sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - Elvis One Night In Vegas
Para Tom Parker o futuro de Elvis estava no estilo dos concertos que eram apresentados em Vegas naqueles anos. E que tipo de show era esse? Ora, basta apenas conhecer um pouco o plantel que reinava ali para se ter uma ideia precisa do que Tom Parker queria para Elvis. Talvez o paradigma mais significativo seja mesmo o grupo liderado por Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr. Claro que havia outros artistas em Las Vegas, como por exemplo Tom Jones, mas esses, na maneira de pensar de Tom Parker, eram de segundo escalão! O Coronel era da velha escola e queria que a carreira de Elvis se espelhasse na de Frank Sinatra. Isso sim seria um bom posicionamento artístico para um cantor como Elvis, na visão de Tom Parker! Ele queria para Elvis tudo aquilo que caracterizava o estilo Las Vegas de ser: refinamento, elegância, luxo, brilho, riqueza, platéia selecionada, ótimos arranjos de orquestra, popularidade diante de uma faixa etária um pouco mais elevada e elitizada. Para Tom Parker Las Vegas era o máximo de sofisticação que um astro poderia querer naquele momento. Mas isso era o que o Coronel pensava, e o resto do mundo, o que achava de Las Vegas naqueles anos? Para os demais, principalmente os jovens, Las Vegas era o símbolo máximo da cafonice da classe média norte americana e se tornar um artista de cassinos seria o fim da picada para um dos verdadeiros pais do Rock'n'Roll. Um jovem do final dos anos 60 e início dos anos 70 nunca iria a Las Vegas para assistir seus ídolos, pois certamente eles nunca estariam lá, fazendo temporadas em hotéis cassinos daquela cidade fundada por mafiosos!
Alguém já imaginou os Beatles ou os Doors tocando em Las Vegas? Não havia a menor possibilidade disso acontecer, pois se apresentar em Las Vegas naqueles tempos era coisa de artistas ultrapassados, que tinham deixado o auge de sua popularidade há muito tempo, como o próprio Frank Sinatra, por exemplo. Era um sinal de decadência artística se apresentar em Las Vegas durante aqueles anos. Nenhum grupo musical ou cantor da moda, que estivesse na crista da onda, liderando as paradas musicais, iria se apresentar naquele lugar, de jeito nenhum! Mas o mundo dá voltas! Hoje se apresentar em Las Vegas é uma honra, um lugar disputado a tapa pelos grandes astros, inclusive as estrelas da juventude. Las Vegas não cheira mais a naftalina e ternos baratos, não é mais símbolo de caretice e cafonice (talvez até seja um pouco, mas em menor escala do que antes). Agora pense um pouco e raciocine sobre quem foi uma das pessoas que ajudaram a modificar essa imagem de Vegas durante esses anos? Isso mesmo meu caro, Elvis Presley. Quando ele foi para lá todos pensavam que seria o fim para o antes aclamado Rei do Rock. Mas sua incrível capacidade de sobreviver aos erros que eram cometidos por Tom Parker sempre fazia a diferença. Elvis foi para Las Vegas, enfrentou a concorrência acirrada dos velhos artistas que lá reinavam, conseguiu preservar sua identidade tanto pessoal como musical e virou símbolo de toda uma década.
De repente ver e ouvir Elvis Presley em Las Vegas se tornou um grande programa. De repente não era mais vergonhoso se apresentar em um cassino, de repente ir para Las Vegas e encarar uma temporada de shows diários não era mais demérito para nenhum artista, de nenhum segmento musical, seja ele jovem ou não. Hoje Vegas é um dos maiores centros de diversão do mundo. Os cassinos são verdadeiros templos ao lazer, à riqueza e ao hedonismo desvairado que caracteriza a cultura norte-americana. Astros e bandas da atualidade sempre fazem questão de encaixar apresentações em suas turnês naquela cidade. O sucesso de Elvis em Las Vegas foi tão avassalador que até hoje, quase trinta anos após sua morte, é praticamente impossível um turista não esbarrar em algum cover do artista pelas ruas da cidade (bem, o mundo não é perfeito, não é mesmo?) No aspecto profissional Las Vegas significou muito para Elvis, mas no aspecto pessoal talvez a cidade tenha sido demais para ele. Se antes Elvis sentia-se pressionado, agora com a obrigação de fazer dois shows por noite a coisa iria desandar de vez. O ritmo frenético dessas temporadas iria cobrar um alto preço e em pouco tempo Elvis iria sentir-se totalmente exaurido pela loucura da cidade. Os efeitos dessa ciranda iriam aparecer durante as apresentações do cantor, mas isso ainda iria demorar um pouco.
One Night In Vegas é um CD precioso porque captura as primeiras apresentações de Elvis na cidade. Ainda não havia os vários problemas que iriam atingir o ídolo nos anos que viriam. Elvis estava empolgado e determinado a fazer grandes concertos. O tédio que iria tomar conta de Elvis em muitas temporadas futuras estava ainda longe de acontecer. Havia para a organização Presley, naquele momento, a sensação de se estar fazendo algo pioneiro, importante. Elvis nas primeiras três temporadas naquela cidade estava extremamente bem, extremamente profissional e o mais importante de tudo: altamente motivado como artista. Era a chance que ele vinha procurando, uma forma de apagar de uma vez por todas aquele festival de filmes classe B e suas trilhas sonoras horríveis que ele vinha apresentando. Outra questão importante: fisicamente Elvis estava muito bem, em boa forma, bronzeado e esbanjando vitalidade. Aqui entramos em um aspecto relevante: a imagem de Elvis Presley. Sigam meu raciocínio. Elvis foi um grande fenômeno de massa, um grande produto visual da mídia do século XX. Ao afirmar isso não estou de maneira alguma minorando o valor de seu talento, nada disso, apenas estou demonstrando uma coisa que é muita óbvia até: a imagem de Elvis foi um dos grandes fatores que o levaram a se tornar o que era. Não há como negar isso.
As primeiras fãs de Elvis nem sequer tinham conhecimento de sua importância musical, eram acima de tudo tietes que viam nele o namorado ideal, o homem perfeito. Essas fãs não queriam saber se ele tinha fundido gêneros musicais e sido um dos incentivadores e fundadores de um novo idioma musical. Nada disso. Elas eram fãs porque Elvis era, na visão delas, um homem lindo, perfeito, maravilhoso. E não se enganem, mesmo que muitas dessas fãs nunca tenham chegado a entender a importância musical de Elvis, elas foram muito importantes. Criaram fãs clubes, divulgaram o trabalho de Elvis e o ajudaram a se transformar no ídolo que é hoje. Quando elas iam aos seus shows em Las Vegas, por exemplo, elas queriam ver Elvis no auge da beleza física, só isso, nada mais. Muitos fãs da nova geração não conseguem entender direito esse aspecto. Geralmente um jovem fã de Elvis dos dias atuais ouve os shows que ele fez em Vegas ou nas turnês e chega a conclusão apressada que, por exemplo, aquela sim tinha sido uma bela apresentação de Elvis e ponto final. Mas eles esquecem que um concerto de Elvis não se resumia apenas nessa questão musical, era muito mais do que isso, um show de sucesso de Elvis também tinha que contar com aquilo que era o mais importante para suas fãs: um bom aspecto visual, Elvis tinha que estar ótimo no aspecto físico.
