domingo, 13 de junho de 2010
Elvis Presley - Double Features II
A parte Spinout do disco termina com uma música, da qual simplesmente não consigo dizer o bastante sobre ela — K. D. Lang terminou sua grande tournée americana de 92 com "I 'll Be Back". Por mais que eu procurasse essa música não a encontrava, até agora. Escondida nesta colcha de retalhos musical, "I 'll Be Back" é como um original de Monet perdido numa pilha de reproduções. Sem discussão, é o melhor momento de Elvis num filme musical, pós-exército. Não consigo parar de tocá-la e depois da 20º audição, torna-se uma experiência religiosa. Estarei obcecado?
A porção Double Trouble do disco, mesmo sem conter nada nem remotamente similar a "I 'll Be Back", é surpreendentemente livre de chatices. Mostra as várias vozes de Elvis em múltiplas situações. A faixa-título "Double Trouble" é outro prazer sem culpas. "Baby lf You'll Give Me Ali Of Your Love" é um rock incendiário! As três seguintes: "Could I Fall ln Love" "Long Legged Girl (With The Short Dress On)" e "City By Night" provam que, não importa o quanto Elvis tenha se tornado irrelevante na época, ele ainda podia ser capaz de emocionar. Então, tudo cai por terra com a terrível "Old MacDonald". Engraçado, mas mesmo na mais mortificante das canções, Elvis permanece bem e dá tudo de si. Em seguida, a igualmente embaraçante marcha, "I Love Only One Girl", antes das 2 últimas faixas deixar tudo a salvo, satisfatoriamente. "There Is So Much World To See" e "It Won't Be Long" são o tipo de canções sexy de Las Vegas, que somente Elvis pode torná-las agradáveis.
O último Double Feature, na verdade, contém músicas de três filmes, Kissin' Cousins / Clambake / Stay Away Joe. Com suas 24 faixas durando 54:56, é o mais longo dos três, mas em compensação, apenas cinco delas mantém o interesse. O produtor Sam Katzman era conhecido em Hollywood como "O Rei da Rapidez". Foi quem conduziu a carreira fílmica de Elvis! E pensar que ele teve no seu currículo grandes performances cinematográficas, como em Love Me Tender, Jailhouse Rock e especialmente King Creole, onde provou que poderia ser James Dean por um dia, terminar fazendo Kissin' Cousins!? Que pena! De fato, estou convicto que Barbra Streisand poderia ter salvo a carreira de Elvis no cinema, quando ela foi nos bastidores naquela noite em Las Vegas e ofereceu a Elvis uma participação em A Star Is Bom ao seu lado, um papel no qual ele estaria muito bem, e que ele estava querendo fazer, até seu empresário Parker recusar.
Alguns dizem que ele não queria deixar seu garoto interpretar um derrotado. Outros dizem que a questão foi dinheiro. Outros ainda afirmam que Parker não permitiu que Elvis recebesse menos que Streisand. Qualquer que seja a razão, Kris Kristofferson ganhou o papel e Elvis se afundou na sua mistura de pílulas, mulheres, música ruim e misticismo religioso da nova era, que o fascinou até a morte. Não há muita música para se comentar nesta hora opaca. Mais marchas ruins, mais uma dose de country-music de mau-gosto ("Barefoot Ballad"), que, sem conseguir, tentou reacender um pouco das glórias passadas. Mas tem as cinco canções já mencionadas. "Once Is Enough" é abrilhantada por um vocal perfeito de Elvis. Pelo menos, a letra não é estúpida e tem até uma melodia discernivel! "Kissin' Cousins" é assumidamente burra, mas não posso evitar gostar de seu fraseado tipo pára-e-continua e sua intensa alegria. "You Dont Know" já foi cantada por diversos intérpretes mais notadamente por Ray Charles e Eddy Arnold — mas ouvi-la com Elvis, é uma completa emoção. "The Girl I Never Loved" é uma canção forte, com versos fortes e cantada convincentemente. "How Can You Lose What You Never Had" tem um balanço macho, que é tanto blues quanto rock! Mas, é isto ai.
Rock in Portfólio.
