito.

Joe Esposito então desmistifica uma das grandes histórias mal contadas da carreira de Elvis. Com isso ele quer deixar claro que não apenas o Coronel dava suas notas desafinadas na carreira do cantor, mas que ele, Elvis Presley, também era o autor de muitas e muitas notas dissonantes produzidas ao longo dos anos... Joe Esposito foi, durante grande parte da carreira de Elvis Presley, uma das pessoas mais próximas a ele. Além de confidente, amigo e ajudante, Esposito também conseguiu um feito que poucos caras da Máfia de Memphis conseguiram: ser também reconhecido como uma pessoa de valor por ninguém menos do que Tom Parker e a esposa de Elvis, Priscilla Presley. Com essa vantagem em especial Esposito transitou livremente pelos dois pólos da carreira do cantor, tanto compartilhando de sua vida pessoal como profissional, aonde chegou a trabalhar por longo tempo com o Coronel, participando inclusive de muitas decisões que foram tomadas ao longo dos anos envolvendo os rumos que Elvis tomaria dali pra frente. Nada mais natural do que considerá-lo como uma das grandes testemunhas oculares do que efetivamente aconteceu com Elvis em seus anos finais. Ele não apenas ouviu dizer ou leu sobra a história de Elvis, ele a vivenciou. Em vista disso qualquer de seus comentários ou observações é extremamente relevante. Para Joe Esposito o grande problema envolvendo Elvis Presley em seus derradeiros anos não se resumia aos aspectos puramente profissionais ou aos caminhos, muitas vezes equivocados, que ele trilhou.

O grande problema sobre Elvis era estritamente pessoal. Para Esposito chegou um ponto em que ninguém mais poderia ajudá-lo, apenas Elvis poderia se salvar das armadilhas em que havia se enroscado. Questionado hoje, muitos anos após a morte do cantor, se a família ou os amigos poderiam ter salvo a vida de Elvis, o internando em uma clínica de reabilitação para viciados em drogas, por exemplo, numa verdadeira intervenção pessoal sobre ele, Esposito dá sua conclusão sobre o assunto: "Bem, naqueles tempos não pensávamos sequer nessa possibilidade. Fazer uma intervenção em Elvis?! Naquele tempo você não poderia fazer isso. Estamos falando de muitos anos atrás. Estamos falando de um tempo em que apenas seu pai teria os meios legais de fazer algo desse tipo. Certamente Vernon tentou de algum modo, penso inclusive que ele deveria ter sido um pouco mais firme e incisivo sobre essa questão, mas na realidade ninguém tinha controle sobre Elvis e não podíamos fazer nada nesse sentido. Teríamos sido presos e jogados na cadeia por rapto, para falar a verdade. Hoje, esse tipo de coisa é bem mais comum, de qualquer forma nunca ouvi falar em fazer algo desse tipo em alguém tão famoso quanto Elvis".

Para Esposito a grande questão envolvendo Elvis em seus anos finais passa necessariamente por seu uso e abuso de remédios, algo que o limitava, que o inibia a tentar novos caminhos e promover mudanças artísticas no que vinha apresentando em seus momentos finais. Como alguém iria promover algum tipo de mudança significativa se toda sua atenção era desviada para tantos problemas pessoais?! Não havia brecha para que Elvis pensasse seriamente sobre nada, no que diz respeito aos erros e acertos que Tom Parker ia promovendo ao longo do tempo. Com a palavra Esposito: "Certamente havia um sério problema. Ele certamente não engolia tantas pílulas quanto o que vemos em livros e revistas. Mas havia um sério problema envolvido certamente. Elvis tinha uma forte constituição física e era o tipo de pessoa que tomaria algumas pílulas para dormir, só que elas não fariam o mesmo efeito após um certo tempo. Então certamente, duas horas mais tarde, ele tomaria mais algumas. E ele fazia isso com todos os remédios que ingeria. Tomando um monte deles ele acabou imune aos seus efeitos. Para promover os mesmos efeitos ele teria que necessariamente aumentar as doses gradativamente e isso virava um círculo vicioso. Daqui a
pouco a mesma quantidade já não faria mais efeito e então ele aumentaria mais ainda as doses uma segunda vez e assim sucessivamente...

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 30

No novo país, sem emprego e sem perspectivas, Andreas finalmente conseguiu arranjar uma instituição que o aceitasse. Foi assim, tirando novos documentos, alegando que os originais havia sido furtados, que Andreas forjou uma nova documentação e começou a sua nova vida na América, logo no lugar ideal onde ganharia finalmente a legitimação que seu novo personagem tanto necessitava: o exército. É justamente nesse ponto que os primeiros registros oficiais trazem um pouco da história do novo Tom Parker, recém chegado na América. O importante a se frisar sobre toda essa teoria é de que ela vem para reforçar ainda mais as verdadeiras razões que levaram Parker a tomar várias e várias decisões prejudiciais à carreira de Elvis Presley. Se tudo o que foi levantado por Alanna Nash realmente for verdadeiro então finalmente podemos compreender porque Elvis nunca fez shows fora dos EUA, porque ele foi tão desperdiçado como artista e porque nunca trilhou novos e gloriosos caminhos quando já era um verdadeiro mito. A pergunta seguinte agora se refere ao próprio Elvis: Qual foi afinal o tamanho de sua própria culpa? De que forma sua personalidade vulnerável e inconstante contribuiu decisivamente para que as coisas chegassem no ponto em que chegou?

