domingo, 8 de julho de 2007

Filmes de Marilyn Monroe - Parte 5

Almas Desesperadas
Esse foi um filme feito pela atriz Marilyn Monroe antes dela se tornar uma das maiores estrelas da história de Hollywood. Na época Marilyn era apenas uma garota bonita com um certo potencial. Uma starlet. E o mais interessante de tudo é que ela se saiu muito bem como atriz, sem apelar tanto para seu Sex Appeal. Claro, sua beleza e sensualidade natural sempre iriam chamar a atenção, mas esse não foi o foco do filme em si. A trama é engenhosa. Um casal deixa sua pequena filha aos cuidados da sobrinha do ascensorista do hotel onde estão hospedados. O problema é que a nova babá, chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe), sofre de graves problemas psicológicos e mentais. A aproximação de um outro hóspede, Jed Towers (Richard Widmark), na vida de Nell só piora ainda mais a situação. Com isso a situação que já era delicada, se torna explosiva e altamente perigosa.

"Almas Desesperadas" foi o primeiro filme em que Marilyn Monroe realmente se destacou, surgindo com um papel importante. Até aquele momento ela se resumia a fazer papéis pequenos, sem grande importância. A maioria deles apenas aproveitando de sua beleza. Tudo muda aqui. Marilyn Monroe está em praticamente todas as cenas de um roteiro que se passa quase em tempo real, todo em uma só noite, dentro de um quarto de hotel. Muitos biógrafos e críticos afirmam que o papel da babysitter mentalmente perturbada era muito forte para uma Marilyn Monroe ainda tão jovem e inexperiente. De fato, não deve ter sido nada fácil interpretar um personagem assim com apenas 26 anos de idade, mas sinceramente discordo dos que criticam a atuação da atriz nesse filme. Achei sua atuação muito digna e correta. Marilyn, em nenhum momento, cai no exagero ou na caricatura. Para uma jovem estrela, sem muita experiência dramática, devo dizer que ela se saiu extremamente bem. O filme só funcionaria se Marilyn atuasse de forma satisfatória - e ela fez isso, com muita garra e sensibilidade, tenham certeza.

E como poderíamos definir esse filme? "Almas Desesperadas" é, em essência, um drama com toques de suspense e tensão. Quase cinema noir. A estrutura narrativa inclusive lembra uma peça de teatro. Os personagens estão concentrados em um ambiente fechado, dentro de uma situação limite. Poderia ter ficado pesado e chato, mas não, o filme se desenvolve muito bem em seus curtos 76 minutos. Richard Widmark segue a trilha da boa atuação de Marilyn Monroe e desfila elegância e charme durante as cenas. Aliás seu figurino chama bem a atenção pois revela a moda masculina na primeira metade dos anos 1950 com ternos enormes, folgadões, que alguns anos depois viriam a virar moda novamente. E ele era certamente o ator ideal para atuar nesse tipo de papel. Geralmente interpretava personagens que eram anti-heróis ou vilões assumidos. Nunca foi um ator de papéis de sujeitos bonzinhos ao longo de toda a sua carreira.

Para uma produção B da Fox, achei tudo de bom gosto. O hotel onde se passa a estória foi bem recriado e os demais figurinos são bonitos. E por falar em beleza, Marilyn estava linda, maravilhosa na época. Ainda com o frescor da juventude ela fotografou muito bem nas cenas. Com cabelos mais escuros que o normal, os fãs da atriz foram presenteados com vários closes de seu rosto inesquecível. Mesmo fazendo papel de maluquinha sua sensualidade acabou explodindo em cada tomada. Não foi à toa que ela se tornou um dos grandes símbolos sexuais do século XX. Embora seu papel não fosse essencialmente sensual, ela o tornava assim naturalmente. A Fox inclusive investiu bem nisso, a começar pelo poster do filme explorando a sensualidade de Marilyn de forma bem ostensiva e descarada. Em conclusão podemos afirmar que "Almas Desesperadas" não decepciona. É um registro histórico da ascensão de um dos maiores mitos da história do cinema! Só isso já o torna obrigatório.

Almas Desesperadas (Don't Bother to Knock, Estados Unidos, 1953) Direção: Roy Ward Baker / Roteiro: Daniel Taradash baseado na novela de Charlotte Armstrong / Elenco: Richard Widmark, Marilyn Monroe, Anne Bancroft, Donna Corcoran, Jeanne Cagney / Sinopse: Casal que vai a um jantar de gala contrata jovem babá chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe) para cuidar de sua filhinha. A babá é sobrinha do ascensorista do hotel e desde que seu namorado morreu na guerra sofre de crises mentais. E esse se torna o grande problema daquela noite.

Páginas da Vida
Esse filme é bem conceituado pela crítica. Recebeu diversos elogios em seu lançamento original e ainda hoje tem bastante prestígio. Na realidade se trata de um drama, dividido em cinco histórias criadas pelo mesmo escritor. O interessante é que o filme também teve cinco diretores, todos do primeiro time de cineastas em Hollywood naqueles tempos. Entre eles grandes mestres da sétima arte que trabalharam nesse filme como Henry Hathaway, Howard Hawks e Henry King. O filme foi produzido por John Steinbeck, um dos magnatas da indústria cinematográfica da Califórnia. Era o que havia de melhor na época em termos de cinema. 

Essa foi mais uma daquelas produções com grande elenco. Marilyn Monroe era apenas uma das atrizes desse grande grupo de profissionais da atuação. Ela atuou na história "The Cop and the Anthem". Muito bonita, jovem, em figurino elegante e de classe, Marilyn teve destaque no trailer pois o estúdio já sabia que ela havia se tornado um grande chamariz de público. Seu papel não é muito grande, mas tem relevância em seu pequeno conto. Foi um passo dela rumo a um tipo de cinema de mais classe e sofisticação, muito embora a Fox já soubesse naquela época que ela era uma atriz ideal também para musicais e comédias românticas. 

Páginas da Vida (O. Henry's Full House, Estados Unidos, 1952) Direção: Henry Hathaway, Howard Hawks, Henry King, Henry Koster, Jean Negulesco / Roteiro: Nunnally Johnson, Philip Dunne / Elenco: Anne Baxter, Charles Laughton, Marilyn Monroe, Richard Widmark, David Wayne, Jean Peters / Sinopse: O filme mostra cinco histórias dramáticas que exploram aspectos sociais e emocionais dentro da sociedade norte-americana no começo do século XX. 

O Inventor da Mocidade
O Dr. Barnaby Fulton (Cary Grant) é o químico chefe do departamento de pesquisas de uma grande empresa. Sempre com o pensamento voltado para suas descobertas ele mal consegue pensar no dia a dia de sua vida. Sua esposa, a compreensiva Edwina (Ginger Rogers), tem que ter muita paciência com seu marido que parece estar sempre com o pensamento no mundo da Lua. Um dos sonhos de Barnaby é descobrir a fórmula que retarde o envelhecimento natural das pessoas. Até que um dia ele chega lá. Ao tomar a nova poção (que na realidade foi feita ao acaso por um chipanzé do centro de pesquisa) ele começa a ter reações adversas, inclusive se comportando como um inconsequente e leviano adolescente, chegando inclusive a levar a bela senhorita Laurel (Marilyn Monroe), secretária do presidente da companhia, para um passeio em alta velocidade no carrão recém comprado por impulso! E agora, como o renomado doutor voltará ao normal?

Começa assim essa simpática comédia “O Inventor da Mocidade”, dirigida pelo talentoso e reverenciado cineasta Howard Hawks. O ator Cary Grant desfila seu talento natural para as comédias de costumes (bem populares na época) mas de certa forma acaba sendo ofuscado por duas atrizes que se tornaram, cada um ao seu estilo, grandes nomes da história do cinema. A que mais chama a atenção é obviamente Marilyn Monroe, linda, bastante jovem e em um papel bem coadjuvante mas já desfilando muita graça, carisma e simpatia com sua presença em cena. O outro destaque é a presença no elenco de Ginger Rogers, a eterna parceira de Fred Astaire. Ela se notabilizou pelas ótimas coreografias ao lado do colega em vários musicais clássicos de sucesso mas aqui exerce basicamente seu talento humorístico (embora dê alguns passinhos em uma cena de dança para agradar aos seus fãs). No geral “O Inventor da Mocidade” não é uma comédia tão marcante mas mantém o interesse e tem cenas realmente divertidas e engraçadas, principalmente quando o casal principal se torna ainda mais jovem, virando pequenas crianças travessas. Procure assistir.

O Inventor da Mocidade (Monkey Business, Estados Unidos, 1952) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Ben Hecht, Charles Lederer / Elenco: Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn, Marilyn Monroe / Sinopse: Um renomado cientista inventa uma fórmula que rejuvenesce os mais velhos. Tentando verificar a eficácia da nova poção o próprio doutor resolve tomar algumas doses o que dará origem a várias confusões pois ele começa a se comportar como um adolescente inconsequente.

Torrentes de Paixão
"Torrentes de Paixão" é um thriller de suspense passado nas famosas cataratas do Niagara (situada na fronteira entre EUA e Canadá). Esse é um local bem popular ainda nos dias de hoje para casais em lua de mel. Após realizar "Almas Desesperadas" Marilyn Monroe foi novamente escalada pelos estúdios Fox para um papel bem parecido com o do filme anterior. Bem longe das comédias musicais que fizeram sua fama, Marilyn aqui interpreta novamente uma mulher fatal que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Na trama acompanhamos Rose (Marilyn Monroe) e George (Joseph Cotten) um casal que passa férias em Niagara Falls. Ela é uma jovem que não consegue mais impedir seus impulsos sexuais e acaba se envolvendo com um amante local bem debaixo do nariz do marido traído. Ele é um homem com traumas de guerra que não consegue mais satisfazer sua jovem esposa pois retornou do conflito da Coreia completamente impotente, neurótico e irascível. Como não poderia deixar de ser eventos dramáticos vão marcar a passagem deles pelo local.

A Rose de Marilyn Monroe como o próprio marido descreve no filme é uma "vagabunda completa". Isso é bem curioso pois diante do desafio de interpretar a jovem esposa infiel, Marilyn Monroe não se fez de rogada e usou e abusou de sua sensualidade latente nas cenas. Aliás é um dos papéis em que a atriz mais se serviu de seu grande sex appeal. Sua exuberância aqui beira a vulgaridade. Numa das sequências mais famosas Marilyn faz aquele que parece ter sido o mais longo rebolado da história do cinema. São quase dois minutos e meio apenas mostrando Monroe caminhando de costas para a câmera. Literalmente um desbunde em plenos anos 50, um dos períodos mais moralistas da história americana. Usando de roupas sensuais e colantes o espetáculo na época foi considerado totalmente indecente. Aliás é bom frisar que Marilyn está linda no filme, inclusive podemos perceber bem sua boa forma em um enorme close up de seu rosto focalizado bem de pertinho. Simplesmente maravilhosa! 

Com batom exageradamente vermelho e voluptuoso Marilyn esbanja lascívia em cada cena que aparece. De certa forma o diretor Henry Hathaway sabia que tinha em mãos um dos maiores símbolos sexuais de sua era e resolveu mesmo abusar dessa situação. O filme foi realmente pensado nela e feito para ela. Todo o resto se torna secundário. Naquela altura ela já era um mito de popularidade e "Torrentes de Paixão" se aproveita a todo momento disso. Além de Marilyn ainda temos de bônus a bela Jean Peters com toda sua beleza sofisticada e refinada. No final tudo resulta em um belo espetáculo de beleza feminina a desfilar pela tela. Os estetas certamente vão se esbaldar. Assista e entenda como se constrói um sex symbol genuinamente Made in Hollywood.

Torrentes de Paixão (Niagara, Estados Unidos, 1953) Direção: Henry Hathaway / Roteiro: Charles Brackett, Walter Reisch / Elenco: Marilyn Monroe, Joseph Cotten, Jean Peters, Max Showalter / Sinopse: Jovem esposa infiel (Marilyn Monroe) tenta dar cabo de seu marido impotente (Joseph Cotten) por intermédio de um jovem amante mas os planos não saem exatamente como ela queria.