Elvis Presley - Double Features I
O primeiro Elvis Double Feature, com Frankie And Johnny / Paradise Hawaiian Style, é um CD com 49:07 e 22 faixas que mostram o abismo onde o grande artista caiu. Existem 5 preciosidades absolutas embutidas: a faixa título, "Frankie And Johnny", abrasiva com seu som Dixieland. Rodado em New Orleans, é lamentável que as 12 canções deste filme não tenham absorvido mais a cena musical local. Elvis lamenta! Cada verso é construído com intensidade e nos seus escassos 2:23, as numerosas repetições ecoam uma magia mais ampla. Idem para a seguinte, "Come Along", 1:52 de puro prazer. Então, vem o desastre. Será "Petunia, The Gardener's Daughter" a pior música que Elvis já cantou? Provavelmente não, porque ela foi salva pelo balanço de New Orleans. "Chesay" é bem pior e "What Every Woman Lives For" não é apenas terrível, mas francamente insultuosa. Com melancólica misogenia, diz que a mulher é realmente boa se "for para dar seu amor a um homem". "Look Out Broadway" é igualmente ruim. Melosa e maliciosa chega a perguntar: "se ele lhe der um diamante, o que você dará a ele?"
Perceba que a voz de Presley era um instrumento tão quente e expressivo, que escutá-la pode ser o jeito de se descobrir sobre como ele se sentia na época, e estas faixas, mesmo ruins como são, para um fanático por Elvis, são fascinantes. "Begginer's Luck" é a terceira gema. Lembrando trilhas sonoras melhores como G.I. Blues ou Blue Hawaii, esta terna balada tem fluidez. Infelizmente, ela precede uma marcha. Uma marcha! Como aficionado a Elvis por 35 anos, posso dizer sem hesitação que entre todos os gêneros musicais do universo — com exceção do já mencionado "G.I. Blues" — Elvis soava mais desconfortável cantando marchas. E algum estúpido decidiu fazer uma marcha, misturando "Down By The Riverside" com "When The Saints Go Marching In" — atirando Elvis numa horrível estrutura rítmica, salva no fim, quando muda para ragtime. "Shout It Out" é um exemplo, de como aqueles lacaios de Hollywood, tentaram substituir seu grito rebelde de rock' n' roll original, por uma batida pegajosa e sem valor, supervalorizando os efeitos percussivos, ainda que Elvis a cante corretamente.
Acho que ele sabia, assim como nós, que sempre existirão aquelas poucas gemas, onde valerá a pena enfiar a cara, como na que se segue: "Hard Luck" é um blues pesado, no qual ele se entrega com uma paixão que não se ouve em qualquer lugar. A metade Frankie & Johnny do disco, termina numa levada "para cima" em ritmo de ragtime. A psicologia de bastidores que transformou o Rei do Rock' n' Roll numa marionete de compositores, argumentistas, diretores e produtores, é um enigma da cultura pop que talvez jamais seja solucionado. E fácil apontar para Tom Parker, o homem que ajudou Elvis a alcançar o superestrelato. Parker, na sua visão limitada, optou todas as vezes pelo dinheiro rápido. Presley quase o despediu em uma ocasião, mas em última análise, ele era tão leal quanto um velho perdigueiro.
Minha teoria é que Elvis racionalizou a sua ascenção: "Odeio esta droga, mas até que não tem sido tão ruim assim. Faço filmes em Hollywood. Tenho meus amigos de Memphis comigo o tempo todo. Tenho garotas a cada noite da semana. Recebo minha 'medicação' para me fazer sentir bem. Então, se devo cantar estas músicas horríveis, e dai? É um trabalho para se viver." A porção Paradise Hawaiian Style do disco é ainda pior. Enquanto Frankie & Johnny tem 5 faixas fortes em 12, Paradise... não tem nenhuma em 9. Na faixa-titulo, Elvis canta um verso estúpido, "puxa, é bom estar no 50º estado". Procedido por um material havaiano tão falso, banal e embaraçoso, que Elvis deve ter se entupido de medicação para poder gravá-lo. O divertido é que ele sabia o quanto era ruim. Há uma versão engraçada de "Datin" numa caixa editada em 1980, onde depois de dezenas de tomadas de gravação, ele ainda não consegue cantá-la sem rir do que estava fazendo. Apenas não conseguia parar de rir! Claro, seu senso de humor é lendário, mas aqui é contagiante. O ouvinte não consegue evitar de rir junto com ele. Pena que a versão escolhida pela RCA para este Double Feature, é uma que ele consegue cantar do começo ao fim. O resto do material sequer é digno de menção.