Em sua autobiografia Priscilla Presley chama a atenção dos leitores para uma peculiaridade do modo de agir de Elvis ao longo dos anos. Ela traz à tona o fato de Elvis sempre abaixar a cabeça para Tom Parker, não importando quais fossem suas decisões. Priscilla lembra que Elvis sempre se portou como o líder absoluto dentro de seu grupo de amigos, mandando e demandando em todos, porém na presença de Parker Elvis ficava visivelmente diminuído e sem forças para enfrentá-lo. Com o longo dos anos e sua crescente dependência de drogas a situação só fez piorar, até que chegou o ponto em que Elvis simplesmente desistiu de se importar com sua carreira e sua própria vida. Elvis tinha uma personalidade sujeita a desenvolver vícios. Ele sempre procurava evitar os problemas de sua vida, pensando seriamente que se não os enfrentasse, eles desapareceriam!

Para alguém que sempre fugiu assim nada mais incentivador do que procurar a fuga no uso de drogas. Perceba que conforme sua vida ia entrando num beco sem saída (traição de Priscilla, queda na sua popularidade etc) ele gradativamente ia também aumentando seu consumo de drogas perigosas. Como ele próprio disse ao seu meio irmão: "Prefiro estar inconsciente do que desgraçado". Isso demonstra bem que ele próprio tinha plena consciência do que acontecia em sua vida! Fugir para não enfrentar os problemas... O fato de ter se tornado uma celebridade cedo demais também contribuiu para que ele vivesse dentro de uma bolha de alienação, muitas vezes se considerando um ser completamente iluminado e acima dos demais mortais (tanto que chegou ao ponto de querer curar as pessoas com as mãos!!!).

Sua alienação e sua necessidade crescente de viver em um hedonismo sem fim trouxe sérias conseqüências: a primeira sentida em sua vida profissional e a segunda no aspecto pessoal. Como artista ele deixou sua carreira afundar em vários buracos negros ao longo da vida (filmes, Las Vegas, etc) e na vida pessoal a história se repete: traído pela esposa, roubado por seus próprios empregados, manipulado a exaustão por seu empresário... enfim, com tantas coisas em desordem só sobrou mesmo a fuga nas pílulas que o mantinham inconsciente e alheio ao mundo ao seu redor. Elvis, de certa forma, fugiu da vida e quando isso acontece, geralmente a vida é que deixa quem não a quer mais. Ora, esse era justamente o cenário perfeito para o Coronel Tom Parker tomar o completo controle e se alguém deve ser culpado será justamente seu empresário dominador, manipulador e coercitivo. Mas será mesmo?

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 29

Para entender completamente as razões de Tom Parker, o empresário de Elvis, é preciso voltar na história. Primeira metade do século XX. Costa de Nova Iorque. A estátua da Liberdade saúda mais um navio de imigrantes que chegava na América. A terra da oportunidade dava as boas-vindas para mais um grande grupo de europeus que, espremidos na classe econômica, em navios extremamente lotados, chegavam com o coração cheio de sonhos e ambições à afamada "Terra dos sonhos". Embora fosse inverno e ele sentisse muito frio no convés do navio que viajava, o jovem holandês Andreas (nome real do homem que assumiria a falsa identidade de Tom Parker nos Estados Unidos anos depois), apenas mais um entre tantos imigrantes do velho mundo, estava feliz e mais do que tudo, aliviado. Feliz porque finalmente chegava ao seu destino, a tão sonhada América. Aliviado, porque deixava atrás de si, na Holanda, um fato que iria atormentá-lo até o final de seus dias. Porém para Andreas, naquele exato momento, o que importava era contemplar todos os arranha céus da nova cidade, linda, exuberante, esplêndida que agora seus olhos viam, Nova Iorque era um sonho, era o novo horizonte que se abria em sua vida.

O passado ficava para trás e o que realmente importava era pôr seus pés no novo país em que chegara, os Estados Unidos da América, e recomeçar sua vida do zero absoluto. Nascer de novo, se reinventar de uma forma radical. E foi assim, com todos esses sentimentos contraditórios, mas convergentes, que ele finalmente começou o seu próprio sonho americano, ou como dizia o lema sempre repetido pelos outros imigrantes durante a travessia do Atlântico Norte: "Vamos fazer juntos a América"! Ele estava decidido. A partir do momento em que finalmente pisasse nesse novo país ele iria deixar tudo para trás, inclusive sua própria identidade pessoal real. Daquele ponto em diante Andreas Cornelis van Kuijk, nascido na Holanda, deixava de existir. Assim que chegou no novo continente ele resolveu criar um outro nome para si, um novo local de nascimento, uma nova vida enfim. Desse ponto em diante Andreas deixava oficialmente de existir e nascia Thomas Andrew Parker, nascido em West Virginia, americano da gema, sulista, ciente de todas as tradições, enfim, o personagem criado por ele seria o supra-sumo do que ele próprio pensava ser o verdadeiro cidadão norte-americano. Tudo mentira, mas que iria lhe servir muito bem por décadas e décadas.

