domingo, 14 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis (1956) - Texto I

Elvis Presley - Elvis (1956) - O segundo disco de Elvis na RCA Victor foi bem mais produzido do que o primeiro. A gravadora ganhou confiança com o trabalho do cantor que já naquela altura havia se tornado o artista mais vendido do selo. Para alguém com vinte e poucos anos era um feito e tanto! Assim o produtor Steve Sholes trouxe para o estúdio mais músicos, mais instrumentos, tudo para melhorar o som do novo álbum. Em 1956 o principal veículo de promoção de Elvis não foi o cinema (seu primeiro filme ainda nem tinha sido filmado), mas sim a televisão e seus programas de variedades. Bastaram as primeiras apresentações de Elvis na TV para que a polêmica tomasse conta da imprensa.

Falem mal de mim, mas falem de mim - diria o Coronel Parker. Claro, grande parte dos artigos eram críticas ferozes a forma como Elvis cantava e dançava. Para muitos aquilo era sexualizado demais, impróprio para as adolescentes que começavam a curtir Elvis. Hoje em dia a dança de Elvis nesses primeiros programas de televisão aparentam ser apenas giros bem originais de um artista que tentava de alguma forma chamar a atenção para sua música. A cabeça das pessoas dos anos 50 era mesmo bem diferente da nossa. Ecos de um mundo mais conservador e tradicional.

De qualquer forma para Elvis e seu grupo de músicos o importante era fazer um bom trabalho de estúdio. As primeiras músicas do novo disco foram gravadas nos estúdios da RCA na costa oeste. Era o Radio Recorders, localizado em West Hollywood, Califórnia. A primeiro canção não poderia ser mais simbólica, a bela balada "Love Me" de Leiber e Stoller. Nesse mesmo dia Elvis já havia gravado "Playing for Keeps" que seria lançada em single. Para "Love Me" foram necessários 9 takes para que Elvis se desse por satisfeito. O curioso é que anos depois Jerry Leiber explicaria que havia composto a música quase como uma sátira ao estilo country de Nashville. Elvis ignorou essa intenção original do compositor e fez uma grande gravação, uma das melhores e mais memoráveis faixas dessa fase de sua carreira.

Esse segundo álbum de Elvis Presley na RCA Victor foi muito bem gravado. Havia todo um cuidado técnico, até porque Elvis já era naquela altura o maior vendedor de discos da gravadora multinacional. Com isso Elvis também se firmava como o roqueiro número 1 do mundo, um fenômeno de popularidade sem precedentes. Nesse mesmo ano ele começava a ser conhecido pelo mundo afora. Deixava de ser um artista de Memphis e do sul, para ser um artista internacional. Também foi o primeiro disco oficial de Elvis a ser lançado no Brasil, numa edição completamente fiel ao disco americano original.

O apuro técnico dentro do estúdio se refletiu principalmente em faixas como "Rip It Up". Hoje em dia essa composição da excelente dupla formada por Robert Blackwell e John Marascalco é considerada um dos maiores clássicos da história do rock. Uma canção vibrante, que contou com uma performance irretocável por parte de Elvis, que é importante frisar, não passava de um jovem cantor de 21 anos de idade na época. Tão jovem e já tão revolucionário em termos musicais.

O country também não poderia ficar de fora. Afinal Elvis não negava suas origens sulistas. "When My Blue Moon Turns to Gold Again" era uma típica representante do estilo mais rural dentro do álbum. Essa música havia sido composta pelo cantor cowboy Gene Sullivan. Elvis que não queria perder sua público mais fiel, aquele que o acompanhava desde os primeiros shows em Memphis, a escolheu como uma espécie de homenagem a esse tipo de fã. Sim, Elvis abraçava o rock, mas não estava disposto a virar o rosto para o country and western de seus primeiros anos. Assim temos uma boa faixa, bem gravada, com Elvis evocando o antigo estilo de cantar do country de Nashville.

De Arthur Crudup, Elvis trouxe para o álbum a balada blues "So Glad, You're Mine". Para a turma de Nova Iorque, da equipe da RCA Victor na cidade, aquele tipo de sonoridade soava como algo diferente, até mesmo novo. Só que na verdade era uma velha canção, muito popular em bares e espeluncas de Memphis. Não que Elvis a conhecesse desses lugares do tipo barra pesada, mais voltada para o público negro da cidade, mas sim do rádio. Esse aparelho era o principal meio de entretenimento da família Presley, sempre ligado ao fundo. Assim Elvis a conhecia muito bem, por isso também resolveu gravar sua própria versão que ficou excelente, melhor do que qualquer outra já feita, antes ou depois desse disco.

Uma das músicas preferidas de Elvis nesse disco era a balada sentimental "Old Shep" de Red Foley. Elvis a cantava desde quando era um garotinho em Memphis. Inclusive essa foi a primeira música que Elvis cantou em um palco na sua vida, quando ainda era bem jovem e participava de um programa de calouros numa feira de gado, típico evento popular em sua cidade.

Outro fato que chama a atenção nessa faixa é que ele tem mais de 4 minutos de duração, o que fugia do padrão da época. As músicas geralmente tinha apenas dois minutos ou um pouco acima disso. Era uma duração ideal para tocar nas rádios. Além do mais a gravação ficou com uma sonoridade que lembrava em muito seus anos na Sun Records. Teria sido algo proposital? Não sabemos ao certo.

"First In Line" era outra balada romântica. Essa, ao contrário de "Old Shep", não tinha ligação com o passado de Elvis. Na realidade era uma boa criação da "fábrica" de criação da RCA Victor. A companhia, como se sabe, mantinha equipes de compositores prontos para criarem qualquer música, sempre que a gravadora solicitasse. Essa faixa foi composta pela dupla Aaron Schroeder e Ben Weisman. Eles se tornariam bem presentes nas trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Weisman, por exemplo, compôs muitas das canções dos filmes de Elvis em Hollywood. Segundo alguns dados chegou a escrever mais de 50 músicas para Presley! Um número bastante significativo.

O produtor e guitarrista Chet Atkins também trouxe sua contribuição para o disco. No estúdio ele apresentou a Elvis a canção "How's The World Treating You". Ele tinha composto a faixa ao lado do parceiro e amigo de Nashville Boudleaux Bryant. Elvis ouviu a música e não demorou muito a se convencer a gravá-la. Foi até curiosa essa escolha, pois nesse momento de sua carreira Elvis se firmava com a imagem de um roqueiro rebelde, um "James Dean de guitarra" como chegou a escrever um jornalista influente de Nova Iorque. Então mais uma balada chorosa contrastava com essa imagem. Porém para quem o conhecia mais de perto não havia surpresa alguma. Elvis era mesmo esse artista com coração, que sempre apreciava esse tipo de som mais sentimental.

Elvis não colocava muita fé em sua carreira em seus anos iniciais. Quando um repórter perguntou a ele o que estaria fazendo dali a dez anos, Elvis pensou um pouco e respondei: "Não sei! Acho que vou abrir uma loja de carros usados ou algo assim". Diante da resposta incomum o jornalista quis saber se Elvis não se via cantando no futuro ao que ele deixou a entender que não pois "cantores surgem e somem com rapidez".

De qualquer maneira naquele distante ano de 1956 Elvis vivia um dos melhores momentos de sua vida pessoal e artística. Sua mãe Gladys estava viva, ele curtia a onda de sucesso de seus discos e tinha assinado como uma grande gravadora, a RCA Victor. O que poderia estar faltando? Basicamente nada. Era só questão de gravar bons discos e seguir em frente com o mesmo sucesso.

Nesse momento ele também recebeu o título de "Rei do Rock". O curioso é que Elvis não gostava de ser chamado de Rei. Para ele apenas Jesus Cristo poderia ser chamado de Rei, no caso de "Rei dos Reis", conforme o título de um filme épico de sucesso da época. Aproveitando de toda a onda dessa nova música a RCA por sua vez queria que Elvis gravasse cada vez mais rocks, um atrás do outro, pois era esse tipo de gravação que andava vendendo muito por todo o país. Elvis cedeu e gravou "Ready Teddy", um rock visceral composto pela dupla Robert Blackwell e John Marascalco. A música era dinamite pura e Elvis foi encorajado para apresentá-la ao vivo em sua apresentação na TV. A performance do jovem roqueiro com cabelo cheio de brilhantina causou grande comoção em todo o país. Os mais velhos odiaram. Os mais jovens amaram. No meio de toda a polêmica que se seguiu Elvis ficou ainda mais famoso.

"Long Tall Sally" foi outro rock de raiz gravado por Elvis nesse LP.  Era uma original de Little Richard, que anos depois disse estar honrado de ter ouvido uma de suas músicas gravadas pelo garoto de Memphis. Era algo especial. Isso também colocava por terra aquela velha narrativa de que Elvis seria um ladrão da cultura negra. Um branco bonitão que colocou as mãos nas músicas compostas pelos primeiros roqueiros negros e depois ficou rico e famoso com elas. Na verdade o próprio Richard desmentiria isso, dizendo que o fato de Elvis ter gravado sua música o teria lhe ajudado muito naqueles tempos pioneiros. Era um ato de colaboração, ajuda e amizade e não de exploração como muitos quiseram fazer crer anos depois.

Na primeira vez que escrevi sobre "How Do You Think I Feel" eu afirmei que essa música tinha claros contornos latinos em sua harmonia. Há algum tempo li que seu autor, Webb Pierce, estava em férias no México quando a compôs. Assim tudo fica devidamente explicado. Quando o disco foi lançado originalmente em 1956 ninguém deu muita atenção para essa faixa. Nenhum crítico perdeu seu tempo em analisá-la devidamente, até porque o álbum já tinha tantos clássicos do rock para chamar a atenção.