Rock in Portfólio.
sábado, 12 de junho de 2010
Elvis Presley - Minhas Três Noivas
Infelizmente os executivos da MGM não quiseram se arriscar e resolveram apostar na velha fórmula dos filmes anteriores de Elvis, que já estavam bastante desgastados pela crítica e até mesmo pelos fãs, que vinham exigindo atráves do fanzine "Elvis Monthly" mudanças na carreira de Elvis. Ou seja, muitos fãs estavam mais lamentando esse "aniversário" do que comemorando tal data. A falta de inovação da carreira de Elvis o levou a um impasse: ele tinha que mudar o rumo que vinha tomando há tempos ou afundaria de vez e se tornaria apenas uma "lenda viva" sem relevância artística. Os primeiros sinais já tinham aparecido no ano anterior com as más bilheterias de seus últimos filmes. O público estava cansado dos mesmos roteiros, das mesmas estórias e o pior de tudo: da má qualidade do material musical apresentado nesses filmes. E Elvis tinha consciência disso, porém preso a muitos contratos cinematográficos desde a primeira metade dos anos 60 o cantor se viu amordaçado não só aos grandes estúdios como também à sua própria gravadora que lançava todas as trilhas sonoras - e que por sua vez também estava presa à obrigações com os estúdios de cinema.
Por incrível que isso possa parecer a melhor coisa a acontecer na carreira de Elvis nesse período era um grande fracasso no cinema! E o que todos de certa forma já previam finalmente aconteceu! Spinout foi lançado em novembro de 1966 e afundou nas bilheterias! Nem todo o marketing do mundo o salvou de ser um dos piores fracassos da carreira de Elvis! Até mesmo os fãs resolveram boicotar o lançamento e isso acabou sendo muito bom, pois acendeu de vez a luz vermelha nas organizações Presley - não dava mais para seguir essa velha linha "Trilha / Filme". Para se ter uma idéia do tamanho da bomba, basta afirmar que o filme não conseguiu ficar nem entre os 50 mais vistos do ano - logo Elvis que mesmo em suas bilheterias mais fracas conseguia ficar no top 10 ou até mesmo no top 20. O ano que viria apenas iria corroborar essa visão e tudo isso iria desbancar na realização do NBC TV Special de 68 que iria reviver a carreira de Elvis e o levar de uma vez por todas para longe de Hollywood, para o seu próprio bem e dos seus fãs, é claro!
Spinout (S.Wayne / B. Weisman / D. Fuller) - Ao contrário do filme, que é destituído de valor artístico, a parte musical de Spinout traz pela primeira vez em muitos anos de trilhas sonoras fracas, uma seleção bastante interessante de momentos e até mesmo algumas músicas excelentes da carreira de Elvis - "Down in the Alley", "I'll Remember You" e "Tomorrow is a long Time" de Bob Dylan. Isso se deveu a um fator que ocorreu nos bastidores da RCA Victor em 1966. Por motivos de saúde o produtor de Elvis, Chet Atkins, teve que se afastar dos estúdios. Isso abriu caminho para que os trabalhos musicais de Elvis fossem providenciados por um novo produtor: Felton Jarvis. Ao contrário de Atkins, que apesar de ser um produtor e músico talentoso estava muito acomodado, Jarvis chegava com muita vontade de mostrar serviço. Resolveu embelezar as músicas de Elvis com novos arranjos e lhes dar maior qualidade harmônica, mesmo que essas fossem apenas canções descartáveis de filmes. Enfim, finalmente havia um sopro de ar fresco pairando dentro dos estúdios da RCA Victor.
All That I Am - (S. Tepper / R.C. Bennett) - A prova viva de que Felton Jarvis vinha para ficar! Nesse caso o produtor pegou uma música despretensiosa que fazia parte da trilha e resolveu escrever um belíssimo arranjo de cordas em violino! A nova versão ficou tão bela que, com a concordância de Elvis, Jarvis resolveu lançá-la em single antes do filme. O resultado foi tão satisfatório que a música chegou ao Top 20 na Inglaterra, se tornando também bem conhecida no resto da Europa. Nesse compacto europeu ela foi lançada como lado A, ao contrário do single americano original que vinha com "Spinout" no lado principal e com "All That I am" no lado B. O disco com a trilha sonora se saiu melhor que o filme e conseguiu também ser Top 20 nos EUA (18º lugar entre os mais vendidos). Um excelente sinal de mudanças positivas nas combalidas trilhas sonoras de Elvis nesse período.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Coração Rebelde
Com isso o projeto do filme foi arquivado. Ao cair nas mãos de Elvis no verão de 1960 o rei do rock se entusiasmou pelo roteiro e pela chance de finalmente fazer um filme com conteúdo mais dramático. Para Elvis esse filme deveria ser filmado de forma fiel à adaptação da peça teatral. Com a aprovação de Darryl F. Zanuck o projeto começou a tomar forma com a contratação do conceituado diretor Phillp Dune e a escalação das atrizes Hope Lange, Tuesday Weld e Cristina Crawford. Tudo ia bem até o dia em que o coronel Parker resolveu ler o teor da estória do novo filme de Presley. Parker ficou chocado com o que leu!