A pergunta vital nessa história é: por que razão Andreas tinha tanta necessidade e pressa de enterrar seu passado e viver a partir daí uma mentira que iria durar até o fim de seus dias? Por que, ao contrário dos demais imigrantes, sempre zelosos por sua própria cultura, Andreas nunca mais quis saber de voltar à sua terra natal e reencontrar seus próprios familiares? Que fato tão obscuro escondia sua história passada para que ele chegasse ao ponto de simplesmente riscar sua própria vida passada na Europa antes de chegar nos EUA? O que afinal aconteceu com Andreas antes dele embarcar naquele navio que o levou a América? Por que afinal ele nunca mais sequer cogitou colocar os pés novamente no velho continente?! Segundo Alanna Nash em seu livro "The Colonel: The Extraordinary Story of Colonel Tom Parker and Elvis Presley" Andreas (ou como todos o conhecemos, Tom Parker) na realidade não estava apenas imigrando para a América naquela data, mas sim fugindo da polícia holandesa, pois ele estava seriamente encrencado no espancamento, seguido de morte, de uma mulher e todos os indícios da investigação apontavam que ele, Tom Parker, havia assassinado a vítima.

Então, desesperado e com medo de ser preso pelo resto de seus dias, Parker simplesmente pegou o primeiro navio que encontrou e fugiu às pressas para o novo mundo, sem praticamente saber nada sobre o novo país em que chegava. É isso, Andreas Cornelis van Kuijk (que depois inventaria o personagem Tom Parker) na realidade nada mais era do que um homicida em fuga quando chegou ao novo destino! O que mais choca nessa tese é o fato de saber que foi justamente essa pessoa a responsável pelos rumos da carreira de um garoto sulista que iria ser conhecido nos quatro cantos do mundo muitos anos depois: Elvis Presley. Quando chegou na América, segundo Nash, a primeira providência de Andreas tomou foi simplesmente apagar todas as pistas que pudessem levar alguém a identificá-lo. Quem, senão um criminoso procurado, faria uma coisa dessas? E por uma dessas ironias do destino ele acabou encontrando por mero acaso com esse garoto pobre do Tennessee que parecia ter muito talento para explorar.

Para Elvis a raposa Andreas se apresentou como Tom Parker e como todos o conheciam assim, a farsa colou completamente. Parker assim assumiu o controle sobre a carreira de Elvis. Ele afinal de contas poderia fazer quase tudo nesse ramo de gerenciar sua carreira menos... viajar para o exterior, pois corria o sério risco de ser descoberto pelas autoridades americanas quando tentasse tirar seu passaporte. Afinal toda a sua documentação era forjada e falsificada. Não iria passar de jeito nenhum pelo departamento responsável do governo americano. Seria facilmente desmascarado, com risco de ser deportado e preso quando chegasse em algum aeroporto holandês. Assim Parker tomou sua decisão de jamais viajar para o exterior e isso significava que Elvis também não viajaria nunca para fora, afinal de contas se havia um medo maior do que ser preso para Parker era perder o controle absoluto sobre Elvis. No exterior o cantor poderia ser seduzido por grandes agências internacionais. Assim era melhor não ir para fora, nem ele e nem Elvis também. Dessa forma se tornou bem claro porque Elvis, artista mundialmente conhecido, jamais fez concertos fora dos Estados Unidos, a não ser poucas apresentações no Canadá nos distantes anos 1950. Como era pertinho, praticamente na fronteira, Parker não se sentiu ameaçado por essa rápida e rara excursão fora dos Estados Unidos. Fora isso, nada de colocar os sapatos de camurça azul em terras estrangeiras. Tom Parker, ou melhor dizendo, Andreas, não queria correr riscos maiores em ir para a cadeia e perder o controle sobre Elvis. Seria o fim de sua vida, literalmente.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 28

Certamente Tom Parker nunca pensou em Elvis como um artista inovador, que iria ser estudado nos anos que viriam após sua morte. Visão histórica era um conceito até mesmo muito complicado para que ele entendesse seu significado. Por essa razão Parker não fez nenhuma questão de vender o show de Elvis para os locais mais despreparados, toscos e obsoletos da América. Pagando, Elvis estaria lá, cantando para a caipirada! Conceitos como prestígio, classe e publicidade negativa pouco, ou nada, serviam na cabeça de Parker. Ele certamente não estava nem aí para o fato de que apresentações nesses locais remotos iriam abalar o prestigio de Elvis como artista, fatalmente o levando a ganhar uma boa dose de publicidade negativa, principalmente de todos os jornalistas que acusavam o cantor de estar perdendo a classe ao se apresentar nos cafundós dos Judas! Esse fato, de se apresentar em localidades sem importância, aliado ao seu aumento de peso, sempre eram os primeiros argumentos levantados por todos aqueles que sempre o tachavam de decadente nos anos 70! Afinal, qual é a designação certa para um cantor gordo e velho que vai se apresentar nas menores cidades, dos menores Estados? Ora, decadente é claro!

