Um dos grandes clássicos da história do cinema americano o filme segue inspirando cineastas e conquistando novas gerações. Baseado na obra imortal do escritor Mario Puzo o filme resistiu muito bem ao tempo mesmo revendo nos dias atuais sob uma ótica mais contemporânea. E pensar que o projeto quase foi arquivado pela Paramount por achá-lo fora de moda e sem chances de trazer grande retorno de bilheteria. Apenas a persistência pessoal do produtor Robert Evans salvou o filme, pois insistiu muito na idéia de trazer do papel para a tela a saga da família Corleone.
Até a escalação do elenco gerou brigas internas dentro do estúdio. A simples menção do nome de Marlon Brando já causava arrepios na direção da Paramount. O ator era considerado naquele momento um astro decadente que havia arruinado sua carreira com brigas e confusões nos sets de filmagens pelos quais passou. Além de seu temperamento imprevisível Brando já não era mais visto como sinônimo de bilheteria há muito tempo pois suas últimas produções tinham se tornado grandes fracassos de público e crítica.
A Paramount definitivamente não queria nem ouvir falar no nome do ator. Foi Evans que comprou a briga e apostou em Brando novamente. Ele inclusive teve que se passar por uma verdadeira humilhação para um nome de seu porte: fazer um teste de câmera para o papel, algo só destinado para novatos e inexperientes atores em começo de carreira. Como estava desesperado para voltar ao primeiro time Brando topou a situação, encheu as bochechas de algodão e mostrou sua visão pessoal de Vito Corleone para os chefões do estúdio.
O resultado veio logo após quando todos ficaram maravilhados com o resultado. Certamente não havia mais dúvida e Brando foi contratado. Visto hoje em dia o filme se mostra muito atual e resistente ao tempo. Um de seus trunfos vem justamente da brilhante interpretação de Brando. Como conta em seu livro o ator não interpretou Corleone como um facínora e criminoso mas apenas como um pai de família que fez o que tinha que ser feito para proteger seus filhos. Brando inclusive chega a afirmar que Corleone seria mais ético e honesto do que muito executivo de multinacional que coloca os interesses de sua empresa acima do bem comum de todos. Sua postura de respeito com o personagem se mostrou muito acertada. No final todos ficaram gratificados.
"O Poderoso Chefão" que foi realizado ao custo de meros seis milhões de dólares rendeu mais de trezentos milhões em bilheteria. Além disso foi premiado com os Oscars de Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Filme e Roteiro Adaptado e foi indicado aos de Ator Coadjuvante (James Caan, Robert Duvall e Al Pacino), Figurino, Direção, Edição, Trilha Sonora e Som. Um êxito sem precedentes. O Oscar de melhor ator para Marlon Brando aliás foi recusado por ele por causa do tratamento indigno que o cinema americano dava aos povos indígenas.
O ator mandou uma atriz interpretar uma jovem índia na noite de entrega do prêmio, fato que causou muitas reações, inclusive de membros da Academia como John Wayne que quis entrar no palco para acabar com aquilo que em sua visão era uma "verdadeira palhaçada"! Quem pode entender os gênios como Brando afinal? Enfim escrever sobre "The Godfather" é secundário. O mais importante mesmo é assistir a essa grande obra prima de nosso tempo.
O Poderoso Chefão (The Godfather, Estados Unidos, 1972) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola, Mario Puzo / Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, John Cazale, Richard Conte, Robert Duvall, Diane Keaton. / Sinopse: "O Poderoso Chefão" conta a saga de uma família de imigrantes italianos liderados pelo grande patriarca Dom Vito Corleone (Marlon Brando).
Último Tango em Paris
Um homem bem mais velho conhece uma bela jovem em Paris. O casal então começa um tórrido relacionamento sexual. Vale praticamente tudo entre eles, sem limites, mas há claramente um óbvio distanciamento emocional entre eles. Não se conhecem de verdade e nem sabem nada um do outro. Essa singlea sinopse não revela toda a complexida envolvida nesse romance cinematográfico completamente fora do comum.
Quando Marlon Brando foi para a Europa fazer esse filme, ele estava mais do que consagrado pelo sucesso de "O Poderoso Chefão". Havia sido escolhido o melhor ator do ano, mas recusou o Oscar, o que causou um alvoroço em Hollywood. Curiosamente ele escolheu esse filme até como uma forma de rejeitar Hollywood e todo seu superficialismo cultural. E nessa produção o ator teve liberdade completa para criar seu personagem. Praticamente não havia um roteiro e nem muito menos um script.
As falas de Brando que se vê em cena são pura espontaneidade. Ele apenas ia falando o que vinha em sua mente. Tudo improvisado. O diretor apenas lhe dava uma premissa básica e Brando fazia o que tinha vontade. Nunca ele havia tido tanta liberdade como ator e talvez por essa razão tenha abraçado tanto esse projeto. Muitos anos depois o próprio Brando escreveria em sua autobiografia que ele não tinha a mínima ideia da proposta daquela história.
Só sabia que era arte pura. Um tipo de liberdade criativa que ele nunca havia experimentado em Hollywood e que nunca mais iria experimentar de novo pelo resto de sua carreira. Sem dúvida um filme inovador e até mesmo experimental. Talvez por isso seja tão elogiado até mesmo nos dias atuais.
Último Tango em Paris (Ultimo tango a Parigi, Estados Unidos, Itália, França, 1972) Estúdio: Produzioni Europee Associate (PEA) / Direção: Bernardo Bertolucci / Roteiro: Bernardo Bertolucci, Franco Arcalli / Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider, Maria Michi / Sinopse: O filme conta a história de um conturbado relacionamento amoroso entre um homem mais velho e uma jovem. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Marlon Brando) e melhor direção (Bernardo Bertolucci).
