sábado, 24 de setembro de 2011

Stereophonics - Word Gets Around

Quem pensa que o melhor som do Britpop vem do Oasis e da Inglaterra está redondamente enganado. Esse título pertence aos galeses do Stereophonics. Esse trio formado no começo dos anos 90 vem colecionando uma série de sucessos, fazendo com que cinco de seus seis álbuns chegassem ao topo da parada inglesa nos últimos anos. Não é para menos, fazendo um som honesto e sem firulas o Stereophonics prova que o Britpop não é composto apenas por bandas pretensiosas e sem conteúdo. Obviamente Kelly Jones e cia escrevem sobre o cotidiano de suas vidas, de forma simples e comum, porém o forte desse trio realmente é a melodia de suas canções; poucos grupos conseguem compor músicas tão interessantes como eles nesse aspecto.

Words Get Around, seu álbum de estréia (o único que não chegou ao topo da parada britânica) traz uma coleção de belos momentos. A voz de bebum de pub de Kelly Jones se enquadra perfeitamente nas harmoniosas linhas das melhores canções do álbum: Traffic, Local Boy in The Photography e A Thousand Trees. Ao contrário do Oasis, que muitas vezes prefere um som estrondoso e no último volume, o Stereophonics aposta nas entrelinhas de uma musicalidade mais cadenciada e bem executada, reforçando por letras bem compostas, retratando as experiências de um jovem comum vivendo nos dias de hoje no outrora glorioso império Britânico. Além de conseguirem apresentar músicas mais consistentes o Stereophonics consegue tudo isso sem perder a garra que se espera de toda banda de rock. Isso está bem claro em faixas como a ótima Too Many Sandwiches, onde as guitarras ecoam ao fundo sem ofender ou machucar nossos tímpanos. Aqui o som pesado está a serviço de uma balada que deixaria um Paul McCartney orgulhoso. Enfim, o CD é essencial para quem quiser conhecer o melhor do movimento Britpop, mostrando a todos que se o Rock está em crise ao redor do mundo, certamente a apatia e a falta de talento ainda não atingiram as ilhas britânicas, pois o grande número de bandas inglesas, escocesas, irlandesas e galesas está aí para comprovar que o bravo Rock´n´Roll vive e vai mundo bem na terra da Rainha.

Stereophonics - Word Gets Around
1. A Thousand Trees
2. Looks Like Chaplin
3. More Life in a Tramps Vest
4. Local Boy in the Photograph
5. Traffic
6. Not Up To You
7. Check my Eyelids for Holes
8. Same Size Feet
9. Last of the Big Time Drinkers
10. Goldfish Bowl
11. Too Many Sandwiches
12. Billy Davey's Daughter

Pablo Aluísio.

Stereophonics - Pull The Pin

A história é praticamente a mesma em quase todas as bandas da história. Um grupo de amigos se reúnem, formam um conjunto de Rock, chegam ao sucesso, alcançam as paradas mas então... sem muita explicação as coisas começam a ficar diferentes, rixas surgem, brigas internas pipocam em todos os lugares, o stress das viagens e das gravações se tornam insuportáveis e um belo dia a banda simplesmente explode... ou implode. Desde que o Rock foi inventado não dá outra coisa...O Stereophonics vive algo parecido. O grupo, formado por amigos do País de Gales, conseguiu a proeza de lançar cinco excelentes CDs, desde que despontou para o sucesso nos anos 90 mas aí... A banda quase acabou em 2005 quando Kelly Jones se desentendeu com o batera Stuart Cable, o que acabou resultando em sua expulsão do grupo. Stuart acusou Kelly de tentar dominar a todos e impor sua opinião pessoal sobre os demais. O clima nervoso e tenso acabou passando para o novo CD do grupo, Language. Sex. Violence. Other? - um dos mais pesados e ruidosos trabalhos do Phonics.