Ficar na sombra foi uma vocação natural para essa gravação. De minha parte gosto de sua sonoridade. O arranjo é simples, nada parecido com o que se ouviria anos depois em trilhas sonoras como "Fun in Acapulco" (O Seresteiro de Acapulco de 1963), mas mantinha um arranjo agradável aos ouvidos. Também acabou se tornando uma música exclusiva de estúdio, nunca cantada por Elvis nos palcos.

O compositor Joe Thomas criou a ótima "Anyplace is Paradise". Essa faixa poderia ter sido melhor trabalhada pela RCA Victor pois em minha visão tinha muito potencial para se tornar um hit nos anos 50. Só que a gravadora de Elvis não pensou dessa forma e a música foi relegada a ser um autêntico "Lado B" da discografia do cantor. Isso porém não a desmereceu em nada. O grupo de Elvis aqui se destaca, em especial o guitarrista Scotty Moore, que teve uma excelente oportunidade para desfilar seu repertório de solos. Outro destaque é o piano de Marvin Hughes. Nos tempos da Sun Records não havia piano nas gravações. Quando Elvis foi para a RCA Victor o produtor Steve Sholes determinou que uma banda completa iria ficar à disposição de Elvis. Isso trouxe um conjunto de belos arranjos para seus discos. Ficou muito bom, mais encorpado, mais bem trabalhado.

Certa vez, durante uma entrevista, Raul Seixas citou "Paralyzed" como uma de suas músicas preferidas de Elvis. O roqueiro brasileiro entendia mesmo da discografia de seu ídolo, pois só quem era familiarizado muito bem com seus discos dos anos 50 poderia citar essa faixa com tamanha convicção. O que podemos ainda dizer sobre essa canção? È uma das letras mais maliciosas de Elvis, isso numa época em que estavam pegando em seu pé por causa de seus rebolados na TV. Ela foi gravada nos estúdios logo depois da baladona "Old Shep". Depois de todo aquele drama nostálgico Elvis procurou por algo mais relaxante, para deixar o stress de lado. E a música serviu perfeitamente aos seus propósitos. O Elvis que ouvimos aqui parece completamente à vontade para cantá-la.

Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 1 - O segundo disco de Elvis na RCA Victor foi bem mais produzido do que o primeiro. A gravadora ganhou confiança com o trabalho do cantor que já naquela altura havia se tornado o artista mais vendido do selo. Para alguém com vinte e poucos anos era um feito e tanto! Assim o produtor Steve Sholes trouxe para o estúdio mais músicos, mais instrumentos, tudo para melhorar o som do novo álbum.

Em 1956 o principal veículo de promoção de Elvis não foi o cinema (seu primeiro filme ainda nem tinha sido filmado), mas sim a televisão e seus programas de variedades. Bastaram as primeiras apresentações de Elvis na TV para que a polêmica tomasse conta da imprensa.

Falem mal de mim, mas falem de mim - diria o Coronel Parker. Claro, grande parte dos artigos eram críticas ferozes a forma como Elvis cantava e dançava. Para muitos aquilo era sexualizado demais, impróprio para as adolescentes que começavam a curtir Elvis. Hoje em dia a dança de Elvis nesses primeiros programas de televisão aparentam ser apenas giros bem originais de um artista que tentava de alguma forma chamar a atenção para sua música. A cabeça das pessoas dos anos 50 era mesmo bem diferente da nossa. Ecos de um mundo mais conservador e tradicional.

De qualquer forma para Elvis e seu grupo de músicos o importante era fazer um bom trabalho de estúdio. As primeiras músicas do novo disco foram gravadas nos estúdios da RCA na costa oeste. Era o Radio Recorders, localizado em West Hollywood, Califórnia. A primeiro canção não poderia ser mais simbólica, a bela balada "Love Me" de Leiber e Stoller. Nesse mesmo dia Elvis já havia gravado "Playing for Keeps" que seria lançada em single. Para "Love Me" foram necessários 9 takes para que Elvis se desse por satisfeito. O curioso é que anos depois Jerry Leiber explicaria que havia composto a música quase como uma sátira ao estilo country de Nashville. Elvis ignorou essa intenção original do compositor e fez uma grande gravação, uma das melhores e mais memoráveis faixas dessa fase de sua carreira.

Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 2 - Esse segundo álbum de Elvis Presley na RCA Victor foi muito bem gravado. Havia todo um cuidado técnico, até porque Elvis já era naquela altura o maior vendedor de discos da gravadora multinacional. Com isso Elvis também se firmava como o roqueiro número 1 do mundo, um fenômeno de popularidade sem precedentes. Nesse mesmo ano ele começava a ser conhecido pelo mundo afora. Deixava de ser um artista de Memphis e do sul, para ser um artista internacional. Também foi o primeiro disco oficial de Elvis a ser lançado no Brasil, numa edição completamente fiel ao disco americano original.

O apuro técnico dentro do estúdio se refletiu principalmente em faixas como "Rip It Up". Hoje em dia essa composição da excelente dupla formada por Robert Blackwell e John Marascalco é considerada um dos maiores clássicos da história do rock. Uma canção vibrante, que contou com uma performance irretocável por parte de Elvis, que é importante frisar, não passava de um jovem cantor de 21 anos de idade na época. Tão jovem e já tão revolucionário em termos musicais.

O country também não poderia ficar de fora. Afinal Elvis não negava suas origens sulistas. "When My Blue Moon Turns to Gold Again" era uma típica representante do estilo mais rural dentro do álbum. Essa música havia sido composta pelo cantor cowboy Gene Sullivan. Elvis que não queria perder sua público mais fiel, aquele que o acompanhava desde os primeiros shows em Memphis, a escolheu como uma espécie de homenagem a esse tipo de fã. Sim, Elvis abraçava o rock, mas não estava disposto a virar o rosto para o country and western de seus primeiros anos. Assim temos uma boa faixa, bem gravada, com Elvis evocando o antigo estilo de cantar do country de Nashville.

De Arthur Crudup, Elvis trouxe para o álbum a balada blues "So Glad, You're Mine". Para a turma de Nova Iorque, da equipe da RCA Victor na cidade, aquele tipo de sonoridade soava como algo diferente, até mesmo novo. Só que na verdade era uma velha canção, muito popular em bares e espeluncas de Memphis. Elvis a conhecia também do rádio, das estações black de Memphis. Esse aparelho era o principal meio de entretenimento da família Presley, sempre ligado ao fundo. Assim Elvis a conhecia muito bem, por isso também resolveu gravar sua própria versão que ficou excelente, melhor do que qualquer outra já feita, antes ou depois desse disco.

Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 3 - Uma das músicas preferidas de Elvis nesse disco era a balada sentimental "Old Shep" de Red Foley. Elvis a cantava desde quando era um garotinho em Memphis. Inclusive essa foi a primeira música que Elvis cantou em um palco na sua vida, quando ainda era bem jovem e participava de um programa de calouros numa feira de gado, típico evento popular em sua cidade.

Outro fato que chama a atenção nessa faixa é que ele tem mais de 4 minutos de duração, o que fugia do padrão da época. As músicas geralmente tinham apenas dois minutos ou um pouco acima disso. Era uma duração ideal para tocar nas rádios. Além do mais a gravação ficou com uma sonoridade que lembrava em muito seus anos na Sun Records. Teria sido algo proposital? Não sabemos ao certo.

"First In Line" era outra balada romântica. Essa, ao contrário de "Old Shep", não tinha ligação com o passado de Elvis. Na realidade era uma boa produção da "fábrica" de criação da RCA Victor. A companhia, como se sabe, mantinha equipes de compositores prontos para criarem qualquer música, sempre que a gravadora solicitasse. Essa faixa foi composta pela dupla Aaron Schroeder e Ben Weisman. Eles se tornariam bem presentes nas trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Weisman, por exemplo, compôs muitas das canções dos filmes de Elvis em Hollywood. Segundo alguns dados chegou a escrever mais de 50 músicas para Presley! Um número bastante significativo.

O produtor e guitarrista Chet Atkins também trouxe sua contribuição para o disco. No estúdio ele apresentou a Elvis a canção "How's The World Treating You". Ele tinha composto a faixa ao lado do parceiro e amigo de Nashville Boudleaux Bryant. Elvis ouviu a música e não demorou muito a se convencer a gravá-la. Foi até curiosa essa escolha, pois nesse momento de sua carreira Elvis se firmava com a imagem de um roqueiro rebelde, um "James Dean de guitarra" como chegou a escrever um jornalista influente de Nova Iorque. Então mais uma balada chorosa contrastava com essa imagem. Porém para quem o conhecia mais de perto não havia surpresa alguma. Elvis era mesmo esse artista com coração, que sempre apreciava esse tipo de som mais sentimental.

Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 4 - Elvis não colocava muita fé em sua carreira em seus anos iniciais. Quando um repórter perguntou a ele o que estaria fazendo dali a dez anos, Elvis pensou um pouco e respondei: "Não sei! Acho que vou abrir uma loja de carros usados ou algo assim". Diante da resposta incomum o jornalista quis saber se Elvis não se via cantando no futuro ao que ele deixou a entender que não pois "cantores surgem e somem com rapidez".

De qualquer maneira naquele distante ano de 1956 Elvis vivia um dos melhores momentos de sua vida pessoal e artística. Sua mãe Gladys estava viva, ele curtia a onda de sucesso de seus discos e tinha assinado como uma grande gravadora, a RCA Victor. O que poderia estar faltando? Basicamente nada. Era só questão de gravar bons discos e seguir em frente com o mesmo sucesso.

