domingo, 5 de dezembro de 2004

Filmografia Brad Pitt - Parte 4

A Mexicana
Não curti nem um pouco. Vi no cinema e saí insatisfeito. Pitt e Roberts não convencem e não mostram paixão nenhuma na dela. Sobra para o James Gandolfini tentar salvar o filme, mas em vão. Ele não é santo milagreiro. A mistura de filme de ação com romance não combinou muito bem. Há claras falhas de ritmo, além de uma duração que soa muito excessiva, talvez pelo fato do enredo ser bem enfadonho. É a tal coisa, até gosto de forma em geral do cinema assinado pelo diretor Gore Verbinski. 

Aqui porém ele errou na mão. Não sei se foi a pressão dos astros (da dupla central formada por Pitt e Roberts) ou então por causa do estúdio (DreamWorks, de Steven Spielberg), mas o fato é que tudo é muito artificial. Nada convincente, nada marcante. É aquele tipo de filme que, apesar dos nomes envolvidos, muitos deles bem talentosos, não existe aquela fibra que encontramos em grandes filmes. No fundo tudo é um grande exercício de vazio.

A Mexicana (The Mexican, Estados Unidos, 2001) Estúdio: Dreamworks Pictures / Direção: Gore Verbinski / Roteiro: J.H. Wyman / Elenco: Brad Pitt, Julia Roberts, James Gandolfini, J.K. Simmons, Bob Balaban / Sinopse: Um criminoso tem que ir ao México em busca de uma pistola rara e de grande valor para entregar ao seu chefe ao mesmo tempo em que tem que lidar com sua esposa que quer de todas as formas que ele abandone o mundo do crime de uma vez por todas.

Jogo de Espiões
Quando Brad Pitt começou a realmente fazer sucesso no cinema ele logo foi comparado a Robert Redford. Ambos, diziam os críticos, eram parecidos fisicamente e seguiam um mesmo estilo de personagem. Pessoalmente eu nunca achei, mas como parecia ser uma boa ideia reunir a dupla em um filme a Universal Pictures aceitou pagar os cachês milionários dos atores para que eles estrelassem esse "Spy Game". É interessante notar que quando o filme foi lançado havia um certo pensamento de que filmes sobre espiões estavam fora de moda, ultrapassados. Até porque poucos anos antes o muro de Berlim havia caído e não tinha mais muito sentido apostar nesse tipo de roteiro. Foi talvez esse o maior problema enfrentado pelo filme quando chegou aos cinemas.

A bilheteria foi morna e a repercussão nada animadora. A trama gira em torno de um agente da CIA veterano, Nathan Muir (Robert Redford), que é convocado pelo serviço de inteligência para salvar a vida do jovem espião Tom Bishop (Brad Pitt), que foi seu pupilo no passado. A "amizade" que os une é do tipo amor e ódio pois o personagem de Redford não consegue confiar plenamente em Pitt. Com uso de flashbacks em seu desenrolar o filme só se prejudica mesmo por sua falta de ritmo. Como escrevi naquela época o público não parecia mais interessado em jogos de espiões dos tempos da guerra fria. Muito provavelmente se o filme tivesse sido lançado antes, uns três anos antes, teria melhor sorte, quem sabe...

Jogo de Espiões (Spy Game, Estados Unidos, 2001) Direção: Tony Scott  / Roteiro: Michael Frost Beckner / Elenco: Robert Redford, Brad Pitt, Catherine McCormack, Marianne Jean-Baptiste / Sinopse: Um espião veterano é escalado para ajudar um episáo bem mais jovem, porém ao que tudo indica há mais interesses escusos em jogo, mesmo que muitos não saibam.

Onze Homens e um Segredo
Esse filme nasceu por acaso. O ator George Clooney estava hospedado em um hotel de Las Vegas quando assistiu na TV o clássico original com Frank Sinatra e seus amigos do rat pack. Ele então se perguntou porque ninguém tinha ainda feito um remake desse filme! Imediatamente contactou seu agente e esse saiu em busca dos direitos da obra cinematográfica. Com tudo pronto contratou o diretor Steven Soderbergh e no mesmo espírito que deu origem ao filme de Sinatra saiu convidando seus amigos mais próximos em Hollywood para fazer parte do elenco. Afinal Clooney sempre foi um dos atores mais bem relacionados dentro da indústria, tendo mesmo cacife para reunir tanta gente famosa em apenas uma produção.

Se você não tem ideia ainda do que se trata (o que acho bem difícil), o roteiro mostra um grupo de criminosos que decide roubar um grande cassino em Las Vegas. O plano, como era de se esperar, é simplesmente mirabolante, praticamente uma orquestra bem afinada formada por ladrões. O clima é bem ameno, quase levado às últimas consequências. Nenhum ator do elenco parece levar muito à sério o que acontece, o que é um ponto positivo a mais para o filme. Lançado em 2001 esse remake foi um grande sucesso de bilheteria, se tornando um blockbuster certeiro, mostrando que George Clooney tinha jeito (e sorte) também como produtor de cinema. Como deu origem a várias continuações (todas inferiores) ainda considero esse o melhor dessa nossa safra. Claro, nenhum desses novos filmes conseguiu ser mais legal e bacana do que o de Frank Sinatra e cia, mas no geral também não fez feio. É acima de tudo uma diversão bem-vinda ao estilo soft, tudo bem descompromissado.

Onze Homens e um Segredo (Ocean's Eleven, Estados Unidos, 2001) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: George Clayton Johnson, Jack Golden Russell / Elenco: George Clooney, Brad Pitt, Julia Roberts, Matt Damon, Andy Garcia, Don Cheadle, Casey Affleck, Bernie Mac, Joshua Jackson, Steven Soderbergh / Sinopse: Danny Ocean (George Clooney) decide formar um grupo de especialistas, ladrões de bancos, para um roubo milionário em um dos maiores e mais ricos cassinos de Las Vegas. Filme indicado ao César Awards (França) na categoria de Melhor filme estrangeiro (USA) e ao Art Directors Guild.

Tróia
Alguns filmes épicos tinham tudo para se tornarem clássicos modernos da sétima arte, o problema é que muitas vezes os produtores optam por realizar blockbusters vazios que visam apenas satisfazer os desejos de uma platéia jovem e pouco interessada em história. Ao invés de contar tudo da forma mais crível possível se opta por enredos fantasiosos e baseados em cenas de ação gratuitas. Esse "Tróia" vai por esse caminho. O cineasta Wolfgang Petersen perdeu o controle sobre o filme e os executivos da Warner impuseram sua visão de realizar um filme feito meramente para alcançar grandes bilheterias na temporada mais competitiva do cinema americano. 

Ao custo de 175 milhões de dólares, "Tróia" tem tudo que a indústria americana tem de melhor a oferecer em aspectos puramente técnicos, principalmente em seus ótimos efeitos digitais, figurinos luxuosos e cenas de impacto visual. A única coisa que não tem é um bom roteiro que logo se perde em bobagens históricas. Brad Pitt, que sempre considerei um bom ator está particularmente medíocre no papel de  Aquiles e como todo o restante do elenco é fraco (alguém vai esperar alguma coisa de Orlando Bloom?) o filme deixa aquela sensação de pastel de vento. Não alimenta e nem enriquece, só engorda.

Tróia (Troy, Estados Unidos, 2004) Estúdio: Warner Bros / Direção: Wolfgang Petersen/ Roteiro: David Benioff / Elenco: Brad Pitt, Eric Bana, Orlando Bloom, Peter O'Toole / Sinopse: Baseado na obra de Homero o filme conta a história da lendária guerra de Tróia que supostamente ocorreu no ano de 1193 a.C. Um evento banal envolvendo questões familiares deu origem a um intenso conflito armado entre as poderosas cidades estados de Messênia e Tróia. Liderando os exércitos invasores surge o valente e heróico Aquiles (Brad Pitt). Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Figurino.

Doze Homens e Outro Segredo
Essa franquia de sucesso mais parece uma reunião de amigos em um fim de semana do que qualquer outra coisa. E pensar que tudo começou lá na década de 1960 quando Frank Sinatra mandou o estúdio escrever um roteiro que pudesse contar com todos os seus amigos do “bando de ratos”, a saber: Dean Martin, Sammy Davis Jr e todo o resto da trupe. O filme original também tinha esse ar descompromissado que foi repetido aqui nessa nova franquia. Só que sai Sinatra e entra George Clooney. Ator bem relacionado em Hollywood com vários amigos no meio ele conseguiu reunir um time de estrelas do primeiro escalão de Hollywood para rodar inicialmente o remake do filme de Sinatra. 

Só depois do grande sucesso daquela produção foi que o estúdio teve a oportuna idéia de realizar continuações, até porque em Hollywood o que faz sucesso vira franquia imediatamente. O dinheiro é que manda! O primeiro filme é bem realizado, com direção correta e bom roteiro mas em nenhum momento chega a ser surpreendente ou marcante. No final das contas apenas diverte – e era justamente essa a intenção de seus realizadores. Já essa seqüência para falar a verdade não traz mais nada de novo. A verdade pura e simples é que não tinham mais nenhuma estória para contar então realizaram uma espécie de remake do remake (por mais estranho que isso possa parecer!).

Aqui Danny Ocean (George Clooney) resolve viver longe do mundo da criminalidade. Casado com Tess (Julia Roberts) ele só quer mesmo paz e tranqüilidade. As coisas começam a mudar quando o ex-marido de Tess, o almofadinha Terry Benedict (Andy Garcia), resolve recuperar todo o dinheiro que lhe foi roubado pelo grupo de Danny Ocean no primeiro filme. Ao mesmo tempo Ocean resolve se precaver e muda de idéia, resolvendo reunir novamente seus comparsas para aquele que seria o super roubo de sua carreira. O alvo dessa vez porém fica na Europa. Nesse ínterim a agente do FBI Isabel Lahiri (Catherine Zeta-Jones) começa o seu acerto de contas contra Rusty (Brad Pitt), um dos membros da equipe de Ocean. Seguem-se as costumeiras perseguições, cenas espetaculares e muita ação. 

Assim temos mais do mesmo. O roteiro se concentra nos preparativos do grande assalto enquanto os demais personagens apenas passeiam em cena. Um dos problemas dessa franquia é justamente esse, o excesso de personagens. Com tanta gente em cena ao mesmo tempo nenhum papel chega a ser bem desenvolvido, nem o de Ocean (Clooney). Júlia Roberts e Catherine Zeta-Jones não acrescentam em nada ao resultado final e mais parecem penetras no clube do Bolinha de Clooney. Os atores também não parecem levar nada à sério, em especial Brad Pitt que mais parece estar de férias na Europa. Se não é para ser levado à sério então porque o espectador vai se importar? Mesmo assim até que funciona como passatempo ligeiro, leve, mesmo que você esqueça tudo o que assistiu dois minutos depois do filme terminar.

Doze Homens e Outro Segredo (Ocean's Twelve, Estados Unidos, 2004) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: George Nolfi / Elenco: George Clooney, Andy Garcia, Brad Pitt, Julia Roberts, Matt Damon, Catherine Zeta Jones, Vincent Cassel, Don Tiffany / Sinopse: Mais uma vez o grupo liderado por Dany Ocean (George Clooney Resolve partir para um grande roubo, só que dessa vez na Europa.