Uma boa apresentação era aquela em que ele aparecia no palco bonito e esbelto, uma má apresentação era aquela em que ele aparecia gordo e ofegante! É simplório demais? São critérios sem valor? É frívolo pensar assim? Sim, com certeza. Ninguém deve avaliar um artista apenas por sua aparência física, sem dúvida que não! Mas para as fãs dos anos 70 que lotavam seus concertos isso era tudo o que importava. Outra coisa que sempre devemos levar em conta: os novos fãs, de hoje, já cresceram com aquela imagem de Elvis muito acima do peso, nenhuma foto de Elvis gordo irá chocar um jovem fã atualmente, pois certamente ele terá centenas de imagens de Elvis no final de sua carreira. A Internet facilita tudo isso! Mas para uma fã de Elvis nos anos 70 essa facilidade não existia. Geralmente elas tinham visto Elvis nos cinemas e só. Imagine a reação dessas tietes quando Elvis aparecia numa distância de poucos metros delas, no palco, pela primeira vez, com um visual muito distante do que elas imaginavam, fora de forma e bastante obeso! Era um choque! Mesmo que ele cantasse perfeitamente bem e fosse muito bem sucedido no quesito puramente musical, as fãs só iriam falar depois de seu péssimo estado físico, pois isso era o mais importante para todas elas!
Então, mesmo sendo uma frivolidade essa questão do aspecto de simples aparência, temos que colocar na balança tudo o que acontecia na época antes de afirmar que tal temporada de Las Vegas foi ótima, perfeita, apenas por aquilo que ouvimos! Uma temporada de sucesso não dependia apenas disso, temos que levar em conta a reação das fãs de Elvis, o que elas viram e presenciaram, o clima que envolveu as apresentações, o contexto em que elas se desenrolaram e tudo mais. Agindo de maneira diversa chegaremos a uma visão tão simplista como a das fãs de Elvis nos anos 70 que resumiam tudo em sua forma física e coisas do gênero. Infelizmente essa velha mentalidade ainda sobrevive! Muitos fãs ainda se incomodam com textos que toquem no aspecto da obesidade descontrolada de Elvis em seus últimos anos, por exemplo, ou que afirmem que tal projeto que o cantor participou em sua carreira era realmente horrível e nada condizente com seu talento. Se uma pessoa se incomoda com um artigo afirmando que Elvis estava gordo, fora de forma, em determinada época, isso significa que esse fato ainda é importante para ela. Ora, essa é a velha mentalidade das tietes dos anos 70 que julgavam Elvis apenas por sua aparência física ou amavam todos os seus filmes apenas por ele estrelar algumas dessas pérolas do absurdo! O fã mais consciente já passou dessa fase de se importar com o que os outros acham ou pensam! Se jornalistas escrevem algo que venha de alguma forma comprometer a imagem de Elvis, que seja! Tanto faz!
Quem estudou e se interessou sobre a vida do cantor a ponto de dedicar horas e horas sobre isso não vai se importar mais se alguém escreve algo que ele sabe que não tem importância. O que tem relevância é a opinião pessoal de cada um, seu senso e seu juízo de valor. Isso não significa que o admirador de longa data deve se isolar em si mesmo, nada disso, pelo contrário, ele deve levar em consideração todos os tipos de opiniões e descartar aquelas que não possuem embasamento maior. Sem uma visão crítica da carreira de Elvis estaremos certamente engrossando fileiras ao lado dessa forma caduca e arcaica de ser fã de Elvis Presley, de ficar se importando com o que os outros pensam ou pior, de tentar impor sua visão pessoal aos outros, mesmo que muitas vezes se saiba que se está errado! Cada um que tire suas próprias conclusões! Como afirmei antes, o mundo dá voltas e não devemos andar em direção ao passado mas sim ao futuro, devemos priorizar o fã que estuda Elvis Presley com dedicação, equilíbrio e racionalidade. O conhecimento sempre liberta no final das contas. Mas deixemos esses aspectos periféricos de lado e voltemos ao CD em questão.
A primeira constatação feliz sobre esse lançamento da FTD é sua boa direção de arte, seu design e projeto gráfico. As capas, contracapas e encartes internos dos CDs desse selo possuem uma qualidade irregular e inconstante. Temos capas interessantes, medianas e sofríveis. Curiosamente as capas que acompanham os CDs que trazem os primeiros shows de Elvis em Vegas são bem interessantes, vide "Polk Salad Annie" ou "All Shook Up". Aqui podemos perceber claramente que existe uma preocupação em trazer um produto de bom gosto estético e mesmo que elas não sejam muito originais, podemos perceber a clara intenção de se disponibilizar algo agradável aos olhos do colecionador. Enfim, uma qualidade artística bem razoável, muito longe dos piores momentos da FTD como as péssimas, horrorosas, capas de CDs como "The Jungle Sessions" e "Dragon Heart", que sempre foram motivo de chacotas e piadas entre os colecionadores. Se há alguma crítica mais interessante a se fazer sobre o conceito da capa, talvez seja essa idéia de se colocar as imagens como se estivessem sendo exibidas em uma televisão! Seria uma forma de homenagear a nova geração que nunca assistiu That's The Way It Is em um cinema? Pode ser. De qualquer maneira é uma tentativa de se fazer algo novo, inovador e só por isso ganha pontos, certamente. E por falar nesse filme a primeira grande pergunta que nos surge quando ouvimos esse CD é justamente essa: você gosta do filme documentário Elvis, That's The Way It Is ? Se sua resposta for afirmativa então esse é o seu CD!
A "trilha sonora" oficial do filme em questão nunca foi considerada realmente uma trilha honesta e sabem a razão? Ora, basta ouvir o disco. O Coronel fez uma salada indigesta naquele disco juntando músicas de estúdio (inéditas na época) com canções gravadas ao vivo e até mesmo "falsas" versões ao vivo (tinham sido gravadas em estúdio e o Coronel resolveu acrescentar palmas no final para tapear os fãs mais desavisados!). Que coisa mais absurda! Um dos grandes momentos de Elvis nos cinemas mal teve um disco oficial de respeito. Coisas de Tom Parker. Uma trilha sonora correta do ponto de vista discográfico deveria trazer exatamente as versões que fizeram parte do filme ou talvez um álbum duplo trazendo as músicas de estúdio em um dos LPs e o outro totalmente ao vivo com pelo menos as canções mais representativas dos concertos que entraram no filme. Mas nada disso aconteceu. Talvez com medo de produzir um disco duplo e sofrer prejuízos financeiros, Parker e a RCA tomaram a decisão de prestigiar as gravações de Nashville e colocar poucas versões ao vivo com o clima real do filme. Nesse processo se perdeu a chance de se colocar no mercado uma verdadeira trilha sonora do filme, algo que merecesse realmente esse título! O disco mais perfeito seria algo muito próximo desse CD da FTD.