Em primeiro lugar a estória era completamente dramática com final trágico - Elvis faria um personagem que se envolvia com uma mulher mais velha, não haveria músicas e o pior: Elvis se suicidaria no final! Uma coisa inaceitável na visão de Tom Parker, sempre preocupado com a imagem de seu principal (e único) cliente! Atuando pelas costas de Elvis o coronel começou a tomar as rédeas do projeto: o final foi mudado por um grupo de roteiristas contratados pelo empresário, o romance entre Elvis e uma mulher mais velha foi suavizado e foi encaixada diversas músicas dentro do filme (no roteiro original o personagem principal nem sabia cantar!). Elvis ficou completamente desapontado pois o filme agora se aproximava cada vez mais de sua comédias bobocas! Tudo em que havia apostado agora estava indo por água abaixo! Tentou vencer a queda de braço com Parker e Zanuck mas não conseguiu, principalmente depois que o diretor Phillip Dune resolveu ceder às pressões comerciais envolvidas na realização da película.
Assim Elvis se viu totalmente sozinho na defesa do roteiro original que havia lido. Finalmente o presidente da Fox se reuniu com Elvis e demonstrou que as mudanças seriam mais benéficas ao sucesso do filme. Elvis resolveu então tentar salvar o que restava do script mas não obteve êxito em um set completamente controlado pela mão forte do todo poderoso magnata Darryl F. Zanuck. Finalmente acabou cedendo as pressões, com um forte sentimento de frustração e decepção com a maneira de fazer filmes em Hollywood. E assim "Coração Rebelde" se tornou um filme sem identidade própria, um mistão indigesto que tentava colocar sob o mesmo teto conceitos teatrais complexos com romances inventados na última hora para suavizar a forte densidade melodramática da trama.
E também se tornou o adeus de Elvis às suas pretensões de exercer uma atividade de ator independente de sua carreira musical, principalmente depois do sucesso arrasa quarteirão do filme "Feitiço Havaiano", que chegou nas telas nesse mesmo ano. E a fusão desse dois fatores: o sucesso de "Feitiço Havaiano", comédia musical leve cheia de canções, e o relativo fracasso de "Coração Rebelde", filme com pretensões mais sérias, iria determinar como seria a futura carreira de Elvis no cinema, onde ele não iria mais sair do esquema imposto pelos grandes estúdios, das comédias musicais românticas. Era o fim do sonho de Elvis em se tornar um novo Marlon Brando ou James Dean. Será que se tivesse tido a oportunidade ideal, Elvis teria se tornado um grande ator? Nunca saberemos ao certo, infelizmente.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Elvis Presley - Spinout - Parte 3
8. Smörgåsbord (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Essa trilha sonora de Elvis enfrentou alguns problemas no mercado inglês. Isso porque algumas expressões simplesmente não faziam sentido aos ouvidos ingleses. A própria palavra "Spinout" soava ruim aos britânicos. Agora imagine essa palavra chamada "Smörgåsbord"! Os ingleses que sempre consideraram os americanos uns matutos sem sofisticação devem ter coçado a cabeça para entender o que diabos isso significava. Curiosidades linguísticas à parte até que essa canção não é de se jogar fora. Gosto de seu ritmo e refrão pegajoso. Ouviu uma vez, não esquece mais.
9. I'll Be Back (Ben Weisman / Sid Wayne) - Fechando a parte da trilha sonora do álbum temos essa "I'll Be Back". Já li muitos elogios para essa canção, mas sinceramente considero muitos deles exagerados. Não quero ser interpretado de forma equivocada, "I'll Be Back" é sem dúvida uma boa música, diria mesmo muito acima da média das demais presentes na trilha desse filme, porém não é tudo aquilo que dizem e escrevem sobre ela. Considero Ben Weisman um escritor competente que foi muito criticado em sua parceria com Elvis Presley e por isso deixarei o julgamento final a cada ouvinte. Ouça e tire suas próprias conclusões.
