sexta-feira, 20 de maio de 2005

Elvis Presley - Elvis e Roy C. Bennett

Morreu no último dia 2 de julho, aos 97 anos, o compositor Roy C. Bennett. Ao lado de seu companheiro Sid Tepper escreveu dezenas de canções de sucesso para cantores e astros como Duke Ellington, Louis Armstrong, Ray Charles, Frank Sinatra, Elvis Presley e os Beatles. Em relação a Elvis foi uma parceria longa e produtiva. No total Bennett compôs 45 músicas para o Rei do Rock ao longo de sua carreira, entre elas grande parte das trilhas sonoras dos filmes “G.I. Blues” e "Blue Hawaii". Os dois álbuns venderam milhões de cópias ao redor do mundo. Outros sucessos vieram com canções como  “Puppet on a String", “New Orleans” e o dueto entre Elvis e a atriz Ann-Margret “The Lady Loves Me”. Já os Beatles gravaram a canção "Glad All Over" e a apresentaram no programa que estrelavam na rádio inglesa BBC durante a década de 1960.

Roy C. Bennett começou a escrever músicas ainda muito jovem, quando tinha apenas 11 anos de idade. Ele nasceu em uma família humilde do Brooklyn, em Nova Iorque, e desde muito jovem demonstrou sua paixão pela música. Depois que conheceu seu parceiro por décadas, Sid Tepper, na escola onde ambos estudavam, ele resolveu entrar no concorrido mercado fonográfico americano. Embora tentasse despontar como cantor de sucesso ele logo entendeu que tinha mais talento para compor para outros artistas já que sua voz não era definitivamente o seu forte. Apaixonado por canto de corais - chegou a escrever um livro sobre o assunto - ele passou então a trabalhar para grandes companhias da cidade, escrevendo temas para programas de TV, peças de teatro e finalmente filmes para o cinema.

O sucesso chegou quando ele escreveu hits para a carreira do cantor Eddie Arnold. Seu êxito chamou a atenção das estrelas do circuito country de Nashville e em meados dos anos 1950 ele começou uma intensa fase criativa escrevendo para artistas de sucesso da época como Sarah Vaughn, Guy Lombardo, Eartha Kitt, os Ink Spots, Louis Prima, Arthur Godfrey, Tommy Dorsey e Lawrence Welk. Durante uma convenção musical ele acabou conhecendo o Coronel Tom Parker, empresário de Elvis. "Gosto de suas músicas, filho. Aqui está meu cartão. Quero comprar algumas para Elvis" - teria lhe dito o velho astuto. Em pouco tempo Roy estava em negociações com o Coronel com o objetivo de vender suas músicas para as duas editoras do astro mais famoso do rock.

Curiosamente, apesar de ter escrito dezenas de músicas para Elvis por tantos anos, ele nunca chegou a conhecê-lo pessoalmente. Sobre isso disse certa vez: "Elvis era muito protegido pelo Coronel Parker. Nunca cheguei a apertar sua mão. Não o conheci, o que era estranho, pois estava durante todos aqueles anos ouvindo Elvis cantar as minhas melhores músicas. Ouvi dizer em Nashville que o Coronel não gostava que Elvis se socializasse com compositores com receios de que ele viesse a ser influenciado de alguma forma por nós. Uma pena, gostaria de agradecer a Elvis pelo que ele fez pelas minhas criações. Ele era ótimo!".

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 18 de maio de 2005

Elvis Presley - Em Cada Sonho um Amor

"Follow That Dream" (no Brasil, "Em Cada Sonho um Amor") foi o primeiro filme de Elvis Presley lançado em 1962. Qual é a história contada por essa película? Uma família de caipiras chega na Flórida e sem gasolina acaba parando em terras públicas banhadas por um belo rio pertencente ao governo. Após serem hostilizados por um representante do estado que os avisa que devem ir embora dali, pois não possuem direitos sobre aquelas terras, o patriarca "Pop" Kwimper (Arthur O'Connell) decide que eles vão ficar, para lutar pelas terras como posseiros. Para Toby Kwimper (Elvis) e sua irmã de criação, aquela parece ser uma boa ideia pois eles logo começam a ganhar algum dinheiro vendendo pontos de pesca para turistas. A boa vida porém será ameaçada por uma assistente social que irá brigar na justiça para que a família perca o direito de continuar com as crianças no local.

"Em Cada Sonho um Amor" também foi o primeiro filme de Elvis nos estúdios da United Artists. Essa companhia foi fundada por Charles Chaplin e tinha como objetivo dar maior liberdade para os artistas ao invés dos magnatas poderosos do cinema em sua época. Era literalmente uma união de artistas em prol de sua arte. Assim temos pequenos detalhes que diferenciam essa produção das demais que Elvis faria nos anos 60. Uma delas foi a escolha de filmar praticamente tudo em locações reais, ao ar livre (as cenas mais bonitas foram captadas em Crystal River, Florida) e não enfurnados em estúdios de Los Angeles. O sol forte inclusive queimou o cabelo de Elvis, o levando para seu tom mais natural, praticamente loiro.

As cenas musicais não são muito empolgantes, até porque as músicas nunca foram consideradas marcantes dentro da discografia de Elvis, mas de maneira em geral são simpáticas e alegres. Em termos de roteiro não há também muitas novidades com Elvis dividido entre uma mulher mais jovem e uma mais velha (situação recorrente em muitos de seus filmes). O que salva "Follow That Dream" de escapar da lista dos piores filmes de Elvis é seu clima agradável e relaxante, além do tom mais bem humorado. Presley também acentua seu lado mais cômico ao interpretar um personagem muito caipira, ingênuo e simplório, que não conhece nada da vida da cidade. Com sotaque muito acentuado lembrava o próprio Elvis um pouco demais. No saldo final passa longe de aborrecer alguém, embora obviamente também passe longe de ser uma obra prima ou um filme memorável de Elvis em Hollywood. Está entre os filmes medianos que Elvis rodou em sua carreira.