Com boa qualidade sonora, bem acima da média do selo FTD, One Night In Vegas consegue capturar com honestidade essa temporada de Elvis em Las Vegas, a mesma que todos assistimos no filme. Os critérios que faltaram no disco oficial podem ser encontrados aqui! Embora o CD traga em sua essência apenas o show de abertura da temporada (realizado no dia 10 de agosto de 1970) e parte dos ensaios que aconteceram seis dias antes, não podemos deixar de registrar que o espírito, a idéia que deveria ter sido aproveitada na trilha original era essa mesma, capturar o clima das apresentações e trazer aquilo que foi apresentado nos cinemas, até mesmo porque isso sim seria uma trilha sonora de verdade! Das 23 faixas, dez foram retiradas exatamente do projeto original da trilha que conhecemos, muitas com ótimas versões ao vivo. Essa apresentação de Elvis, que é preciosa por vários motivos, serve também para demonstrar um padrão de concerto maravilhoso que Elvis utilizava nos palcos em seus primeiros shows em Las Vegas e que infelizmente ele deixou para trás depois. Era o padrão de se realmente divulgar os discos novos, com material inédito de estúdio, durante os concertos ao vivo. Nunca mais Elvis apresentaria dez músicas novas de seu último disco nos shows que iria realizar! Uma pena! A razão de Elvis perder nos anos seguintes o interesse em promover seus discos pode ser encontrada em vários fatores: como eram músicas novas provavelmente elas não teriam a mesma reação do público como seus velhos sucessos, além disso é fato notório que Elvis tinha um sério problema em esquecer as letras das novas canções no palco, fato que às vezes o fazia levar uma folha de papel de segurança com aquelas letras mais difíceis de memorização.
Aliada a tudo isso pode-se ainda citar a própria falta de empolgação e animação por parte de Elvis, que sempre estava mais envolvido com algum problema pessoal que ocupava seus pensamentos totalmente e o fazia negligenciar, muitas vezes, sua carreira artística! Esse estado de falta de renovação em seus shows, a ausência de vontade por parte dele em fazer mudanças significativas em seu repertório, acabou fazendo com que houvesse um estacionamento de mudanças nas listas de canções que iria apresentar dali para frente. O CD abre com Opening Riff que, como o próprio nome sugere, nada mais é do que o tema inicial de abertura dos shows de Elvis nessa temporada. Ele ainda não estava utilizando o famoso tema de 2001 para abrir suas apresentações, essa idéia só iria surgir depois. Aliás muitos acham curioso Elvis ter escolhido esse arranjo de orquestra da canção clássica Also Spratch Zarathustra para abrir suas apresentações! Afinal qual era o motivo? Além de ser uma abertura evocativa da posição de Elvis, um arranjo "digno de um rei", vamos colocar assim, ainda havia o lado místico que envolvia esse tema e o próprio fato de Elvis ter sido um fã incondicional de livros de ficção científica. De qualquer forma essa abertura, mesmo sem 2001, empolga, principalmente pela ótima participação do baterista Ronnie Tutt. Ligando a ela temos That's All Right e logo podemos perceber o pique que iria dominar toda a apresentação! Essa segunda temporada de Elvis em Las Vegas no ano de 1970 é interessante porque ela trouxe um Elvis já totalmente à vontade com o International Hotel, sem os problemas que surgiram na primeira temporada de 69 e sem a pressão de fevereiro onde muitos afirmaram que Elvis não iria conseguir mais o mesmo sucesso de sua estreia nos palcos de Las Vegas. Essa terceira temporada já traz para todos os envolvidos aquela sensação que o projeto de levar Elvis para temporadas nessa cidade era um projeto vitorioso. Por essa razão podemos perceber claramente um Elvis Presley bem menos tenso do que nas duas primeiras temporadas, além disso Elvis esbanja versatilidade, carisma e empolgação. Sem dúvida essa temporada é uma das melhores.
E o repertório do show continua com um medley símbolo da temporada de 1969, Mistery Train / Tiger Man. A ideia dos maestros Gleen Spreen e Felton Jarvis, que fizeram esse arranjo, unindo essas músicas, foi muito feliz. A primeira é um símbolo dos anos de Elvis na Sun Records e a segunda surgiu para Elvis mais nitidamente no especial na NBC em 1968. Duas canções que representam dois momentos distintos da carreira de Elvis, distintos, mas extremamente ligados entre si por uma palavra muito bem-vinda: sucesso! O Medley é fantástico e foi usado na abertura do filme That's The Way It Is e agora finalmente podemos ouvir a canção na íntegra. Tecnicamente ela é superior às versões de 1969, notadamente a versão oficial do disco Elvis In Person at The International Hotel Isso é facilmente explicado porque a banda de Elvis em 1970 estava muito mais entrosada, não só pelas temporadas anteriores mas também pelos shows que eles vinham apresentando em diversas cidades pelos Estados Unidos afora. Eles não estavam mais tentando se encontrar aqui como acontecia muitas vezes nos shows da primeira temporada de Elvis. Eles já tinham acertado o tom certo, correto e estavam chegando certamente em um ponto ótimo nos concertos. No que diz respeito a esse medley podemos facilmente perceber que ele está com a levada certa, menos intensa da que ouvimos em 1969. Essa pegada é bem mais fiel ao arranjo das versões oficiais que conhecemos. Pela fidelidade de harmonia leva o prêmio de melhor versão desse medley.
Nos CDs da FTD, às vezes, notamos coisas que não deveriam ser creditados nos encartes como por exemplo, Elvis Talk! Um minuto de conversa fiada de Elvis com a plateia e nada mais. Ernst precisava creditar algo como isso? Certamente não, é um excesso de preciosismo! Aqui Presley brinca um pouco, comenta o fato da MGM estar filmando em Las Vegas e outras coisas sem importância. Charlie Hodge novamente dá suas conhecidas gargalhadas. Ele era uma espécie de amortecedor do grupo de Elvis. Não importava se a piada fosse sem graça ou fora de foco, Elvis sempre podia contar com as risadas incontroláveis de Charlie Hodge para morrer de rir de seus monólogos. Depois ainda o acusam de nada fazer de importante na banda de Elvis, isso é uma injustiça, o Charlie sempre mantinha o clima bom para Elvis durante os shows. Quando Elvis soltava alguma piadinha sem graça e todos ficavam olhando uns para os outros sem saber direito como agir, Charlie prontamente caia na risada para descontrair o clima rapidamente. Não se enganem, isso era muito importante e por isso não subestimem a função de Charlie durante os concertos. Elvis sentia a necessidade de ter alguém no palco junto que fosse íntimo o bastante para interagir com ele nesses momentos. Como Elvis não podia levar a máfia de Memphis com ele para os concertos, então ele levava alguém com Charlie. Com sua maneira divertida de ser e agir ele acabou salvando Elvis muitas vezes do constrangimento total.