10. Tomorrow is a Long Time (Bob Dylan) - Essa é a primeira bonus song do álbum e o primeiro grande momento do disco. Durante anos as pessoas ficaram sem entender porque Elvis Presley gravava tanta bobagem, sendo que na mesma época os grandes compositores americanos imploravam para que ele gravasse suas músicas. Dylan foi um deles. Considerado um dos maiores nomes da música daquele período, tinha esse velho sonho de um dia Elvis vir a gravar algumas de suas canções. O sonho se tornou realidade com essa faixa, "Tomorrow is a Long Time". Bob Dylan a gravou inicialmente em 1963, em um disco ao vivo. A música chegou a Elvis através de seu músico e amigo Charlie McCoy, que inclusive já havia trabalhado ao lado de Dylan antes. Assim que ouviu a faixa Elvis decidiu que a gravaria. Isso foi em maio de 1966 e inicialmente a RCA pensou em lançar a gravação em um single, o que teria sido uma grande ideia. Pena que mudaram de opinião e a resolveram encaixar aqui no lado B de "Spinout" onde acabou ficando obscurecida, não tendo a devida atenção que merecia. Esqueça esse erro histórico e não deixe de ouvir a faixa, considerada nos dias de hoje uma preciosidade, um dos melhores momentos de Elvis no estúdio durante os anos 1960.
11. Down in the Alley (Jesse Stone) - Outra jóia perdida da discografia de Elvis Presley. "Down in the Alley" é mais um blues que criminosamente foi jogado para escanteio pelos produtores de Elvis. Uma canção relevante, lindamente gravada, com ótimo entrosamento vocal que foi desperdiçada completamente dentro de sua discografia. Não merecia surgir no mercado como mera bonus song de "Spinout". De qualquer maneira Elvis adorava a música, tanto que a tentou promover até mesmo anos depois, já em Las Vegas, numa forma de resgatar esse ótimo momento obscuro de sua vida nos estúdios.
12. I'll Remember You (Kui Lee) - "I'll Remember You" foi muito importante para Elvis em 1973. Foi uma das faixas mais promovidas e divulgadas em seu "Aloha From Hawaii", justamente porque seu autor, Kui Lee, deu nome a uma fundação que seria ajudada com os lucros do famoso show via satélite de Elvis. Todos certamente conhecem a versão ao vivo de Presley naquele momento tão importante de sua carreira. Curiosamente poucos conhecem a versão de estúdio, essa aqui mesmo que foi lançada como última bonus song de "Spinout". Bela gravação com Elvis em pleno domínio vocal e ao contrário das faixas da trilha sonora, lindamente gravada, sem máculas, em um registro perfeito.
Elvis Presley - Spinout (1966) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore (guitarra) / Tommy Tedesco (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Charlie Hodge (piano) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria) / Data de gravação: fevereiro de 1966 exceto "Tomorrow is a Long Time" e "Down in the Alley", gravadas em maio de 1966 e "I'll Remember You" gravada em junho de 1966 / Data de lançamento: outubro de 1966 / Melhor Posição nas Paradas: #17 (Reino Unido) #18 (Estados Unidos).
Pablo Aluísio e Erick Steve.
Elvis Presley - Spinout - Parte 2
Adam and Evil (Fred Wise / Randy Starr) - Outra canção mais agitadinha. No filme pelo menos Elvis surge em boa cena, com um figurino azul e preto em um quadro esteticamente muito interessante (muito embora o trash também esteja lá, quando um dos membros de sua banda dá uma de faquir seduzindo uma cobra de pano!). A versão apresentada no filme é ligeiramente diferente da do álbum, com mais solos de bateria. Em termos de letra esqueça, é uma tremenda bobagem.
All That I Am (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Uma das músicas mais celebradas da trilha sonora. Sid Tepper esclareceu nos anos 70 que a canção não havia sido composta especialmente para Elvis e nem para o filme. Só depois quando foi contactado pelo estúdio é que ele resolveu oferecer a canção para fazer parte do disco. Isso talvez explique porque ela é tão bem composta, com ótima melodia. O belo arranjo de violinos também soma muito em seu excelente resultado final. Um oásis de qualidade no meio do deserto de músicas fracas de "Spinout".
Never Say Yes (Doc Pomus / Mort Shuman) - Na volta de Elvis do serviço militar a dupla Doc Pomus e Mort Shuman logo se tornou a principal da carreira do cantor. Não é para menos, pois eles eram realmente ótimos, tanto nas letras como nas melodias. Infelizmente como era de se esperar foram colocados de lado por Tom Parker que começou a considerar a dupla cara demais para trabalhar com Presley. Assim eles foram empurrados sem muita cerimônia para a geladeira. Para surpresa de muitos ressurgiram timidamente aqui na trilha de "Spinout". A canção é fraca, parece que foi vendida pela dupla propositalmente assim. Algo no estilo "pelo preço que vocês querem pagar só podemos oferecer músicas desse nível".