Os Homens Preferem as Loiras
Certa vez Billy Wilder disse que alguns filmes só dariam certos se Marilyn Monroe estivesse neles. Penso que é o caso de "Os Homens Preferem as Loiras", um excelente musical com ótima trilha sonora que diverte, encanta e emociona. Assistir Marilyn Monroe cantando tão bem sua mais famosa canção no cinema "Diamonds Are a Girl´s Best Friend" balança com qualquer cinéfilo que se preze. E como Marilyn estava linda no filme! Ela no auge da beleza e juventude esbanja sex appeal em todas as cenas, sem exceção. Seu jeito de falar sussurrando era extremamente sensual. Sua personagem, a corista e dançarina Lorelai Lee, se parece muito com a que interpretou em "Como Agarrar um Milionário" mas isso realmente não importa. O que fica mesmo é a ótima coreografia, figurinos e roteiro de uma produção que nasceu para ser leve e bem humorada. Outro dia mesmo reclamei da falta de canções de Marilyn em um outro filme. Pois bem, aqui em "Os Homens Preferem as Loiras" temos a oportunidade de assisti-la cantando quatro músicas, todas ótimas é bom dizer.

Sempre achei Marilyn Monroe uma cantora subestimada. Eu pessoalmente acho seu timbre vocal lindo (além de ser excepcionalmente sensual). Não consigo entender também pessoas que a criticam afirmando que era apenas um mito sexual e não uma grande atriz! Bobagem, Marilyn Monroe tinha um talento nato para comédias e basta assistir filmes como esse para entender bem esse aspecto de sua carreira. Ela era divertida e não fazia esforço para parecer engraçada em cena (que em suma é o grande segredo dos grandes comediantes). Além disso sua voz sempre me soou relaxante e agradável. Tem que ser muito ranzinza para não gostar de musicais maravilhosos como esse. Mais um ponto positivo na grande carreira do diretor Howard Hawks que sempre foi um dos meus cineastas preferidos. Enfim, não precisa dizer mais nada. Quem ainda não assistiu e não consegue entender a longevidade do mito Marilyn Monroe não perca mais tempo. "Os Homens Preferem as Loiras" está lhe esperando. Assista e se divirta.

Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, EUA, 1953) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Charles Lederer / Com Jane Russell, Marilyn Monroe e Charles Coburn / Sinopse: Duas coristas, Lorelei e Dorothy (Marilyn Monroe e Jane Russel), viajam até Paris para conhecer o pai do noivo de Lorelei. Durante a viagem são espionadas por um detetive que tem a missão de provar que ambas são apenas mulheres interesseiras em busca de dotes milionários de homens ricos.

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de julho de 2007

Filmes de Marilyn Monroe - Parte 4

Sempre Jovem
Marilyn Monroe retornou para a Fox e foi escalada para atuar nessa comédia de costumes muito simpática, uma verdadeira janela para o passado, onde podemos ver bem como eram os valores morais e sociais que vigoravam dentro da sociedade americana da época. Só não espere por muita ousadia pois esse filme foi feito para um público mais convencional e tradicional. Então tudo fica enquadrado dentro de um tipo de humor mais conservador, que no final das contas não iria odender absolutamente ninguém entre o público que pagaria alguns centavos por uma entrada de cinema. 

Para Marilyn Monroe houve algumas novidades que a animaram. Pela primeira vez seu nome vinha colocado em destaque no trailer. Ainda abaixo de todos do elenco principal, mas seu nome estava lá. Dizem que Marilyn foi ao cinema uma semana antes do filme apenas para ver o trailer e conferir se seu nome aparecia mesmo. Tadinha, qualquer sinal de mudança na sua carreira era recebida com muita alegria e felicidade de sua parte. E no trailer não apenas aparecia seu nome, mas também duas cenas com ela, atendendo um telefone e depois sendo despedida pelo patrão! Marilyn obviamente vibrou com essa chance a mais de aparecer nas telas de cinema! 

Sempre Jovem (As Young as You Feel, Estados Unidos, 1951) Direção: Harmon Jones / Roteiro: Lamar Trotti, Paddy Chayefsky / Elenco: Monty Woolley, Thelma Ritter, David Wayne, Marilyn Monroe / Sinopse: Uma típica e tradicional família norte-americana vê seu cotidiano mudar quando o avô pensa em arranjar uma nova namorada aos 80 anos de idade e o paizão pensa em abandonar o emprego para fazer algo que realmente gosta em sua vida chata e tediosa. 

O Segredo das Viúvas
Finalmente os produtores da Fox começaram a entender que Marilyn Monroe era um belo chamariz de bilheteria. E aqui não pouparam, usaram a imagem dela para atrair o público masculino aos cinemas. O próprio poster do filme deixava isso bem claro, com a grande imagem de Marilyn só de maiô vermelho. Um pequeno figurino de praia que atraiu todos os olhares. Inclusive causou um certo tumulto nas filmagens quando Marilyn apareceu com ele. O diretor teve que fechar o set para evitar uma pequena multidão que queria ver Marilyn naquele traje minúsculo (para os padrões da época, claro)!

O filme em si pode ser considerado uma doce comédia romântica. Tem alguns elementos muito suaves de trama policial, mas passa longe de ser sobre isso. Na verdade é uma bem humorada crônica de um divertido grupo de moradores de um prédio bem antigo de Nova Iorque. Entram e saem vários personagens, entre eles a loira sensual e maravilhosa interpretada por Marilyn. Um aspecto curioso é que ela curtiu bastante o clima do filme de leve bom humor e os produtores decidiram escalar ela para filmes nesse estilo. Ela estava se tornando uma estrela, isso ficou bem claro na mente dos executivos da Fox. 

O Segredo das Viúvas (Love Nest, Estados Unidos, 1951) Direção: Joseph M. Newman / Roteiro: I.A.L. Diamond, Scott Corbett / Elenco: June Haver, William Lundigan, Frank Fay / Sinopse: Dois nova-iorquinos casados ​​compram um prédio antigo e degradado, cheio de inquilinos descolados e divertidos.

Joguei Minha Mulher
Definitivamente esse título nacional não ficou bom. Se fosse hoje em dia a distribuidora nacional encontraria muitos problemas. Só que aqueles eram outros tempos, então vamos lá, tecer alguns comentários sobre esse filme de Marilyn. É uma comédia romântica de costumes mostrando um protagonista que divorciado, sempre retorna para sua ex-esposa. Então fica dividido entre ela e sua nova namorada. Um filme interessante, com muitos diálogos picantes. 

Marilyn Monroe não teve maior espaço. Sua personagem era bem secundária e seu nome aparecia apenas em quinto lugar na lista de elenco. Sua maior oportunidade no filme surge em uma cena numa grande piscina. Marilyn, em trajes de banho, atravessa na borda piscina. Ela tinha cortado alguns centímetros de seu salto alto para rebolar naturalmente ao andar. Deu tanto certo que a cena acabou no trailer, como se os produtores estivessem dizendo ao público: "Tem mulher bonita nesse filme, tem a Marilyn, não deixe de assistir!". 

Joguei Minha Mulher (Let's Make It Legal, Estados Unidos, 1951) Direção: Richard Sale / Roteiro: F. Hugh Herbert, I.A.L. Diamond / Elenco: Claudette Colbert, Macdonald Carey, Zachary Scott / Sinopse: Um homem divorciado parece sempre voltar para o meio social de sua ex-esposa e ele acaba gostando muito disso! 

Só a Mulher Peca
Marilyn Monroe pulou de uma comédia romântica (em seu filme anterior) para um dramalhão daqueles, com muita intriga dentro de uma unidade familiar disfuncional. É um filme de extremos, com alguns dos atores cnnfundindo boa atuação dramática com gritos exagerados. E tudo sendo passado em uma pequena cidade costeira onde todos os moradores parecem ter um lado muito sórdido. 

Marilyn Monroe interpreta mais uma beldade, só que aqui sua personagem está afundada em um relacionamento muito abusivo. Numa das cenas ela apenas elogia um homem que passa e o seu companheiro quase a sufoca com uma daquelas toalhas de banho. Veja como o mundo mudou. Se fosse nos dias de hoje esse sujeito iria ser preso, mas nos anos 50 a personagem de Marilyn parece lhe perdoar automaticamente da agressão que acabou de sofrer! De uma maneira ou outra vale chamar a atenção para um detalhe importante: Esse filme foi dirigido pelo mestre Fritz Lang! 

Só a Mulher Peca (Clash by Night, Estados Unidos, 1952) Direção: Fritz Lang / Roteiro: Alfred Hayes, Clifford Odets / Elenco: Barbara Stanwyck, Robert Ryan, Paul Douglas, Marilyn Monroe, Robert Ryan / Sinopse: Em uma pequena cidade costeira, moradores e familiares precisam resolver e acertar muitas questões complicadas entre eles. 

Travessuras de Casados
Após descobrir que seu casamento não tem valor jurídico pois foi realizado por um juiz de paz com a licença vencida a jovem Annabel Norris (Marilyn Monroe) entra em desespero pois ela almeja disputar o concurso de "Senhora América" que só aceita mulheres casadas entre as competidoras. E agora o que fará, já que ela descobriu que continua solteira uma vez que seu casamento não tem validade?

Comédia romântica que estaria completamente esquecida hoje em dia se não fosse por um detalhe mais do que importante: a presença no elenco do mito Marilyn Monroe. Muito jovem ainda e nada famosa na época a não ser por alguns ensaios em revistas como modelo, Marilyn tenta ao mesmo chamar a atenção para sua presença em um filme nada memorável, bobo até. Outro destaque digno de menção no elenco é a presença da maravilhosa Ginger Rogers, que hoje em dia infelizmente também anda bem esquecida. Por essa época Marilyn lutava para se firmar como atriz em Hollywood, algo que não era nada fácil por causa da competição, afinal loiras bonitas como ela existiam aos montes pelos corredores dos estúdios. Ela passava por várias dificuldades financeiras, sendo despejada de uma série de apartamentos aos quais não podia pagar o aluguel mas o sonho de vencer no cinema era maior. Aqui presenciamos seus primeiros passos antes de virar o maior mito feminino da história do cinema.

Travessuras de Casados (We´re Not Married, Estados Unidos, 1952) Estúdio: Twenty Century Fox / Direção: Edmund Goulding / Roteiro: Dwight Taylor, Gina Kaus, Nunnally Johnson / Elenco: David Wayne, Eddie Bracken, Eve Arden, Fred Allen, Ginger Rogers, Louis Calhern, Marilyn Monroe / Sinopse: Os problemas de uma jovem que descobre que ao contrário do que ela pensava, não era casada! 

Pablo Aluísio. 

Filmes de Marilyn Monroe - Parte 3

O Segredo das Joias
Mais um clássico, muito bem dirigido, pelo mestre John Huston. Na história uma quadrilha de criminosos é recrutada para um plano ousado, um roubo de joias em um banco. O cofre é bem guardado, mas o plano do roubo é muito bem arquitetado por um homem que acabou de sair da prisão. Ele é conhecido no meio criminal como "O Doutor". De certo modo é um gênio do crime. Só que para realizar seu plano ele precisa de um financiador. Um advogado ouve sobre o roubo e decide bancar a empreitada criminosa. Só que ele esconde o fato de que na realidade está falido e não tem como comprar as joias depois que elas forem roubadas. 

É um autêntico filme de crime, produzido no começo dos anos 50. Curiosamente dentro do bom elenco quem iria se tornar mesmo uma estrela era a ainda jovem Marilyn Monroe. Ela interpreta a jovem amante do advogado que está envolvido no roubo das joias. Chamada de Angela, a personagem de Marilyn não passa de uma Sugar Baby bem ingênua que em um primeiro momento mente para salvar seu amante mais velho das garras da polícia. E isso poderia inclusive lhe trazer muitos problemas. Marilyn Monroe já estava nesse filme com o visual que a consagraria no cinema, com cabelos platinados. Ainda bem magra e jovem ela estava linda em cena! Só não tinham ainda lhe dado a chance para brilhar, o que iria acontecer em breve na sua carreira. 

O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle, Estados Unidos, 1950) Direção: John Huston / Roteiro: Ben Maddow, John Huston, W.R. Burnett / Elenco: Sterling Hayden, Louis Calhern, Jean Hagen, Sam Jaffe, Marilyn Monroe / Sinopse: Quadrilha é formada para realizar um bem planejado roubo de joias. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor direção, melhor roteiro, melhor ator coadjuvante (Sam Jaffe) e melhor direção de fotografia (Harold Rosson). 