I Can't Stop Loving You é outro clássico da temporada de 69. Elvis iria usar essa canção infinitas vezes nos anos que viriam. Quem ouve a versão original de Don Gibson nota nitidamente as inúmeras alterações que foram promovidas por Elvis e seus produtores. Ficou melhor? Hä controvérsias. O fã da época que foi na loja e comprou o disco From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis certamente levou um susto. Ali estava uma grande ruptura na sonoridade de Elvis Presley. Tirando a experiência do uso de arranjo de metais no NBC Special, poucas e ocasionais vezes Elvis tinha usado arranjos de orquestras em suas gravações. Mas quando ele foi para Las Vegas a orquestra veio com força total, ocupando todos os espaços, para muitos de forma exagerada e pesada! Essa canção certamente é uma das mais significativas desse momento de transição. Perceba que ela começa sem o uso massificado dos metais mas eles vão aos poucos tomando conta do arranjo da canção e no final toma completamente o controle! Mais ou menos o que estava acontecendo com Elvis quando ele foi para Las Vegas.
Love Me Tender, uma canção da primeira fase de sua carreira, por exemplo, sofreu muitas vezes por ter que se adaptar nessas novas mudanças promovidas por Elvis e Felton Jarvis no aspecto de arranjo. Aqui ela não está tão prejudicada como no NBC Special e serve mais como tema de fundo para Elvis sair beijando suas fãs! Para quem gosta da gravação pioneira e bem mais "primitiva" da versão original o estilo Las Vegas até que não a desfigurou totalmente a ponto de a torná-la irreconhecível. Depois dela surge a primeira canção do projeto That's The Way It Is: The Next Step Is Love. Essa é uma versão ao vivo de alto nível e posso até mesmo afirmar que está muito mais bem executada do que a versão oficial de estúdio que saiu na trilha sonora da época. Aquela não tinha a espontaneidade necessária e nem a fluidez que valorizasse sua melodia. Aqui Elvis está mais à vontade, à solta, sem a preocupação de ser tão perfeito na contagem de tempo como ouvimos no master. O resultado final é excelente.
Words, outra da temporada de 1969 também segue o nível da faixa anterior. São duas faixas dessa mesma canção: uma bela versão ao vivo e uma gravada durante os ensaios da temporada, que é bem mais fraquinha. Fique, é claro, com a primeira. É muito bom ouvir essas primeiras temporadas de Elvis em Las Vegas porque ele sempre estava disposto a apresentar bom material e a se apresentar corretamente. Claro que havia brincadeiras e piadas como as que seguem após a música terminar. Aqui Elvis se diverte com a microfonia do equipamento (que pode ser ouvida em alguns momentos da canção) e brinca: "Yes Kirk!" (como se estivesse atendendo ao capitão Kirk de Jornada nas Estrelas em seu equipamento de comunicação).
I Just Can Help Believen' que vem logo a seguir é maravilhosa! A versão original seria gravada no dia 11 e seria usada como tema de abertura do disco com a trilha sonora oficial. A versão que está presente nesse CD, gravada no dia 10, não é melhor do que a que foi apresentada no dia seguinte, nesse ponto a escolha da versão do dia 11 foi acertada, mas isso não significa que essa não seja também fantástica em todos os aspectos. Nada mal para seu debut no repertório de Elvis nessa temporada. Infelizmente Elvis não a levou adiante e ela praticamente sumiu das apresentações após essa temporada. Muito provavelmente, como bem podemos notar ao assistir o filme That's The Way It Is, Elvis tenha ficado com algum tipo de desconforto na memorização de sua letra. De qualquer maneira ela logo seria descartada, o que é uma pena! Something dos Beatles teria vida mais longa dentro dos shows de Elvis, tendo sido utilizada até mesmo no Aloha From Hawaii. Porém verdade seja dita: essa versão de Elvis nunca decolou, nunca foi tecnicamente boa! Quem conhece a versão oficial do disco Abbey Road logo nota que o arranjo não é muito feliz. Elvis se deu muito melhor com outras versões dos Fab Four como Yesterday (a versão do disco On Stage é nostálgica e moderna na medida certa) e Hey Jude (uma das melhores versões que já ouvi dessa canção, gravada em 1969 no American e só lançada anos depois no disco Elvis Now). Aqui o que estraga mesmo é o arranjo de metais, coisa que Harrison nunca nem sequer imaginou usar em sua música, não nessa base. Esse naipe ao estilo Las Vegas não cai bem em nenhum momento da canção e o saldo é negativo. Essa mesma opinião também é totalmente válida para a versão do Aloha que, diga-se de passagem, consegue ser bem pior que essa que ouvimos aqui. Em poucas palavras, Something com Elvis soa desnecessária e desconfortável o posicionando numa constrangedora posição de cover dos Beatles!
Sweet Caroline é bem mais interessante. Originalmente apresentada por Neil Diamond, a música se encaixou muito bem na lista de músicas que Elvis apresentava naquele momento. Ela tinha aparecido na vida musical de Elvis na temporada anterior, de fevereiro de 1970. Tanto que foi lançada oficialmente no disco On Stage, February 1970 que trazia dez canções gravadas ao vivo (sete delas sendo registradas nessa segunda temporada da carreira de Elvis). Divertida e suave na medida correta. O primeiro grande momento do CD vem logo a seguir, a inigualável You Lost That Lovin' Feeling, uma autêntica pedigree da segunda temporada de 70 com Elvis em Vegas. Assim como aconteceu com I Just Can't Help Believen e The Next Step is Love, essa versão também marca a estréia da música em concertos de Elvis Presley. Só esse fato já justificaria a importância desse CD, pois não é sempre que podemos ouvir, com uma qualidade sonora tão boa, as primeiríssimas versões de canções tão importantes para a carreira de Elvis como aqui, em um só CD! Isso certamente nunca mais iria se repetir depois como já escrevi antes. De qualquer forma, apesar de sua perfeição técnica, a RCA resolver escolher como oficial a que Elvis apresentou dois dias depois, no dia 12 e a lançou no disco oficial da trilha sonora. Essa master pode rivalizar cabeça a cabeça com essa versão de estréia que ouvimos aqui nesse CD. A oficial pode até ser executada com mais leveza, pois Elvis está nitidamente bem mais relaxado nela, mas a primeira versão da canção também tem suas virtudes, entre elas a preocupação de Elvis em ser tecnicamente perfeito do primeiro ao último acorde, objetivo alcançado majestosamente por ele aqui nesse momento ímpar.