Pablo Aluísio.

Filmografia Brad Pitt - Parte 3

Inimigo Íntimo
Rory Devaney (Brad Pitt) é um jovem irlandês ligado ao grupo terrorista IRA (Exército Republicano Irlandês, muito ativo na época) que vai até Nova Iorque com o objetivo de comprar armamento pesado para a luta de sua organização dentro da Irlanda. Uma vez lá acaba se hospedando com uma falsa identidade na casa de um policial, Tom O'Meara (Harrison Ford), que em pouco tempo começa a desconfiar das suas atividades em solo americano. Bom, como é de esperar em Hollywood a intenção dos produtores ao realizar esse filme foi unir dois astros do cinema, campeões de bilheteria na época, o jovem Pitt e o veterano Ford. Claro que era uma boa ideia do ponto de vista comercial. Além disso seria bem interessante unir duas gerações de atores em apenas um filme. A questão é que se você é um cinéfilo experiente sabe logo de antemão que nem sempre um elenco famoso garante um excelente filme. É bem o caso desse "Inimigo Íntimo".

Apesar do argumento interessante o resultado é bem morno e mediano, nada memorável. Provavelmente a indefinição sobre qual rumo a seguir tenha prejudicado o resultado final. O roteiro ora valoriza o lado mais dramático de sua história, com ênfase nas relações humanas, ora tenta ser um filme de ação com baixo teor de adrenalina. Sem saber direito para onde ir, acaba aborrecendo ambos os públicos. Os fãs de filmes de ação acharam tudo sem sal e o público acostumado com dramas acabou achando tudo mal desenvolvido. Some-se a isso a atuação preguiçosa de Harrison Ford e os ataques de estrelismo de Brat Pitt e você entenderá porque uma boa iniciativa acabou mesmo ficando pelo meio do caminho.

Inimigo Íntimo (The Devil's Own, Estados Unidos, 1997) Direção: Alan J. Pakula / Roteiro: Kevin Jarre, David Aaron Cohen / Elenco: Harrison Ford, Brad Pitt, Margaret Colin / Sinopse: Dois homens, com origens em comum, acabam descobrindo que estão em lados opostos da lei. Enquanto um é um policial dedicado, o outro está envolvido em atividades terroristas.

Sete Anos no Tibet
O filme "Sete Anos no Tibet" foi baseado no livro autobiográfico de Heinrich Harrer, um alpinista austríaco que a serviço do Terceiro Reich tentou escalar um dos maiores picos do mundo mas que foi preso por tropas inglesas no começo da II Guerra Mundial. Após um período como prisioneiro de guerra na Índia, Heinrich (interpretado no filme por Brad Pitt) consegue escapar, indo parar no distante e isolado Tibet (ou Tibete), um país teocrático liderado por uma criança que na crença religiosa local seria a reencarnação de uma alma iluminada conhecida como Dalai Lama. O ocidental então acaba se tornando próximo do líder tibetano justamente durante a truculenta ocupação chinesa na região após o líder comunista chinês Mao Tsé Tung decretar o Tibet como parte da República Popular da China. "Sete Anos no Tibet" é um sensível drama que mostra um choque de civilizações terrível. De um lado a cultura religiosa milenar do povo Tibetano. Do outro o pulso forte do socialismo ateu de Mao. Pacífico por natureza e convicção a população daquele país teve que lidar com o regime linha dura socialista da China, em um novo governo brutal e sanguinário que considerava toda e qualquer religião um veneno para o desenvolvimento do Estado.

Uma das questões mais interessantes que me lembrei ao rever "Sete Anos no Tibet" foi que na época de seu lançamento vários filmes trataram da ocupação chinesa no Tibete mas de uns anos para cá o tema sumiu de pauta do cinema americano, isso apesar de estarmos longe de uma solução para a situação internacional daquela região. O que aparenta ter acontecido foi que Hollywood parece ter descoberto o mercado chinês para seus filmes atualmente. Impossível ignorar um mercado consumidor de um bilhão de pagantes de entradas de cinema. Assim o tema do Tibete acabou sendo varrido discretamente para debaixo do tapete pela indústria americana de entretenimento o que é uma pena pois violações de direitos internacionais nunca deveriam sair de cena. Tirando as questões políticas de lado "Sete Anos no Tibet" é sem dúvida uma ótima película, com tudo o que o cinéfilo mais consciente tem direito: um bom roteiro, um tema relevante, excelentes interpretações de todo o elenco e ótima reconstituição de época. Alem disso como ignorar a maravilhosa fotografia? Enfim, todos os requisitos para um grande filme estão aqui, por isso se ainda não assistiu não deixe de conferir.

Sete Anos no Tibet (Seven Years in Tibet, Estados Unidos, 1997) Direção: Jean-Jacques Annaud / Roteiro: Becky Johnston baseado no livro de Heinrich Harrer / Elenco: Brad Pitt, David Thewlis, BD Wong, Mako / Sinopse: Heinrich Harrer (Brad Pitt) é um alpinista austríaco que tenta escalar um dos maiores picos do mundo mas acaba sendo preso por tropas inglesas no começo da II Guerra Mundial. Após um período preso na Índia, Heinrich (interpretado no filme por Brad Pitt) consegue escapar, indo parar no distante e isolado Tibet (ou Tibete) onde acaba se tornando próximo do líder tibetano, o Dalai Lama.

Encontro Marcado
A morte sempre foi um mistério para o homem. Assim não é de se admirar que aqui ela (ou ele) ganhe carne e osso e vire um personagem de ficção. "Meet Joe Black" é justamente isso. Quando assisti ao filme pela primeira vez (no cinema) eu realmente achei o argumento muito sombrio, de complicado desenvolvimento e entendimento para o grande público. É um texto com muito simbolismo e poucas pessoas realmente perceberam as nuances do roteiro na época. 

Anthony Hopkins representa a futilidade e a frivolidade da vida. Dinheiro, poder, sucesso financeiro, será que isso tudo leva alguém a algum lugar? Será que traz mesmo felicidade? Brad Pitt, por outro lado, representa o grande mistério, o vácuo, o abismo. Verdade seja dita, um ator como ele, que na época estava desfrutando do auge de sua popularidade, estrelando um sucesso de bilheteria atrás do outro, ter a coragem de aceitar o papel de Joe Black é realmente algo digno de admiração. Ele não se importou com sua imagem ou nem mesmo com suas fãs adolescentes (que muito provavelmente não captaram a verdadeira mensagem do filme) e resolveu arriscar, ser ousado. Isso de certa forma já provava que ele não era apenas um galã como tantos outros. Era de fato um ator talentoso - algo que provaria nos anos seguintes. 

Confesso que na primeira vez que assisti a essa produção não consegui gostar muito. Certamente entendi o texto subliminar mas para um jovem aquilo não tinha tanta importância. Revendo agora pude perceber que esse é um daqueles casos em que apenas a maturidade e a experiência de vida conseguem fazer o espectador enxergar além do que é visto na tela. Em meu caso pude perceber isso muito bem. Os anos vividos fizeram com que a mensagem do roteiro ganhasse uma outra dimensão agora. Se é o seu caso reveja, certamente o filme mostrará detalhes que passaram despercebidos anteriormente.

Encontro Marcado (Meet Joe Black, Estados Unidos, 1998) Direção: Martin Brest / Roteiro: Ron Osborn, Jeff Reno / Elenco:  Brad Pitt, Anthony Hopkins, Claire Forlani / Sinopse: William Parrish (Anthony Hopkins) é um homem extremamente bem sucedido no mundo dos negócios. Magnata das comunicações ele acaba conhecendo um estranho sujeito chamado simplesmente de Joe Black. É uma figura estranha, que causa terror e curiosidade em Parrish. O tal estranho está particularmente interessado em entender a natureza humana e por isso propõe um estranho e inusitado pacto com seu anfitrião.

Clube da Luta
"Fight Club" foi muito badalado em seu lançamento. Não era para menos, pois de fato o filme unia uma proposta nova e inteligente com um roteiro cheio de boas sacadas. Os personagens retratam de certa maneira o vazio existencial que impera entre os mais jovens ou entre adultos que descobrem que o jogo finalmente acabou, que não há mais nenhuma esperança no fim do túnel. Para escapar do sufocante tédio do dia a dia e preencher esse vácuo em suas almas, eles partem em busca de emoções mais viscerais, animais mesmo, trazendo-os de volta a um estado mais natural e selvagem. 

A briga assim funciona não apenas como uma brilhante válvula de escape do massacrante cotidiano, mas também como um retorno às origens animalescas dos seres humanos. Para muitos especialistas estamos assim diante da maior obra prima assinada pelo criativo cineasta David Fincher. Não há como negar que Fincher é seguramente um dos cinco diretores mais brilhantes que surgiram em meados dos anos 1990. Seus filmes nunca se rendem ao lugar comum cinematográfico, especialmente aqueles que tinham tudo para se tornarem fitas descartáveis como "Seven" ou "O Curioso Caso de Benjamin Button", mas que numa verdadeira tacada de mestre se tornaram pequenos clássicos contemporâneos. 

O elenco também está em momento particularmente inspirado. Edward Norton, o narrador e também protagonista de tudo o que acontece, transparece em sua voz toda a melancolia e falta de ânimo de seguir em frente com sua vida enfadonha. Brad Pitt dá vida a um personagem completamente amoral, que não liga mais para qualquer tipo de valor humano que um dia tenha sido importante para a vida civilizada em sociedade. Infelizmente no Brasil o filme ficou também tristemente marcado por uma tragédia ocorrida em um cinema, quando um jovem estudante de medicina com problemas mentais abriu fogo contra o público em um cinema de São Paulo. Melhor esquecer esse tipo de coisa e louvar sempre o excelente nível desse "Clube da Luta", um dos melhores filmes do cinema americano surgidos dos últimos anos. 

Clube da Luta (Fight Club, Estados Unidos, 1999) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: David Fincher / Roteiro: Jim Uhls, baseado na obra de Chuck Palahniuk / Elenco: Brad Pitt, Edward Norton, Helena Bonham Carter, Meat Loaf / Sinopse: Tyler Durden (Brad Pitt) se junta a outros homens como ele, para violentos combates pelos subterrâneos das grandes cidades com o desesperado objetivo de escapar de alguma forma do marasmo e do tédio da vida moderna. Nesse mundo de extremos, um narrador (Edward Norton) conta suas experiências nesse submundo que muitos ignoram existir. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhores efeitos sonoros, melhores efeitos especiais e melhor edição. Indicado ainda a 19 outros prêmios, entre eles Brit Awards, MTV Movie Awards e Las Vegas Film Critics Society.

