sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Good Times (1974)

O LP "Good Times" não foi lançado no Brasil na época. Absurdo completo, mas essa era a nossa realidade em 1974. Nem tudo que era lançado nos Estados Unidos chegava nas mãos dos fãs brasileiros. Uma pena porque o disco era bom. Trazia finalmente material novo, inédito, gravado por Elvis no Stax Recording Studio, em Memphis. Como se sabe Elvis já não tinha mais a mesma disposição de ir até Nashville para fazer novas gravações. Preferia ficar por ali mesmo, nos arredores de Graceland. Era algo mais confortável para ele. Sem outra saída, a RCA Victor concordou com a mudança.

Esse é um álbum de boas baladas, country e um ou outro flerte com a black music, principalmente a produzida em Memphis. O Stax tinha longa tradição em gravações de artistas negros locais. Elvis que sempre bebeu dessa fonte ficou muito à vontade por ali. Reuniu basicamente sua banda de palco e foi para o estúdio em busca de material novo para seus discos. A primeira rodada de gravações aconteceu em julho de 1973.

1. Take Good Care of Her (Warren / Kent) - "Take Good Care of Her" voltava para a melancolia. Cantar essa letra deve ter sido um martírio psicológico para Elvis. Nela um homem apaixonado se lamentava pelo fim de seu relacionamento. Sem ter chance de fazer nada sobre isso apenas dizia para o novo casal (sua ex-mulher e o novo homem dela) que eles deveriam se cuidar mutuamente, para serem felizes. Desiludido, chegava ao ponto de dar parabéns ao novo casal! Que dureza hein? Era como se Elvis se dirigisse a Mike Stone para dizer a ele que cuidasse bem de Priscilla, porque ela havia sido o maior amor de sua vida! Resignação completa, um homem de joelhos por causa da nova situação, tentando superar tudo da melhor forma possível! Psicologicamente tenho certeza não foi nada bom para ele gravar uma canção como essa! Não me admira a depressão ir aumentando dia a dia, tornando a doença uma companheira constante e nada agradável em sua vida.

2. Loving Arms (Tom Jans) - Certa vez li um artigo escrito por um crítico de música inglês em que ele dizia que "Loving Arms" era o mais próximo que Elvis tinha chegado de gravar uma valsa. Uma valsinha com sabor country. Essa opinião não deixou de ter seu fundo de verdade. A canção realmente tinha um pouco dessa antiga e tradicional escola musical. Se bem que ela não foi composta em Viena, mas sim em Yakima, uma cidadezinha do estado de Washington. Foi lá que nasceu Tom Jans, cantor e compositor folk, country, que acabou tendo sua obra gravada por Elvis alguns anos depois. A versão de Elvis foi obviamente inspirada não na gravação original de Tom Jans, mas sim na que saiu no disco de Kris Kristofferson. Elvis já havia gravado antes músicas desse talentoso ator e cantor, em especial "Help Me Make It Through The Night" que já tinha sido lançada no álbum "Elvis Now" de 1972.

3. I Got a Feelin' in My Body (Dennis Linde) - "I Got a Feelin' in My Body" é uma das melhores músicas do álbum "Good Times". Em um disco de músicas mais voltadas para o romantismo, em um repertório de baladas country, essa faixa realmente se destacava por ser diferente. Ela foi composta por Dennis Linde, e oferecida quase que imediatamente para Elvis gravar. Para quem tinha composto o hit "Burning Love" era mais do que bem-vinda. Porém como já havia virado tradição (negativa, é bom frisar) a gravadora RCA Victor nada fez para promovê-la nas rádios. Mal promovida, acabou não fazendo o sucesso que todos esperavam. O que é uma pena, já que ela tinha potencial, quase no mesmo nível que "Burning Love". O curioso é que em 1979, já depois da morte de Elvis, a RCA decidiu relançá-la como lado A de um single com "There's a Honky Tonk Angel (Who Will Take Me Back In)". O resultado? Chegou ao sexto lugar na Billboard, parada country! Veja como a RCA cometia erros dentro da discografia de Elvis. Por que não a divulgaram em 1974? Sem palavras...

4. If That Isn't Love (Dotie R) - "If That Isn't Love" sempre achei um pouco coadjuvante, sem brilho próprio. Um autêntico Lado B da discografia de Elvis. É uma canção romântica, uma declaração de amor com versos até simples. "Se isso não for amor / Então o oceano está seco / E não há estrelas no céu / E os pássaros não podem voar / Sim, se isso não for amor / Então o céu é um mito / Não há sensação como esta", Como se pode perceber pelos seus versos é uma canção romântica bem singela, novamente com claro estilo country, onde o autor tenta trazer esse sentimento amoroso bucólico, misturando seus sentimentos com aspectos da natureza. Um autêntico poema da primeira geração romântica. De uma forma ou outra chamou a atenção de Elvis que quis gravar sua versão da música.

5. She Wears My Ring (Felice Bryant / Boulderaux Bryant) - Pois é, quem disse que a vida ia ser fácil? Elvis em 1974 tentava ainda superar o fim de seu casamento. O divórcio tinha acabado com seu sonho de casal feliz um ano antes. O cantor ainda procurava justificativas, fazia reflexões e tentava superar a depressão. Muitas vezes aproveitava para mandar mensagens do que pensava nas letras das músicas dos discos que gravava. Em "She Wears My Ring" Elvis cantava uma letra que ia direto ao ponto, se referindo ao anel de casamento. Só que o seu matrimônio havia sido uma experiência ruim. Como ele poderia ser ao mesmo tempo nostálgico sobre tudo o que aconteceu? Provavelmente chorava por uma idealização que nunca chegou a se concretizar. Diante de tudo isso sempre achei a música a mais baixo astral do álbum. Não empolga e no fim das contas chega a cair na monotonia em alguns trechos.

6. I've Got a Thing About You Baby (Tony Joe White) – Do estilo mais dançante dentro do disco eu ainda prefiro "I've Got a Thing About You Baby". Nem preciso me repetir aqui. Essa é outra gravação ótima de Elvis que a RCA Victor não fez a menor questão de promover. O incrível é saber que a RCA (Radio Corporation of America) tinha centenas de estações de rádio ao seu dispor, fazia parte da mesma empresa. Só era necessário o envio de acetatos para essas rádios espalhadas por todos os Estados Unidos para transformar qualquer canção gravada por Elvis em sucesso instantâneo, mas ao invés disso a gravadora do cantor nada fez, não promoveu, não fez nada pelo disco. Assim ficava mesmo complicado se destacar nas paradas musicais da época.

7. My Boy (Claude Francois / JP Bourtayre) - O grande sucesso do disco "Good Times" porém foi inegavelmente a canção "My Boy". Era uma versão em língua inglesa da música original francesa que havia sido composta pela dupla Jean-Pierre Bourtayre e Claude François. Para muitos autores a canção mexeu com Elvis por causa da letra, versando sobre um pai e seu filho, após o fim de seu casamento. Algo bem próximo do que Elvis vinha passando em sua vida pessoal. Embora tenha se divorciado de Priscilla em 1972, o fim desse relacionamento jamais foi superado por Elvis. Pior era saber que Lisa Marie, sua filha, iria crescer em um lar desfeito. Elvis jamais conseguiu se conformar com isso. Era algo muito doloroso para ele do ponto de vista emocional. Assim a canção vinha como uma forma de mensagem sincera para sua filha.

8. Spanish Eyes (Kaempfert / Singleton / Snyder) - "Spanish Eyes" era mais uma aproximação de Elvis com a música europeia. Ela havia sido gravada pela primeira vez em 1965 com seu título original, "Moon Over Naples". Al Martino foi quem a apresentou com sucesso pela primeira vez ao público americano. Andy Williams também conseguiu grande êxito de vendas com sua própria versão. Quando a música finalmente chegou nas mãos de Elvis já tinha outro nome, "Spanish Eyes", algo que atraiu Elvis desde que a conheceu anteriormente. É uma canção muito tradicional entre os descendentes latinos que vivem na América. Elvis realizou uma bela versão em estúdio, chegando a cantá-la também em concertos ao vivo. Em ambas as situações sua performance sempre foi das melhores. Era algo que claramente o inspirava a cantar bem.

9. Talk About The Good Times (Les Reed) - Ainda falando sobre os bons e velhos tempos, Elvis soava mais uma vez como pura nostalgia em "Talk About The Good Times". Esse country rock de maravilhosa melodia deveria ter se tornado um dos grandes sucessos de Elvis nos anos 70. Também deveria ter sido explorada mais por Elvis em seus concertos. Iria funcionar muito bem, principalmente por causa de seu ritmo contagiante. Infelizmente nada disso aconteceu. A RCA Victor nunca promoveu a gravação e Elvis não a levou para seu repertório de shows. Com isso acabou muito restrita, sendo conhecida basicamente apenas por seus fãs de longa data. Que desperdício!

10. Good Time Charlie's Got The Blues (Danny O'Keefe) - "Good Time Charlie's Got The Blues" é certamente uma das músicas que mais aprecio dessa fase. Tecnicamente seria um blues com sabor country, escrito por Danny O'Keefe. Fez parte do primeiro álbum desse cantor e compositor em 1967. Ele era tipicamente um artista daquela época, do flower power, do chamado verão do amor. A guerra do Vietnã começava sua escalada rumo ao desastre e ele compôs essa balada de letra e harmonia bem melancólicas. Curiosamente o guitarrista James Burton diria anos depois que a faixa tinha sido um dos seus melhores trabalhos ao lado de Elvis, onde ele tocou seu instrumento apenas com a inspiração do momento, sem se importar muito com as partituras à sua frente. O solo ficou realmente muito bonito. Em seu lançamento original a canção chegou a um honroso nono lugar na parada Billboard Hot 100. Excelente posição!

Elvis Presley - Good Times (1974): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Johnny Cristopher (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / David Briggs (piano e orgão) / Per-Erik "Pete" Hallin (piano e orgão) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / Voice (vocal) / Dennis Linde (guitarra) / Alan Rush (guitarra) / Rob Galbraith (percussão) / Bob Ogdin (piano) / Randy Cullers (orgão) / Kathy Westmoreland, Mary Greene, Mary Holladay, Susan Pilknton (vocais) / Produzido e arranjado por Felton Jarvis / Gravado no Stax Recording Studio, Memphis, nos dias 21 e 22 de julho e 10 a 16 de dezembro de 1973 / Data de lançamento: Março de 1974 / Melhor posição alcançada nas charts: #90 (EUA) e #42 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis (1974)

Esse disco de Elvis Presley só chegou no Brasil nos anos 1990. Originalmente ele foi lançado nos Estados Unidos em 1974. É um disco oficial, ao vivo, muito lembrado por trazer na capa a fachada de Graceland e na contracapa os portões musicais. Tudo de muito bom gosto, em minha opinião. Só que nunca foi lançado em nosso país na época (da discoteca), fruto, claro, do atraso que havia no Brasil aliado a uma filial da RCA Victor que não estava muito interessada com a discografia de Elvis no mercado americano. Uma lástima.

Pois bem, confesso que quando encontrei o disco finalmente nas lojas brasileiras (isso deve ter sido lá por volta de 1992), não fiquei muito animado em adquirir o disco. Havia outro fator interessante: a versão em CD (compact-disc) também estava sendo lançada. Assim o colecionador de Elvis ficava na dúvida entre comprar o vinil, um formato que comercialmente estava morrendo naquele momento ou então o tão elogiado CD.

Acabei comprando o vinil. Foi uma decisão que hoje em dia nem me recordo mais como explicar. A cópia em LP tenho até hoje. Provavelmente a capa maior e mais rica em detalhes me levou a tomar essa decisão, mas nada muito claro em minhas lembranças. O conteúdo também se revelou muito bom, acima das expectativas. Elvis estava com o vozeirão mais encorpado, mais poderoso. Isso deu um sabor extra ao disco. Provavelmente Elvis cantou tão bem por estar em Memphis, sua cidade do coração. Havia na plateia muitas pessoas próximas dele e ele queria obviamente mostrar todo o seu talento. Um rei não pode fraquejar diante de sua corte. Além disso ele queria provar que santo de casa também faz milagres!

