Se "Love Me Tender" foi um teste e "Loving You" a primeira tentativa de Elvis em se firmar como um astro em Hollywood, "Jailhouse Rock" é a consolidação desse objetivo. Com ótimo roteiro e um papel feito sob encomenda para Elvis, "Jailhouse Rock" foi o grande filme do cantor nos anos 50. A imagem do astro vestido com roupas de presidiário entrou definitivamente na história da cultura pop e se tornou um dos ícones mais conhecidos do cantor em Hollywood. "Jailhouse Rock" foi o primeiro filme de Elvis pela MGM, estúdio conhecido por ter feito os maiores musicais da história do cinema. Com tanto know how o produto final não poderia sair diferente. Inclusive Elvis era visto como uma tábua de salvação para o estúdio, pois além de proporcionar ótimas bilheterias iria inevitavelmente levar o gênero musical para as platéias mais jovens. Em 1957 a era dos grandes musicais de Hollywood já ficara para trás, os grandes nomes do período de ouro desse estilo de filme estavam aposentados ou amargando um injusto ostracismo. O Rock'n'Roll de certa forma representava a linguagem dos jovens da época, que não estavam mais interessados nos passos de Gene Kelly e Fred Astaire.
Os grandes filmes da Metro como "Cantando na Chuva" ou "O Picolino" eram vistos pelos jovens roqueiros como passatempos bobos da juventude de seus pais. Sem conseguir encontrar uma via de comunicação com as novas gerações a MGM procurou se adaptar. E qual era a melhor forma de atrair essa moçada de volta aos cinemas para assistir seus grandes musicais? Ora, usando o maior ídolo dessa juventude: Elvis Presley. Imagine o choque de gerações dentro do set de filmagem. Uma equipe da velha escola tentando compreender e traduzir em película os anseios de uma juventude que eles mal conheciam. Isso se revelou perfeitamente em um fato ocorrido durante as filmagens. O coreógrafo e o diretor Richard Thorpe se encontraram com Elvis no dia em que iriam filmar a famosa cena em que ele cantaria o tema principal. Quando os dançarinos começaram a desenvolver sua coreografia Elvis se viu diante de um número completamente baseado no estilo de Fred Astaire e Gene Kelly, com aqueles passinhos de dança milimetricamente ensaiados. Além de fora de contexto o número era completamente ultrapassado segundo a visão de Elvis. Caso se apresentasse daquele jeito em um filme ele seria ridicularizado por seu público. Elvis viu que teria salvar o dia mais uma vez. Mudar tudo e começar do zero. O cantor esperou pacientemente tudo aquilo terminar e com educação sugeriu a Thorpe que iria, ele mesmo, desenvolver um número junto dos dançarinos. O que Elvis fez naquela tarde entrou para a história do cinema.
Em pouco mais de um dia de ensaios Elvis mostrou a todos como a cena deveria ser feita. Procurou determinar o local onde cada dançarino deveria estar e a forma que deveria se apresentar. Pela primeira em sua vida Elvis estava desenvolvendo um de seus mais notórios talentos, o de dançarino. Embora nunca tenha desenvolvido totalmente esse aspecto de sua personalidade artística, Elvis naquele dia se superou e conseguiu com aquele número entrar para a galeria dos grandes momentos musicais da história da MGM, lado a lado com os mestres do passado. E fez isso sem precisar adotar o estilo de ninguém, apenas confiou em sua intuição e realizou uma das cenas mais lembradas do cinema dos anos 50. O resultado final foi dos mais felizes: o filme foi elogiado pela crítica e o público lotou os cinemas mais uma vez. Fora isso o single "Jailhouse Rock / Treat Me Nice" se transformou em um dos discos mais vendidos da década. A trilha completa foi lançada em um compacto duplo com as seis canções do filme (sem nenhuma bonus song). Enfim, "Jailhouse Rock" é um dos mais vitoriosos projetos da carreira de Elvis, um momento único que captou para a posteridade toda a glória do Rei do Rock no auge de seu sucesso.