Snatch: Porcos e Diamantes
Guy Ritchie pode ser um diretor bem pedante. Um exemplo disso você encontra nesse "Snatch: Porcos e Diamantes" (2000). A intenção do cineasta era realizar um filme bem estilizado, com muita violência e longos diálogos, ao estilo Tarantino, só que tudo passado em uma Londres escura, chuvosa e cheia de criminalidade. Nos becos escuros da cidade convivia toda uma fauna de escroques de todos os tipos: promotores desonestos de lutas de boxes, cobradores violentos de apostas ilegais, membros da máfia russa, ladrões de bancos incompetentes, etc. Só a escória, sem mocinhos e heróis, só bandidos e vilões. Ritchie tinha mesmo uma pequena obsessão por esses tipos. Só que no meio de tantos personagens, usando e abusando de um roteiro ao estilo mosaico, tudo acabou se perdendo, ficando diluído demais.

Claro que a crítica adorou e elevou o filme a um dos melhores da década, mas isso foi obviamente um exagero da imprensa. Embora o filme tenha alguns bons momentos, no geral ele se torna estilizado demais, caindo para a caricatura pura e simples (o que não foi nada bom para o resultado final). Quando os personagens começam a agir como se estivessem em um desenho animado ultra violento, a sensação é mesmo de que há algo de errado no filme. No final das contas o que salva "Snatch" de ser uma pura perda de tempo é o seu elenco. Brad Pitt, Benicio Del Toro e até Jason Statham estão muito bem em cena. Eles demonstram foco, querendo dar mesmo o melhor de si. Pena que a direção pesada demais de Guy Ritchie acabou prejudicando mais do que ajudando o elenco. Então é isso. Esse é um exemplo perfeito de um filme superestimado pela crítica da época, que acabou prejudicado por seus próprios exageros. Revisto hoje em dia suas falhas se tornam bem mais óbvias.

Snatch: Porcos e Diamantes (Snatch, Inglaterra, França, 2000) Direção: Guy Ritchie / Roteiro: Guy Ritchie / Elenco:  Jason Statham, Brad Pitt, Benicio Del Toro, Vinnie Jones / Sinopse: Um grupo de criminosos tenta, rivais entre si, tenta colocar as mãos em um lote de diamantes roubados. Filme premiado pelo Empire Awards na categoria de melhor direção - filme britânico (Guy Ritchie). Também indicado na categoria de melhor filme britânico do ano de 2000.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

Filmografia Leonardo DiCaprio - Parte 6

Era uma Vez em... Hollywood
Quando eu soube que o novo filme de Quentin Tarantino iria ter como tema o assassinato da atriz Sharon Tate naquele trágico crime envolvendo membros da seita de Charles Manson, fiquei completamente desanimado. Não acredito que coisas assim devem ser resgatados do passado pelo cinema. Algumas histórias são tão horríveis que os mortos devem ser deixados em paz. Porém o que não levei em conta é que Tarantino não deve ser subestimado. Ele realmente nunca faria um filme banal sobre aquilo tudo que aconteceu. Ele encontraria uma maneira original de explorar esse tema tão espinhoso. 

E eis que fui surpreendido completamente por esse filme quando o assisti. De fato é algo muito bem desenvolvido. Em seu roteiro Tarantino misturou pessoas reais, que existiram mesmo, com personagens puramente de ficção. E criativo como ele é, não poderia dar em outra coisa. Os personagens de Leonardo DiCaprio e Brad Pitt são referências da cultura pop. Uma miscelânea de tipos que eram bem comuns na Hollywood dos anos 60. O ator de seriados de faroeste interpretado por DiCaprio é uma ótima criação. Com ecos de Clint Eastwood e outros atores de segundo escalão da época, ele retrata bem aquele tipo de ator que nunca conseguiu se tornar um astro em Hollywood. Vivendo de seriados popularescos, o que lhe sobra em determinado momento é ir para Roma filmar faroestes do tipo Western Spaghetti. Produções B, bem ruins e mal feitas.

Brad Pitt é o dublê desempregado que mora em um trailer. Para sobreviver ele se torna uma espécie de assistente pessoal e "faz-tudo" para o ator decadente de DiCaprio. As melhores cenas do filme inclusive estão com ele. Na visita ao rancho onde a "família Manson" vivia e no clímax final que é puro nonsense criativo. Margot Robbie está um pouco em segundo plano, apesar de interpretar Sharon Tate. Isso foi consequência do próprio roteiro que vai girando ao largo, na periferia dos acontecimentos. E sua Sharon é bem retratada no roteiro. Uma mocinha bonita, mas meio cabeça de vento, que passava o dia ouvindo música. Não tinha mesmo muita coisa na cabeça. Era uma starlet dos anos 60, nada mais.

Por fim tenho que tecer breves comentários sobre o final do filme, mas isso sem entregar nenhuma surpresa, que afinal de contas é o grande trunfo desse novo Tarantino. Conforme o filme foi se desenvolvendo eu fui gostando de praticamente tudo. Dos personagens, da ambientação anos 60, de tudo. Acontece que na meia hora final chega o momento da verdade. Eu não queria ver de novo a matança de Sharon Tate e seus amigos. Aí Tarantino foi mesmo um mestre. Saiu completamente do lugar comum, criou sua própria realidade paralela. Genial. Não é à toa que o filme é quase uma fábula, um faz de conta. A realidade foi tão trágica... por que não ir por outro caminho? Ao fazer isso Tarantino acabou criando uma pequena obra-prima. Palmas para ele.

Era Uma Vez em... Hollywood (Once Upon a Time... in Hollywood, Estados Unidos, Inglaterra, China, 2019) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Emile Hirsch, Al Pacino, Dakota Fanning, Timothy Olyphant, Bruce Dern, Luke Perry / Sinopse: Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de segundo escalão em Hollywood. Decadente, ele aceita ir para Roma filmar filmes de western spaghetti. Cliff Booth (Brad Pitt) é um dublê desempregado que trabalha para Dalton como seu assistente pessoal. Eles não sabem, mas vão fazer parte de um dos eventos mais trágicos da história de Hollywood... ou quase isso!

Não Olhe Para Cima
Dois cientistas do campo da astronomia (interpretados por Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence) descobrem a existência de um novo cometa. No começo ficam felizes com a descoberta, afinal no mundo da astronomia isso é algo importante na vida de qualquer profissional da área. Só que a alegria dura pouco. Eles logo descobrem também que a rota do cometa vem direto em direção ao nosso planeta Terra. E agora, o que fazer? Logo uma questão que deveria ser tratada apenas pela ciência se torna politizada. E aí é o caos... os cientistas querem seguir o que diz a ciência para salvar o planeta, os conservadores liderados por uma presidente idiota (Meryl Streep) adotam uma postura de negacionismo com o slogan "Não Olhe para Cima". Pronto, a humanidade está literalmente com os dias contados. Estamos todos ferrados!

Esse é o filme do momento. Todo mundo está falando, debatendo, trocando ideias. Fazia tempo que a Netflix não lançava algo tão polêmico. A boa notícia é que é um bom filme, que faz pensar! É simplesmente impossível não perceber a analogia que esse inteligente roteiro faz com o mundo polarizado e imbecilizado em que vivemos. E aqui sobram críticas e farpas para todos os lados. Enquanto os dois cientistas tentam alertar para o perigo do cometa, os telejornais e o público em geral só se importam com as coisas mais imbecis, como o namorico de uma cantora adolescente pop e um cantor de rap! Você vai dar boas risadas, mas se tiver mais inteligência vai rir mesmo de nervoso, porque embora absurdas as situações, são plenamente condizentes com o momento atual. E você também pode trocar o cometa pela pandemia, aquecimento global ou qualquer outro tema desses e verá que faz o mesmo sentido.
 
E as redes sociais? Se tornam o maior meio de estupidez jamais visto. Enquanto o cometa avança em direção ao planeta Terra, as pessoas só se preocupam com memes, besteiras e imbecilidades. E surgem milhares de teorias da conspiração, uma mais idiota do que a outra! Dá nos nervos! Penso que se uma situação como a mostrada no filme realmente fosse verdade seria exatamente assim que iria acontecer. Vivemos em uma era tão estúpida! É triste, mas é a mais pura verdade! Então o roteiro mira e acerta em muitos alvos e se sai maravilhosamente bem em meu ponto de vista. É um filme que parece simples, mas que nas entrelinhas expressa tantas verdades que você ficará surpreso.

No final tirei duas conclusões importantes. A primeira é que o mundo atual é o horizonte perfeito das idiotices, tanto das pessoas em geral como também dos que foram eleitas por elas. A pior situação para uma nação é ser liderada por uma idiota como a presidente interpretada por Streep. Pessoas vão morrer por esse tipo de escolha errada na hora de votar. E assim surge a segunda grande lição do roteiro. Não votem em imbecis para altos cargos, pois no final quem será mais prejudicado será você mesmo, quem sabe até mesmo perdendo a própria vida. Parece radical? Não, é só uma verdade mesmo.

Não Olhe para Cima (Don't Look Up, Estados Unidos, 2021) Direção: Adam McKay / Roteiro: Adam McKay, David Sirota / Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett, Jonah Hill, Rob Morgan / Sinopse: Dois cientistas tentam alertar o mundo do perigo que se aproxima na forma de um enorme cometa que está vindo em direção ao nosso planeta. Só que isso vai ser quase impossível em um mundo onde as pessoas só se importam com celebridades vazias e os que detém o poder político são altamente estúpidos.

Assassinos da Lua das Flores
No começo do século XX um bando de caipiras de interior, homens brancos criminosos, começam a se casar com nativas herdeiras de vastas terras com muito petróleo em seu subsolo. Após o casamento eles planejam envenenar suas esposas, tudo com o claro objetivo de se tornarem os únicos donos do rico ouro negro! 

Não me entenda mal, Martin Scorsese continua sendo um mestre do cinema, mas inegavelmente esse seu novo filme apresenta problemas. E é um problema conceitual. Veja, os personagens principais da história são seres asquerosos, repugnantes. Basicamente homens brancos que se aproveitavam de mulheres indígenas para roubar suas terras cheias de petróleo. E como atingiam seus objetivos? Casando com elas e depois as matando envenenadas! Como alguém em sã consciência vai criar um vínculo com esse tipo de pessoa? Não dá! E Scorsese falha miseravelmente ao tentar retratar esses caipiras homicidas com uma lente de leve simpatia e bom humor! Ficou bizarro! 

Eu lamento tudo isso porque o filme é tecnicamente impecável. Apresenta uma ótima produção, roteiro bem escrito e elenco classe A - embora os astros interpretem esses seres humanos de quinta categoria! Outro ponto que acredito que Scorsese errou foi na duração do filme. Mais de três horas de duração em uma história que com uma edição mais equilibrada seria contada no tempo médio dos filmes atuais. Até porque esses jovens atuais não aguentam mesmo ficar 3 horas no cinema assistindo a um filme! Alguém deveria ter alertado Scorsese sobre isso. Enfim, filme muito bem realizado, mas com uma postura equivocada em relação aos principais personagens nessa história de crime que se propõe a contar. 

Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, Estados Unidos, 2023) Estúdio: Apple Studios / Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Eric Roth, Martin Scorsese / Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone, John Lithgow, Brendan Fraser / Sinopse: Uma história de traição, mesquinhez e traições, com o objeivo final de ter riquezas e dinheiro, mesmo enganado o próximo. Filme indicado ao Oscar em dez categorias. 

