domingo, 20 de novembro de 2011
Paul McCartney - Red Rose Speedway
Apesar da capa feia e sem noção (acredite, essa capa sempre foi horrível), "Red Rose Speedway" é muito bom musicalmente. Há verdadeiras obras primas sonoras assinadas por Paul em sua seleção musical, a começar pela linda "My Love" que, desculpe o trocadilho infame, foi composta em homenagem à Linda McCartney, a mulher que ficaria ao seu lado até sua morte trágica em 1998. Curiosamente o tom romântico e, para muitos, piegas de grande parte das músicas, acabou despertando o lado mais crítico de seu ex-parceiro John Lennon. Por essa época a relação entre John e Paul andava bem tensa por causa dos inúmeros processos que corriam na justiça após o fim dos Beatles. Perguntado por um jornalista de Nova Iorque sobre o novo álbum de Paul, John respondeu de forma nada cordial que o havia ouvido, mas que não tinha gostado por ser muito meloso, com letras enfadonhas e melodias repletas de pieguices. Para ele Paul havia se tornado um chatão insuportável. Chegou ao ponto de tirar onda afirmando que Paul se parecia a cada dia mais com Engelbert Humperdinck, um cantor inglês, considerado um brega por John e que só cantava músicas românticas açucaradas. Paul reagiu muito mal aos comentários sarcásticos de Lennon, mas depois levantou a cabeça e decidiu que iria mostrar ao seu ex-colega de banda seu real valor, coisa que certamente se confirmaria nos discos que viriam depois. Os melhores anos de sua carreira estavam prestes a começar.
Paul McCartney - Red Rose Speedway (1973)
Big Barn Bed
My Love
Get On The Right Thing
One More Kiss
Little Lamb Dragonfly
Single Pigeon
When The Night
Loup (1st Indian On The Moon)
Medley:
Hold Me Tight
Lazy Dynamite
Hands of Love
Power Cut
Pablo Aluísio.
Paul McCartney - Wild Life
Paul também resolveu aproveitar algumas faixas que tinham sobrado das sessões de Ram como "Dear Friend", que era mais uma letra dirigida diretamente para o ex-parceiro de banda, John Lennon. Tentando amenizar as animosidades, Paul tentava com a simpática letra abrir um elo de reconciliação com John que o vinha alfinetando em seus últimos discos. "Wings - Wild Life" vendeu razoavelmente bem, chegando a ser premiado com o disco de ouro tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos. Mesmo assim não conseguiu se destacar nas paradas e nem trazer qualquer grande hit para a carreira pós-Beatles de Paul McCartney. A crítica por sua vez não gostou muito do resultado. Alguns o qualificaram de um "álbum de segunda categoria", uma reação normal ao trabalho de quem vinha do maior grupo de rock da história. Outros chamaram o disco de "inoportuno", "apressado" e "mal gravado". Uma sucessão de críticas negativas que trouxe à tona o fato do disco ter sido pouco produzido.
Paul McCartney pelo visto absorveu todas as resenhas que criticavam seu trabalho. Ele entendeu que não poderia mais se esconder atrás de discos que pareciam não ter coragem de enfrentar os grandes nomes da música de frente. Os primeiros trabalhos de Paul soavam inofensivos, descompromissados demais. Havia chegado a hora dele mostrar que ainda poderia gravar material de grande qualidade, discos para marcar a história da música. Os Wings iriam fazer parte dessa sua busca pelo retorno ao sucesso comercial e de crítica que havia se perdido depois de sua saída dos Beatles.
1. Mumbo (Paul McCartney / Linda McCartney) - Primeira faixa do álbum. Nada animadora para falar a verdade. Paul aposta numa energia contida, com um refrão ao estilo grito primal. Eu até simpatizo com esse tipo de vocal visceral de Paul (que está muito bem em faixas como "Angry") mas aqui a coisa parece não funcionar muito a contento. De bom mesmo apenas os ótimos solos de guitarra na segunda metade da canção. O órgão também não ficou muito bem inserido. Enfim, um roquinho para acordar o ouvinte mas que não consegue sair muito do banal.
2. Bip Bop (Paul McCartney / Linda McCartney) - Faixa engraçadinha e fofa que Paul escreveu para seus filhos, na época todos ainda na infância. Não resta dúvida que tudo é uma simpatia só, bem divertidinha, mas será que teria envergadura para entrar em um álbum da nova banda de Paul McCartney após sua saída dos Beatles? Acho que não era o momento para lançar algo assim, novamente tudo tão descompromissado. PS: se você gosta da música não deixe de ouvir a versão que foi lançada na trilha sonora do documentário "Wingspan: Hits and History" que conta com a participação dos próprios guris de Paul.
3. Love Is Strange (Baker / Smith) - Única canção do álbum que não foi composta por Paul e Linda (na verdade sabemos que Linda não participava ativamente da composição das canções, sendo uma cortesia carinhosa de Paul lhe dar os créditos das músicas). É em essência uma faixa instrumental, com pequenos trechos cantados em coro. Um canção boa para uma jam session enquanto o grupo vai afinando seus instrumentos mas nada mais além disso.
4. Wild Life (Paul McCartney / Linda McCartney) - A canção título do disco. Os arranjos estão todos datados, mas a melodia ainda soa muito bonita e atraente. Para falar a verdade a canção me lembra bastante do estilo musical dos primeiros discos do Pink Floyd, principalmente na fase imediatamente posterior da saída de Syd Barrett. Gosto de enquadrar esse tipo de composição em uma categoria própria a que chamo de "bucólico rural inglês". É bem por aí mesmo. Em suma, uma canção bonita mas em termos históricos dentro da carreira de Paul, pouco relevante.
