quarta-feira, 10 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos I

Eu gosto muito desse disco. Afinal é um álbum histórico, o primeiro gravado por Elvis Presley em sua nova gravadora, a RCA Victor. Porém devo dizer que dessa fase inicial, em 1956, ainda prefiro muito mais o segundo álbum de Elvis na RCA, intitulado simplesmente de "Elvis". Ali já havia um melhor tratamento nas canções, com mais primor em termos de arranjo e gravação. Esse primeiro disco ainda tem aquela sensação de que algumas faixas (em especial as trazidas da Sun Records) ainda estavam muito cruas. São gravações quase amadoras, afinal quando estava na Sun, Elvis ainda era em certos termos um cantor iniciante, procurando por uma carreira musical. Mesmo assim negar a importância desse LP é impossível. Por isso vamos tecer alguns comentários sobre cada faixa do disco.

1. Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - O álbum abre com a canção "Blue Suede Shoes", um clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins. Até hoje se fala muito que Perkins poderia ter sido maior que Elvis, que ele teve azar de sofrer um acidente de carro muito sério e outras coisas. Olha, com todo o respeito ao Carl Perkins e seu talento, eu vejo esse tipo de observação como uma grande bobagem. Todo tipo de comparação é condenável. Cada um tem seus próprios defeitos e qualidades. Não penso que Perkins poderia ser maior do que Elvis, até porque depois de um tempo ele se recuperou e continuou na carreira, sem chegar nem perto do sucesso de Elvis Presley. Isso não o desmerece em nada, mas prova que dizer que ele poderia ter sido o grande nome do rock é especulação e uma tremenda bobeira

2. I´m Counting On You (Don Robertson) - "I'm Counting on You" havia sido composta por Don Robertson. Compositor de classe, excelente pianista, esse californiano iria cair nas graças de Elvis que por anos iria gravar inúmeras músicas criadas por ele. Basta lembrar das excelentes baladas românticas "Anything That's Part Of You", "I Met Her Today", "There's Always Me", "No More" e tantas outras lindas canções que trouxeram muita qualidade musical para diversos discos de Elvis ao longo dos anos. Coisa fina. É importante chamar a atenção que quando Elvis a gravou ainda não tinha à disposição uma banda maior, com mais instrumentistas, algo que iria enriquecer muito suas gravações no futuro. Em minha opinião a gravação de Elvis é de certo modo ofuscada um pouco por causa dessa falta de diversidade de arranjos. Provavelmente se Elvis a tivesse gravada em 1960 teríamos uma grande faixa, com orquestra ao fundo, mais qualidade em termos de grupo de apoio. De qualquer forma mesmo contando com uma pequena banda de apoio Elvis ainda conseguiu realizar um bom trabalho. Sua performance vocal era o grande diferencial, algo que conseguia se sobressair a todas as limitações técnicas da época.

3. I Got a Woman (Ray Charles) - Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor. Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

4. One-Sided Love Affair (Campbell) - Outra que vai na mesma linha é  "One-Sided Love Affair". Perceba que em seus primeiros discos Elvis desenvolveu uma técnica muito pessoal de cantar, que chegou a ser dita por alguns críticos dos anos 50 como um "mastigar de sílabas". Outro escreveu que Elvis cantava como se mastigava chicletes! Apesar da rabugice desses jornalistas, o fato é que a coisa toda até faz algum sentido. Elvis parecia um cantorzinho jovem brincando com o estilo de cantar daqueles tempos. Basta lembrar de Frank Sinatra e Dean Martin para uma comparação rápida. Elvis não  entoava sua voz com soberba, apenas cantava a letra da música de uma maneira mais relaxada, quase casual. Acabou criando uma nova linguagem musical nesse processo...

5. I Love You Because (Leon Payne) - Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

6. Just Because (BJ Snelton / S.Robin) - "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

7. Tutti Frutti (Joe Lubin / Richard Penniman / Dorothy LaBostrie) - Outro hino da geração rocker é "Tutti Frutti". Essa é do Little Richard. Elvis nunca levou essa canção muito à sério, verdade seja dita. Ele inclusive poderia se referir a esse rock como uma música chiclete como ele gostava de dizer. O que significava exatamente isso? Ora, significava que Elvis a via como uma canção de rock sem muita substância, feita apenas para agitar, embalar seus fãs durante seus shows e apresentações na TV. Tanto isso parece ser verdade que ele logo a deixou de lado, não a usando mais depois desse disco. De qualquer forma Little Richard não cansou de agradecer a Elvis por ter gravado sua música. Em um documentário sobre esse álbum ele afirmou com todas as letras que só tinha mesmo a agradecer ao Rei do Rock, pois se Elvis não tivesse gravado suas músicas ele provavelmente ainda seria cozinheiro de uma espelunca em Atlanta. A gratidão sempre é muito bem-vinda meu caro Richard. Falou pouco, mas falou bonito!

8. Trying To Get To You (Charles Singleton / Rose Marie McCoy) - Uma das faixas desse álbum, o country "Trying to Get to You", seria utilizada por Elvis nos palcos até o fim de sua vida. Isso provava o quanto ele gostava da música, até porque ela nunca foi exatamente um sucesso em sua discografia, havia muitas outras músicas bem mais populares. Porém Elvis tinha um apreço especial por ela, como bem demonstra as centenas de versões ao vivo que cantou. Essa música também foi uma das que a RCA Victor aproveitou do período em que Elvis gravava na Sun Records, um ano antes. O produtor Steve Sholes ouviu todo o material que Sam Phillips enviou para Nova Iorque e escolheu entre as gravações aquelas que poderiam ser aproveitadas no disco de estreia de Elvis na RCA. Foi uma boa escolha do produtor. A gravação é realmente muito bem realizada por Elvis e banda.

9. I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Joe Thomas/Howard Biggs) - Caso típico de se ouvir uma música pela primeira vez e adorar logo de cara! Foi esse o meu caso ao ouvir a canção " "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)". Passados tantos anos desde que comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez não mudei em nada a minha percepção dessa excelente faixa do álbum de estreia de Elvis Presley. Esse é seguramente um dos melhores momentos do álbum. Veja, todas as faixas desse disco se ressentem, em minha opinião, de um melhor trabalho em termos de arranjos.Porém no que diz respeito a essa música não teria nada a criticar. Ela é perfeita! Anos depois, nos tempos de seu programa semanal na BBC, os Beatles decidiram apresentar uma versão desse clássico rockabilly. Nem preciso dizer que a gravação dos ingleses ficou excepcional, resultando em uma gravação muito alto astral, alegre, para cima! Que conclusão diria sobre tudo isso? A música foi gravada por Beatles e Elvis Presley. Em ambos os discos o resultado ficou excepcional. Por tudo isso credito essa como uma das melhores da época de ouro do rock. E isso, meus caros leitores, definitivamente não é pouca coisa!