Pablo Aluísio. 

Filmografia Leonardo DiCaprio - Parte 5

J. Edgar
O novo filme de Clint Eastwood é bem parecido com o personagem que retrata: cinza e burocrático. Explico. A primeira coisa que me chamou atenção nessa produção foi sua fotografia preto, cinza e branco, em clara intenção do cineasta em evitar ao máximo o uso de objetos ou roupas coloridas em cena. A impressão que tive foi que Eastwood queria realizar um filme preto e branco mas como isso seria comercialmente ruim ele acabou rodando esse filme em cores neutras, quase um filme colorido em preto e branco! Já a burocracia do resultado final é fácil explicar: Hoover era um burocrata de Washington, um sujeito de bastidores, que através de várias chantagens com poderosos ao longo dos anos conseguiu se manter como diretor do Bureau Federal de Investigação (FBI). Assim o que vemos em cena basicamente é um homem tramando arapucas e golpes atrás de sua escrivaninha. Claro que o público brasileiro vai ter dificuldade em gostar do filme pois a história é obviamente americana demais, com várias referências históricas que vão passar batido ao público daqui. Outra coisa que me incomodou foi a maquiagem de Leonardo Di Caprio. Achei pouco convincente, mal projetada e nada parecida com o personagem real.

Outro aspecto que tenho a criticar de J. Edgar é o sensacionalismo. Clint Eastwood sempre foi um diretor elegante e fino, mas aqui parece ter ficado absorvido demais com o suposto caso homossexual de Hoover com um agente do FBI. Tantas coisas melhores a explorar na vida do retratado e ele literalmente perde tempo mostrando Hoover trocando olhares apaixonados com seu amado, Hoover trocando carícias com o bofe, Hoover dando beijocas.... Chegou inclusive ao ponto de colocar Hoover de vestido e tudo em cena - precisava mesmo disso? Por que não explorou melhor a conturbada relação de Hoover com os Kennedys e outros presidentes americanos? Ficar mostrando a toda hora o namorico do chefão do FBI cansou um pouco. Enfim, filmar a vida de J. Edgar Hoover não seria mesmo fácil. Tentar mostrar tudo em apenas um filme? Praticamente impossível. Seria melhor de Eastwood focasse em algum evento isolado da vida dele mas como não o fez, o filme acabou realmente ficando incompleto e burocrático. De qualquer forma vale a pena assistir para conhecer a história de J. Edgar Hoover, um personagem tão fascinante quanto sinistro.

J. Edgar (J. Edgar, Estados Unidos, 2011) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Dustin Lance Black / Elenco: Leonardo DiCaprio, Birol Tarkan Yildiz, Armie Hammer, Naomi Watts, Lea Thompson, Josh Lucas, Ed Westwick, Dermot Mulroney, Judi Dench, Stephen Root, Jeffrey Donovan, Michael Gladis / Sinopse: Cinebiografia sobre o ex-diretor do FBI, J. Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio), que mostra tanto sua escandalosa carreira, marcada por uma administração dura do FBI e casos de chantagem, quanto seu duradouro romance com Clyde Tolson (Armie Hammer).

Django Livre
Em “Bastardos Inglórios” Quentin Tarantino tentou revisitar, com muito bom humor, um dos mais populares gêneros do cinema da era de ouro, o dos filmes de guerra. Exagerado, over, beirando a paródia completa, “Bastardos Inglórios” dividiu opiniões, sendo odiado por uns e amado por outros. Embora seu desfecho fosse absurdo pelo menos era surpreendente, não há como negar. Agora é a vez do Western servir de alvo para as lentes de Tarantino. “Django Livre” se propõe a ser uma paródia do chamado Western Spaguetti, gênero que se tornou muito popular (inclusive no Brasil) na época de seu auge. A tônica dessas produções era o exagero das cenas de violência e o uso abusivo de trilhas marcantes e onipresentes em cada cena. Os roteiros passavam longe de ser grande coisa mas eram eficientes. Agora o cineasta Tarantino tenta trazer o espírito daquelas produções de volta às telas, tudo mesclado com seu inconfundível toque pessoal.

É curioso porque assim que o projeto foi anunciado esperei por um verdadeiro delírio por parte do diretor pois se o Spaguetti era uma paródia do western americano, o que esperar de uma paródia da paródia? Obviamente um exagero completo, um delírio absoluto! Mas não é isso o que acontece. “Django Livre” pode até mesmo ser considerado conservador em certos aspectos. Não há dúvidas que existem produções Spaguetti que são bem mais violentas ou ousadas que “Django Livre”. Nesse ponto Tarantino foi passado para trás. Assim sobra pouca coisa para se surpreender. Quem é fã do gênero, que acompanha filmes de faroeste com freqüência, simplesmente não vai se impressionar com nada no filme de Tarantino. Nem é ousado e nem surpreendente. Mesmo assim não é um produto ruim, longe disso, só é menos revolucionário do que se esperava (ou melhor dizendo, não é revolucionário em nada).

Um bom western? Sim, não há como negar. O melhor vem dos talentosos atores em cena. O elenco está muito bem, em especial Christopher Waltz e Leonardo DiCaprio. Jamie Foxx como Django não chega a empolgar e nem está tão intenso quanto era de se esperar. Spike Lee reclamou do retrato que foi feito da escravidão negra nos EUA mas sua posição é obviamente um exagero. Os negros aliás estão no centro da trama e o próprio Django é um bom protagonista para o público afrodescendente se identificar. Recentemente “Django Livre” venceu o Globo de Ouro de Melhor Roteiro mas depois de assistir ao filme achei o prêmio um pouco desmerecido. A trama é até banal, sem surpresas, e o filme tem inclusive um problema no último ato que se tornar desnecessário e constrangedor, para não dizer bobo! Os diálogos, que sempre foram a marca registrada do diretor, aqui estão bem escritos mas muito abaixo das outras obras da filmografia de Tarantino. São um pouco acima da média mas nada excepcionais. Além disso o desenrolar da estória é comum, ordinário. Tarantino parece que tremeu nas bases ao se envolver com a mitologia do western.

Ao invés de jogar as bases do gênero para o alto, como fez em “Bastardos Inglórios”, ele aqui não consegue em momento algum se desvincular das regras dos faroestes mais tradicionais. Até a divisão em três atos está de acordo com os dogmas do estilo. Tarantino não alça vôo em momento algum, prefere ficar no chão, ao lado das regras mais caras ao velho e bom western. Não se aproxima de sua tão falada desmistificação, pelo contrário, louva ao seu modo todos os fundamentos desse tipo de filme e se rende à tradição. Assim não vejo motivo algum para toda a badalação que está sendo feita em torno de “Django Livre” pois em essência ele se apresenta como um western dos mais tradicionais, sem qualquer marca mais relevante que o torne uma obra prima ou algo do gênero. Definitivamente não foi dessa vez que o cineasta maravilhou ou deixou surpreendidos os fãs de faroestes. Em conclusão temos aqui um bom western que sobressai pelo elenco inspirado. A trama é sem surpresas e o roteiro bem abaixo do esperado. Não é um filme ofensivo contra os negros, longe disso, e pode ser visto como bom passatempo, muito embora um corte mais bem cuidadoso em sua duração cairia bem. Deve ser conferido mas sem esperar nada grandioso.

Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012) Direção: Quentin Tarantino / Roteiro: Quentin Tarantino / Elenco: Jamie Foxx, Christopher Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson, Sacha Baron Cohen, Joseph Gordon-Levitt, Kurt Russell, Kerry Washington, Walton Goggins, James Remar, Don Johnson, Anthony LaPaglia, Tom Savini, James Russo. / Sinopse: King Schultz (Christoph Waltz) é um caçador de recompensas que se une a um escravo chamado Django (Jamie Foxx) para sair na caça de três irmãos que estão com a cabeça a prêmio. Depois do serviço concluído eles resolvem ir atrás da esposa de Django que agora se tornou propriedade de um cruel fazendeiro do sul chamado Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). Se fazendo passar por traficantes de escravos eles tentarão resgatar a amada de Django.

O Grande Gatsby
Anos 1920. Nick Carraway (Tobey Maguire) se forma na universidade de Yale e vai até Nova Iorque com o sonho de um dia tornar-se um grande escritor. Enquanto não escreve o livro que mudará sua vida resolve arranjar um emprego na bolsa de valores da cidade. Morando no outro lado da baía ele acaba ficando curioso sobre o seu vizinho, um milionário recluso e misterioso chamado Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Todas as semanas Gatsby dá grandes festas em sua enorme mansão, em eventos que acabam atraindo todos os tipos de pessoas de Nova Iorque, desde figurões, políticos, estrelas de cinema até gangsters ou qualquer um que queira diversão barata e em larga escala. Apenas Gatsby permanece envolto em uma sombra de mistério nesse clima de grande euforia. Isso faz com que vários boatos sejam espalhados sobre ele como a de que seria um espião alemão, um assassino famoso ou um representante do Kaiser. Nada disso porém se confirma. Intrigado pela curiosidade Nick então resolve conhecer a misteriosa figura. Convidado a uma das festas de Gatsby ele acaba entrando no mundo muito particular do milionário esbanjador e descobre, para sua surpresa, que ele tem especial interesse por sua prima, a doce e mimada Daisy Buchanan (Carey Mulligan), que mora do outro lado da baía. Casada com um herdeiro rico e rude, mal desconfia Nick que ela e Gatsby tem um passado em comum.

Aqui temos a mais nova adaptação para o cinema do famoso livro "O Grande Gatsby" escrito pelo genial F. Scott Fitzgerald. O texto é considerado uma das maiores obras primas da literatura mundial, tendo sido adaptado pelo cinema algumas vezes, sendo a mais conhecida a adaptação feita nos anos 70 com Robert Redford no papel principal. Essa nova incursão no universo de F. Scott Fitzgerald porém se mostra bem decepcionante. O diretor Baz Luhrmann (de "Moulin Rouge", "Austrália" e "Romeu + Julieta") imprime um ritmo um tanto histérico ao enredo, algo que não condiz com as intenções do autor original que sempre se mostrou muito fino, elegante e charmoso ao contar sua estória. E esse é um dos principais problemas dessa nova versão. Falta justamente essa elegância, esse mistério que é tão conhecido dos leitores de F. Scott Fitzgerald. Tentando modernizar o texto para agradar ao público jovem de hoje o cineasta perdeu a própria essência do livro original. Luhrmann tem à sua disposição uma produção luxuosa mas comete pecados em série. Em um deles imprime um ritmo frenético, tolo muitas vezes, para as situações. Também usa e abusa de computação gráfica, o que torna o filme artificial e sem veracidade. Por falar em ambientação histórica o cineasta querendo adotar uma postura moderninha inseriu várias canções atuais no meio do enredo, ignorando a rica música da época em detrimento de canções pop sem qualquer relevância. 