Depois da saída de Stuart, Kelly trouxe ao grupo o guitarrista do The Manvils, Mark Parry. Com nova formação o grupo saiu em turnê e demonstrou, pelo menos no palco, que tantas confusões internas não tinham ainda afetado a banda. Isso na realidade só seria mesmo percebido com o lançamento desse CD, Pull The Pin, que chegou nas lojas no final de 2007. Apesar do sucesso (primeiro lugar na Inglaterra), a sonoridade do grupo soou de certa forma cansada para o público. Muitas críticas foram feitas ao Stereophonics pelos principais órgãos de imprensa britânicos. Será que Kelly Jones, depois de tantas brigas e desentendimentos havia perdido o toque de Midas? Não é para tanto. Pull The Pin certamente não é o melhor álbum do Stereophonics mas conseguiu manter uma certa consistência. Claro que não existem aqui grandes hits ou maravilhosas canções como nos álbuns anteriores. Isso de certa forma causou estranheza entre os admiradores da banda galesa. Mas analisando agora, com mais calma e sem o rebuliço de seu lançamento, Pull The Pin me soa bem melhor. Talvez a primeira audição não tenha sido das melhores mas agora podemos apreciar melhor o som do grupo, que não está pior, simplesmente está diferente.

Entre os destaques podemos citar a canção que virou single antes do lançamento do CD, It Means Nothing, balada deliciosa que lembra muito os melhores momentos do Stereophonics como Have a Nice Day e o excelente arranjo de guitarras de My Friends, que tocou bastante nas rádios quando visitei Londres no final de 2007, mostrando que o grupo continuava com a mesma pegada de sucesso que sempre os caracterizou. É isso, Pull The Pin merece uma segunda audição e uma segunda avaliação. Em breve certamente o Stereophonics estará com CD novo nas lojas e esperamos que dessa vez o grupo de Kelly Jones acerte totalmente no tom.

Stereophonics - Pull The Pin (2007)
1. Soldiers Make Good Targets
2. Pass the Buck
3. It Means Nothing
4. Bank Holiday Monday
5. Daisy Lane
6. Stone
7. My Friends
8. I Could Lose Ya
9. Bright Red Star
10. Ladyluck
11. Crush
12. Drowning

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Michael Jackson - Blood on the Dance Floor

Até tenho ouvido bastante esse CD ultimamente. Era para ter sido lançado como EP (compacto duplo) pois não havia músicas suficientes para compor um álbum. Então a gravadora decidiu complementar o disco com uma série de remixes. Uma ideia que sinceramente não achei grande coisa. Deveriam ter procurado por alguma faixa arquivada do passado. Teria sido mais interessante do que simplesmente encher o disco com remixes de faixas do disco History. De qualquer forma tem coisas interessantes nesse CD. Não acho que seja um álbum essencial para se ter na coleção, mas para quem deseja completar a coleção dos CDs oficiais da carreira do Michael Jackson, aí já recomendaria. Há músicas aqui que não se encontram em nenhum outro títuo do cantor. Por isso existe a importância.

"Blood on The Dance Floor", a faixa título, tem ótimo embalo. Poderia ter entrado em qualquer disco oficial de Michael Jackson. "Morphine" surpreende pela sinceridade. Aqui Michael admite publicamente seus problemas com as drogas, algo que iria selar seu destino. A referência ao medicamento Demerol tem muita sinceridade. "Is It Scary" e principalmente "Ghosts" tenta repetir o passado de glórias de "Thriller", mas sem sucesso. Essas são as músias inéditas. Todo o resto é completado com remixes. No geral gosto do CD, apesar de sempre ter aquela sensação de que tudo não passou de um truque de gravadora para faturar mais em cima do nome de Michael Jackson.