10. I'll Never Let You Go (Little Darlin') (Jimmy Wakely) - Outra canção que foi resgatada dos anos na Sun Records foi a balada "I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')" de autoria de Jimmy Wakely. Esse foi um cantor e compositor popular no sul dos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940. Vestido de cowboy ele ganhou fama se apresentando no palco do Grand Ole Opry. Seguindo os passos de artistas como Gene Autry ele foi abrindo seu caminho, chegando até mesmo a compor para trilhas sonoras de filmes B de faroeste. Como Elvis sempre foi louco por cinema não era surpresa ele ter escolhido músicas do repertório de Wakely para gravar. A intenção era ter uma boa seleção musical country para tocar nos pequenos festivais que contratavam Elvis nessa fase de sua vida. Afinal cantar em feiras de gado e eventos desse tipo exigia mesmo um repertório bem popular, country, de acordo com o gosto das pessoas que frequentavam esses festivais.

11. Blue Moon (Richards Rodgers / Lorenz Hart) - "Blue Moon" é maravilhosa. Quando Elvis a gravou, em 1954, na Sun Records, ela já era uma balada consagrada dentro do universo musical americano. Gravada inicialmente nos anos 1930, bem no auge da depressão que assolava a economia daquele país, tinha se tornado um símbolo sentimental em uma época muito dura na vida das pessoas. Fica óbvio que Elvis a conhecia desde a infância. O diferencial de sua versão foi a performance claramente emocional que imprimiu na gravação. Embora tivesse alguns pequenos problemas, como o fato de Elvis ter esquecido a letra bem no meio da gravação, ainda assim a RCA Victor resolveu resgatá-la para fazer parte do primeiro disco do cantor na nova gravadora. O produtor Steve Sholes viu ouro puro ali. Era uma bela obra prima musical.

12. Money Honey (Jesse Stone) - "Money Honey" teve sua gravação original feita em 1953 por Clyde McPhatter que estava tentando emplacar uma carreira solo longe de seu grupo The Drifters. Essa primeira versão não teve muito sucesso. Depois ela foi regravada por Billy Ward and the Dominoes, onde finalmente se tornou um hit nas paradas, chegando a vender a incrível marca de um milhão de cópias. A versão de Elvis ficou muito bem executada, com aceleração de seu ritmo original, até porque agora a música era puro rock ´n´ roll na voz de Presley. O curioso é que a versão de Elvis acabou inspirando outro roqueiro famoso da época, Eddie Cochran, que também registrou sua própria interpretação na música pelo selo London em 1959, justamente quando Elvis estava bem distante, servindo o exército americano na Alemanha.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956): Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Elvis Presley (1956) - Parte 1
O álbum abre com a canção "Blue Suede Shoes", um clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins. Até hoje se fala muito que Perkins poderia ter sido maior que Elvis, que ele teve azar de sofrer um acidente de carro muito sério e outras coisas. Olha, com todo o respeito ao Carl Perkins e seu talento, eu vejo esse tipo de observação como uma grande bobagem. Todo tipo de comparação é condenável.


Cada um tem seus próprios defeitos e qualidades. Não penso que Perkins poderia ser maior do que Elvis, até porque depois de um tempo ele se recuperou e continuou na carreira, sem chegar nem perto do sucesso de Elvis Presley. Isso não o desmerece em nada, mas prova que dizer que ele poderia ter sido o grande nome do rock é especulação e uma tremenda bobeira

Outro hino da geração rocker é "Tutti Frutti". Essa é do Little Richard. Elvis nunca levou essa canção muito à sério, verdade seja dita. Ele inclusive poderia se referir a esse rock como uma música chiclete como ele gostava de dizer. O que significava exatamente isso? Ora, significava que Elvis a via como uma canção de rock sem muita substância, feita apenas para agitar, embalar seus fãs durante seus shows e apresentações na TV. Tanto isso parece ser verdade que ele logo a deixou de lado, não a usando mais depois desse disco. 

De qualquer forma Little Richard não cansou de agradecer a Elvis por ter gravado sua música. Em um documentário sobre esse álbum ele afirmou com todas as letras que só tinha mesmo a agradecer ao Rei do Rock, pois se Elvis não tivesse gravado suas músicas ele provavelmente ainda seria cozinheiro de uma espelunca em Atlanta. A gratidão sempre é muito bem-vinda meu caro Richard. Falou pouco, mas falou bonito!

Elvis Presley (1956) - Parte 2
Caso típico de se ouvir uma música pela primeira vez e adorar logo de cara! Foi esse o meu caso ao ouvir a canção " "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)". Passados tantos anos desde que comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez não mudei em nada a minha percepção dessa excelente faixa do álbum de estreia de Elvis Presley.

Esse é seguramente um dos melhores momentos do álbum. Veja, todas as faixas desse disco se ressentem, em minha opinião, de um melhor trabalho em termos de arranjos.Porém no que diz respeito a essa música não teria nada a criticar. Ela é perfeita!

Anos depois, nos tempos de seu programa semanal na BBC, os Beatles decidiram apresentar uma versão desse clássico rockabilly. Nem preciso dizer que a gravação dos ingleses ficou excepcional, resultando em uma gravação muito alto astral, alegre, para cima! Que conclusão diria sobre tudo isso? A música foi gravada por Beatles e Elvis Presley. Em ambos os discos o resultado ficou excepcional. Por tudo isso credito essa como uma das melhores da época de ouro do rock. E isso, meus caros leitores, definitivamente não é pouca coisa!

Outra que vai na mesma linha é  "One-Sided Love Affair". Perceba que em seus primeiros discos Elvis desenvolveu uma técnica muito pessoal de cantar, que chegou a ser dita por alguns críticos dos anos 50 como um "mastigar de sílabas". Outro escreveu que Elvis cantava como se mastigava chicletes! Apesar da rabugice desses jornalistas, o fato é que a coisa toda até faz algum sentido. Elvis parecia um cantorzinho jovem brincando com o estilo de cantar daqueles tempos. Basta lembrar de Frank Sinatra e Dean Martin para uma comparação rápida. Elvis não  entoava sua voz com soberba, apenas cantava a letra da música de uma maneira mais relaxada, quase casual. Acabou criando uma nova linguagem musical nesse processo...

