Filmes de espionagem geralmente seguem, de uma forma ou outra, a velha fórmula das fitas de James Bond: espiões charmosos, equipamentos de última geração, muita ação e pirotecnia. Pois bem, se você for ao cinema pensando encontrar algo assim em "O Espião Que Sabia Demais" pode ir tirando o cavalinho da chuva, pois ele é justamente a antítese do que o cinema costuma mostrar. Para começar os espiões não são charmosos, bonitões, vestidos em smokings de alta costura. Pelo contrário, são funcionários públicos burocráticos, foras de forma, mal vestidos e para falar a verdade enfadonhos, verdadeiros chatos. Por isso eu tenho quase certeza que a maioria das pessoas vão achar "O Espião Que Sabia Demais" uma tremenda chatice. Não há explosões, nem correrias, nem equipamentos espetaculares. A inteligência mostrada no filme se resume a esse grupo de funcionários públicos do governo britânico tentando descobrir quem seria o agente duplo que dentro da repartição está repassando informações aos russos. Parece simples mas esqueça. O roteiro é truncado mesmo e para quem não leu o livro vai ficar complicado não perder o fio da meada pelo menos uma vez durante a exibição. Na realidade nada é muito bem explicado para o espectador leigo (entenda-se o não leitor do livro de John Le Carré)
No elenco vários nomes conhecidos que admiro muito de outros filmes. Os que mais se destacam são John Hurt (sempre um ator eficiente seja lá qual for o papel) e Gary Oldman (com cara de enfadonho, deprimido, com olhar totalmente entediado mas mesmo assim muito bem em cena). O diretor sueco Tomas Alfredson (o mesmo do excelente Deixe Ela Entrar) aqui não consegue repetir a mesma fluência e elegância da estória da garotinha vampira. Na minha opinião ele realizou um filme que assim como os principais personagens em cena, soa bastante arrastado e entediante. Acredito que o roteiro deveria ter ficado mais enxuto, com menos personagens do que existem no livro. Nem sempre se deve adaptar uma obra de literatura ao pé da letra, principalmente quando ela é enorme e simplesmente não tem como encaixar tantas informações em um filme de duas horas de duração. Do jeito que ficou tudo soa bastante desencontrado, de complicada compreensão. Em poucas palavras a mão pesada do diretor acabou transformando "O Espião Que Sabia Demais" em algo um tanto quanto indigesto. Faltou mais sutileza a ele, com certeza.
O Espião Que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, Estados Unidos, 2011) Direção: Tomas Alfredson / Roteiro: Bridget O'Connor, Peter Straughan Baseados na obra de John le Carré / Elenco: Gary Oldman, Colin Firth, Tom Hardy / Sinopse: Durante a Guerra Fria um veterano espião do serviço secreto inglês tenta desvendar uma complicada teia de conspiração envolvendo espiões soviéticos. Filme indicado a três categorias no Oscar: Melhor Ator (Gary Oldman), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Música.
Pablo Aluísio.