O que mais impressiona diante desse quadro lamentável é perceber que ao invés de reagir a toda essa situação ruim Tom Parker tomava atitudes que afundavam ainda mais a imagem de Elvis! Como afirmei antes, em um primeiro momento realmente Tom Parker errou por suas próprias limitações pessoais, por puro e simples despreparo, ou para simplificar ainda mais, por pura ignorância. É bem conhecida toda a coleção de piadas que os executivos da RCA tinham sobre Tom Parker. No meio ele era visto como uma figura folclórica, totalmente ultrapassado, uma espécie de Vicente Matheus do mundo musical norte-americano, com todas aquelas gafes e histórias engraçadas que sempre o cercaram. Embora várias de suas decisões acabassem virando piada entre os membros da indústria fonográfica, aos poucos seus atos começaram a chamar a atenção pela esquisitice e irracionalidade. Já em 1957 todos se perguntavam quando Elvis iria fazer sua turnê na Inglaterra e na Europa. Depois disso sempre os jornais europeus de grande circulação traziam periodicamente notícias envolvendo promotores do velho mundo oferecendo vultuosas somas a Parker para que Elvis fizesse finalmente a tão esperada turnê mundial. Mas isso nunca se concretizava pois Parker sempre se saía com uma desculpa esfarrapada qualquer.

Essa situação acabou fazendo com que muitos desconfiassem dos verdadeiros motivos por trás dessa sempre presente recusa por parte de Parker em levar Elvis para os palcos do mundo! Ninguém conseguia entender por que Elvis não saía dos EUA de jeito nenhum! Astros de magnitudes muito inferiores a incrível fama de Elvis se davam muito bem em turnês mundiais. Bill Halley, por exemplo, foi recebido como uma espécie de Deus musical em sua chegada à Londres, ainda no surgimento dos primeiros passos do Rock'n'Roll! Mas quem era ele perto da incrível fama do Rei do Rock? A despeito disso nada parecia convencer o velho Coronel de promover uma excursão épica de um dos maiores astros musicais que o mundo já conheceu! Afinal, quais eram as razões e os motivos que levavam Parker a tomar tantas decisões equivocadas? É fato que Parker deixou muito a desejar como empresário de Elvis, principalmente por não estar devidamente preparado para exercer tal função, mas isso certamente não justificava totalmente os diversos erros que eram sistematicamente cometidos durante a carreira de Elvis. Havia muito mais por trás dos notórios erros de estratégia no comando dos rumos da carreira do afamado Rei do Rock. Essas razões, bem mais sinistras e obscuras, foram sendo descobertas ao longo dos anos que viriam e fariam todos entenderem exatamente as verdadeiras causas que moveram Tom Parker e o fizeram tomar decisões, que em um primeiro momento, eram totalmente irracionais e sem nenhuma lógica comercial!

Com o passar do tempo as respostas foram surgindo para os pesquisadores. O fato dele ser um imigrante ilegal nos Estados Unidos já era bem conhecido de todos os fãs, desde que o fato foi descoberto por Albert Goldman no começo da década de 80 [Leia o artigo "Elvis e o Coronel" em nosso site]. Até aí nenhuma novidade havia surgido. Certamente Elvis nunca fez shows fora dos EUA por causa desse detalhe ilegal na vida do Coronel Tom Parker (que diga-se, não era coronel e nem muito menos se chamava Tom Parker na verdade!). De qualquer forma, para quem acompanha a literatura envolvendo Elvis, acabaram surgindo, nos últimos anos, fatos novos e recém descobertos! Em vista disso muita gente vem sendo surpreendida por novas revelações e descobertas promovidas por uma nova geração de autores que cavaram fundo nessa história envolvendo Parker, Elvis e sua vida artística enclausurada dentro das fronteiras de Tio Sam. Muita coisa que foi descoberta demonstra ainda mais o que existia por trás de toda essa suposta "incompetência" envolvendo os rumos da carreira do cantor.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 27

Numa noite qualquer de 1977 lá estava Elvis, já devidamente vestido, apenas esperando sua deixa para ir fazer mais uma apresentação. Ao seu lado o onipresente Rick Stanley. Elvis estava agora sentado em uma cadeira de seu camarim, com as pernas em cima de uma pequena mesinha à sua frente. Ao seu lado um típico espelho desse tipo de local, com todas aquelas lâmpadas ao redor do reflexo do cantor. Elvis não se arriscava mais a se olhar no espelho com tanta freqüência como fazia antes, ele não se olhava mais tanto como costumava fazer antigamente. Seu famoso narcisismo andava muito em baixa depois de seus constantes aumentos de peso. O cantor conferia seus diversos anéis em seus dedos quando perguntou a Rick: "O que você achou dessa cidade?" Elvis estava prestes a fazer mais um show naquelas cidadezinhas perdidas das Carolinas. Nossa, como ele detestava esse tipo de situação! Rick respondeu: "Bem Elvis, é uma cidade pequena, mas hospitaleira! Acho que o show vai ser um sucesso!" Elvis não se empolgou com a resposta. Ele vinha cada vez mais se irritando com os locais que Tom Parker lhe arranjava para se apresentar. Cidades pequenas demais para ele, segunda sua própria forma de ver as coisas. "Vou falar com o Coronel. Não quero mais me apresentar em locais tão pequenos como esse!". No final de sua vida essa rotina iria cada vez mais se repetir para Elvis: a realização de concertos em pequeninas cidades do interior dos Estados Unidos. Muitas pessoas se perguntam como Elvis Presley, um dos maiores ícones da fama do século XX, acabou indo parar numa situação dessas?