Elvis Presley (1956) - Parte 3
Uma das faixas desse álbum, o country "Trying to Get to You", seria utilizada por Elvis nos palcos até o fim de sua vida. Isso provava o quanto ele gostava da música, até porque ela nunca foi exatamente um sucesso em sua discografia, havia muitas outras músicas bem mais populares. Porém Elvis tinha um apreço especial por ela, como bem demonstra as centenas de versões ao vivo que cantou.

Essa música também foi uma das que a RCA Victor aproveitou do período em que Elvis gravava na Sun Records, um ano antes. O produtor Steve Sholes ouviu todo o material que Sam Phillips enviou para Nova Iorque e escolheu entre as gravações aquelas que poderiam ser aproveitadas no disco de estreia de Elvis na RCA. Foi uma boa escolha do produtor. A gravação é realmente muito bem realizada por Elvis e banda.

"Money Honey" teve sua gravação original feita em 1953 por Clyde McPhatter que estava tentando emplacar uma carreira solo longe de seu grupo The Drifters. Essa primeira versão não teve muito sucesso. Depois ela foi regravada por Billy Ward and the Dominoes, onde finalmente se tornou um hit nas paradas, chegando a vender a incrível marca de um milhão de cópias. A versão de Elvis ficou muito bem executada, com aceleração de seu ritmo original, até porque agora a música era puro rock ´n´ roll na voz de Presley. O curioso é que a versão de Elvis acabou inspirando outro roqueiro famoso da época, Eddie Cochran, que também registrou sua própria interpretação na música pelo selo London em 1959, justamente quando Elvis estava bem distante, servindo o exército americano na Alemanha.

Elvis Presley (1956) - Parte 4
"Blue Moon" é maravilhosa. Quando Elvis a gravou, em 1954, na Sun Records, ela já era uma balada consagrada dentro do universo musical americano. Gravada inicialmente nos anos 1930, bem no auge da depressão que assolava a economia daquele país, tinha se tornado um símbolo sentimental em uma época muito dura na vida das pessoas. Fica óbvio que Elvis a conhecia desde a infância. O diferencial de sua versão foi a performance claramente emocional que imprimiu na gravação. Embora tivesse alguns pequenos problemas, como o fato de Elvis ter esquecido a letra bem no meio da gravação, ainda assim a RCA Victor resolveu resgatá-la para fazer parte do primeiro disco do cantor na nova gravadora. O produtor Steve Sholes viu ouro puro ali. Era uma bela obra prima musical.

Outra canção que foi resgatada dos anos na Sun Records foi a balada "I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')" de autoria de Jimmy Wakely. Esse foi um cantor e compositor popular no sul dos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940. Vestido de cowboy ele ganhou fama se apresentando no palco do Grand Ole Opry. Seguindo os passos de artistas como Gene Autry ele foi abrindo seu caminho, chegando até mesmo a compor para trilhas sonoras de filmes B de faroeste. Como Elvis sempre foi louco por cinema não era surpresa ele ter escolhido músicas do repertório de Wakely para gravar. A intenção era ter uma boa seleção musical country para tocar nos pequenos festivais que contratavam Elvis nessa fase de sua vida. Afinal cantar em feiras de gado e eventos desse tipo exigia mesmo um repertório bem popular, country, de acordo com o gosto das pessoas que frequentavam esses festivais.

"I'm Counting on You" havia sido composta por Don Robertson. Compositor de classe, excelente pianista, esse californiano iria cair nas graças de Elvis que por anos iria gravar inúmeras músicas criadas por ele. Basta lembrar das excelentes baladas românticas "Anything That's Part Of You", "I Met Her Today", "There's Always Me", "No More" e tantas outras lindas canções que trouxeram muita qualidade musical para diversos discos de Elvis ao longo dos anos. Coisa fina. É importante chamar a atenção que quando Elvis a gravou ainda não tinha à disposição uma banda maior, com mais instrumentistas, algo que iria enriquecer muito suas gravações no futuro.

Em minha opinião a gravação de Elvis é de certo modo ofuscada um pouco por causa dessa falta de diversidade de arranjos. Provavelmente se Elvis a tivesse gravada em 1960 teríamos uma grande faixa, com orquestra ao fundo, mais qualidade em termos de grupo de apoio. De qualquer forma mesmo contando com uma pequena banda de apoio Elvis ainda conseguiu realizar um bom trabalho. Sua performance vocal era o grande diferencial, algo que conseguia se sobressair a todas as limitações técnicas da época.

Elvis Presley (1956) - Parte 5
Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor.

Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

 "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis na Sun Records

Elvis Presley - That´s All Right / Blue Moon Of Kentucky
Os fãs já sabem mas não custa repetir: esse foi o primeiro single comercial da carreira de Elvis Presley. Eu gosto de usar a expressão "comercial" justamente para não confundir com o primeiro acetato que Elvis gravou na Sun, "My Happiness". Aquele era um disquinho amador, feito para matar a curiosidade do próprio Elvis que queria ouvir como ficaria sua voz em um disco. É interessante, mas praticamente todos os jornalistas (principalmente os marujos de primeira viagem) costumam sempre confundir. Escrevem que "That´s All Right (Mama)" foi o primeiro disquinho de Elvis e ele o gravou para sua querida mãe. Obviamente estão trocando completamente as bolas. Confundem os discos e ainda por cima levantam uma lenda antiga que hoje em dia não tem mais razão de ser. Elvis não gravou "My Happiness" para dar de presente para a mãe. Gladys Presley nem sequer fazia aniversário naquele mês, então é tudo lenda. Uma lenda muito tocante, bonita, mas uma simples lenda, nada mais.

Assim vamos começar a falar sobre a discografia de Elvis pelo seu primeiro single que efetivamente foi gravado para chegar nas lojas ao consumidor. Estamos falando da primeira metade dos anos 1950 numa região considerada atrasada daquele país. Imaginem o que era gravar um single naqueles tempos e o mais complicado: distribuir ele em lojas afastadas, promover as canções em rádios para só depois tentar vender o show do novato cantor. Não era fácil. Assim Elvis tinha que literalmente acertar o alvo logo no comecinho da carreira. Se ninguém se interessasse ou então se ninguém gostasse era o fim e ele voltaria a dirigir caminhão, simples assim. O talento porém falou mais alto e no caso de Elvis Presley tocou fundo em quem ouviu as canções. Era um trio básico em estúdio (Elvis, Scotty e Bill) mas eles soaram como se fossem mais pessoas. Créditos? Todos para Sam Phillips, um produtor subestimado. Seus efeitos de ecos nas músicas criavam um efeito tão perfeito, maravilhoso que preenchia qualquer lacuna que o ouvinte sentisse. Coisa de gênio, claro. Hoje em dia cópias originais são uma verdadeira preciosidade, disputadas em leilões. E pensar que na época de seu lançamento os compactos custavam poucos centavos - nem chegava a 1 dólar, imagine você.