Michael Jackson - Blood on the Dance Floor (1997)
Blood on The Dance Floor
Morphine
Superfly Sister
Ghosts
Is It Scary
Scream Louder (Flyte Tyme Remix)
Money (Fire Island Radio Edit)
2 Bad (Refugee Camp Mix)
Stranger In Moscow (Tee's In House Club Mix)
This Time Around (D.M. Radio Mix)
Earth Song (Hani's Club Experience)
You Are Not Alone (Classic Club Mix)
HIStory (Tony Moran's History Lesson)

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Queen - News of the World

Recentemente a EMI Odeon lançou uma edição comemorativa dos 40 anos do lançamento original do álbum clássico do Queen "News of the World". Dentro de um box muito caprichado o fã da banda inglesa encontra o disco de vinil que foi lançado na época, um álbum especial com muitas fotos e informações, posters, letras, pequenos brindes e os CDs, trazendo as músicas oficiais e vários takes alternativos. Um lançamento para fã nenhum colocar defeito. Um produto de resgate histórico realmente primoroso. Esse álbum pode ser considerado o primeiro disco realmente popular do grupo. Antes dele o Queen obviamente já era bem conhecido pelos fãs de rock, mas foi esse "News of the World" que o efetivamente colocou na seleta lista das maiores bandas de rock do mundo. O sucesso do disco inclusive fez com que o Queen fosse para os Estados Unidos para sua primeira grande turnê internacional.

E como convém a um disco com tantos títulos importantes a ostentar, esse também não poderia abrir sem um grande clássico do Queen. É a tal coisa, se você nunca ouviu "We Will Rock You" em sua vida provavelmente você não viveu no Planeta Terra nesses últimos quarenta anos. Até hoje a canção é onipresente, seja em estádios de futebol (na Inglaterra ela é ouvida em praticamente toda partida) até em peças publicitárias. Provavelmente seja uma das cinco músicas mais conhecidas da discografia do Queen. Impossível não reconhecer nos primeiros acordes. O que mais me causa admiração nessa faixa composta por Brian May é que ela inverte a ordem natural das coisas em uma música. Geralmente as músicas possuem uma introdução, duas ou três partes e o refrão, que é usado para grudar na mente do ouvinte. Com "We Will Rock You" isso não acontece. A música é praticamente um refrão que se repete e repete até o fim. Bom, funcionou e virou um clássico absoluto. Então provou que seu autor estava mais do que certo.

"We Are The Champions" é o outro grande sucesso desse álbum. Uma composição muito inspirada de Freddie Mercury, que diga-se de passagem sempre foi muito subestimado como compositor. Muitos louvam sua excelente performance de palco, suas apresentações memoráveis e também sua ótima capacidade vocal, já que é consenso em todos que ele foi um grande cantor. Porém quando se trata do Mercury escritor de boas músicas, isso é meio deixado de lado. Bom, qualquer um que escrevesse um hino como essa faixa seria plenamente reconhecido. Com Mercury nem sempre isso aconteceu. A música virou outro clássico esportivo, vamos colocar nesses termos. Sempre quando há premiações (principalmente no futebol europeu) o sistema de som dos grandes estádios não perdem a oportunidade de tocar esse grande sucesso do Queen. A música aliás se tornou muito maior do que o próprio disco que a lançou. A denominação hino é muito mais adequada para ela. Não é apenas um sucesso, mas sim um hino moderno, sempre relembrado e tocado em inúmeras ocasiões Absolutamente inesquecível.

Depois de duas faixas tão fortes e marcantes, o disco cai um pouco com "Sheer Heart Attack". Essa é uma composição de Roger Taylor. Apesar do ritmo acelerado e das boas guitarras ao fundo marcando toda a faixa, a música tem uma letra muito fraca e ruinzinha. Nem os arranjos salvam a canção de um incômodo sentimento de que tudo ficou datado e em certos aspectos quase ridículo. A parte vocal também não ajuda muito. Assim não tenho outra opinião. Essa é realmente a primeira canção fraca do disco.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Queen - A Kind of Magic

Voltando pela memória aos anos 80 me lembro que o grupo Queen, assim como Michael Jackson, sempre fazia bons clips e esses eram esperados pelos jovens da época. Basta lembrar do furismo retrô de "Radio Ga Ga" ou das piadas de "I Want To Break Free" que chocou o falso puritanismo dos americanos. Assim como havia acontecido nos discos anteriores o Queen também fez clips para essa álbum, mas de uma forma diferente. Eles colocaram tudo em animação. E não parou por aí, também colocaram suas versões em desenho animado na capa do disco. Eu não me recordo de nenhum outro grupo de rock fazendo a mesma coisa naqueles anos.