Por um Amor
Depois da consagração do filme anterior, o clássico "O Segredo das Jioias", Marilyn Monroe esperava por algo melhor. Ainda trabalhando no estúdio Metro-Goldwyn-Mayer sob contrato, ela estava ansiosa por seu próximo papel. Só que suas esperanças foram por água abaixo. Nesse filme ele iria interpretar mais uma personagem bem secundária, a ponto de seu nome não constar nem no cartaz do filme e nem nos letreiros iniciais de apresentação da película. Ela interpretava uma garota chamada Dusky Ledoux. Sem qualquer destaque na história ela ficou muito decepcionada, mas guardou as mágoas para si mesma. Não tinha como reclamar pois ainda era uma atriz de baixo escalão dentro do estúdio. 

O filme em si era um drama esportivo cuja história se passava no mundo do boxe. O ator Ricardo Montalban interpretava um boxeador decadente que lutava por uma última grande chance na carreira. Só que fisicamente ele estava mesmo com os dias contados. Nesse espiral de fracassos ele parecia apenas contar com o apoio de uma mulher que no fundo era perdidamente apaixonada por ele, em papel interpretado pela atriz June Allyson. Eu até considero um bom filme, mas para Marilyn Monroe, naqueles tempos, foi sem dúvida uma oportunidade perdida. Ela definitivamente ficou bem decepcionada com o papel sem importância que teve que interpretar. 

Por um Amor (Right Cross, Estados Unidos, 1950) Direção: John Sturges / Roteiro: Charles Schnee / Elenco: June Allyson, Dick Powell, Ricardo Montalban, Marilyn Monroe / Sinopse: Um boxeador decadente tenta, pela última vez, emplacar vitórias em sua fracassada carreira no esporte. 

O Faísca
Mais um filme sem importância para Marilyn Monroe na época. O contrato dela com a Metro estava acabando e ela estava aliviada sobre isso. A verdade é que a Metro nunca lhe deu uma grande oportunidade e ela sabia que ali não iria para lugar nenhum. Queria voltar para a Fox, onde sem dúvida teria maiores oportunidades. De qualquer forma pelo menos nesse filme a atriz se divertiu. Ela interpretava uma jovem chamada Polly que se apaixonava pelo protagonista do filme, aqui interpretado pelo baixinho Mickey Rooney que era bem popular naquela época. Marilyn acabou se dando muito bem com ele, a ponto de se tornarem amigos fora das telas. 

A história era feita para o público juvenil e aproveitava a moda do Rollerbal, uma espécie de corridas com patins. Marilyn não sabia andar de patins, mas teve que aprender na marra! Depois de alguns tombos foi pegando jeito e acabou se divertindo muito nas filmagens. Ela estava na verdade, sem saber, se despedindo dessa primeira fase de filmes em sua carreira. Em breve novas e melhores oportunidades iriam surgir em sua vida artística. 

O Faísca (The Fireball, Estados Unidos, 1950) Direção: Tay Garnett / Roteiro:Tay Garnett, Horace McCoy / Elenco: Mickey Rooney, Pat O'Brien, Beverly Tyler, Marilyn Monroe / Sinopse: Filme juvenil que conta a história de um grupo de jovens que entra na onda das corridas de patins! 

A Malvada
Esse filme é considerado o melhor da carreira de Bette Davis por muitos críticos de cinema. Ela fez tantos filmes maravilhosos que, em minha opinião, é complicado afirmar qual seria realmente o seu melhor filme. Mas de qualquer modo, esse é seguramente um dos mais consagradores de sua atuação. Essa foi uma atriz realmente diferenciada, que enchia os olhos do público com seu talento espetacular. O roteiro do filme trata de questões extremamente relevantes, como o ressentimento, a ambição, a ganância e até mesmo a inveja que impera nos meios artísticos. A personagem Eve surge extremamente complexa no roteiro. Ela age como cortadinha, uma mulher boazinha, mas que no fundo esconde a alma de uma mulher ambiciosa que apenas quer subir na vida de qualquer jeito. Ótima interpretação da atriz Anne Baxter. 

Em termos de elenco, outro destaque vem com a presença de uma jovem Marilyn Monroe, interpretando uma bela loira platinada que serve de troféu para um figurão do meio teatral durante uma festa. Ela tem apenas duas cenas no filme, mas chama bastante atenção por causa de seu figurino elegante e de sua exuberante beleza. Eu considero esse um roteiro tecnicamente perfeito, sem nuances negativas. Entretanto, é bom chamar a atenção para um certo moralismo que não tem mais sentido nos dias de hoje. Em determinado momento, a personagem Eve é condenada por relacionamentos de seu passado, por ter se relacionado com um homem casado. Isso não seria um crime. De qualquer forma o filme é excelente, acima de qualquer crítica mais mordaz. Merece nota máxima em termos de sétima arte!

A Malvada (All About Eve, Estados Unidos, 1950) Direção: Joseph L. Mankiewicz / Roteiro: Joseph L. Mankiewicz / Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, Marilyn Monroe, George Sanders, Celeste Holm, Hugh Marlowe / Estúdio: Twentieth Century Fox / Sinopse: Margo (Bette Davis), uma veterana atriz de teatro, com a chegada da idade, começa a se sentir prejudicada. Além disso, ela precisa enfrentar a acirrada concorrência de atrizes mais jovens, entre elas um ambiciosa mulher que trabalha como sua assistente pessoal. Filme vencedor de 6 Oscars entre eles o de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro.

Em cada Lar, um Romance
Pois é, Marilyn Monroe não se tornou estrela de cinema do dia para a noite. Foram muitos altos e baixos na carreira. Ela fazia um bom filme, se destacava, pensava que agora sua carreira iria decolar, para tudo se perder no filme seguinte onde ela voltava para os velhos papéis insignificantes. É o caso desse filme feito logo após o sucesso de "A Malvada". Marilyn pensou de forma equivocada que agora a coisa ia melhorar, mas a Fox meio que lavou as mãos, a emprestou novamente para a Metro-Goldwyn-Mayer que a escalou para mais uma personagem secundária. 

A história desse filme explorava a força da imprensa nas eleições. Um candidato derrotado volta para sua cidade natal para trabalhar novamente como jornalista. Só então ele entende que o jornal onde trabalha era na verdade uma força potencial na captação de votos dos eleitores. Marilyn não teve muito espaço nesse filme, mas pelo menos estava deslumbrante em cena, com um suéter muito sexy. Com seios pontudos, ela roubou todas as cenas em que participou. Nunca subestime a força do apelo sexual de uma jovem e bonita mulher, meu caro! 

Em cada Lar, um Romance (Home Town Story, Estados Unidos, 1951) Direção: Arthur Pierson / Roteiro: Arthur Pierson / Elenco: Jeffrey Lynn, Donald Crisp, Marjorie Reynolds, Marilyn Monroe / Sinopse: Jornalista tenta reerguer sua carreira política usando para isso o jornal onde trabalha. Ela passa a usar a imprensa como ferramenta de conquista de votos dos eleitores. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Filmes de Marilyn Monroe - Parte 2

Torrentes de Ódio
Um peão decide se organizar na vida, pois está apaixonado pela filha de seu patrão. Para mostrar que tem futuro resolve comprar um par de mulas para transporte, algo que lhe dará muita dor de cabeça depois, mas ele está decidido a dar certo para conquistar o amor de sua vida. Outro filme do comecinho da carreira de Marilyn Monroe em que você terá que prestar muita atenção para encontrar a atriz em cena. Infelizmente a maior parte de sua participação foi parar no chão da sala de edição do estúdio mas ainda podemos ver a loira descendo as escadas de uma igreja no domingo pela manhã, acenando e dizendo sua única linha de diálogo no filme inteiro: "Oi Rad!" 

Por essa razão não é raro muitos jornalistas cometerem a burrice de dizer que essa foi a primeira aparição de Marilyn Monroe no cinema (como já comentamos em resenhas de filmes anteriores de Marilyn, esse tipo de afirmação simplesmente não procede). O elenco também traz outra curiosidade, a presença da também aspirante à fama Natalie Wood, que interpreta Eufraznee 'Bean' McGill (que nome hein?). Hoje em dia sua presença e a de Marilyn se tornaram os grandes atrativos do filme. No geral o filme não é lá grande coisa (como Marilyn ou sem ela). Se trata mesmo de uma diversão ligeira, um filme de rotina dentro da indústria de cinema dos anos 40. Não há qualquer sinal de que aquela garota quase figurante das escadas da capela um dia iria se tornar um mito da sétima arte. Vale como curiosidade histórica e apenas isso.

Torrentes de Ódio (Scudda Hoo! Scudda Hay!, Estados Unidos, 1948) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: F. Hugh Herbert / Roteiro:  F. Hugh Herbert / Elenco: June Haver, Lon McCallister, Walter Brennan, Marilyn Monroe / Sinopse: Jovem se apaixona pela filha do patrão e tenta começar um negócio para mostrar seu valor! 

Os Prados Verdes
Um filme do comecinho da carreira de Marilyn Monroe. Não vai ser fácil localizar a atriz em cena. Naquela época ela era apenas um rostinho bonito que a Fox usava como extra. E ela aparece, muito timidamente, na cena da dança. Apenas uma garota qualquer fazendo figuração nesse western com ecos de drama e romance. Não seria dessa vez que ela teria alguma chance, ainda mais sabendo que a loira estrela do filme era outra, a chatinha Peggy Cummins que usava até o mesmo cabelo de Marilyn, mas que em termos de beleza sequer poderia se comparar a ela. 

A história desse antigo faroeste girava em torno de um grupo de rancheiros e fazendeiros que tinham que lidar com roubos de cavalos e crias que acabavam também fugindo para o campo aberto onde vivia, de forma selvagem, um belo garanhão branco. Um animal realmente maravilhoso que ninguém conseguia capturar. Então é isso. Um bom filme, mas para quem estiver em busca de Marilyn Monroe não a encontrará tão facilmente no meio de um monte de gente dançando. 

Os Prados Verdes ( Green Grass of Wyoming, Estados Unidos, 1949) Direção: Louis King / Roteiro: Martin Berkeley, Mary O'Hara / Elenco: Peggy Cummins, Charles Coburn, Robert Arthur, Marilyn Monroe (figurante) / Sinopse: Grupo de rancheios, criadores de cavalos, precisam lidar com os desafios do velho oeste. 

Mentira Salvadora
Esse filme pode ser considerado a primeira grande chance que Marilyn Monroe conseguiu em sua carreira. Ela havia sido contratada pela Fox, mas até então não tinha conseguido uma grande oportunidade. Então seu amante (na verdade seu sugar daddy) chamado Johnny Hyde conseguiu com o chefão da Columbia Pictures Harry Cohn que fosse dada uma oportunidade melhor para Marilyn nesse filme. E ela finalmente conseguiu uma personagem com nome e importância dentro de um filme. Ela interpretou a jovem filha da protagonista, uma garota chamada Peggy Martin.

Marilyn ficou eufórica com essa oportunidade, mas a verdade pura e simples é que o filme não passava de uma produção B que na época não chegou a alcançar qualquer tipo de sucesso. Com apenas uma semana em cartaz foi tirado do circuito de exibição pela fraca bilheteria. De qualquer maneira com o passar dos anos o filme foi finalmente redescoberto e por causa de Marilyn Monroe, aqui dando os seus primeiros passos rumo a uma carreira de sucesso. 

Mentira Salvadora (Ladies of the Chorus, Estados Unidos, 1948) Direção: Phil Karlson / Roteiro: Harry Sauber / Elenco: Adele Jergens, Marilyn Monroe, Rand Brooks / Sinopse: Uma dançarina de Chorus Line se apaixona pelo sujeito errado e começa a sofrer os problemas inerentes a esse que poderia ser um erro, mas não de seu coração. 