O lado A do single trazia a boa "That´s All Right" (Mama), de autoria do compositor Arthur Grudup. Na época a música foi considerado um bom country, mas obviamente hoje seu status é bem diferente, sendo considerada música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Phillips, a Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de provar seu talento graças a interferência da secretária de Phillips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "jovem de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "That's All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Em 2003 foi eleita a música mais inovadora da história.

No lado B o ouvinte da época tinha "Blue Moon Of Kentucky" de Bill Monroe. Originalmente foi lançada no ano de 1948 pelo próprio autor Bill Monroe, considerado o "pai do Bluegrass". O pequeno single trazia o selo Columbia e teve uma repercussão restrita às paradas ligadas ao gênero country and western do sul dos Estados Unidos. De qualquer forma ela acabou chamando atenção e ficou sempre em evidência, sendo muito tocada em estações de rádio da região. Certamente virou uma das preferidas também de um garoto de apenas 13 anos que sempre estava sintonizando suas velhas estações country em busca de novidades. O nome do garoto em questão? Nem é preciso dizer.

O single "Sun 209" fez sucesso nas estações de rádios de Memphis. Sam tinha bons contatos com DJs dos principais programas. Na primeira vez que tocou no rádio, Elvis ficou tão nervoso que decidiu ir ao cinema. Como era tímido provavelmente tinha receios da reação de amigos e parentes. Para sua surpresa todos gostaram. Era a materialização do velho sonho de se tornar cantor nascendo para aquele garotinho que ouvia Bill Monroe no rádio. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada em julho de 1954 contando apenas com Elvis no violão, Scotty Moore na guitarra e Bill Black no baixo. Não houve bateria! O produtor Sam Phillips providenciou tudo, trazendo essa pequena banda para atuar ao lado do jovem talento.  Para quem não acredita em sonhos impossíveis, "Blue Moon Of Kentucky" veio para registrar para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música popular mundial, um sonho que se tornou possível para Elvis Presley, pois ele acreditou em sua materialização com convicção. Pois é, "Sonhos são como deuses, nós temos que acreditar neles" já dizia a conhecida frase.

Elvis Presley - Good Rockin' Tonight / I Don't Care if The Sun Don't Shine
O segundo single de Elvis Presley pela Sun Records foi lançado em setembro de 1954. Curiosamente muitos críticos de música e arte chegam a considerar a canção "Good Rockin Tonight" o primeiro rock´n´roll genuíno da história da música. Pessoalmente não chegaria a tanto uma vez que as raízes R&B ainda estão bem presentes. A canção foi gravada originalmente pelo próprio autor Roy Brown em 1947. Brown era de New Orleans, provavelmente a cidade mais musical de todos os EUA. Lá se respira musicalidade em cada esquina, em cada canto. Nas ruas, nos bares, em concertos ao vivo, a cidade parece respirar notas musicais a cada hora do dia.

A versão de Elvis surge quando a música já era bem conhecida em Memphis e no sul - mas não tanto nas cidades do norte e oeste o que talvez explique a forte identidade que ligam Elvis à canção nessas regiões. Sam Phillips queria que Elvis a gravasse pois seria uma boa oportunidade de tocá-la ao vivo em shows por causa de sua vibração contagiante. Por essa época o cantor já havia se apresentado pela primeira vez de forma profissional. Além de seu minúsculo repertório Elvis contava com seu carisma à prova de falhas em cada show que realizou. Esqueça os grandes shows apoteóticos que vem à mente quando se pensa em Elvis Presley. No comecinho de sua vida na estrada Elvis se apresentava em qualquer lugar que lhe desse uma chance. Valia de tudo, clubes noturnos pequenos, pátios de escolas, festivais e até em cima de carrocerias de caminhão. O importante era ser visto e ouvido pelo maior número de pessoas possível.

Ouvindo o registro não podemos ficar menos do que admirados. Na gravação participaram apenas Elvis, Scotty Moore e Bill Black novamente. O resultado é acima de qualquer crítica. Elvis, no auge da juventude, esbanja personalidade e carisma em cada nota musical. Tecnicamente todos também estão extremamente bem. Não há como se comparar a versão de Roy Brown com a de Elvis. São coisas distintas, completamente diferentes. Os arranjos originais eram basicamente formados por metais, bem de acordo com o som de New Orleans. Elvis virou a música ao avesso. Sua versão é visceral, empolgante e com uma sonoridade completamente renovada. Em termos de vocalização também não há o que comparar. Brown era talentoso mas um cantor limitado. Já Elvis cantava com o coração. A versão de Elvis Presley pode sim ser considerada um dos primeiros Rocks da história - mas não a original de Brown.

"Good Rockin Tonight" na voz de Elvis Presley foi lançada pela Sun Records sob o registro de catálogo "Sun 210" em setembro de 1954 com "I Don't Care If The Sun Don't Shine" no lado B. Era o segundo compacto simples de Elvis que chegava nas lojas do Sul, dois meses após o lançamento de "That's All Right / Blue Moon Of Kentucky". Depois de seu lançamento a canção virou um ícone da primeira geração do Rock. Um símbolo que nunca mais foi esquecido, tanto que muitos artistas iriam prestar seu tributo a esse momento tão raro e importante nas décadas posteriores! Entre as mais conhecidas versões está a que Paul McCartney produziu em sua turnê New World Tour. Uma versão belíssima desta canção, que inclusive conseguiu capturar toda a sua essência roqueira. Em conclusão o que ficou realmente na história do rock foi a versão de Elvis Presley. A despeito da importância da gravação original de Roy Brown nada se compara à energia e a espontaneidade incomparáveis que Elvis Presley injetou na música. Um momento único em sua carreira.

Elvis Presley - Milkcow Blues Boogie / You´re a Heartbreaker
O terceiro single de Elvis Presley pela Sun Records foi composto por Milkcow Blues Boogie no lado A e You're A Heartbreaker no lado B. Conforme as vendas foram se tornando cada vez mais interessantes para a gravadora de Sam Phillips os singles (compactos simples com uma música de cada lado) também foram sendo editados com maior frequência. Era uma maneira não apenas de popularizar o cantor nas estações de rádio, como também de promover seu nome entre o público jovem de Memphis e cidades vizinhas. A Sun Records tinha limitações em termos de divulgação e promoção de seus artistas, mas fazia o possível para transformar seus singles em sucesso de vendas.