5. Some People Never Know (Paul McCartney / Linda McCartney) - Uma bela balada que vem para levantar a qualidade artística do disco como um todo. Gosto bastante do arranjo baseado em violões e bateria, com leves incursões da guitarra elétrica. A letra também é inspirada, simples, direta, uma óbvia conversa entre Paul e Linda sobre relacionamentos adultos, longe dos anos turbulentos de uma juventude que já se foi.
6. I Am Your Singer (Paul McCartney / Linda McCartney) - Mais uma baladona do disco. Acho o ritmo e o arranjo com órgãos, estranhíssimos. Em termos de melodia é aquele tipo de canção que ameaça decolar mas que no final nunca sai do chão. De bom mesmo apenas alguns belos sons de flauta que vão desfilando ao longo da canção. Poderia ser bem melhor, mas fica no meio do caminho.
7. Bip Bop Link (Paul McCartney / Linda McCartney) - Faixa puramente instrumental. Muita gente curte, embora em minha opinião a gravação, mesmo sendo bem realizada, soa como um mero tapa buraco, algo ao estilo "Não tenho mais nada para colocar aqui, então vou gravar alguma coisa para fazer volume no álbum como um todo".
8. Tomorrow (Paul McCartney / Linda McCartney) - Finalmente um bom momento do disco, acima da média. É uma canção escrita por Paul tendo novamente sua musa, Linda McCartney, como inspiração. Aqui, ao contrário de outras canções do disco, gosto tanto da melodia, como dos arranjos e da letra, que passa longe de ser mera uma mera banalidade. Uma bela faixa que nos faz lembrar do Beatle Paul dos bons tempos.
9. Dear Friend (Paul McCartney / Linda McCartney) - Outra que Paul fez pensando em John, embora negue até hoje que isso tenha acontecido. A letra tem apenas dois estrofes... um recado meio hermético, que fica complicado de entender o que realmente Paul estaria falando para John - provavelmente seria um daqueles recados que apenas eles entendessem melhor do que se tratava.
10. Mumbo Link (Paul McCartney / Linda McCartney) - Como já não havia mais nada para colocar no disco Paul fecha os trabalhos com mais essa faixa instrumental do tipo tapa buraco, completamente desnecessária e sem importância. Em um disco de alternate takes ainda vá lá, mas em um álbum oficial?! Pura bobagem.
Wings - Wild Life (1971): Paul McCartney (baixo, vocais) / Linda McCartney (vocais, piano, percussão) / Denny Laine (guitarra, vocais) / Denny Seiwell (bateria) / Data de Gravação: agosto de 1971 / Local de Gravação: Abbey Road Studios, Londres / Data de Lançamento: Dezembro de 1971 / Melhor Posição nas charts: #11 (Inglaterra) #10 (Estados Unidos).
Pablo Aluísio.
sábado, 19 de novembro de 2011
Paul McCartney - Ram
Embora as músicas tenham sido criadas no meio rural, bem no meio do campo, Paul resolve dar uma caprichada dessa vez em termos de estúdio. Resolveu que iria gravar tudo em Nova Iorque nos estúdios da Columbia, que naquela época oferecia o que havia de melhor em termos tecnológicos. A presença de Paul em Nova Iorque aliás parece ter incomodado John que passou a soltar farpas pela imprensa contra o ex amigo dos Beatles. Embora ainda não tivesse conseguido o tão cobiçado green card que lhe dava direito de viver e trabalhar nos Estados Unidos, Lennon considerava já naquela época a cidade como seu lar definitivo. De repente ter Paul McCartney rondando por lá parece ter incomodado bastante John.
Como os processos ainda estavam todos pendentes John começou a soltar indiretas em direção a McCartney nas letras de suas próprias canções. Paul ficou surpreso mas topou a provocação e também começou a mandar sutis ataques contra Lennon. A imprensa obviamente se esbaldou ao ver aqueles dois ídolos brigando publicamente e acirrou os ânimos em relação a eles. Apesar de ter levado na esportiva por um tempo Paul começou realmente a se incomodar e resolveu terminar as gravações de Ram, levando os tapes para Londres para que recebessem a mixagem final.
Ram chegou nas lojas em maio de 1971. Logo na primeira semana mostrou-se um verdadeiro sucesso de vendas mas a crítica torceu o nariz. Os americanos principalmente não conseguiram captar direito a mensagem de Paul e desmereceram seu disco como um todo, embora sobrassem elogios para uma ou outra faixa. Paul ficou meio decepcionado com a reação fria dos especialistas, o que talvez tenha aumentado sua vontade de formar um novo grupo que iria ser os Wings. De fato esse seria o último disco de Paul assinado apenas por ele mesmo por um longo período de tempo.
Também foi um dos raros em que resolveu gravar nos Estados Unidos já que preferia mesmo trabalhar em Londres. Paul também chegou na conclusão que produzir seus discos também não era uma boa ideia pois ele gostava de trocar opiniões sobre isso enquanto estava gravando. Assim começou a sentir a falta de George Martin, o maravilhoso produtor dos Beatles. Ele queria voltar a trabalhar com Martin mais cedo ou mais tarde. Em breve ele estaria com novo grupo musical no mercado e desejava que seus discos apresentassem uma sonoridade de primeira linha, tal como os álbuns maravilhosos que gravou com os Beatles. Os fãs não perdiam por esperar...