Dono de uma das carreiras mais brilhantes e vitoriosas do show business norte-americano, conhecido nos quatro cantos do mundo, Elvis, após vinte anos de trajetória, estava no mesmo ponto em que começou muitos anos antes, ou seja, se apresentando nas mesmas cidades interioranas de seu país, cantando suas velhas canções, para o mesmo tipo de público que uma vez lhe acolheu em um passado distante! Como isso foi possível? Por que Elvis estava estacionado no mesmo ponto inicial de sua vida artística? Por que não avançou e não abriu novos e gloriosos caminhos? Ao invés de realizar mega concertos pelo mundo afora, ao invés de lotar ginásios e estádios ao redor do mundo, lá estava Elvis novamente...fazendo shows para um público de interior que já o tinha visto anos antes quando ele era apenas um cantor desconhecido! Ao invés de estar em Londres, Paris ou Berlim, fazendo turnês históricas, Elvis estava em um rincão perdido que nem mesmo os americanos conheciam direito. Até mesmo as grandes cidades dos Estados Unidos estavam fora do roteiro. Para Tom Parker a imprensa desses lugares pegava pesado demais com Elvis e por isso ele preferia levar o astro para cidadezinhas, onde nem mesmo existiam jornais diários. Os Beatles tinham demonstrado que não havia fronteiras para grandes nomes do rock mundial, se apresentando em praticamente todos os grandes países do mundo mas para Tom Parker isso não era relevante. Em vista disso Elvis Presley, que era tão popular quanto os Beatles, jamais se apresentaria profissionalmente na Europa, com seu enorme centro cultural de massa. O Coronel também rejeitou todas as propostas de levar Elvis para os grandes festivais de rock da época. Assim ele ficou isolado e... escondido.

Incrível, mas Elvis entrou em uma situação tão calamitosa que para ele, naquela altura de sua vida, só havia sobrado mesmo a opção de realizar um show atrás do outro, em qualquer lugar, mesmo em localidades que um astro de seu porte jamais deveria colocar os pés! Ao contrário de outras estrelas de sua época, que se apresentavam em poucas e selecionadas cidades (geralmente as maiores, os grandes centros populacionais), que cumpriam turnês com poucas e super produzidas apresentações, tudo aliado a vasta publicidade pela mídia, Elvis, sob as ordens de seu nada genial empresário, fazia o extremo oposto do que se esperava de um cantor na posição em que ele ocupava: centenas e centenas de apresentações, muitas vezes sem propaganda nenhuma, em pequenas cidades e nenhum grande impacto significativo no conjunto de sua carreira. Os palcos eram ridículos, sem estrutura, e não havia qualquer capricho em seus concertos. Afinal, quais foram as razões e quem foram os culpados que levaram Elvis a ter que cumprir uma agenda insana de concertos, sob condições de saúde adversas, em apresentações nada memoráveis e nada espetaculares durante os anos 70, sendo que em alguns casos sua exposição perante o público nada mais causava do que um arranhão em sua imagem? Por que ele nunca foi poupado dessas situações constrangedoras?

Essa é uma questão que coloca em xeque a péssima administração das organizações Presley! Certamente o primeiro grande culpado dessa total estagnação da carreira musical de Elvis tem um nome e todos já devem estar pensando nele nesse exato momento: Tom Parker. Um pensamento correto e justo, mas será que apenas ele deve ser culpado de tudo o que de ruim aconteceu com Elvis Presley em seus anos finais? Vamos analisar. Se formos puxar o fio da meada mesmo e ir a fundo na questão chegaremos facilmente à conclusão que Tom Parker pecou mesmo por pura e simples ignorância em um primeiro momento. Longe de ter uma formação adequada para administrar a carreira de um artista do porte de Elvis Presley, Parker era um sujeito limitado à sua vivência circense, aos seus dogmas, aprendidos na velha escola da vida de circo. Exigir uma visão histórica e contextual de uma figura dessas seria pedir demais, vamos convir. Parker certamente pensava que não havia diferença nenhuma na venda de ingressos para o show das atrações de circo itinerante onde ele cresceu das vendas de um concerto de Elvis Presley. Para ele o que importava era o momento, o aqui agora, o importante era embolsar a grana da bilheteria e dar no pé, esperando o público da próxima cidade. Para Parker o que importava era Elvis fazer o concerto, seja lá como fosse feito, embolsar o dinheiro e partir para a próxima, ou seja, a velha mentalidade mambembe de alguns dos mais ridículos circos que ele trabalhou durante sua vida! Ele também não deixou velhos hábitos, como o de vender balões com o nome de Elvis no meio do público, mesmo após Presley ter se tornado um astro de fama internacional. Era cômico, se não fosse patético. Ao invés de faturar milhões de dólares com Elvis pelo mundo afora, Parker ficava vendendo bugigangas que custavam centavos antes do cantor entrar no palco! Mais obtuso do que isso, impossível.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 26

Elvis ficou sem saber o que fazer. Saber aspectos da vida de Priscilla com Mike Stone lhe deixou destruído por dentro. Sua auto-estima e amor próprio desabaram. Elvis não conseguia mais sair do quarto, sempre se martirizando e imaginando em sua mente confusa a cena de Lisa deitada no chão, presenciando talvez cenas íntimas de Priscilla e seu amante. Nem com alta medicação o cantor conseguia mais dormir, ele não estava só se sentindo o mais traído dos homens, mas também o mais infeliz e humilhado. O pior era que ele estava no meio de uma agenda apertada de shows.