Nesse momento ele também recebeu o título de "Rei do Rock". O curioso é que Elvis não gostava de ser chamado de Rei. Para ele apenas Jesus Cristo poderia ser chamado de Rei, no caso de "Rei dos Reis", conforme o título de um filme épico de sucesso da época. Aproveitando de toda a onda dessa nova música a RCA por sua vez queria que Elvis gravasse cada vez mais rocks, um atrás do outro, pois era esse tipo de gravação que andava vendendo muito por todo o país. Elvis cedeu e gravou "Ready Teddy", um rock visceral composto pela dupla Robert Blackwell e John Marascalco. A música era dinamite pura e Elvis foi encorajado para apresentá-la ao vivo em sua apresentação na TV. A performance do jovem roqueiro com cabelo cheio de brilhantina causou grande comoção em todo o país. Os mais velhos odiaram. Os mais jovens amaram. No meio de toda a polêmica que se seguiu Elvis ficou ainda mais famoso.

"Long Tall Sally" foi outro rock de raiz gravado por Elvis nesse LP.  Era uma original de Little Richard, que anos depois disse estar honrado de ter ouvido uma de suas músicas gravadas pelo garoto de Memphis. Era algo especial. Isso também colocava por terra aquela velha narrativa de que Elvis seria um ladrão da cultura negra. Um branco bonitão que colocou as mãos nas músicas compostas pelos primeiros roqueiros negros e depois ficou rico e famoso com elas. Na verdade o próprio Richard desmentiria isso, dizendo que o fato de Elvis ter gravado sua música o teria lhe ajudado muito naqueles tempos pioneiros. Era um ato de colaboração, ajuda e amizade e não de exploração como muitos quiseram fazer crer anos depois.

Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 5 - Na primeira vez que escrevi sobre "How Do You Think I Feel" eu afirmei que essa música tinha claros contornos latinos em sua harmonia. Há algum tempo li que seu autor, Webb Pierce, estava em férias no México quando a compôs. Assim tudo fica devidamente explicado. Quando o disco foi lançado originalmente em 1956 ninguém deu muita atenção para essa faixa. Nenhum crítico perdeu seu tempo em analisá-la devidamente, até porque o álbum já tinha tantos clássicos do rock para chamar a atenção.

Ficar na sombra foi uma vocação natural para essa gravação. De minha parte gosto de sua sonoridade. O arranjo é simples, nada parecido com o que se ouviria anos depois em trilhas sonoras como "Fun in Acapulco" (O Seresteiro de Acapulco de 1963), mas mantinha um arranjo agradável aos ouvidos. Também acabou se tornando uma música exclusiva de estúdio, nunca cantada por Elvis nos palcos.

O compositor Joe Thomas criou a ótima "Anyplace is Paradise". Essa faixa poderia ter sido melhor trabalhada pela RCA Victor pois em minha visão tinha muito potencial para se tornar um hit nos anos 50. Só que a gravadora de Elvis não pensou dessa forma e a música foi relegada a ser um autêntico "Lado B" da discografia do cantor. Isso porém não a desmereceu em nada. O grupo de Elvis aqui se destaca, em especial o guitarrista Scotty Moore, que teve uma excelente oportunidade para desfilar seu repertório de solos. Outro destaque é o piano de Marvin Hughes. Nos tempos da Sun Records não havia piano nas gravações. Quando Elvis foi para a RCA Victor o produtor Steve Sholes determinou que uma banda completa iria ficar à disposição de Elvis. Isso trouxe um conjunto de belos arranjos para seus discos. Ficou muito bom, mais encorpado, mais bem trabalhado.

Certa vez, durante uma entrevista, Raul Seixas citou "Paralyzed" como uma de suas músicas preferidas de Elvis. O roqueiro brasileiro entendia mesmo da discografia de seu ídolo, pois só quem era familiarizado muito bem com seus discos dos anos 50 poderia citar essa faixa com tamanha convicção. O que podemos ainda dizer sobre essa canção? È uma das letras mais maliciosas de Elvis, isso numa época em que estavam pegando em seu pé por causa de seus rebolados na TV. Ela foi gravada nos estúdios logo depois da baladona "Old Shep". Depois de todo aquele drama nostálgico Elvis procurou por algo mais relaxante, para deixar o stress de lado. E a música serviu perfeitamente aos seus propósitos. O Elvis que ouvimos aqui parece completamente à vontade para cantá-la.

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis na Sun Records

Elvis na Sun Records
O que levou aquele jovem a entrar na Sun Records e sair de lá com um disquinho gravado embaixo de seu braço, segue sendo um mistério! Para alguns, ele teria gravado o acetato para dar de presente para sua mãe, mesmo que não fosse um presente de aniversáro. Para outros Elvis tinha ambições de um dia se tornar um artista, embora isso fosse algo tão distante dele como um pouso na Lua. Pensando bem, apenas Elvis poderia responder a essa pergunta. Só ele sabia o que se passava em seu mente. Todo o resto não passa mesmo de mera especulação dos autores. 

Naqueles tempos duros, Elvis lutava pela sobrevivência, sua e de sua família. Eles tinham saído de Tupelo para Memphis em busca de trabalho. O pai era um homem sem educação formal e vivia de empregos que ia conseguindo aqui e acolá. Em Memphis as chances eram maiores pois Vernon era um trabalhador comum que precisava alimentar seu filho e sua esposa. 

Nesse aspecto o destino da família Presley não se difenciava em nada de milhares de outras famílias que viviam sob as mesmas condições no sul dos Estados Unidos. Vernon era um homem esforçado e apesar de muitas biografias o retratarem como um ser insolente, sem ambições, até preguiçoso, esse é uma grande mentira! Vernon apenas estava limitado em seu próprio contexto econômico e social. Ele nunca deicou de lutar por uma vida melhor para sua família. Mesmo com todas as dificuldades ele sempre estava em busca de trabalho! Nunca desistiu! 

Na época em que Elvis gravou "My Happiness" na Sun, ele morava em Lauderdale Courts, um conjunto habitacional para famílias de pequena renda, bancada pelo governo Roosevelt. O importante era manter a dignidade daquelas populações em estado de vulnerabilidade social. 

Assim, quando terminou o ensino médio, Elvis foi atrás de um emprego. Acabou arranjando um como motorista do caminhão de manutenção da Crown Electric, a companhia de eletricidade de Memphis. E em um dia de trabalho comum ele passou pela frente da Sun Records. 

Em busca de receitas, seu dono, Sam Phillips, colocou uma placa em frente à sua pequena gravadora convidando qualquer pessoa a gravar um disquinho para dar de presente. Poderia ser uma declaração de amor entre um casal de namorados, ou tentar a sorte cantando uma música. Claro, Elvis optou pela segunda opção. 

"My Happiness" não passa de uma gravação amadora, mas tem muita emoção envolvida. Isso ninguém pode negar. Elvis, com a voz fina de um adolescente, dedilhou seu violão e cantou com todo o coração. Acabou chamando a atenção da secretária da Sun, mas não de Sam Phillips. Nesse primeiro momento ele realmente não achou que Elvis iria salvar seu pequeno selo da falência. 

Depois ele iria ser chamado para um teste e disso resultou seu primeiro single, "That´s All Right" (Mama). Um lance de sorte, um desses acasos do destino que surprendem. De qualquer forma a discografia de Elvis na Sun Records se limitou a esses cinco singles (no Brasil chamamos esse tipo de exemplar de Compacto Simples). Uma música no Lado A e outra no Lado B. Nada mais. Era gravar e torcer para que alguém se interessasse em comprar! 

Não tinham capas com fotos e nada disso. Era tudo muito simples, vendidos por alguns centavos. Sam ficava contente quando um disquinho desses vendia 50 cópias! Imagine sua surpresa quando os pedidos começaram a se acumular para o primeiro single daquele garoto chamado Elvis! Ele certamente não esperava por nada parecido, embora tivesse até se empenhado para promover o disquinho, indo em emissoras de rádio de Memphis e cidade próximas. 

Abaixo segue uma análise dos cinco primeiros compactos da carreira de Elvis Presley. 

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Book - Coleção EPs 1956

Compactos Duplos Extraídos do álbum Elvis Presley (1956): 

1. Elvis Presley - Volume 1
(Blue Suede Shoes / Tutti Frutti / I Got a Woman / Just Because)

2. Elvis Presley - Volume 2
(Blue Suede Shoes / I Got a Woman / I'm Gonna Sit Right Down and Cry / I'll Never Let You Go / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / Tutti Frutti / Trying to Get You)

O Coronel Tom Parker costumava dizer que toda gravação de Elvis deveria ser vendida mais de uma vez, ou seja, colocadas no mercado muitas vezes para que os verdadeiros fãs comprassem os produtos. No caso desse disco de Elvis parece que os executivos da RCA Victor levaram bem à sério os conselhos do veterano empresário. 

Além dos dois títulos acima mencionados devemos também lembrar que no compacto duplo "Heartbreak hotel" também havia duas músicas desse primeiro álbum de Elvis. Isso apesar da própria música "Heartbreak Hotel" ter ficado fora do repertório do LP, algo que considero até hoje um dos maiores erros da história em relação à discografia de Elvis Presley!

Por fim, em setembro de 1956 a RCA Victor lançou o úlitmo lote dessas primeiras gravações de Elvis na gravadora. Era um EP (compacto duplos) simplesmente chamado Elvis Presley. As canções "I Love You Because" e "Blue Moon" estavam lá, ao lado de faixas mais recentes gravadas por Elvis na gravadora de Nova Iorque. 