Am I Ready (Sid Tepper / Roy C. Bennett) - Outra bela balada de Tepper e Bennett. Embora fossem contratados da Paramount Pictures, onde compuseram vasto e bom material para os filmes de Elvis, eles também vendiam suas criações por fora, como freelancers, principalmente após 1964, quando se desligaram oficialmente da Paramount. Essa música não chega a ser tão bela como "All That I Am" mas forma com essa a melhor parte da trilha sonora. Infelizmente o arranjo deixou a desejar, principalmente por não ter sido tão embelezada como a outra balada. De uma forma ou outra mantém o interesse e conta com belo trabalho vocal de Elvis Presley, relembrando seus melhores momentos por volta de 1960 e 1961, quando seu estilo de cantar era muito mais suave e terno.
Beach Shack (Bill Giant / Bernie Baum / Florence Kaye) - Um verdadeiro lixo! Muitos fãs de Elvis ficam irritados quando alguém afirma que Elvis gravou lixo cultural em sua carreira! Ora, isso é uma afirmação verdadeira! Ele só gravou lixo? Obviamente não, claro que não, mas ele gravou sim grandes porcarias, não há como negar. Pensem sob um contexto histórico. Quando Elvis gravou essa trilha sonora ele já era um homem com mais de 30 anos, não um adolescente boboca! Apenas um cantor teen, desses bem rasteiros, gravaria algo desse tipo. Triste momento para um dos grandes talentos da música mundial que via seu talento ser explorado e colocado a serviço de lixos como esse.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Elvis Presley - Spinout - Parte 1
O disco pode ser dividido em duas partes bem distintas. O material do filme em si, que é caracterizado por uma certa irregularidade, e as chamadas "bonus songs", canções que não faziam parte do filme, mas que eram encaixadas nos discos para que eles não fossem muito curtos. A trilha sonora propriamente dita tem altos e baixos. Há canções medonhas de ruins como "Beach Shack", ao lado de músicas medianas ao estilo "All That I Am", além de pequenas preciosidades como a subestimada "I'll Be Back". O material foi composto por bons compositores como a dupla Sid Tepper e Roy C. Bennett, o sempre bom Joy Byers e até mesmo os excepcionais Doc Pomus e Mort Shuman, que infelizmente comparecem com apenas uma faixa. Graças aos deuses musicais os produtores resolveram colocar o trio calafrio Bill Giant, Bernie Baum e Florence Kaye de lado e eles aparecem também com apenas uma canção, e pra variar a pior de todas, um verdadeiro lixo cultural.
Outro aspecto que merece menção é a falta de qualidade técnica das gravações. "Spinout" é considerado um dos discos mais mal equalizados da carreira de Elvis, talvez só superado por "Double Trouble" que parece ter sido gravado na garagem de alguém. Não dá para entender porque a RCA já não se importava mais com a qualidade das gravações daquele que havia sido seu maior nome até pouco tempo atrás. Ao que tudo indica os profissionais da gravadora simplesmente lavaram as mãos, deixando tudo para lá e como os discos já não vendiam mais tão bem, deixaram tudo para o "Deus dará"! Assim que se coloca o vinil original americano para tocar o ouvinte percebe a falta de capricho nas faixas. A banda já não soa tão afinada como antes e Elvis parece transparecer desleixo em seus vocais, algo impensável para quem vinha acompanhado Presley por longos anos, onde seus álbuns sempre se destacavam pelo bom gosto e cuidado nas gravações.
Alguns membros da Máfia de Memphis confirmam que Elvis ficou até mesmo abalado quando ouviu o disco pela primeira vez. Ele obviamente acusou Tom Parker de mandar mexer nas matrizes mas nada fez para parar essa interferência indevida. Chegou a dizer que ficava fisicamente doente quando descobria que um trabalho com seu nome saía mal feito, mal realizado. Some-se a isso os problemas no cinema e você terá uma ideia da imensa frustração profissional que ele vinha sentindo por essa época. A única salvação do disco vem mesmo das bonus songs, três belas canções em gravações impecáveis. "Tomorrow is a Long Time" de Bob Dylan, "Down in the Alley" de Jesse Stone e "I'll Remember You" de Kui Lee, são maravilhosas. Gravadas numa sessão em maio (e junho) de 66, estavam arquivadas, sem a RCA saber o que fazer com elas. Acabaram enfiando aqui para amenizar a má qualidade do material do filme.