Para piorar o elenco também não está bem. Leonardo DiCaprio imprime ao seu Gatsby uma postura equivocada, onde sai o charme misterioso do personagem original para dar espaço a um inconsequente falastrão. Deu saudades de Robert Redford certamente. Carey Mulligan que sempre considerei uma boa atriz também não conseguiu passar para a tela as nuances psicológicas que movem Daisy. Outra coisa que dá nos nervos é a forma como Baz Luhrmann trata o espectador. Ele se propõe a contar todos os mínimos detalhes da trama em flashbacks desnecessários e bobinhos que nos levam a pensar que ele está convencido que o público que está vendo o filme é na verdade bem idiota para entender a trama. Enfim, temos aqui uma nova versão de Gatsby que ficou pelo meio do caminho, perdido em suas pretensões. Sempre fui da opinião de que se vai adaptar um grande livro para o cinema que o faça direito! Infelizmente não é o caso desse filme.

O Grande Gatsby (The Great Gatsby, Estados Unidos, 2013) Direção: Baz Luhrmann / Roteiro: Baz Luhrmann, Craig Pearce, baseados na obra de F. Scott Fitzgerald / Elenco: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Steve Bisley / Sinopse: Jovem aspirante a escritor, Nick (Maguire) acaba ficando fascinado pelo figura de seu vizinho, um milionário de passado misterioso chamado Gatsby (DiCaprio). Após uma aproximação ele acaba descobrindo que o ricaço tem um passado em comum com sua prima, Daisy (Mulligan).

O Lobo de Wall Street
O filme conta a história real de Jordan Belfort ( Leonardo DiCaprio), um vigarista escroque que desejava ficar rico a todo custo. Como conseguir? O mercado de ações logo lhe pareceu o ambiente ideal. Usando de sua lábia de vendedor barato ele começou a negociar ações de empresas do tipo fundo de quintal cobrando por ela pequenas fortunas. Seu alvo eram os aposentados, pessoas mais simples, inocentes, que não conheciam o mercado da bolsa de valores. Em pouco tempo saiu de um escritório de quinta categoria para o ápice em Wall Street, ganhando rios de dinheiro com suas lorotas de mercado. Depois disso vieram as mulheres, as drogas e problemas, muitos problemas decorrentes de seu estilo de vida.

Martin Scorsese gosta de retratar os tipos mais comuns de sua Nova Iorque querida. Depois de ficar anos filmando a história de mafiosos da cidade ele resolveu partir para outro tipo de criminoso, o corretor de bolsa de valores de Wall Street. Para isso comprou os direitos do livro escrito por Belfort que o escreveu enquanto estava atrás das grades cumprindo prisão por inúmeros crimes que cometeu em Wall Street. O interessante é que Scorsese repete certos cacoetes que já havia explorado em filmes como "Cassino" onde colocava sua droga preferida, a cocaína, como símbolo de status e sucesso. O próprio Scorsese foi um viciado inveterado e todas as vezes que resolve lidar com a coca em seus filmes adota um ritmo alucinado, como se ele próprio estivesse cheirado. O filme como um todo é bom, mas tem esse viés narcótico. De qualquer maneira se sobressai novamente o talento de Leonardo DiCaprio, que consegue se sobressair em qualquer tipo de filme. O sujeito é realmente extremamente talentoso.

O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, EUA, 2013) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Terence Winter, baseado no livro de Jordan Belfort / Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie / Sinopse: O filme retrata a história de um corretor da bolsa de valores de Nova Iorque que começa a enganar seus clientes para fazer uma fortuna rápida e fácil. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Leonardo DiCaprio), Melhor Ator Coadjuvante (Jonah Hill), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção.

O Regresso
O filme se passa em uma América colonial, praticamente inexplorada pelo homem branco. No velho oeste essas regiões remotas eram exploradas principalmente por caçadores, muitos deles atrás de peles. O problema é que esse era um território dominado por tribos nativas hostis, que, como era de se esperar, recebiam o homem branco da forma mais violenta possível. Leonardo DiCaprio interpreta Hugh Glass, um desses pioneiros que arriscavam a própria vida para explorar o oeste mais selvagem e bravio que você possa imaginar. O roteiro enfoca justamente aspectos da dura vida desses homens nessas lindas, mas mortais regiões. O lado mais romântico dos filmes de western é deixado de lado. A intenção do diretor Alejandro G. Iñárritu foi criar uma obra realista, tanto do ponto de vista histórico, como também humano.

Os nativos são vistos da forma como eram, sem qualquer tipo de revisionismo. Tanto o homem branco que ia para esses lugares, como os indígenas, estavam em uma luta de civilizações. Essa visão politicamente correta que impera nos dias atuais é uma mera visão acadêmica, sem muita ligação com a brutalidade que imperava naqueles tempos. E é esse realismo brutal que marca a maior qualidade desse filme. Além de mostrar a luta entre os homens há também um conflito ainda mais evidente e violento: a luta entre o homem versus a natureza. Essa foi brilhantemente retratada no ataque do urso cinzento contra o personagem de DiCaprio. Poucas vezes uma ataque de uma fera foi tão bem reproduzido nas telas como aqui. Uma cena para não esquecer. Por fim há todos os méritos puramente cinematográficos desse filme. A fotografia é extremamente bem realizada, conseguindo captar toda a beleza da região onde a produção foi realizada. O elenco é dos melhores, não apenas por DiCaprio, em uma atuação extremamente física (que lhe rendeu o tão cobiçado Oscar) como também pelo vilão, em momento inspirado de Tom Hardy (sim, o próprio Mad Max em uma de suas maiores interpretações). O sujeito não tem quaisquer valores morais ou éticos. No ocaso de um mundo que estava prestes a mudar para sempre, o diretor Alejandro G. Iñárritu conseguiu criar mais uma obra prima de sua filmografia.

O Regresso (The Revenant, Estados Unidos, 2015) Direção: Alejandro G. Iñárritu / Roteiro: Mark L. Smith, Alejandro G. Iñárritu / Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Will Poulter / Sinopse: Caçador de peles tenta sobreviver em uma região distante e inóspita do velho oeste americano. Para isso ele precisará enfrentar tribos nativas violentas e ataques de feras selvagens.

O Regresso - Texto II
O caçador de peles Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) vê seu grupo ser atacado por nativos selvagens em uma região remota do velho oeste. Eles quase não conseguem sair vivos da brutalidade dos indígenas. Precisando encontrar o caminho de volta para sua base ele acaba sendo atacado de forma violenta por um urso cinzento. Praticamente dado como morto, vira alvo do caçador John Fitzgerald (Tom Hardy) que quer deixá-lo para trás. O instinto de sobrevivência de Glass porém falará muito mais alto. "O Regresso" é um filme brutal. Não há outra definição. Também traz a interpretação mais visceral da carreira do ator Leonardo DiCaprio. Praticamente não há quase diálogos para declamar, mas apenas a fúria da luta entre o homem e a natureza. O realismo das cenas impactam desde o começo. É curioso como há um contraste muito presente entre a beleza do lugar onde a estória se passa e a brutalidade inerente da natureza humana entre brancos e nativos. O discurso politicamente correto também não resiste em nenhum momento. A velha ladainha do choque de civilizações não encontra eco nessa batalha pela sobrevivência.

E por falar em sobreviver a qualquer custo a cena mais lembrada da produção (o ataque do urso selvagem contra Glass) resume muito bem a essência desse roteiro. Nesse mundo primitivo não há espaço para o Éden, mas apenas para a guerra em se manter vivo. "The Revenant" assim se revela uma obra prima. O cineasta mexicano Alejandro G. Iñárritu é certamente o diretor mais promissor de sua geração. Confesso que ele nunca havia me impressionado tanto como agora. Não há qualquer dúvida de que "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" é uma obra prima do cinema, porém com esse novo filme ele alcançou um novo pico em sua filmografia, algo que poucos esperavam. Certa vez o lendário xerife Wyatt Earp foi perguntado sobre o que achava dos filmes de western que estavam sendo lançados no cinema. Ele disse que o velho oeste americano era muito mais brutal do que aquilo que se via nas telas. Provavelmente se tivesse tido a oportunidade de assistir "O Regresso" o velho homem da lei teria se sentido muito mais familiarizado. O filme é isso, um retrato extremamente bem feito de um tempo onde apenas os mais fortes conseguiam sobreviver. É brutal, mas também é maravilhoso em todos os aspectos.

O Regresso (The Revenant, Estados Unidos, 2015) Direção: Alejandro G. Iñárritu / Roteiro: Mark L. Smith, Alejandro G. Iñárritu / Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Will Poulter, Domhnall Gleeson, Forrest Goodluck, Paul Anderson / Sinopse: Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é um caçador que se vê diante de uma realidade brutal, não apenas por causa do clima hostil onde está, como também pela natureza perversa e cruel dos homens. Apesar de ter tudo contra si ele lutará até o fim pela sua sobrevivência, custe o que custar. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Ator (Leonardo DiCaprio), Melhor Fotografia (Emmanuel Lubezki) e Melhor Direção (Alejandro G. Iñárritu). Também vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator - Drama (Leonardo DiCaprio) e Melhor Direção - Drama (Alejandro G. Iñárritu).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Filmografia Leonardo DiCaprio - Parte 4

Diamante de Sangue
“Diamante de Sangue” expõe uma das maiores contradições do continente africano. Ao mesmo tempo em que possui algumas das maiores riquezas naturais do mundo é também o lugar mais miserável do planeta. O filme se passa em Serra Leoa e mostra essa dura realidade. Leonard DiCaprio interpreta Danny Archer, um sul-africano que se tornou contrabandista de diamantes. Seu objetivo é colocar as mãos em um raríssimo exemplar cor-de-rosa. Para isso ele conta com a ajuda de um nativo, o negro Solomon Vandy (Djimon Hounsou). Enquanto o Archer quer o precioso diamante para vender no mercado negro e assim ganhar uma fortuna, Vandy só deseja mesmo ajudar sua numerosa família. Já a jornalista americana Maddy Bowen (Jennifer Connelly) cruza o caminho de ambos com a intenção de escrever sobre o que ocorre em Serra Leoa antes que essas preciosas pedras entrem no mercado europeu e americano, onde serão negociadas por verdadeiras fortunas, sendo expostas em luxuosas lojas de jóias raras e finas.

Como disse certa vez um famoso economista: “Não existe almoço grátis no capitalismo”. De fato, mal sabem as mulheres o que se esconde por trás daquele anel de diamante dado por namorados ou maridos. O próprio nome “diamante de Sangue” é perfeito para definir os descaminhos que essas pedras cruzam desde o momento em que são descobertas em minas na África até o momento em que viram finos presentes de romances açucarados em países de primeiro mundo. Guerras, conflitos, exploração do trabalho humano, degradação, mortes... o filme tenta expor esse quadro, muitas vezes adotando um tom quase documental, outras vezes adotando as regras do entretenimento puramente Hollywoodiano. O resultado se mostra a meio caminho da plena conscientização das platéias e a mera diversão para as fãs de Leonardo DiCaprio, que de certa forma havia perdido um pouco o tom certo de sua carreira após o megasucesso de Titanic. Aqui felizmente ele volta a ser o que sempre foi em minha opinião, um ator talentoso e envolvido em projetos realmente relevantes.