Vamos tecer alguns comentários sobre as músicas do álbum "Ram", começando pelo antigo Lado A do vinil (para matar as saudades dos nostálgicos em geral).
Too Many People (Paul McCartney) - Em entrevista John Lennon não perdoou Paul McCartney por essa música. Na visão de Lennon a letra da canção era uma provocação direta a ele! Será mesmo? Não penso que seja tão direta assim. Na canção Paul fala sobre pessoas que perdem a grande chance de suas vidas, a "quebrando em dois", ou em outras palavras, jogando fora aquele grande lance de sorte que acaba mudando a vida de uma pessoa (no caso John). Estaria mesmo Paul falando de John dizendo que ele jogara a grande chance de sua vida (os Beatles) fora? Vai da cabeça de cada um, Lennon se convenceu que sim mas Paul sempre negou qualquer ligação entre a letra, John e o fim dos Beatles. Para ele é apenas uma boa canção e nada mais.
3 Legs (Paul McCartney) - Se a música anterior dava tanta margem para interpretações diversas o que dizer de uma canção chamada "3 Pernas"? A letra chega a ser bucólica, sob uma viés de humor negro. Paul cita seu cachorro que só tem três pernas, coitado! E de se perguntar onde entraria a querida cadela Martha no meio disso tudo! A sensação mesmo é de estar no meio da fazenda de Paul na Escócia, o que aliás é bem adequado já que ele mesmo sempre disse que essas canções foram escritas enquanto estava de férias em sua propriedade rural por lá.
Ram On (Paul McCartney) - No começo mais parece uma gravação informal, um take alternativo qualquer, mas depois Paul entra com um arranjo bem rústico mas simpático. A letra é mínima, poucos versos. Parece uma daquelas musiquinhas compostas para cantar com a família depois do almoço de domingão. Sim, divertida.
Dear Boy (Paul McCartney / Linda McCartney) - Outra canção que John Lennon levou para o lado pessoal. No caso o tal "Dear Boy" seria ele mesmo! Como? John achava que os versos "Eu acho que você nunca soube, meu caro, o que você encontrou" e "Eu espero que você nunca saiba o quanto você perdeu" eram recados diretos a ele. No caso Paul estaria dizendo a John que ele nunca conseguiu entender o quanto os Beatles significavam não apenas para eles, mas também para o mundo inteiro. Nem ele tinha consciência do que teria encontrado ao entrar nos Beatles e nem o que havia perdido ao sair do grupo. Essa letra, ao contrário da outra, faz mais sentido sob o ponto de vista de Lennon.
Uncle Albert / Admiral Halsey (Paul McCartney / Linda McCartney) - Essa faixa foi composta em "homenagem" a um tio de Paul chamado Albert. O próprio Paul relembrou ele em uma entrevista dizendo: "Tio Albert era um bom homem. Nas reuniões de família ele sempre ficava caindo de bêbado e então começava a citar trechos da bíblia - todos errados! Era muito divertido". Talvez por ser tão pessoal acabou caindo nas graças do público inglês e virou o maior sucesso do álbum na Inglaterra. No resto do mundo não teve maior repercussão, apesar de seu belo arranjo e melodia.
Smile Away (Paul McCartney) - Em minha opinião a primeira faixa realmente forte do disco, com ótimo arranjo de guitarras e uma vocalização que chega até mesmo a me lembrar do Beach Boys em seus bons tempos. Um rock de primeira, sem dúvida. A letra é até bem trabalhada para um autêntico momento rocker do disco como esse. Gosto bastante dos solos de guitarra, do vocal de Paul, de seu grupo de apoio e dos arranjos em geral. Uma beleza.
Heart of the Country (Paul McCartney) - Faixa que abria o lado B do antigo vinil. Esse lado, temos que admitir, não é tão bom quanto o lado A. Isso se deve a uma certa dificuldade por parte de Paul em arrumar melhor a estrutura do disco - algo comum em artistas que começam uma carreira solo como ele naquele momento de sua vida. Essa música tem uma melodia engraçadinha, bem bucólica, que aliás combina muito bem com o clipe, onde Paul e Linda passeiam a cavalo, namoram na praia e brincam com Martha, a famosa cadela de Paul. Não gosto muito, mas confesso que é um momento simpático (embora inofensivo) do disco.
Monkberry Moon Delight (Paul McCartney) - Paul, com vocalização visceral, tenta trazer algum interesse nessa música obscura que hoje em dia está completamente esquecida. Os arranjos circenses me lembram vagamente dos dias de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" mas claro que vai um abismo de diferença entre os dois trabalhos. O refrão se torna um pouco cansativo depois de alguns minutos (a canção é extensa, uma das mais longas do disco). Não está entre os grandes momentos do álbum.
Eat at Home (Paul McCartney) - Gosto bastante do arranjo forte dessa faixa. O dueto entre guitarras ao fundo é seu ponto de interesse. A melodia também não aborrece, pelo contrário, me soa como uma das mais agradáveis de todo o disco - principalmente pelo pegajoso refrão. Essa foi gravada em Nova Iorque e nela podemos sentir a diferença que faz uma boa produção em uma gravação. O solo de Paul também faz toda a diferença do mundo. Deu origem a um single que só foi lançado no mercado inglês em setembro de 1971. Provavelmente a melhor canção do Lado B.