Duelo de Gigantes
Um rancheiro decide contratar o pistoleiro Lee Clayton (Marlon Brando) para proteger sua família e sua propriedade. A região está sendo assolada por um bandoleiro e bandido conhecido como Tom Logan (Jack Nicholson), um renegado que agora vive de seus crimes violentos. Essa é a sinopse desse western que reuniu na mesma tela dois dos melhores atores da história de Hollywood.
Esse western entraria para a história do cinema mesmo que tivesse um fraco roteiro e uma produção ruim (o que definitivamente não é o caso aqui). O fato é que o filme entrou mesmo na história da sétima arte porque reuniu pela primeira e única vez dois monstros da atuação, Marlon Brando e Jack Nicholson. Eram amigos na vida real, se admiravam e eram vizinhos em um bairro nobre de Hollywood. Porém nunca tiveram a oportunidade de atuar juntos antes.
Por isso Marlon Brando nem pensou duas vezes antes de aceitar o convite de atuar nesse filme. Ele nem tinha mais pretensões de trabalhar em um faroeste, pois considerava que já havia feito muito pelo gênero cinematográfico, porém a chance de atuar com Jack Nicholson era irecusável. Curiosamente Brando muitas vezes ignorou o roteiro original, trazendo elementos novos para seu personagem.
Ele transformou seu pistoleiro em um tipo exótico, dado a bizarrices, como se vestir de mulher. Nada disso estava no roteiro original. Já Jack Nicholson optou por ir em um caminho mais convencional. Seguiu à risca o que pedia o texto. No final de tudo esse "duelo" de grandes atores só teve um vencedor, o próprio espectador, que conseguiu ver dois ícones do cinema no mesmo filme. Realmente um encontro memorável.
Duelo de Gigantes (The Missouri Breaks, Estados Unidos, 1976) Estúdio: United Artists / Direção: Arthur Penn / Roteiro: Thomas McGuane / Elenco: Marlon Brando, Jack Nicholson, Randy Quaid, Harry Dean Stanton, Kathleen Lloyd, Frederic Forrest / Sinopse: No Velho Oeste um pistoleiro completamente fora do comum é contratado para um "serviço" violento que não deve deixar restros.
Superman
Na iminência da destruição de seu planeta Kripton, Jor-El (Marlon Brando) decide enviar seu filho recém nascido para um planeta distante chamado Terra nos confins do universo. Assim começa a aventura de Superman, um dos super-heróis mais populares e influentes da cultura pop. Para aquele que é considerado o primeiro grande personagem do universo de quadrinhos a Warner resolveu caprichar na realização desse filme. A publicidade de Superman garantia que o espectador iria acreditar que o homem poderia voar. Depois do lançamento ninguém mais tinha dúvidas sobre isso.
Superman é até hoje uma das melhores adaptações já feitas de quadrinhos para o cinema. A produção classe A acerta em praticamente todos os aspectos: elenco, direção, efeitos especiais e roteiro. Poucas vezes na história do cinema se viu um filme em que tantos elementos se encaixavam tão perfeitamente.
Os efeitos especiais certamente envelheceram pois foram feitos em uma época em que não havia ainda efeitos digitais. Mesmo assim visto atualmente temos que admitir que se tornaram bem charmosos, além de dar um status cult para a produção em si. As cenas em que Superman voa pela primeira vez, por exemplo, não perderam impacto mesmo nos dias de hoje.
Além de visualmente deslumbrante Superman ainda contava com uma trilha sonora imortal que até hoje emociona. A música tema composta por John Williams ainda soa poderosa e evocativa, mesmo após tantos anos. O elenco de Superman é formidável a começar pela escolha de Christopher Reeve para interpretar o personagem título. Eu costumo dizer que não basta ter apenas a estampa, o porte físico de Superman para se sair bem nesse papel. Tem que ser bom ator e a razão é simples: para interpretar Clark Kent o ator tem que ser versátil. Por isso tantos fracassaram.
Nessa questão Christopher Reeve foi brilhante pois atuou maravilhosamente bem tanto na pele do super-herói quanto na pele de seu alter ego, o jornalista tímido e atrapalhado Clark Kent. Outro destaque sempre lembrado desse filme é a presença do mito Marlon Brando. Fazendo o papel do pai de Superman ele rouba a parte inicial do filme. Curiosamente Brando quase não embarca nessa aventura pelo cachê absurdo que cobrou.
Após analisar bem o estúdio entendeu que ter Marlon Brando no elenco não tinha preço pois ele certamente traria muito prestígio para o filme como um todo. Foi contratado e mais uma vez arrasou em cena. Como se não bastasse a presença desses dois maravilhosos profissionais o filme ainda contava com um elenco de apoio simplesmente incrível: Gene Hackman e o veterano Glenn Ford (na pele do pai terrestre de Kent).
Em breve teremos mais uma adaptação do personagem para as telas, novamente pelos estúdios Warner e novamente contando com uma produção milionária. Será que vai conseguir superar esse filme definitivo sobre o homem de aço? Eu duvido muito. Algumas produções são simplesmente definitivas como essa. Nota 10 com louvor.
Superman - O Filme (Superman, Estados Unidos, 1978) Direção: Richard Donner / Roteiro: Mario Puzo, David Newman, Leslie Newman, Robert Benton baseados no personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster / Elenco: Christopher Reeve, Marlon Brando, Gene Hackman, Glenn Ford, Margot Kidder, Susannah York, Terence Stamp / Sinopse: "Superman" de 1978 conta as origens do personagem tão popular do universo de quadrinhos. Nascido em Kripton adquire super poderes em nosso planeta. Um ícone da cultura pop em excelente produção dos estúdios Warner.
Pablo Aluísio.
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