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley em 1956

Elvis Presley Biografia 1956
8 de janeiro
- Elvis celebra seu aniversário de 21 anos de idade ao lado de sua mãe Gladys. Ele havia acabado de assinar com a gravadora RCA Victor que tinha grandes planos para o jovem artista. Com o dinheiro do novo contrato Elvis planejava comprar uma nova casa para a família.

10 e 11 de janeiro - Elvis viaja até Nashville para suas primeiras gravações na nova gravadora. Seu produtor passa a ser Steve Sholes. Nessa primeira sessão na RCA Elvis grava as seguintes músicas: I Got a Woman, Heartbreak Hotel, Money Honey, I'm Counting on You e I Was The One.

20 de janeiro - A RCA Victor não perde tempo e lança o primeiro single (compacto simples) de Elvis Presley no mercado. É o primeiro disco do cantor com o selo da nova gravadora. O single vem com as canções Heartbreak Hotel e I Was The One (no lado B) e se torna um grande sucesso de vendas, chegando ao primeiro lugar nas paradas, em especial da Billboard, a mais importante dos Estados Unidos. É o primeiro sucesso nacional de Elvis que assina a composição, embora não a tenha composto de fato. Uma letra estranha, um desabafo de um homem solitário, inspirada em um bilhete de um suicida. Apesar do tema sombrio acabou virando um grande hit. Como parte da promoção da nova canção a RCA escala Elvis para aparecer em programas de TV.

30 e 31 de janeiro - A RCA Victor tem planos de colocar no mercado um álbum (LP) de Elvis Presley, mas não tem músicas suficientes para tanto. Assim Elvis viaja até Nova Iorque para a gravações de novas faixas. Nessa sessão em NYC ele grava as seguintes músicas: Blue Suede Shoes, My Baby Left Me, One-Sided Love Affair, So Glad You're Mine, I'm Gonna Sit Right Down and Cry e Tutti Frutti. Nessa mesma ocasião Elvis participa de programas de TV de grande sucesso de audiência, o que eleva e muito sua popularidade por todo o país.

3 de fevereiro - A RCA quer mais músicas gravadas por Elvis em estúdio. Assim ele participa de mais uma sessão em Nova Iorque onde grava apenas duas músicas: Lawdy Miss Clawdy e Shake Rattle and Roll. Essas duas músicas, ótimas por sinal, deveriam fazer parte do primeiro álbum de Elvis pela RCA que seria lançado no mês seguinte, mas curiosamente foram arquivadas pela gravadora, só chegando no mercado anos depois no disco "For LP Fans Only".

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Discografia de Singles - Anos 1950 - Segue abaixo todos os singles (compactos simples) lançados por Elvis Presley em sua carreira durante os anos 50. Muitos desses discos originais são bem raros nos dias de hoje, valendo pequenas fortunas para colecionadores de material do cantor. Outro aspecto a se levar em conta é que nem todos os singles tiveram capas com fotos de Elvis ou arte mais bem elaborada feita pela gravadora. Os primeiros singles da Sun Records eram bem simples, contando apenas com capa padrão da gravadora e selo amarelo, sem luxos. Só a partir do momento em que Elvis virou um fenômeno de vendas é que a RCA Victor procurou melhorar na apresentação dos singles, contratando artistas para a elaboração de bem feitas capas, algumas delas com design até hoje imitados por outros artistas. Segue abaixo a lista completa, com informações adicionais.

Relação dos compactos lançados de 1954 a 1959 de Elvis Presley de acordo com a discografia dos EUA:

1) That's All Right / Blue Moon of Kentucky (Sun) 1954
2) Good Rockin Tonight / If I Don't Care if the Sun Don't Shine (Sun) 1954
3) Milkcow Blues Boogie / You're a Heartbreaker (Sun) 1955
4) Baby Let's Play House / I'm Left, You're Right, She's Gone (Sun) 1955
5) I Forgot to Remember to Forget / Mystery Train (Sun) 1955
6) Heartbreak Hotel / I Was The One 1956 # **
7) I Want You, I need You, I Love You / My Baby Left Me 1956 #
8) Don't Be Cruel / Hound Dog 1956 #
9) Blue Suede Shoes / Tutti Frutti 1956
10) I Got a Woman / I'm Counting On You 1956
11) I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry 1956
12) I Love You Because / Trying to Get You 1956
13) Just Because / Blue Moon 1956
14) Money Honey / One-Sided Love Affair 1956
15) Shake, Rattle and Roll / Lawdy, Miss Clawdy 1956
16) Love Me tender / Anyway You Want Me 1956 #
17) Too Much / Playing for Keeps 1957 #
18) All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin 1957 #
19) Teddy Bear / Loving You 1957 #
20) Jailhouse Rock / Treat Me Nice 1957 #
21) Don't / I Beg Of You 1958 #
22) Wear My Ring Around Your Neck / Doncha Think It's Time 1958 #
23) Hard Heard Woman / Don't Ask Me Why 1958 #
24) One Night / I Got Stung 1958 #
25) A Fool Such As I / I Need Your Love Tonight 1959 #
26) A big Hunk O'Love / My Wish Came True 1959 #

**A partir deste single todos saíram pela RCA Victor.
# Singles premiados com Disco de Ouro e/ou Platina.

Elvis em 1956
Vamos fazer um balanço de sua carreira nesse ano. A lista serve como guia rápido e prático para o internauta encontrar todas as informações de que precisa de forma mais objetiva. Segue abaixo tudo o que se refere a dados fonográficos de Elvis Presley em termos de discografia norte-americana. Na lista de sessões de gravação temos pela ordem: Data da gravação, músicas gravadas e local de gravação. Nas demais categorias estão listados os álbuns, compactos duplos e compactos simples (singles). Todas as datas se referem aos lançamentos no mercado norte-americano. Todos os produtos foram lançados pela RCA Victor.

É importante esclarecer que na lista de posições nas paradas muita informação se perdeu ao longo dos anos. Não se sabe ao certo, por exemplo, os números reais de vendas dos discos de Elvis Presley no Brasil e nem que posições ocuparam entre os mais vendidos. Até mesmo nos EUA há problemas em catalogar com precisão esse tipo de informação o que torna o número exato de discos vendidos pelo cantor um número meramente estimativo. Apenas alguns anos depois é que houve uma preocupação maior da indústria de registrar as vendas com maior precisão. De qualquer modo segue a lista completa de tudo o que Elvis produziu em termos fonográficos no ano de 1956.


Sessões de Gravação - 1956:
10 de janeiro: "Heartbreak Hotel," "I Got A Woman," "Money Honey" (RCA Studios, Nashville, TN)
11 de janeiro: "I'm Counting On You," "I Was The One" (RCA Studios, Nashville, TN)
30 de janeiro: "Blue Suede Shoes," "My Baby Left Me," "One-Sided Love Affair," "So Glad You're Mine" (RCA Studios, New York, NY)
31 de janeiro : "I'm Gonna Sit Right Down And Cry," "Tutti Frutti" (RCA Studios, New York, NY)
03 de fevereiro: "Lawdy Miss Clawdy," "Shake Rattle and Roll," (RCA Studios, New York, NY)
14 de abril: "I Want You, I Need You, I Love You" (RCA Studios, Nashville, TN)
02 de julho: "Hound Dog," "Don't Be Cruel," "Any Way You Want Me (That's How I Will Be)" (RCA Studios, New York, NY)
24 de agosto: "Love Me Tender," "We're Gonna Move" (Stage 1, 20th Century Fox Studios, Hollywood, CA)
01 de setembro: "Playing For Keeps," "Love Me," "How Do You Think I Feel?," "How's The World Treating You?"(Radio Recorders, Hollywood, CA)
02 de setembro: "When My Blue Moon Turns To Gold Again," "Long Tall Sally," "Old Shep," "Paralyzed," "Too Much," "Anyplace Is Paradise," (Radio Recorders, Hollywood, CA)
03 de setembro: "Ready Teddy," "First In Line," "Rip It Up" (Radio Recorders, Hollywood, CA)
05 de setembro: "Poor Boy," "Let Me" (Stage 1, 20th Century Fox Studios, Hollywood, CA)

Singles (Compactos Simples):
11 de fevereiro: "Heartbreak Hotel" / "I Was The One" (RCA Victor 47-6420)
12 de maio: "My Baby Left Me" / "I Want You, I Need You, I Love You" (RCA Victor 47-6540)
21 de julho: "Hound Dog" / "Don't Be Cruel" (RCA Victor 47-6604)
08 de setembro:
"Blue Suede Shoes" / "Tutti Frutti" (RCA Victor 47-6636)
"I Got A Woman" / "I'm Counting On You" (RCA Victor 47-6637)
"I'll Never Let You Go (Little Darlin')" / "I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You)" (RCA Victor 47-6638)
"Tryin' To Get To You" / "I Love You Because" (RCA Victor 47-6639)
"Blue Moon" / "Just Because" (RCA Victor 47-6640)
"Money Honey" / "One Sided Love Affair" (RCA Victor 47-6641)
"Lawdy Miss Clawdy" / "Shake Rattle And Roll" (RCA Victor 47-6642)
06 de outubro: "Love Me Tender" / "Any Way You Want Me (That's How I Will Be)" (RCA Victor 47-6643)

EPs (Compactos Duplos)
Março:
Elvis Presley (RCA EPA 747): "Blue Suede Shoes" "Tutti Frutti" "I Got A Woman" "Just Because"

Elvis Presley (RCA EPB 1254): "Blue Suede Shoes" "I'm Counting On You" "I Got A Woman" "One Sided Love Affair" "Tutti Frutti" "Tryin' To Get To You" "I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You)" "I'll Never Let You Go (Little Darlin')"

Maio:
Heartbreak Hotel (RCA EPA 821): "Heartbreak Hotel" "I Was The One" "Money Honey" "I Forgot To Remember To Forget"