Como o público já vinha ficando aborrecido com os rumos da carreira de Presley o disco ao ser lançado novamente se tornou uma decepção nas vendas, a tal ponto que pela primeira vez em sua carreira Elvis tinha sido deixado de lado pela filial brasileira da RCA Victor que simplesmente desistiu de lançar o álbum comercialmente por aqui por causa do fracasso de vendas nos Estados Unidos. E o mesmo aconteceu com vários países europeus, mostrando o grau de declínio que o antigo astro vinha passando em sua carreira, tanto no mundo do cinema como no mundo fonográfico. Como disse certa vez um articulista americano, se Elvis tivesse morrido em 1966 ou 1967, ele seria retratado como um dos maiores cantores de todos os tempos que havia desaparecido das paradas e se tornado um artista completamente irrelevante para a arte em geral. Como sabemos isso felizmente não aconteceu e em 1968 ele finalmente se levantaria do mundo dos mortos do show business para reviver novamente dias de glória na sua carreira.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Clambake - Parte 1
O problema é que a carreira de Elvis derrapava. Seus discos já não vendiam bem, as bilheterias de seus filmes decaíam a cada ano e ele não mais realizava shows ao vivo. Não havia mais tanta grana como antes. Elvis porém se indignava quando Priscilla ou Vernon reclamava de seu estilo de vida perdulário. Elvis respondia que o dinheiro era dele e ele gastaria do jeito que bem entendesse. Por essa época Priscilla também começou a se aborrecer pelo fato de Elvis viver sempre ao lado de sua turma, como se fosse um garoto no colegial. Ela tinha esperanças de ter uma vida de casal ao seu lado, para que eles pudessem viver momentos românticos a dois, de mãos dadas pelos campos. Elvis porém enchia seu rancho de gente e estava sempre ao lado dos caras da Máfia de Memphis, que na verdade eram uns caipiras que pouco ligavam para seu romance ao lado da namorada. Elvis também não parecia se preocupar com isso. Os membros da Máfia de Memphis contavam piadas sujas e isso destruía qualquer possibilidade de criar um clima romântico entre eles. Por essa razão Priscilla foi ficando cada vez mais decepcionada com seu comportamento. Ela tinha razão em querer passar mais tempo com Elvis a sós e não ao lado de um bando de caras como aqueles.
De uma forma ou outra o Coronel Parker acabou arranjando um filme para Elvis na United Artists. O roteiro, escrito às pressas por Arthur Browne Jr, não trazia novidades. Era uma derivação de outros filmes passados de Elvis, com muitas garotas, praias e bikinis. Assim que leu o script Elvis deixou claro que havia odiado tudo - as cenas estúpidas, a falta de conteúdo e a precariedade de argumento. De fato era mais uma bobagem adolescente que para um homem como ele, que já havia ultrapassado os trinta anos de idade, soava como algo completamente imbecil e inoportuno. Pressionado pelos gastos porém Elvis cedeu. Ele odiava o fato de ter que voltar para Hollywood para fazer algo assim, ter que gravar mais uma daquelas horrorosas trilhas sonoras cheias de canções ruins. A necessidade porém de colocar as suas contas em dia o fez engolir suas próprias opiniões e Elvis então rumou em direção à costa oeste. Vernon ficou aliviado pois assim ele deixaria o rancho de lado, pelo menos temporariamente.
Antes de entrar no set de filmagem porém Elvis tinha que gravar a trilha sonora. Em fevereiro daquele mesmo ano ele chegou desanimado e cabisbaixo no RCA Studio B em Nashville, Tennessee. Ele havia passado a semana anterior conhecendo o material que gravaria através de gravações demos enviadas pela gravadora e ficara desolado. O material era muito, muito ruim. Um punhado de canções mal escritas, mal feitas, sem melodia decente. Ele ficou tão furioso com o que ouviu que chegou a jogar o disco de demonstração contra a parede, o fazendo em pedaços. Depois reclamou para Priscilla afirmando que aquilo era "um grande monte de m...". Por isso quando entrou em estúdio e cumprimentou Jeff Alexander e Felton Jarvis, Elvis parecia estar com cara de poucos amigos. Resignado, sentado no meio do estúdio Elvis simplesmente sentenciou: "Ok, vamos começar logo para acabar com tudo isso..."