Loucos de Amor
Depois da euforia do filme anterior Marilyn Monroe desceu um degrau na carreira. Não que fosse um filme ruim, nada disso, mas que não iria abrir maior espaço para ela que teria que novamente interpretar o papel de uma loira burra e gostosa. Era uma comédia maluca dos Irmãos Marx, então não haveria mesmo oportunidade para Marilyn Monroe mostrar muita coisa no meio dessa confusão divertida. Tudo no roteiro havia sido escrito para que os Irmãos Marx brilhassem em cena com seu humor. Para Marilyn só sobrou fazer mais um extra baseado apenas em sua beleza. 

Revisto hoje em dia esse filme entretanto serve para uma constatação de que Marilyn tinha mesmo jeito para a comédia e o humor, algo que seria explorado em seus primeiros filmes de estrela de Hollywood. Ela era certamente uma garota bonita, todos sabiam disso, mas ainda assim esbanjava talento para cenas de humor. E essa pode ser considerada a primeira experiência da atriz nesse estilo cinematográfico, algo que ela soube muito bem explorar dede o começo de sua filmografia. 

Loucos de Amor (Love Happy, Estados Unidos, 1949) Direção: David Miller / Roteiro: Frank Tashlin, Mac Benoff, Harpo Marx / Elenco: Groucho Marx, Harpo Marx, Chico Marx, Marilyn Monroe,  Ilona Massey / Sinopse: Os irmãos Marx vão para a Broadway e criam todos os tipos de confusões no meio teatral de Nova Iorque. 

O que Pode um Beijo
Mais um faroeste B na filmografia de Marilyn Monroe. Nessa época ela ainda era bem jovem e estava tentando seu lugar so sol em Hollywood. Como era uma jovem bonita, foi escalada para fazer parte do elenco de apoio, no grupo de belas coristas de um saloon. Embora já tivesse adotado aquela imagem de Marilyn que todos conhecemos, achei seu visual meio estranho nesse filme, tudo por causa de uns cachinhos dourados que fizeram em seu cabelo. Ficou bem fora da casinha, um penteado meio mal feito. Não caiu bem. 

Em termos de história esse western contava mais uma história da expansão das ferrovias rumo ao oeste selvagem. Esses trens antigos mudaram a história dos Estados Unidos, mas não eram bem vistos por todos. A ferrovia significava a modernidade e muitos odiavam isso, fazendo muitas vezes operações de sabotagens nas ferrovias, o que colocava em risco a própria vida dos passageiros. No caso desse filme era justamente isso que acontecia. Bandidos contratados por donos de diligências tentando sabotar as linhas de trens que seguiam rumo ao oeste. 

O que Pode um Beijo (A Ticket to Tomahawk, Estados Unidos, 1950) Direção: Richard Sale / Roteiro: Mary Loos, Richard Sale / Elenco: Dan Dailey, Anne Baxter, Rory Calhoun, Walter Brennan, Marilyn Monroe / Sinopse: Primeiro filme da atriz Marilyn Monroe na década de 1950. Ainda em papel bem secundário, ela interpretava uma bailarina de saloon nesse filme de faroeste B de Hollywood. 

Pablo Aluísio.

Filmes de Marilyn Monroe - Parte 1

Sua Alteza, a Secretária
Esse filme foi o primeiro com Marilyn Monroe. Na época ela era apenas uma modelo que aspirava a ter uma carreira de atriz em Hollywood. Era um sonho que parecia muito, muito distante! Seu papel era tão insignificante que sequer tinha nome. De fato o personagem de Marilyn era apenas identificado como a "operadora de telefone". Na verdade ela sequer surgia em cena, pois os espectadores praticamente apenas ouviram sua voz. Também não foi creditada no elenco, o que demonstra como foi mesmo apenas um pequeno teste para ela na Fox (e pensar que em um futuro não tão distante ela se tornaria a maior estrela da história do estúdio). 

Já o filme em si, é um misto de drama socialmente consciente, explorando as conquistas da mulher no começo do século e também uma comédia romântica com muitos figurinos bonitos para impressionar no Technicolor berrante da época. Betty Grable era considerada a miss simpatia do plantel da Fox, conquistando boas bilheterias com seus filmes levemente açucarados.

Sua Alteza, a Secretária (The Shocking Miss Pilgrim, Estados Unidos, 1947) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: George Seaton, Edmund Goulding / Roteiro: George Seaton, Ernest Maasz / Elenco: Betty Grable, Dick Haymes, Anne Revere, Marilyn Monroe, Gene Lockhart, Elizabeth Patterson / Sinopse: No século XIX, Cynthia Pilgrim (Betty Grable) se torna a primeira funcionária de uma grande empresa de transporte em Boston. Em uma época em que poucas mulheres trabalhavam fora ela acaba se tornando um símbolo da nova posição feminina dentro do mercado de trabalho.

Idade Perigosa 
Um grupo de garotos é influenciado negativamente pelo delinquente juvenil Danny (Billy Halop). Assim ele convence mais três jovens a participarem de um assalto, mas os planos não saem exatamente como eles queriam. Uma briga pelo destino daqueles jovens acaba gerando a morte de um professor muito querido na escola, Jeff Carter (Donald Curtis) e Danny é preso! Levado a julgamento começa um intenso debate no tribunal sobre quem seria o verdadeiro culpado, o rapaz ou a sociedade? Esse é considerado por muitos como primeiro filme da carreira de Marilyn Monroe. Segundo os próprios créditos do filme ela "interpreta" Evie, a garçonete do Gopher Hole! Isso não é de se surpreender pois na época em que Marilyn entrou no cast dessa produção ela não era nada mais do que uma modelo bonita que tinha a pretensão de um dia ser levada a sério como atriz! Alguns indicam esse como seu primeiro filme, pois é aqui que ela surge pela primeira vez na tela. Um equívoco pois Marilyn também esteve em "Sua Alteza, a Secretária", onde o espectador podia ouvir sua sensual voz ao telefone.

Já o filme "Dangerous Years" lida com a questão da delinquência juvenil, tema bastante em voga no pós-guerra. O que temos aqui é uma produção B com ares de melodrama que não envelheceu muito bem, sendo em muitos aspectos soa bem inocente - pelo menos para os padrões atuais pois o roteiro insiste de certa forma em apostar na boa índole de jovens a um passo da criminalidade. Na verdade Marilyn Monroe iria se conscientizar que esse não era o caminho para o sucesso, pois ela tinha muito mais vocação para as comédias românticas de costumes, o gênero que iria lhe transformar em uma estrela nas marquises de cinema de todo o mundo. Até porque ela era uma loira bonita e os homens a queriam ver em filmes divertidos e não em dramas sociais com um bando de pequenos infratores como esse.

Idade Perigosa (Dangerous Years, Estados Unidos, 1947) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Arthur Pierson / Roteiro: Arnold Belgard / Elenco: Billy Halop, Scotty Beckett, Richard Gaines, Marilyn Monroe / Sinopse: Jovens acabam caindo no lado errado da vida quando começam a seguir um delinquente juvenil que planeja um crime na cidade onde mora. 

Nasceste Para Mim
Mais um filme do comecinho da carreira de Marilyn Monroe. Aqui ela não teve tanta sorte como nos demais filmes pois sua participação acabou no chão da sala de edição pois o diretor cortou justamente a cena em que ela tinha maior presença - muito embora tenhamos consciência que suas duas linhas de diálogo eram pouco mais do que uma figuração comum. Mesmo assim ela ainda pode ser visualizada rapidamente numa cena gravada durante uma animada festa, na pista de dança. Ela, acredite, está na pista de dança lotada que foi captada pelo filme. 

Anos depois a própria Marilyn comentou o começo duro de sua carreira ao falar ironicamente sobre sua ofuscada participação nesse filme: "Que papel foi aquele?!". Papel é forma de dizer pois no fundo ela não passa de uma figurante anônima. É uma pena pois o filme, cujo enredo se passa inteiramente na década de 1920, poderia dar a chance para Marilyn pelo menos surgir na tela muito bonita, com aquele figurino do passado. De uma forma ou outra vale a pena ver o filme para tentar achar Marilyn em seus poucos segundos de fama.

Nasceste Para Mim (You Were Meant for Me, Estados Unidos, 1948) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Lloyd Bacon / Roteiro: Elick Moll, Valentine Davies / Elenco: Jeanne Crain, Dan Dailey, Oscar Levant, Marilyn Monroe / Sinopse: Chuck Arnold é um músico e líder de banda que acaba se apaixonando por Peggy, uma garota de sua cidade natal que acaba conhecendo durante um baile. Poucas semanas depois acaba se casando com ela. A vida de músico, sempre viajando para outras cidades, passando longas temporadas fora de casa, porém acaba prejudicando seu relacionamento com a esposa e as coisas pioram ainda mais quando sua banda começa a realmente fazer sucesso.

Travessuras de Casados
Comédia romântica que estaria completamente esquecida hoje em dia se não fosse por um detalhe mais do que importante: a presença no elenco do mito Marilyn Monroe. Muito jovem ainda e nada famosa na época a não ser por alguns ensaios em revistas como modelo, Marilyn tenta ao mesmo chamar a atenção para sua presença em um filme nada memorável, bobo até. Outro destaque digno de menção no elenco é a presença da maravilhosa Ginger Rogers, que hoje em dia infelizmente também anda bem esquecida. 

Por essa época Marilyn lutava para se firmar como atriz em Hollywood, algo que não era nada fácil por causa da competição, afinal loiras bonitas como ela existiam aos montes pelos corredores dos estúdios. Ela passava por várias dificuldades financeiras, sendo despejada de uma série de apartamentos aos quais não podia pagar o aluguel mas o sonho de vencer no cinema era maior. Aqui presenciamos seus primeiros passos antes de virar o maior mito feminino da história do cinema.

Travessuras de Casados (We´re Not Married, Estados Unidos, 1952) Estúdio: Twenty Century Fox / Direção: Edmund Goulding / Roteiro: Dwight Taylor, Gina Kaus, Nunnally Johnson / Elenco: David Wayne, Eddie Bracken, Eve Arden, Fred Allen, Ginger Rogers, Louis Calhern, Marilyn Monroe / Sinopse: Após descobrir que seu casamento não tem valor jurídico pois foi realizado por um juiz de paz com a licença vencida a jovem Annabel Norris (Marilyn Monroe) entra em desespero pois ela almeja disputar o concurso de "Senhora América" que só aceita mulheres casadas entre as competidoras. E agora o que fará, já que ela descobriu que continua solteira uma vez que seu casamento não tem validade?

Almas Desesperadas 
Esse foi um filme feito pela atriz Marilyn Monroe antes dela se tornar uma das maiores estrelas da história de Hollywood. Na época Marilyn era apenas uma garota bonita com um certo potencial. Uma starlet. E o mais interessante de tudo é que ela se saiu muito bem como atriz, sem apelar tanto para seu Sex Appeal. Claro, sua beleza e sensualidade natural sempre iriam chamar a atenção, mas esse não foi o foco do filme em si. A trama é engenhosa. Um casal deixa sua pequena filha aos cuidados da sobrinha do ascensorista do hotel onde estão hospedados. O problema é que a nova babá, chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe), sofre de graves problemas psicológicos e mentais. A aproximação de um outro hóspede, Jed Towers (Richard Widmark), na vida de Nell só piora ainda mais a situação. Com isso a situação que já era delicada, se torna explosiva e altamente perigosa.

"Almas Desesperadas" foi o primeiro filme em que Marilyn Monroe realmente se destacou, surgindo com um papel importante. Até aquele momento ela se resumia a fazer papéis pequenos, sem grande importância. A maioria deles apenas aproveitando de sua beleza. Tudo muda aqui. Marilyn Monroe está em praticamente todas as cenas de um roteiro que se passa quase em tempo real, todo em uma só noite, dentro de um quarto de hotel. Muitos biógrafos e críticos afirmam que o papel da babysitter mentalmente perturbada era muito forte para uma Marilyn Monroe ainda tão jovem e inexperiente. De fato, não deve ter sido nada fácil interpretar um personagem assim com apenas 26 anos de idade, mas sinceramente discordo dos que criticam a atuação da atriz nesse filme. Achei sua atuação muito digna e correta. Marilyn, em nenhum momento, cai no exagero ou na caricatura. Para uma jovem estrela, sem muita experiência dramática, devo dizer que ela se saiu extremamente bem. O filme só funcionaria se Marilyn atuasse de forma satisfatória - e ela fez isso, com muita garra e sensibilidade, tenham certeza.