Como iria encarar o público estando totalmente destruído por dentro? A verdade é que Elvis nunca se recuperou da traição de sua esposa Priscilla. Ele poderia imaginar muitas coisas, mas não que sua mulher fosse lhe trair com o instrutor de caratê! Isso realmente o machucou, de verdade e depois desse acontecimento Elvis não mais se recuperou. Todos os autores concordam em uma coisa: depois da traição de Priscilla, Elvis entrou em um processo acelerado de auto destruição! Em pouco tempo ele aumentou consideravelmente seu consumo de drogas, perdeu o interesse por aspectos pessoais e finalmente perdeu interesse pela vida. Sua angústia e desgosto eram tamanhos que Elvis não se importava mais, simplesmente isso, ele não se importava mais.

Red West que testemunhou a longa queda do cantor em seus anos finais relembra: "Elvis estava destruído por dentro. As mudanças que sofreu em sua personalidade, por causa da traição de Priscilla, eram visíveis por todos ao seu lado. Quer um exemplo? Elvis foi uma das pessoas mais vaidosas que conheci na minha vida. Isso não era um defeito mas sim uma qualidade dele. Estava sempre impecável, muito bem arrumado, com o cabelo impecavelmente cuidado, procurava sempre se manter em forma, conferir as últimas novidades na moda masculina e tal. Ele sempre procurava passar uma grande imagem para seu público!"

Para Red havia uma explicação para sua queda: "Depois que Priscilla o traiu Elvis perdeu o interesse. Ele deixou de se cuidar, deixou de ligar para seu aumento de peso, começou a repetir roupas em suas aparições em público (coisa que nunca faria nos anos 60, por exemplo), nem ligava mais para seu estimado cabelo. Até seus discos não lhe chamavam mais atenção. Em seus dois últimos anos cheguei a presenciar Elvis nem mais ouvindo seus novos lançamentos que eram enviados pelo Coronel Parker. Elvis nem tinha mais interesse em ouvir seu próprio trabalho! Os discos novos dele chegavam em Graceland e ficavam lá, jogados em um canto qualquer! Elvis havia perdido não apenas o interesse pelo seu trabalho, mas também o interesse pela vida! Cansei de encontrá-lo totalmente deprimido em cima da cama, sem energia para nada, totalmente apático, essa situação era de uma tristeza profunda!"

Rick Stanley, que também conviveu lado a lado com Elvis em seus últimos anos, completa: "As pessoas devem entender que Elvis estava sofrendo muito no final de sua vida. Havia o problema com Priscilla, que o deixou despedaçado, havia outras pessoas que o traíram, havia problemas em sua carreira. E havia também as drogas para acabar com a sua saúde e sua vida. Muitas vezes eu era o encarregado de levar a pequena maleta de Elvis com seus remédios. Penso que tinha Demerol comigo suficiente para dopar um bairro inteiro de Memphis! Quando Elvis morreu não foi uma grande surpresa para as pessoas que viviam ao seu lado. Penso que Elvis já estava morto por dentro há muito tempo! Uma noite ele me chamou ao seu quarto e confidenciou que estava sentindo-se muito só e que tinha a premonição de que algo muito importante iria acontecer com ele em pouco tempo. Pude perceber as lágrimas descendo em seu rosto nessa noite. Elvis estava querendo me falar algo, mas na época não consegui compreender o que era. Eu era jovem e estúpido e não captei a verdadeira mensagem que Elvis estava me passando naquele momento. Hoje tenho a convicção de que se tratou de uma despedida por parte dele. Às vezes a vida se torna um fardo pesado demais para se carregar sozinho".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 25

Era muito melhor para Elvis assim. Ele se sentia totalmente aliviado quando estava sob efeitos de drogas. Ele certamente sabia que estava se auto destruindo com tantas drogas consumidas de uma só vez, mas não se importava com isso! O que era importante mesmo era aliviar a extrema agonia do ser. Era melhor "estar inconsciente do que desgraçado" como ele próprio já dissera antes. Essa auto destruição de Elvis até poderia ser tolerada se apenas ele estivesse em perigo nessa jornada insana em que havia entrado. Mas outras pessoas também ficavam em risco na sua presença. Red West afirmou que, após testemunhar um tiro quase fatal que Elvis deu na parede que separava a sala onde estava e o banheiro em que Linda se encontrava (a bala atravessou a parede e quase acertou a cabeça de Linda!), ele determinou a todos os membros da máfia de Memphis que sempre checassem a primeira câmara de balas das armas de Elvis. Sempre deveriam estar vazias pois caso contrário Elvis, sob efeitos de drogas, poderia atirar em alguém por acidente. Sem bala na agulha, os caras da Máfia de Memphis tinham um certo lapso de tempo necessário para reagir no sentido de desarmá-lo e evitar assim acidentes fatais.