Em Cada Sonho um Amor (Follow That Dream, Estados Unidos, 1962) Estúdio: United Artists / Direção: Gordon Douglas / Roteiro:  Charles Lederer, Richard Powell / Elenco: Elvis Presley, Arthur O'Connell, Anne Helm / Sinopse: Uma família de caipiras do interior decide tomar posse de terras públicas, mas abandonadas, na ensolarada Flórida, dando origem a vários problemas, inclusive jurídicos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de maio de 2005

Elvis Presley - 1961 / 1962

Quando Elvis voltou do exército ele tinha duas grandes pretensões. Uma era se tornar um grande ator e a outra desenvolver sua habilidade vocal. Primeiro fez "G.I. Blues" (Saudades de um Pracinha), um filme que ele não gostou de jeito algum, criticando inclusive a qualidade da trilha sonora. Porém, a ele era dito para fazer "G.I Blues" para reconquistar os fãs e depois lhe seriam oferecidos papeis mais dramáticos. "Flaming Star" (Estrela de Fogo) seu filme seguinte foi um bom início, seguido de "Wild in the Country" (Coração Rebelde) que, originalmente, tinha um ótimo roteiro, mas foi estragado pelos engravatados de Hollywood e pela raposa velha Coronel Tom Parker. A segunda pretensão, todavia foi alcançada: Elvis nunca cantou melhor e sua voz nos três primeiros anos da década de 60 estava em grande forma, excelente, com performances lindíssimas em clássicos como "Are You Lonesome Tonight?", "It´s Now Or Never" (há quem odeie essa canção hoje em dia mas não há como negar sua boa perfomance na gravação), além das bonitas e românticas "They Remind Me Too Much Of You", "There´s Always Me" e muitas outras.

O ano de 1961 chegou e definitivamente foi um ano que dividiu a carreira de Elvis. Ele começou o ano com dois shows beneficentes em Memphis em fevereiro, seus primeiros após a sua volta do exército e em março gravou o álbum "Something for Everybody", que apesar de ser muito bom e ter chegado ao primeiro lugar, perde se comparado com "Elvis is Back", um magistral álbum, muito eclético em sua diversidade de ritmos. Logo após as sessões de gravação Elvis viajou para o Havai para filmar "Blue Hawai" (Feitiço Havaiano) e fazer um show beneficente, que acabou sendo seu último até 1968. "Blue Hawai" foi a pior coisa que aconteceu na carreira de Elvis por ter sido um sucesso fora do comum, realmente espetacular. O álbum passou absurdas 20 semanas em primeiro lugar e o filme foi um estrondoso sucesso, apesar de ser muito fraco. A sua trilha é na verdade uma das piores de Elvis, se salvando apenas umas quatro músicas, incluindo o clássico absoluto "Can´t Help Falling in Love". Afinal botar o rei do rock para cantar uma dúzia de músicas havainas era o fim!!!

Em junho, antes de ir filmar "Follow that Dream" (Em Cada Sonho Um Amor) Elvis ainda entrou em estúdio e gravou entre outras, um de seus melhores singles: “His Latest Flame / Little Sister”, que injustamente não chegou ao primeiro lugar nos EUA. Na Inglaterra ambas as músicas atingiram o topo das paradas. "Surrender" foi a música de Elvis nesse ano que alcançou o número 1 nas paradas em ambos lados do Atlântico."Follow That Dream" era um comédia bem leve onde Elvis se saiu muito bem. Infelizmente, foi durante as sessões desse filme que o cantor perdeu um de seus melhores guitarristas: Hank Garland, vitimado em um acidente de carro que quase tirou sua vida e destruiu sua carreira de guitarrista. O som de Elvis perderia muito com a saída de Garland. Fora isso, o quadro profissional de Elvis era excelente. Ele ainda chegava fácil ao primeiro lugar, seus filmes ainda mantinham um certo nível, ele ainda gravava em ritmo muito bom e produtivo e a qualidade das músicas era ainda muito boa. Tudo parecia ainda caminhar relativamente bem por essa época.

Já na vida pessoal Elvis parecia determinado a se divertir o máximo possível! Por essa época ele resolveu romper com a namorada Anita Wood e como Priscilla ainda não havia chegado aos Estados Unidos para morar em Graceland, Elvis ficou completamente solto, solteirinho da silva! Se Elvis era um garoto que na década de 50 levava uma vida nada mundana, namorando firme garotas e morando com os pais, a situação se inverteu nessa fase de sua vida. Elvis agora, sem a balança moral de sua mãe, entupia sua mansão da maior quantidade de mulheres possível. Nos primeiros anos em Hollywood Elvis ficava hospedado em alguns hotéis da cidade mas suas festas com muita gente e muito barulho de música alta lhe trouxeram vários problemas. Alguns estabelecimentos o convidaram gentilmente a ir embora. Assim Elvis pensou em uma solução. Aconselhado pelo empresário Tom Parker ele acabou comprando uma casa em Bel Air. Afinal Parker queria manter as festas extravagantes de Elvis fora do radar da imprensa. Assim Elvis encontrou um lugar ideal para descansar, relaxar e se divertir, longe dos olhos da imprensa marrom da capital do cinema.

O ponto negativo é que por essa época Elvis também começou a aumentar seu consumo de drogas prescritas. Ele passou a se interessar pelo assunto e começou a ler livros de medicina onde eram explicadas as principais pílulas do mercado, seus efeitos e suas contra indicações. Elvis que odiava drogas de rua como maconha e cocaína havia encontrado um jeito seguro, limpo e longe de problemas de também ficar alto em suas festas privadas. Tudo ainda era um grande segredo guardado a sete chaves. Nem mesmo Parker tinha consciência do que acontecia nesse aspecto na vida de Elvis. Também não havia qualquer sinal em sua vida pública e profissional sobre isso. Na época ele era apenas o "Solteirão mais cobiçado da América". Sua imagem pública era impecável e Evis era considerado um dos homens mais bem sucedidos dos EUA. Tudo parecia muito bem em sua vida mas nuvens negras estavam para chegar em sua carreira.

Pablo Aluísio e Victor Alves

Elvis Presley - O Começo da Queda

Além da apresentação em Pearl Harbor, Elvis também realizou dois concertos em Memphis antes de se retirar de forma prolongada dos concertos ao vivo durante os anos 60. No dia 25 de fevereiro de 1961 Elvis subiu ao palco do Ellis Auditorium. Foi um evento de homenagem ao próprio Elvis - o governador do estado Buford Ellington declarou o dia como 'Elvis Presley Day' - e também uma forma de arrecadar fundos para a caridade - mais de 50 mil dólares foram arrecados ao fim do concerto. Antes dos shows houve um evento em honra a Elvis no Hotel Claridge. O cantor não gostava muito de jantares sociais como esse mas foi convencido por Vernon a comparecer. Distribuiu sorrisos, autógrafos e recebeu as devidas homenagens. Depois disso Elvis só voltaria a se apresentar em Pearl Harbor no Havaí e só retornaria em 1968 no especial de TV na NBC e no ano seguinte em Las Vegas para temporadas longas no International Hotel (depois Las Vegas Hilton). Mas o que levou Elvis a ficar tantos anos fora dos shows ao vivo? Logo ele que tanto gostava do calor humano proporcionado por seus fãs?