Esse disco foi lançado em 1986 e apresentava um agradável repertório que logo iria se destacar nas paradas, afinal se tratava do Queen, uma das bandas de rock mais populares dos anos 80. "One Vision" que abria o álbum chegava com efeitos sonoros e orquestra como fundo incidental. Logo um belo arranjo com guitarras quebrava o clima para deixar claro que aquilo era um disco de rock. Essa música foi um dos sucessos do disco, tocando muito nas rádios dos anos 80. O ponto forte vinha novamente para reforçar aquela vocalizção cheia de energia que iria tornar Freddie Mercury um dos grandes cantores da história do rock mundial.

A mùsica tìtulo do disco "A Kind of Magic" era também muito boa e inclusive lembrava muito a faixa anterior. Ambas tinham um toque de sucesso inigualável. São melodias praticamente iguais, um ouvinte distraíto poderia pensar estar ouvindo a mesma música. Outro hit dos anos 80 à prova de falhas. "One Year of Love"  também fez um enorme sucesso. Veja bem, o disco já abria com três hits absolutos. Quem poderia imaginar algo assim nos dias de hoje? Pois é, o Queen tinha uma enorma vocação para conquistar sucessos radiofônicos, aquele tipo de hit que ficava na mente das pessoas por longos anos. Algo para poucos artistas. Ouça, se você viveu os anos 80 vai lembrar imediatamente dessa trilogia inicial de hits. Nessa balada destaco o belo solo de sax, um lindo instrumento, hoje em dia pouco utilizado, infelizmente."Pain Is So Close to Pleasure" foi outro sucesso na rádios de todo o mundo. Uma música bem diferente não apenas do álbum em si como também do repertório do Queen como um todo. Um som relaxante que me faz lembrar inclusive de antigas músicas dos anos 50 e 60, com ênfase na sonoridade da Motown. Perceba que até os vocais de apoio vão nessa direção. Uma daquelas músicas que você ouviu tocando nas rádios durante os anos 80 e nunca mais esqueceu. Bom momento do disco.
    
"Friends Will Be Friends" se destaca, entre coisas, pelos maravilhosos solos de guitarra que abrem a canção e que se repetem ao longo de toda a faixa. O refrão é tão pegajoso que gruda na sua mente de uma maneira absurda. É uma balada inesquecível do Queen, com ótimos arranjos e mais uma performance arrasadora de Mercury, aqui em seu auge, esbanjando saúde e talento. Que música linda! Essa realmente não se esquece nunca. Para guardar na memória e no coração. "Who Wants to Live Forever" começa quase como uma peça de ópera triste, com um antigo órgão ao fundo, mais parecendo algum tema do clássico "O Fantasma da Ópera". Depois vai crescendo aos poucos, em apoteose. Outro sucesso absoluto da história do Queen, sempre presente em coletâneas das melhores do Queen. Em termos de baladas tristes, sem dúvida está entre as melhores. Outro refrão que você nunca mais vai esquecer na vida. O arranjo de orquestra é maravilhoso. Aqui Mercury queria apenas o melhor que os estúdios podiam disponibilizar para o grupo. Ficou nota 10 a gravação. Simplesmente genial.    

"Gimme the Prize (Kurgan's Theme)" é do filme "Highlander - O Guerreiro Imortal". Assim como o Pink Floyd havia feito no passado, o Queen também tinha ambições em escrever trilhas sonoras para filmes. Hollywood sempre havia sido um atrativo para qualquer banda inglesa da época. O resultado ficou muito bom, aliás o filme é muito bom. Claro, estou falando do primeiro, do original, depois "Highlander" iria virar uma série de filmes, cada um mais ruim do que outro. Minha opinião sobre "Don't Lose Your Head" não é das melhores. Não chegou a ser sucesso nos anos 80, talvez e principalmente por causa de seus defeitos. Acho que a música tem um refrão muito enjoativo. Tem um bonito solo de guitarra no meio da canção, muito bem tocada por sinal, mas é pouco. È uma daquelas faixas que parecem não ir para lugar nenhum, ficando quase sempre no "quase". Quase uma boa faixa, quase um sucesso na rádios. Só que não havia sido daquela vez.