Também foram inseridos efeitos sonoros, com o aumento da presença do público no disco. O que antes eram palmas mais contidas no final de cada música agora soava mais como um grande e ininterrupto delírio coletivo. O curioso é que muitos ainda afirmam que o disco não passou realmente por esse, digamos, potencializado efeito de áudio da reação dos fãs, mas em minha opinião houve sim por parte dos engenheiros de som da RCA uma mexida, uma balançada para deixar o disco mais vibrante, mais feroz! O resultado me agrada ainda hoje. Sempre que quero ouvir um disco mais forte ao vivo, o Memphis 74 sempre acaba sendo o escolhido. Prova que fizeram mesmo um bom trabalho na mesa de som. 

Vou me concentrar basicamente na edição original americana da década de 1970. Como se sabe esse álbum de Elvis teve várias edições posteriores, inclusive trazendo diversas músicas que não estavam no LP original. A era do CD trouxe mais espaço do que o antigo vinil, além é claro de que nas edições posteriores os interesses da RCA Victor eram bem outros, assim como o marketing também havia mudado, etc.

Pois bem, para quem era colecionador na época de seu lançamento original o que importava era ter novas canções, novas faixas, gravadas por Elvis ao vivo. Os LPs trazendo material "live" já tinham se tornado rotina dentro de sua discografia, então era natural que as novidades de palco se tornavam grandes atrativos de vendas nas lojas de discos. O problema é que Elvis vinha com um repertório mais engessado, desde que retornara aos shows em 1969. Assim a gravadora estava sempre sugerindo ao cantor para que ele inovasse mais na lista de músicas, pois assim o selo teria material mais atrativo para o colecionador de sua discografia.

Nesse quesito de novidades o disco trazia uma versão inédita e pouco conhecida da música "Help Me". Era uma canção gospel ainda não lançada nos discos do cantor. Só depois ela iria chegar ao mercado em sua versão de estúdio no álbum "Promised Land". Era conhecido o fato de que Elvis sempre procurava encaixar alguma canção com letra religiosa em seus concertos. Fazia parte de sua formação musical e de sua personalidade como homem de fé. E esse gospel em particular tinha bom ritmo, boa pegada, para apresentações ao vivo. A letra, como já comentei, era um diálogo pessoal entre ele e Deus, onde de forma humilde pedia por ajuda, uma vez que havia chegado na conclusão de que já não tinha forças suficientes para resolver todos os problemas de sua vida sozinho.

Outra novidade era esse medley de pouco mais de três minutos trazendo "Blueberry Hill / I Can't Stop Loving You", A primeira tinha sido gravada por Elvis nos anos 1950, fazendo parte de seus disco "Loving You" e a segunda era figurinha fácil desde que Elvis voltara aos palcos em 1969 no International Hotel. Ficou muito boa a junção dessas faixas, principalmente nos primeiros acordes de "Blueberry Hill", um clássico do surgimento do rock nos Estados Unidos, ainda na voz de Fats Domino. O piano sempre foi o grande diferencial, trazendo uma harmonia que era pouco explorada em discos de rock naqueles tempos pioneiros.  

Esse disco ao vivo tem uma boa quantidade de músicas dos anos 50 e Elvis usou o mesmo estilo de cantar daquela época, o que deu um sabor bem nostálgico em sua interpretação. Algo fácil de perceber em faixas como "My Baby Left Me", canção que marcou bastante a carreira do cantor em seus anos iniciais. A versão de 74 não dura muito, é verdade, mas serve como lembrete ao público que aquele que estava no palco naquele momento era conhecido como o Rei do Rock.


"Lawdy, Miss Clawdy" chegou na discografia de álbuns ou LPs da RCA Victor no "For LP Fans Only", uma coleção de músicas que a gravadora lançou enquanto Elvis cumpria serviço militar na Alemanha, no final dos anos 50. Na capa Elvis aparecia com seu cabelo na cor natural, loiro, o que surpreendeu muita gente na época que pensava ser o preto seu cabelo real. Na verdade Elvis vinha pintando o cabelo desde muito cedo. Ele não gostava muito do amarelo de sua mechas e preferia ser aquele cara de olhos azuis e cabelo bem preto, aliás uma combinação que Elvis parecia preferir também nas mulheres. Priscilla, por exemplo, tinha essa combinação, O que talvez explique sua paixão por ela.

"I Got A Woman" também era dos anos 50, de seu primeiro disco na RCA Victor. Nos anos 70 Elvis a modificou bem, fazendo uma dobradinha com "Amen", canção gospel. Havia virado uma rotina em seus concertos, um pequeno medley que ele cantava sempre no começo dos shows. Inicialmente era interessante, Elvis aproveitava para provocar um pouco o público feminino, porém com o passar dos anos esse momento foi ficando saturado, principalmente para os músicos de sua banda, tendo sempre que tocar a mesma partitura. E Elvis foi também "avacalhando" ainda mais, a transformando quase em uma paródia. Hoje em dia já passou da saturação excessiva, principalmente para quem gosta de colecionar seus trabalhos ao vivo. Cansou completamente.

Uma boa surpresa para o colecionador da época vinha com o extenso medley de rocks dos anos 50 trazendo "Long Tall Sally / Whole Lot-ta Shakin' Goin' On / Mama Don't Dance / Flip Flop And Fly / Jailhouse Rock / Hound Dog". É a tal coisa. Todos sabem que Elvis já não tinha mais muita paciência para essas músicas, não depois de as interpretar por anos a fio. Porém o público queria ouvir ele cantando esses momentos. Não havia saída, Elvis tinha que cantar seus clássicos. Assim ele acabou juntando tudo em um medley. Isso me faz lembrar também de um conselho de Frank Sinatra que havia dito a Elvis que não mudasse muito a lista das músicas de seus concertos, que apostasse nos sucessos para ninguém sair decepcionado de suas apresentações.

A primeira vez que um fã de Elvis, ainda nos anos 70, ouviu em disco a música "See See Rider" foi no bom álbum "On Stage - February 1970". Depois a música iria passar um tempo sem aparecer em seus discos ao vivo. A RCA Victor evitava repetir uma mesma faixa várias vezes. Ela retornaria em sua discografia aqui nesse álbum de Memphis. A voz de Elvis estava bem mais encorpada, poderosa na opinião de alguns fãs. E a música, mesmo sendo usada por Elvis nos palcos à exaustão, não perdia o brilho. De certa maneira fácil de cantar, com letra simples e bom balanço, para levantar mesmo o público, era mesmo uma canção à prova de falhas no palco.

Já "Why Me Lord" era novidade, uma das inéditas que levaram os fãs a comprar o disco de todo jeito, mesmo se não estivessem muito a fim de ter outro disco ao vivo de Elvis. Sempre que a RCA mostrava interesse de lançar algum disco "Live" de Elvis no mercado lhe era sugerido que fossem colocadas músicas novas em seu repertório. Era a isca, o jeito de fisgar o colecionador. Em termos de interpretação nada o que criticar. Elvis em músicas religiosas colocava o coração em cada sílaba. Era impressionante ver como ele conseguia atingir notas altas, impossíveis mesmo para alguns cantores. Sempre que o gospel chegava no palco Elvis procurava dar tudo de si. Ele tinha realmente um grande sentimento religioso em seu alma. Era um homem de fé. Ninguém pode negar isso.

"How Great Thou Art" também estreava em álbuns na versão ao vivo, o que deve ter deixado muita gente surpresa. É fato bem claro que Elvis havia elevado o grau de dramaticidade nessa música quando a cantava em seus concertos. O refrão havia se tornado forte, bem mais espetacular do que se ouvia no disco original. Um crítico chegou a dizer que havia dado um pulo da cadeira quando Elvis soltou o vozeirão nessa canção em um concerto realizado no sul. Imagine, nesse lugares, na região conhecida como o "cinturão bíblico" dos Estados Unidos, Elvis realmente procurava caprichar pois sabia que o público era praticamente todo protestante.

"Let Me Be There" também era outra música que aparecia pela primeira vez na discografia de Elvis na época. O curioso dessa faixa é que a RCA Victor iria utilizá-la novamente no álbum "Moody Blue", inclusive usando da mesma gravação, da mesma faixa. Foi um caso bem único na discografia oficial de Elvis. Será que eles achavam que esse country iria passar como algo novo tendo em vista que o disco de Memphis não chegou a vender muito bem? Se foi esse o pensamento, então é mesmo de se lamentar tamanha artimanha para enganar os fãs. Afinal até parecia que não havia material inédito nenhum dentro da gravadora, algo que os anos iriam mostrar ser uma inverdade. De qualquer forma fica o registro. A música que você ouve no "Moody Blue" é a mesma que foi lançada inicialmente nesse disco. Um oportunismo não justificável por parte da gravadora de Elvis nos anos 70. Lamentável mesmo.

Já que o show foi realizado em Memphis nada mais natural do que Elvis trazer bastante country music em seu repertório. E se fosse do começo de sua carreira, melhor ainda. Havia um toque de nostalgia envolvida nessa apresentação, até porque apos tantos anos, voltar a se apresentar em Memphis, a cidade que Elvis considerava seu lar, era muito importante para ele. Assim ele colocou "Trying To Get To You" na seleção musical do concerto. Ele de fato gostava mesmo dessa música, tanto que ela foi figurinha fácil em suas turnês durante os anos 70. Dentro de sua discografia ela fez parte de seu primeiro álbum na RCA Victor. Era uma volta ao passado.

E também por Memphis ser uma das cidades sulistas mais importantes dos Estados Unidos, Elvis não poderia jamais deixar de cantar "An American Trilogy" para esse público. Essa foi uma música histórica, na verdade um medley, que unia músicas tradicionais, ainda dos tempos da guerra civil americana. Como se sabe esse conflito foi um dos mais devastadores da história dos Estados Unidos. E dentro da tragédia sempre a arte se faz presente para captar corações e mentes daqueles que viveram esses tempos difíceis.

Nessa guerra havia dois exércitos. O do sul, chamado confederado (porque eles defendiam a ideia de uma confederação, onde os estados poderiam deixar os Estados Unidos, se assim quisessem) e o do norte (que defendia que a secessão, a saída dos estados da união, não era possível). Os soldados do sul, com casacos cinzas, cantavam sobre Dixieland nos campos de batalha. Dixieland era um lugar utópico, nostálgico, que no fundo representava todo o sul dos Estados Unidos. Memphis era Dixieland, assim como Atlanta, Nashville, também eram Dixieland. Qualquer cidadezinha do sul, por menor que fosse, era Dixieland. Dixieland era o sul inteiro. Era um sentimento de paixão pelas origens, não um lugar bem delimitado geograficamente. Por isso Elvis jamais poderia deixar essa canção de fora em seu concerto de Memphis.

Por fim, fechando o show, Elvis não saiu do que costumeiramente fazia em outras turnês. Ele sempre encerrava seus concertos com a balada do filme Blue Hawaii chamada "Can´t Help Falling In Love". Eu sempre fiquei com um pé atrás de todas as execuções dessa balada em shows ao vivo. Acontece que ela deveria ser executada de uma forma terna, romântica. Só que no excesso de adrenalina dos concertos Elvis e banda sempre a aceleravam demais. Com isso a canção perdia parte de sua beleza em termos de harmonia e desenvolvimento. Assim sempre preferi mesmo a versão de estúdio da trilha sonora original. Foi a melhor performance de Elvis em toda a sua carreira. Nada supera aqueles belos arranjos e aquela bela vocalização por parte do cantor.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Aloha From Hawaii (1973)

Esse álbum duplo "Aloha From Hawaii" foi importante para Elvis por diversos motivos. Comercialmente foi o último LP de sua carreira a chegar ao topo da Billboard Hot 100. Por uma semana foi o disco mais vendido dos Estados Unidos. Também foi relevante por causa do próprio evento em si, colocando Elvis cantando numa transmissão ao vivo para vários países do mundo. Hoje em dia as transmissões ao vivo são banais, vide os grandes jogos de futebol e demais eventos esportivos. Já em 1973 isso era algo reservado para grandes momentos da TV, como a chegada do homem à Lua.

Em termos artísticos o disco também foi muito bem sucedido. Como se tratava de um concerto ao vivo importante, Elvis procurou dar o melhor de si, se empenhando na performance. Certas músicas tiveram a concentração própria de uma gravação de estúdio. Elvis que vinha sendo criticado pelo excesso de brincadeiras em Las Vegas adotou uma postura mais condizente com a importância do concerto. Em "My Way" ele demonstrou bem isso. Embora essa música seja mais associada a Frank Sinatra, que gravou a primeira versão em língua inglesa com grande sucesso, o fato é que Elvis se empenhou bastante em cantá-la corretamente, com cuidado na letra, de complicada memorização. O curioso é que Sinatra não queria gravar a música, pois tinha certos problemas pessoais com Paul Anka. Só depois de muita insistência é que topou fazer a gravação. Nancy Sinatra depois diria que era praticamente um auto retrato de seu pai. O mesmo poderia ser dito de Elvis. A letra igualmente se encaixava em sua trajetória de vida.

