Um aspecto que poucos cinéfilos sabem é que o ator Marlon Brando era intensamente interessado em ciência em geral. Ele estava sempre se atualizando sobre os últimos avanços científicos, lendo revistas especializadas e publicações das principais universidades americanas. Não é de se admirar então que tenha aceitado trabalhar nesse “A Ilha do Dr Moreau”, adaptação do famoso livro de autoria de H.G. Wells. Embora tenha sido escrito em 1921 o texto conseguia ser incrivelmente atual pois tratava de uma parte da ciência que era incrivelmente sedutora para Brando: a engenharia genética. A possibilidade de manipulação nas espécies e o resultado desses experimentos eram a base dessa estória clássica. Dr. Moreau (Marlon Brando) é um cientista brilhante que vive em uma ilha isolada no meio do oceano pacifico. Lá ele desenvolve uma série de testes genéticos, criando com suas experiências vários híbridos entre homens e animais. Seu objetivo é criar aquela que seria a criatura ideal, unindo a inteligência e os mais altos valores morais do ser humano com a força e a destreza das feras selvagens. Infelizmente enquanto vai tentando chegar nesse ser perfeito Moreau acaba criando uma série de pequenos monstros que passam a conviver ao seu lado na distante ilha. Não tarda porém para que as criaturas se voltem contra seu criador.
Uma das mais interessantes leituras dessa obra clássica é a questão da ética que move esse tipo de experiência. Em voga atualmente nos principais centros científicos, dado o avanço das pesquisas genéticas, o roteiro poderia ser a base de discussão de valores envolvendo justamente essa nova postura, a bioética que deveria imperar nesse novo ramo da ciência. Assim queria Brando ao aceitar fazer o filme, levantar o debate sobre os rumos perigosos que a ciência poderia tomar. Infelizmente não era bem essa a intenção do diretor e nem do estúdio que queria em suma apenas realizar um filme de monstros que vivem numa ilha ao lado de um cientista louco. Quando as filmagens começaram Brando entendeu as reais intenções de seus realizadores e ficou obviamente decepcionado. Para não ser arruinado financeiramente por um pesado processo resolveu ir até o fim do filme, mesmo que a empolgação inicial tenha se transformado em decepção completa. Realmente “A Ilha do Dr Moreau” se revela muito fraco em seu resultado final. O único interesse nesse roteiro capenga é a presença de Brando que para aliviar o tédio de participar de algo assim tão obtuso caprichou no figurino esquisito (em determinada cena ele surge todo de branco, com forte maquiagem, tal como um Buda dos trópicos). No saldo final não há outra conclusão “A Ilha do Dr Moreau” é um equívoco, uma produção bem decepcionante apesar de contar em seu elenco com um dos maiores atores da história do cinema americano.
A Ilha do Dr. Moreau (The Island of Dr. Moreau, Estados Unidos, 1996) Direção: John Frankenheimer / Roteiro: Richard Stanley baseado na obra de H.G. Wells / Elenco: Marlon Brando, Val Kilmer, David Thewlis / Sinopse: Brilhante cientista, o Dr. Moreau (Marlon Brando) deseja criar uma criatura perfeita que uma a inteligência do ser humano com as prestezas dos animais selvagens. Vivendo em uma ilha isolada ele logo terá que lidar com a rebelião das feras que ele mesmo criou.
O Bravo
Esse foi o penúltimo filme do ator Marlon Brando no cinema. Ele já estava bem idoso e doente. Tinha decidido se afastar um bom tempo das telas. Acabou adiando seus planos de aposentadoria definitiva por um motivo bem óbvio para quem o conhecia: ele se identificou com o tema desse roteiro. Durante décadas o ator lutou em prol dos direitos dos nativos americanos. Chegou inclusive a participar de um cerco do FBI contra lideranças indígenas nos anos 70. Essa sempre foi uma bandeira que levantou. Brando defendeu os índios norte-americanos com unhas e dentes por anos e anos, sempre que a oportunidade surgia. Estava constantemente ao lado dos direitos civis dos índios. Esse tema sempre despertou seu lado mais ativista. E na história desse filme ele viu grande valor por causa do tema social que levantava.
O interessante é que as filmagens ocorreram sem maiores incidentes. Durante muitos anos Brando ficou conhecido por causa dos problemas que trazia no set de filmagens, mas aqui ele seguiu o script, não brigou com ninguém da equipe técnica do filme e ainda construiu uma bela amizade com o ator Johnny Depp, que na época era até mesmo comparado com o jovem Brando dos anos 1950. Nessa fase de sua carreira Depp estava sempre em busca de desafios. E aqui ele decidiu não apenas atuar, mas também dirigir o filme, o que na época foi visto como uma grande ousadia de sua parte. E isso tudo resultou em um filme bem diferente. Não diria que é para todos os públicos, mas certamente tem seu valor. E com o passar dos anos o filme superou as críticas negativas que lhe foram feitas em seu lançamento e hoje em dia até mesmo ostenta orgulhoso um status de cult movie. Quem poderia prever algo assim quando ele foi lançado?
O Bravo (The Brave, Estados Unidos, 1997) Direção: Johnny Depp / Roteiro: Gregory McDonald, Paul McCudden, Johnny Depp / Elenco: Johnny Depp, Marlon Brando, Marshall Bell / Sinopse: Após muitos anos cumprindo pena, um jovem nativo finalmente ganha a liberdade. Só que fora da prisão as coisas se mostram bem complicadas. Ele precisa de um trabalho, mas ninguém lhe dá uma oportunidade por causa de seu passado. Então ele acaba voltando ao submundo do crime, participando de filmes ilegais, que mostram assassinatos reais.
A Cartada Final
Como é possível que um filme com um elenco tão maravilhoso como esse (Brando, De Niro e Norton) não conseguiu se tornar um clássico moderno do cinema? Na verdade é pior do que isso, passados 17 anos de seu lançamento original a produção está praticamente esquecida. A produção foi turbulenta. Marlon Brando brigou com o diretor Frank Oz, o despedindo em pleno set de filmagens. A Paramount não aceitou a atitude do ator e manteve Oz como diretor, só que Brando se recusou a trabalhar com ele.
A solução foi colocar Robert De Niro dirigindo as cenas com Marlon Brando, deixando Oz na direção do restante do filme. Um absurdo e um caos completo. O resultado final ficou confuso, como era de se esperar. Brando, visivelmente entediado e atuando com má vontade, não acrescentou muito. Coube então a Robert De Niro e Edward Norton tentarem salvar o filme no quesito atuação, mas tudo acabou ficando na média mesmo, em um plano convencional. É uma pena que "The Score" no final de tudo não conseguiu cumprir tudo o que se esperava dele. De uma forma ou outra esse foi o último filme de Marlon Brando. Sua despedida do cinema. Pena que essa obra cinematográfica não esteve à altura desse grande acontecimento.
A Cartada Final (The Score, Estados Unidos, 2001) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Frank Oz / Roteiro: Daniel E. Taylor, Kario Salem / Elenco: Robert De Niro, Edward Norton, Marlon Brando, Angela Bassett, Gary Farmer, Paul Soles / Sinopse: Nick Wells (Robert De Niro) é um ladrão profissional que sempre procurou trabalhar sozinho. Para ele não existe sociedade no mundo do crime. Só que um novo "serviço" surge no horizonte e ele agora precisa unir forças a outro criminoso, Jack Teller (Edward Norton), algo que mudará completamente seus planos iniciais.
Pablo Aluísio.
Os Filmes de Marlon Brando - Parte 9
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