Existem duas versões de You Don't Have To Say You Love Me no CD. A primeira foi gravada ao vivo e faz parte do show do dia 10 e a segunda é uma versão de estúdio, na realidade um ensaio que Elvis promoveu antes da estreia da temporada. A primeira coisa que sempre me chamou atenção nessa música é a sua péssima versão master que saiu no disco oficial. Até hoje não consigo entender como Felton Jarvis, tão preocupado com qualidade como ele era, conseguiu deixar passar de seu crivo pessoal uma versão tão ruim como aquela. Seguramente é a pior faixa da trilha oficial, não no sentido de ser a pior canção em suas qualidades melódicas e de letra, nada disso, mas em qualidade técnica de gravação, basta apenas ouvir a master para entender o que quero dizer. A música é extremamente mal gravada, com péssima vocalização por parte de Elvis. Essas versões que ouvimos nesse CD finalmente redimem essa música. A versão ao vivo que você ouve nesse CD é muito boa, bem executada, com Elvis envolvido, com ótimo acompanhamento tanto do grupo TCB como pela orquestra. Tecnicamente boa, sem maiores máculas, poderia ter entrado facilmente no disco oficial da trilha sonora sem maiores problemas. Já a versão de ensaio é bem mais leve do que a exagerada e descabelada versão do disco That's The Way It Is. Essa seria a velocidade mais adequada para a canção, porém infelizmente Elvis a canta no controle remoto, com o freio de mão puxado, sem maior envolvimento, de qualquer forma ela serve para demonstrar como poderia ter sido bem gravada se Elvis e seu grupo tivessem achado o tom certo. Aqui Elvis tenta por três vezes chegar num resultado mais satisfatório e depois meio que desiste em seguir adiante.
Outra que aparece com duas versões diferentes é Bridge Over Troubled Water. A versão do ensaio não acrescenta muito. Muita brincadeira e conversação ao fundo prejudicam Elvis, atrapalhando sua interpretação e sua concentração. A qualidade sonora não é tão boa, aliás é bem fraca, também não poderia ser diferente pois muitos desses arquivos ficaram encostados por um longo tempo e só depois foram resgatados. Novamente o grupo e Elvis não se empenham muito, até porque tudo não passa de um ensaio rápido. A versão dura poucos minutos e o corte final está muito mal feito pois deveria ter sido deixado a parte final da canção para sabermos como Elvis a termina. Aqui Ernst faz um corte final equivocado como podemos notar se o compararmos com outros títulos. Já a versão ao vivo é mais do que preciosa, é um achado maravilhoso. Elvis está insuperável aqui. Aliás pode-se afirmar que, com raríssimas exceções, todas as versões de Bridge Over Troubled Water dessas temporadas iniciais são de excelente nível. No disco com a trilha sonora original temos outras das picaretagens de Tom Parker. Ao invés dele determinar que Felton Jarvis escolhesse uma boa versão ao vivo ele preferiu maquiar a versão de estúdio acrescentando "falsas" palmas! Outro problema que sempre chamou atenção foi a elevação gradual do volume da faixa oficial, que começava bem introspectiva, quase sussurrada e ia aumentando gradualmente seu volume até um final apoteótico. Para alguns a montagem até que era interessante mas outros se incomodavam com isso. No Brasil tentaram modificar isso e lançaram um disco em que eles fizeram uma tentativa mal sucedida de mudar artificialmente seu formato original. O problema é que como não tiveram acesso ao master original fizeram tudo sem respeitar o procedimento adequado e necessário para esse tipo de mudança. Resultado: a nova equalização "Made in Brazil" ficou horrível, mal feita e virou motivo de piadas lá fora! Sinceramente, poderiam ter passado sem esse papelão!
As duas últimas grandes novidades do show são respectivamente Patch It Up e I've Lost You. Patch It Up sempre foi excessivamente badalada ou melhor dizendo, superestimada, supervalorizada além da conta. Existem aqueles que acham essa canção maravilhosa, à prova de falhas, impecável, que é uma super música cheia de energia, etc e tal. Mas convenhamos, para quem gravou tantos clássicos roqueiros nos anos 50, Patch It Up é uma paródia apenas, uma sombra do que Elvis produziu em seu passado. Na verdade é uma música que supervaloriza aspectos secundários como vocalização feminina e uso de naipe de metais para criar uma falsa áurea de energia. Na verdade é uma canção muito fraca, tanto em termos de melodia como em termos de letra, essa aliás inexiste de tão tola! Essa versão até que é boa, Elvis tenta mesmo balançar o público com ela, mas parece que realmente não deu muito certo, pois mesmo que Elvis tenha comprado a ideia durante seus primeiros shows dessa temporada, ela logo foi colocada de lado e descartada totalmente. Embalar pode até embalar, mas convencer mesmo, jamais. I've Lost You é bem melhor e gosto dela. Tem belo ritmo, belo arranjo e Elvis novamente se empenha para mostrar para todos sua "nova gravação" como ele mesmo deixa claro antes de começar a interpretá-la. Infelizmente foi outra que não seguiu adiante dentro do repertório de shows de Elvis sendo também deixada de lado. Talvez o uso muito repetitivo de seu refrão tenha feito Elvis cansar de cantá-la. Nessa versão Elvis erra a letra lá no meio da canção, ri ao perceber que errou e segue em frente. Interessante que a TCB Band sempre estava pronta para corrigir eventuais falhas de Elvis como acontece aqui e seguir da melhor maneira possível, sem que o público percebesse o eventual erro.
Finalmente temos as duas últimas canções do show ao vivo: Polk Salad Annie e Can't Help Falling In Love. Ao contrário das anteriores, que não tiveram vida longa dentro dos shows de Elvis, essas ficaram dentro do repertório até o fim de sua carreira. Mesmo em 1977 elas estavam lá, firmes e fortes dentro das apresentações. Can't Help Falling In Love é uma prova de que nem tudo que Elvis gravou em suas trilhas sonoras nos anos 60 era destituído de valor artístico. Uma verdade não escrita é que, mesmo nas mais ridículas, infantis e bobas trilhas de Elvis nesse período podemos pincelar bons e até mesmo ótimos momentos. Só mesmo um talento como Elvis Presley para trazer valor para aquele tipo de material que acabaria com a carreira de qualquer um! Blue Hawaii, por exemplo, traz na pior das hipóteses quatro ou cinco canções dignas, entre elas Can't Help Falling In Love. Acontece que em 1961, ano em que essa trilha foi gravada, havia ainda por parte dos produtores de Hollywood a preocupação de apresentar material de qualidade. Depois de 1964, principalmente nos filmes pós 65, isso foi deixado de lado completamente. O que valia mesmo era ganhar alguns níqueis extras com a fama de Elvis e só! Qualidade musical? Isso não tinha nenhuma importância para quem dirigia Elvis nesse período. Mas enfim, essa canção que passou a ser utilizada por Elvis para encerrar seus shows é linda mesmo, acima de qualquer crítica. Nos anos 50 Elvis usava Hound Dog para encerrar suas apresentações mas quando voltou aos palcos em 1969 resolveu utilizar esse seu autêntico sucesso "Made In Hollywood" para essa mesma finalidade.
A Polk Salad Annie desse CD empolga! Apesar de ter sido um dos símbolos máximos da temporada anterior, de fevereiro de 1970, Elvis resolveu repetir a dose, principalmente pela vibração que ela proporcionava entre seu público. Nessa época Elvis ainda declamava a introdução da canção explicando a letra para quem não era natural da Louisiana, mas depois ele dispensou esse preciosismo e nas versões que viriam ele entrava logo na parte principal da canção e mandava ver em seu ritmo! Com o uso excessivo da canção ao longo dos anos ela foi se modificando um pouco, com altos e baixos. Aliás ela serviria também como um termômetro nos anos que viriam. Como, pela sua própria natureza, ela demandava muita energia, logo os fãs sabiam de antemão se Elvis estava bem ou não em um show apenas ouvindo essa canção. Uma versão meia boca significava que Elvis não estava muito bem, já uma versão a mil significava justamente o contrário, que Elvis faria um concerto daqueles!