Com a palavra Red West: "Se não tivéssemos tomado essa atitude, Elvis poderia ter matado algumas pessoas durante sua vida. Uma arma na mão de uma pessoa já é perigosa, imagine na mão de uma pessoa drogada! Quando Elvis começou a explodir suas TVs com tiros todos riram no começo, mas logo a brincadeira perdeu a graça quando tínhamos que nos abaixar quando ele saía atirando para todos os lados, contra abajures, interruptores de luz, lustres, era uma insanidade, uma completa falta de responsabilidade por parte dele, imagine a situação, um tiro desses a esmo poderia matar facilmente uma pessoa por acidente. Era uma insanidade, não havia graça nenhuma nessas situações!" David Stanley relembra: "Não sei porque Elvis agia assim de forma tão tola e infantil! Uma vez ele procurou por seu revólver e não o encontrando pegou um cinzeiro, daqueles enormes de metal pesado, muito pesado, e o jogou na tela da TV, espatifando tudo! Eu fiquei chocado e olhei em sua direção. Ele tinha aquele olhar típico de uma pessoa totalmente entorpecida, olhos semifechados, desfocados, quase apagando sozinho. De repente quando o olhei novamente levei um susto, ele simplesmente tinha apagado por causa das drogas! No dia seguinte eu lhe disse: "Elvis, ontem você jogou um cinzeiro na TV! O que aconteceu?!" Elvis olhou para mim com o olhar vidrado e respondeu: "Do que diabos você está falando David?!" Ele nem tinha mais consciência do que fazia ou deixava de fazer!".

O Coronel então resolveu enfrentar Elvis nessa situação toda. Depois de mais um show ruim o Coronel resolveu confrontar o cantor de uma vez, subiu e foi falar com ele em seu quarto. Tom Parker mandou esvaziar a suíte do artista e decidiu que era hora de ter uma conversa franca com Elvis. Deixou claro para o chapado astro que ele tinha que “endireitar sua vida ou então toda sua carreira iria por água abaixo”! A palavra “drogas” não foi mencionada, o Coronel apenas sugeriu e não afirmou ou partiu para um confronto totalmente direto, pois caso fizesse isso poderia sobrar para ele no final das contas. Apenas disse uma verdade sabida por todos, pelos caras da Máfia, pelos membros da banda, por seus familiares, por todo mundo. Não havia mais como continuar daquele jeito! Elvis não mostrou reação, ele estava letárgico demais para reagir. Não se sabe se por estar em um estado depressivo ou entorpecido, o fato é que Elvis mal ouviu o que o Coronel tinha a lhe dizer naquele momento. Ele já vinha muito deprimido por algumas coisas que lhe foram ditas da vida íntima de Priscilla e de seu amante Mike Stone e agora sua depressão o impedia até mesmo de raciocinar com equilíbrio.

Dias atrás uma empregada de Priscilla, que namorava um dos caras da Máfia de Memphis, contou a ele que Priscilla colocava Lisa para dormir aos pés de sua cama com Mike. Quando Elvis soube desse fato ele implodiu! Em um primeiro momento ele não quis matar ninguém nem nada, ele simplesmente afundou, implodiu... sabe quando sofremos um duro golpe, tão grande que nem conseguimos mais mostrar forças ou sair para a luta? Quando pensamos que até a esperança está morta e enterrada... foi isso. Elvis se encolheu e teria caído em prantos se não estivesse na frente de sua entourage. Ouviu tudo atentamente e quando seu interlocutor terminou, Elvis simplesmente se levantou e rumou em direção ao seu quarto, silenciosamente. Como tudo foi lhe contado na frente de seus capangas, Elvis sentiu-se completamente humilhado, rebaixado e em um misto de vergonha e sentimento de inferioridade retirou-se. Ele nem soube direito como reagir na verdade. Sentiu-se o mais miserável dos mortais. Sua filha dormindo aos pés da cama do leito de traição de sua ex-esposa e seu amante maldito fez Elvis mergulhar em uma depressão profunda. Era nisso que a vida pessoal do outrora glorioso Rei do Rock havia se transformado?

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Elvis Presley - Os Anos Finais - Parte 24

Antes de tomar sua segunda rodada de remédios Elvis pedia aos seus assistentes que o ajudassem a ir ao banheiro. Mal conseguindo falar por causa de seu estado, Elvis puxava a camisa de Red West duas vezes para que ele o levantasse da cama junto a, geralmente, Rick Stanley. Os dois então seguravam Elvis em ambos os lados e o levavam até o banheiro luxuoso de sua suíte. Elvis mal podia andar em suas próprias pernas por estar tão turbinado por drogas pesadas. Poucos minutos depois eles o traziam de volta à cama. Rick Stanley relembra esses momentos difíceis: “Era muito triste presenciar Elvis nessas situações. Aqui estava essa pessoa, totalmente dependente de todos à sua volta, sendo tratado como uma criança pequena. Quando o colocava em sua cama perguntava a ele: ‘Está tudo bem Elvis? Tem certeza que não precisa de mais nada?’ Elvis mal conseguia mostrar reação nessas horas, ele simplesmente se virava para o lado e ia a nocaute novamente. O olhar estava vidrado, ele não conseguia manter a menor atenção ao que acontecia ao seu redor. Era muito deprimente testemunhar tudo isso”. Após se deitar Elvis novamente ia perdendo a consciência rapidamente, mergulhado totalmente em seu torpor químico, se afundando até o dia seguinte quando então tudo recomeçava novamente com as mesmas drogas, as mesmas situações aflitivas e... o mesmo fio da navalha...