Quando o terceiro single de Elvis chegou nas lojas ele já era o maior vendedor de discos do selo Sun. Não tardou a surgir diversos boatos afirmando que a gravadora havia se tornado pequena demais para Elvis. Foi por essa época que começaram a surgir pessoas interessadas em tirar o cantor da Sun para um selo maior. De qualquer forma Presley ainda tinha o passe pertencente ao selo do sol nascente, embora seus dias por lá realmente estivessem contados. Para quem gosta de detalhes fonográficos aqui vai uma informação adicional: esse single levou o catálogo de número Sun 215. Um original vale alguns milhares de dólares e os poucos que sobreviveram ao tempo estão nas mãos de colecionadores.

"Milkcow Blues Boogie" foi gravada inicialmente por Kokomo Arnold em 1953 pelo selo Decca, sendo que em 1946 Bob Willis & his Texas Playboys já a tinham gravado com o título de "Brain Cloudy Blues". A versão de Presley surgiu no mercado como a música título de seu terceiro single pela Sun Records em 29 de dezembro de 1954. Ela foi gravada na terceira sessão de Elvis pela pequena gravadora de Sam Phillips contando somente com o trio básico de suas primeiras músicas: apenas Elvis, Bill e Scotty. A data correta desta sessão é motivo de controvérsia pois alguns autores determinam o mês de novembro e outros, dezembro, não ocorrendo um consenso sobra a data certa. Até mesmo nos encartes dos CDs mais recentes a dúvida persiste.

Essa é provavelmente uma das canções mais peculiares que já ouvi. A letra e o arranjo não deixam dúvidas: é uma canção escrita, feita e produzida para o Sul rural americano dos anos do pós guerra. A sonorização abafada e o ritmo estranho podem deixar muitos fãs jovens do cantor surpresos! Mas era justamente esse tipo de canção que tocava nas rádios regionais de Memphis quando Elvis era apenas um aspirante ao estrelado. Vale a pena sentir e ouvir a sonoridade daquela época na voz do artista que melhor representou aquela geração.

"You´re a Heartbreaker" vinha para completar o single. Apesar de ter sido legada ao lado B do acetato essa é seguramente a melhor canção desse disco. É um country de ritmo agradável, muito bem executado pelo trio Blue Moon Boys, trazendo Elvis em momento inspirado, obviamente "mastigando" as palavras em seu vocal ao estilo bem country and western. A letra, juvenil e emocional, se refere a uma "destruidora de corações" - tão comuns na juventude de cada um desses jovens dos anos 50! Enfim, linda baladinha country que marcou seu terceiro lançamento na Sun Records.

Elvis Presley - Baby Let's Play House / I'm Left, You're Right, She's Gone
Em abril de 1955 surgiu nas  lojas o quarto e penúltimo single de Elvis Presley pela Sun Records. O compacto do selo amarelo trazia duas canções gravadas por Elvis nos dois meses anteriores. Por essa época Elvis já estava se apresentando em shows ao vivo, cruzando os estados sulistas com seu número. Por isso as sessões na Sun Records eram feitas nos intervalos dos concertos, nos dias em que Elvis estava de folga em Memphis.

"Baby Let's Play House" foi gravada em uma sessão em fevereiro. Nessa ocasião Elvis gravou apenas essa faixa, o que era de certa forma incomum, já que ele costumava gravar de quatro e cinco músicas em uma noite. Não que ele não tenha tentado gravar outras canções. Nessa ocasião ele tentou gravar as primeiras versões de "I Got a Woman" e "Trying To Get To You", mas não ficaram boas e Sam Phillips resolveu descartá-las. Havia sido apenas um pequeno ensaio e depois de alguns minutos o próprio produtor resolveu encerrar a sessão. Ele poderia voltar outra noite para acertar. O mesmo aconteceria em março com "I'm Left, You're Right, She's Gone". Elvis, cansado dos compromissos na estrada, não conseguiu ir muito além dos takes dessa música. De qualquer maneira as duas músicas ficaram muito bem gravadas, caprichadas, por isso Sam as escolheu para compor esse quarto single.

Por essa época os primeiros disquinhos de Elvis começaram a chegar também nas principais cidades do país. A distribuição ficou melhor e os primeiros compactos de Elvis chegaram em lojas de Nova Iorque e Los Angeles. A RCA Victor, a poderosa gravadora multinacional, se interessou por Elvis. Outras gravadoras já tinham mostrado interesse, mas nenhuma delas havia ido direto ao ponto de forma tão decisiva. Numa manhã de sábado Sam Phillips recebeu um telefonema de Nova Iorque. Era um executivo da RCA. Ele sondava se Sam estava disposto a negociar o passe do jovem cantor. Sam, sempre com problemas financeiros, viu aquilo como uma tábua de salvação de sua pequena Sun. Sim, ele estava aberto a propostas e poderia encontrar um enviado da RCA Victor caso ele fosse até Memphis. Encontros foram agendados para dali duas semanas e imediatamente Sam soube que os dias de Elvis na Sun Records estavam chegando ao fim.

Elvis Presley - Baby Let's Play House / I'm Left, You're Right, She's Gone
Data de Gravação: Fevereiro e Março de 1955
Local de Gravação: Sun Records, Memphis, TN
Data de Lançamento: Abril de 1955
Produção: Sam Phillips
Músicos: Elvis Presley (vocais e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Jimmie Lott (bateria, apenas em "I'm Left, You're Right, She's Gone")

Elvis Presley - I Forgot To Remember To Forget / Mystery Train
Em agosto de 1955 chegou nas lojas de Memphis o quinto e último single de Elvis na gravadora Sun Records. Com o código de Sun 223, o pequeno disquinho trazia mais duas músicas inéditas do cantor gravadas no estúdio de Sam Phillips. Por essa época Elvis já estava ao lado de seu novo empresário, Tom Parker, que lhe disse que ele deveria ir embora da Sun. A pequena gravadora sulista não teria mais nada a lhe oferecer em termos de incentivo em sua carreira. Para Tom Parker apenas uma grande companhia fonográfica como a RCA Victor (a maior dos Estados Unidos) poderia lhe trazer a fama tão desejada. Ficar na Sun era perder tempo. Elvis deveria ter Memphis para trás e ir imediatamente para os grandes centros como Nova Iorque e Los Angeles.

Claro, foi um conselho acertado. A RCA tinha sim interesse em Elvis. Via no rapaz não apenas um talento nato, como também o cantor ideal que eles tanto procuravam. No novo selo Elvis iria ser produzido por Steve Sholes, um produtor experiente, com faro para o sucesso comercial. De uma forma ou outra a primeira providência da RCA Victor após assinar com Elvis foi relançar todos os seus cinco compactos na Sun, dessa vez garantindo distribuição nacional e internacional. O alcance da multinacional era algo completamente impossível de se igualar por Sam e sua pequena empresa. Philips obviamente ficou um pouco triste por Elvis deixar sua gravadora, mas isso era algo mesmo irreversível de acontecer. Como gratidão Elvis prometeu que sempre que possível voltaria à Sun para rever os velhos amigos - algo que ele cumpriu realmente.