Long Haired Lady (Paul McCartney) - Mais um canção que mostra Paul em busca de uma sonoridade própria, longe dos Beatles. Aqui ele destaca mais uma vez os backing vocais de Linda (algo que em excesso enche um pouco a paciência, tenho que admitir). A garota da letra inclusive é Linda, obviamente.
Ram On (Paul McCartney) - É praticamente a mesma musiquinha do Lado A, com arranjo levemente diferenciado, mas com o mesmo Paul mandando ver no ukelele. Sem maior interesse.
The Back Seat of My Car (Paul McCartney) - Paul encerra "Ram" com essa interessante canção, muito bem arranjada e produzida. Muitos não gostam, acham a faixa excessiva, com arroubos melódicos por parte dele, mas não vejo assim. Não é das minhas melodias preferidas do disco mas mantém um desenvolvimento que de certa forma me lembra de gravações que Paul faria anos depois, como por exemplo, do disco "London Town". Aqui Paul contou com a participação da filarmônica de Nova Iorque, mostrando que ele estava disposto a caprichar na faixa. "The Back Seat of My Car" inclusive foi lançada em um single promocional em agosto daquele ano. Fecha bem o disco que é marcado por apresentar realmente altos e baixos em sua seleção musical.
Ram - Paul McCartney (1971) - Paul McCartney (vocais, baixo, piano, teclados, guitarra e ukelele) / Linda McCartney (Backing vocais) / David Spinozza (guitarra) / Hugh McCracken (guitarra) / Denny Seiwell (bateria) / Heather McCartney (Backing vocais) / Marvin Stamm (flugelhorn) / New York Philharmonic / Produzido e arranjado por Paul McCartney / Data de gravação: janeiro de 1970 - janeiro, fevereiro e abril de 1971 / Data de Lançamento: maio de 1971 / Melhor posição nas charts: # 2 (Billboard EUA) e # 1 (Inglaterra).
Pablo Aluísio.
Paul McCartney - McCartney
O resultado é um trabalho apenas mediano. Paul na verdade não deu 100% de si na gravação desse disco mas sim o jogou no mercado americano e inglês para sentir como seria a reação. No meio da confusão do fim dos Beatles o álbum acabou ganhando uma bela promoção grátis na imprensa e como todos queriam ouvir o primeiro disco solo de Paul McCartney ele acabou fazendo um grande sucesso de vendas. O problema é que também sofreu críticas que incomodaram Paul. Alguns especialistas disseram que o disco, apesar de algumas belas melodias, ainda soava muito cru e sem capricho! Era verdade. McCartney absorveu bem essas críticas e decidiu que era hora de montar uma nova banda de rock, afinal ele se sentia desconfortável de trabalhar sozinho. Para quem sempre havia pertencido a um conjunto isso era mais do que natural. Assim nasceu a ideia que iria germinar e dar origem aos Wings. Mas antes disso vamos tecer alguns comentários sobre as canções do álbum "McCartney" de 1970:
The Lovely Linda (Paul McCartney) - A carreira solo de Paul McCartney começa com essa baladinha em homenagem a Linda McCartney. A letra é tão simplória quanto a melodia, bem, diríamos, bucólica. Paul termina a canção com uma risadinha, bem no espírito descontraído de todas as faixas desse álbum. Despretensiosa sim, mas bem cativante.
That Would Be Something (Paul McCartney) - Essa é bem mais trabalhada, com ótima instrumentação. Paul obviamente toca todos os instrumentos. A canção começa com um belo dueto entre guitarra, baixo e violão. Ótimo arranjo. Só depois a batera entra mas mesmo assim bem timidamente. Perceba que a letra é mero pretexto para acompanhar a melodia. Paul aqui não se importou nem um pouco com o conteúdo da letra, preferindo se concentrar no arranjo.
Valentine Day (Paul McCartney) - Aqui temos uma faixa completamente instrumental. Paul faz experimentos, com destaque para os belos solos de guitarra que vai desenvolvendo ao longo da faixa. Tudo soa como mera improvisação. De certa forma a gravação parece mais uma jam session, uma forma de Paul conferir como ficaria a mixagem de todos os instrumentos depois que ele gravasse tudo separado. Curiosamente a faixa acaba de forma bem abrupta, tal como começara!
Every Night (Paul McCartney) - A primeira boa canção do disco. Aqui temos realmente Paul se empenhando em trazer mais uma daquelas baladas que tanto sucesso fizeram em seus anos como Beatle. A canção tem um maravilhoso refrão, altamente pegajoso, diga-se de passagem (tente apagar da mente, por exemplo, o "Ooh-ooh-ooh-ooh-ooh-ooh" para sentir como é complicado!). Na letra Paul diz que não quer saber de mais nada na vida a não ser ficar ao lado de sua amada a cada noite. Bonito!
Hot as Sun / Glasses (Paul McCartney) - O ritmo desse medley me lembra velhas canções escocesas do século XIX. É outra faixa instrumental totalmente baseada na linha melódica principal, formada de apenas algumas notas - para você entender como Paul era genial em suas composições. Além dos instrumentos de rotina Paul injeta um velho órgão em solos que dão a identidade à canção. Já "Glasses" tem uma linha de letra, sendo que seu arranjo me lembrou imediatamente de algumas gravações do Pink Floyd, o que mostra que Paul andava antenado com o que estava acontecendo na época.
