O sucesso de Drácula de Bram Stoker fez com que naturalmente os estúdios procurassem o mais rápido possível adaptar outros livros clássicos de terror. Assim a Tri-Star Pictures colocou em andamento um projeto ambicioso: adaptar o famoso livro de Mary Shelley, Frankenstein. A fórmula seria a mesma que foi usada em Drácula, ser o mais fiel possível ao texto original, ignorando todos os filmes anteriores sobre o tema. Não era uma missão fácil. O design da criatura dos filmes da Universal faz parte da cultura pop até os dias atuais. A estória todos já conheciam mas como adaptação dos mesmos filmes. Era uma mitologia muito conhecida afinal. As surpresas vieram logo quando o nome do diretor e ator Kenneth Branagh foi anunciado para dirigir o novo filme. Ele era muito mais associado às adaptações de William Shakespeare e não tinha muita intimidade com o universo dos filmes de terror tradicionais. Maior surpresa ocorreu depois quando o estúdio anunciou o grande ator Robert De Niro para viver a criatura! Essa seguramente foi a escolha de elenco mais improvável da história de Hollywood. De Niro interpretando o monstro seria no mínimo esquisito. Fora isso a nova versão de Frankenstein teve o melhor em termos de produção e estrutura. Nesse meio tempo o diretor Roger Corman em mais um lance de oportunismo lançou sua própria versão de Frankenstein. Um filme pra lá de bizarro que chegou até mesmo a ser lançado em nossas locadoras na época.
De qualquer modo as pessoas ansiavam mesmo pela produção classe A de De Niro e Branagh. O filme finalmente foi lançado em novembro de 94. A crítica se dividiu. Para muitos a produção era sem inspiração, preguiçosa e maçante. Para outros era válida a iniciativa de se revisar o texto original de Mary Shelley. Em meu conceito Frankenstein é bem irregular mas não credito todos os problemas apenas ao filme em si. De certa forma o próprio texto de Mary Shelley envelheceu terrivelmente. Escrito como uma aposta da autora que queria produzir o romance mais aterrorizante de sua época, Frankestein é uma obra que intencionalmente carrega nas tintas a todo momento. Nunca teve a sofisticação dos textos de Bram Stoker. Essa falta de sutileza assim se torna óbvio no transcorrer do filme. Além do mais a segunda parte da trama soa muito ultrapassada nos dias atuais. Com tantos problemas no texto original não é de se estranhar que o filme tenha tantos problemas. A produção de primeira linha está lá, um bom diretor e um elenco de ótimos profissionais também, mas o filme não empolga, não surpreende em nenhum momento. A nova visão do livro de Mary Shelley fez sucesso nas telas mas jamais conseguiu se tornar uma unanimidade como o filme de Francis Ford Coppola. Sem dúvida deixa a desejar em vários aspectos.
Frankenstein de Mary Shelley (Frankestein, Estados Unidos, 1994) Direção: Kenneth Branagh / Roteiro: Steph Lady baseado na obra de Mary Shelley / Elenco: Robert De Niro, Kenneth Branagh, Tom Hulce, Helena Bonham Carter, Aidan Quinn, Ian Holm, John Cleese, Richard Briers / Sinopse: Victor Frankenstein (Kenneth Branagh) é um cientista vitoriano que decide utilizar as recentes descobertas sobre eletricidade para tentar criar vida a partir de restos humanos de pessoas falecidas. Seus experimentos acabam dando origem a uma estranha criatura (Robert De Niro) que a despeito de sua precária condição consegue expressar e desenvolver muitos dos mais nobres sentimentos humanos.
Pablo Aluísio.