Com Elvis a música também ganhou grandiosidade. Por essa época ele queria ter acima de tudo o reconhecimento como grande cantor e grande artista. Por anos ele fora colocado para gravar um material de pouca qualidade, em especial suas trilhas sonoras Made in Hollywood. Depois que o advento dos filmes acabou, quando ele finalmente se viu livre dos contratos com os estúdios de cinema, ela finalmente conseguiu gravar material de qualidade novamente, músicas em que acreditava. Embora "My Way" tenha sido um marco para Sinatra, Elvis não se sentiu constrangido em gravar sua versão. Ele queria também demonstrar o que poderia fazer com a música. Para a RCA Victor a inclusão de "My Way" no disco foi excelente. Era a primeira vez que a música na voz de Elvis chegava ao mercado, era inédita em sua discografia. Algo que certamente iria ajudar na promoção do disco como um todo. Aliás é interessante notar que a RCA sempre sugeria novas músicas a ser adicionadas no repertório de seus discos ao vivo. Só assim o colecionador de discos de Elvis se sentia mais encorajado para comprar o LP. Uma jogada de marketing que se revelou certeira.

1. Also Sprach Zarathustra (Strauss) - foi uma boa ideia colocar "Also Sprach Zarathustra" de Richard Strauss como tema de abertura dos shows de Elvis nos anos 70. Ficou grandioso, épico e impactante. Quando Elvis voltou a se apresentar ao vivo foi composta uma pequena introdução orquestral para sua entrada no palco. Esse tema pode ser ouvido em discos gravados em 1969, no International Hotel. Embora breve, esse arranjo de entrada era bem produzido. Só que parecia ainda não digno da altura de um artista como Elvis. Apenas Strauss poderia estar em um nível acima. Muitos criticam, porque afinal a canção teria sido tema do clássico de ficção "2001 - Uma Odisseia no Espaço" do mestre Stanley Kubrick. Não estaria associada diretamente a Elvis. Penso de outra forma, acho que ficou muito bem encaixada. Ideal para o shows do cantor.

2. See See Rider (Arr. Elvis Presley) - Já "See See Rider" não era mais nenhuma novidade para os colecionadores de seus LPs. A música já tinha sido lançada antes no bom álbum "On Stage - February 1970". Assim era já naquela época destituída de maior interesse pelos fãs que compravam seus discos. No selo do vinil original a música foi novamente creditada a Elvis, ou pelo menos seu arranjo. Como já sabemos essa é uma música bem antiga, feita antes do nascimento de Elvis por autores cujos nomes se perderam no tempo. Mesmo assim a RCA Victor decidiu valorizar um pouco o trabalho de Elvis na elaboração de seu arranjo para o palco, o creditando como autor. Valeu pela boa intenção e reconhecimento.

3. Burning Love (Dennis Linde) - Pode parecer absurdo, mas para quem era fã de Elvis Presley no Brasil durante a década de 1970, a oportunidade de ter o grande sucesso "Burning Love" em sua coleção era mesmo comprando o duplo "Aloha From Hawaii". Acontece que o single original foi mal lançado em nosso país, saindo logo de circulação do mercado. Com isso o fã brasileiro ouvia bastante "Burning Love" nas rádios, pois a música fez muito sucesso por aqui também, porém tinha muitas dificuldades em ter a canção em sua coleção de discos. Não se encontrava para comprar nas lojas, em lugar nenhum. Ecos de um tempo sem internet, sem nada, onde todos os fãs ficavam à mercê da boa vontade da filial da RCA em nosso país. Eu considero uma das melhores canções de Elvis em sua fase final de carreira. Tinha uma boa vibração de pop rock, não era country music (logo tinha apelo geral entre o público) e tampouco era uma baladona romântica. "Burning Love" vendeu muito porque de certa maneira trazia o bom e velho Elvis roqueiro de volta. Sua voz também estava muito parecida com a dos primeiros discos, ainda lá nos anos 50, quando ele se tornou o cantor número 1 do mundo. Era também um sinal de que o público queria que Elvis voltasse para um repertório mais alegre, mais para cima, mais vibrante. O bom cantor de baladas românticas sempre era apreciado, porém o Elvis rocker também fazia falta.

4. Something (George Harrison) - Sempre considerei o som do disco original (vinil americano de 1973) muito abafado. Depois pensei que poderia ser um problema de prensagem da época. As edições posteriores do álbum, tanto em vinil como em CD, porém confirmaram as minhas suspeitas de que na verdade a gravação original é que apresentou falhas. Acredito que a acústica do lugar onde o concerto foi realizado não contribuiu para uma sonoridade melhor. Também pode ter sido algo relacionado ao equipamento de gravação da RCA Victor. De uma forma ou outra o problema se ouve em todas as faixas, mas fica ainda mais evidente em "Something" de George Harrison. A canção, como todos sabemos, foi lançada no disco "Abbey Road" dos Beatles em 1969. A interpretação de Elvis é boa, mas poderia ter sido mais realçada se o arranjo fosse mais simples, sem tantos exageros, principalmente nos metais. O ponto positivo é que a performance por parte de Elvis demonstrava bem que ele gostava bastante do som dos Beatles, não prosperando aquela velha lenda de que ele tinha uma rixa pessoal com o quarteto inglês.

5. You Gave Me A Mountain (Marty Robbins) - Música que Elvis cantava com bastante emoção. A letra conta a estória de uma garotinha que é abandonada pela mãe e vai morar com seu pai. Lógico que Elvis estava se identificando com a canção, pois estava se divorciando de Priscilla na época. Uma vez, em Las Vegas, Elvis dedicou esta bela melodia à sua filha, Lisa Marie. Sobre o especial a revista Rolling Stone escreveu: "Elvis continua sendo o reflexo da cultura popular americana do mesmo modo que era há quinze anos atrás. Por um lado é rude, excessivo, vaidoso, narcisista e violento, mas por outro é incrivelmente competente, profissional, despretensioso, estimulante, visceral e talentoso, da maneira mais natural e pessoal que se possa imaginar. Hoje em dia Elvis é um artista completamente diferente do que foi há quinze anos, mas na minha opinião, apesar dos erros que possam ter sido cometidos em sua carreira, ele continua sendo um grande astro. Na realidade, um artista tipicamente americano e um dos que mais deveriam orgulhar o povo deste país".

6. Steamroller Blues (James Taylor) - "Steamroller Blues" de James Taylor também era novidade na discografia de Elvis na época de lançamento original desse álbum. Elvis nunca havia gravado a canção em estúdio antes e por isso quem colecionava seus discos não a conhecia ainda na voz do cantor. Foi colocada na lista de músicas do especial quase na hora final, pois Elvis não havia dito a ninguém da banda que estava disposto a cantá-la. A versão ao vivo ficou muito boa, porém ainda penso que um arranjo mais simples para esse blues contemporâneo iria melhorar ainda mais o que já era bom. Esse arranjo exagerado de metais sempre me incomodou.

7. My Way (Claude François / J. Revaux / P. Anka) -  Esta sem dúvida pode ser incluída entre as cinco melhores músicas que Elvis interpretou em sua vida. O Título original desta canção Francesa é "Comme D'Habitut" e foi lançada pela primeira vez pelo autor, Claude François, em 1967, na França, pelo selo Barclay. Em 1968, Frank Sinatra lançou sua versão em língua Inglesa, adaptada por Paul Anka, que acabou conquistando o mundo. Esta versão é a primeira que aparece na discografia de Elvis. Em 1977 ela seria lançada num single de enorme sucesso, com "America" no lado B.

8. Love me (Claude François / J. Revaux / P. Anka) - "Love Me", por outro lado, era figurinha fácil para os fãs. Um dos destaques do segundo álbum do cantor na RCA Victor, era uma das preferidas de todos os tempos por parte de Elvis. O vocal bem country de Nashville parecia exercer uma fascinação em Elvis, pois o lembrava dos antigos cantores de country and western de sua infância e juventude em Memphis. O tempo foi saturando um pouco a música, mas sua beleza original conseguia resistir a tudo, até mesmo ao uso excessivo dela nas turnês do astro. Além disso qualquer composição da dupla Jerry Leiber e Mike Stoller era muito bem-vinda em seus LPs dos anos 70. Era um retorno nostálgico aos anos de ouro de Elvis.

9. Johnny B. Goode (Chuck Berry) - O Riff mais conhecido da história do Rock. Aqui, James Burton dá o tom da nova era na carreira de Elvis Presley. Um dos mais adorados e conhecidos hinos da nação roqueira ganha sua versão na voz do Rei. Elvis, por sua vez, não deixa por menos e protagoniza uma das melhores versões para a histórica canção de Chuck Berry. O próprio Berry já dizia: "Tudo o que eu preciso para fazer uma música de Rock é um cara, uma garota e um cadillac". Definitivo, nas palavras do mais outsider de todos os grandes nomes do surgimento do Rock.

10. It's Over (Roy Orbinson / G. Dees) - Outra música inédita dentro da discografia de Elvis em 1973 era essa "It's Over" de autoria da dupla Roy Orbison e Joe Melson, Interessante é que seria uma boa canção para ser gravada em estúdio, contando com todo aquele arranjo de metais bem típico de Felton Jarvis. Elvis porém não se deu ao trabalho, priorizando a execução da canção ao vivo mesmo. Esse tipo de música servia muito bem aos propósitos de Elvis em mostrar toda a potência de sua voz. Nos anos 70 ele inegavelmente procurou por esse tipo de canção, que tivesse um certo tipo de apoteose final. Era bem o momento propício para ele soltar seu vozeirão a plenos pulmões.

11. Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - Elvis continuou nessa levada de não levar à sério nenhum de seus grandes sucessos do passado, mesmo no "Aloha From Hawaii". A versão de "Blue Suede Shoes" de Carl Perkins que ouvimos aqui é bem fraca. Aliás nunca ouvi uma boa versão desse clássico do rock dos anos 50 ser bem executada por ele nos anos 70. Talvez a última vez que Elvis a tenha cantado bem tenha sido em Las Vegas em 1969. Ali, na temporada do retorno de Elvis aos palcos depois de muitos anos, ouvimos versões de verdade da música, onde o cantor procurava dar o melhor de si, resgatando seu legado e o título de Rei do Rock. Depois da virada dos anos 70 Elvis continuou a cantá-la, mas em versões cada vez piores, preguiçosas, desleixadas.

12. I'm so Lonesome I Could Cry (Hank Williams) - Na década de 1970 Elvis foi se voltando mesmo para o country. Seus álbuns ficaram cheios de country music e no palco ele procurou também resgatar essa música mais regional do sul dos Estados Unidos. Nesse álbum do Aloha Elvis trouxe uma novidade ao repertório, o clássico de Hank Williams, a bonita "I'm So Lonesome I Could Cry". Era a primeira vez que a canção aparecia em um disco do cantor. Ele nunca a havia gravado em estúdio antes. É uma bela aquisição so repertório do disco, o valorizando bastante, principalmente para os colecionadores da época que estavam sempre em busca de novidades na voz de Elvis. A versão original foi gravada em 1949, ou seja, era uma música nostálgica para Elvis, dos tempos em que ele menino ficava ouvindo rádio ao lado da mãe na varanda de sua pequena casa. Elvis a canta respeitosamente, concentrado. Uma bela homenagem a Hank Williams, ícone da country musica, falecido prematuramente.

13. I Can't Stop Loving You (Gibson) - Nas mesma linha mais country havia ainda "I Can't Stop Loving You", composição de Don Gibson. Elvis tinha encontrado essa canção por volta de 1969 quando decidiu que ela iria fazer parte de seus primeiros shows em Las Vegas. Depois disso nunca mais deixou de cantá-la ao vivo. Algumas vezes a música sumia de seus concertos, mas logo depois voltava com força total. É fácil entender porque Elvis de certa maneira se apegou a ela. Com uso excessivo de refrão, era uma boa oportunidade de sacudir o público, ainda mais no sul dos Estados Unidos. Além disso sua letra era de fácil memorização. Não é segredo para ninguém que em determinado momento Elvis começou a ter problemas de memorizar certas letras. Esse aqui porém era ideal para o palco. Quase à prova de falhas.