Depois do show ao vivo o CD nos traz cinco canções retiradas de um ensaio feito por Elvis seis dias antes do show. Qualidade sonora de sofrível para ruim, se bem que para falar a verdade no final das contas isso não importa. Dessas cinco faixas as que realmente se destacam são duas: Twenty Days and Twenty Nights e Cattle Call / Yodel. Essa última aliás é bem divertida, facilmente reconhecível pois é uma paródia do que melhor podemos ouvir nesse estilo todo característico de cantar no gênero country and western. Realmente é inédita e ao contrário de, por exemplo, El Paso do CD Elvis On Tour Researhals, é uma faixa de verdade, com começo meio e fim. Mesmo que seja na verdade apenas uma brincadeira por parte de Elvis, banda e vocalistas, não deixa de ser bastante curiosa e interessante. Já Twenty Days and Twenty Nights é nossa velha conhecida. Sua versão oficial é lindíssima e um dos pontos altos da trilha sonora do filme. Aqui Elvis vai ensaiando, procurando encontrar o tom certo. O que é muito interessante nesse momento é ouvir, mesmo que por um curto período de tempo, o processo de trabalho promovido pelo artista Elvis Presley. O talento dele era inato, não acadêmico. Isso significa que ele era não era um virtuoso musical, que dominasse vários instrumentos por exemplo, um grande instrumentista, nada disso.
O talento de Elvis era instintivo, natural, e por essa razão ele tinha que ir sentindo a canção, com sua intuição à flor da pele. Ao ouvir essa faixa percebemos bem isso: Elvis vai tateando, pesquisando a sonoridade até chegar naquela que lhe agrada, num processo totalmente natural. Ele provavelmente não iria discutir as qualidades harmônicas da faixa, isso já estava superado desde o momento em que ele a escolheu, mas certamente saberia o que queria. Enfim, uma aula ministrada por alguém que nasceu com um dom, uma dádiva divina que não precisa de qualidades academicistas. One Night In Vegas é um grande CD do selo FTD, sem sombra de dúvidas um dos melhores já lançados. Encontrar ou reencontrar Elvis novamente nessa temporada sempre será um prazer renovado para o fã mais dedicado! Até hoje Elvis me deixa admirado pela quantidade de material de ótima qualidade que ele nos legou. Em sua última década de carreira, por exemplo, Elvis produziu muito e deixou muita coisa essencial para seus fãs conhecerem. Aos poucos estamos sendo apresentados a esse grande tesouro musical que foi deixado pelo cantor. Esse CD é apenas uma pequena amostra de seu fantástico talento! Uma pequena pérola que estava escondida e perdida, mas que felizmente foi resgatada. Que tal passar uma noite ouvindo esse insubstituível talento? Você com certeza terá uma grata surpresa! O mundo certamente dá voltas, mas algumas coisas realmente nunca deixam de nos surpreender...
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Twenty Days & Nights
Eu chamo atenção porém para um pequeno e seleto grupo de bootlegs que conseguem ser melhores do que os discos oficiais de Elvis. Isso mesmo, são mais completos, muitos deles com excelente qualidade sonora e performances impecáveis do astro. Um exemplo? “Twenty Days & Nights”, lançado originalmente em 2009. O CD traz o show na íntegra que Elvis Presley realizou em Las Vegas na noite de 12 de agosto de 1970. Eu particularmente considero essa uma das melhores temporadas de Elvis em Vegas em toda a sua carreira. Não havia mais a pressão da primeira temporada e nem o receio de ter o showroom com ingressos sobrando da segunda temporada, que foi realizada em uma baixa estação na cidade.
Aqui Elvis está perfeitamente à vontade, tranquilo, feliz e cantando muito bem! Seus concertos não eram muito longos – bem abaixo da duração de um show atual – mas Elvis fazia valer cada momento, cada segundo ao lado de seu público querido. Rindo, brincando com a plateia, inovando no repertório, cantando com afinco e vontade, realmente ver o grande mito no palco, ali pertinho de você, deve ter sido algo magnífico. Como eu escrevi esse show é realmente impecável. Aqui Elvis mostra o grande showman que sempre foi, um homem de palco, ciente de sua importância e talento. No repertório algumas preciosidades chamam logo a atenção. A primeira, que inclusive dá nome ao disco, é a linda balada “Twenty Days And Twenty Nights” do álbum “That´s The Way It Is”.
A versão oficial é a de estúdio, gravada em Nashville, que todos já conhecemos. Aqui temos a versão de palco. Ouvir ela ao vivo é de dar arrepios. Essa é uma música que raramente Elvis cantou ao vivo, uma verdadeira jóia rara. Aliás é bom frisar que o CD é particularmente indicado para os fãs do TTWII, pois além dessa Elvis desfila várias canções desse disco. “I've Lost You”, “I Just Can't Help Believing” e “Patch It Up”, por exemplo, surgem em uma seqüência realmente arrebatadora! E o que dizer das versões de “You've Lost That Loving Feeling” e “Bridge Over Troubled Water”? Simplesmente perfeitas, lindas! Percebe-se claramente que Elvis estava com muita vontade de apresentar seu novo material ao público. Assim não há muito mais o que dizer. Esse CD é realmente magistral, um grande momento de um artista único em um de seus momentos mais inspirados! Mito é pouco!
Elvis Presley - Twenty Days & Nights (2009)
1: Opening Vamp / That's All Right
2: I Got A Woman
3: Monologue
4: Hound Dog
5: Monologue
6: Heartbreak Hotel
7: Monologue
8: Love Me Tender
9: I've Lost You
10: I Just Can't Help Believing
11: Patch It Up
12: Monologue
13: Twenty Days And Twenty Nights
14: You've Lost That Loving Feeling
15: Polk Salad Annie
16: Band introductions
17: Blue Suede Shoes
18: You Don't Have To Say You Love Me
19: Bridge Over Troubled Water
20: Suspicious Minds
21: Can't Help Falling In Love
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - On Stage - February 1970
Sem cantar ao vivo por quase oito anos, fazendo filmes ruins, gravando músicas horríveis, é difícil até mesmo entender como Elvis conseguiu sobreviver aos anos 60! Sua capacidade de sobrevivência durante esses anos de obscurantismo artístico realmente impressiona qualquer um até hoje! Qualquer pessoa que assista alguns filmes de Elvis nos anos 60 acaba se perguntando: como Elvis escapou depois de fazer um trash desses?! O pior é saber que ele deixou de fazer apresentações por praticamente nada, pois sua carreira em Hollywood nada trouxe para ele em termos de engrandecimento artístico, muito pelo contrário, toda uma geração acabou associando sua imagem àquilo que era apresentado nos cinemas e em razão disso nunca o levaram à sério e nem entenderam sua real importância para a cultura musical de todos os tempos. Além de não conseguir mais fazer novos fãs, os antigos admiradores começaram a ir embora durante os anos 60, pois estavam fartos de consumir tanta mediocridade. Não tardou para que houvesse uma verdadeira debandada de fãs. Muitos deixaram o barco e os discos de Elvis começaram a fracassar para valer nas paradas, merecidamente aliás. Enfim, o que realmente aconteceu foi isso mesmo: Elvis se retirou dos palcos, onde era um verdadeiro monarca e reinava absoluto, para estrelar verdadeiras pérolas do absurdo, verdadeiros filmes B que o colocaram numa posição simplesmente deplorável durante aquela década, o fazendo virar uma espécie de artista menor e sem importância para a crítica musical da época, que nunca o perdoou por estrelar tanto material medíocre! A verdade era que ninguém mais levava Elvis e seus "disquinhos" de filmes mais à sério. Um dos maiores artistas de nosso tempo era colocado numa posição insignificante, nada digna de seu grande talento. Algo tinha que mudar. Felizmente depois do NBC Special, onde Elvis fez sua primeira apresentação ao vivo perante um público selecionado, ele finalmente tomou consciência que não poderia ficar mais longe dos holofotes. On Stage, gravado ao vivo no Showroom do International Hotel em Las Vegas, a cidade do pecado, em fevereiro de 1970, traz um instantâneo do momento em que Elvis estava se renovando, renascendo.