"Princes of the Universe" começa com aquele tipo coro vocal que era uma das maiores características da discografia do Queen. Tem também uma guitarra poderosa, com um arranjo em marcação, passo a passo. Não fez também qualquer sucesso na época. Lembra alguns bons momentos do passado da banda e talvez esse seja o maior problema. É uma cópia do próprio Queen do passado, sem a mesma originalidade e potência. Acho uma canção fraca dentro de um disco tão bom, tão forte.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

The Beatles - Let it Be Special Edition

Pois é, foi lançado recentemente lá fora um box especial trazendo 4 CDs (ou 4 LPs de vinil) contendo mais material extra das sessões que deram origem ao álbum "Let it Be". Durante todas as gravações o disco iria se chamar "Get Back" porque Paul tinha um plano de colocar os Beatles novamente em turnê mundial. Era a volta dos Beatles aos palcos. Bom, pelo menos esse era o plano, tanto do disco, como do filme. Entretanto George Harrison deu para trás. Disse que não iria voltar para uma daquelas turnês mundiais com estádios lotados e fãs histéricas. Ele afirmou que não tinha mais saúde mental para aquele tipo de coisa. Esse foi o primeiro sinal de que algo não estava bem dentro do grupo.

Paul McCartney propôs outros planos, mas Harrison sempre estava dizendo não. Então as coisas começaram a ficar bem feias dentro da banda. Paul e George brigaram durante as gravações, por causa dos arranjos e da forma como Harrison vinha tocando guitarra nas músicas de Paul. Depois George e John discutiram tão feio que trocaram socos e pontapés dentro do estúdio. A razão era a presença de Yoko Ono. George achava aquilo uma chatice e um constrangimento. John então desafiou George a dizer frontalmente o que ele queria falar. Queria que George dissesse tudo na sua cara, sem rodeios. Harrison falou e o pau quebrou entre eles.  Foi uma briga tão grande que saiu nos principais jornais de Londres no outro dia. George então anunciou que estava fora dos Beatles. Que jamais voltaria a tocar com Lennon.

Só depois de muita conversa é que Harrison decidiu retornar para terminar o álbum. Conforme o projeto ia afundando, Paul decidiu que o novo álbum não seria mais chamado de "Get Back" e sim de "Let it Be". Nesse meio termo houve uma nova briga entre George e John. Lennon havia dado uma entrevista dizendo que a Apple, o selo dos Beatles, estava muito mal administrada e iria falir em poucos meses. Harrison ficou muito irritado com John. Nova tomada de satisfações e nova briga feia. Diante de um clima tão ruim é de se esperar algo melhor do que as faixas que conseguiram salvar e que entraram no disco original de 1970? Certamente não!

Mas é a tal coisa. A busca do lucro fala mais alto. Assim temos o lançamento desse novo box que pelo menos traz uma coisa interessante: a versão de como seria o disco "Get Back" caso os Beatles tivessem seguido com os planos originais. É o disco perdido dos Beatles, vamos colocar nesses termos. Também se inventou um EP com 4 músicas só para ganhar mais dinheiro. Isso mesmo, um dos CDs tem apenas 4 faixas! Money Talks. Então o box se resume a isso. Tem o disco original de 1970, com melhoramento de som, o tal "Get Back" que nunca foi lançado, o EP que é pura picaretagem e um quarto CD com aquilo que John Lennon certa vez chamou de "a maior porcaria que os Beatles gravaram na sua carreira". Vários Takes, ensaios, restos de estúdio. Está bom ou você quer mais?

Pablo Aluísio.