A verdade é que Elvis queria de todas as formas dar certo no mundo do cinema. Ele estava vivendo seu sonho de ser James Dean, seu grande ídolo nas telas. E o Coronel Parker resolveu adotar o lema: "Se quiser ver Elvis cantando pague uma entrada de cinema". Nada de shows, nada de aparições em programas de TV, nada de entrevistas. Parker (e Elvis concordava com isso) entendia que se Elvis começasse a fazer turnês as pessoas deixariam de assistir seus filmes. Afinal se podiam ver Elvis em carne e osso para que iriam até o cinema para vê-lo em celulóide? É incrível mas eles insistiram nisso por praticamente toda uma década!

Com Elvis fora do caminho no mundo musical os jovens acabaram adotando outros ídolos. Os Beatles chegaram nos EUA e varreram as paradas de sucesso como nunca ninguém havia visto antes. Eles chegaram a ocupar os quatro primeiros lugares da Billboard em sequência, sem ninguém por perto para ameaçá-los. Elvis? Estava praticamente fora da lista dos mais vendidos. Era considerado carta fora do baralho. E logo após outros grupos semelhantes surgiram, tanto ingleses como americanos. Tudo estava mudando, as letras, as mensagens das músicas, os figurinos dos grupos de sucesso. Era uma nova onda musical surgindo, um novo estilo que vinha para romper com o marasmo.

Enquanto o mundo musical mudava e passava por uma revolução sem precedentes, Elvis que tinha de certa forma começado tudo aquilo nos anos 50, afundava em Hollywood estrelando filmes ruins e tolos que eram ignorados pela juventude da época. Só para se ter uma idéia do tamanho do desastre para a carreira de Elvis basta citar que ele ficou de 1962 a 1969 sem conseguir emplacar nenhum sucesso musical no topo da parada de singles da Billboard! Suas novas canções não tocavam mais nas rádios e ele foi desaparecendo lentamente do meio. Afinal quem não era visto não era lembrado. 

Até no Brasil a crise foi sentida. A filial brasileira da RCA deixou até de lançar seus álbuns por aqui após um certo tempo. Elvis não vendia mais a ponto de justificar o lançamento de seus discos fora dos EUA. As fãs que gritavam pelos Beatles empunhavam cartazes onde se podia ler: "Viva os Beatles! Elvis já morreu". O pior era saber que nisso havia de fato um fundo de verdade. E pensar que tudo poderia ter sido diferente. Assim seus shows em Memphis e Pearl Harbor se tornaram significativos e simbólicos da crise que surgia no horizonte. Era o começo da queda. Foi a despedida de uma era de ouro para o artista Elvis.

Pablo Aluísio

domingo, 15 de maio de 2005

Elvis Presley - Biografia, 1962 - Parte 1

8 de janeiro de 1962 - Elvis completa 27 anos de idade ao lado de amigos e conhecidos em Graceland. Suas férias estão acabando e logo ele precisará voltar a gravar novas músicas para a RCA Victor, além de atuar em novos filmes em Hollywood. Elvis intensifica seus telefonemas para a Alemanha. Ele quer trazer Priscilla para passar alguns dias ao seu lado nos Estados Unidos. Os pais dela não acham uma boa ideia. Elvis também recebe uma bela homenagem nesse dia do programa American Bandstand.

Fevereiro de 1962 - A RCA Victor lança o primeiro single de Elvis no ano com as músicas "Good Luck Charm" e  "Anything that's Part of You". O compacto chega ao topo da parada Billboard e se torna um novo sucesso de vendas. A crítica se divide, alguns reclamam da falta de Rock nas gravações de Elvis. Ele parece ter se tornado um cantor pop romântico. O fato negativo é que esse seria o último single de Elvis a chegar ao topo em muitos anos. Elvis só retornaria para a primeira posição entre os mais vendidos na classificação de singles com "Suspicious Minds" em 1969. Isso iria refletir a queda de vendas do cantor no mercado de compactos. Um fato preocupante para sua gravadora.

Março de 1962 - Elvis viaja para Nashville, Tennessee. A gravadora programa uma extensa lista de músicas para gravação. A intenção é gravar material convencional, não relacionado a trilhas sonoras de Hollywood. A RCA pretende lançar um novo álbum de Elvis o mais breve possível. Assim nos dias 18 e 19 desse mês Elvis comparece nos estúdios B da gravadora para gravar as seguintes músicas: Something Blue, Gonna Get Back Home Somehow, Easy Question, Fountain of Love, Just for Old Time's Sake, Night Rider, You'll Be Gone, I Feel That I've Known You Forever, Just Tell Her Jim Said Hello, Suspicion e She's Not You. Essa sessão é toda produzida por Steve Sholes, que vinha trabalhando ao lado de Elvis desde o seu primeiro álbum na RCA em 1956.

Março de 1962 - A correria para Elvis nesse mês é intensa. Após gravar farto material para a RCA em Nashville ele é informado pela Paramount Pictures que seu novo filme será filmado novamente no Havaí, como havia acontecido com "Feitiço Havaiano". O roteiro é enviado para Elvis. O enredo conta a história de um jovem que pretende comprar um barco de pesca por dez mil dólares. Enquanto não arranja esse dinheiro ele vai ganhando a vida se apresentando em clubes noturnos. O filme também ganha título e passa a se chamar "Girls, Girls, Girls" (no Brasil "Garotas e mais Garotas"). Antes de viajar para as ilhas havaianas Elvis precisa ir para a Califórnia para gravar as músicas da trilha sonora nos estúdios Radio Recorders. A sessão é programada para ser realizada no dia 26 desse mês.