Já em termos puramente musicais esse single foi considerado realmente genial. Não pelo lado A do compacto que trazia a boa " I Forgot To Remember To Forget", uma balada com claro sabor country and western, mas sim pelo aclamado lado B "Mystery Train". Até hoje essa faixa é considerada por críticos e especialistas em música como uma das mais perfeitas gravações da carreira de Elvis. É até mesmo espantoso que Elvis e Sam tenham produzido algo assim com tão poucos recursos técnicos. Um famoso crítico de Nova Iorque certa vez escreveu que se Elvis tivesse desaparecido em 1955 sem deixar rastros ele ainda assim seria lembrado por causa de sua performance de Mystery Train. Um ponto de vista que não tenho como discordar.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis (1956) - Discografia Brasileira

Esse disco virou um marco na discografia brasileira pelo simples fato de que foi a primeira vez que um lançamento em LP no Brasil foi bem fiel ao original dos Estados Unidos. Como bem sabemos o primeiro álbum de Elvis não foi lançado no Brasil na época, sendo deixado de lado. Só que a filial brasileira finalmente acertou ao lançar uma edição nacional bem de acordo com o segundo disco de Elvis. Trazia a mesma capa e a mesma seleção de músicas. Além do texto original da contracapa, traduzido para o português. Para quem era fã de Elvis nos anos 50 foi um grande presente!

Depois dessa primeira edição iria demorar muitos anos para que Elvis (1956) voltasse às lojas de discos no Brasil. Só em 1982 ele retornou dentro do pacote Pure Gold que colocou no mercado uma grande leva de LPs de Elvis Presley em razão do quinto ano de falecimento do cantor. Esses discos, de selos da cor amarela, tão malhados por determinados colecionadores nacionais, deveriam ser mais respeitados, afinal de contas colocou muitos discos importantes de volta ao nosso mercado. 

Em 1992 esse disco ganhou finalmente sua versão brasileira em Compact-Disc (CD). Na época isso foi bem celebrado pelos fãs brasileiros. Ele foi lançado inclusive junto de um pacote que também trazia o primeiro disco de Elvis, além da trilha sonora do filme "Loving You" (o terceiro álbum da discografia de Elvis). E depois alguém teve a ideia de juntar os dois primeiros álbuns em apenas um CD. Eu não gostei desse tipo de coisa pois não respeita a discografia original de Elvis. 

Em 1999 outra edição em CD também foi lançada. Uma versão bem básica, sem luxo ou capricho. E para os fãs mais antenados todas as músicas desse álbum também foram incluídos no box "The King Of Rock ’n’ Roll". Uma caiza maravilhosa com 5 CDs trazendo todas as gravações que Elvis realizou na década de 1950. Foi lançada como edição limitada, com caixas numeradas. Um item de colecionador bem essencial. 

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Money Honey / One-Sided Love Affair

Elvis Presley - Money Honey / One-Sided Love Affair
Duas ótimas canções do álbum Elvis Presley de 1956. Entenda que por essa época a RCA Victor estava meio que no modo desespero pois muitos executivos da gravadora temiam ter prejuízo na contratação desse jovem cantor de Memphis chamado Elvis. Então eles saturaram (essa é a palavra certa) o mercado com discos, singles e compactos duplos de Elvis. Tudo na tentativa desesperada de não perder dinheiro. Uma tolice pois Elvis iria retribuir cada centavo investido em sua contratação. Definitivamente não era necessário tantos lançamentos extras tiradas do repertório desse seu primeiro disco!

"Money Honey" chegou a ser cantada por Elvis em um programa de TV em 1956. Elvis, com os cabelos bem loiros, fixados em muita brilhantina, parecia um artista completamente inovador nessa apresentação. Nada se comparava a ele naquela época. Era a personificação máxima do que era esperado de um rockstar. A letra da música inclusive foi definida por alguns conservadores como "extremamente cínica". 

Nada do que Elvis fazia naquele ano era elogiado pelos mais velhos! Na verdade eles odiavam Elvis por tudo aquilo que ele representava para a juventude. No lado B do single tínhamos "One-Sided Love Affair". Agradável de ouvir, bem mais suave, mostrava bem o estilo vocal de Elvis naquele período. Muitos não gostavam e nomes como Quincy Jones chegariam a dizer que Elvis nem sequer sabia cantar! Vejam só que absurdo! É o preço que se pagava por ser um artista realmente inovador! 

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Elvis Presley - The Sun Sessions

Elvis Presley - The Sun Sessions
Em 1976 chegou nas lojas de discos de todo o mundo esse álbum intitulado "The Sun Sessions". Foi a primeira coletânea de verdade produzida pela RCA Victor trazendo praticamente todas as músicas gravadas profissionalmente por Elvis na Sun Records. A razão da existência desse disco tinha menos a ver com fatores de pesquisa discográfica e mais com busca de lucro imediato de um investimento feito pela gravadora. Em 1975 a RCA comprou todo os direitos do catálogo de Elvis por meros 5 milhões de dólares. Era óbvio que esse legado tinha muito mais valor, entretanto Elvis precisava pagar algumas dívidas na época e resolveu vender tudo o que havia gravado na Sun e na RCA até aquele momento. Algo que a longo prazo iria se revelar um péssimo negócio, mas que para Elvis, naquele momento, parecia ser algo atrativo e compensador. 

Dito isso, é inegável que esse álbum tenha grande valor histórico. Para os fãs na época era um verdadeiro presente! Naquele ano essas músicas já eram complicadas de se achar pois os singles originais valiam verdadeiras fortunas no mercado. E as primeiras prensagens de discos da RCA que as traziam (como "For LP Fans Only" e "A Date With Elvis") tinham sido lançadas na década de 1950. Então era de fato um material muito mais do que bem-vindo. E o bom gosto da arte da capa (que ficou maravilhosa) aliada a um bom texto na contracapa, tornava o produto perfeito naquele momento. O álbum foi um sucesso comercial e de crítica, vendendo muito. Para a RCA foi uma primeira oportunidade de recuperar o valor investido na compra de todas essas músicas por parte da gravadora um ano antes do lançamento desse disco, que até hoje é bem querido por parte dos fãs de Elvis Presley.