The Beatles - Let it Be... Naked

Tenho esse CD há muitos anos, mas nunca havia parado para ouvir com maior atenção. Nesse fim de semana finalmente fiz uma audição mais atenta. O plano principal desse álbum era trazer as músicas do disco "Let It Be" tais como foram gravadas, sem os arranjos e orquestrações posteriores acrescentadas pelo produtor Phil Spector. Havia essa antiga lenda de que as gravações originais eram muito melhores do que as que se ouvia na edição do LP "Let It Be" de 1970. Após ouvir o CD cheguei na conclusão que era tudo lenda urbana mesmo. Nenhuma das faixas ficaram melhores sem os acréscimos sonoros de Spector. Tudo o que sempre se falou era pura balela.

A verdade pura e simples é que os Beatles, prestes a romperem definitivamente, não estavam em seus melhores dias quando gravaram essas faixas. Havia muitas brigas, ressentimentos entre eles. A impressão que sempre tive dessas sessões é que os Beatles não estavam levando nada muito à sério, isso a despeito de ter câmeras gravando eles o tempo todo em estúdio, o que iria resultar no documentário musical "Let it Be", para muitos o filme que melhor documentou o final de uma banda de rock. Os Beatles estavam dispersos, pouco interessados e preguiçosos. Isso se pode constatar no CD 2 desse título que traz uma enfadonha e maçante sessão de ensaios do grupo. John Lennon, em particular, cheio de heroína, não conseguia produzir grande coisa. Ele apenas se arrastava com sua guitarra dentro do estúdio.

As faixas "Dig It" e "Maggie Mae" não estão presentes nesse Naked. Talvez por serem ruins demais ou talvez por serem pedaços de gravações que sabe-se lá o porquê foram colocados no disco oficial de 1970. As piadinhas sem graça de Lennon e as falas sem nexo que ficavam entre as faixas do disco original também foram eliminadas (positivamente, ao meu ver). O que sobrou foi o que os Beatles gravaram a cru dentro do estúdio. Esqueça a história de que "The Long and Winding Road" foi estragada por Phil Spector. Sem o trabalho dele que ouvimos aqui a música ficou muito mais fraca, sem a beleza da orquestra que foi colocada pelo produtor. Paul deveria ficar calado.

Como John Lennon não tinha muito material novo a apresentar nessas sessões (Yoko e as drogas ocupavam todo o seu tempo) ele ressuscitou "Across the Universe", uma linda música que ele havia composto na Índia, antes mesmo das gravações do "White Album". Outras mais fracas foram incorporadas ao disco, estou me referindo a "Dig a Pony" e "Don't Let Me Down". George Harrison surgiu com poucas composições, basicamente apenas "For You Blue" e "I Me Mine". O trabalho de Spector melhorou muito elas. E por fim Paul McCartney trouxe as canções mais marcantes do álbum original, "Let It Be". "Get Back" e a já citada "The Long and Winding Road". Então é isso, esse "Naked" mostra acima de tudo que Phil Spector fez um bom trabalho no disco de 1970. Sem ele as músicas iriam soar bem piores do que já eram.

The Beatles - Let it Be... Naked (2003)
Get Back
Dig a Pony
For You Blue
The Long and Winding Road
Two of Us
I've Got a Feeling
One After 909
Don't Let Me Down
I Me Mine
Across the Universe
Let It Be

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Paul McCartney - McCartney III

Esse foi o último álbum lançado pelo Paul McCartney. É o terceiro dessa linha que começou há muitos anos, em 1970 com o lançamento de "McCartney". Em 1980 tivemos "McCartney II". E qual é a característica em comum de todos esses três discos? Eles são gravados e produzidos apenas pelo Paul que em estúdio toca todos os instrumentos, faz todos os arranjos e.. enfim, são discos em que ele faz tudo sozinho! Coisa para poucos artistas mesmo. E esses 3 álbuns também são, em certa medida, mais ousados, mais vanguardistas. Longe das amarras de uma super produção, Paul se solta mais, fica sem medo de experimentar coisas diferentes.

Como houve a pandemia em 2020 e como Paul precisou ficar em quarentena dentro de casa, ele então teve a ideia de gravar mais um McCartney. Ele tem um estúdio completo dentro de sua mansão em Londres, então era apenas uma questão de decidir colocar a ideia em frente. E como todo mundo sabe que o Paul sempre foi um workaholic, eis aí o resultado de sua produção caseira.