Pablo Aluísio e Erick Steve.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 1
Esse álbum adquiri ainda na era do vinil, em 1985 mesmo. Foi um disco que chegou a ser lançado no Brasil. A capa e a contracapa seguiram o padrão americano, o que foi muito bem-vindo para os fãs. A filial brasileira da RCA inclusive manteve o texto original que vinha na contracapa em inglês. Isso deu uma certa sensação aos fãs na época de que o disco era importado, embora fosse realmente uma edição nacional, bem caprichada. A capa já chamava a atenção por trazer uma foto rebuscada de Elvis, tirada de forma amadora, com seu terno de listas que ele chegou a usar em algumas apresentações. O clima anos 50 era de fato bem adequado para esse tipo de lançamento.
A seleção também era bem elaborada. Em meados dos anos 80 as coisas tinham melhorado na major americana da RCA Victor. Os discos eram bem mais selecionados, contando com especialistas na discografia de Elvis Presley. Nada parecido com a bagunça que se tornou os lançamentos do cantor após sua morte em 1977. Nada de coletâneas de músicas infantis e outras bobagens. A intenção agora era de fato resgatar o melhor em termos de qualidade musical por parte de Elvis e seu legado. Assim os fãs acabaram sendo presenteados com um disco que tinha além de uma direção de arte muito bonita, também uma seleção digna de um nome como Elvis Presley.
A música principal do disco também lhe dava o título. "Reconsider Baby" é até hoje considerada a melhor música de blues gravada por Elvis. Ela fez parte inicialmente do sublime disco "Elvis is Back!" que foi gravado assim que Elvis retornou aos Estados Unidos da Alemanha, onde tinha ido cumprir seu serviço militar. Depois de ficar dois anos longe dos estúdios e dos microfones, Elvis parecia com muita disposição para gravar. O repertório desse disco foi simplesmente genial, uma maravilhosa sessão de canções que para muitos formaram o melhor trabalho do cantor nos anos 60. Certos exageros à parte, não há muito equívoco nesse tipo de opinião. "Reconsider Baby" estava aí para provar esse tipo de ponto de vista. Era mesmo uma obra prima do blues, divinamente cantada por Elvis Presley. Um daqueles momentos únicos que definiram toda a carreira de um artista como ele.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Reconsider Baby - Parte 2
A versão que temos nesse álbum é a crua, tal como foi gravada pelos Blue Moon Boys (Elvis, Scotty Moore e Bill Black). Embora a versão embelezada dos anos 60 seja de fato muito bonita, com uma bela guitarra tocada pelo próprio Chet Atkins atravessando toda a faixa, aqui a ouvimos tal como foi registrada por Elvis e banda em seus primórdios. É de fato a versão definitiva de Mr. Presley. Já a música original é bem mais antiga e foi lançada pelo cantor e compositor Lonnie Johnson. Hoje em dia essa composição é considerada uma das mais importantes da história do blues norte-americano. Evocativa e muito bem escrita, realmente é um ponto alto da discografia de Elvis Presley. Um momento que não foi bem aproveitado na época de sua gravação.
A versão de "So Glad You're Mine” que ouvimos nesse álbum é a mesma do disco "Elvis" de 1956, sem maiores novidades. Apenas a RCA Victor trabalhou um pouco mais na master original para recuperá-la adequadamente. Alguns fãs e críticos dizem que ela tem uma leve aceleração em seu ritmo normal. De fato, se ouvirmos o disco de vinil lançado em 56, vamos notar mesmo uma pequena variação em sua duração. Esse porém é um detalhe tão absurdamente minucioso que para o ouvinte comum não fará muita diferença. No mais esse blues é outro grande clássico, criado e composto por Arhur "Big Boy" Crudup, um artista de blues pelo qual Elvis tinha especial admiração. Não podemos nos esquecer que a primeira gravação profissional de Elvis se deu com uma outra composição de Big Boy, a hoje clássica "That´s All Right (Mama)".
"One Night" foi lançada como single em 1957. Chamou muito atenção em seu lançamento original pois a música foi considerada quase pornográfica para aquela sociedade muito conservadora e puritana dos anos 50. E isso porque o produtor Steve Sholes optou pelo lançamento de uma versão mais leve, não totalmente provocante que ficou conhecida dentro do estúdio como "One Night Of Sin". Pois foi justamente um dos takes da versão envenenada que foi selecionado para esse disco. Como não existia mais a preocupação em não chocar ou não escandalizar, a RCA resolveu restaurar os takes originais, sendo que esse ótimo momento chegou pela primeira vez no mercado justamente nesse título "Reconsider Baby", quase quarenta anos depois de sua gravação original! Como diz o ditado, antes tarde do que nunca...
Pablo Aluísio.