Setenbro:
Elvis Presley (RCA EPA 830): "Shake Rattle And Roll" "I Love You Because" "Blue Moon" "Lawdy Miss Clawdy"

Outubro:
The Real Elvis (RCA EPA 940): "Don't Be Cruel" "I Want You, I Need You, I Love You" "Hound Dog" "My Baby Left Me"

Any Way You Want Me (RCA EPA 965): "Any Way You Want Me" "I'm Left, You're Right, She's Gone" "I Don't Care If The Sun Don't Shine" "Mystery Train"

Elvis Volume 1 (RCA EPA 992): "Rip It Up" "Love Me" "When My Blue Moon Turn To Gold Again" "Paralyzed"

Novembro:
Love Me Tender (RCA EPA 4006): "Love Me Tender" "Let Me" "Poor Boy" "We're Gonna Move"

Elvis Volume 2 (RCA EPA 993): "So Glad You're Mine" "Old Shep" "Ready Teddy" "Anyplace Is Paradise"

Álbuns:

Março:
Elvis Presley (RCA LPM 1254): "Blue Suede Shoes" "I'm Counting On You" "I Got A Woman" "One Sided Love Affair" "I Love You Because" "Just Because" “Tutti Frutti" "Tryin' To Get To You" "I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You)" "I'll Never Let You Go (Little Darlin')" "Blue Moon" "Money Honey"

Outubro:
Elvis (RCA LPM 1382): "Rip It Up" "Love Me" When My Blue Moon Turns To Gold Again" "Long Tall Sally" "First In Line" "Paralyzed""So Glad You're Mine" "Old Shep" "Ready Teddy""Anyplace Is Paradise""How's The World Treating You?""How Do You Think I Feel?"

Principais Classificações e Prêmios:

Músicas no Hall da Fama do Grammy:
Hound Dog (1988)
Heartbreak Hotel (1995)
Don't Be Cruel (2002)

Músicas Número 1 nas Paradas:
Heartbreak Hotel - Pop, Country Billboard - Cashbox Pop - 1956
I Want You, I Need You, I Love You - Pop(Best Sellers), Country, R&B, Billboard - 1956
Hound Dog - Pop, R&B Sales, Country Billboard - Cashbox Pop - 1956
Don't Be Cruel - Pop, R&B Sales, Country Billboard - Cashbox Pop - 1956
Love Me Tender - Pop Billboard - Cashbox Pop – 1956

Estados Unidos - Discos (LP, CD, EP) Número Um
Elvis Presley - Billboard Pop - Cashbox Pop - 1956
Elvis - Billboard Pop - Cashbox Pop - 1956
Elvis Vol. 1 - EP - Billboard – 1956

Inglaterra - Discos (LP, CD, EP) Número Um
Elvis Presley (Rock'N Roll) - Record Mirror – 1956

Outros Países - Músicas Número Um
Love Me Tender - Canadá(Pre Chum Chart) - 1956
Heartbreak Hotel - Canadá(Pre Chum Chart) - 1956 - Itália - 1957
Hound Dog - Canadá(Pre Chum Chart) - 1956 - Itália – 1957
Tutti Frutti - Itália - 1957

Pablo Aluísio

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos IV

Elvis Presley - O Primeiro Disco no Brasil - Foi em 1956 que pela primeira vez um disco de Elvis Presley foi lançado no Brasil. Era um 78 RPM, com “Heartbreak Hotel / I Was The One” (praticamente idêntico ao Americano). Elvis se tornou conhecido no Brasil porque as reações à sua música e dança nos EUA chamaram a atenção da imprensa brasileira. A RCA Brasil não tardou a colocar seu compacto simples no mercado. Não se sabia ainda ao certo como o público de nosso país iria reagir ao cantor. Aqui predominava os grandes cantores de bolero e samba canção como Orlando Silva e Nelson Gonçalves. A música brasileira era muito forte e era complicado trazer um cantor americano de rock para as paradas.

As pessoas de maneira em geral desconheciam o novo ritmo que já dominava nos EUA. As vendas de Heartbreak Hotel em nosso país não foram excepcionais mas foram boas e a RCA resolveu lançar mais compactos. No total foram seis em 1956. “Hound Dog / Don´t Be Cruel” não poderia faltar em vista do enorme sucesso do single americano. Já o compacto com “Love Me Tender” veio com os lados trocados, “Love Me Tender” surgiu em nosso mercado como Lado B de “Anyway You Want Me” numa clara demonstração que os responsáveis pelos lançamentos de Elvis no Brasil desconheciam completamente o artista em questão. Só numa segunda prensagem corrigiram o erro. Como a RCA americana havia lançado vários singles com músicas do primeiro álbum de Elvis a filial brasileira seguiu seus passos colocando no mercado “Blue Moon / Just Because”, “Tutti Frutti / I Got a Woman” e “Blue Suede Shoes / Trying To Get To You”. Não é de se estranhar que Tutti Frutti tenha se tornado tão popular por aqui. Idem “Blue Suede Shoes”.

Foi em 1956 também que chegou em nossas lojas o primeiro álbum de Elvis no Brasil. Intitulado simplesmente “Elvis Presley” esse disco acabou se tornando conhecido por seu número de catálogo (BKL 60). É um disco muito confuso com seleção musical caótica misturando faixas da Sun Records com canções do primeiro álbum americano de Elvis e músicas mais recentes como “Don´t Be Cruel”. Para piorar colocaram como capa a mesma que havia sido utilizada em um compacto duplo americano. O Brasil era muito atrasado em termos de informações e marketing naquela época e tudo foi feito meio que ao acaso, sem muito conhecimento de causa ao estilo “vamos ver se dá certo”. A verdade pura e simples é que os empregados da RCA no Brasil não sabiam direito quem era Elvis ou o que ele representava. Com o direito de lançar seus discos no Brasil eles apenas pincelaram faixas ao acaso e compilaram o álbum sem muito critério ou organização.

As coisas só melhorariam depois no segundo álbum quando sabiamente resolveram seguir o LP oficial norte-americano. Além da desorganização o fã brasileiro de Elvis da década de 50 ainda teve que aturar atrasos absurdos nos lançamentos. “Elvis” o segundo álbum, por exemplo, só chegou em nossas lojas um ano depois, em 1957. As novidades vindas dos EUA chegavam aqui com muito atraso, de meses de diferença. Curiosamente nas cidades portuárias onde havia maior fluxo de americanos os discos importados chegavam aqui bem antes. No Rio de Janeiro muitos jovens adquiriam seus discos de Elvis diretamente de marinheiros e comerciantes americanos. 

Em Salvador o consulado americano também era uma opção para se ter acesso a material importado, de boa qualidade e inédito no Brasil. Foi assim que um jovem chamado Raul Seixas tomou conhecimento da música de Elvis Presley muito antes dos brasileiros em geral. Discos originais americanos eram raridades em nosso país, além de serem caríssimos. Mesmo assim para os admiradores valia certamente o sacrifício. Voltaremos a falar na discografia brasileira de Elvis Presley nas próximas semanas. Esse foi apenas o começo. Muita água iria rolar ainda por baixo dessa ponte.

Elvis Presley - Elvis no Brasil - A data em que Elvis Presley morreu está chegando e é curioso que geralmente nesses momentos as pessoas param um pouco para relembrar os grandes nomes do passado. Assim também ocorre com Elvis. Morto em 1977 o nome do cantor ainda hoje se faz presente pois dificilmente se encontrará alguém que não saiba quem foi ele. Até mesmo no Brasil seu nome segue como referencial, principalmente quando algum outro ídolo da música morre no auge da popularidade (como aconteceu com Michael Jackson e Amy Winehouse). Para não cair no clichê resolvi escrever um texto mais abrangente sobre a influência e a extensão da popularidade que o nome de Elvis alcançou em nosso país.

É fato que a cultura brasileira, principalmente a musical, sempre foi muito forte e presente na vida de todos. Via de regra o brasileiro realmente aprecia mais sua própria musicalidade, os seus próprios ídolos nacionais. Não é muito comum para o nosso povo eleger ídolos internacionais como seus preferidos. Se é assim hoje em dia imagine há mais de 50 anos quando provavelmente o nome de Elvis Presley foi pela primeira vez ouvido por algum brasileiro. Tente imaginar o Brasil em plena década de 1950. A moralidade, os costumes, tudo era muito diferente do que vemos hoje em dia. As mulheres eram de certa forma reprimidas em sua vida social, profissional e principalmente afetiva. Namorar apenas no portão de casa, passear só levando o irmãozinho (ou a irmãzinha) mais novos juntos. Sexo antes do casamento, nem pensar. Moças de família que tivessem vida sexual pré matrimônio logo caiam na boca do povo, ficavam "mal faladas". A revolução sexual ainda não havia acontecido, a pílula anticoncepcional ainda era peça de filme de ficção e o medo da gravidez precoce era muito presente. Pode ter certeza que tornar o nome de Elvis Presley tão popular assim dentro desse contexto histórico não foi nada fácil.

Elvis chegou no Brasil no comecinho de 1956. As lojas receberam um compacto simples com duas músicas do jovem cantor americano. Não havia capa - era apenas o acetato em uma embalagem simples da RCA Victor. O single era pesado, de 78 RPM e vinha sem muito promoção. No lado A "Heartbrek Hotel" e no B "I Was The One". Curiosamente a filial brasileira só decidiu lançar o disquinho após Elvis ser comentado na revista O Cruzeiro. Lá ele era apresentado aos brasileiros da época como um cantor revolucionário, cabelo grande e pasmem "Rebolativo"! Imaginem o rebuliço que isso causou! Embora Elvis ainda fosse uma novidade seu alter ego, James Dean, já era bem conhecido por aqui. A moçada já estava adotando seu visual "transviado", então quando Presley estourou em polêmica logo foi adotado pela geração "topete e brilhantina". E Elvis era bem isso mesmo, um "James Dean de guitarras" ou um "Marlon Brando que sabia cantar"!