14. Hound Dog (Jerry Leiber / Mike Stoller) - Já a versão de "Hound Dog" do Aloha é melhor esquecer. Apenas um bilhete, um pequeno lembrete de seus anos gloriosos como roqueiro nos anos 50. Nada memorável, executada com uma certa preguiça por parte de Elvis. A imortal criação da dupla Jerry Leiber e Mike Stoller merecia um melhor tratamento. É curioso porque na primeira temporada de Elvis em Las Vegas ele apresentou uma versão arrasadora ao vivo, só que depois inexplicavelmente a deixou de lado, só trazendo a canção para os palcos em versões fracas como essa. O que aconteceu?

15. What Now My Love (Et Maintenant) - "What Now My Love" era uma versão em língua inglesa de uma música francesa composta por Gilbert Bécaud. Elvis já vinha cantando a canção desde a temporada anterior em Las Vegas, no ano de 1972. Ele adicionou a música como uma forma de renovar um pouco seu repertório, afinal ficar cantando sempre as mesmas músicas pode ser desgastante para qualquer cantor. Novidades sempre são bem-vindas. Que o diga os fãs de Elvis nos anos 70. Para os colecionadores de seus discos essa faixa era uma completa novidade. Uma inédita para ajudar nas vendas.

16. Fever (J.Davenport / E.Cooley) - E por falar em voltar aos bons anos do rock ´n´ roll, muita gente se surpreendeu pelo fato de Elvis ter trazido para esse seu show no Havaí a canção "Fever". Um blues bem sensual, de 1960, do repertório do aclamado álbum "Elvis is Back!", o primeiro depois de seu retorno aos Estados Unidos, após cumprir seu serviço militar na Alemanha ocupada por tropas americanas. A versão de estúdio obviamente seguia imbatível, uma gravação isenta de falhas, tecnicamente perfeita. Nessa versão ao vivo que ouvimos aqui no "Aloha" tudo segue também corretamente bem. Apenas, se eu fosse criticar algo, seria a pesada orquestração, o arranjo de metais, que para falar a verdade não combinou muito bem com a proposta da canção em si. Mesmo assim passa pelo crivo. É um bom momento do show.

17. Welcome to My World (Winkler / Hatchcock) - Outra inédita era "Welcome to My World", bela melodia composta pela dupla John Hathcock e Ray Winkler. Essa faixa (essa mesma versão) acabou sendo utilizada novamente pela RCA Victor alguns anos depois no álbum de mesmo nome. Apenas capricharam numa nova capa (um belo desenho de Elvis) e intitularam o álbum de "Welcome to My World", alcançando um bom resultado comercial. Era uma coletânea, mas disfarçada, para atrair os menos avisados. Essa canção havia sido lançada originalmente em 1962, sendo gravada por diversos cantores ao longo dos anos. A versão que mais fez sucesso foi a de Jim Reeves. A versão de Elvis foi um pouco tardia, mas ainda conveniente e bem-vinda. No geral Elvis apenas pegava carona no sucesso da canção.

18. Suspicious Minds (Mark James) - O grande sucesso de 1969, "Suspicious Minds", também não poderia faltar. Composta por Mark James, foi a primeira música de Elvis a chegar ao primeiro lugar da Billboard após anos afastado do topo das paradas musicais. Uma forma de revitalizar seu estilo, mudar, ir por novos caminhos. Era uma faixa com o qual Elvis não se identificava muito pessoalmente, mas que era mais do que apreciada, principalmente por mostrar ao mercado que ele ainda estava no jogo, após seus anos de isolamento em Hollywood, onde praticamente só cantava nas trilhas sonoras, sem ser competitivo com outros grandes nomes da época, como os Beatles.

19. I'll Remember You (kui Lee) - "I'll Remember You" era outra novidade. Composta por Kui Lee, tinha tudo a ver com o caráter filantrópico do evento, que visava arrecadar fundos para um hospital especializado em câncer nas ilhas havaianas. Para fortalecer isso o próprio Elvis havia feito sua doação, para incentivar o seu público a fazer o mesmo. Esse aspecto sempre foi muito forte em sua personalidade e ele agora trazia esse ato de caridade cristã para sua carreira também, dando o exemplo, impulsionando as doações cada vez mais. Afinal esse era o principal objetivo do concerto realizado no Havaí.

20. Long Tall Sally (Johnson) / Whole Lotta Shakin Goin On (Williams / David) - E para lembrar a todos que ali no palco estava um dos principais responsáveis pela popularização e surgimento do rock, ainda nos anos 50, Elvis e banda encaixavam um medley muito significativo nesse aspecto. "Long Tall Sally" / "Whole Lotta Shakin' Goin' On" unia dois clássicos do rock em sua primeira fase. A primeira música havia sido gravada por Elvis em seu segundo disco na RCA, mas tinha se tornado célebre mesmo na voz do estridente (no bom sentido) Little Richard. Ele havia abandonado a carreira de rockstar para se dedicar a uma vida religiosa, se tornando pastor, e tinha grande gratidão em relação a Elvis por ter gravado uma de suas mais populares criações. A segunda canção tinha sido sucesso na voz do "The Killer", também conhecido como Jerry Lee Lewis. Ele havia destruído sua carreira bem no começo quando casou com uma prima menor de idade, com apenas 14 anos. Isso causou escândalo, levando seu piano incendiário para o fundo do poço do esquecimento e do ostracismo.

21. American Trilogy (Adaptado por Mickey Newbury) - Eu sempre vou identificar esse álbum com a música "An American Trilogy". Na verdade um medley triplo criado por Mickey Newbury que tencionava revitalizar músicas históricas, algumas provenientes de cultos religiosos, outras que foram populares nos campos de batalha, durante a guerra civil dos Estados Unidos. Elvis, patriota como era e um homem muito religioso, procurava assim por uma identidade musical em seus concertos realizados durante os anos 70. Como era de complexa execução, essa canção acabou sendo vital para mostrar e identificar os melhores shows de Elvis nesse período de sua carreira. Quando Elvis estava bem, costumava dar tudo de si nela, quando estava mal, isso se refletia como nunca no palco. O interessante é que era mesmo uma música de show, sendo que Elvis não teve a preocupação de gravar uma versão de estúdio para ser lançada em seus álbuns. Parecia que ela funcionava muito melhor com o calor do público, dando resposta ao cantor ali, na hora, ao vivo.

22. A Big Hunk O'Love (Schroeder / Wyche) - Bem, não poderia deixar de registrar também que nunca gostei da versão que Elvis apresentou de "A Big Hunk O' Love" nesse concerto. Acredito que os arranjos excessivos de metais a descaracterizaram demais. Um rock da primeira fase da carreira de Elvis, deveria ter sido mais fiel aos arranjos originais. Nada de trombetas ou trombones. Não deu certo! Curioso que Felton Jarvis sempre foi criticado por isso, por pesar demais a mão em certos arranjos. Aqui ele poderia ter maneirado mais, deixando a orquestra de lado, incentivando mais os instrumentos mais típicos do rock dos anos 50, a saber, violão, guitarra, baixo e bateria. Nada mais era preciso. O produtor definitivamente errou!

23. Can't Help Falling in Love (Peretti / Creatore / Weiss) - Por fim, finalizando a análise, temos que aqui tecer alguns comentários sobre "Can't Help Falling in Love". A coisa toda aconteceu meio ao acaso. De repente a música romântica do filme "Feitiço Havaiano" acabou se tornando a nota final de todos os seus shows. Funcionava bem, era uma despedida de Elvis que deixava o público querendo mais. Só penso que Jarvis novamente deveria ter trazido mais da trilha sonora original. Eu sempre gostei muito dos arranjos originais do disco de 1961. Tudo soava quase como uma canção de ninar, por mais terno que isso possa parecer. Teria ficado muito bonito em seus concertos, não tenho dúvidas sobre isso.

Elvis Presley - Aloha From Hawaii (1973): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / John Wilknson (guitarra) / Charlie Hodge (violão e vocais) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Glen Hardin (piano) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Kathy Westmoreland (vocais) / Joe Guercio Orquestra / Produzido por Marty Pasetta, Elvis Presley e Joan Deary / Arranjado por Felton Jarvis e Elvis Presley / Gravado ao vivo no H.I.C. Arena, Honolulu, Hawaii, no dia 14 de janeiro de 1973 / Data de Lançamento: fevereiro de 1973 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #11 (UK).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Raised On Rock (1973)

O disco "Raised on Rock" não foi muito bem sucedido do ponto de vista comercial. Só conseguiu chegar entre os 50 álbuns mais vendidos, segundo a parada da Billboard. Uma posição bem ruim para um astro do porte e da fama de Elvis Presley. Pior do que isso, era um álbum de gravações inéditas, o que deixou a RCA Victor perplexa pela falta de interesse dos próprios fãs de Elvis. Ninguém pareceu se interessar. Muito se criticou também na época de lançamento que era um LP muito curto (não chegava nem a 30 minutos de duração), sem grandes sucessos e músicas de impacto. Faltava uma "Burning Love", por exemplo, para puxar as vendas para cima. Sem hits, acabou ficando no vácuo. E isso não deixava de ser algo a se lamentar, porque havia sim boas faixas em seu repertório. Nenhuma delas se tornou muito relevante para a carreira de Elvis, isso era verdade, mas inegavelmente havia boa música ali. Talvez o disco tenha se prejudicado por problemas pessoais de Elvis. A gravadora queria realizar uma nova maratona de gravações, como a que havia acontecido em 1969 e 1970, mas Elvis sucumbiu no meio dos trabalhos. Ele chegava atrasado no estúdio, aparentando desinteresse (um efeito da depressão pelo qual vinha passando) e isso desanimava os demais músicos da banda. O produtor Felton Jarvis acabou tendo muito trabalho com o grupo. Um baixista foi demitido por tocar deitado no chão, entediado pelo estado desanimador de Elvis. Tudo muito baixo astral.

Raised on Rock (Mark James) - Canção título do disco. Foi lançada em single junto com "For Ol'Times Sake" em Setembro de 1973. A letra feita pelo ótimo compositor Mark James faz um balanço emocional dos anos iniciais do Rock'n'Roll. A harmonia também é bastante original, transformando o conjunto em um belo momento da carreira de Elvis Presley. Era uma música de estúdio, não muito adequada para os palcos por causa de seu ritmo diferenciado. Talvez por essa razão Elvis nunca a usou em concertos. Ele tinha um ótimo feeling para saber quais músicas iriam levantar o público e quais não iriam funcionar muito bem. Por isso a deixou de fora, mesmo na época de lançamento do disco, um momento em que a maioria dos artistas se esforçam em divulgar as novas músicas para impulsionar as vendas do LP. Para Elvis, com tantos anos de estrada, isso definitivamente não tinha mais importância.

Are You Sincere (Wayne Walker) - Parte de um clima de cansaço que se abatia sobre Elvis acabou sendo passada para algumas das canções desse álbum. Um exemplo era "Are You Sincere", uma música muito melancólica, depressiva mesmo, que Elvis gravou com dificuldades. A letra, extremamente simples e emocional, com estrofes pequenos e repetitivos, criava um clima de desamparo completo no ouvinte. Quando Elvis morreu e a RCA lançou o disco "Our Memories of Elvis" essa canção foi a que abriu o disco. A diferença é que ela vinha na sua versão crua, tal como fora gravado em estúdio. No disco oficial "Raised On Rock" ela aparecia com os diversos tratamentos sonoros colocados pelo produtor Felton Jarvis. Muitos fãs preferem ouvir as faixas limpas, apenas com Elvis e banda tocando em estúdio, porém penso que não é sempre o caso. "Are You Sincere", por exemplo, ganhou bastante em beleza pelas mãos talentosas do produtor Jarvis. Sem overdub ela só conseguia se parecer mais tristonha e depressiva do que já era e isso não era bem uma qualidade a se louvar.