"McCartney III" é um bom disco, mas fica longe dos melhores trabalhos de Paul McCartney. É um álbum sem muitas músicas marcantes, com uma sonoridade que poderíamos dizer ser apenas mediana. É um disco mediano de um artista excepcional. Como eu sempre gostei mais dos álbuns bem produzidos de sua discografia, apreciei muito mais "Egypt Station", seu trabalho anterior. Esse aqui não é aquele tipo de trabalho que me fará ouvir por anos a fio como aconteceu com "Tug of War", por exemplo. Soa mais como uma audição curiosa, de um músico que se recusa mesmo a se aposentar. Claro que ele não perdeu o jeito para escrever belas canções, mas a voz já perdeu o brilho. Claro, fruto de um natural envelhecimento. Esse é um aspecto que nem ao mesmo se pode criticar. De qualquer maneira fica como um ponto de reflexão de um cantor e compositor que não precisa provar mais nada a ninguém.

Paul McCartney - McCartney III (2020)

Long Tailed Winter Bird
Find My Way
Pretty Boys  
Women and Wives  
Lavatory Lil
Deep Deep Feeling
Slidin'
The Kiss of Venus
Seize the Day
Deep Down
Winter Bird / When Winter Comes

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Flowers in the Dirt

Ontem Paul McCartney fez aniversário. Completou 79 anos de idade. Eu pensei em escrever um texto mostrando sua importância no mundo da música, mas isso já foi escrito e reescrito milhares de vezes ao longo de todos esses anos. Ao invés disso preferia escrever algumas palavras sobre esse disco que considero o último grande álbum que Paul produziu e gravou após sua saída dos Beatles. Sim, não tenho medo de dizer que esse "Flowers in the Dirt" é uma obra-prima da discografia de Paul McCartney. Um disco realmente maravilhoso. E ele foi gravado e composto ao lado de outro grande artista, Elvis Costello. Inclusive lamento muito que esse tenha sido o único trabalho coletivo entre Paul e Elvis. Eles poderiam ter trabalhado juntos novamente e tenho certeza que dessa parceria teriam saído outros álbuns excepcionais como esse.

"Flowers in the Dirt" tem uma sonoridade única dentro da discografia de Paul. Aqui se valorizou muito mais as melodias, sem pressa, tudo em seu devido tempo. Entre as faixas destaco algumas que são verdadeiros clássicos do ex-Beatle. As músicas que mais fizeram sucesso nas rádios foram "My Brave Face" e "Figure Of Eight". Essas foram compostas mesmo para se tornarem hits. Canções pop bem saborosas, de refrães pegajosos. Uma especialidade de Paul McCartney. Melhor mesmo é ouvir "This One". Essa poderia ter entrado em qualquer disco dos Beatles, de tão boa que é. Inclusive é a melhor faixa do álbum em minha opinião. Fora essas mais conhecidas o repertório está cheio de excelentes músicas, com melodias agradáveis de se ouvir. É um disco para se saborear aos poucos, como um bom vinho na adega. Ideal para gostos mais refinados.

Outras faixas merecem destaque. "How Many People", foi composta por Paul em homenagem ao brasileiro Chico Mendes. A questão ambiental sempre foi uma das preocupações do ex-Beatle. Aqui ele resolveu homenagear a luta pela preservação da floresta Amazônica. "Put It There" tem uma certa melancolia que bate fundo no ouvinte. Paul iria ao poucos, nos discos seguintes, explorar mais esse tipo de sonoridade. "Motor Of Love" é uma balada despudorada, como poucas vezes se viu em discos de Paul. Nessa faixa Paul não teve vergonha de colocar seu lado mais romântico para fora. Por fim a faixa "Ou Est Le Soleil?" foi um bônus que só saiu no CD. Quem comprou o LP (disco de vinil) como esse que vos escreve, acabou ficando sem ela. Enfim, excelente disco do Sir Paul McCartney. Certamente um dos melhores de sua rica carreira solo.