Esta foi a segunda temporada do Rei do Rock após sua volta aos palcos em 1969 e veio para confirmar sua condição de grande artista naquilo que sabia fazer de melhor: se apresentar perante seus fãs. O disco não deixa margem a dúvidas: Elvis ainda era o melhor quando queria e se empenhava para isso. Hoje todos concordam que as melhores temporadas de Elvis em Las Vegas são justamente as três primeiras após seu retorno. E é fácil entender o porquê! Ora, o que mais desejava Elvis nesses anos iniciais em Las Vegas? Simplesmente apagar seu passado recente, deixar para trás toda a experiência ruim dos filmes, que no final das contas serviram apenas para macular sua imagem de artista relevante e importante, e recomeçar de novo, renascer como artista novamente, ter mais uma chance, se reinventar. Elvis estava concentrado e empenhado para deixar seu recado: "Eu ainda estou aqui! Eu estou vivo! Eu ainda sou Elvis Presley!" A necessidade de apresentar material de qualidade era tão urgente que Elvis retornou muito rápido a Las Vegas para uma nova temporada, poucos meses depois de sua incrível volta aos concertos ao vivo. Voltou mais confiante e ainda mais empenhado em fazer belas apresentações. Muitos até mesmo achavam que era cedo demais para começar uma nova temporada e temiam até que o cantor não conseguisse lotar suas apresentações durante este período, pois Las Vegas nesta época do ano não apresentava um bom movimento de turistas e visitantes. Porém, se Elvis estava com extrema necessidade em cantar ao vivo, seus fãs estavam ainda mais ansiosos para um reencontro, principalmente àqueles que se mantiveram fiéis, mesmo durante a fase mais baixa de sua carreira. Foi a situação ideal para se utilizar daquele velho ditado popular: "Juntou mesmo a fome com a vontade de comer!" O que ocorreu depois foi que Elvis conseguiu alterar até mesmo a rotina da cidade, levando milhares de pessoas de todas as partes do mundo em direção a Vegas para assistir a seu show. A temporada acabou se tornando um grande sucesso e mostrou para todos que os críticos tinham mesmo todas as razões do mundo em exigir mudanças na carreira de Elvis.
Longe dos roteiros ridículos e das músicas enlatadas, Elvis adentrava no palco do International como um verdadeiro soberano da música: belas performances no palco, ótimas canções e arranjos, uma banda extremamente afinada e uma orquestra impecável, além é claro, do ótimo time de vocalistas que trouxe muita qualidade ao saldo final das interpretações do cantor. Nada mais distante do que vinha acontecendo nos estúdios de Hollywood. Finalmente Elvis Presley começava a trilhar o rumo certo mais uma vez na sua carreira. A partir desse momento Elvis iria cumprir duas temporadas anuais em Vegas, sempre no International Hotel (anos depois mudado para Hilton Hotel). Era o início dos anos setenta, década em que Elvis Presley iria dar uma nova guinada em sua carreira, se tornando um artista completo após anos de desperdício em filmes de Hollywood. Elvis iria apresentar a partir daí um repertório com o melhor da música norte-americana dando uma visão pessoal para muitas delas. Finalmente o verdadeiro Elvis Presley estava de volta. Essas são as canções do disco "On Stage / February 1970" (LSP 4362):
SEE SEE RIDER (Arr. Elvis Presley) - Algumas vezes, com a intenção de se elevar o crédito de Elvis como músico, foram cometidas injustiças. É o caso de See See Rider. A canção foi creditada de forma errada na capa do LP original na época, ignorando a autoria correta e colocando Elvis nos créditos da música. Mesmo que ele tenha contribuído muito para o arranjo da versão, essa manobra soa desconfortável, para se dizer o mínimo. Na verdade See See Rider tem uma longa história musical e não se citar os verdadeiros responsáveis por sua criação é uma grande injustiça. Apenas para deixar registrado vamos realmente dar os créditos de autoria aos verdadeiros autores, "Ma" Rainey e Chuck Willis. Como não se citar Ma Rainey como uma de suas autoras na capa do disco, logo ela que é considerada a verdadeira "Mãe do Blues"?! Tão importante como Bessie Smith, ela é considerada um dos pilares fundamentais desse gênero musical. "C.C.Rider" foi um de seus maiores êxitos e sua contribuição nunca poderia ter sido ignorada pelos produtores da RCA Victor. Chuck Willis também é outro grande injustiçado nesse caso específico. Um dos grandes cantores negros de R&B das décadas de 40 e 50, Chuck Willis hoje está praticamente esquecido, mesmo que tenha composto grandes canções como "Story", "Going To The River" e "You're Still My Baby", além da famosa "I Feel So Bad", gravada também pelo próprio Elvis Presley nos anos 60.
Ambos foram também responsáveis pela longa evolução que o Blues percorreu até servir como base para o surgimento do Rock'n'Roll e apesar de toda sua relevância musical e histórica foram completamente ignorados pelos executivos da gravadora de Elvis. Racismo ou ignorância pura e simples? Não podemos afirmar nada, apenas lamentar. De qualquer maneira varrer o nome deles para debaixo do tapete foi no mínimo vergonhoso. Enfim, aqui está o novo arranjo para essa velha canção. A música seria utilizada em praticamente todos os seus shows, se tornando parte fixa de seu repertório nos anos setenta. Sua escolha não é mistério. Além de letra simples (que facilitaria a vida de Elvis nas apresentações), a canção é animada, contagiante e tem um embalo muito bom. Além disso remete todos que a ouvem para o sul, pois ela é derivada direta das tradições sulistas, sendo adaptada e cantada por vários nomes relevantes daquela região dos EUA, como inclusive já citei antes aqui. Curiosidade: Numa homenagem a Elvis nos anos 90 o "The Killer" Jerry Lee Lewis ficou responsável por uma nova versão desta canção, o que resultou num dos mais esquisitos tributos musicais a um artista da história. A nova versão de Lewis não lembrava nem a original e muito menos a versão de Elvis resultando em mais uma extravagância do "matador".