Diamante de Sangue (Blood Diamond, Estados Unidos, 2006) Direção: Edward Zwick / Roteiro: Charles Leavitt / Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Connelly, Stephen Collins, Benu Mabhena, Ntare Mwine, Djimon Hounsou, David Harewood / Sinopse: Um contrabandista branco de diamantes e um nativo negro tentam colocar as mãos em um raro diamante cor-de-rosa em Serra Leoa durante a década de 90. Ao lado deles uma jornalista tenta documentar tudo para escrever sobre o caminho que essas pedras preciosas percorrem antes de chegar ao mercado dos países ricos. Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator para Leonardo DiCaprio.

Rede de Mentiras
Um bom thriller de ação dirigido por um dos melhores diretores de Hollywood, o sempre ótimo Ridley Scott. Interessante é que esse roteiro desenvolve os dois lados da mesma moeda do universo dos serviços de espionagem e inteligência de grandes potências, como os Estados Unidos. De um lado os bastidores, onde tramas e operações são montadas e planejadas nos menores detalhes. Nesse campo se destaca o burocrata interpretado por Russeli Crowe. Do outro lado o serviço sujo de campo, onde os agentes precisam colocar a mão na massa. Aqui quem dá as cartas é o personagem de Leonardo DiCaprio. Nem sempre os dois lados se dão bem, muitas vezes há atritos entre eles e o roteiro procura desenvolver bem esse aspecto. 

Outro ponto que chama atenção nesse filme é que ele foi o segundo de pura ação estrelado por Leonardo DiCaprio. Ele parecia empenhado e muito interessado nesse tipo de filme, gênero que na verdade nunca havia encontrado muito espaço em sua carreira. Ele parecia tentar manter sua posição de astro de sucesso em Hollywood, nem que para isso tivesse que fazer certas concessões nos tipos de filmes em que iria aparecer. Ainda bem que logo voltaria para o seu habitual, afinal os admiradores de Leonardo não faziam parte do mesmo nicho que espectadores que curtiam filmes com muitas cenas de ação. Era outra história. Ele queriam ver o ator em outros gêneros cinematográficos, mas de acordo com seu próprio passado no cinema. E todos eles estavam mais do que certos nessa opinião. 

Rede de Mentiras (Body of Lies, Estados Unidos, 2008) Direção: Ridley Scott / Roteiro: 
William Monahan, David Ignatius / Elenco: Leonardo DiCaprio, Russell Crowe, Mark Strong / Sinopse: Agente da CIA é enviado para o Oriente Médio com a missão de prender um perigoso terrorista internacional. 

Foi Apenas um Sonho
April (Kate Winslet) e Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) formam um casal em crise. Eles vivem em um subúrbio de Connecticut com seus dois filhos. O que parece ser o quadro ideal para uma vida feliz esconde um poço de frustrações pessoais de cada um deles. De certa forma o relacionamento foi se desgastando ao longo dos anos, chegando ao ponto de entrar numa encruzilhada. Na tentativa de salvar o casamento se inicia uma série de brigas sobre se devem ou não ir a Paris, numa desesperada tentativa de salvar o relacionamento. A tensão e a angústia resultantes disso trarão sérias consequências para todos.

Quando esse filme foi lançado houve uma certa comparação com Mad Men (uma série de que gosto bastante). O tema é realmente parecido, a época, os conflitos, a rotina destruindo um casal etc. Apesar disso acho que na comparação Mad Men ainda é bem melhor. Não sei se é o fato de nos familiarizarmos melhor com personagens que vemos toda semana, mas o que me passou esse filme foi uma frieza muito grande, tanto do enredo como dos próprios personagens. Não consegui torcer por eles ou criar um vínculo. É um filme que não cria laços emocionais com o público. Pelo menos comigo não funcionou. Eu confesso que fui perdendo gradativamente o interesse no filme durante a projeção. Mesmo assim com esse tratamento frio e distante para com esse enredo, que na minha opinião deveria ser levado em clima caliente, o filme consegue se sobressair por causa da talentosa atuação do casal central de atores. 

Certamente o simples nome de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet no elenco de um mesmo filme vai lembrar na mente de muitos o sucesso "Titanic" mas esqueça qualquer tipo de comparação válida. Ao contrário do filme de James Cameron, que era pop puro, o que vamos encontrar aqui é um roteiro feito de pequenos momentos, o que para alguns vai soar como algo chato e entediante. "Revolutionary Road" definitivamente não foi feito para as massas e seu êxito vai depender muito da forma como o espectador vai encarar todo o desenrolar de sua estória. Comigo não funcionou muito mas quem sabe com outros a coisa seja diferente. Na dúvida arrisque uma conferida. 

Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, Estados Unidos, 2008) Estúdio: DreamWorks SKG, BBC Films / Direção: Sam Mendes / Roteiro: Justin Haythe, Richard Yates / Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Christopher Fitzgerald, Michael Shannon / Sinopse: Um casal em grave crise no casamento tenta uma maneira de salvar o relacionamento. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Ator Coadjuvante (Michael Shannon).

Ilha do Medo
Esse é um dos mais recentes filmes de Martin Scorsese. Ilha do Medo é o típico filme que engana. Você vai ao cinema pensando que vai assistir um tipo de gênero e acaba encontrando outro completamente diferente. Eu, por exemplo, fui assistir convencido que iria me deparar com um bom filme de suspense policial, com muito clima noir. Pensei que iria assistir algo no estilo de Chinatown, mas acabei vendo um curioso derivado de Um Estranho no Ninho. Dito isso quero deixar claro que o filme não é ruim, em hipótese alguma. Ele passeia muito bem pelos estilos com desenvoltura e prende a atenção do espectador. Não é para menos já que Scorsese é um dos diretores mais brilhantes da história do cinema. Então se você vai ao cinema assistir A Ilha do Medo pensando tratar-se de um filme de terror, suspense policial ou trama de espionagem, esqueça. O roteiro usa desses gêneros apenas para contar uma outra estória, bem mais pesada e trágica do que o típico filme de detetives. Não vou aqui estragar a surpresa de ninguém, por isso quanto menos contar melhor. O que posso adiantar é que Di Caprio está muito bem no papel (não chega a ser excepcional mas apresenta uma boa atuação). Ben Kingsley também mantém o alto nível do elenco mas é Max Von Sydow que se sobressai, apesar de suas cenas serem pequenas e esporádicas.

Em termos de produção, atuação e direção não há o que reclamar, Scorsese é praticamente um gênio e nesses aspectos técnicos só se poderia esperar o melhor mesmo. O grande ponto negativo do filme realmente é seu roteiro. Não que seja ruim, longe disso, mas é previsível. Quem tiver o mínimo de atenção logo irá matar o "segredo" do filme. Várias dicas são deixadas ao longo da projeção - algumas inclusive bem óbvias. Em certo sentido me lembrei de um dos meus filmes preferidos, Coração Satãnico, onde também havia um pretexto inicial do roteiro que desbancava para uma grande reviravolta nos momentos finais. Mas o que era sobrenatural em Angel Heart aqui se torna introspectivo, pesado e principalmente psicológico. Por isso digo que quem mais irá apreciar o filme no final serão os estudantes e estudiosos de psiquiatria e psicologia. Esses realmente terão um prato cheio para debater depois da exibição.

Ilha do Medo (Shutter Island, Estados Unidos, 2009) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Laeta Kalogridis / Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Emily Mortimer, Michelle Williams, Max von Sydow, Jackie Earle Haley, Dennis Lynch./ Sinopse: Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) é um detetive contratado para descobrir o paradeiro de uma mulher acusada de assassinato. Sua última localização foi em um hospital psiquiátrico instalado na isolada Ilha Shutter Lá começa a juntar as peças de um grande quebra cabeças envolvendo a todos, inclusive ele próprio.

A Origem
"A Origem" é uma excelente ideia que ficou no meio do caminho. Seu roteiro chama a atenção pela extrema imaginação e originalidade, seu argumento é ótimo com uma ideia central muito rica em possibilidades, com tudo bem costurado, coerente e fechadinho mas que se perde em uma narrativa sofrível que prejudica muito o filme no saldo final. Em poucas palavras: Um roteiro extremamente criativo que afunda numa edição ruim e numa linha narrativa pior ainda. Também falta coragem em se assumir como uma ficção totalmente inteligente e conceitual. No desespero de agradar aos mais jovens que frequentam cinema hoje em dia o diretor Christopher Nolan se acovardou e encheu a produção de correrias, tiroteios ultra exagerados (e bregas) tornando tudo banal, mais do mesmo. 

Não ousou ir até o fim, até as últimas consequências (como Kubrick fazia em seus filmes). Poucas vezes vi um ponto de partida tão promissor se perder em um emaranhado tão vasto de bobagens de estilo e cenas de ação gratuitas. A ideia central do filme não é complicada de se seguir (embora tenha deixado alguns espectadores sem entender muito bem o que acontece). Basicamente é uma alegoria do inconsciente que aqui deixa de ser meramente individual para se tornar coletivo, em um plano compartilhado por várias pessoas ao mesmo tempo. Falando assim até parece sem sentido, mas não é. Quem assistiu sabe disso. O problema é que o diretor Nolan faz um rocambole dos diabos com isso.

O calcanhar de Aquiles de "A Origem" é essa: as coisas acontecem em um ritmo tão acelerado e desorganizado que deixa o espectador médio aturdido. Faltou ao diretor organizar melhor as ideias e as distribuir na sequência de cenas de uma forma menos caótica. A terça parte final do filme é um verdadeiro abismo em termos de edição. Temos três níveis de sonhos, mais delírios de subconsciente e lembranças tudo misturado em uma quase inexistente linha de narração. A impressão nítida que tive foi que Nolan se perdeu totalmente nessa parte do filme. As coisas são literalmente vomitadas em cima do espectador que fica sem saber direito o que está afinal acontecendo. Alguns se esforçam para seguir o fio da meada mas pelo pude constatar na sala que assisti a maioria simplesmente desistiu de tentar acompanhar. 

Para esses Nolan distribuiu fartas cenas de ação vazias que permeiam toda a narrativa. Estaria tentando acordar os mais sonolentos? Foi o que me pareceu. Assim em determinado momento a produção se torna muito chata, afundada numa sucessão de sonhos dentro de sonhos que por sua vez estão dentro de outros sonhos. O filme também é muito pretensioso mas não cumpre o que prometia. Em poucas palavras: se torna um filme intragável para grande parte do público. Realmente faltaram foco, organização, ousadia e sensibilidade no resultado final. Espero sinceramente que Nolan não leve todos esses defeitos para o próximo Batman. Pretensão demais pode levar qualquer filme à sua própria ruína.

A Origem (Inception, Estados Unidos, 2011) Direção de Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan / Elenco: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page / Sinopse: Don Cobb (Leonardo Di Caprio) é um especialista em adentrar sonhos e mentes alheias com objetivos ilegais e ilícitos. Em uma dessas invasões acaba se envolvendo em uma rede de interesses industriais e comerciais do qual não consegue mais ter controle.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXIX

Code 8 Renegados
★★★
Esse é o primeiro filme dessa franquia. Assim como sua sequência, esse também pode ser encontrado na Netflix. São filmes que contam histórias relativamente independentes, então você poderá assistir a algum deles sem se preocupar com a cadeia de eventos que os liga. Aqui temos a história de um jovem que até tenta levar uma vida honesta e decente. Só que sua mãe está morrendo de câncer. Ela foi mãe solo e o criou sozinho desde que nasceu. Como nos Estados Unidos não existe saúde pública, a mãe corre o risco de morrer sem nenhum tratamento médico. O jovem precisa de dinheiro e de forma urgente, o jeito é entrar no mundo do crime. 