Elvis Presley - The Sun Sessions (1976)
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Good Rockin' Tonight
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
I'm Left, You're Right, She's Gone
Baby Let's Play House
Mystery Train
I Forgot To Remember To Forget
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
I Love You Because (1st Version)
Trying To Get To You
Blue Moon
Just Because
I Love You Because (2nd Version)

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley – The Sun Sessions CD

Elvis Presley – The Sun Sessions CD
A era do CD chegou e o mercado correu para aproveitar o novo filão que nascia. Esse não pode ser considerado o mesmo disco de 1976 pois trazia uma quantidade grande de novidades. Como o CD tinha muita mais capacidade de informação e duração, era necessário colocar algo a mais para atrair a atenção dos consumidores. E nesse aspecto a gravadora caprichou. Havia no repertório desse CD uma série de gravações Outtakes e  Alternate Takes, sendo essas últimas completamente inéditas para os fãs. Material que foi encontrado depois de muitas pesquisas no arquivo da própria RCA Victor em Nova Iorque. Como se sabe, quando Elvis foi para a RCA os executivos dessas gravadora foram até Memphis e pegaram com Sam Phillips todas as gravações que Elvis havia feito naquele pequeno selo. Tudo mesmo, até fitas com takes inacabados e pedaços de ensaios. 

Para muitos fãs foi a primeira oportunidade de ouvir músicas como "Harbor Lights" e takes desconhecidos de "I Love You Because" e "I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone)". Eu me lembro bem que o lançamento desse Compact-Disc foi muito celebrado entre os fãs de Elvis nos anos 80. As pessoas não tinham a menor idéia de que ainda existia materias como esses que eram ouvidos nesse título. Mal sabiam o que estaria por ouvir nos anos seguintes! De modo geral gosto desse álbum, mas não tanto de sua capa. Traz um jovem (quase adolescente) Elvis em fundo azul. A capa do disco de 1976 era tão rica em termos de direção de arte, então esperava por mais. De qualquer forma não há como negar que esse foi um álbum importante para os fãs. Deixou muita gente feliz com o que ouviu, agora na qualidade de som cristalina do novo formato que nascia, o CD. 

Elvis Presley – The Sun Sessions CD (1987)
The Master Takes
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
Good Rockin' Tonight
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
Baby, Let's Play House
I'm Left, You're Right, She's Gone
Mystery Train
I Forgot To Remember To Forget
I Love You Because
Blue Moon
Tomorrow Night
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
Just Because
Trying To Get To You
The Outtakes
Harbor Lights
I Love You Because - Take 2 3
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
I Don't Care If The Sun Don't Shine
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 9
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
When It Rains, It Really Pours
The Alternate Takes (Material Inédito):
I Love You Because - Take 3 3:33
I Love You Because - Take 5 3:27
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 7
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 12

Pablo Aluísio. 

domingo, 7 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis' Golden Records - Discografia Americana

Elvis' Golden Records - Discografia Americana
Esse álbum foi a primeira coletânea de sucessos da carreira de Elvis. E isso aconteceu apenas 2 anos após sua chegada na RCA Victor. E o desfile de sucessos impressiona, mostrando como Elvis realmente fez grande sucesso em seus anos iniciais. Foi um disco que vendeu muito bem, alcançando as primeiras posições tanto nos Estados Unidos como na Europa. Coletâneas de hits sempre foi um dos nichos mais vendidos na era do vinil. 

Ao longo dos anos esse disco foi ganhando inúmeras edições dentro do mercado americano. Aliás a própria série Elvis Golden Records seria campeã de vendagens ao longo dos anos, ganhando quatro volumes ao longo da carreira de Elvis. Todos os LPs levaram disco de ouro para casa! Curiosamente a RCA Victor iria abandonar a série em 1968 com o lançamento do quarto volume, deixando toda a última década de Elvis, os anos 70, sem lançamentos dessa linha.

Após a morte de Elvis um volume 5 foi lançado, mas eu particularmente considero esse disco como um álbum bastardo, oportunista, mal selecionado, que não deve ser considerado parte da linha original que inclusive foi lançada com Elvis em vida. Em minha visão pessoal esse quinto volume foi pura picaretagem do selo. 

Assim em se tratando de Elvis Golden Records considere apenas os quatro discos originais. Esse de 1958, o volume 2 lançado quando Elvis estava servindo o exército, o volume 3 lançado na primeira metade dos anos 60 trazendo muito material de sucesso de qualidade e o volume 4 que já era bem mais fraquinho se comparado com os anteriores. Então é isso. Uma linha de álbuns que marcou a carreira de Elvis, mas que não foi seguida até o fim da vida do cantor. 

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis' Golden Records - Discografia Brasileira

Elvis Presley -  Elvis' Golden Records - Discografia Brasileira
Esse disco foi lançado no Brasil inicialmente em 1958, o mesmo ano em que foi lançado nos Estados Unidos. Coisa rara de acontecer no Brasil naquela época. Com o número de edição BBL30, o LP, ainda com versões em 78 RPM, vinha com outro nome em nosso país. Por aqui essa primeira versão foi chamada de "Os Discos de Ouro de Elvis Presley". Era algo também normal de acontecer em nosso mercado. A maioria da população não sabia falar inglês e não entenderia o nome original do disco. 

O bom é que nessa primeira edição a RCA filial brasileira não mexeu nas faixas que faziam parte do disco americano, mantendo um certo respeito pelo material original. A capa também foi seguida, havendo apenas algumas pequenas modificações, detalhes, em sua contracapa. 

Depois dessa primeira edição o álbum ficou décadas fora de catálogo em nosso mercado. Só em 1982 ganhou uma nova versão dentro da coleção Pure Gold que vinha com selo amarelo. Essa segunda edição foi a primeira com seu nome original em inglês. A RCA no Brasil nos anos 80 procurou ser o mais fiel possível ao original dos Estados Unidos. 

Depois disso só houve mais uma edição do álbum nos anos 90, dessa vez em Compact-Disc (o CD). Foi lançada por volta de 1992, exatamente dez anos depois do lançamento da versão Pure Gold em vinil. Um aspecto a se considerar é que geralmente coletâneas se tornam obsoletas com o passar do tempo. O mesmo aconteceu com esse disco. Só que por sua importancia histórica acabou ganhando todas essas novas edições. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 6 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis' Golden Records - Texto V

Treat Me Nice
(Leiber / Stoller) - Outra canção deliciosa de Leiber e Stoller sendo lançada como lado B de "Jailhouse Rock". Para essa canção Elvis resolveu gravar duas versões: uma no dia 30 de abril durante as gravações do filme e outra no dia 5 de setembro que acabou se tornando a definitiva e oficial. A primeira foi utilizada durante o filme e curiosamente é considerada por muitos como a melhor. Isso se deve principalmente porque o arranjo da primeira versão é bem mais soft e leve do que a da versão original, mais excessivamente produzida. 

