domingo, 6 de julho de 2008

Errol Flynn - Fragmentos de vida de um astro - Parte 1

Após as filmagens de "Capitão Blood" (1935), a fama de Errol Flynn, chegara a estratosfera. Naquela época, anterior à Segunda Guerra Mundial, Errol, - que nessa mesma guerra, foi um espião a serviço da Inglaterra - representava uma mistura estranha: ao mesmo tempo em que enlouquecia as mulheres com seu imenso charme e seu maravilhoso físico, também lutava e procurava disfarçar de todos o seu imenso complexo de inferioridade. Sua arrogância não tinha limites, só aceitava mulheres que servissem para ele como meras escravas sexuais - ou seja, mulheres "sem cérebro" - e que ele dispensava a hora que bem entendesse.

Quanto aos amigos, só aceitava andar acompanhado daqueles "chamados" inferiores ou que não lhe fizessem sombra. Desconhecia as palavras bondade e humildade. Eram raros os dias de bom humor, só estava de bom humor e demonstrava amor pelo seu cão, "Arno", um Schnnauzer cinza e branco. Além disso, Flynn era um brigão inveterado que por diversas vezes quebrou bares inteiros, arrebentando a cara dos engraçadinhos que o chamavam de "herói de mentirinha de Hollywood". O astro sempre levava a melhor pois treinava boxe quase que diariamente com seu treinador pessoal. Segundo o próprio Flynn, o famoso John Huston, também gostava de dar os seus murros e invariavelmente os dois treinavam juntos nos jardins da mansão do mais famoso Robin Hood do cinema.

Depois das filmagens do longa, "Carga da Brigada Ligeira" (1936), que tinha como diretor, seu amigo e padrinho no cinema Michael Curtiz, Errol Flynn, mais famoso e mais rico, mandou construir dois "brinquedinhos" dos sonhos: um iate que ele batizou de Sirocco com dois enormes mastros medindo 70 pés cada um e uma mansão luxuosa em Mulholland Drive, que, segundo ele, serviria apenas para as suas festas mais loucas possíveis e para os encontros com seus amigos. A mansão tinha uma enorme sauna finlandesa que se ligava ao quarto de Flynn por uma espécie de porta-secreta. Tirando o chão, o quarto do astro era todo espelhado - paredes e teto formavam quase que um só espelho e abrigando no centro uma gigantesca cama redonda. A visão da janela do quarto era deslumbrante, dali, se descortinava as paisagens maravilhosas do Vale de San Fernando.

A mansão, segundo Flynn, se tornara refúgio de um de seus amigos mais queridos: John Barrymore - o outro amigo era David Niven. Flynn sabia que Barrymore estava chegando ao fim. Em 1942 com o falecimento de John Barrymore, Errol entrou em profunda tristeza protagonizando uma das cenas mais bizarras da história de um ser humano. Com sua influência e dinheiro, Flynn "comprou" um serviço no mínimo fantasmagórico e de um mau gosto sem precedentes, ele fez com que o funcionário da funerária onde estava o corpo de Barrymore, vestisse o famoso defunto, com terno, gravata, calça, meias e sapato e o levasse até a sua mansão, em sua ausência é claro.

Lá o funcionário teria que arrumar o famoso corpo na poltrona onde ele gostava de sentar-se, na posição correta e com o seu famoso charuto entre os dedos "esperando" pela chegada do melhor amigo. Flynn, já sabendo que o seu melhor amigo o "esperava", chegou tarde da noite, completamente bêbado e, quando viu, no reflexo da luz da lua que entrava pela janela, aquela silhueta fastasmagórica de Barrymore sentado na poltrona, entrou numa profunda crise de nervos e de choro, ficando abraçado ao corpo do amigo morto por vários minutos. Duas horas depois, como combinado, o funcionário da funerária voltou à mansão para levar o corpo de Barrymore de volta à funerária, levando também consigo uma polpuda gorjeta. Ninguém sequer desconfiou.

Telmo Vilela Jr.

Nenhum comentário:

Postar um comentário