A história do filme se passa em um futuro distópico. Há muita tecnologia, com policiais robôs e tudo mais, só que ao mesmo tempo a sociedade amarga a miséria, a corrupção (inclusive policial) e a criminalidade que infesta as ruas das grandes cidades americanas. Eu gostei desse filme, mais até do que do segundo, que também havia gostado. Tem uma boa premissa e os personagens são interessantes a ponto de nos importarmos com eles. E não se engane sobre isso, nos dias atuais, com roteiros cheios de "roteiradas", isso é até mesmo algo raro de encontrar em filmes mais recentes. Então deixo a dica para quem quiser assistir a um bom filme futurista de ação que a despeito de priorizar esse aspecto, também deixa margens para discutir questões bem mais interessantes, sobre as razões de vida que fazem alguém entrar para o mundo do crime.  

Screamboat - Terror a Bordo
Que filme ruim, pelo amor de Deus! Sabe, muitos personagens infantis estão entrando em domínio público. Isso significa que não existe mais direitos autorais em relação a eles. Já vimos isso com o Ursinho Poh e o Peter Pan. Agora chegou a vez do personagem símbolo da Disney, o Mickey! Então, como aconteceu com os demais personagens queridos da infância, o Mickey também entrou na roda. Fizeram um filme de terror trash com ele! O que surgiu dessa ideia bizarra de usar o simpático Mickey em um filme de terror foi esse terror de filme! 

Nada, absolutamente nada, funciona nesse filme. É um dos piores filmes que já vi em minha vida! Péssimo, péssimo, péssimo... O grotesco surge inclusive do próprio Mickey do mal. Ao invés de criar um personagem digital (o caminho mais óbvio para um rato) os produtores resolveram vestir um cara qualquer (e péssimo ator) com uma fantasia de rato! Gente, é de dar vontade de abandonar o filme logo no começo. Então ficamos com essa personificação pra lá de bizarra, um cara vestido de rato, caçando os passageiros de um barco que liga Nova Iorque e suas cidades vizinhas. Muito ruim! Roteiro podre, elenco incompetente e claro o rato... que é seguramente uma das piores coisas que assisti em um filme de teror na minha vida! Não, chega, o filme é tão ruim que nem merecia um review tão extenso como esse aqui. Fuja, ignore, mas não veja, de jeito nenhum. 

Stalker - O Jogo da Morte ★★
Stalker é aquele tipo de sujeito com problemas e transtornos mentais que fica obcecado por uma mulher! Ele literalmente passa a perseguir a garota que para ele representa um símbolo, um tipo de mulher ideal que ele gostaria de se relacionar. Só que esse tipo de mulher perseguida desejaria tudo na vida, menos se relacionar com um esquisitão que a persegue, pelas ruas, se escondendo atrás de latas de lixo para não ser descoberto. De fato, é uma situação bem assustadora, para não dizer o mínimo. Inclusive recentemente esse modelo de perseguição virou crime no Brasil. 

Esse tipo de situação já deu origem a muitos crimes na vida real. Esses stalkers geralmente transformam sua frustação e não correspondência de sentimentos em ira e raiva. Para partir para um ato de violência contra a mulher que vive perseguindo é um pequeno passo a se dar por alguém com uma mente tão perturbada! Como se pode perceber é um tema bem interessante que daria margem para um filme até muito bom de terror, mas em relação a essa fita não tenha nenhuma esperança. O filme é fraquinho de dar pena! Não tem nenhuma grande cena e o teor de terror é quase zero! Um daqueles filmes de streaming que ninguém nem chega a assistir, quanto menos se esquecer dele depois! Se encontrar aí pelos canais de streaming da vida simplesmente ignore e procure por algo melhor. Não vá perder seu tempo nesse filme que não dá medo em ninguém. 

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXVIII

Inteligência Artificial: A Ascensão das Máquinas ★★★
Não vá confundir com o filme de Steven Spielberg. Esse é outro filme, bem mais recente e bem mais modesto em suas pretensões cinematográficas. A história se passa no futuro. Um astronauta começa uma longa viagem rumo a um astro distante. Para não ficar sozinho e não morrer ou sofrer dos efeitos da solidão, embarca com ele uma andróide. Ela tem forma feminina de uma bela mulher e eventualmente, se assim desejar o astronauta, também poderá ser usada para finalidades sexuais. 

A viagem começa e o astronauta nem perde muito tempo sobre isso. Nesse momento o filme quase vira um Soft Porn, afinal a atriz que interpreta esse ser robótico, tem belas formas e surge, muitas vezes em momentos de nudez. Só que o filme não avança muito nisso e em nenhum outro aspecto da história. Parece que o diretor confundiu tédio com reflexão filosófica! Bom, como todos sabemos, não é bem por aí. São duas coisas bem distintas para falar a verdade. Com isso o filme, no final de tudo, se revela apenas levemente curioso e interessante e nada muito além disso. 

O Despertar ★★★
A história se passa em 1919, na Inglaterra. Uma pesquisadora cética, especializada em desmascarar falsos médiuns, é contratada para um novo serviço a ser realizado dentro de um orfanato. As crianças de lá dizem ver um garotinho rondando as sombras da noite nos corredores do lugar. Para eles se trata de um fantasma de uma criança que ali morreu há muitos anos. No começo a pesquisadora segue seus protocolos habituais. Ela quer desvendar mais uma farsa, só que conforme o tempo passa vão acontecendo coisas sobrenaturais que ela não consegue explicar apenas com a racionalidade da ciência. 

Então, eis que temos um bom filme aqui. E isso não é de admirar. Afinal os ingleses  - desde os velhos tempos da Hammer - são especialistas em filmes de fantasmas. E aqui conseguiram novamente fazer um filme de terror e suspense que me prendeu a atenção do começo ao fim. Tudo muito bem realizado, sutil, jogando com o espectador o tempo todo. Assim se faz bons filmes sobre almas penadas e coisas do gênero. Não adianta encher de efeitos visuais se não tem um bom roteiro e nem inteligência para desenvolver esses velhos contos de fantasmas. E o desfecho da trama não decepciona em nada. Enfim, deixo minha recomendação. Esse filme inglês vale mesmo a pena. Não deixe passar em branco. 

Programa de Domingo - A História de Ed Sullivan ★★★
Documentário da Netflix que se propõe a contar a história do apresentador Ed Sullivan (o mais popular nome dos programas de variedades dos Estados Unidos). Ao longo de décadas ele apresentou um programa de TV que foi campeão absoluto de audiência nas noites de domingo. Pois é, qualquer semelhança com o nosso Silvio Santos definitivamente não é mera coincidência. 

A intenção e a ideia do documentário são muito boas, mas devo dizer que o resultado final é bem fraco. Sim, aparecem pequenos trechos das apresentações dos Beatles, Elvis Presley e Rolling Stones no programa, mas fora disso, nada de muito espetacular é revelado sobre Ed Sullivan. Apenas que ele veio do rádio, se deu muito bem na novata televisão, não tinha preconceitos contra artistas negros e nada muito além disso. Diante da história do Sullivan e de sua importância dentro da história da TV dos Estados Unidos, realmente a coisa toda ficou pelo meio do caminho. Como se costuma dizer, esse documentário não se mostrou à altura do personagem que procurou desvendar. 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XXVII

Meu Nome era Eileen
★★★
Filme muito bom! A Netflix tem esse grave problema. Eles colocam um filme como esse sem a devida divulgação e em pouco tempo ele se perde no meio de milhares de outros bem piores que estão no catálogo. Há de se ter cuidado em não deixar passar em branco bons filmes como esse. Pois bem, a história se passa na década de 1950. Eileen é uma jovem solitária que trabalha em uma instituição de internamento de delinquentes juvenis que cometeram crimes graves. Na prática é basicamente uma penitenciária para jovens. Ela é filha de um policial aposentado que tem o péssimo hábito de ficar bêbado todos os dias, dando tiros para o alto, assustando a vizinhança. Não é uma rotina legal de se viver com alguém assim. Só quem já passou por isso sabe do que estou falando. 

Então sua vida cinza e sem graça de repente ganha brilho quando ela começa a conhecer melhor a nova psicóloga da instituição. É uma mulher bonita, elegante, muito charmosa, com pinta de estrela de cinema. Logo surge um clima de potencial romance entre as duas - pelo menos assim pensa a Eileen. Quando elas marcam um encontro, o coração da garota só falta explodir de felicidade! Nesse ponto da história eu pensei sinceramente que estaria prestes a embarcar em um filme com temática GLBT, mas surgem surpresas. Não vou falar nada aqui para não estragar, mas acredito que você vai ficar também surpreso com o que vai acontecer. Comigo aconteceu exatamente assim. Pensava estar vendo um tipo de filme, que logo à frente se revelou outro tipo de história. Essa surpresa não foi negativa, pelo contrário, fez com que eu ficasse ainda mais satisfeito de ter assistido a essa produção. Acredite, tem até mesmo elementos que me lembraram dos clássicos de Hitchcock, mas claro, com a devida sensatez. Então é isso. Vale muito a pena conhecer e assistir! 

O Último Amor de Mr. Morgan ★★★
O cinema americano tem perdido a mão para filmes humanos como esse, o que é uma grande lástima. Em um mundo onde apenas filmes de super-heróis de quadrinhos parecem fazer sucesso é sempre muito bom assistir a uma história terna como essa. No enredo temos esse senhor chamado Mr. Morgan. Já idoso e agora tentando superar a morte de sua esposa querida, companheira de tantos anos, ele vai perdendo o gosto pela vida. É a solidão da velhice que atinge milhares de pessoas ao redor do mundo, não importando seu grau social. Então ele vai procurando algum sentido na vida, para continuar se interessando por sua própria existência em um mundo cada vez mais sem graça e cinza. 

Um dia, por mero acaso, puxa conversa com uma simpática jovem e descobre que ela é professora de dança. Já que ele não tem nada para fazer em seu dia a dia, ele resolve ir lá na classe de sua nova amiga. Quem sabe dançar um pouquinho não vá trazer algum tipo de graça e suavidade em seu cotidiano que pode ser muito duro e enervante. E a amizade deles vai seguindo em frente. Claro que Mr. Morgan (em excelente interpretação de Michael Caine em um de seus últimos papéis no cinema) começa a pensar nela com intenções românticas, mas a despeito disso não dá um passo à frente. Tem receios de estragar sua amizade com aquela pessoa que passa a ser muito importante em sua vida. É isso, um filme humano, sensível, bem conduzido, com ótimo elenco. Tudo que você procura em um bom drama encontrará por aqui. Eu adorei! Espero que nunca deixem de produzir filmes como esse! Os cinéfilos em busca de maior conteúdo e relevância temática agradecem!