Find Out What's Happening (Jerry Crutchfield) -  "Find Out What's Happening" tem um ótimo balanço. Essa é obviamente influenciada pela black music, inclusive o clima do Stax Recording Studios se fez mais presente do que em qualquer outra faixa desse disco. Aqui o produtor Felton Jarvis abriu muito mais espaço para os músicos da banda de Elvis, com vários solos (todos ótimos) e uma valorização ainda maior do baixo, que no estúdio contou com três baixistas (Tommy Cogbill, Donald Dunn e Thomas Hensley) que foram se revezando no decorrer das gravações. A letra também é boa. Ao invés de Elvis se colocar como o homem que foi abandonado pela mulher amada (tema recorrente em seus discos dos anos 70) aqui é ele que vai embora. Uma mudança de astral bem-vinda. Fossa demais ninguém aguenta, não é mesmo? Aqui Elvis pelo menos canta versos mais auto afirmativos como: "Baby, você me conhece bem / Você sabe que eu quero dizer, o que eu digo / Antes de dizer adeus / Eu vou dar-lhe apenas mais um dia / É melhor descobrir o que está acontecendo / Descubra o que está acontecendo antes de tempo, Oh yeah / Se você não descobrir o que está acontecendo / Você vai descobrir que eu estou indo embora agora, Oh yeah"

I Miss You (J.D.Summer) - Se  Find Out What's Happening" valorizou a banda de Elvis, dando destaque a eles como solistas, a canção "I Miss You" veio para valorizar seu grupo de vocalistas de apoio. J.D.Summer e The Stamps, e o Grupo Voice ganharam destaque. O curioso é que o produtor Felton Jarvis achava excessivo o número de vocalistas que Elvis levava para o estúdio. Todos os seus álbuns estariam bem servidos apenas com o grupo liderado por J.D.Summer, mas Elvis resolveu formar ele próprio um outro grupo vocal, o Voice, com cantores que estavam desempregados na época. Além de ser um ato de generosidade do cantor, era também a forma dele ter sempre eles por perto, para cantar nas suítes depois dos shows ou como grupo de aquecimento antes das gravações de seus discos em estúdio. No mais a letra de "I Miss You" era outro recado para Priscilla, com Elvis abrindo seu coração em versos como: "Então eu relembro todos os bons tempos juntos... / O amor que repartimos, a alegria e os sorrisos... / Como eu quero que você sinta o que meu coração diz esta noite querida... / Eu sinto sua falta e eu quero você aqui.. / Sonhos que eu tinha, eles acabaram-se num instante... / Os planos que eu fiz, as esperanças para o amanhã... / Se eu pudesse, eu diria como estou sozinho esta noite, querida...  / Eu sinto sua falta e eu quero você aqui..". Pois é, definitivamente ele ainda não havia superado a separação e o fim de seu casamento.

Girl of Mine (Reed / Mason) - Muitos criticam a canção "Girl of Mine" afirmando que seria uma performance preguiçosa por parte de Elvis Presley. Há uma certa dose de verdade nisso. Elvis que já não vinha muito bem no aspecto psicológico (a depressão ia aumentando a cada dia) apenas levou a música em um certo tom, diria no controle remoto. A melodia e a harmonia da música também não ajudavam. Ele é bem assim mesmo, composta dessa forma. O que salva é a sonoridade country bem característica de Nashville nos anos 70. Particularmente gosto da letra. Tem versos bem construídos como os que seguem: "Quando você dorme ao meu lado, eu fico olhando você deitada / Suas mãos sobre o travesseiro e o luar em seu cabelo / Eu sinto uma sensação tão boa, tão boa que quase choro / Eu beijo seus lábios sonolentos e digo, eu te amarei até o fim dos meus dias." Como se pode ver a "sonolência" da música em si se justifica em parte por seus próprios versos.

For Ol' Times Sake (Tony Joe White) - Nas músicas gravadas por Elvis nos anos 70 havia muita desilusão sobre casos amorosos rompidos, mas havia também espaço para tentativas de reconciliação. Em "For Ol' Times Sake", a segunda música mais importante do disco, ele tentava convencer, em um último esforço, sua amada a voltar para seus braços após um rompimento doloroso. Tudo feito de alma aberta, de maneira sincera. Isso fica bem claro em versos como "Antes que você vá embora e me abandone / Dê uma olhada ao redor e me diga o que você vê / Aqui eu me encontro, como um livro aberto". Um trechos mais significativos dessa balada é a parte em que Elvis cantava: "Então, uma vez mais, em nome dos velhos tempos / Venha e deite sua cabeça sobre meu peito / Por favor, não jogue fora este momento / Nós podemos esquecer o lado ruim e considerar os melhores / Se você não tem nada mais a dizer / Me deixe pelo menos te abraçar uma vez mais, em nome dos velhos tempos". Elvis tentou voltar para Priscilla inúmeras vezes, mas sempre encontrou resistência na ex-esposa. Em determinado momento ele se despiu de sua vaidade e suplicou para que Priscilla voltasse dizendo "Eu quero minha família de volta!".  Para Albert Goldman tudo isso serviu para destruir ainda mais o ego de Elvis, sua própria auto imagem. Ele de certa maneira se humilhava por um recomeço, mas no final todos os seus esforços foram em vão. Em seus discos Elvis aproveitava para passar mensagens mais do que claras para Priscilla. Enquanto ele tentava de tudo, Priscilla só parecia mais interessada em colocar o divórcio pra frente. Nem pelos velhos tempos ela parecia disposta a voltar para Elvis.

If You Don't Come Back (Leiber / Stoller) - Dando continuidade na análise do álbum "Raised On Rock" de 1973 vamos tecer mais alguns comentários sobre as músicas desse disco. Uma das faixas mais lembradas desse repertório é "If You Don't Come Back". Embora alguns observadores tenham dito que se tratava de um genuíno momento da black music na discografia de Elvis, o fato é que a música foi composta pela dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Bom, quem conhece a história de Elvis Presley sabe muito bem que esses compositores estiveram ao lado de Elvis desde os primeiros álbuns na RCA Victor. Era uma parceria antiga. Depois de uma certa desavença que eles tiveram com o Coronel Parker ficaram anos fora dos discos de Elvis. O retorno - esperado retorno - acabou acontecendo aqui, nesse agradável momento do LP original. Essa criação da dupla é, digamos, um "funk de brancos" (afinal foi escrita por uma dupla de compositores judeus de Nova Iorque). Ela tem uma letra curiosa, quase uma tragicomédia de um homem que simplesmente acorda pela manhã e descobre que sua vida está virada de cabeça para baixo, pois sua esposa o deixou. Dá a se entender, pela linguagem utilizada, que se trata de um casal de negros vivendo em um bairro da periferia. O coro feminino, exclusivamente black das vocalistas de apoio de Elvis, reforça ainda mais esse clima. É um bom momento de Elvis no disco, uma boa gravação, tanto que muitos anos depois da morte do cantor chegou a dar origem até mesmo a uma versão remix (que eu pessoalmente não gostei).

Just a Little Bit (Rosco Gordon) - Outra que tem um estilo muito parecido, bem o som do Stax Studios, é "Just a Little Bit". Diria ate´que são músicas irmãs dentro do disco. Essa música tem uma paradinha bem característica, reforçada pela bateria. É aquele tipo de som que gruda na sua mente desde a primeira vez que a ouve. Também por ser tão própria pode criar facilmente uma certa saturação, justamente por causa desse som bem peculiar. É claramente um R&B ao estilo blues. Aqui Elvis voltou ao tempo, mais exatamente a 1959, ano em que a música foi lançada originalmente pelo pianista e compositor negro Rosco Gordon. A gravadora foi a pequena Vee-Jay que alguns anos depois compraria os direitos autorais para os Estados Unidos de um grupo de jovens ingleses desconhecidos de Liverpool. Eles mesmos, os Beatles! Imagine você que ironia do destino! Pois bem, depois do single original de Rosco, a música voltou a ser gravada mais duas vezes. A primeira por Roy Head em 1965 e a segunda por Little Milton em 1969. Como Elvis sempre foi um ouvinte de rádios de blues e como ele também era um colecionador de discos antigos, era óbvio que já a conhecia de muitos anos. Assim quando entrou em estúdio já estava com essa velha música em seus planos. A versão, apesar dos problemas de saúde que Elvis vinha enfrentando na época de sua gravação, ficou muito boa, praticamente irretocável.

Sweet Angeline (Eddy Arnold / Martini / Morrow) - "Sweet Angeline" é uma balada muito triste e chorosa, mas sua melodia melancólica tem seu charme. Essa canção quase não foi gravada por Elvis porque durante essas sessões ele teve muitos problemas de saúde. O abuso de drogas estava cobrando seu preço, atrapalhando o cantor agora no aspecto profissional. Ele apresentou alguns problemas respiratórios que o impediam de trabalhar normalmente. Também se aborreceu com o clima de tédio e descaso que se instalou nos estúdios durante as gravações. Um baixista foi inclusive demitido por tocar deitado no chão, cansado de esperar por Elvis. Outro fato é que Elvis estava armado. Quando entrou para gravar resolveu retirar duas pistolas da cintura, bem na frente dos outros músicos da banda. Isso criou um certo mal-estar. Ninguém falou nada, mas ficou meio ruim o clima. Diante de tantos problemas a produtividade de Elvis decaiu muito. Ele que conseguia gravar quase um álbum inteiro numa noite (como nos anos 60) agora encontrava problemas para terminar uma faixa apenas! Era incrível o declínio físico e psicológico que vinha atravessando. "Sweet Angeline" foi gravada talvez em um dos seus piores momentos, por isso ficamos com a sensação de que Elvis está bem indisposto e cansado em sua performance. Não é uma música feliz, o que talvez tenha piorado ainda mais o estado de espírito do cantor.

Three Corn Patches (Leiber / Stoller) - "Three Corn Patches" era mais alegrinha. Uma canção mais para cima, uma das poucas nesse estilo presentes no disco. Essa era uma velha canção da dupla Leiber e Stoller. Eles tinham firmado uma parceria maravilhosa com Elvis nos anos 50, resultando daí vários sucessos imortais como "Hound Dog", entre outros. O problema é que o Coronel Parker começou a achar que os direitos de suas músicas estavam caros demais. Assim riscou a dupla da carreira de Elvis. Um erro absurdo. Qualidade não tem preço. Assim a gravação dessa faixa foi um verdadeiro reencontro de Elvis com os compositores. Eles não voltaram a se encontrar novamente, mas o fato de Elvis gravar uma de suas músicas demonstravam uma certa gratidão por parte do cantor para com seus velhos parceiros de discografia.

Elvis Presley - Raised On Rock (1973): Elvis Presley (vocal) / James Burton (guitarra) / Reggie Young (guitarra) / Dennis Linde (guitarra) / Bobby Manual (guitarra) / Johnny Christopher (guitarra) / Tommy Cogbill (baixo) / Donald Dunn (baixo) / Thomas Hensley (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / Ronnie Tutt (bateria) / Al Jackson (bateria) / Bobby Wood (piano) / Don Summer (piano) / Bobby Emons (orgão) / J.D.Summer and The Stamps (vocais) / Voice (vocais) / Kathy Westmoreland, Mary Greene, Mary Holladay, Ginger Holladay (vocais) / Al Pachucki (engenheiro) / Felton Jarvis (Produção e Arranjo) / Gravado nos dias 21 a 25 de julho de 1973, Stax Recording Studios, Memphis - 22 e 23 de setembro de 1973, Palm Springs / Data de lançamento: outubro de 1973 / Melhor Posição nas Paradas: #50 (EUA).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis (1973)

Elvis Presley - Elvis (1973) - Esse álbum "Elvis" de 1973 foi o primeiro de estúdio a ser lançado após o sucesso do "Aloha From Hawaii". A trilha sonora do especial de TV via satélite vendeu muito, chegou ao primeiro lugar das paradas e foi um marco na carreira e na discografia de Elvis. Assim havia um clima de fim de festa quando esse disco chegou timidamente nas lojas de discos.em julho daquele ano. A RCA Victor não trabalhou muito por sua divulgação e em razão disso nenhuma das faixas chegou a se tornar um grande sucesso. Era mais uma vez a velha estratégia de reunir gravações esparsas, que estavam arquivadas, para compor um novo título do cantor no mercado.

O curioso é que a RCA resolveu chamar o disco apenas de "Elvis". O problema é que já havia um álbum com esse nome, justamente o segundo da discografia do cantor, lançado em 1956. Por isso ao longo do tempo os próprios fãs acabaram apelidando esse álbum de "The Fool Album", por causa da primeira faixa do lado A, que foi a que teve maior repercussão nas estações de rádio da época. Nada de muito espetacular, foi um sucesso tímido e limitado, como tudo o que dizia respeito a esse LP. Curiosamente a direção de arte que iria ser usada no "Aloha" foi reaproveitada aqui. É uma capa mais bonita do que a do próprio disco oficial do show no Havaí, que para muitos pegou Elvis em um ângulo ruim.