Março de 1962 - Estreia nos cinemas o filme "Follow That Dream" (Em cada sonho um Amor, no Brasil). Elvis faz o papel de um jovem caipira que luta contra o governo que quer tirar as terras de sua família na ensolarada Flórida. Com direção de Gordon Douglas e contando no elenco com Arthur O'Connel e Ann Helm, o filme recebe críticas mornas. O filme não faz muito sucesso, mas também não dá prejuízo para o estúdio. Um mês após a RCA Victor iria finalmente lançar a trilha desse filme em um EP, compacto duplo, com quatro canções: Follow That Dream, Angel, What a Wodrefull World e I'm Not the Marryng Kind. O EP chega ao 15º lugar na parada de sucessos da revista Billboard.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de maio de 2005

Elvis Presley - Feitiço Havaiano

Título no Brasil: Feitiço Havaiano
Título Original: Blue Hawaii
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Norman Taurog
Roteiro: Allan Weiss, Hal Kanter
Elenco: Elvis Presley, Joan Blackman, Angela Lansbury, Nancy Walters, Roland Winters, John Archer

Sinopse:
Ao sair do exército o jovem Chad Gates (Elvis Presley) decide seguir seu próprio caminho. Filho de uma família rica, dona de vastas plantações de abacaxi no Havaí, ele resolve abrir sua própria agência de turismo, onde canta e encanta todos os turistas que visitam as belas ilhas havaianas da região.

Comentários:
O maior sucesso cinematográfico de Elvis Presley em 1961 foi sem dúvida "Feitiço Havaiano". Aliás o sucesso de bilheteria foi tão grande que esse musical romântico se tornaria a sua segunda maior bilheteria nos anos 60 (só perdendo para "Viva Las Vegas" de 1964). A trilha sonora também teve números expressivos, se tornando o disco de Elvis mais vendido da década. Com um sucesso comercial tão considerável o Coronel Parker expressou sua opinião, chamando "Blue Hawaii" de "O Produto Perfeito", aquilo que ele sempre havia procurado desde que começou a empresariar Elvis. Um filme visto por todos os públicos (jovens, velhos e crianças), com músicas leves, românticas, que não levantassem qualquer tipo de polêmica, com um filme bonito de se assistir, com as maravilhosas tomadas de cenas filmadas na exuberância da natureza das ilhas havaianas. Na visão do Coronel Parker não poderia haver nada melhor do que isso para Elvis. E por essa razão Elvis iria passar o resto da década de 60 fazendo filmes que de uma maneira ou outra seguiam essa fórmula comercialmente vitoriosa.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Coração Rebelde

Título no Brasil: Coração Rebelde
Título Original: Wild in the Country
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Philip Dunne
Roteiro: Clifford Odets
Elenco: Elvis Presley, Hope Lange, Tuesday Weld, Millie Perkins, Gary Lockwood, Christina Crawford

Sinopse:
O cantor Elvis Presley interpreta um jovem com problemas legais. Ele precisa fazer uma série de sessões com uma psicóloga após ter se envolvido com brigas e confusões. Ele arruma um emprego e incentivado pensa em retornar os estudos, para dar um rumo novo em sua vida, mas isso, como ele verá depois, não será muito fácil.

Comentários:
Com roteiro inspirado no romance "The Lost Country" de J.R. Salamanca, o filme "Coração Rebelde" era um drama, o que de certa maneira surpreendeu os fãs de Elvis na época de seu lançamento original. Todos esperavam por algo mais parecido com "Saudades de um Pracinha", seu maior sucesso nos cinemas depois que voltou da Alemanha, onde havia cumprido serviço militar. Porém ao contrário disso encontraram um filme mais pesado, mais dramático. Algumas concessões foram feitas, com Elvis cantando 3 músicas, mas todas elas mais intimistas, mais melancólicas. Por isso o filme foi taxado como triste e até mesmo tedioso. Realmente era um roteiro mais dramático, o que nem sempre agradava a quem queria ver Elvis apenas cantando e namorando as atrizes bonitas em seus filmes. Com isso o filme não fez sucesso de bilheteria. E o resultado comercial ruim foi usado pelo Coronel Parker como um argumento para que Elvis se concentrasse mesmo nas comédias musicais românticas pois esse era definitivamente o estilo de filme que suas fãs queriam assistir nos cinemas. Dramas ao estilo Marlon Brando não fazia o gosto delas, definitivamente.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de maio de 2005

Elvis Presley - Blue Hawaii e o Sonho Americano

Ahhh... o sonho americano... Como era belo o sonho americano nos anos 1960. Tudo era maravilhoso, o país estava em paz no começo da década, o presidente eleito era um jovem senador de nome John Kennedy, o país estava com a economia próspera e rica, a esperança encontrava morada em cada casa suburbana da América. O americano padrão tinha seu emprego, seu carro na garagem e uma bela casa onde morar. O céu era azul, o mar era lindo (e limpo) e as crianças cresciam felizes. Que mundo maravilhoso não? Nas férias o cidadão americano tinha um sonho de consumo: viajar ao Havaí, as ilhas do pacífico que tinham se transformado no 50º Estado (por favor esqueçamos por hora a péssima letra de Paradise Hawaiian Style ok?). Que beleza... E pensar que hoje o velho sonho americano se transformou numa barraca de camping no meio da rua, na falta de emprego e perspectivas, na quebradeira das empresas símbolos do velho capitalismo ianque (com a outrora rica e poderosa GM passando o pires para evitar sua própria derrocada), em filhos mal educados gritando palavrões que aprenderam ao ouvir Rap e outras bobagens... enfim. Vamos deixar o caos em que vivemos e vamos voltar no tempo, quando essa ilusão era bem mais realista e concreta.
 
Ahhh... o sonho americano... Blue Hawaii é isso aí, o sonho americano. Elvis em 1961 completava sua metamorfose como artista e deixava de uma vez por todas sua imagem roqueira e rebelde para se transformar no exemplar cidadão norte-americano. Ela já tinha virado a bandeira de Tio Sam em G.I. Blues e agora completava o processo, virando o melhor guia turístico que uma dona de casa do subúrbio poderia imaginar. O filme é justamente isso, um passeio açucarado nos maiores ideais gringos da primeira metade dos anos 1960. Muito longe ainda da contracultura que nasceria, dos hippies mal cheirosos e da música de protesto, Elvis e seu filme trazia o supra sumo do American Dream. Em troca a sociedade americana proporcionou o maior sucesso de toda a sua carreira. Blue Hawaii foi um fenômeno sem precedentes, quebrando todos os recordes de bilheteria e venda de discos. O Coronel Parker ficou extasiado com o êxito alcançado. Ele próprio havia elaborado o plano de transformar Elvis em um produto de consumo familiar. Apesar do risco ele vinha realmente alcançado um sucesso após o outro e com Blue Hawaii consolidaria sua intenção.
 