Com toda essa onda em torno de seu nome o disquinho acabou vendendo bem. "Heartbreak Hotel" virou modinha nas rodinhas cults da juventude carioca. Ouvir Elvis, aquele rebelde americano, era sinal de que o jovem estava por dentro do que acontecia nos meios musicais. Com a popularidade logo Elvis também virou ídolo das garotas. Não era para menos. Bem apessoado, sensual e com imagem "perigosa" (para os padrões morais daqueles anos) Elvis logo virou poster nos quartos das beldades. Aliás é interessante notar que a popularidade de Elvis estourou primeiro no Brasil no Rio de Janeiro. Elvis, o roqueiro, logo virou ídolo da moçada carioca. Em São Paulo também houve interesse no cantor na época de seu surgimento, mas não no nível do que aconteceu no Rio. Lá ele fez muito sucesso e foi adotado pelos jovens cariocas de braços abertos.

De fato fora do Rio a explosão da popularidade de Elvis se deu por causa do cinema. Embora Elvis tenha se tornado popular nos EUA graças às suas aparições na TV, tais apresentações não chegaram ao Brasil. Foi o cinema e sua máquina publicitária que colocou o nome Elvis Presley na boca do povo brasileiro. Primeiro com o western B, "Love Me Tender" e depois com seus três filmes posteriores da década de 1950 que logo o transformaram em ícone popular. Os compactos foram sendo lançados um atrás do outro, as capas tentavam de maneira geral seguir a direção de arte dos lançamentos americanos, tornando Elvis um produto comercial quente no Brasil. A exceção ocorreu porém no primeiro álbum lançado por aqui. O disco chamado simplesmente "Elvis Presley" nada tinha a ver com o primeiro LP de Elvis nos EUA. Ao invés de copiarem a famosa capa com letras em rosa e vermelho do disco original preferiram colocar como capa uma imagem que havia sido em um EP nos EUA. Embora confusa a coisa deu certo e o hoje conhecido BKL 60 vendeu um bocado bem. Felizmente no segundo disco do cantor, chamado simplesmente "Elvis" a RCA brazuca resolveu seguir os passos da discografia americana.

Hoje em dia há uma certa visão entre especialistas e fãs de que os filmes de Elvis representaram um erro em sua carreira. Em termos artísticos pode até ter sido um erro mas do ponto de vista de popularização do nome de Elvis não há o que discutir. Se olharmos para a realidade brasileira teremos então uma perspectiva bem mais ampla desse aspecto. O cinema foi extremamente importante na carreira de Elvis aqui no Brasil. Embora os filmes nem sempre tenham sido bons o fato é que estrelando um filme atrás do outro nos anos 60 o cantor conseguiu se manter na ordem do dia e se tornar popular até mesmo em pequenas cidades do interior brasileiro, onde se não fosse por seus filmes ele não teria sido tão conhecido.

Depois do impacto inicial e da popularização pelo cinema o nome de Elvis Presley se firmou em nosso país. Fãs clubes foram formados e o artista ganhou grupos de fãs fiéis, que sempre acompanharam seu trabalho ao longo dos anos. A regularidade acabou se refletindo em sua discografia nacional. Embora nem todos os discos de Elvis tenham sido lançados oficialmente no Brasil, muitos deles chegaram por aqui assim que eram lançados no mercado americano. Nos anos 70 a filial da RCA em nosso país manteve vários discos de Elvis em catálogo por anos a fio. Com sua morte o interesse ficou ainda maior e a gravadora relançou quase todos os seus discos em 1982, fato único no Brasil. Hoje, 34 anos após sua morte a música de Presley chega aos mais distantes rincões pela maravilhosa ferramenta chamada Internet. Sem necessidade de ter um meio físico para existir a obra do cantor não mais encontrou barreiras para se difundir. Jovens ainda nos dias atuais se encantam com o incrível talento de Elvis e assim logo se tornam fãs. É um ciclo natural que não terá mais fim. Sobreviverá a minha pessoa, a você que lê esse texto e a de muitas gerações que já se foram ou que ainda virão. A arte tem essa grandeza. Ela não encontra barreiras ou fronteiras, se espalha por todos os lugares. Assim será eternamente com Elvis Presley, esse grande talento musical que nos deixou há décadas, mas que fincou raízes na cultura humana com a beleza de sua arte, de sua música.

Elvis Presley - 2 Original Albuns - A Sony fez o lançamento dos dois primeiros álbuns de Elvis Presley em um mesmo box. foi na verdade um teste de mercado da empresa pois se as vendas fossem boas a gravadora pretendia seguir em frente nesse formato, colocando dois álbuns originais para serem vendidos juntos. Como era de se esperar nesse primeiro pacote que chegou nas lojas tivemos Elvis Presley (1956) e Elvis (1956), dois clássicos absolutos da era de ouro da primeira geração do rock americano. Além das faixas que fizeram parte dos discos originais em vinil, a Sony achou por bem "rechear" o CD duplo com canções que foram gravadas na mesma época, embora não fizessem parte dos álbuns que chegaram originalmente nas lojas nos anos 50. 

Assim faixas como "I Don't Care If The Sun Don't Shine" e "That's All Right" foram adicionados na seleção do primeiro disco e "Don't Be Cruel" e "Love Me Tender" na do segundo. Pessoalmente não gostei desse tipo de mistura, porém o objetivo desse tipo de lançamento fica bem óbvio. A Sony visa com esse tipo de lançamento não o fã mais veterano de Elvis, mas sim os mais jovens, que estão descobrindo sua música agora. É uma tentativa de renovar as gerações dos ouvintes da obra do cantor. Sob esse aspecto até que a intenção está valendo. Já para o que vem acompanhando Elvis há anos não há maior interesse nesse lançamento já que a seleção de músicas só trouxe as gravações master, oficiais, que todos conhecemos.

Elvis Presley - 2 Original Albuns (2017):

Elvis Presley (1956):
Blue Suede Shoes - I'm Counting On You - I Got A Woman - One-Sided Love Affair - I Love You Because - Just Because - Tutti Frutti - Trying To Get To You - I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You) - I'll Never Let You Go (Little Darlin') - Blue Moon - Money Honey - That's All Right - I'm Counting On You - I Got A Woman - Heartbreak Hotel - I Love You Because - Shake, Rattle And Roll - Lawdy, Miss Clawdy - When It Rains, It Really Pours - I Don't Care If The Sun Don't Shine - My Baby Left Me - Blue Moon - Good Rockin' Tonight

Elvis (1956):
Rip It Up - Love Me - When My Blue Moon Turns To Gold Again - Long Tall Sally - First In Line - Paralyzed - So Glad You're Mine - Old Shep - Ready Teddy - Anyplace Is Paradise - How's The World Treating You - How Do You Think I Feel - Rip It Up - Love Me Tender - Don't Be Cruel - Hound Dog - I Was The One - Too Much - I Want You, I Need You, I Love You - Old Shep - Mystery Train - Any Way You Want Me (That's How I Will Be) - Playing For Keeps - I Forgot To Remember To Forget

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos III

Elvis Presley - Blue Suede Shoes / Tutti Frutti
Claro que esse single traz dois dos maiores clássicos do rock em seu surgimento. Só que temos que colocar tudo sob uma perspectiva dentro da discografia americana. Nos Estados Unidos esse compacto não teve todo o impacto que alcançou nos demais países do mundo. Na América do Norte ele foi visto apenas como um single promocional do álbum "Elvis Presley" de 1956. As duas músicas assim foram encaradas como meras reprises do material que já tinha sido lançado no disco original, no LP. 

A RCA Victor nem se esforçou muito em promover o pequeno compacto. Por essa razão o compacto nem se destacou tanto assim nas paradas de vendas norte-americanas. Foi um vinil considerado secundário no mercado, apenas para promover o disco completo. Já no resto do mundo foi aquele estouro de vendas. Duas das canções de rock mais fortes do repertório de Elvis fizeram com que o single vendesse milhões de cópias na Europa e no Japão! Até mesmo no Brasil o disquinho foi lançado ainda em uma versão de compacto 78 rotações, porque a indústria brasileira ainda estava um pouco fora de rota do que se fazia lá fora, ainda era tecnologicamente atrasada. Inclusive em nosso país o grande hit foi o lado B com "Tutti Frutti". Chegou a tocar muito nas rádios fluminenses e de São Paulo. Era o puro rock que os brasileiros começavam a conhecer. Os jovens adoraram e os mais velhos acharam uma barulheira! 

De qualquer forma esse single é sem dúvida um marco na discografia de Elvis. A RCA por sua vez lançou basicamente duas versões, uma apenas com uma capa genérica da RCA, branca, cortada no meio para destacar o selo do single, sem firulas e com preço promocional e outra mais bem trabalhada, trazendo a mesma direção de arte da capa do primeiro LP de Elvis na gravaora. Essa era um pouco mais cara nas lojas de discos. Item de colecionador, sem sombra de dúvidas. 