Paul McCartney - Flowers in the Dirt (1989)
My Brave Face
Rough Ride
You Want Her Too
Distractions
We Got Married
Put It There
Figure Of Eight
This One
Don't Be Careless Love
That Day Is Done
How Many People
Motor Of Love
Ou Est Le Soleil?

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de setembro de 2011

The Beatles Live At The BBC - Volume 2

The Beatles Live At The BBC - Volume 2
Eu sempre adorei o volume 1 dessa coleção, porém não tinha comprado ainda o segundo volume, que foi muito menos badalado, muito menos comentado por aí, até mesmo entre fãs dos Beatles. É compreensível, afinal o sabor da novidade já havia passado. Pois bem, como se sabe esses são lançamentos oficiais dos Beatles e recuperam gravações ao vivo que eles fizeram na rádio BBC de Londres. É curioso imaginar um tempo em que os Beatles tocavam ao vivo em um programa de rádio. Era ainda a fase inicial do grupo. Embora famosos, eles ainda não eram esse monstro de quatro cabeças que um dia se tornariam. Eram apenas quatro jovens músicos defendendo um bom cachê. Vamos comentar sobre as faixas mais interessantes, a seguir.

Words of Love - Esse é um clássico romântico escrito por Buddy Holly. Foi escolhida por Paul McCartney para fazer parte do disco "Beatles For Sale". A versão de estúido é linda. Aqui, ao vivo, os Beatles não se saem mal. Aliás a performance deles é boa, a música é inegavelmente bem executada. Parece até mesmo que estamos ouvindo o LP. Pena que os recursos da BBC não eram tão bons assim, afinal era um estúdio de rádio. Por essa razão a qualidade sonora não é das melhores.

Do You Want to Know a Secret? - Essa música fez parte do "Please, Please Me". É uma daquelas músicas que ficam bem melhores em estúdio, pois os vocais são gravados em separado, com todo o capricho e rigor técnico. Aqui nessa gravação os Beatles precisavam reproduzir aquela mesmo vocalização potente, mas não conseguiram chegar lá. Nem era culpa deles, para falar a verdade. A questão é que eles não tinham todos os recursos técnicos dos estúdios Abbey Road. Mesmo assim a versão Live não ficou ruim. Nada disso. Até aprecio.

Lucille - Os Beatles nunca gravaram oficialmente esse rock de Little Richard. Nos palcos entretanto a coisa era diferente. Era figurinha fácil nos repertório dos shows, principalmente quando os jovens Beatles tocavam no Cavern ou em algum  inferninho de Hamburgo. Era aquele tipo de rock em tom alto que eles usavam para balançar e levantar o público. Aqui o George Harrison dá algumas derrapadas na hora do solo, mas não chega a ser propriamente um problema. Dá para curtir a versão sem problemas.

Anna (Go to Him) - Outra do Please, Please Me. É a tal coisa, os Beatles precisavam ocupar o programa da BBC com um repertório variado, mas sem deixar de lado as músicas de seus discos. A propaganda (a publicidade) já era a alma do negócio naqueles tempos, meu caro! Então Anna era carta certa. E aqui eles fizeram uma versão extremamente fiel ao que ouvimos no disco oficial. Só o eco é diferente, mas isso é questão da gravação do estúdio. Os Beatles com aquele eco todo da versão de estúdio provavelmente estavam tentando imitar o Sun Sound dos primeiros singles de Elvis na Sun Records. Na BBC não deu para fazer isso. Tudo bem, a versão é muito boa. O resultado ficou até mesmo inspirado. 

Lend Me Your Comb - Nunca gravada oficialmente pelos Beatles em quaisquer de seus discos, essa faixa tinha pleno potencial para ser um lado B de algum single. Curiosamente passeia por um tipo de ritmo caribenho, como se fosse uma rumba, mas no refrão vira um pop rock dos mais contagiantes. Cantada em coro entre Paul e John, tem também momentos de solo vocal de Paul McCartney. Boa música, bom embalo, injustamente negligenciada pelos Beatles em sua discografia oficial.

Pablo Aluísio.