Pois bem, "Elvis" (1973) apresentava dez faixas, o que iria se tornar padrão nessa fase da carreira de Elvis. Ao longo dos anos seus álbuns traziam geralmente 12 músicas (ou até mais em certos casos), mas como Elvis já não vinha mais entrando tanto em estúdio como antigamente a RCA resolveu limitar o número de músicas para dez. Afinal com os problemas que ele vinha enfrentando na sua vida pessoal, a RCA não apostava mais em maratonas de gravações como havia acontecido no começo da década de 1970. Agora as coisas pareciam bem mais complicadas. Elvis sempre surgia com alguma desculpa para não ir gravar. Assim a RCA começou a literalmente economizar em seus novos lançamentos.

FOOL (James Last / Carl Sigman) - O álbum começava com a já citada "Fool". Os primeiros versos soavam tão pessoais que a letra poderia mesmo ter sido composta pelo próprio Elvis. Numa reflexão de arrependimento ele cantava: "Tolo, você não tinha que machucá-la / Tolo, você não tinha que perdê-la / Tolo, você tinha somente que amá-la / Mas agora o amor dela acabou...". Era bem óbvio que Elvis se identificava com esses versos. Ele se culpava de certo modo pelo fim de seu casamento com Priscilla, se colocando como um homem que errou em seu relacionamento, que não foi tão presente e amoroso como deveria ter sido... Um aspecto curioso é que depois do fim do casamento com Priscilla os discos de Elvis iriam apresentar músicas cada vez mais melancólicas, tristes, diria até mesmo depressivas. Tudo fruto do terrível momento emocional pelo qual ele vinha passando.

WHERE DO I GO FROM HERE (Williams) - Eu não considero  "Where Do I Go From Here" uma das melhores faixas desse disco, porém aprecio muito seu arranjo que começa intimista, introspectivo, para logo após explodir em termos de grandiosidade no refrão da canção. Muitas pessoas ainda preferem as gravações mais cruas de Elvis, sem os exageros (principalmente de metais) que após as gravações sofriam, com a orquestração colocada pelo produtor Felton Jarvis. No caso dessa música há os dois lados da moeda. Em um primeiro momento tudo soa bem ameno, íntimo, apenas com Elvis e seu grupo de apoio. No momento do refrão podemos perceber bem a mão (pesada, para muitos) de seu produtor na RCA Victor. Faça sua escolha.

LOVE ME, LOVE THE LIFE I LEAD (Macauley / Greenaway) - O tema desse álbum "Elvis" de 1973 é a melancolia que atravessa praticamente todas as faixas do disco. Uma das baladas onde isso se torna mais evidente é a canção chamada "Love Me, Love The Life I Lead". A letra é bem interessante, um desabafo emocional de um homem que vê sua amada indo embora por causa da vida que ele leva. O refrão é de uma sinceridade atroz, onde Elvis afirma que aquela que deseja ser feliz ao seu lado terá que não apenas amá-lo, mas também amar (ou pelo menos entender) seu estilo de vida! Impossível não perceber a dose de sinceridade de Elvis ao cantar essa letra. Claro, ele não a compôs, mas tudo soa como mais um recado em forma de pedido de desculpas a Priscilla. Fica claro que em algum momento de sua vida Elvis foi criticado pela ex-esposa, muito provavelmente por causa de seus excessos, pelas drogas que consumia, por tudo, por quem ele era e pela vida que levava. Isso tudo fica claro em trechos como: "Não sou um sábio, tampouco um louco / Mas sou da forma que o bom Deus me fez / Embora eu precise muito de você / Mais do que você possa entender / Preciso também das coisas de que necessito / Não tente me mudar / Se vai me amar, me aceite do jeito que sou / Não posso ser outro homem e não posso deixar de ser livre / Se vai me amar, ame a vida que levo!". Fica óbvio o recado de Elvis para Priscilla nessa música. Infelizmente a canção, embora tenha uma beleza inegável, nunca foi trabalhada por Elvis. É outra que caiu rapidamente no esquecimento, não se destacando em nada dentro da sua discografia. Provavelmente a RCA Victor tenha achado que ela era pessoal demais, longe de ter potencial para fazer sucesso nas paradas.

IT'S STILL HERE (Hunter) - "It's Still Here" é a terceira e última música ao estilo "Elvis sozinho ao piano" desse álbum. Essa é uma velha canção composta por Ivory Joe Hunter, um dos preferidos de Elvis. O cantor adorava realmente sentar sozinho ao piano em Graceland para relembrar velhas músicas de Joe Hunter. Curioso que apesar dessa música ser bem triste, o seu autor era conhecido como o "Barão do Boogie" e não raro era apresentado nos programas de rádio da época como "O homem vivo mais feliz da América". Isso porque tinha uma personalidade alegre, extrovertida, contador de piadas, sempre com um sorriso acolhedor no rosto. Sua especialidade nem era esse tipo de balada romântica, melancólica, como essa gravada por Elvis, mas sim o bom e velho rhythm-and-blues. Elvis deveria ter gravado mais algumas das criações desse texano talentoso. A faixa é bem simples, com Elvis tocando o piano em estúdio, pausando cada sílaba, tudo feito com uma forte carga emocional de sua parte. A letra era obviamente auto referente para Elvis. Conta a história de um homem que foi abandonado, que acreditou quando a mulher amada lhe disse que iria ficar com ele para sempre, mas que logo depois foi traído, com ela quebrando sua promessa da pior forma possível. Em minha visão a letra pegou Elvis de jeito porque havia até mesmo uma referência temporal nela, quando a letra dizia: "Faz um ano que você foi embora / E eu não me esqueci querida / O amor que eu tive por você há tanto tempo / Ainda está aqui". Ora havia exatamente um ano que Priscilla havia ido embora, acabando com seu casamento com Elvis. Coincidências não existem! Elvis não deixaria uma música com algo tão pessoal assim escapar. Foi uma necessidade para ele gravar essa música. Era mais um recado que ele dava para Priscilla através de seus discos. Recado bem direto, é bom salientar.

IT'S IMPOSSIBLE (Manzanero / Wayne) - Por fim para completar o disco a RCA Victor resgatou uma gravação ao vivo de "It's Impossible" para colocar no álbum. Uma sábia decisão pois além da música ser ainda inédita nos discos oficiais de Elvis da época, ainda era brilhantemente interpretada pelo cantor em seu habitat natural, Las Vegas. A música foi gravada no dia 16 de fevereiro de 1972, durante uma de suas temporadas na cidade. Em termos de gravação ela não é tecnicamente perfeita, mas a performance de Elvis compensa qualquer deslize nos problemas de equalização que ocorreram durante seu registro. A versão original da música foi lançada em 1970 por um cantor mexicano chamado Armando Manzanero. Nessa ocasião ela foi lançada com o título de "Somos Novios". A versão em língua inglesa foi composta por Sid Wayne, velho conhecido de Elvis dos tempos das trilhas sonoras dos anos 60. Ele escreveu dezenas de canções para filmes do cantor em Hollywood.  O resultado ficou muito bom, acima de média, merecia inclusive uma versão em estúdio por causa de sua beleza.

FOR LOVIN' ME (Gordon Lightfoot) - "(That's What You Get) For Lovin' Me"  eram bem mais leve. Esse era um country simpático, agradável de se ouvir, sem dramas pessoais ou recados desesperados de desculpas. Claro, a letra novamente batia no mesmo tema: a separação de um amor que acabou, que se foi, porém em uma pegada bem mais substancialmente calcada na leveza. Nada de amarguras desnecessárias. Esse tipo de canção lembra um casal do interior dos Estados Unidos que se separa e que depois casualmente se encontra. Ele olha para ela e dispara: "Como pode ver, tudo o que tínhamos se foi. É o que você ganha por me amar!". Meio amargo, não é mesmo? Quase uma acusação! Porém também bem sincero. Essa canção poderia fazer bonito nos palcos, principalmente quando Elvis passava por todas aquelas cidadezinhas interioranas do sul dos Estados Unidos, porém ele também a deixou de lado, nunca chegando a trabalhar nela. Ao invés de revitalizar seu repertório com novas canções preferiu repetir as mesmas versões saturadas de "I Got a Woman" e "CC Rider"... vai entender o que se passava na mente do cantor.

PADRE (LaRue / Webster / Romans) - "Padre" por sua vez era uma baladona ultra sentimental, com aquele tipo de sentimentalismo despudorado que Elvis algumas vezes gostava de trazer aos seus discos, principalmente nos anos 70, quando finalmente se sentiu mais livre para escolher as músicas que iria cantar. A letra, tremendo dramalhão, inicialmente contava a estorinha de um homem que relembrava seu casamento, os momentos felizes no altar e depois na primeira casa em que moravam. Tudo lindo e maravilhoso. Depois disso o drama, o desastre. Ele chorava o fim do casamento pois ela a trocara por um outro homem! Semelhanças demais com a própria vida pessoal de Elvis, não é mesmo? Era um desabafo de um homem traído para com o padre que o havia casado! Ora, ora, quem diria...

I'LL TAKE YOU HOME AGAIN, KATHLEEN (adaptado por Elvis) - Durante o lançamento desse disco falou-se muito da faixa  "I'll Take You Home Again, Kathleen". A gravação trazia Elvis ao piano, sozinho, em belo momento de introspecção. Sem querer desmerecer o trabalho de Elvis, o fato é que essa música foi registrada quase por acaso, um ensaio, que aos poucos Elvis foi se empenhando. Era uma antiga canção que Elvis gostava de tocar ao piano desde os anos 50. Ele a tocou bastante inclusive nos tempos do exército, quando estava prestando serviço militar na Alemanha. O produtor Felton Jarvis reconheceu os esforços de Elvis para soar diferente dentro do estúdio e resolveu intervir o mínimo possível, deixando de lado todos aqueles arranjos orquestrais, que para muitos, soava exagerados, tirando a atenção do ouvinte daquilo que era o mais importante ao se ouvir um disco do cantor, sua bela voz e a emoção que procurava transmitir em cada sílaba, em cada momento da canção. O curioso é que apesar de Elvis apreciar bastante essa música nunca a levou para os palcos, nem para dar uma canja ao piano, como fazia com "Unchained Melody". Qual era o problema? Será que tinha receios de falhar nas teclas? Não sabemos.

I WILL BE TRUE (Hunter) - Bom, esse disco como já escrevi antes, trazia algumas faixas com Elvis tocando sozinho ao piano, bem inspirado. Uma dessas faixas gravadas pela RCA Victor nesse momento de rara introspecção foi a bonita  "I Will Be True". É curioso porque quando você ouve o álbum inteiro, sem pular nenhuma faixa, fica com a impressão (puramente metal e inconsciente) de que essa música seria na verdade uma continuação da bela "I'll Take You Home Again, Kathleen", afinal de contas segue basicamente o mesmo esquema: Elvis ao piano, tocando para si mesmo, em momento de inspiração interior extrema. O tema da música? A mesma de sempre. Um homem abandonado, ferido, entristecido pela separação daquela que ele considera o amor de sua vida. Podemos até mesmo visualizar esse solitário ser com lágrimas nos olhos declamando versos como: "Eu serei verdadeiro / Não interessa o que eles possam lhe dizer / Embora você esteja tão distante / Todas as noites eu rezo / Para que um dia eu possa abrir minha porta e você esteja lá!" Pois é, Elvis realmente sonhava com o dia em que Priscilla voltaria para ele, um dia que nunca aconteceu.

DON'T THINK TWICE, IT'S ALL RIGHT (Bob Dylan) - A faixa "Don't Think Twice, It's All Right" também foi uma espécie de ensaio que deu certo, que a RCA Victor decidiu aproveitar no álbum. Na verdade tudo se tratava de um momento ao melhor estilo Jam Session, com Elvis interagindo e brincando com a sua banda, a famosa TCB Band (a sigla TCB vinha do lema de Elvis, "Tomando conta dos negócios" que para os mais cínicos era uma auto ironia, pois Elvis nem sempre tomava mesmo conta de seus negócios). Mas enfim, na realidade só depois de muitos anos os fãs puderam ouvir a gravação inteira, com quase 8 minutos de duração. Aqui no disco oficial a RCA aproveitou apenas um pequeno trecho, quase como se fosse uma amostra grátis (ou não tão grátis) do que havia sido gravado mesmo dentro do estúdio.