Elvis Presley - Blue Suede Shoes / Tutti Frutti (1956)
Lado A: Blue Suede Shoes
Lado B: Tutti Frutti
Produção: Steve Sholes
Selo: RCA Victor

Elvis Presley - I Got a Woman / I'm Counting On You
Mais um single extraído do álbum "Elvis Presley" de 1956. A RCA Victor não estava deixando barato, tentando fazer com que as músicas desse disco rendessem o máximo possível. Queriam recuperar o dinheiro investido na contratação de Elvis na Sun Records da maneira mais rápida possível. Não era para tanto, gato apressado come peixe cru. Elvis iria se tornar o artista mais lucrativo da história da gravadora nos anos seguintes. Era apenas uma questão de esperar e trabalhar bem seu potencial dentro do estúdio. Pois bem, esse single trazia como Lado A o clássico de Ray Charles, "I Got a Woman", uma música com ritmo gospel e letra das mais profanas. Uma curtição dele com os fundamentalistas religiosos. Elvis ignorou isso e a gravou, apenas porque gostava muito da canção. 

E há um aspecto nisso que não podemos ignorar. Ray Charles não gostava de Elvis. Chegou ao ponto de ofender ele em uma entrevista, dizendo sem meias palavras que Elvis era um vagabundo e que não queria ter nenhum contato com ele. Aquela velha coisa de ladrão da música negra, algo que iria atravessar Elvis e seu valor como artista por anos a fio. Ele sempre seria acusado disso. O velho estava com a alma envenenada em direção a Elvis. Fico até surpreso com o fato de Ray Charles ter dado autorização para que Elvis gravasse sua criação, afinal ele não tinha nenhuma simpatia com o jovem cantor de Memphis. Elvis, por sua vez, nunca respondeu as ofensas, preferindo o silêncio. Aliás nem mesmo se sabe se ele chegou a tomar conhecimento disso. Ao contrário, iria gravar outras músicas de Ray Charles nos anos seguintes e tornaria "I Got a Woman" uma música fixa em seu repertório de shows durante os anos 70. Eram águas passadas. 

Elvis Presley - I Got a Woman / I'm Counting On You (1956)
Lado A: I Got a Woman
Lado B: I'm Counting On You 
Produção: Steve Sholes
Selo: RCA Victor

Elvis Presley - I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry 
Não vá perder a conta. Aqui temos mais um single extraído do primeiro disco de Elvis na RCA Victor. Foi o disco com mais singles de toda a discografia do cantor. Olhando para o passado parecia até mesmo um certo desespero da gravadora. Ele havia sido comprado pela RCA do selo Sun Records de Memphis e parecia que os executivos de Nova Iorque não tinham muita fé que Elvis iria retornar o dinheiro pago por eles. Claro que estavam enganados e o tempo iria provar isso, mas em 1956 parece que a RCA estava um tanto quanto desesperada nesse sentido, de gerar lucro o mais rápido possível. 

Pois bem, temos aqui duas faixas que não tinham muito potencial de sucesso nas paradas. Era um single com dois "Lados B" se podemos dizer assim. Além de errarem na escolha das músicas para o compacto a RCA Victor ainda errou na escolha dos lados. "I'm Gonna Sit Right Down and Cry" deveria ter sido lançada no Lado A pois era esse que era mais divulgado pelos DJs das rádios. A baladinha "I'll Never Let You Go" era bem fraquinha nesse sentido e já estava até mesmo fora de sua época quando o compacto chegou nas lojas. De qualquer maneira uma cópia do single chegou nas mãos de um jovem adolescente de Liverpool chamado John Lennon. Quando sua bandinha de escola se profissionalizou e passou a se chamar The Beatles ele fez questão de gravar ao lado de seus companheiros uma excelente versão de "I'm Gonna Sit Right Down and Cry"  na BBC. A gravação ficou primorosa. Se ainda não conhece, não deixe de ouvir. 

Elvis Presley - I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry (1956)
Lado A: I'll Never Let You Go
Lado B: I'm Gonna Sit Right Down and Cry
Selo: RCA Victor
Produção: Steve Sholes

Elvis Presley - I Love You Because / Trying to Get You 
Esse foi mais um single do Elvis que a RCA lançou em 1956, trazendo em seu repertório duas reprises que já tinham sido lançadas no primeiro álbum do cantor na gravadora. Curiosamente a RCA escolheu duas faixas dos tempos da Sun Records para compor esse compacto. Quando a RCA comprou o passe de Elvis pela Sun Records o contrato determinava que toda gravação que Elvis havia feito para a Sun seria agora de propriedade comercial exclusiva da RCA Victor. E isso incluía músicas que tinham sido gravadas e lançadas no mercado e também canções que apenas tinham sido gravadas, mas que não tinham chegado nas mãos dos fãs de Elvis. Foi o caso dessas duas canções. 

Olhando para o passado vejo também erros. O Lado A do single deveria ter vindo com a música "Trying to Get You" que tinha muito mais potencial de fazer sucesso nas paradas, principalmente na parada de country music da Billboard. Só que a RCA errou e colocou a baladinha "I Love You Because" como faixa principal do single. Eu pessoalmente acho essa gravação bem singela, quase beirando o amadorismo, com um ainda muito jovem Elvis, com sua voz fininha e tímida, tentando acertar o tom certo da música que canta. Ele passa insegurança nessa performance, não tem jeito!

Elvis apreciava muito mais "Trying to Get You", tanto que a levou com muita consistência para seus shows nos anos 70. Praticamente podemos dizer que Elvis a cantou de forma sistemática até o final de seus dias, pois esse country fez parte inclusive de seu repertório de seus shows finais. Não podemos nos esquecer que Elvis queria agradar ao público que ia em seus shows e esse era formado, naquela época, basicamente por moradores de cidades interioranas do sul dos Estados Unidos, que obviamente amavam country. 

Só que esqueça aquelas versões grandiosas dos palcos dos anos 70. Essa aqui do single é a gravação original. É um bom registro, mas em termos de poderio vocal não tem como escapar de uma realidade. A voz poderosa de Elvis nos anos 70 trouxe muito mais força para essa música. Nos tempos da Sun Records Elvis ainda não tinha toda essa maturidade como cantor. 

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos II

Elvis Presley (1956) - Discografia Americana
Discografia Americana: Elvis Presley (1956)
A discografia oficial da carreira de Elvis é a americana. Cada país ao redor do mundo trouxe inovações no que diz respeito aos discos de Elvis Presley. Porém a principal foi a lançada pela RCA Victor nos Estados Unidos a partir de 1956. A indústria fonográfica estava no auge naquele ano. Com isso a gravadora do cantor não apenas lançavas os álbuns (LPs), mas também uma série de singles, compactos duplos e versões estendidas do disco, lançamentos conhecidos como EPs (Extended Play). Abaixo segue a relação mais completa desses itens que foram extraídos do primeiro álbum de Elvis pela RCA. .Perceba como as mesmas gravações poderiam chegar de diferentes formas nas mãos do colecionadores.

ELVIS PRESLEY (1956)
BLUE SUEDE SHOES
I'M COUNTING ON YOU
I GOT A WOMAN
ONE-SIDED LOVE AFFAIR
I LOVE YOU BECAUSE
JUST BECAUSE
TUTTI FRUTTI
TRYIN' TO GET TO YOU
I'M GONNA SIT RIGHT DOWN AND CRY (OVER YOU)
I'LL NEVER LET YOU GO (LITTLE DARLIN')
BLUE MOON
MONEY HONEY

Singles extraídos deste disco:
Blue Suede Shoes / Tutti Frutti
I Got a Woman / I'm Counting On You
I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry
I Love You Because / Trying to Get You
Just Because / Blue Moon
Money Honey / One-Sided Love Affair

Obs: Esses singles foram lançados periodicamente após o lançamento do álbum principal. Todos foram lançados em 1956. Não havia faixas inéditas entre eles, apenas as músicas do LP. Por isso não obtiveram, em regra, boas posições de vendas na parada Billboard.









Compactos Duplos extraídos deste disco:
Elvis Presley (Blue Suede Shoes / Tutti Frutti / I Got a Woman / Just Because)
Elvis Presley (Blue Suede Shoes / I Got a Woman / I'm Gonna Sit Right Down and Cry / I'll Never Let You Go / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / Tutti Frutti / Trying to Get You )

Ficha Técnica: Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Elvis Presley (1956) - FTD Elvis Presley Embora grande parte dos fãs de Elvis saibam o que significa FTD por uma questão didática vou aqui explicar em poucas linhas do que se trata. FTD é a sigla de "Follow That Dream" que é um novo selo que vem colocando no mercado muito material inédito de Elvis. Basicamente são três os tipos de CDs que são lançados todos os anos pela FTD. Shows ao vivo (muitos inéditos ou com sensível melhora sonora, focado principalmente nos muitos concertos que Elvis realizou na década de 70), Álbuns Clássicos (como esse que aqui comentarei onde são recuperados os discos tais como foram lançados na discografia oficial de Elvis acrescidos de muitos takes inéditos) e finalmente coletâneas (geralmente misturando takes inéditos de discos diversos de Elvis). A coleção FTD enfim é o que de melhor há em termos de novidade com o nome Elvis Presley no mercado.

Esse FTD Elvis Presley é o título do selo que revisita o primeiro álbum oficial da carreira de Elvis na discografia americana. Eu já sabia de antemão que seria muito complicado compilar material suficiente para o lançamento desse CD. O fato é que o primeiro álbum de Elvis na RCA Victor era composto de canções da Sun e da RCA, principalmente pelo material gravado pelo cantor em Nova Iorque e Nashville. Infelizmente grande parte dessas sessões estão perdidas. Não houve por parte dos produtores, nem de Sam Phillips e nem de Steve Sholes, um cuidado maior em arquivar os takes alternativos dessas gravações de forma adequada. A consequência desse descuido é que há realmente uma grande lacuna de registros desses trabalhos de Presley em estúdio. Não há como afirmar com certeza que não existam mais ou se foram simplesmente jogados fora depois de tantos anos. O que se sabe com certeza é que por enquanto estão desaparecidos. Deveria se esperar um pouco mais, pode ser que tais registros estejam nas mãos de algum colecionador americano ou europeu só esperando a hora adequada de lançar no mercado.