Junk (Paul McCartney) - Uma das preferidas do próprio Paul. Essa ele queria gravar com os Beatles mas criminosamente a canção ficou fora dos registros da banda. Há uma gravação inclusive feita por Paul McCartney nos estúdios Abbey Road. O problema é que havia tantas canções geniais rodando durante as gravações dos discos dos Beatles que até obras primas como essa ficavam de fora. Como bem disse John Lennon o espaço de um LP era muito pequeno para tantos gênios musicais reunidos como os Beatles! Faltaria espaço certamente. Sem dúvida uma faixa maravilhosa.
Man We Was Lonely (Paul McCartney) - Outra preciosidade. Quando gravou esse álbum Paul disse que o tinha gravado para depois tocar no toca-fitas de seu carro, nada mais do que isso. Por isso tudo era tão despretensioso. Bom, após ouvir essa música pinta uma dúvida sobre se isso era de fato verdade. A gravação é ótima, muito bem arranjada e executada, com a ajudinha de Linda McCartney nos vocais de apoio. Paul também duplicou sua voz. O resultado é ótimo, uma gravação completamente profissional, nada amadora como Paul queria fazer crer!
Oo You (Paul McCartney) - Outra jam, bem experimental, diga-se de passagem. A guitarra surge forte, solando e duelando com outra mais ao fundo, um grande trabalho, principalmente para quem tocou todos os instrumentos sozinho (imagine a dor de cabeça para sincronizar tudo isso depois na sala de edição!). Nesse disco em particular Paul parece muito sedento em tocar vários solos de guitarra - estaria ele compensando os anos de Beatles quando tinha que dividir esse tipo de coisa com o colega George Harrison? É bem possível...
Momma Miss America (Paul McCartney) - Outra instrumental. É um rock com uma linha de melodia mais presente. Uma forma de Paul agitar um pouco as coisas no disco para que ele não ficasse muito cheio de baladinhas - coisa que faria John Lennon certamente pegar em seu pé! Outra faixa que traz um belo solo de guitarra Les Paul Gibson by Paul McCartney. Apesar de alguns pequenos espaços em branco considero uma bela gravação. Quatro minutos do mais puro rock ´n´ roll!
Teddy Boy (Paul McCartney) - Outra que quase entra no disco "Abbey Road" mas que foi deixada de lado por John Lennon que considerou a letra muito bobinha. De certa forma ele tinha uma boa dose de razão. A estorinha do garoto Ted parece ser um pouco forçada. No final a música foi salva pela ótima melodia e pelo arranjo primoroso escrito por Paul (embora eu particularmente implique um pouco com os vocais de apoio).
Singalong Junk (Paul McCartney) - A melodia é a mesma de "Junk", só que aqui imensamente melhor trabalhada. É outra faixa completamente instrumental. Paul a gravou pensando em lançar "Junk" como lado A de um single, com essa faixa vindo no lado B (algo bem comum na época). O arranjo aqui é fabuloso mesmo, muito rico e lindamente escrito. Para relaxar a mente do stress do dia a dia.
Maybe I'm Amazed (Paul McCartney) - O grande clássico do álbum. Essa Paul não deixaria para trás como as demais faixas do disco, a levando para seus grandes shows! Certamente um momento essencial nessa fase de sua carreira. Seu arranjo de piano e os vocais ora viscerais, ora ternos, além de um maravilhoso solo de guitarra, torna essa uma das melhores gravações de Paul McCartney em sua carreira. Obra Prima, sem a menor sombra de dúvidas.
Kreen-Akrore (Paul McCartney) - Para quem acha que Paul McCartney nunca gravou rock progressivo na carreira. Ora, basta ouvir essa faixa para entender do que se trata - Paul mandando ver no progressivo mesmo, com clara influência do Pink Floyd de cabo a rabo da gravação. Na época o registro passou despercebido, imagine você! Por essa e outras costumo dizer que se os Beatles tivessem levado a carreira em frente, eles teriam grandes chances de abraçar o progressivo, que queiram ou não, iria dominar as grandes bandas de rock dos anos 70. Era algo, em minha forma de ver, inevitável. O psicodelismo seria deixado de lado e os Beatles iriam certamente entrar em uma disputa com grupos como o Pink Floyd!
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Paul McCartney
Outro aspecto que sempre me levou a ser fã de Paul McCartney é a sua personalidade. Paul sempre foi o ponto de equilíbrio dentro dos Beatles. John Lennon era explosivo demais, George Harrison muito tímido e retraído e Ringo, ora, Ringão era apenas o baterista. Paul era o ponto que manteve o quarteto unido por anos. Viciado em trabalho era sempre ele o responsável a unir a trupe para novas gravações. Por isso caro colega beatlemaníaco agradeça a ele por termos tantas gravações do grupo. Existe até mesmo uma história muito engraçada sobre John realmente abismado com a capacidade de trabalho do parceiro.
Enquanto Lennon lutava para trazer duas ou três novas músicas para os discos dos Beatles, Paul já entrava em estúdio com oito ou dez canções prontas para gravação. Realmente, Macca literalmente nunca brincou em serviço. É um workaholic assumido. E o mais incrível é que ele simplesmente não abandonou essa característica nem com a chegada da idade, pois ainda atravessa o oceano para realizar concertos, como esse que está se realizando nesse momento em Porto Alegre.