JAILHOUSE ROCK (Leiber / Stoller) - "Jailhouse Rock" é um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. Poucas músicas conseguiram traduzir e representar toda uma época e uma geração como essa. Perfeitamente executada, com ótimo arranjo a canção é uma das mais conhecidas da carreira de Elvis Presley. Nesse dia Elvis resolveu dispensar a participação dos Jordanaires após ter gravado alguns takes com os vocalistas. Elvis acertou, a canção ganhou em ritmo e fluência. Além disso o vocal de Elvis está simplesmente visceral, tanto que ele mesmo confidenciou depois ter sido essa uma das mais difíceis de acertar. Reconhecido pelos especialistas como o melhor rock gravado por Elvis em toda a sua carreira, a canção até hoje empolga e não envelheceu nem um minuto. Tão preciso e atual é o seu arranjo que até parece que foi gravada ontem. Música título do terceiro filme estrelado por Elvis que no Brasil recebeu o nome de "O Prisioneiro do Rock", sendo que sua trilha foi lançada em um EP (compacto duplo) em outubro de 1957. Foi ainda lançada como single em setembro de 1957 com "Treat Me Nice" no lado B. O sucesso foi imediato e o single chegou ao primeiro lugar na parada americana. A cena do filme em que Elvis apresenta esta canção é considerado o melhor momento do cantor no cinema. Leiber e Stoller afirmaram posteriormente que sua intenção era "...imitar o som de pedras quebrando" o que de certa forma foi conseguido. Foi gravado em 30 de abril de 1957 nos estúdios Radio Recorders em Hollywood. Assim Elvis ignorou a intenção satírica dos autores (Jerry Leiber e Mike Stoller) e interpretou a canção com fúria. Jailhouse Rock foi o primeiro single da história a ir direto para o topo das paradas no Reino Unido em 1957. Porém a trajetória de sucesso dessa canção imortal continuou. No 70º aniversário de Elvis a música foi mais uma vez relançada em single para comemorar a data. Não deu outra, a música novamente liderou as paradas, 48 anos depois de ter sido gravada! Imortal é isso aí!
TREAT ME NICE (Leiber / Stoller) - Outra canção deliciosa de Leiber e Stoller sendo lançada como lado B de "Jailhouse Rock". Para essa canção Elvis resolveu gravar duas versões: uma no dia 30 de abril durante as gravações do filme e outra no dia 5 de setembro que acabou se tornando a definitiva e oficial. A primeira foi utilizada durante o filme e curiosamente é considerada por muitos como a melhor. Isso se deve principalmente porque o arranjo da primeira versão é bem mais soft e leve do que a da versão original, mais excessivamente produzida. De qualquer forma as duas são ótimas e podem ser conferidas sem nenhum receio. No filme Elvis fez questão de chamar um dos compositores para participar da cena em que ele a apresenta. Lá está Mike Stoller, atrás de Elvis, fazendo figuração como um dos membros da banda do cantor. Aliás é bom frisar que ele também participou das gravações da trilha sonora em estúdio. Outro grande momento da trilha sonora que é reconhecida, de forma merecida aliás, como uma das melhores de Elvis.
YOUNG AND BEAUTIFULL (A. Silver / A. Schroder) - Canção romântica que foi escrita especialmente para Elvis quebrar os corações de suas fãs adolescentes. Primeiro cantor a possuir um vasto conjunto de fãs clubes organizados nos anos 50, Elvis era considerado pelas jovens dos chamados anos dourados como o "namorado ideal", pelos fãs masculinos como um "modelo rebelde a se seguir" e pelas mães dessa moçada como "uma ameaça aos bons costumes". Embora fosse visto durante os anos 50 como um rebelde e delinquente essa imagem seria alterada profundamente em 1958 quando Elvis foi para o exército. A partir desse momento a imagem de Elvis sofreu uma profunda modificação passando a ser considerado um bom moço para até mesmo para as mães. Essa imagem de um Elvis rebelde e transgressor realmente não condizia com a verdade. Talvez por ser polêmico e considerado um sucessor legitimo de James Dean nos anos 50, o cantor era apontado de forma equivocada como o grande incentivador do aumento da delinquência juvenil dos EUA. Um mau elemento, à margem da sociedade. Nada mais longe da verdade. Elvis era apenas um garoto do sul, extremamente ligado em sua família, profundamente religioso e que procurava levar uma vida decente. Obviamente não estava aí para contestar os valores da classe média americana. Era antes de tudo uma pessoa que procurava subir na vida com seu talento.