Para tentar compensar essa falta de material relevante o produtor Ernst Jorgensen cometeu vários erros aqui. O primeiro foi lançar um CD duplo onde não havia quantidade de músicas suficientes para isso. O CD 2 do título inclusive é de uma inutilidade absurda. Contendo takes de apenas 3 canções, que inclusive não fizeram parte do primeiro álbum de Elvis, o segundo disco soa fora do lugar adequado dentro da coleção! Qual é o propósito de algo assim? Provavelmente só encarecer o produto pois esses registros de "Shake Rattle and Roll", "I Want You, I Need You, I Love You" e "Lawdy Miss Clandy" são desnecessários e inoportunos. Um desperdício. O que salva o título realmente é o CD 1 com o álbum completo (com sensível melhora em sua qualidade sonora) e os takes alternativos de "Heartbreak Hotel", "Money Honey" e "I Was The One". No segundo CD só se destaca mesmo uma rara entrevista de Elvis dada ao jornalista Don Davis. Vale pela curiosidade histórica. Fora isso nada mais de muito importante. É pouco? Certamente sim. Incompleto? Com certeza! De qualquer forma é o que se pode arranjar em face do perdido material que deveria fazer parte do disco. Quem sabe se no futuro os demais takes não sejam descobertos em algum depósito da RCA pelo mundo afora. Enquanto esse dia não chega temos que nos contentar com esse FTD Elvis Presley, mesmo que incompleto.

FTD Elvis Presley (1956)
Original release and outtakes: Blue Suede Shoes / Im Counting On You / ot A Woman / One Sided Love Affair / I Love You Because / Just Because / Tutti Frutti / Trying To Get To You / I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You) / I'll Never Let You Go (Little Darlin') / Blue Moon / Money Honey / Bonus singles: Heartbreak Hotel / I Was The One / Lawdy Miss Clawdy / Shake Rattle And Roll / My Baby Left Me / I Want You, I Need You, I Love You / First RCA Sessions: I Got A Woman (N/A - incomplete) / I Got A Woman (N/A) / Heartbreak Hotel (4 - incomplete) / Heartbreak Hotel (5) / Heartbreak Hotel (6) / Money Honey (fragments*) / Money Honey (10 - incomplete) / I'm Counting On You (1 - incomplete*) / I'm Counting On You (N/A - incomplete) / I'm Counting On You (13) / I'm Counting On You (14 - incomplete*) / I Was The One (1) / I Was The One (2 - fs) / I Was The One (2) / I Was The One (3-fs*) / I Was The One (3 - incomplete*) / I Was The One (7A - not master) / I Was The One (N/A - incomplete*) CD-2: Dry reverb and outtakes The Dry Reverb Tape: I'm Counting On You (1) I'm Counting On You (2 - incomplete*) Session Outtakes: Lawdy Miss Clawdy / Shake, Rattle And Roll / I Want You, I Need You, I Love You / Don Davis Interviews Elvis Presley

Elvis Presley (1956) - Review
Esse foi o primeiro álbum do Elvis. Era um garotão contratado pela RCA Victor. Iria dar certo? Bem, era uma aposta da gravadora naquele momento. Claro que eu reconheço o grande valor histórico desse disco, mas curiosamente não é o meu preferido do cantor nos anos 50. Esse posto vai para o segundo LP dele, lançado nesse mesmo ano. Eu considero o segundo melhor do que esse primeiro. Não o comprei em vinil nos anos 80, como tantos outros discos do Elvis. Só vim adquiri-lo mesmo já no formato CD quando foi lançado aqui em versão nacional (bons tempos quando isso acontecia nos anos 90).

E quais são os destaques desse álbum? As minhas faixas preferidas fogem um pouco do óbvio. "Blue Suede Shoes" e "Tutti Frutti" foram os grande hits, mas vamos deixar elas um pouco de lado. Eu gosto muito de "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)" e "One-Sided Love Affair" em que Elvis explorou todos os seus dotes musicais. "I Got A Woman" é um clássico e "Money Honey" é uma grande faixa de rock. Porém a grande música foi herdada dos tempos da Sun Records. Se trata de "Blue Moon", uma gravação atemporal, ainda hoje muito relevante, mesmo em filmes e coletâneas mais modernas. Enfim é isso. O jovem Elvis ainda era um pouco cru, mas o talento estava lá, a ser lapidado. E logo ele deixaria de ser apenas um nome potencial para ser um grande nome da história da música internacional.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956)
Blue Suede Shoes
I'm Counting on You
I Got A Woman
One-Sided Love Affair
I Love You Because
Just Because
Tutti Frutti
Trying to Get to You
I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)
I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')
Blue Moon
Money Honey

Elvis Presley (1956) - O Primeiro Álbum
Hoje andei ouvindo novamente o primeiro álbum de Elvis Presley. Fazia tempo que tinha parado para ouvir com maior atenção. É curioso. Remoendo minhas velhas lembranças me recordo que comprei o segundo disco antes desse, o que me levou a ter uma impressão de que o primeiro álbum de Elvis era bem menos rico musicalmente do que o segundo. De certa maneira isso é uma verdade já que as sessões que deram origem a "Elvis" (1956) contaram com mais recursos, mais músicos, mais instrumentos, enfim, mais capricho. Além disso não podemos esquecer que o First Album contava com várias canções dos tempos da Sun Records e essa gravadora, como bem sabemos, era uma pequena empresa, quase fundo de quintal. Recursos tecnológicos e produção requintada realmente não eram bem com eles (pobre Sam Phillips!).

Pois bem. O disco abre com "Blue Suede Shoes" que é definitivamente um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. É interessante que li muitas e muitas vezes certos jornalistas dizendo que Carl Perkins, autor da música, era o predestinado para seguir o sucesso de Elvis. Um acidente o tirou de cena e abriu caminho para que Elvis se tornasse quem foi! Será mesmo? Olhando para trás, hoje mais maduro, não posso deixar de pensar que esse pensamento é de uma bobagem sem tamanho. Quem em sã consciência realmente criou tamanha abobrinha que perdurou por anos e anos a fio em revistas e livros? Santa bobagem, Batman. Mas enfim.... são clichês do jornalismo. Confesso aqui publicamente que nunca gostei muito de "I'm Counting on You" do Don Robertson. Ele era genial em músicas românticas, mas aqui Elvis não chegou a uma gravação irrepreensível. Ficou algo pelo meio do caminho. Talvez sua simplicidade seja um pouco demais da conta.

"I Got A Woman" é aquela música profana que Ray Charles criou em cima de uma linha de melodia gospel. Ele sabia o que fazia. Bem no meio do sul racista e evangélico ele ousou criar algo tão fora dos padrões como essa música. Se já era herege no piano de Charles imaginem o choque que causou na voz de Elvis Presley com toda aquele gingado considerado indecente pelos puritanos. Era certamente uma coisa do capeta encarnado. Depois dela vem "One-Sided Love Affair" do Bill Campbell. Certamente é o primeiro belo arranjo do álbum, uma harmonia maravilhosa entre o vocal inconfundível de Elvis, piano, bateria e demais instrumentos. Estão numa sincronia ímpar. Provavelmente seja a melhor gravação em termos técnicos de todo o álbum, só perdendo talvez nesse quesito para "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)", sim, aquela música que os Beatles tentaram copiar sem sucesso em seu programa de rádio na BBC. Se nem os Beatles conseguiram recriar essa sonoridade imaginem o nível que a música como um todo apresenta. Obra prima.

Já a dobradinha "I Love You Because" e "Just Because" nunca fez muito minha cabeça. A primeira é muito, digamos, melancólica (de um jeito ruim de ser). Falta também um melhor equilíbrio entre vocal e instrumentos de apoio. Elvis está muito à frente o que sempre me intrigou pois ele ao longo da carreira sempre fez questão que sua voz fosse encoberta pelo seu grupo musical (opinião aliás com a qual o Coronel Parker não concordava). A segunda é um skiffle. Até aí nada demais. O problema é que os ingleses acabaram com o tempo se tornando os mestres desse ritmo. Como Elvis não era inglês... Deixemos isso de lado. "Tutti Frutti" talvez seja uma das músicas de Elvis mais conhecidas no Brasil, mas nos Estados Unidos e no resto do mundo ela é mais associada a Little Richard que a compôs e a gravou originalmente. Certa vez Elvis se referiu ao rock como "chiclete". Provavelmente estava lembrando dessa gravação. Maledicências à parte, não há como negar, a gravação de Pelvis é um dos pontos altos do álbum. Só ele tinha essa capacidade de mastigar e engolir a letra de uma música como ouvimos aqui. A cultura adolescente surgiu assim, em gravações como essa, não se engane.

Por fim, não podemos deixar de mencionar a clássica "Blue Moon". Poucos sabem, mas esse take quase foi jogado na lata de lixo da Sun Records porque afinal de contas Elvis esqueceu a letra bem no meio da sessão. Sam Phillips porém viu mais a frente. Ele percebeu que havia uma grande linha melódica ali - e Steve Sholes, produtor de Elvis na RCA Victor também percebeu a mesma coisa. Resultado? Ela foi encaixada no disco. Tinha tudo para ser um take alternativo descartado, acabou virando um clássico absoluto! Nada mal. Então é isso. Nada como ouvir de novo um disco que mudou a história da música para sempre. Ainda acho que o álbum seja esquelético em suas propostas sonoras?! Tudo depende do ponto de vista usado, meu caro, realmente tudo depende...

Pablo Aluísio.