Hoje tenho orgulho em dizer que tenho toda a discografia de Sir Paul McCartney. No mundo do CD isso facilitou e muito a aquisição de antigos álbuns, até mesmo porque ele próprio relançou toda a obra alguns anos atrás, mas nos anos 80 quando coloquei na cabeça de completar a coleção de Paul era bem diferente, tinha que fuçar em sebos atrás de discos dele dos anos 70, alguns em péssimo estado de conservação. Ainda bem que a tecnologia veio e mudou completamente esse quadro. Menos mal para um apaixonado por sua música como eu. Pretendo depois ir escrevendo um pouco mais sobre seus discos, suas grandes parcerias na carreira solo (Michael Jackson, Steve Wonder, Elvis Costello, entre outros). Acredito inclusive que esse cidadão ainda vai trazer grandes alegrias aos amantes da boa música por muitos anos ainda. Vida longa ao Macca!
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
John Lennon - US Vs John Lennon
O filme mostra de forma bastante didática o momento em que Lennon deixou de ser apenas um astro pop de uma banda comercial para se tornar um ativo ativista político, se envolvendo em passeatas, shows de protesto e movimentos pela paz. Como sempre acontece com pessoas que resolvem se insurgir contra a máquina, ele foi satirizado, ridicularizado e sua credibilidade foi atacada de todas as formas. Para muitos Lennon era apenas "um sonhador drogado, sem nada de concreto para oferecer". Após assistir ao documentário cheguei na conclusão que sua luta foi sincera, embora em muitas ocasiões não tenha utilizado dos meios que seriam mais eficazes. De certa forma Lennon seguiu a mesma linha de protesto que já havia sido utilizado com sucesso antes por líderes como Gandhi e Martin Luther King. Basicamente é a mensagem do uso da não violência como arma contra o sistema corrupto e corroído em suas próprias entranhas. Curiosamente Lennon acabou sendo morto da mesma maneira que os já citados, ou seja, um defensor da não violência acabou sendo assassinado justamente pela violência mais sem sentido e gratuita.
Algumas lições ficam desse filme. A primeira é que no mundo em que vivemos é muito perigoso simplesmente dizer a verdade. A sociedade tem suas bases fundadas em muitas hipocrisias e falsas boas intenções. Geralmente certos grupos ou famílias tomam o poder político e o utilizam de forma bem vil, agindo em certas ocasiões como verdadeiras cosas nostras. Segundo, queira ou não, somos todos ditados pelo poder econômico. A vida da sociedade humana é ditada pela economia, pelo poder financeiro. Muitos se perguntam porque os americanos entraram em uma guerra tão sem sentido com o pequeno Vietnã? Simples, pelo poder econômico da indústria de armas. Aliás o fato continua ainda nos dias de hoje, haja visto o envolvimento dos americanos em conflitos como o Iraque e Afeganistão. Pelo visto, apesar de todos esses anos pouco ou nada se aprendeu nessa questão. O mundo continua sendo apenas uma esfera de influência desses grupos. Em um terreno hostil assim pessoas como John Lennon, Gandhi e Luther King acabam pagando com suas próprias vidas.
Pablo Aluísio.
John Lennon - Anthology
O leque é vasto e variado. Os registros vão de 1969 até 1980. Muitos takes alternativos, ensaios, versões caseiras e amadoras, com bastante variação em termos de qualidade musical. Algumas gravações são de boa qualidade, outras como não poderia deixar de ser são bem ruins. No fim o que vale nesse tipo de lançamento é realmente o resgate histórico. O Lennon que ouvimos nos outtakes é divertido, brincalhão mas também ranzinza e mal humorado em certos momentos. Yoko Ono guardou esse material por longos anos e só o lançou ao mercado em 1998. Ela chegou a esclarecer em certas entrevistas que isso era tudo, que ela não teria mais nada do marido para lançar em futuros lançamentos. Verdade ou apenas uma desculpa de Yoko para deixarem de sempre perguntar a mesma coisa? Complicado dizer. Yoko sempre foi muito fechada e registros sonoros inéditos de Lennon que valem verdadeiras fortunas são mais complicados ainda de saber se existem de fato ou não! De qualquer maneira "John Lennon Anthology" é simplesmente indispensável para quem é fã dos Beatles e de Lennon. Um registro do músico, do homem e do pai.
John Lennon Anthology (1998)
Disc 1 (Ascot) - Working Class Hero / God / I Found Out / Hold On / Isolation / Love / Mother / Remember / Imagine (take 1) / 'Fortunately / Baby Please Don't Go / Oh My Love / Jealous Guy / Maggie Mae / How Do You Sleep? / God Save Oz / Do the Oz / I Don't Want to Be a Soldier / Give Peace a Chance / Look at Me / Long Lost John.
Disc 2 (New York City) - New York City / Attica State / Imagine (live) / Bring on the Lucie (Freeda Peeple) / Woman Is the Nigger of the World / Geraldo Rivera – One to One Concert / Woman Is the Nigger of the World" (live) / It's So Hard / Come Together" (live) / Happy Xmas / Luck of the Irish" (live) / John Sinclair" (live) / The David Frost Show / Mind Games (I Promise) /
Mind Games (Make Love, Not War) / One Day (At a Time) / I Know (I Know) / I'm the Greatest / Goodnight Vienna / Jerry Lewis Telethon / A Kiss Is Just a Kiss / Real Love / You Are Here.
Disc 3 (The Lost Weekend) - What You Got / Nobody Loves You (When You're Down and Out) / Whatever Gets You thru the Night (home) / Whatever Gets You thru the Night (studio) / Yesterday (parody) / Be-Bop-A-Lula / Rip It Up / Ready Teddy / Scared / Steel and Glass /
Surprise, Surprise (Sweet Bird of Paradox) / Bless You / Going Down on Love / Move Over Ms. L / Ain't She Sweet / Slippin' and Slidin / Peggy Sue / Bring It On Home to Me / Send Me Some Lovin / Phil and John 1 / Phil and John 2 / Phil and John 3 / When in Doubt, Fuck It /
Be My Baby / Stranger's Room / Old Dirt Road.