Com esse enorme sucesso comercial Elvis abandonou definitivamente o Rock e abraçou o pop romântico de Hollywood. Comercialmente pode ter sido uma boa idéia mas artisticamente esse passo foi completamente em falso. Ao ouvir a trilha sonora de Blue Hawaii podemos perceber como um produto pode ficar velho e caduco. Sem o embasamento ideológico que sustentou esse projeto nos anos 60 tudo cai por terra. Embora ainda haja espasmos de talento de Elvis o produto em si soa completamente antiquado e fora de propósito nos dias de hoje. Blue Hawaii envelheceu e envelheceu mal. A própria faixa título soa pomposa e kitsch. Nunca a vocalização de Elvis soou tão pretensiosa como aqui. Ele se esforça para seguir os passos de Bing Crosby, mas a pergunta que surge em nossa mente é justamente essa: Que jovem iria ligar para Bing Crosby nos anos 60?
 
A resposta é simples. Elvis deixou de cantar para a garotada para cantar para os pais deles. Totalmente engomadinho, com um arranjo havaiano soando completamente falso, Elvis expõe involuntariamente, apenas com essa música, as tripas do American Dream: cheio de pompa por fora, mas completamente vazio e oco de conteúdo por dentro. Ahhh... o sonho americano... Almost Always True, a música que vem logo a seguir, já foi chamada de "roquinho" mas isso é uma heresia com o verdadeiro Rock´n´Roll. Tudo não passa de popzinho meloso de fazer corar Brenda Lee. O desastre é completo logo a seguir com Aloha Oe, uma das coisas mais pavorosas que Elvis Presley já cantou na sua vida. Como toda trilha sonora de Presley esse é mais um caso de altos e baixos, No More, que vem logo a seguir, conseguiu sobreviver ao tempo e hoje soa bastante agradável, o que definitivamente não quer dizer grande coisa para quem era o maior ídolo da música mundial.
 
A única canção realmente imortal dessa sacarose toda é Can´t Help Falling In Love que virou a apoteose de todos os seus shows nos anos 70. O arranjo foi extremamante feliz e o resultado final, temos que admitir, é belíssimo. A versão de estúdio inclusive jamais foi superada em termos de beleza por qualquer outra gravada nos anos seguintes. Definitiva. Depois disso não há nada digno de nota ou de importância na trilha. As músicas, todas forçando uma barra daquelas para parecerem autênticas "havaianas", nos levam a pensar como os americanos no fundo são bobos e ingênuos. Afinal quem eles querem enganar, buana? Para esclarecer a situação pensem no seguinte exemplo: imaginem um bando de gringos americanos no Rio de Janeiro gravando um disco de sambas de raiz!!! Um troço desses pode dar certo um dia?! É justamente isso, o restante da trilha é uma tentativa pra lá de mal sucedida de um bando de sulistas da Gringolândia de convencer a todos que são verdadeiros nativos locais do Havaí!!! Pode uma coisa dessas?! Pessoas que nunca tinham pisado no Havaí ou vivenciado a rica cultura do Pacífico Sul tentando soar verdadeiros e genuínos.
 
Não dá... Simplesmente não dá. Seria melhor que eles gravassem um disco de Polca para soarem melhor. É uma questão de cultura, americanos cantando músicas de outros países jamais soarão verdadeiros, não tem como. É a mesma coisa que colocar havaianos verdadeiros cantando músicas do folclore alemão!!! Não tem como, eles nunca vivenciaram as experiências desse povo, sua bagagem cultural não bate, não há como transformar algo tão "fake" em algo digerível. Nunca um material desses irá soar verdadeiro. Afinal o que esses branquelos queriam ao tentar imitar a sonoridade dessas ilhas?! Na verdade devo confessar que quando ouço essas faixas meu estômago embrulha. É muito talento (no caso de Elvis) jogado fora.
 
Porém, embora equivocadamente idealizado, o material "Havaí pra gringo ver" fez sucesso e ganha agora sua edição pelo selo FTD. São dois CDs, com a trilha sonora original e muitos takes e tentativas de estúdio. Agora imaginem esse que vos escreve (que definitivamente acha todo o material fraco e falso) sendo obrigado a ouvir tudo de novo, ainda mais em um álbum duplo desses?! Pois eu ouvi. Minha opinião não mudou nem um centímetro. A trilha continua soando insossa e fraca, com poucos momentos dignos de nota. Pensando bem... algo assim só funcionaria mesmo se eu vivesse nos Estados Unidos em 1961, se tivesse minha casa no subúrbio, minha esposa loira (e burra), meu cachorrinho Rex e duas criancinhas WASP... Fora isso não tem condição de apreciar algo assim.
 
Ahhh... o sonho americano...
 
Erick Steve

quinta-feira, 12 de maio de 2005

Elvis Presley - Pearl Harbor, 1961

Well...Well...Well...

Quando recebi o convite para escrever uma coluna sobre Bootlegs no site do Pablo Aluísio eu morri de rir! Não ri do convite em si, mas sim do enorme desafio que iria significar aceitar esse tipo de coisa! A primeira coisa que disse ao Pablo foi "Tá louco amigo?! Se eu entrar numa encruzilhada dessas nunca mais saio com vida!" Eu já estou há tanto tempo envolvido nesse negócio de Bootlegs que a primeira coisa que pensei foi: Por onde começar uma caminhada dessas?! Onde eu iria me meter?! Esse universo é tão vasto e bagunçado que nem sequer saberia como dar início a uma jornada insana dessas! Isso me levou a lembrar de algumas coisas da minha vida que acho bem interessante trazer à tona porque tem tudo a ver com o que vou escrever!

O mundo dos Bootlegs é o mundo da vira latice Elvistica! Esqueçam organização, classe, qualidade de som, legalidade, esqueçam! Eu sei do que estou falando... vai por mim! Eu sempre fui um vira lata de raça (fala sério, vocês já leram definição mais maluca que essa?! Eu morro de rir com meus devaneios!). Eu sempre fui um vira lata dos Bootlegs porque quem coleciona esse tipo de coisa é isso mesmo: sabe aquele cara que topa ouvir qualquer coisa? Qualquer lixo sonoro? Que vai atrás e corre para revirar as latas de lixo da história? Pois é... entenderam a idéia por trás da definição?! Welcome to my World!