Claro que papéis como o de Vince Everett do filme "Jailhouse Rock" contribuíram e muito para essa visão, mas tudo não passava de marketing dos estúdios. Elvis se dava bem com todos no set e principalmente com suas estrelas. Para contracenar com Elvis em "Jailhouse Rock" foi contratada a starlet em ascensão Judy Tyler. Logo nasceu uma amizade entre Elvis e ela. Ambos era novatos no cinema e procuravam antes de tudo se consolidar no meio. Mas antes mesmo de se tornar uma estrela de cinema Judy Tyler foi vítima de um destino trágico. Ela morreu logo após as filmagens em um acidente automobilístico. O fato chocou a todos, e em particular Elvis, que lamentou profundamente o passamento de sua colega de trabalho, ainda tão jovem, talentosa e com um futuro tão promissor pela frente. Não tardou muito para que "Jailhouse Rock" entrasse na lista negra de Elvis. Para evitar ficar deprimido Elvis baniu o filme de sua vida e nunca mais o assistiu. Isso inclusive iria acontecer um ano depois com "Loving You". Nesse filme Gladys Presley, mãe do Rei, aparecia em cena batendo palmas em uma das cenas. Depois que sua mãe faleceu Elvis riscou do mapa também seu segundo filme. Não queria recordar Gladys ali ao seu lado, viva e feliz. Freud Explica!
(You're So Square) BABY I DON'T CARE (Leiber / Stoller) - É outra verdadeira pérola da dupla Leiber e Stoller que foram os responsáveis por quase toda a parte musical deste fantástico filme. Um fato curioso ocorreu na sessão de gravação desta música: o baixista Bill Black não conseguiu executar de forma satisfatória a Introdução da música, então Elvis pegou o contrabaixo de Black e tocou a introdução de forma impecável, sendo esta a definitiva e a que aparece no disco. Curiosamente na cena do filme aconteceu uma coisa engraçada: sem se dar conta Scotty Moore acabou comprometendo a continuidade do filme. Nas cenas em que se mostrava Elvis em close, Scotty aparece sem óculos e nas cenas abertas com o cantor focalizado a uma certa distância, Scotty se apresenta com seus óculos pretos! Obviamente as tomadas de perto e de longe foram filmadas em ocasiões diferentes, porém na montagem final em que as duas cenas são unidas surge o erro de continuidade bem nítido. Apesar desse pequeno pecado técnico a cena em si é ótima, com Elvis animado e dançando em seu peculiar estilo.
I WANT TO BE FREE (Leiber / Stoller) - Outra canção composta por Leiber e Stoller. Dessa vez o resultado final fica um pouco abaixo da média. Nada que deponha contra o talento dos autores, mas se formos comparar com o restante da trilha sonora fica claro que o resultado fica abaixo do esperado. Novamente Elvis registrou duas versões na madrugada do dia 30 de abril (aliás, toda a trilha sonora foi praticamente gravada na mesma noite). Uma das versões foi utilizada exclusivamente no filme e a outra, oficial, lançada no EP (compacto duplo). Como sempre o Coronel Parker não deixaria a música ficar restrita à trilha do filme. Obviamente ele iria procurar uma forma de lançá-la novamente para ganhar alguns níqueis extras. E foi assim que "I Want To Be Free" foi relançada no disco "A Date With Elvis". Também no mesmo LP o Coronel ainda encaixaria "Baby I Don't Care" e "Young and Beautifull". Parker mais uma vez dava continuidade ao seu lema de vender a mesma coisa duas vezes!
DON'T LEAVE ME NOW (Schroeder / Weisman) - Novamente?! Essa canção fez parte como "bonus song" da trilha de outro filme de Elvis, "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957). Difícil explicar o porquê desta canção ter sido incluída aqui. Inclusive, esta não é a mesma versão do filme anterior. Particularmente prefiro a versão de "Loving You", apesar da ótima introdução de piano desta. Mas enfim, de qualquer forma ela vem para enriquecer ainda mais a ótima trilha deste filme. Um belo final para um inesquecível trabalho de Elvis Presley.
Elvis Presley: Jailhouse Rock (1957): Elvis Presley (vocal e baixo) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Mike Stoller (piano) / The Jordanaires (vocais) / Arranjado por Steve Sholes e Elvis Presley / Produzido por Steve Sholes / Data de gravação: 30 de abril de 1957, exceto "Treat Me Nice" gravada em 5 de setembro de 1957 / Local de gravação: Radio Recorders, Hollywood / Data de lançamento: setembro de 1957 (single) e outubro de 1957 (Extended Play) / Melhor posição alcançada nas charts: EUA #1 e UK #1 (single) e EUA #1 e UK #18 - (Extended Play).
Pablo Aluísio.