E como poderíamos definir esse filme? "Almas Desesperadas" é, em essência, um drama com toques de suspense e tensão. Quase cinema noir. A estrutura narrativa inclusive lembra uma peça de teatro. Os personagens estão concentrados em um ambiente fechado, dentro de uma situação limite. Poderia ter ficado pesado e chato, mas não, o filme se desenvolve muito bem em seus curtos 76 minutos. Richard Widmark segue a trilha da boa atuação de Marilyn Monroe e desfila elegância e charme durante as cenas. Aliás seu figurino chama bem a atenção pois revela a moda masculina na primeira metade dos anos 1950 com ternos enormes, folgadões, que alguns anos depois viriam a virar moda novamente. E ele era certamente o ator ideal para atuar nesse tipo de papel. Geralmente interpretava personagens que eram anti-heróis ou vilões assumidos. Nunca foi um ator de papéis de sujeitos bonzinhos ao longo de toda a sua carreira.

Para uma produção B da Fox, achei tudo de bom gosto. O hotel onde se passa a estória foi bem recriado e os demais figurinos são bonitos. E por falar em beleza, Marilyn estava linda, maravilhosa na época. Ainda com o frescor da juventude ela fotografou muito bem nas cenas. Com cabelos mais escuros que o normal, os fãs da atriz foram presenteados com vários closes de seu rosto inesquecível. Mesmo fazendo papel de maluquinha sua sensualidade acabou explodindo em cada tomada. Não foi à toa que ela se tornou um dos grandes símbolos sexuais do século XX. Embora seu papel não fosse essencialmente sensual, ela o tornava assim naturalmente. A Fox inclusive investiu bem nisso, a começar pelo poster do filme explorando a sensualidade de Marilyn de forma bem ostensiva e descarada. Em conclusão podemos afirmar que "Almas Desesperadas" não decepciona. É um registro histórico da ascensão de um dos maiores mitos da história do cinema! Só isso já o torna obrigatório.

Almas Desesperadas (Don't Bother to Knock, Estados Unidos, 1953) Direção: Roy Ward Baker / Roteiro: Daniel Taradash baseado na novela de Charlotte Armstrong / Elenco: Richard Widmark, Marilyn Monroe, Anne Bancroft, Donna Corcoran, Jeanne Cagney / Sinopse: Casal que vai a um jantar de gala contrata jovem babá chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe) para cuidar de sua filhinha. A babá é sobrinha do ascensorista do hotel e desde que seu namorado morreu na guerra sofre de crises mentais. E esse se torna o grande problema daquela noite.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Os Filmes de Marlon Brando - Parte 9

A Ilha do Dr. Moreau
Um aspecto que poucos cinéfilos sabem é que o ator Marlon Brando era intensamente interessado em ciência em geral. Ele estava sempre se atualizando sobre os últimos avanços científicos, lendo revistas especializadas e publicações das principais universidades americanas. Não é de se admirar então que tenha aceitado trabalhar nesse “A Ilha do Dr Moreau”, adaptação do famoso livro de autoria de H.G. Wells. Embora tenha sido escrito em 1921 o texto conseguia ser incrivelmente atual pois tratava de uma parte da ciência que era incrivelmente sedutora para Brando: a engenharia genética. A possibilidade de manipulação nas espécies e o resultado desses experimentos eram a base dessa estória clássica. Dr. Moreau (Marlon Brando) é um cientista brilhante que vive em uma ilha isolada no meio do oceano pacifico. Lá ele desenvolve uma série de testes genéticos, criando com suas experiências vários híbridos entre homens e animais. Seu objetivo é criar aquela que seria a criatura ideal, unindo a inteligência e os mais altos valores morais do ser humano com a força e a destreza das feras selvagens. Infelizmente enquanto vai tentando chegar nesse ser perfeito Moreau acaba criando uma série de pequenos monstros que passam a conviver ao seu lado na distante ilha. Não tarda porém para que as criaturas se voltem contra seu criador.

Uma das mais interessantes leituras dessa obra clássica é a questão da ética que move esse tipo de experiência. Em voga atualmente nos principais centros científicos,  dado o avanço das pesquisas genéticas, o roteiro poderia ser a base de discussão de valores envolvendo justamente essa nova postura, a bioética que deveria imperar nesse novo ramo da ciência. Assim queria Brando ao aceitar fazer o filme, levantar o debate sobre os rumos perigosos que a ciência poderia tomar. Infelizmente não era bem essa a intenção do diretor e nem do estúdio que queria em suma apenas realizar um filme de monstros que vivem numa ilha ao lado de um cientista louco. Quando as filmagens começaram Brando entendeu as reais intenções de seus realizadores e ficou obviamente decepcionado. Para não ser arruinado financeiramente por um pesado processo resolveu ir até o fim do filme, mesmo que a empolgação inicial tenha se transformado em decepção completa. Realmente “A Ilha do Dr Moreau” se revela muito fraco em seu resultado final. O único interesse nesse roteiro capenga é a presença de Brando que para aliviar o tédio de participar de algo assim tão obtuso caprichou no figurino esquisito (em determinada cena ele surge todo de branco, com forte maquiagem, tal como um Buda dos trópicos). No saldo final não há outra conclusão “A Ilha do Dr Moreau” é um equívoco, uma produção bem decepcionante apesar de contar em seu elenco com um dos maiores atores da história do cinema americano.

A Ilha do Dr. Moreau (The Island of Dr. Moreau, Estados Unidos, 1996) Direção: John Frankenheimer / Roteiro: Richard Stanley baseado na obra de H.G. Wells / Elenco: Marlon Brando, Val Kilmer, David Thewlis / Sinopse: Brilhante cientista, o Dr. Moreau (Marlon Brando) deseja criar uma criatura perfeita que uma a inteligência do ser humano com as prestezas dos animais selvagens. Vivendo em uma ilha isolada ele logo terá que lidar com a rebelião das feras que ele mesmo criou.

O Bravo
Esse foi o penúltimo filme do ator Marlon Brando no cinema. Ele já estava bem idoso e doente. Tinha decidido se afastar um bom tempo das telas. Acabou adiando seus planos de aposentadoria definitiva por um motivo bem óbvio para quem o conhecia: ele se identificou com o tema desse roteiro. Durante décadas o ator lutou em prol dos direitos dos nativos americanos. Chegou inclusive a participar de um cerco do FBI contra lideranças indígenas nos anos 70. Essa sempre foi uma bandeira que levantou. Brando defendeu os índios norte-americanos com unhas e dentes por anos e anos, sempre que a oportunidade surgia. Estava constantemente ao lado dos direitos civis dos índios. Esse tema sempre despertou seu lado mais ativista. E na história desse filme ele viu grande valor por causa do tema social que levantava. 

O interessante é que as filmagens ocorreram sem maiores incidentes. Durante muitos anos Brando ficou conhecido por causa dos problemas que trazia no set de filmagens, mas aqui ele seguiu o script, não brigou com ninguém da equipe técnica do filme e ainda construiu uma bela amizade com o ator Johnny Depp, que na época era até mesmo comparado com o jovem Brando dos anos 1950. Nessa fase de sua carreira Depp estava sempre em busca de desafios. E aqui ele decidiu não apenas atuar, mas também dirigir o filme, o que na época foi visto como uma grande ousadia de sua parte. E isso tudo resultou em um filme bem diferente. Não diria que é para todos os públicos, mas certamente tem seu valor. E com o passar dos anos o filme superou as críticas negativas que lhe foram feitas em seu lançamento e hoje em dia até mesmo ostenta orgulhoso um status de cult movie. Quem poderia prever algo assim quando ele foi lançado?

O Bravo (The Brave, Estados Unidos, 1997) Direção: Johnny Depp / Roteiro: Gregory McDonald, Paul McCudden, Johnny Depp / Elenco: Johnny Depp, Marlon Brando, Marshall Bell / Sinopse: Após muitos anos cumprindo pena, um jovem nativo finalmente ganha a liberdade. Só que fora da prisão as coisas se mostram bem complicadas. Ele precisa de um trabalho, mas ninguém lhe dá uma oportunidade por causa de seu passado. Então ele acaba voltando ao submundo do crime, participando de filmes ilegais, que mostram assassinatos reais. 

A Cartada Final
Como é possível que um filme com um elenco tão maravilhoso como esse (Brando, De Niro e Norton) não conseguiu se tornar um clássico moderno do cinema? Na verdade é pior do que isso, passados 17 anos de seu lançamento original a produção está praticamente esquecida. A produção foi turbulenta. Marlon Brando brigou com o diretor Frank Oz, o despedindo em pleno set de filmagens. A Paramount não aceitou a atitude do ator e manteve Oz como diretor, só que Brando se recusou a trabalhar com ele. 

A solução foi colocar Robert De Niro dirigindo as cenas com Marlon Brando, deixando Oz na direção do restante do filme. Um absurdo e um caos completo. O resultado final ficou confuso, como era de se esperar. Brando, visivelmente entediado e atuando com má vontade, não acrescentou muito. Coube então a Robert De Niro e Edward Norton tentarem salvar o filme no quesito atuação, mas tudo acabou ficando na média mesmo, em um plano convencional. É uma pena que "The Score" no final de tudo não conseguiu cumprir tudo o que se esperava dele. De uma forma ou outra esse foi o último filme de Marlon Brando. Sua despedida do cinema. Pena que essa obra cinematográfica não esteve à altura desse grande acontecimento. 

A Cartada Final (The Score, Estados Unidos,  2001) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Frank Oz / Roteiro: Daniel E. Taylor, Kario Salem / Elenco: Robert De Niro, Edward Norton, Marlon Brando, Angela Bassett, Gary Farmer, Paul Soles / Sinopse: Nick Wells (Robert De Niro) é um ladrão profissional que sempre procurou trabalhar sozinho. Para ele não existe sociedade no mundo do crime. Só que um novo "serviço" surge no horizonte e ele agora precisa unir forças a outro criminoso, Jack Teller (Edward Norton), algo que mudará completamente seus planos iniciais.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Os Filmes de Marlon Brando - Parte 8

Um Novato na Máfia
Outro filme da fase final da carreira do mito Marlon Brando em que ele contracena com um jovem e talentoso ator. Aqui temos Brando dividindo a tela com o ator Matthew Broderick (o eterno Ferris Bueller de “Curtindo a Vida Adoidado”). Seu personagem é claramente uma homenagem / paródia ao seu mais famoso papel, o Don Vito Corleone de “O Poderoso Chefão”. O fato de Brando brincar com esse ícone da história do cinema não foi totalmente bem aceito por muitos críticos que viram na postura do ator um ato de desvalorização com seu trabalho na saga de Francis Ford Coppola. 

Bobagem, Brando já estava em uma fase da vida que podia até mesmo tripudiar sobre seu próprio mito sem necessariamente sair arranhado em seu prestígio por isso. Aqui ele usa praticamente seu figurino tradicional de chefões italianos mas ao contrário de Corleone que tinha como única preocupação proteger seu clã tudo o que o personagem de Brando deseja aqui é realizar um grande jantar gourmet cujo prato principal era uma iguaria exótica, um animal em extinção.
   
E para transportar o tal réptil surge o tal “freshman” (novato, calouro) do título original, que tentará cumprir sua missão. Em sua autobiografia Brando admite que fez o filme única e exclusivamente por dinheiro. Estava precisando de altas somas pois os inúmeros processos judiciais em que se envolveu ao longo da vida (envolvendo ex-mulheres, filhos, filhas e tudo o mais) o tinham deixado esgotado financeiramente. 

Mesmo assim o ator deixa claro que gostou do resultado final. O clima no set era ameno e Brando sempre gostou de trabalhar em ambientes assim . Fora isso aconteceu fatos curiosos durante as filmagens. O filme foi rodado na chamada “Little Italy”, bairro de Nova Iorque com forte presença de imigrantes italianos. Brando conta em seu livro que não conseguiu pagar uma só conta nos restaurantes dessa região. Assim que entrava nos lugares era saudado como um verdadeiro herói pelos italianos donos desses estabelecimentos. 