Disc 4 (Dakota) - I'm Losing You / Sean's 'Little Help' / Serve Yourself / My Life / Nobody Told Me / Life Begins at 40 / I Don't Wanna Face It / Woman / Dear Yoko / Watching the Wheels / I'm Stepping Out / Borrowed Time / The Rishi Kesh Song / Sean's 'Loud / Beautiful Boy / Mr. Hyde's Gone (Don't Be Afraid) / Only You / Grow Old with Me / Dear John / The Great Wok / Mucho Mungo / Satire 1 / Satire 2 / Satire 3 / Sean's "In the Sky / It's Real.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
John Lennon - John Lennon Live In New York City
Esse é o único disco póstumo ao vivo da carreira solo de John Lennon. Na verdade não é complicado entender o porquê. Lennon fez pouquíssimas apresentações depois do fim dos Beatles. A maioria de seus álbuns não foram divulgados em turnês e ao contrário de seu ex-colega de banda, Paul McCartney, John Lennon não sentia a menor necessidade de cair na estrada novamente. Em entrevistas Lennon explicava que achava os músicos de concertos ao vivo muito caros e complicados de se lidar, além disso ele próprio não estava seguro se estava disposto a enfrentar todo o desconforto da estrada, dos hotéis, dos concertos e do público, sempre pegando no pé, querendo autógrafos, etc. John preferia mesmo ficar na tranquilidade dos estúdios, gravando seus discos anuais sem muito esforço. No máximo aceitava filmar algum material promocional e era só.
Em 1972 porém resolveu que queria gravar um disco ao vivo, tal como aqueles que Elvis Presley vinha lançando ao público. O local escolhido foi o famoso e mitológico Madison Square Garden, o mesmo que Elvis se apresentaria nesse mesmo ano, dando origem a um de seus álbuns mais vendidos da década de 70. Lennon reuniu alguns bons músicos (todos com visual de bicho grilo da década anterior) e mandou ver. Ele não gostava muito de si mesmo nos shows ao vivo. Como bem esclareceu em uma entrevista achava seu ritmo muito estranho e descompassado. Com os Beatles isso ficava um pouco em segundo plano já que Paul e George sempre seguravam a onda mas será que daria certo agora em carreira solo?
Como estava em uma fase muito política John resolveu doar a arrecadação do concerto para uma instituição de apoio a crianças com problemas mentais. O repertório deixou seu legado Beatles de fora. Lennon tinha verdadeiro pavor de subir no palco sozinho para cantar as velhas canções do quarteto de Liverpool. Ela costumava satirizar Paul por fazer esse tipo de coisa. De qualquer maneira, fazendo uma pequena concessão, ele incluiu na lista a sua “Come Together”. De certa forma Lennon considerava essa música tão autoral de sua parte que nem a via como uma canção dos Beatles. E parou por aí. O resto das canções eram todas de sua fase solo. “Imagine”, “Cold Turkey” e “Give Peace a Change” não poderiam faltar. Também adicionou sua personalíssima “Mother” onde em uma letra triste relembrava a morte de sua mãe, atropelada por um veículo dirigido por um cara embriagado. Canções menos conhecidas também entraram no repertório como a fraquinha “Well, Well, Well”.
Para surpresa de todos também executou “Hound Dog” de Elvis, proclamando ao final que amava o cantor. Era uma forma de Lennon homenagear um de seus grandes ídolos. A apresentação foi boa mas Lennon odiou as gravações. Acho que sua voz havia ficado diferente e esquisita. Após ouvir as faixas decretou sem cerimônia que as fitas tinham ficado mesmo uma porcaria. Ele ficou tão desapontado que mandou arquivar o material. A decisão de lançar o disco ao vivo foi deixada de lado. De fato o disco só seria editado seis anos depois de sua morte, por decisão de sua viúva Yoko Ono. Realmente o álbum não é um primor técnico mas vale por sua importância histórica. Yoko agiu bem disponibilizando o material aos fãs. Além de ser um concerto importante por sua raridade ainda é uma verdadeira declaração de amor de Lennon para com Nova Iorque, a cidade que amava morar. É um daqueles itens obrigatórios para qualquer fã dos Beatles que se preze.
John Lennon Live in New York City (1986)
New York City
It's So Hard
Woman Is the Nigger of the World
Well Well Well
Instant Karma!
Mother
Come Together
Imagine
Cold Turkey
Hound Dog
Give Peace a Chance
John Lennon - Milk and Honey
A decisão porém cabia à viúva Yoko Ono e ela resolveu seguir em frente. Em muitas das faixas se nota nitidamente a postura de ensaio por parte de Lennon – ele está claramente tentando se encontrar nas canções ao lado de seus músicos. Por essa razão não são performances perfeitas ou impecáveis. É o que se chama de takes alternativos no jargão do mercado fonográfico. Mesmo assim foram lançadas, para o bem ou para o mal. Eu estou sempre com um pé atrás nesse tipo de lançamento póstumo. Muitas vezes são títulos oportunistas, sem o devido cuidado, feitos obviamente para faturar muito em torno da comoção pública. Basta lembrar do último CD de Michael Jackson que chegou ao mercado para entender bem o que digo. Dentre as faixas de “Milk and Honey” não há também nenhum grande sucesso, apenas "Nobody Told Me" conseguiu se destacar razoavelmente nas paradas. O resto das canções são bem esquecíveis para falar a verdade. Uma pena. Nenhuma faixa pode ser destacada entre os grandes momentos de John Lennon. Por fim fica também o aviso: várias músicas são cantadas por Yoko Ono, tal como aconteceu em “Double Fantasy”. A seleção do disco intercala canções cantadas por John e por Yoko, de forma sucessiva. Não sou fã de seu estilo de cantar mas de qualquer forma há quem a admire nos vocais. No final “Milk and Honey” se destaca mais por ser historicamente importante (afinal foi o último trabalho de Lennon) do que por seus méritos artísticos.