Eu coleciono esse tipo de material desde 1978! Já perdi a conta de quantos títulos tenho, aliás eu nem sei por onde anda muitos deles. Muitos ficaram na casa de meus pais na Inglaterra! Não havia como levar uma mala cheia de discos para a Universidade, ainda mais quando ela ficava em outro país, em outro continente! Como sei que minha mãe sempre foi uma pessoa muito organizada tenho certeza que eles estão muito bem guardados lá no meu velho quarto, de meus tempos de solteiro, em Londres! Pelo menos assim espero! Aliás vou até mesmo depois ligar para saber deles! Se esse artigo for um fracasso total pelo menos me serviu como lembrete para resgatar meus velhos piratas britânicos! Eu preciso catalogar minha coleção, isso sim! Alguns desses Bootlegs são raridades absolutas que espero reencontrar quando voltar à casa ainda nesse ano! Mas peraí... eu tenho que escrever sobre bootlegs, voltemos, voltemos...

Nos bons e velhos tempos, quando eu morava na Inglaterra, eu ganhei um apelido entre meus amigos ingleses por causa dessa minha verdadeira mania de colecionar esse tipo de material: Erick, o Viking! Isso porque eu sempre estava navegando pelos lugares mais obscuros de Londres e cidades inglesas próximas atrás de materiais absurdos envolvendo Elvis! Isso foi muito antes da Internet e até mesmo da popularização do CD! Eu estou me referindo a uma época muito legal mesmo para ser um Bootlequeiro (crianças, essa palavra não existe viu? Foi criada agora pelo insano titio Erick!) Naquela época pioneira tinha de tudo: reunião de fãs para audição de material raro, leilão de discos impossíveis, quebra pau e muita briga para ver quem levava aquele disco pirata de outro planeta! Ah... tempos heróicos! Hoje isso não existe mais, basta baixar pela internet!

Isso é que me faz rir de verdade! Vocês já pararam para analisar o absurdo da situação? Um Bootleg (gíria que nasceu na Inglaterra) é por definição um disco pirata, ilegal, bucaneiro, ou seja, que não paga nenhum tipo de direitos autorais para os verdadeiros donos da marca oficial "Elvis Presley". Por anos e anos eles contrabandearam material raro de Elvis mas hoje eles estão fritos! Quando um jovem baixa um Bootleg no conforto de sua casa, ele está na verdade pirateando o pirata! Já imaginaram uma coisa dessas? Sublime ironia do destino!

O disco que vou tratar agora traz um show em Pearl Harbor realizado por Elvis Presley em 1961. A razão que me fez escolher esse título é simples: ele foge do convencional. Existem milhares de Bootlegs dos anos 70 mas o campo que envolve os primeiros shows de Elvis nos anos 50 é mais restrito e esse concerto no começo dos anos 60 é mais restrito ainda. Conheço três Bootlegs que trazem essa apresentação. Tenho os três, embora vou usar como referência nesse artigo o Elvis Live Pearl Harbor que tem uma qualidade sonora muito melhor do que a dos outros dois! Nesse mundinho ninguém pode afirmar que existem apenas estes três títulos, podem existir muitos outros, estou me baseando apenas no material de meu acervo pessoal, ok?

O responsável pelo títulos de Elvis pelo selo FTD tem dito em entrevistas que vai lançar esse show como se fosse grande coisa! Pode até ser para os marinheiros de primeira viagem, mas para esse velho corsário que já navegou tantos mares isso não é nada demais. Sem novidades no Front! O primeiro pirata que adquiri trazendo esse show se chamava The Pacific War Memorial Comission Presents In Person Elvis and His Show, Pearl Harbor March 25th, Ufa! Isso é lá nome que se dê para um disco?! Coisas de Bootlegs da velha guarda. O selo, se é que isso importa, era da Bloch Records! Cara, isso não existe! Esse nome de fantasia foi tirado do local onde Elvis se apresentou, a arena onde o show foi feito! Esses piratas não tomam jeito mesmo...

Eu o comprei em 1989 em Londres, numa loja especializada. Ele é um vinil duplo com muitas fotos bonitas em seu encarte interno. É uma edição de luxo para colecionadores. Tem até um texto escrito por um tal de John Duguit, que apesar do nome de cientista político, também não deve existir. Muito provavelmente deva ser o cara que comprou as gravações e para dar um ar de respeitabilidade ao disco inventou esse nome! Não disse que esse é o mundo da vira latice Elvis?!

Mas deixando isso de lado devo confessar que na primeira vez que eu o ouvi fiquei realmente impressionado! Uma coisa é você ler sobre uma apresentação e eu já tinha lido tanto sobre esse show que já estava enjoado. Mas quando coloquei a velha agulha (lembram dela?) para rodar foi mágico! Lá estava eu ouvindo Elvis em uma de suas únicas apresentações ao vivo na primeira metade dos anos 60! Fantástico. Legal mesmo foi que essa sensação de descoberta estava misturada com a sensação de conquista porque eu o tinha arrematado num leilão da loja de discos! Imagine a luta e a tensão? Isso era o que fazia a diferença, era como ter um tesouro perdido só pra você! Genial... Mas esse ainda não seria o título que mais iria me satisfazer em termos de qualidade sonora. Foi apenas a apresentação, a primeira audição. Em 1990 saiu, agora já em CD, um segundo título com esse show. Essa edição é meio banal entre os colecionadores ingleses porque muita gente comprou! A melhor viria um ano depois no CD Elvis Live Pearl Harbor.

No mundo dos Bootlegs o que vale é a raridade. Se você tem algo que todos possuem, então você não está com nada! Esse selo que lançou o Elvis Live Pearl Harbor é irlandês! Ireland Records deve ser outro nome de fantasia que não significa nada! Vocês acham que alguém no começo dos anos 90 iria colocar o endereço da gravadora pirata no rótulo? Ainda mais sendo irlandeses! Sem chance! Só se eles tivessem a vontade masoquista de irem em cana! Fala sério! Acredito que Ernst Jorgensen muito provavelmente irá utilizar esse material como base do lançamento do selo FTD, isso claro se ele for esperto o bastante!