Elvis Presley - Elvis (1973): Elvis Presley (vocal e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (Orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (Vocais) / Al Pachucki (engenheiro de Som) / Produzido e arranjado por Felton Jarvis / Gravado no dia 15 de março de 1971, RCA's Studios B, Nashville - 15 a 21 de maio de 1971, RCA's Studios B, Nashville - 16 de fevereiro de 1972, Las Vegas Hilton - 27 a 29 de março de 1972, RCA's Studios C, Hollywood / Data de lançamento: julho de 1973. / Melhor posição nas paradas: #52 (EUA) e #16 (UK).

Pablo Aluísio e Erick Steve. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Elvis Presley - Separate Ways (1973)

O vinil "Separate Ways" de 1973 é outro disco do selo RCA Camden que trazia como carro chefe duas canções retiradas de singles recentes, misturadas com músicas de filmes e canções dos anos 60. Tudo feito sem muito critério, a não ser faturar facilmente com o nome de Elvis Presley. Era uma tática do Coronel Parker cujo lema era "vender a mesma coisa duas vezes!". Foi assim que o empresário fez sua fortuna. Muitas vezes apenas pegava velhas canções, mandava criar belas capas e as colocava de novo no mercado. Ao melhor estilo "se colar, colou", Parker e a RCA ganhavam mais dinheiro em cima do carisma do cantor, e o que era melhor, em dobro, obviamente. A seguir analisamos as canções desse álbum.

1. Separate Ways (Richard Mainegra / Red West) - Igualmente sentimental e igualmente declarativa de seus pensamentos era a música "Separate Ways". A imagem que vinha das palavras que significavam "caminhos separados" também era bem clara e óbvia. O pedido de divórcio, o abandono de Elvis por parte de Priscilla e principalmente sua traição com o amante Mike Stone pegaram o rockstar de jeito, jogando sua auto estima e seu ego no chão. De repente Elvis, que era considerado o homem perfeito por praticamente todas as mulheres, descobria que havia sido trocado pelo amante de sua esposa. Pior do que isso, a traição partia da mulher que ele mais amava, Priscilla. Foi algo realmente complicado de superar (aliás Elvis nunca superou isso, verdade seja dita). Em "Separate Ways" Elvis cantava versos como: "Não há mais nada a fazer do que seguir nossos caminhos separados / E juntar os pedaços que ficaram para trás / E talvez um dia, em algum lugar, durante a caminhada / Outro amor nos encontrará". A capa desse disco trazia Elvis com os dois pés em caminhos diferentes. Na época e até hoje em dia muitos dizem ser uma das capas mais cafonas da discografia de Elvis. Eu penso um pouco diferente. Reconheço que a capa não é uma maravilha, não é Da Vinci, porém tem lá seu charme setentista, algo até bem marcante, reconhecível de imediato por qualquer colecionador. Em "Separate Ways" Elvis cantava versos como: "Não há mais nada a fazer do que seguir nossos caminhos separados / E juntar os pedaços que ficaram para trás / E talvez um dia, em algum lugar, durante a caminhada / Outro amor nos encontrará". A capa desse disco trazia Elvis com os dois pés em caminhos diferentes. Na época e até hoje em dia muitos dizem ser uma das capas mais cafonas da discografia de Elvis. Eu penso um pouco diferente. Reconheço que a capa não é uma maravilha, não é Da Vinci, porém tem lá seu charme setentista, algo até bem marcante, reconhecível de imediato por qualquer colecionador

2. Sentimental Me (Jimmy Cassin / Jim Morehead) - "Sentimental Me" é outra bela balada romântica. Essa é do disco "Something For Everybody", um disco que não canso de dizer, capturou a voz de Elvis em um momento especial, quando ele adotou um estilo mais suave de cantar, numa espécie de versão branca de Nat King Cole. Todas as faixas desse disco, inclusive às que pertenciam a outros gêneros (como rock e pop) foram beneficiadas por esse tipo de performance vocal. Por ser tão bela e lindamente vocalizada, a RCA resolveu lançá-la novamente, só que nesse disco de 1972, "Separate Ways". Também tinha algo a ver com o momento em que ele passava, uma vez que a canção era bem sentimental, puro coração e emoção.
   
3. In My Way (Ben Weisman / Fred Wise) - O álbum "Separate Ways" segue com mais algumas músicas de trilhas sonoras que foram lançadas nos anos 60. Afinal esse disco, é impossível negar, foi uma colcha de retalhos para lucrar em cima do mercado de discos promocionais, que geralmente custavam a metade do preço dos discos oficiais. Por essa razão a RCA Victor colocou várias reprises nos lados A e B do vinil. Uma forma de faturar sem custos de produção. "In My Way" foi retirada da trilha sonora do filme "Wild in the Country" ("Coração Rebelde" no Brasil). Esse filme não fez muito sucesso entre os fãs de Elvis na época porque tinha um roteiro mais dramático, com poucas músicas. Elvis queria avançar em sua carreira de ator, provando que sabia atuar bem também em dramas. O problema é que os fãs não gostaram, acharam o filme parado e chato, só quebrando sua monotonia quando Elvis surgia em cena com seu violão para dar uma canja entre uma cena e outra. Como essa produção não fez sucesso de bilheteria, o Coronel Parker acabou convencendo Elvis a se resumir em suas comédias românticas musicais (como "Feitiço Havaiano"). Esses filmes sim faziam sucesso nos cinemas, vendendo discos com suas trilhas sonoras. Era um sucesso duplo impossível de ignorar.

4. I Met Her Today (Hal Blair / Don Robertson) - Tirando esse lado comercial de lado, não é que havia boas músicas por aqui! Algumas belas músicas românticas que chegavam nas mãos dos colecionadores mais jovens, que não tinham acesso aos lançamentos originais. Uma dessas belas baladas era a romântica "I Met Her Today" de Don Robertson. Essa música nunca encontrou um lugar adequado dentro da discografia oficial de Elvis Presley. Apesar de ser uma bela composição de Robertson e contar com uma preciosa performance de Elvis, ela foi literalmente sendo encaixada aqui e acolá, em álbuns que não passavam de colchas de retalhos sonoros. Uma pena. Merecia melhor sorte por sua qualidade artística.   

5. What Now, What Next, Where To? (Hal Blair / Don Robertson) - Outra de Robertson era a elegante e agradável "What Now, What Next, Where To?". Outra que ficou no vácuo por anos e anos a fio, sem que a RCA Victor a lançasse adequadamente. Ela foi gravada em maio de 1963 quando a própria RCA se questionava se o lançamento de tantas trilhas sonoras, uma atrás da outra, era de fato algo bom para a discografia de seu artista contratado. Meio às pressas, Elvis foi levado até Nashville para a gravação de músicas que não fizessem parte de nenhuma trilha de filme. O resultado foi muito bom, mas a RCA desistiu de editar um disco com as gravações, as deixando arquivadas por muitos anos. Essa música fez parte desse pacote. Uma belo momento que foi empoeirado por erros administrativos da gravadora de Elvis na época.

6. Always on My Mind (Johnny Christopher / Mark James / Wayne Carson) - A grande canção desse álbum sem sombra de dúvidas é "Always on My Mind". Essa música é certamente muito conhecida nos dias de hoje, um grande sucesso de Elvis. Só que na época (estamos falando de 1972) não houve essa repercussão toda em seu lançamento. Mais do que isso, a gravação passou praticamente despercebida, como um mero Lado B qualquer de single. Aliás a canção só iria se tornar um hit após a morte de Elvis, nos anos 80. Escrita pelo trio Johnny Christopher, Mark James e Wayne Carson, a faixa era obviamente uma declaração de arrependimento por parte de Elvis para sua ex-esposa Priscilla. Também era uma declaração de amor, afirmando que ele não a esquecera em nenhum momento e que reconhecia seus erros em seu casamento. Ele basicamente dizia que agora, com o fim do casamento, entendia que não a havia tratado bem, como deveria e que havia falhado como marido e homem. Além disso deixava claro que ela estava sempre em sua mente. Versos como esses deixam isso bem claro: "Talvez eu não tenha lhe tratado tão bem quanto deveria / Talvez eu não tenha te amado tanto quanto eu poderia / Pequenas coisas que eu deveria ter dito e feito / Eu simplesmente nunca encontrei tempo / Se eu te fiz sentir-se em segundo lugar / Garota, eu sinto muito, eu estava cego!". Priscilla obviamente entendeu tudo o que Elvis queria dizer, a tal ponto que elegeu a música para ser o tema principal da série baseada em seu livro autobiográfico "Elvis e Eu". O ciclo assim se fechava.

7. I Slipped, I Stumbled, I Fell (Ben Weisman / Fred Wise) - O público conhecia "I Slipped, I Stumbled, I Fell" do álbum "Something For Everybody" de 1961. Esse foi um belo disco com o nome de Elvis, um lançamento que fez sucesso e que tinha uma excelente qualidade artística. A voz de Elvis estava em um ótimo momento naquela época, com interpretações suaves e elegantes, que ficaram na memória dos fãs. O curioso é que apesar de ser um dos destaques daquele excelente LP, essa faixa havia sido gravada mesmo para fazer parte do filme "Coração Rebelde" (Wild in the Country). Ela foi composta pela dupla Ben Weisman e Fred Wise, compositores bem recorrentes da época em que Elvis estava em Hollywood, estrelando seus filmes em ritmo industrial.

8. It Is So Strange (Faron Young) -  "It Is So Strange" também é dos anos 50. Essa bela balada nunca foi bem aproveitada na discografia de Elvis, a tal ponto que ela só ganhou um melhor espaço quando foi lançada como faixa "tapa buraco" na coletânea "A Date With Elvis" de 1959. Aquele disco mesmo em que Elvis está com uniforme militar na capa, olhando para trás, no volante de seu novo Cadillac. A gravação foi realizada em 1957. Naquele mesmo ano ela chegou aos fãs pela primeira vez no compacto duplo "Just for You". Depois disso foi arquivada e praticamente esquecida. Uma pena. Gosto bastante dessa melodia e arranjos. Perceba que a forma de tocar a guitarra de Scotty Moore se tornaria uma marca registrada dos 50´s, dos chamados anos dourados. É um estilo muito bonito de se ouvir.

9. Forget Me Never (Ben Weisman / Fred Wise) - Outra música da trilha de "Coração Rebelde" colocada nesse álbum foi "Forget Me Never". Aliás é bom de se dizer que tanto essa como "In My Way" foram compostas pela mesma dupla: Ben Weisman e Fred Wise, que se especializaram em compor músicas para os filmes de Elvis em Hollywood. As duas canções também apresentam arranjos bem semelhantes, basicamente Elvis e violão, sem muitos instrumentos de apoio dentro do estúdio. São baladas românticas até bonitas, mas com singeleza em demasia, o que as rapidamente as levaram ao esquecimento.

10. Old Shep (Red Foley) - "Old Shep" já era uma velha canção quando Elvis resolveu gravá-la nos anos 50. É interessante porque apesar de Elvis ser naquele momento (estamos falando de 1956) o roqueiro número 1 do mundo, ele escolheu gravar em seu novo álbum essa baladinha chorosa, feita especialmente para as crianças. Era algo fora de rota, sem dúvida. Porém Elvis tinha uma ligação emocional com a música, quando a cantou pela primeira vez em público. Ele era apenas um garotinho numa competição de calouros. O fato de a cantar naquele momento de sua vida o marcou para sempre. Gravá-la em estúdio muitos anos depois foi uma espécie de homenagem nostálgica aos seus tempos de infância.

Elvis Presley - Separate Ways (Estados Unidos, 1973) - Elvis Presley (vocal e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (Orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (Vocais) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / DJ Fontana (bateria) / The Jordanaires (vocais) / Data de Lançamento: Janeiro de 1973.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - He Touched Me (1972)

"He Touched Me" foi o terceiro e último álbum gospel da carreira de Elvis Presley. Lançado em 1972 o disco foi premiado com o prêmio Grammy na categoria gospel, de álbuns religiosos,  ainda naquele ano. Apesar de laureado pela academia musical "He Touched Me" não se tornou uma unanimidade entre os especialistas. Ao contrário dos discos evangélicos anteriores de Elvis, esse não foi gravado em uma sessão exclusiva, mas sim no meio da maratona de maio de 1971, sendo completado meio que às pressas no mês seguinte em Nashville. Tanta correria e rapidez de certa forma acabaram prejudicando em parte o desenvolvimento do disco, cujo projeto deveria ter sido melhor trabalhado.