Encantadora de Tubarões ★★★
Esse documentário está na Netflix. Conta a história dessa jovem (bonita, loira, dourada pelo sol) que decide fazer algo incomum em sua vida. Que tal ganhar a vida mergulhando ao lado de tubarões? Claro, ela é uma mergulhadora profissional, mas nada ameniza o perigo de se nadar em pleno oceano ao lado de um dos predadores mais temidos do reino animal. Usando suas redes sociais para divulgar suas fotos ao lado dos tubarões e vídeos de todos os tipos, ela foi ficando cada vez mais conhecida na internet. Não deixa de ser uma maneira corajosa de ganhar engajamento e monetização nas redes sociais com esse estilo de vida de pura adrenalina. 

Só que seus mergulhos ao lado dessas feras acabam também trazendo muitas críticas, principalmente de biólogos. Até porque, pense bem, mostrando esses vídeos ela certamente passa, mesmo que indiretamente e de forma inconsciente, a mensagem de que se pode mergulhar ao lado de tubarões sem problemas. Não é verdade! As chances de um ataque são grandes, então há igualmente esse lado bem perigoso em relação ao material que ela produz. Muitas pessoas passam a assistir seus vídeos, pensando que tudo bem, pode mergulhar ao lado de um tubarão branco enorme que será tudo de boa! Pois é, meus caros. Tudo na vida tem um lado bom e ruim. Muitas vezes é preciso ficar atento para esse tipo de mensagem subliminar que sim, pode ser bem perigosa, quem sabe até mortal, para determinados tipos de públicos que não possuem o devido bom senso e o necessário senso crítico. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 14 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXVI

Encontrando o Amor em Oxford ★★★
Esse filme me ganhou já nos primeiros momentos. Eu gosto muito de filmes assim, cujas histórias se passam nessas universidades centenárias na Inglaterra. Que lugares bonitos! Ali você sente mesmo a valorização da arte, da cultura, da educação e do aprendizado. E tem a tradição maravilhosa que se materializa nos prédios históricos, com aquela arquitetura antiga e clássica, todos belíssimos exemplos do mais fino bom gosto. Como tudo isso faz falta em países como o Brasil onde a boçalidade, a ignorância e a estupidez parecem ser sempre o Menu do dia a dia. Mas voltemos ao filme. 

A história, baseada em fatos reais, conta a história de uma jovem. Ela é de família modesta, foi criada por uma mãe solo. A vida, como se poderia prever, é dura, conflituosa, com muita falta de recursos. Só que a jovem se esforça para melhorar na vida. Ela é estudiosa, aplicada, quer ir para a universidade dos seus sonhos. Com ótimas notas ela chega lá! Acaba recebendo uma bolsa de estudos da prestigiada universidade de Oxford. Ao chegar naquele lugar tudo parece maravilhosa. Ela se torna estudante de literatura inglesa (não tem coisa mais chic do que isso!). Só que como é uma bela jovem logo chega também as questões do coração. Um rapaz da mesma universidade tem bastante interesse nela, mas definitivamente não vai ser fácil chegar nela de uma maneira ou outra. A garota quer se aplicar nos estudos, não em namoros ocasionais! 

Filme romântico muito bom, com maravilhosa direção de fotografia. Adorei tudo, do roteiro, do elenco jovem, dos belos cenários. Tudo de muito bom gosto e o mais especial de tudo, é um filme romântico que não faz pouco caso da inteligência do espectador. Pelo contrário. O respeita, acima de tudo. Com isso ganha muitos pontos a favor. Está mais do que recomendado!

Anatomia de uma Queda ★★★
Esse filme foi bem badalado em seu lançamento, chegando a fazer bonito no Oscar. A história é relativamente bem simples. Um homem cai da janela de sua casa. Uma janela alta, perigosa. Ao cair morrer imediatamente. A política é chamada e começam as investigações. O que começa como um inquérito sobre uma queda acidental logo muda de rumo. Uma jovem que esteve na casa minutos antes da queda relata uma certa tensão entre o homem que morreu e sua esposa. Era um casal em crise há muitos anos, principalmente depois que o filho deles sofreu um acidente e perdeu a visão. Além disso ela teria um passado de traição dentro do casamento. A esposa, para complicar ainda mais, teria traído o marido com outra mulher. Dinamite pura! 

Então a esposa é indiciada como a assassina. Vai a julgamento. No tribunal do Júri o promotor público precisa provar que ela realmente empurrou o marido da janela. Ele caiu em cima de uma pequena estrutura de madeira, fazendo a queda ainda mais mortal. E assim se desenvolve o filme, se tornando logo  um interessante drama de tribunal. O roteiro sabiamente manipula o espectador, que ora crê que ela é inocente, para logo depois desconfiar de suas reais intenções. Como eu já analisei, temos aqui um bom filme de tribunal. Não é para todo tipo de público, mas quem gosta de filmes jurídicos vai ser sem dúvida uma boa opção. 

Divórcio dele, Divórcio dela ★★★
Não deixa de ser uma ironia termos a existência de um filme como esse. Explico. Elizabeth Taylor e Richard Burton casaram e se divorciaram tantas vezes em suas vidas que já até perdemos a conta. Então de divórcio eles entendiam bem. E o filme foi realizado quando eles já estavam maduros, coroas mesmo. Foi uma espécie de avaliação do que aconteceu com eles próprios ao longo da vida. A razão que leva um casamento à ruína é exposta sob o ponto de vista do marido e depois da esposa. Dando origem a duas partes bem distintas que se unem para formar um todo bem coerente. A mesma história, mas sob pontos de vista bem diferentes. 

O filme foi produzido inicialmente para ser lançado nos cinemas, mas o corte final se revelou longo demais. Então os produtores fizeram um acordo com uma emissora de televisão da época e acabou exibindo o filme em duas partes separadas, uma após a outra, em dias distintos. Primeiro, o fim do casamento no olhar do marido, interpretado por Burton, depois a mesma crise sobre o olhar da esposa, na pele de uma ainda bonita Elizabeth Taylor. Eu gostei do resultado. Tem uma edição bem diferente, com idas e vindas entre passado e presente. Por isso o espectador precisa de atenção redobrado. Penso que algo assim funcionaria melhor no cinema, já que na TV costumamos perder a concentração. De qualquer forma está valendo. É um bom drama sobre relacionamentos perdidos, à beira da falência completa. 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XXV

O Moinho das Mulheres de Pedra
★★★
Não é todo dia que eu assisto um filme como esse, um terror e suspense dos anos 60, produzido na Itália! Pois então, devo logo começando essa análise dizendo que gostei muito e de certa maneira até fiquei surpreso pelo requinte da produção. Não se engane sobre isso, esse filme tem uma direção de arte belíssima! Os cenários, a ambientação, tudo um luxo só! Não ficava nada a perder se formos comparar com os filmes da Hammer inglesa, por exemplo. Aliás em muitos aspectos até mesmo superava as produções feitas na Inglaterra. Por essa época o cinema italiano já era uma indústria cultural consolidada. Não me admira que tenha sido tudo produzido nos lendários estúdios da Cinecittà em Roma. Palmas para os realizadores do filme! 

Então tudo bem, é um filme bem produzido e tudo, mas você deve estar se perguntando se a história é boa! Eu gostei! Sim, tem alguns elementos meio, digamos, inocentes demais para os padrões atuais, mas ainda assim apreciei a história contada. Nela temos um jovem pesquisador que vai até um antigo moinho, realmente histórico, para consultar documentos sobre sua fundação. O lugar hoje pertence a um professor de arte especializado em bonecos de cera e estátuas de mármore. Algo bem renascentista. Só que o veterano mestre também tem seus segredos, inclusive em relação a uma misteriosa filha, que vive dentro desse moinho sombrio. Falar mais seria revelar aspectos da história que ajudam o filme a ser o que é. Uma produção italana dos anos 60 que deve ser redescoberta nos dias atuais, ainda mais se você aprecia filmes clássicos de terror. 

Rita Lee - Mania de Você ★★★
A querida Rita Lee se foi... e esse documentário emocional tem como objetivo contar parte de sua história, tanto no aspecto familiar como profissional. Para isso conta com os preciosos depoimentos do eterno companheiro de vida, Roberto de Carvalho, além de trazer os três filhos do casal falando sobre a artista, relembrando seu passado. Eu, que acompanhei essa história apreciando a música maravilhosa da Rita Lee, gostei de tudo. Uma bela homenagem, sem dúvida. 

Agora só uma coisa me incomodou um pouco. O período de Rita Lee nos Mutantes foi ignorado. Quem assistir ao documentário e não conhecer a história dela vai pensar que sua carreira começou quando ela se uniu ao grupo Tutti-Frutti nos anos 70. Não foi bem assim. Rita Lee tem todo um passado riquíssimo, do ponto de vista artístico, ao lado dos Mutantes nos anos 60. Acredito que eles foram colocados de lado porque a separação da Rita Lee dos Mutantes não foi uma coisa amigável ou pacífica. Mágoas ficaram pelo meio do caminho, então até entendo a opção de deixar isso de lado. Provavelmente uma decisão da família e quem sabe até mesmo da Rita Lee antes de morrer (não conheço os detalhes sobre isso). De qualquer maneira nada vai mesmo atrapalhar. Esse é um excelente documentário que resgata não apenas a pessoa da Rita Lee como artista, mas também como mãe e esposa. Vale muito a pena conhecer. E obrigado Rita, por ter existido, por ter criado essas maravilhosa música que nos deixou. Como eu já disse antes, a Rita Lee foi a trilha sonora da minha vida também. Por isso fico muito grato a ela. Descanse em paz!

Hotel Transilvânia 3 ★★★
Mantém o mesmo nível das três primeiras animações. O diretor dessa é um craque do ramo, tendo criado personagens inesquecíveis dos desenhos animados como cientista mirim Dexter. Então nem vá se preocupar em termos de qualidade. Está tudo aqui, novamente, repetido com talento pela terceira vez. Na estorinha a filha do Drácula está preocupada com ele. Afinal faz séculos que ele tirou suas últimas férias! Então ela faz uma surpresa ao paizão: Um cruzeiro onde ele vai relaxar e descansar de seu velho hotel. E juntos vão todos os monstros da trupe. 

E como está há muitos séculos solitário, Drácula também encontra o amor, justamente na capitã do navio, uma balzaquiana loira chamada Erica. Seria uma boa, se apaixonar agora bem mais velho, já com netos e tudo mais. Só que o Drácula está entrando numa cilada. Ela na verdade é bisneta de um inimigo histórico do Drácula, o lendário caçador de vampiros Van Helsing. Desse modo ela não quer namorar o vampirão, mas sim acabar com ele! Então vira um Deus nos acuda, com direito a certas sequências que lembram até mesmo os bons tempos dos filmes de Indiana Jones. Então é isso, boa animação. Essa franquia nunca deixou a bola cair em termos de qualidade. Talvez por isso siga sendo tão bem sucedida comercialmente. Merecido sucesso, é bom salientar. Assista com muita pipoca e guaraná. A diversão é garantida. 

Pablo Aluísio.