John Lennon – Milk and Honey (1984)
1. I'm Stepping Out
2. Sleepless Night
3. I Don't Wanna Face It
4. Don't Be Scared
5. Nobody Told Me
6. O' Sanity
7. Borrowed Time
8. Your Hands
9. (Forgive Me) My Little Flower Princess
10. Let Me Count the Ways
11. Grow Old with Me
12. You’re the One
Pablo Aluísio.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
John Lennon - Double Fantasy
Infelizmente por uma dessas situações que não são facilmente explicáveis, o cantor e compositor acabou sendo brutalmente assassinado em frente ao edifício em que morava em Nova Iorque, colocando fim à sua carreira e à sua vida. Os planos de recomeçar de novo acabaram drasticamente naquele trágico dia. Sem dúvida uma perda enorme para a música mundial. Para os fãs e admiradores de Lennon só restou a música e "Double Fantasy", o tão planejado recomeço, acabou se transformando no canto de cisne do artista. Diante de tamanha responsabilidade resta perguntar: "Double Fantasy" é um disco digno de despedida de um nome como John Lennon? Embora não tenha sido concebido para tal o disco se sustenta como legado da genialidade de Lennon? A resposta a tais indagações certamente não são fáceis. Muitas pessoas, obviamente envolvidas pelo calor do momento, do impacto da morte de John, certamente diriam que sim, que o último disco de Lennon foi excepcional, acima das expectativas, à altura do grande mito que o ex líder dos Beatles foi.
Eu procuro ser mais racional a esse respeito. Não resta dúvidas que "Double Fantasy" traz em sua seleção musical espasmos de bons momentos do talento de John Lennon, certamente, mas não vamos deixar a pura emoção nos envolver. O disco tem ótimas canções mas não é representativo a ponto de marcar a obra do cantor como um todo. O primeiro problema no meu ponto de vista é a divisão das músicas entre Lennon e sua esposa Yoko Ono. Essa é uma questão delicada mas por opção deixarei as canções da artista japonesa de lado, me focando apenas nas de Lennon. E o que nos sobra? De certa forma pouca coisa. "(Just Like) Starting Over" é ótima. Seu clima nostálgico invoca os anos 50, algo que Lennon propositalmente buscou. Quando perguntado sobre que tipo de arranjo desejava ele foi incisivo "Quero uma velha orquestra de rock´n´roll dos anos 50". E conseguiu. A vocalização nos remete imediatamente àquela década, ao estilo vocal de Gene Vincent ou Elvis Presley em seus anos de Sun Records.
Outra faixa digna de citação é "Watching The Wheels". A música foi composta por Lennon como uma grande resposta a todos que viviam se perguntando o que ele estaria fazendo durante todo o tempo em que se afastou da carreira? Lennon brinca com o fato numa letra simples mas inspirada, embalada numa bela melodia (que gruda na cabeça na primeira audição). O tom de nostalgia que é tão presente em "(Just Like) Starting Over" acaba voltando na mais bela canção do disco, "Woman". Perceba que Lennon estava mais autoral do que nunca. Todas as letras procuravam demonstrar fases de sua vida atual, coisas de seu cotidiano. Obviamente "Woman" se refere à mulher de sua vida, Yoko, mas sua letra também poderia se encaixar em relação a todas as mulheres do mundo. A melodia fala por si só, uma das mais belas e inspiradas de toda a carreira do cantor. As demais faixas já não seriam tão marcantes. "I´m Losing You" tem seus defensores mas a acho repetitiva e aborrecida. Menos fraca é a música que ele fez para Sean, "Beautifull Boy", com todo o lirismo inerente ao tema. Com efeitos sonoros que lembram um dia despreocupado na praia, a canção é marcante pelo simbolismo, por tudo que Lennon abdicou em nome de seu segundo filho.
Claro que com a morte de Lennon o disco explodiu em vendas. O mundo estava chocado e ninguém deixaria de comprar o último trabalho lançado em vida pelo famoso ex-beatle. É um disco de bons momentos, belas baladas e melodias, que buscava demonstrar um novo momento na vida de John Lennon que infelizmente foi o seu último mas não é algo que ficou tão marcado dentro da discografia de Lennon. Embora seja uma mera suposição, talvez se John não tivesse morrido da forma que todos sabemos, o disco teria sido lembrado nos anos seguintes apenas como o seu retorno à carreira, sem nada de muito especial nele.
Double Fantasy - John Lennon
(Just Like) Starting Over
Kiss Kiss Kiss"
Cleanup Time"
Give Me Something
I'm Losing You
I'm Moving On
Beautiful Boy (Darling Boy)
Watching the Wheels
Yes I'm Your Angel
Woman
Beautiful Boys
Dear Yoko
Every Man Has A Woman Who Loves Him
Hard Times Are Over
Pablo Aluísio.