De qualquer forma as duas são ótimas e podem ser conferidas sem nenhum receio. No filme Elvis fez questão de chamar um dos compositores para participar da cena em que ele a apresenta. Lá está Mike Stoller, atrás de Elvis, fazendo figuração como um dos membros da banda do cantor. Aliás é bom frisar que ele também participou das gravações da trilha sonora em estúdio. Outro grande momento da trilha sonora que é reconhecida, de forma merecida aliás, como uma das melhores de Elvis.

Anyway You Want Me  (Schroder / Owens) - Lado B do single "Love me Tender". Não faz parte da trilha do filme sendo gravada nas mesmas sessões que deram origem as canções "Dont be Cruel" e "Hound Dog" em julho de 1956. Possui um toque de guitarra típica de algumas músicas dos anos cinquenta. Nota-se até mesmo uma certa estafa na voz de Elvis. Também não poderia ser diferente pois nessa mesma noite ele tinham trabalhado duro para chegar nas versões definitivas de "Don't Be Cruel" e "Hound Dog" (sendo que essa última teve mais de 30 takes gravados!). Sem ter mais fôlego Elvis registrou essa balada e deu por encerrada a sessão.

I Want You, I Need You, I Love You (Mysels / Kosloff) - Na véspera da gravação desta música o avião de Elvis havia sofrido um pane e se eles estavam ali era por um verdadeiro milagre. Elvis ficou tão nervoso com o acontecimento que só conseguiu gravar esta música durante a sessão. Ela foi gravada em 11 de Abril de 1956 nos estúdios da RCA em Nashville. Foi lançada como single em maio de 1956 junto com "My Baby Left Me" no lado B alcançando o terceiro lugar na parada da revista Billboard. Elvis a apresentou de fraque e cartola no programa de Steve Allen em 1956. Curiosidade: Era uma das preferidas de John Lennon.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis' Golden Records - Texto IV

 (Let Me Be Your) Teddy Bear (Kall Mann / Bernie Lowe) - No auge do sucesso de Elvis correu um boato que ele adorava ursinhos de pelúcia. Apesar de não ser verdade o boato ganhou força e de um momento para o outro o cantor se viu num mar de bichinhos dados pelos seus fãs. Em uma entrevista Elvis afirmou que tinha guardado todos em sua casa! Para aproveitar esta história foi composto este grande sucesso, que alcançou o primeiro lugar da parada de singles da revista Billboard com "Loving You" no lado B. O single foi um campeão absoluto de vendas quando foi lançado em junho de 1957. Assim como "Mean Woman Blues", "Teddy Bear" também não fez parte das sessões de gravação da trilha sonora do filme "Loving You". Ela foi registrada dias depois em uma sessão que só foi realizada para Elvis gravá-la. Nesse mesmo dia Presley ainda gravou uma versão "envenenada e maldita" de "One Night" chamada "One Night Of Sin". Esse take alternativo acabou se tornando bem badalado após a morte do cantor. Curiosidade: o "Teddy", nome dado ao ursinho é uma homenagem ao presidente americano Theodore Roosevelt, conhecido por suas caçadas e espírito aventureiro.

Love Me Tender (Presley / Matson) - Música título do primeiro filme de Elvis Presley, que no Brasil recebeu o nome de "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender, 1956). O titulo original do filme era "The Reno Brothers", faroeste sem grande importância, estilo B da Fox, que nunca teria entrado na história se não fosse pela primeira participação de Elvis Presley no cinema. A história se passava durante o final da guerra civil norte americana e tratava da delicada disputa de uma mulher por dois irmãos. Um deles (Richard Egan) voltava do campo de batalha e descobria, estarrecido, que sua antiga namorada (Debra Paget) estava agora casada com seu irmão mais novo (Elvis). E isso só havia acontecido porque todos estavam convencidos que ele havia morrido no campos de algodão do sul, lutando contra os exércitos da União. Já imaginou a confusão?

O roteiro gira em torno desse triângulo amoroso familiar. Elvis, muito novo e com os cabelos ainda bem próximos de sua tonalidade natural, não compromete em nenhum momento, mesmo sendo sua estreia como ator. Quando lançado em 1956, "Love Me Tender" se tornou um tremendo sucesso de bilheteria. Elvis mostrou que era um nome quente não só no mundo musical, como também na tela grande. Muitos fãs inclusive foram em peso na semana anterior ao lançamento oficial do filme apenas para assistir ao trailer que mostrava pequenos trechos de Elvis cantando! O disco acompanhou o sucesso do filme. A trilha foi lançada em um compacto duplo com "We're Gonna Move", "Let Me" e "Poor Boy" todas de autoria de Elvis Presley e Vera Matson. Era o inicio de uma carreira cinematográfica que iria contar com mais de trinta filmes. A canção "Love Me Tender", por sua vez, foi gravada em agosto de 1956 nos estúdios I da 20th Century Fox em Hollywood e lançada um mês depois em single com "Any Way You Want Me" no lado B, chegando ao primeiro lugar da Billboard na primeira semana. Elvis não contou com sua banda tradicional, os Blue Moon Boys, pois o estúdio não tinha contrato com eles e sim com músicos determinados pelo estúdio cinematográfico da Fox. Músicos profissionais do cast fixo da companhia.

Mesmo um pouco fora do ambiente que lhe era familiar, Elvis, ao lado de Darby, produziu "Love me Tender" e lhe deu um arranjo bastante simples, porém muito eficiente, sentimental e belo. Depois de registrar sua participação no estúdio Elvis aproveitou a oportunidade de se apresentar no The Ed Sullivan Show em 9 de setembro para promover a música e o filme. O sucesso foi imediato e Elvis foi assistido por mais de 50 milhões de americanos. 82,6% dos televisores dos EUA estavam sintonizados nele naquela noite. A nação parou para assistir Elvis interpretar "Love Me Tender", um recorde que só foi quebrado depois pelo assassinato do presidente Kennedy e pela apresentação em 1964 dos Beatles no mesmo programa. Tamanha repercussão levou rapidamente o disco a se tornar o primeiro da história a ter 1 milhão de cópias pré vendidas, graças à expectativa gerada em torno de seu lançamento. Um marco na carreira de Elvis e uma das canções mais identificadas com sua imagem. Um ícone romântico da cultura musical dos Estados Unidos, baseada na velha música "Aura Lee" em adaptação do maestro Ken Darby.

Pablo Aluísio.