A capa desse disco não é tão bonita como a do primeiro que comprei, cheio de fotos e toda produzida, nada disso! A capa era a reprodução do cartaz original do show feito no Hawaii com duas listas azuis marinho ao lado! A foto de Elvis desse cartaz foi tirada da capa do disco Elvis Gold Records vol.2. Os "produtores" pelo menos tiveram a dignidade de serem fiéis ao acontecimento, ao show. Ainda bem que eles não tascaram uma capa qualquer de Elvis nos anos 70 em cima do disco, pois assim teriam estragado tudo! Do jeito que ficou tá bom, é nostálgico e afinal das contas esse é o material de divulgação da época! É tosco?! Claro, naquela época um cartaz de show de Elvis era mais do que simples, era econômico! Alguém aí lembrou do nome de Tom Parker?...

Se você pensa que a foto aí do lado foi tirada durante os anos 50 está muito enganado. A foto foi registrada na apresentação de Elvis para o Memorial do USS Arizona, navio da armada americana que foi a pique no bombardeio dos japoneses sobre a base naval de Pearl Harbor, fato que levou os Estados Unidos a entrarem na II Guerra Mundial. Esse show foi beneficente, mas a despeito de toda a boa vontade temos que levar em conta que ele na verdade acabou virando uma tremenda publicidade para Elvis e o Coronel. Veja, Elvis estava em alta, tinha servido o exército, deixado de lado um pouco esse negócio de Rock'n'Roll que já estava fedendo com os escândalos envolvendo músicos e empresários e agora estava curtindo uma nova fase, a do patriota Elvis, do exemplar rapaz americano que serviu à nação quando foi chamado! Meio sacal esse papo não?...

E aí? O Roqueiro Elvis The Pelvis estava morto e enterrado? Ainda não, na verdade ele deu os últimos suspiros exatamente aqui nesse show! Essa apresentação serve para nos dar uma visão do que seria Elvis ao vivo durante os anos 60 se o Coronel não tivesse tido a péssima idéia de tirá-lo dos palcos e afundar um dos maiores mestres na arte de cantar ao vivo em um monte de filmes patetas... Valha-me Deus!

Em poucas palavras: Elvis ainda era o Rei do Rock quando subiu no palco da Bloch Arena em 1961! O show é maravilhoso da primeira a última faixa! Você pensa realmente que o Elvis dos anos 70 foi o melhor em cima de um palco? Você está precisando ouvir essas faixas meu amiguinho Bootlequeiro! Sex appeal? As garotas não param de gritar nunca! É demais, de arrepiar mesmo o show! Que Elvis dos anos 70 que nada!

Poxa! Nos anos 70 Elvis assassinou muitos de seus clássicos mas ouvir uma versão de A Fool Such As I ou All Shook Up como as que são executadas aqui não tem preço! O Arranjo de All Shook Up é igual, idêntico ao que você ouve na versão original dos anos 50! A galera bate palmas para acompanhar o ritmo, gritinhos abafando e muita alegria e descontração! Quem deseja mais do que isso?! Depois de conversar um pouquinho o Rei (Aqui "Rei do Rock" mesmo, de verdade!) dá a deixa para a introdução inigualável de A Fool Such as I, o que nos deixa sem fôlego! Elvis brinca, se diverte muito... e os Jordanaires? Estão impecáveis! Se você já está cansado de ouvir aquela velha versão dos anos 70 de I Got a Woman prepare-se! Essa fantástica faixa traz Elvis com uma energia e um alto astral fora do comum. O que mais me agrada é que essa versão é totalmente fiel à do disco Elvis Presley de 1956! Ninguém precisa de orquestra para esse tipo de música, isso meu amigo se chama Rock'n'Roll e não precisa de corneta nenhuma! Ao ouvir I Got A Woman com Elvis nesse show você vai entender o que escrevi!

Such A Night é outra que não deixa pedra sobre pedra! A melhor versão de uma música de Elvis Presley ao vivo que já ouvi! Já pensou na responsabilidade dessa afirmação? Por quê Elvis não a aproveitou em 1969 quando voltou aos palcos já que ela trazia tanta reação positiva do público? Não consigo entender isso! Os últimos momentos da faixa são mitológicos, a guitarra, a galera gritando enlouquecidamente e pra terminar de coroar o disco Elvis emplaca uma versão mais do que envenenada de Reconsider Baby, complicado é ouvir com tanta gritaria! Fantástica! Volto a afirmar: as versões de Reconsider Baby dos anos 70 são fichinha perto dessa aqui! O Solo de Boots Randolph coloca toda aquela orquestração ao estilo de Las Vegas dos anos 70 no bolso! Meu Deus, Meu Deus, por que ao invés de ir para Hollywood filmar todos aqueles abacaxis Elvis não fez uma turnê mundial nos anos 60 cantando como aqui? Meu Deus...Me dais paciência...

Algumas versões de I Need Your Love Tonight desse show que ouvimos em alguns CDs estão bem estragadas, chegando a sumir o som lá pelo meio da apresentação, mas aqui não, podemos ouvir tudo tranqüilamente. Essa versão é muito mais rápida do que aquela que você está acostumado! Ela está ritmada com um motor V8 se é que vocês me entendem! Que grupo é esse? Os caras estão de arrasar de tão bons... A primeira vez que a ouvi eu perguntei a mim mesmo: Pô! Que música é essa?! Claro que bastou alguns segundos para eu a reconhecê-la! Nota 10 é pouco! That's All Right é apresentada tal como ouvimos no compacto da Sun! Tá bom para você? Elvis se enrola, muda a ordem dos versos, mas quer saber, ninguém liga, todo mundo está gritando mesmo!

Elvis apresenta Don't Be Cruel como sua "grande gravação"! Na hora em que ele canta "Uhhhhh..." a casa vem abaixo! Me lembrei imediatamente de todas as versões inesquecíveis dele, dessa mesma canção, nos maravilhosos anos 50! Dessa fase mitológica eu não poderia deixar de citar a versão mais rocker que já ouvi de Hound Dog! Tá pensando naquelas versões ridículas dos anos 70 que duravam míseros segundos! Meu chapa você não ouviu nada! São mais de três minutos do mais puro Rock'n'Roll! A platéia enlouquece literalmente, em vários momentos nem conseguimos ouvir Elvis direito! Não é porque a qualidade de som seja tão ruim assim, mas sim porque o pessoal ia a loucura mesmo, sem essa de papo furado ao estilo Las Vegas! A empolgação aqui é jovial, de jovens, não de casais mergulhados na cafonice e laquê da cidade do pecado! Uma platéia jovem faz toda a diferença do mundo! Eu fico pasmo quando alguém me aparece pela frente e afirma que não gosta muito do estilo de Elvis nos anos 50! Tá louco rapaz?! Sai de perto de mim que de Elvis Presley você não sabe nada! Sai de perto! Lava!