Some-se a isso o fato de seu prato preferido (Lula) ser de conhecimento notório de todos, o que deixou o ator atônito sobre o vazamento dessa informação pelo bairro (fato que ele atribuiu a Máfia que deixou claro que ele deveria ser tratado com todas as regalias enquanto estivesse em “Little Italy”). Enfim, “Um Novato da Máfia” certamente não é nenhuma obra prima e não pode ser comparado a qualquer outro grande clássico da filmografia de Brando – mas mesmo assim é divertido, agradável, embora inofensivo. Vale como curiosidade e para os fãs de Brando se torna simplesmente imperdível. 

Um Novato na Máfia (The Freshman, Estados Unidos, 1990) Direção: Andrew Bergman / Roteiro: Andrew Bergman / Elenco: Marlon Brando, Matthew Broderick, Bruno Kirby / Sinopse: Jovem inexperiente é contratado por mafioso veterano para realizar uma pequeno serviço: levar uma espécime em extinção para seu restaurante.

Cristóvão Colombo
Em 1992 dois filmes foram realizados para celebrar os 500 anos da histórica viagem de Cristovão Colombo para a América. O primeiro e mais bem sucedido foi 1492, estrelado por Gerard Depardieu. O segundo a chegar nos cinemas foi esse "Cristóvão Colombo: A Aventura do Descobrimento". Se trata de uma produção bem mais modesta, feito com um orçamento mais enxuto e com cenas menos impactantes do que o filme anterior. A intenção era mostrar mais os bastidores da viagem histórica. Assim os grandes personagens que tornaram possível a aventura de Colombo pelos mares ganharam maior visibilidade. 

O grande destaque vinha mesmo do elenco, com a presença do mito Marlon Brando em cena. O ator aceitou voltar ao trabalho por ter se interessado pelo roteiro desse filme, que se preocupava menos em ser grandioso e mais em desenvolver melhor todos os acontecimentos políticos da história real. Seu personagem era o terrível e cruel Tomas de Torquemada, famoso inquisidor espanhol da época. Brando que sempre foi um ativista liberal viu uma oportunidade de criticar a posição da igreja durante os eventos que desencadearam a descoberta do chamado novo mundo. Ele trabalhou com dedicação e afinco mas ficou profundamente decepcionado com a edição final do filme.

Isso foi causado pelo fato de que inúmeras de suas cenas foram cortadas na sala de edição. O estúdio achou a duração final do filme excessiva e tentando deixá-lo mais comercial cortes foram realizados. Um dos grandes prejudicados foi justamente Brando que viu grande parte de seu trabalho ser descartado sem pena pelos produtores. Tão irritado ficou que imediatamente deu algumas entrevistas afirmando que o filme do jeito que ficou era uma grande porcaria e que o público não deveria perder tempo com ele. Uma tentativa de conciliação foi realizada mas em vão. O filme saiu mutilado e Brando continuou a falar mal da produção (sua raiva foi tão intensa que até mesmo em sua autobiografia o ator não perdeu a oportunidade de falar mal do resultado final da produção). Ele até quis que seu nome fosse removido dos créditos mas não conseguiu. 

Por fim entendeu, resignado, que teria que aguentar toda a onda de criticas negativas que viriam após seu lançamento. O curioso é que o filme foi produzido pelos mesmos produtores de "Superman", amigos de Brando de longa data. A amizade porém não sobreviveu a "Colombo". Talvez se tivesse sido dirigido por Ridley Scott (a primeira opção do estúdio) o resultado ficasse mais interessante. Do jeito que ficou mais parece um projeto inacabado, com edição realmente mal feita, deixando a trama truncada e mal desenvolvida. Brando certamente tinha razão em suas reclamações.

Cristóvão Colombo: A Aventura do Descobrimento (Christopher Columbus: The Discovery, Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, 1992) Direção: John Glen / Roteiro: Mario Puzo, John Briley / Elenco: Marlon Brando, Tom Selleck, Georges Corraface, Rachel Ward, Catherine Zeta-Jones, Benicio Del Toro / Sinopse: O filme recria a história do descobrimento do novo mundo por Cristovão Colombo, famoso navegador que procurava um caminho para as índias navegando em direção ao ocidente.

Don Juan DeMarco
Por falar em Johnny Depp não há como esquecer de um de seus filmes mais curiosos, “Don Juan DeMarco”. Na trama ele interpreta um sujeito que está convencido que é o próprio Don Juan dos livros ultra românticos de Lord Byron. Levado ao consultório de um analista (interpretado pelo mito Marlon Brando) ele começa a contar as estórias de sua vida, o que acaba mudando os rumos e o modo de pensar do próprio psiquiatra que começa a ter arroubos de romantismo e sedução com sua companheira. 

Eu credito a esse “Don Juan deMarco” o título de ser um dos últimos filmes realmente bons da carreira de Marlon Brando. O ator interpreta seu personagem com doce frescor, muita suavidade e carinho, fruto obviamente da longa experiência que ele próprio teve em sua vida com esse tipo de profissional. Em sua autobiografia Brando narra várias experiências com analistas com quem se tratou por décadas. Alguns, como ele mesmo brinca, “eram mais malucos que seus próprios pacientes” mas de maneira em geral o ator prezava por esse tipo de tratamento.
   
O primeiro analista que Brando procurou foi ainda na década de 50. Ele estava esgotado emocionalmente e teve uma crise nervosa. Aconselhado por um amigo entrou no ciclo de análises que jamais abandonou, nem mesmo sem seus últimos dias. A parceria com o ator Johnny Depp também chama a atenção. Brando se afeiçoou ao jovem ator e viu nele um tipo de postura ousada e independente que o fez lembrar de si próprio no começo da carreira. Johnny era inclusive um dos poucos profissionais que eram constantemente convidados a visitar a mansão do ator situada em uma colina escondida nos arredores de Los Angeles. 

Brando até mesmo aceitou participar de outro filme ao lado de Depp, um drama sobre as duras condições em que viviam índios pobres nos EUA. Já aqui em “Don Juan DeMarco” não há nada parecido. O filme, apesar de bem dirigido e atuado, não passa de um agradável passatempo. Com trilha sonora de sucesso, puxada pela canção de Bryan Adams (o canadense de baladas românticas e pegajosas) e muito romantismo “Don Juan de Marco” é uma boa pedida para se assistir a dois. Um filme que no final das contas cumpriu bem seu papel.

Don Juan DeMarco (Idem, Estados Unidos, 1994) Direção: Jeremy Leven / Roteiro: Jeremy Leven inspirado no personagem Don Juan de Lord Byron / Elenco: Marlon Brando, Johnny Depp, Faye Dunaway / Sinopse: Analista recebe um curioso paciente em seu consultório. Um jovem que está plenamente convencido que é o próprio Don Juan dos livros românticos.

Pablo Aluísio. 

Os Filmes de Marlon Brando - Parte 7

Apocalypse Now
Um dos maiores clássicos da história do cinema. A idéia não era nova, longe disso. Na verdade se trata de uma adaptação do famoso livro Heart of Darkness de Joseph Conrad. Um dos primeiros cineastas a se interessar em levar para as telas esse texto foi o mitológico Orson Welles. Infelizmente foi mais um dos inúmeros projetos dele que nunca chegaram a virar filme. Coube então ao mestre Francis Ford Coppola encarar o desafio. Logo de cara resolveu que iria modificar completamente o contexto histórico da estória. O diretor em parceria com o roteirista (e também diretor) John Milius decidiu que seria melhor trazer o enredo para algo mais próximo da realidade contemporânea. 

Assim eles levaram todos os anseios, todas as divagações filosóficas e toda a sordidez da trama para o meio da Guerra do Vietnã. O personagem mais enigmático agora seria um Coronel americano completamente enlouquecido que desaparecia no meio das entranhas da selva asiática. Assim que escreveu as últimas linhas de seu novo texto Coppola sabia que apenas um grande ator daria conta da complexidade e das nuances psicológicas desse profundo personagem. 

Marlon Brando, que havia brilhado em “O Poderoso Chefão”, era obviamente um nome ideal para viver o Coronel Kurtz. Após negociações complicadas finalmente Brando resolveu entrar no projeto. Para o papel do Capitão Willard, que sairia em missão pela selva, com o objetivo de encontrar Kurtz, Coppola escolheu Martin Sheen. Ambas as escolhas foram acertadas e tudo parecia correr muito bem. Mal sabia Coppola no pesadelo em que estava prestes a entrar.

As filmagens foram completamente caóticas. Logo no começo dos trabalhos o ator Martin Sheen teve uma parada cardíaca. O clima hostil das Filipinas não ajudava em nada, arrasando cenários e atrasando as filmagens, que logo estouraram o orçamento, levando o estúdio a pressionar cada vez mais o diretor. Brando relembrou em seu livro de memórias o caos reinante. Ele havia surgido no set bem acima do peso, logo entendendo os problemas que assolavam os trabalhos. 

Muitos membros da equipe estavam doentes com doenças tropicais e Coppola tentava de forma desesperada colocar alguma ordem naquela confusão. Brando então resolveu colaborar, participando de forma muito mais ativa do que costumava fazer. Começou a mexer no roteiro, trazendo novas idéias para o diretor. Também resolveu, por conta própria, cortar todo o cabelo, ficando completamente careca (uma decisão que se mostraria muito acertada como se pode ver depois que o filme ficou pronto). Sua intenção era criar uma imagem mítica para seu personagem, que surgiria como um Buda insano no meio da selva. 

Como não era um ator comum, que aceitasse scripts e roteiros sem discutir, resolveu mexer em seu personagem cada vez mais. Aconselhou Coppola a deixar Kurtz dentro de uma penumbra de mistério e sombras durante todo o filme, só surgindo de forma triunfante na cena final. Essa foi outra ótima sugestão de Brando para Apocalypse Now. De fato ele praticamente roubou o filme em seus minutos finais em um longo e conturbado monólogo – em que o ator misturou diálogos previamente escritos com pura improvisação, colocando inclusive pensamentos e devaneios de sua própria vida pessoal. 

Usando desse recurso Brando conseguiu produzir um de seus maiores momentos no cinema. Ele próprio reconheceria depois que Coppola era realmente um gênio pois lhe abriu espaço dentro do filme para atuar e colocar suas aptidões cênicas com total liberdade. O resultado final foi simplesmente uma das maiores obras primas da história do cinema. Um filme sensorial, sombrio e muito complexo sob qualquer ângulo que se analise.

E como toda grande obra prima o filme causou reações diversas em seu lançamento. Não era o corte ideal para Coppola, ele fez várias concessões comerciais ao estúdio que queria um filme menos profundo e complexo porém mais acessível. Mesmo assim Coppola conseguiu chegar a uma versão intermediária que agradou tanto a ele como ao estúdio (só depois de muitos anos o diretor conseguiria lançar o filme do jeito que inicialmente planejou). 

“Apocalypse Now” é uma notável crônica sobre a América e seu envolvimento na guerra do Vietnã, um conflito sem sentido, moldado por interesses obscuros e contraditórios. O Coronel Kurtz, brilhantemente interpretado por Marlon Brando, era um retrato do enlouquecimento não apenas de um homem perdido no meio da selva mas também um retrato da própria insanidade do envolvimento americano no Vietnã. Era a América perdendo sua própria razão e racionalidade. O resultado final de tantos talentos trabalhando juntos não poderia resultar em outra coisa. “Apocalypse Now” é uma obra de arte simplesmente magnífica.

Apocalypse Now (Apocalypse Now, Estados Unidos, 1979) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola, John Milius, Michael Herr baseados no livro Heart of Darkness de Joseph Conrad / Elenco: Marlon Brando, Robert Duvall, Martin Sheen, Frederic Forrest, Albert Hall, Sam Bottoms, Laurence Fishburne, Dennis Hopper / Sinopse: O capitão Willard (Martin Sheen) parte em busca do paradeiro do Coronel Kurtz (Marlon Brando) que desapareceu nas entranhas da selva do Vietnã. A busca irá se transformar em um pesadelo de delírio e insanidade. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Premiado com os Oscars nas categorias Melhor Fotografia e Melhor Som. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante (Robert Duvall) e Melhor Trilha Sonora Original.

A Fórmula
Em sua autobiografia o ator Marlon Brando explica que só decidiu fazer esse filme por causa do roteiro, que explorava essa questão corporativa do mundo sórdido dos negócios escusos. Ele queria explorar o mal que existia por trás de certas indústrias. E também deixa claro que não fez o filme por dinheiro, recebendo o cachê mínimo do sindicato de atores. Também contribuiu o fato do filme ter George C. Scott no elenco que era amigo pessoal de Brando, seu vizinho em um bairro de Los Angeles. 