Um reflexo disso acabou aparecendo depois quando todos o ouviram pela primeira vez. Por causa da correria em finalizar o LP o produtor Felton Jarvis não conseguiu providenciar um arranjo mais original para as faixas do disco. Dessa forma quando surgiu nas lojas, alguns críticos de música dos EUA foram quase unânimes em acusar o disco de simplesmente copiar linha a linha o arranjo e as harmonias das gravações originais. De certa forma havia razão por parte dos jornalistas e da crítica em geral. "He Touched Me" sofre bastante nesse aspecto. A impressão que nos passa é que realmente tudo foi gravado na pressa de finalizar o número de canções planejadas a tempo. Também pudera, Elvis vinha cumprindo uma extensa e apertada agenda de shows e temporadas ao vivo que acabavam sendo incompatíveis com as chamadas maratonas de gravação, como essa de 1971, praticamente a última grande sessão em estúdio da carreira de Elvis.

O álbum é puxado pela faixa título, na realidade um sucesso gospel de Bill Gaither, famoso compositor, músico e pregador americano. A canção é um spiritual ideal para o grupo The Imperials brilhar. O cantor por sua vez deve ter se sentido muito bem gravando essa faixa, pois ela foi escrita especificamente para ser executada por um quarteto gospel e não era segredo para ninguém que um dos maiores sonhos de Elvis era justamente esse, participar como vocalista de um grupo como o The Imperials (aqui brilhantemente o acompanhando). "I´ve Got a Confidence", a faixa seguinte, demonstra a falta de um trabalho mais consistente de arranjo. A música mais parece uma jam session descompromissada.

Os grandes destaques do álbum realmente são as faixas "Amazing Grace" (clássico absoluto do repertório gospel americano, aqui muito bem executado por Elvis e seu grupo feminino de apoio), "Bossom Of Abraham" (com seu balanço que não deixa margens de dúvidas de onde proveio o Rock n Roll em suas origens) e "I, John" (que acabou ganhando uma divertida cena no documentário "Elvis On Tour"). Enfim, "He Touched Me" é um disco que tem belos méritos e se peca por não ter sido muito original em seus arranjos se redime pela intensa dedicação de Elvis em dar o melhor de si nas músicas. De qualquer maneira não deixa de ser também um marco em sua discografia. Um álbum que deve estar presente em toda coleção do cantor que se preze. Vamos tecer comentários sobre cada música, a seguir.

01. He Touched Me (William J. Gaither) - "He Touched Me", a música que dá título ao álbum, foi um lançamento original de Bill Gaither em 1963. Porém a versão que fez Elvis efetivamente se interessar por ela foi outra, mais tardia, gravada pelo grupo vocal The Imperials. Elvis admirava bastante esse quarteto gospel, sempre comprava seus singles e álbuns, então acabou sendo algo natural para ele gravar a música alguns anos depois. A letra foi inspirada nas páginas do próprio evangelho, nos milagres que Jesus fazia usando apenas suas próprias mãos. Basta lembrar da cura do cego e outras passagens. Também há o toque inspirativo de sua própria mensagem que tocava o coração dos homens.

02. I've Got Confidence (Andraé Crouch) - "I've Got Confidence" foi escrita por Andraé Edward Crouch, pastor, cantor e compositor negro gospel bem popular nos Estados Unidos. Todos sabem que Elvis era um colecionador de discos religiosos. Estava sempre atento aos novos talentos. O primeiro álbum de Crouch chamado de "Take the Message Everywhere" havia sido lançado em 1969. Foi através desse álbum que Elvis conheceu a obra musical desse ministro batista. A versão de Elvis é até bem simples. Arranjo sóbrio e destaque para a vocalização. Ficou bonito, mas em minha opinião ainda não tão marcante como outras faixas desse disco. Durante a sessão de gravação de muitas canções desse álbum Elvis contou apenas com sua banda básica e grupo vocal de apoio dentro do estúdio. Somente depois que o produtor Felton Jarvis colocava todos os demais instrumentos, para deixar as músicas mais completas, mais bonitas ao ouvinte.

03. Amazing Grace (John Newton) - Um dos destaques positivos desse disco vem justamente de "Amazing Grace", um dos maiores clássicos religiosos da cultura norte-americana. Penso até que o disco deveria ter sido nomeado de "Amazing Grace", não apenas porque essa faixa é muito superior a "He Touched Me" como também pela força comercial do nome da música. Provavelmente não foi escolhida para nomear o álbum por questões de direitos autorais, ou então porque os executivos da RCA Victor acreditavam que esse gospel já havia sido gravado tantas vezes antes, por tantos artistas diferentes ao longo dos anos, que estaria simplesmente saturado no mercado. De qualquer maneira esse gravação é uma das que justificam a existência do disco como um todo. Mesmo com problemas, etc, "Amazing Grace" na voz de Elvis é sem dúvida um dos mais belos momentos de sua discografia. Algo muito inspirador e bonito de se ouvir. Pena que seja uma exceção no meio convencional dominante que impera no disco.

04. Seeing Is Believing (Red West / Glen Spreen) - "Seeing Is Believing" também trazia uma mensagem bela do ponto de vista religioso, exaltando os fiéis a não embarcarem no equivocado pensamento do "ver para crer". A canção foi escrita pelo guarda-costas e amigo pessoal de Elvis, Red West. Foi um ato de amizade por parte dele. Ainda assim temos aqui que reconhecer que Red West, apesar de tudo o que aconteceu, tinha talento para escrever belas letras e até bonitas melodias. Elvis gravou diversas músicas de Red West ao longo de sua carreira, nenhuma delas pode ser considerada ruim ou medíocre. Aqui Red dividiu os créditos da música com o músico Glen Spreen. É um bom momento do álbum.

05. He is My Everything (Dallas Frazier) - Assim que os primeiros acordes de "He Is My Everything" tocam, o fã de Elvis imediatamente lembra de outra música do cantor, "There Goes My Everything" de outro disco, do "Elvis Country (I’m 10,000 Years Old)".  Quando consulta o selo descobre que o autor, Dallas Frazier, é exatamente o mesmo da outra canção. Como poderia se explicar isso? Na realidade temos aqui a mesma melodia, porém com uma pequena mudanças na letra. Uma é romântica, a outra é gospel, religiosa. Elvis curtia as duas versões e por isso decidiu gravar a sacra para seu novo disco, "He Touched Me". Curiosamente o autor dessas duas faixas foi considerado no começo de sua carreira como uma espécie de Elvis, estilo mais country e gospel. O mundo realmente dá voltas. Eis que nos anos 70 Elvis gravaria duas composições de sua autoria. Foi o ápice para Dallas Frazier, sem dúvida.

06. Bosom of Abraham (William Johnson / George McFadden / Ted Brooks) - Para quem não consegue entender a ligação entre o rock e a música gospel indico a audição de "Bosom of Abraham", Como se sabe o rock em seus primórdios foi uma fusão de diversos ritmos musicais, entre eles o gospel. A rapidez, a vibração do ritmo, principalmente nos hinos mais enérgicos cantados nas capelas do sul, trouxe muito ao novo ritmo que nascia. Essa música mais se parece um velho rockabilly se formos pensar bem. A única diferença obviamente vem no teor de sua letra. Essa foi uma das gravações de Elvis que penso poderia ter sido muito bem aproveitada nos palcos. Pena que ele não pensou dessa forma, a relegando apenas nessa versão em estúdio, muito bem gravada por sinal.

07. An Evening Prayer (C. Maude Battersby / Charles Hutchison Gabriel) - "An Evening Prayer" abria o lado B do vinil original de "He Touched Me" em sua versão oficial, da discografia americana. É uma composição da dupla C. Maude Battersby e Charles Hutchison Gabriel, Era uma das faixas que a RCA Victor promoveu como uma gravação original de Elvis Presley na época de lançamento do disco. Como o próprio título deixa claro se trata de uma oração cantada, com uma letra composta de poucas linhas, mas que funciona perfeitamente aos seus propósitos. Orações são assim, puro sentimento. Elvis, por sua vez, tem uma excelente performance vocal. Ele sempre ficava muito inspirado cantando gospel.

08. Lead Me, Guide Me (Doris Akers) - "Lead Me, Guide Me", por sua vez, era uma velha composição da cantora e compositora gospel Doris Mae Akers. O auge de sucesso de sua carreira aconteceu no pós guerra. Ela decidiu se mudar para Los Angeles em 1946 e lá tirou a sorte grande ao ser contratada pela gravadora RCA Victor, que começava a apostar no mercado gospel, na produção de discos voltados mais para o público religioso. Provavelmente Elvis conhecia suas músicas desde a infância pois Gladys gostava de ouvir música evangélica no rádio, na estação local de Memphis. Foi assim uma forma de Elvis voltar no passado, nos bons tempos que passou ao lado de sua mãe.

09. There Is No God But God (Bill Kenny) - "There Is No God But God" era uma das novidades do disco. Escrita por Bill Kenny, era uma canção praticamente desconhecida de muitos. A letra louvava obviamente a Deus, mostrando toda a sua grandiosidade, deixando claro que apenas existe um único Deus e nenhum outro. Elvis gostava muito do trecho da letra que afirmava que Deus havia criado tudo no universo e que não existiria nada, absolutamente nada, existente, que não fosse uma obra de Deus, nem um pássaro voando no horizonte, nem um gota de água que viesse a cair no chão. Deus absoluto, criador de todas as coisas. Esse tipo de mensagem enchia a alma de Elvis que era uma pessoa muito religiosa.

10. A Thing Called Love (Jerry Reed) - Nunca cheguei a gostar muito de "A Thing Called Love", Acredito que seja uma das músicas mais datadas do álbum, por causa dos arranjos. A primeira versão, a original, foi lançada em 1968 por Jerry Reed, cantor country. Depois Jimmy Dean (não confundir com o famoso ator morto nos anos 50) também gravou sua versão. Curiosamente a canção se tornou sucesso mesmo com Johnny Cash, chegando a ficar em primeiro lugar na parada country. Era bem a especialidade do bom e velho Cash. Em suma, é uma country music em essência, mas com uma letra também religiosa sob certos aspectos.

11. I, John (William Johnson / George McFadden / Ted Brooks) - "I, John" é excelente. Outra que tem uma sonoridade bem rockabilly, mostrando que o rock é mesmo uma mistura, um caldeirão de outros ritmos musicais que se fundiram e lhe deram origem. Uma canção bem rápida, com excelente trabalho coletivo entre Elvis e seu grupo de apoio. É interessante que muitos que viviam ao redor de Elvis sempre afirmaram que a canção era uma de suas preferidas nas reuniões e pequenas festas que ele dava em seu apartamento após os shows. Era uma forma dele relaxar. Sempre nessas ocasiões ele puxava o coro dos seus vocalistas, aproveitando cada nota. Então fica a questão: por que ele não a usou mais em concertos já que gostava tanto da canção? Essa é uma daquelas perguntas que apenas Elvis poderia mesmo responder.

12. Reach Out to Jesus (Ralph Carmichael) - "Reach Out To Jesus" é uma música bem antiga. Seu autor Ralph Carmichael foi um bem sucedido compositor de músicas religiosas, tendo suas obras gravadas por grandes nomes da música norte-americana, entre eles Nat King Cole, Ella Fitzgerald e Bing Crosby. Alguns anos depois ele decidiu se tornar ministro religioso e virou pastor. Também virou produtor musical, fundando seu próprio selo de músicas gospel, a Light Records. Essa versão de Elvis é muito boa, porém não chega necessariamente a se tornar um destaque dentro do disco. "He Touched Me" vale muito pelo seu conjunto. Essa é, em minha opinião, a principal razão do disco ter sido premiado pelo Grammy. Visto como um todo é um belo álbum gospel. Assim a faixa cumpre seu papel dentro do repertório. Elvis nunca mais a utilizou em estúdio e tampouco voltou a cantá-la em concertos ao vivo. De certa forma essa gravação pode ser considerada um autêntico Lado B da discografia de Elvis Presley. Nada muito além disso.

Elvis Presley - He Touched Me (1972) - Elvis Presley (vocais) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putman (baixo) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Charlie McCoy (órgão, harmônica e percussão) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / Glen Spreen (órgão) / The Imperials (vocais) / Mary & Ginger Holladay (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / Junge Page (vocais) / Temple Riser (vocais) /Sonja Montgomery (vocais) / Produção: Felton Jarvis e Elvis Presley / Local de Gravação: RCA Studio B, Nashville, Tennessee / Data de Gravação: 15 de março de 1971, 15 a 21 de maio de 1971, 8 a 10 de junho de 1971 / Data de Lançamento: Abril de 1972.

Pablo Aluísio.