Esse é o Elvis Presley que eu adoro! Esse é o Elvis Presley que eu sou fã! Nada de melancolia ou fossa eterna! A essência de Elvis Presley é essa aqui: alegria, alto astral, jovialidade, rebeldia... Elvis entrou para a história não como o cara triste que cantava músicas para "suicidas em potencial". Não, nada disso. Elvis entrou para a história como o "Rei do Rock"! O resto é papo furado de quem gosta de novela mexicana...

Infelizmente esse é o último show de Elvis até 1969! Alguém poderia me explicar como pôde acontecer um troço desses? Elvis deixou de brilhar nos palcos para estrelar coisas bizonhas e bizarras como "Harum Scarum" e "Paradise, Hawaiian Style"?! Como se conformar com algo desse tipo? Como?! Depois que Elvis se despediu dos shows ao vivo muitos disseram que ele perdeu para sempre a coroa de Rei do Rock. Uns carinhas cabeludos vindos da Inglaterra iriam desembarcar nos EUA nos anos seguintes e usurpariam o título que um dia foi dele! Só podemos lamentar mesmo ao constatar que realmente o Elvis Rocker morreu aqui nessa mesma noite em Pearl Harbor, muito provavelmente afundando para sempre ao lado do USS Arizona... Descanse em paz Elvis!

Erick Steve

Elvis Presley - Coração Rebelde

Glenn Tyler (Elvis Presley) é um jovem problemático. De temperamento explosivo ele sempre está se metendo em alguma confusão. Bom de briga, beberrão e violento, é o tipo de sujeito que não pensa duas vezes antes de se envolver em novos problemas. Após agredir violentamente um homem em um rancho ele finalmente vai parar no tribunal acusado de agressão. Para não ir para a cadeia o juiz determina que ele fique sob custódia de seu tio Rolfe (William Mims), já que seus pais estão mortos. A nova vida não parece muito promissora. Seu tio o coloca para trabalhar em sua pequena farmácia de elixir, com um salário irrisório. 

Além disso logo se cria uma tensão sexual entre Glenn e sua prima, Noreen Braxton (Tuesday Weld), uma garota desajustada, mãe adolescente que foi abandonada pelo marido com um pequeno bebê para criar. A única boa notícia em sua vida é o namoro que Glenn mantém com a doce Betty Lee Parsons (Millie Perkins). O problema é que os pais dela o odeiam por causa de seu passado tumultuado e cheio de conflitos com a lei. Para não ser preso Glenn ainda tem que passar por várias sessões de terapia com a Dra. Irene Sperry (Hope Lange) que o encoraja a voltar aos estudos o mais rapidamente possível uma vez que ele demonstra ter grande aptidão para escrever. Glenn porém se sente muito confuso em relação a Irene e logo se descobre perdidamente apaixonado por ela, apesar da diferença de idade entre eles. O improvável relacionamento acabará trazendo graves consequências para todos os envolvidos.

Como se pode perceber "Coração Rebelde" é um dramalhão. De certa forma foi o mais próximo que Elvis conseguiu chegar de seu grande ídolo do cinema, o rebelde James Dean. Seu personagem é um sujeito amargurado, hostil, com muita raiva reprimida que ele direciona de forma violenta a qualquer um que lhe cruze o caminho.  Glenn Tyler foi certamente o papel mais complexo que Elvis interpretou em sua carreira. Há longos diálogos, até alguns monólogos, onde Presley tenta transmitir alguma profundidade em seu trabalho como ator. A verdade porém é que Elvis não tinha a experiência e o preparo adequados para interpretar um personagem como esse. Ele não se sai completamente mal em cena mas de fato deixa a desejar em certas passagens, principalmente nas mais dramáticas (e como se trata de um drama são muitas as cenas nesse estilo). Curiosamente quem se sai bem melhor é a jovem atriz Tuesday Weld que interpreta sua prima no filme. Já Hope Lange apresenta um trabalho muito pesado, pouco sutil. 

Agora de bom mesmo "Coração Rebelde" apresenta uma bela produção, muito sofisticada e bem feita, com ótimos cenários, além de um roteiro realmente bem escrito, embora prejudicado em certos momentos, justamente naqueles em que Elvis surge em cena cantando (algo que soa completamente fora da característica do restante do roteiro). Por falar em músicas o cantor apresenta apenas três faixas (além da canção título que abre e fecha o filme). Nada marcante, nem muito inspirador. O filme ganharia muito sem as canções que soam bastante gratuitas e forçadas. No final das contas "Coração Rebelde" se destaca mesmo por sua carga de dramaticidade e pelo esforço de Elvis em ser levado à sério como ator. O Coronel Parker iludiu o cantor dizendo que ele venceria o Oscar por esse trabalho o que convenhamos era um absurdo completo. Obviamente a interpretação de Elvis não foi excepcional a esse ponto mas também temos que reconhecer que ficou longe, bem longe, de ser um desastre. Ao terminar de assistir ficamos com a dúvida: até onde Elvis iria se tivesse realmente tido uma chance de se desenvolver como ator dramático? Bom, essa resposta jamais saberemos.

 
Coração Rebelde (Wild in the Country, Estados Unidos, 1961) Direção: Philip Dunne / Roteiro: Clifford Odets, baseado na obra de J.R. Salamanca / Elenco: Elvis Presley, Hope Lange, Tuesday Weld,  Millie Perkins, John Ireland, Gary Lockwood, William Mims / Sinopse: Jovem rebelde (Presley) acaba escapando da prisão sob condicional. Ele terá que passar por sessões de terapia com uma psicóloga (Lange). Ao mesmo tempo precisa se decidir entre ficar com sua prima desajustada (Weld) ou sua namoradinha dos velhos tempos (Perkins).

Pablo Aluísio.