E também um dos melhores atores de sua geração. E não havia apenas ele. Tinha também o shakesperiano John Gielgud, ou seja, três monstros vivos do mundo da arte dramática. Pena que esse foi um caso de filme menor para elenco grandioso. Inegavelmente "A Fórmula" é um filme que não está à altura desse elenco fenomenal e primoroso. A direção também soa um tanto preguiçosa, deixando o filme cair em um certo marasmo.

A Fórmula (The Formula, Estados Unidos, 1980) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: John G. Avildsen / Roteiro: Steve Shagan / Elenco: George C. Scott, Marlon Brando, Marthe Keller, John Gielgud, Beatrice Straight, Richard Lynch / Sinopse: A fórmula de produção de combustível sintético, inventada pelos nazistas no final da Segunda Guerra Mundial, é procurada por alguns homens de negócios que pretendem vendê-la e por outros que desejam destruí-la. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor direção de fotografia (James Crabe).

Assassinato Sob Custódia
Em um momento que se fala tanto em racismo estrutural, um filme como esse, que retrata o racismo como política de Estado, é mais do que providencial. Esse foi um dos últimos filmes da carreira de Marlon Brando. Ele só aceitou o convite para participar do filme por causa de seu tema. Não é segredo para ninguém que Marlon Brando defendeu ao longo de toda a sua vida uma agenda progressista. 

O tema do racismo lhe era muito caro. Ele participou de inúmeros movimentos em favor dos direitos sociais dos negros americanos durante a década de 1960 e não ia deixar passar em brancas nuvens um roteiro como esse. Para Brando não havia nada de mais infame do que o regime do Apartheid na África do Sul, onde negros e brancos eram separados por leis do próprio Estado. Havia áreas nobres que eram exclusivas para brancos, as melhores terras, as melhores plantações. Nenhum negro africano poderia colocar os pés nessas regiões pois seriam mortos. 

Caso um nativo entrasse nessas fazendas sem autorização levaria um tiro sem piedade. E ninguém seria preso por isso. Era direito dos brancos matar negros que entrassem em sua propriedade sem aviso ou autorização. Para os negros sobravam as favelas, as regiões sem condições de habitação, sem saneamento básico, segurança, nada! Para o branco colonizador vindo da Europa havia o melhor do país. Para os negros nativos, apenas a escória. Então, mesmo que esse filme seja considerado não tão bom por muitos, sua mensagem já prova o valor de sua existência. Em tempos atuais, quando o racismo volta a ganhar força, não deixa de ser relevante rever uma produção como essa.

Assassinato Sob Custódia (A Dry White Season, Estados Unidos, 1989) Estúdio: Davros Films, Star Partners / Direção: Euzhan Palcy / Roteiro: Colin Welland / Elenco: Donald Sutherland, Marlon Brando, Susan Sarandon, Janet Suzman, Gerard Thoolen, Susannah Harker / Sinopse: Baseado no livro escrito por André P. Brink, o filme "Assassinato Sob Custódia" conta a história de um homem comum que decide ajudar seu ajudante negro a encontrar seu filho desaparecido. Isso serve para lhe mostrar os horrores do regime racista da África do Sul, seu sistema político e as atrocidades cometidas em nome de uma ideologia de segregação racial. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator (Marlon Brando).

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 3 de julho de 2007

Os Filmes de Marlon Brando - Parte 6

O Poderoso Chefão
Um dos grandes clássicos da história do cinema americano o filme segue inspirando cineastas e conquistando novas gerações. Baseado na obra imortal do escritor Mario Puzo o filme resistiu muito bem ao tempo mesmo revendo nos dias atuais sob uma ótica mais contemporânea. E pensar que o projeto quase foi arquivado pela Paramount por achá-lo fora de moda e sem chances de trazer grande retorno de bilheteria. Apenas a persistência pessoal do produtor Robert Evans salvou o filme, pois insistiu muito na idéia de trazer do papel para a tela a saga da família Corleone. 

Até a escalação do elenco gerou brigas internas dentro do estúdio. A simples menção do nome de Marlon Brando já causava arrepios na direção da Paramount. O ator era considerado naquele momento um astro decadente que havia arruinado sua carreira com brigas e confusões nos sets de filmagens pelos quais passou. Além de seu temperamento imprevisível Brando já não era mais visto como sinônimo de bilheteria há muito tempo pois suas últimas produções tinham se tornado grandes fracassos de público e crítica. 

A Paramount definitivamente não queria nem ouvir falar no nome do ator. Foi Evans que comprou a briga e apostou em Brando novamente. Ele inclusive teve que se passar por uma verdadeira humilhação para um nome de seu porte: fazer um teste de câmera para o papel, algo só destinado para novatos e inexperientes atores em começo de carreira. Como estava desesperado para voltar ao primeiro time Brando topou a situação, encheu as bochechas de algodão e mostrou sua visão pessoal de Vito Corleone para os chefões do estúdio. 

O resultado veio logo após quando todos ficaram maravilhados com o resultado. Certamente não havia mais dúvida e Brando foi contratado. Visto hoje em dia o filme se mostra muito atual e resistente ao tempo. Um de seus trunfos vem justamente da brilhante interpretação de Brando. Como conta em seu livro o ator não interpretou Corleone como um facínora e criminoso mas apenas como um pai de família que fez o que tinha que ser feito para proteger seus filhos. Brando inclusive chega a afirmar que Corleone seria mais ético e honesto do que muito executivo de multinacional que coloca os interesses de sua empresa acima do bem comum de todos. Sua postura de respeito com o personagem se mostrou muito acertada. No final todos ficaram gratificados. 

"O Poderoso Chefão" que foi realizado ao custo de meros seis milhões de dólares rendeu mais de trezentos milhões em bilheteria. Além disso foi premiado com os Oscars de Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Filme e Roteiro Adaptado e foi indicado aos de Ator Coadjuvante (James Caan, Robert Duvall e Al Pacino), Figurino, Direção, Edição, Trilha Sonora e Som. Um êxito sem precedentes. O Oscar de melhor ator para Marlon Brando aliás foi recusado por ele por causa do tratamento indigno que o cinema americano dava aos povos indígenas. 

O ator mandou uma atriz interpretar uma jovem índia na noite de entrega do prêmio, fato que causou muitas reações, inclusive de membros da Academia como John Wayne que quis entrar no palco para acabar com aquilo que em sua visão era uma "verdadeira palhaçada"! Quem pode entender os gênios como Brando afinal? Enfim escrever sobre "The Godfather" é secundário. O mais importante mesmo é assistir a essa grande obra prima de nosso tempo.  

O Poderoso Chefão (The Godfather, Estados Unidos, 1972) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola, Mario Puzo / Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, John Cazale, Richard Conte, Robert Duvall, Diane Keaton. / Sinopse: "O Poderoso Chefão" conta a saga de uma família de imigrantes italianos liderados pelo grande patriarca Dom Vito Corleone (Marlon Brando).  

Último Tango em Paris
Um homem bem mais velho conhece uma bela jovem em Paris. O casal então começa um tórrido relacionamento sexual. Vale praticamente tudo entre eles,  sem limites, mas há claramente um óbvio distanciamento emocional entre eles. Não se conhecem de verdade e nem sabem nada um do outro. Essa singlea sinopse não revela toda a complexida envolvida nesse romance cinematográfico completamente fora do comum. 

Quando Marlon Brando foi para a Europa fazer esse filme, ele estava mais do que consagrado pelo sucesso de "O Poderoso Chefão". Havia sido escolhido o melhor ator do ano, mas recusou o Oscar, o que causou um alvoroço em Hollywood. Curiosamente ele escolheu esse filme até como uma forma de rejeitar Hollywood e todo seu superficialismo cultural. E nessa produção o ator teve liberdade completa para criar seu personagem. Praticamente não havia um roteiro e nem muito menos um script. 

As falas de Brando que se vê em cena são pura espontaneidade. Ele apenas ia falando o que vinha em sua mente. Tudo improvisado. O diretor apenas lhe dava uma premissa básica e Brando fazia o que tinha vontade. Nunca ele havia tido tanta liberdade como ator e talvez por essa razão tenha abraçado tanto esse projeto. Muitos anos depois o próprio Brando escreveria em sua autobiografia que ele não tinha a mínima ideia da proposta daquela história. 

Só sabia que era arte pura. Um tipo de liberdade criativa que ele nunca havia experimentado em Hollywood e que nunca mais iria experimentar de novo pelo resto de sua carreira. Sem dúvida um filme inovador e até mesmo experimental. Talvez por isso seja tão elogiado até mesmo nos dias atuais. 

Último Tango em Paris (Ultimo tango a Parigi, Estados Unidos, Itália, França, 1972) Estúdio: Produzioni Europee Associate (PEA) / Direção: Bernardo Bertolucci / Roteiro: Bernardo Bertolucci, Franco Arcalli / Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider, Maria Michi / Sinopse: O filme conta a história de um conturbado relacionamento amoroso entre um homem mais velho e uma jovem. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Marlon Brando) e melhor direção (Bernardo Bertolucci).

Duelo de Gigantes
Um rancheiro decide contratar o pistoleiro Lee Clayton (Marlon Brando) para proteger sua família e sua propriedade. A região está sendo assolada por um bandoleiro e bandido conhecido como Tom Logan (Jack Nicholson), um renegado que agora vive de seus crimes violentos. Essa é a sinopse desse western que reuniu na mesma tela dois dos melhores atores da história de Hollywood. 

Esse western entraria para a história do cinema mesmo que tivesse um fraco roteiro e uma produção ruim (o que definitivamente não é o caso aqui). O fato é que o filme entrou mesmo na história da sétima arte porque reuniu pela primeira e única vez dois monstros da atuação, Marlon Brando e Jack Nicholson. Eram amigos na vida real, se admiravam e eram vizinhos em um bairro nobre de Hollywood. Porém nunca tiveram a oportunidade de atuar juntos antes. 

Por isso Marlon Brando nem pensou duas vezes antes de aceitar o convite de atuar nesse filme. Ele nem tinha mais pretensões de trabalhar em um faroeste, pois considerava que já havia feito muito pelo gênero cinematográfico, porém a chance de atuar com Jack Nicholson era irecusável. Curiosamente Brando muitas vezes ignorou o roteiro original, trazendo elementos novos para seu personagem. 

Ele transformou seu pistoleiro em um tipo exótico, dado a bizarrices, como se vestir de mulher. Nada disso estava no roteiro original. Já Jack Nicholson optou por ir em um caminho mais convencional. Seguiu à risca o que pedia o texto. No final de tudo esse "duelo" de grandes atores só teve um vencedor, o próprio espectador, que conseguiu ver dois ícones do cinema no mesmo filme. Realmente um encontro memorável.

Duelo de Gigantes (The Missouri Breaks, Estados Unidos, 1976) Estúdio: United Artists / Direção: Arthur Penn / Roteiro: Thomas McGuane / Elenco: Marlon Brando, Jack Nicholson, Randy Quaid, Harry Dean Stanton, Kathleen Lloyd, Frederic Forrest / Sinopse: No Velho Oeste um pistoleiro completamente fora do comum é contratado para um "serviço" violento que não deve deixar restros.

Superman
Na iminência da destruição de seu planeta Kripton, Jor-El (Marlon Brando) decide enviar seu filho recém nascido para um planeta distante chamado Terra nos confins do universo. Assim começa a aventura de Superman, um dos super-heróis mais populares e influentes da cultura pop. Para aquele que é considerado o primeiro grande personagem do universo de quadrinhos a Warner resolveu caprichar na realização desse filme. A publicidade de Superman garantia que o espectador iria acreditar que o homem poderia voar. Depois do lançamento ninguém mais tinha dúvidas sobre isso. 

Superman é até hoje uma das melhores adaptações já feitas de quadrinhos para o cinema. A produção classe A acerta em praticamente todos os aspectos: elenco, direção, efeitos especiais e roteiro. Poucas vezes na história do cinema se viu um filme em que tantos elementos se encaixavam tão perfeitamente. 