Quando o relógio marcava dez da manhã era chegado o momento do terceiro ataque. Esse teria uma função complementar para as duas primeiras rodadas de drogas a que Elvis já tinha sido submetido nessa mesma noite. A intenção agora era completar o serviço iniciado com os ataques anteriores. De todos os procedimentos perigosos pelo qual Elvis passava esse era certamente o mais delicado. O menor erro poderia levá-lo facilmente à morte e por essa razão sempre era preciso a presença de um médico para evitar qualquer eventual problema, como por exemplo uma super dosagem de drogas que o levasse a uma overdose fatal. Tudo era feito com extremo cuidado e cautela. Nesse momento o cantor precisava de uma substância diferenciada. O médico mandava então seus assistentes virarem Elvis e com duas mechas de algodão introduzia drogas líquidas em suas narinas e finalizava o procedimento com uma dose de dexedrinas para dar partida em seu coração semi moribundo e evitar uma parada cardíaca causada por tantas substâncias circulando em seu corpo ao mesmo tempo. Elvis babava e revirava os olhos. Uma cena grotesca que deixaria o mais fanático fã de sua música em choque! Depois do terceiro ataque Elvis afundava e desabava, só conseguindo recobrar sua consciência no final da tarde. Como justificar tamanha agressão ao próprio organismo?! Com o tempo Elvis foi ficando totalmente à vontade na posição de usuário de drogas perigosas. Por mais incrível que isso possa parecer, Elvis estava sempre procurando os mais novos remédios do mercado. Mal recuperava sua consciência e ia folhear seu guia de drogas, que geralmente ficava à mão em seu quarto.

Assim que saía uma pílula nova, lá estava Elvis tentando dar um jeito de experimentar seus efeitos! Queria conferir as novidades, experimentá-las! Assim como um sujeito normal que deseja um bem de consumo novo qualquer todos os anos, Elvis desejava sempre experimentar a mais nova droga que a indústria farmacêutica colocava à venda! Segundo seu biógrafo Jerry Hopkins, Elvis era um "experimentador"! Do mesmo modo que ele queria o mais novo modelo extravagante de carro, ele queria adquirir a mais recente droga no mercado! Valium. Ethinamate. Dilaudid. Demerol. Percodan. Placidyl. Dexedrine. Biphetamine. Amytal. Quaalude. Carbrital. Ritalin. Não importa, assim que chegavam aos consumidores Elvis colocava sua tropa de médicos em ação para que as receitas chegassem logo nas suas mãos e ele mandasse seus capangas o mais rapidamente possível à farmácia local para comprar a nova química! Aos poucos Elvis foi ficando cada vez mais confortável com o uso desses remédios, afinal não eram drogas de rua, mas no final das contas também o deixavam chapado, dando um barato do qual Elvis não conseguia mais se livrar. Sob esse ponto de vista ele estava tão viciado em drogas como qualquer usuário de cocaína ou heroína na esquina. A única diferença era que as substâncias psicotrópicas eram vendidas em drogarias legais e não por traficantes perigosos. A comodidade era o grande diferencial para Elvis, embora ele no final de tudo pagasse caro por suas escolhas equivocadas.

Curiosamente Elvis odiava traficantes e usuários de drogas em geral. Em relação às drogas de rua Elvis acreditava que apenas a violência iria limpar a sociedade. Para ele deveria haver um choque de repressão violenta dentro da sociedade, com os traficantes e drogados sendo eliminados sem qualquer compaixão. Pena de morte para essa gente imunda. Chegou a dizer várias vezes: "Se os tiras quiserem minha ajuda, com meu arsenal pessoal, podem me chamar. Vou para as ruas e passo chumbo quente nessa escória". Ironicamente ele própria fazia a mesma coisa em sua vida privada. Era uma contradição impossível de contornar. Como vivia cercado de puxa sacos profissionais ninguém porém ousava contrariar seu pensamento fatalista. Elvis empunhava seus rifles de última geração, falava essas abobrinhas e todos concordavam em coro dizendo: "Sim Elvis, os drogados devem ser mortos!". Tão à vontade Elvis ficava nessa posição que nem mais se importava em comentar isso na presença de pessoas próximas a ele. Uma vez, durante uma conversa com a esposa de Red West, disse tranqüilamente: "Pat, eu já usei todas as drogas do mercado, e querida, acredite no que lhe digo, Dilaudid é a melhor!" Dilaudid era uma droga extremamente agressiva que causava forte dependência, sendo receitada geralmente para pacientes em estado terminal de câncer! Embora tivesse muitos problemas de saúde, a verdade era que Elvis usava muitas das drogas que tomava apenas para se sentir bem, no "alto", como se diz na gíria dos viciados em drogas. Nada mais do que isso! Se começava a sentir-se deprimido, Elvis logo tomava uma dose extra para desabar. Do mesmo modo, se algo o aborrecia ou o deixava triste, Elvis preferia simplesmente fugir da realidade à sua volta. Ele estava sempre se escondendo dos problemas, desabando sob efeitos de drogas pesadas. Elvis não queria enfrentar problemas, ele queria apenas se refugiar no torpor e prazer químico que estas drogas lhe proporcionavam. O preço a pagar seria muito alto, sua vida, no final desse caminho sem volta.

Pablo Aluísio.