Os efeitos especiais certamente envelheceram pois foram feitos em uma época em que não havia ainda efeitos digitais. Mesmo assim visto atualmente temos que admitir que se tornaram bem charmosos, além de dar um status cult para a produção em si. As cenas em que Superman voa pela primeira vez, por exemplo, não perderam impacto mesmo nos dias de hoje. 

Além de visualmente deslumbrante Superman ainda contava com uma trilha sonora imortal que até hoje emociona. A música tema composta por John Williams ainda soa poderosa e evocativa, mesmo após tantos anos. O elenco de Superman é formidável a começar pela escolha de Christopher Reeve para interpretar o personagem título. Eu costumo dizer que não basta ter apenas a estampa, o porte físico de Superman para se sair bem nesse papel. Tem que ser bom ator e a razão é simples: para interpretar Clark Kent o ator tem que ser versátil. Por isso tantos fracassaram. 

Nessa questão Christopher Reeve foi brilhante pois atuou maravilhosamente bem tanto na pele do super-herói quanto na pele de seu alter ego, o jornalista tímido e atrapalhado Clark Kent. Outro destaque sempre lembrado desse filme é a presença do mito Marlon Brando. Fazendo o papel do pai de Superman ele rouba a parte inicial do filme. Curiosamente Brando quase não embarca nessa aventura pelo cachê absurdo que cobrou. 

Após analisar bem o estúdio entendeu que ter Marlon Brando no elenco não tinha preço pois ele certamente traria muito prestígio para o filme como um todo. Foi contratado e mais uma vez arrasou em cena. Como se não bastasse a presença desses dois maravilhosos profissionais o filme ainda contava com um elenco de apoio simplesmente incrível: Gene Hackman e o veterano Glenn Ford (na pele do pai terrestre de Kent). 

Em breve teremos mais uma adaptação do personagem para as telas, novamente pelos estúdios Warner e novamente contando com uma produção milionária. Será que vai conseguir superar esse filme definitivo sobre o homem de aço? Eu duvido muito. Algumas produções são simplesmente definitivas como essa. Nota 10 com louvor. 

Superman - O Filme (Superman, Estados Unidos, 1978) Direção: Richard Donner / Roteiro: Mario Puzo, David Newman, Leslie Newman, Robert Benton baseados no personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster / Elenco: Christopher Reeve, Marlon Brando, Gene Hackman, Glenn Ford, Margot Kidder, Susannah York, Terence Stamp / Sinopse: "Superman" de 1978 conta as origens do personagem tão popular do universo de quadrinhos. Nascido em Kripton adquire super poderes em nosso planeta. Um ícone da cultura pop em excelente produção dos estúdios Warner.

Pablo Aluísio. 

Os Filmes de Marlon Brando - Parte 5

Candy
Uma jovem e inocente garota colegial, conhecida apenas como Candy (Docinho) acaba conhecendo uma longa série de homens mais velhos, alguns bem interessantes, outros completamente malucos. E nessas experiências vai aprendendo sobre o amor, a vida e a felicidade. E tudo vai acontecendo em plena era do flower power, no mágico ano de 1968, em pleno auge do movimento hippie. Em sua autobiografia, em um momento de confissão e lucidez, Brando reconheceu que fez filmes bem ruins ao longo de sua carreira. Um exemplo que ele citou foi justamente esse "Candy". Para Brando fazer esse filme foi um dos maiores erros de sua carreira. Apenas aceitou o convite porque se considerava muito amigo do diretor Christian Marquand e não teve coragem de lhe dizer não! Iria se arrepender amargamente nos anos seguintes. 

O filme foi feito no período em que nada parecia dar certo na vida do ator. Muitos problemas pessoais envolvendo suas ex-esposas e na vida profissional as coisas também não iam bem, com sucessivos fracassos de bilheteria. De uma coisa tenho certeza, Brando acertou em sua avaliação pessoal. Esse filme é muito ruim mesmo. Nada parece certo, passando pela história boboca, indo pelos figurinos bizarros e até mesmo pela má interpretação do próprio Brando. E olha que seu elenco está cheio de gente famosa da época, mas nada disso pareceu melhorar um filme fadado a ser muito fraco. Enfim, um erro da primeira à última cena. O pior filme de Marlon Brando, sem dúvida! 

Candy (Candy, Estados Unidos,, França, 1968) Estúdio: American Broadcasting Company (ABC) / Direção: Christian Marquand / Roteiro: Buck Henry, Terry Southern / Elenco: Ewa Aulin, Richard Burton, Marlon Brando, Charles Aznavour, James Coburn, John Huston, Walter Matthau, Ringo Starr / Sinopse: A vida e os amores de uma jovem americana em um dos períodos mais efervescentes, do ponto de vista cultural, da história dos Estados Unidos. 

A Noite do Dia Seguinte
Um filme de Marlon Brando que não é tão conhecido. Na verdade foi produzido em um momento de baixa na sua carreira. Talvez por isso também seja tão modesto em suas pretensões artísticas. É um filme que se propõe a contar apenas uma boa história de crime. Nada mais. E olhando-se sob esse ponto de vista até que ele funciona muito bem. Então qual é a história que esse filme nos conta? Marlon Brando interpreta o membro de uma quadrilha de sequestradores americanos que resolve raptar a jovem filha de um banqueiro rico. Ela desce do avião em Paris e cai numa armadilha. O personagem de Brando, vestido como motorista, a engana. Ela então é levada para uma casa isolada, próximo à costa. Após ser presa em seu cativeiro começam as negociações.

O plano do sequestro é bem elaborado. O problema são os criminosos. Apenas o personagem de Brando parece ter a mente no lugar. Os demais são problemáticos. Rita Moreno interpreta uma aeromoça que trabalha com os criminosos. Ela tem participação importante no sequestro, mas viciada em drogas, está sempre em busca de cocaína. Assim ela coloca quase tudo a perder. A atriz ficou perdidamente apaixonada por Brando no filme e chegou até mesmo a tentar se matar! Pior de todos é o criminoso mais velho do grupo, um sujeito perverso, cruel, com ares de psicopatia. Enfim, temos aqui um bom filme, um thriller criminal onde nada parece caminhar para um final feliz - e realmente não vá esperando por isso. Brando tem uma atuação contida. Fisicamente ele está muito bem, magro, com cabelos loiros e com elegante figurino. Só não parece ter se esforçado muito em seu papel.

A Noite do Dia Seguinte (The Night of the Following Day, Estados Unidos, 1969) Direção: Hubert Cornfield / Roteiro:Hubert Cornfield, Robert Phippeny / Elenco: Marlon Brando, Richard Boone, Rita Moreno / Sinopse: A filha de um rico banqueiro norte-americano é sequestrada em Paris. Os criminosos planejam bem o crime, exigindo alguns milhões de dólares de resgate, mas algo acaba saindo completamente errado do que havia sido planejado.

Queimada
Muitas pessoas foram surpreendidas quando a autobiografia de Marlon Brando foi lançada e nela o ator considerava esse o seu melhor filme! Ninguém tinha a menor ideia de que ele gostava tanto desse filme, até porque comercialmente não foi uma produção bem sucedida, muito pelo contrário. E essa sensação de exagero por parte do ator fica ainda mais evidenciado quando assistimos a esse filme nos dias de hoje. Está mais para a linguagem do cinema italiano da época do que da forma de se produzir filmes em Hollywood. Há claramente uma sensação, ao assistirmos ao filme, de que estamos vendo uma obra cinematográfica quase amadora, tanto no aspecto de cenários, figurinos, edição e direção de arte de uma forma em geral, como também do próprio roteiro, que me pareceu bem truncado. 

Penso que Brando gostou mais de fazer o filme do que propriamente do que viu na tela. E tiro essa onclusão do próprio texto escrito pelo ator em seu livro. Ele não parece dizer, em momento algum, que foi um grande filme, mas que sim, certamente se lembrou de todas as histórias inusitadas que viveu no set de filmagens. Brando tinha uma relação muito conturbada com esse diretor italiano e quando descobriu que ele tinha várias superstições resolveu brincar no set, o que quase levou esse diretor à loucura. Só lendo sua autobiografia para conferir. De minha parte penso que é apenas um filme regular, bem mediano mesmo. Hoje em dia não seria nada bem recebido pela crítica mundial (como na época também não foi, diga-se de passagem). 

Queimada (Burn!, Itália, França, Estados Unidos, 1969) Direção: Gillo Pontecorvo / Roteiro: Franco Solinas, Giorgio Arlorio / Elenco: Marlon Brando, Evaristo Márquez, Renato Salvatori / Sinopse: Em 1844, um mercenário britânico ajuda os escravos revoltados de uma colónia insular das Antilhas a conquistar a independência de Portugal, mas depois regressa para caçar um líder rebelde local e antigo protegido.

Os que Chegam com a Noite
Durante sua longa carreira o ator Marlon Brando poucas vezes flertou com o gênero terror! Um profissional formado no Actors Studio, em Nova Iorque, ele certamente pensou que esse estilo de cinema jamais cruzaria seu caminho. Uma breve e rara exceção ocorreu com esse "Os Que Chegam Com a Noite". Não era essencialmente um filme tradicional no gênero, mas apostava em um enredo que seria uma espécie de prévia do que acontecia em um dos filmes de terror mais clássicos da história do cinema, "Os Inocentes" de 1961. Nesse primeiro filme Deborah Kerr teve uma de suas mais elogiadas atuações. Anos depois decidiu-se contar o que teria acontecido antes da trama de "Os Inocentes". O resultado foi esse hoje considerado cult "Os Que Chegam com a Noite". Aliás uma boa dobradinha para o cinéfilo seria assistir os dois filmes em sequência. Primeiro o de Deboarh Kerr, depois esse com Marlon Brando.

Esse foi o último filme que Marlon Brando fez antes de sua consagração em "O Poderoso Chefão". Ele foi filmado na Inglaterra, o que levou muitos jornalistas a decretarem o fim de sua carreira na época! Muitos diziam que nenhum estúdio de Hollywood bancaria mais filmes com o ator, não apenas por seu terrível temperamento nas filmagens, mas também porque Brando não significava mais retorno imediato nas bilheterias, uma vez que seus últimos lançamentos se tornaram fracassos comerciais. Processado por ex-mulheres, sendo perseguido pela imprensa por causa de sua disfuncional vida familiar, o ator não viu outra saída senão trocar de ares - o que fez muito bem. "Os Que Chegam Com a Noite" é um filme por demais interessante. Todo rodado na Inglaterra rural a produção também se apresenta como um prequel do famoso livro de Henry James, "Turn of the Screw" (no Brasil, "A Volta do Parafuso").

Certamente eu já tinha propensão a gostar desse estilo de filme por dois motivos: gosto de tramas passadas na Inglaterra rural (sou fã de cineastas como James Ivory) e tenho a tendência de sempre gostar das atuações de Marlon Brando, mesmo quando ele não está particularmente inspirado. Aqui o ator se apresenta de forma natural, sem exageros à la Actors Studio. O personagem simplista, um trabalhador comum chamado Peter Quint, caiu como uma luva para a personalidade do ator. Cabelos grisalhos, grandes e despenteados Brando dá um tom selvagem e indomado ao criado da bela mansão do filme e mais uma vez rouba as atenções para si. Também gostei do clima bucólico que reina em praticamente todo o filme. O que acaba enganando o espectador pois por baixo dessa normalidade se esconde uma situação terrível, o que desencadeará eventos macabros. É uma daquelas tramas que parecem caminhar para uma direção, mas que no final chegará em algo completamente diverso do que o espectador estava esperando. O terror é psicológico, sutil e no final se mostra bem impactante.

Os Que Chegam Com a Noite (The Nightcomers, Inglaterra, 1971) Direção: Michael Winner / Roteiro: Michael Hastings inspirado na obra de Henry James, "A Volta do Parafuso" / Elenco: Marlon Brando, Stephanie Beacham, Thora Hird / Sinopse: O filme mostra os acontecimentos que antecedem a trama do livro "A Volta do Parafuso" do consagrado escritor Henry James. Na história o trabalhador Peter Quint (Marlon Brando) acaba se aproximando de uma família rica, numa propriedade rural na Inglaterra. Isso dará origem a eventos trágicos e terríveis. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Marlon Brando).

Pablo Aluísio.