RELEASE ME (Eddie Miller / W.S.Stevenson) - Um antigo sucesso lançado por Esther Philips em 1962 pelo selo Lenox, sendo que em 1967 esta música foi novamente gravada por Engelbert Humperdink. Essa versão de Elvis em Las Vegas tem ritmo e desenvolvimento, se tornando outro grande momento deste disco. Uma coisa logo nos chama atenção na carreira de Elvis Presley. Em estúdio ele procurava principalmente, a partir dos anos 70, se firmar como um artista que se revelava inteiramente para todos, expondo muitas vezes seus dramas pessoais. Já nos palcos Elvis tinha que ter outro posicionamento. Sua função principal aqui era a de entreter sua grande plateia e para isso Elvis não se importava em fazer concessões, como apresentar hits de outros artistas, sucessos da época ou músicas da moda! Muito provavelmente no palco o que se sobressaía era sua postura de grande artista, de grande entertainer. "On Stage" é significativo nesse ponto. Aqui temos contato com o Elvis dos palcos, o cantor que muitas vezes mudava a lista de canções de acordo com as reações que colhia de seu público. Não raro Elvis sentia que as canções não estavam empolgando muito e então mudava a ordem das músicas que apresentava! Tudo em nome da diversão e do prazer de proporcionar uma grande noite para seus fãs que iam até Las Vegas. "Release Me" é um exemplo disso. A canção é muito boa, apesar de simples, tem ritmo empolgante, boa fluência melódica e proporciona para um artista como Elvis a oportunidade de divertir seu público de forma rápida, limpa e eficaz.
SWEET CAROLINE (Neil Diamond) - Deliciosa versão de Elvis para o grande sucesso do cantor Neil Diamond. A canção era muito recente, tinha sido lançada há pouco tempo por seu autor em disco do mesmo nome e tinha chegado na incrível marca de dois milhões de singles vendidos! Depois de apresentá-la no programa de Ed Sullivan, Neil Diamond finalmente alcançava o ápice de sua carreira musical e Elvis embarcava nesse sucesso todo a apresentando em Las Vegas durante seus shows na cidade. Não escrevi aqui que nos palcos Elvis às vezes fazia concessões para que os shows fossem de agrado ao seu público? Pois então! "Sweet Caroline" aparece para confirmar o que escrevi antes. Pois bem. Em relação a Elvis o que é pertinente de se perguntar nesse momento é por quê Elvis estava agora se alinhando a cantores como Neil Diamond? Legítimo membro da primeira geração de roqueiros, Elvis agora parecia cada vez mais distante do material produzido por roqueiros da época e cada vez mais seguia essa linha pop romântica, cujo Neil Diamond era um de seus maiores representantes, assim como também Tom Jones. Muitos fãs dos anos 50 certamente se perguntariam onde havia ido parar o legado do Rock na carreira de Elvis Presley? Afinal, porque ele não gravava algo do Led Zeppelin por exemplo?
Afinal qual seria a vantagem de gravar temas como esse de Neil Diamond, que apesar das bonitas canções, não iria trazer nada de mais relevante para a carreira de Elvis? Esse é um tema interessante e daria margem para muito debate. O mais importante é ter realmente a noção de onde Elvis se apresentava (Las Vegas) e qual era seu público nesse momento (certamente não seria de fãs das bandas de rock dos anos 70). De qualquer maneira Elvis não havia deixado seu legado de grande roqueiro para trás totalmente como podemos muito bem constatar aqui mesmo nesse disco em algumas faixas que seguem. Curiosidade: No filme "That's the Way It Is" (Elvis é assim, 1970), versão que foi exibida nos cinemas na época, o cantor dá um show de interpretação ao cantá-la. A versão presente neste disco foi gravada no dia 16 de Fevereiro de 1970 contando com o ótimo acompanhamento da Orquestra de Bob Morris.
RUNAWAY (Crook / Del Shannon) - Justamente para evitar críticas de que estaria apenas gravando e apresentando "babas" românticas em Las Vegas como Sweet Caroline, foi que Elvis resolveu mostrar que não deixaria seu legado de grande roqueiro para trás. "Runaway" certamente é indicada para quem pensa que em Las Vegas Elvis esqueceu seu título de Rei do Rock e virou apenas um símbolo da maioria silenciosa. Nada mais longe da verdade. Ao lado de músicas mais, digamos, ao estilo Las Vegas, Elvis certamente procurou apresentar canções mais rockers! "Runaway" foi um dos maiores sucessos de seu autor Del Shannon em 1961. Chegou ao primeiro lugar da Billboard e se tornou muito conhecida principalmente por causa de seu arranjo considerado "estranho" na época (e que não era nada demais, apenas foi usado um sintetizador modificado tocado por Max Crook, co-autor da canção).
Talvez a grande influência que a versão de Elvis tenha sofrido venha de uma versão de 1967, gravada pelo grupo britânico The Small Faces. De qualquer forma Elvis a levou para Las Vegas em sua segunda temporada na cidade e apesar de ter apresentado uma bela versão da canção ela não foi muito longe em seus concertos, sendo deixada para trás logo depois. Como você já deve ter notado nessa altura do texto, este disco de Elvis apresenta diversos "Covers" de músicas de outros artistas interpretadas pelo Rei, sendo que esta também não foge à regra. Como escrevi antes, nos palcos Elvis sempre procurava proporcionar um belo concerto para seu público. Se fosse necessário ele realmente iria utilizar de todo esse repertório alheio para apresentar um bom show para os presentes. Destaque para o ótimo desempenho do guitarrista James Burton que seria um substituto à altura de Scotty Moore.
THE WONDER OF YOU (Baker Knight) - Sucesso do cantor Ray Peterson em 1959. Talvez o grande sucesso desse disco, a música conseguiu um grande feito para Elvis na Europa: o single acabou chegando ao primeiro lugar na Inglaterra, ficando seis semanas seguidas em primeiro lugar! Os jornais britânicos na época davam como certa uma excursão de Elvis nas ilhas britânicas, principalmente depois desse grande sucesso nas paradas da terra da rainha. Infelizmente, como todos sabemos, Elvis nunca iria realizar essa turnê! Não que ele não desejasse isso, pelo contrário, em muitas entrevistas Elvis deixou claro que adoraria fazer uma turnê europeia mas... no meio do caminho havia um Coronel... Conforme foi desvendado anos depois por Albert Goldman, Elvis não faria shows fora dos EUA enquanto Parker fosse seu empresário! A razão?! Tom Parker era um imigrante ilegal e caso deixasse o país certamente não poderia mais voltar! De qualquer forma essa versão de Elvis Presley foi título do já citado single, que foi lançado em abril de 1970 junto com "Mama Like the Roses" (esta gravada em Memphis em 1969). O single chegou ao nono lugar nas paradas americanas, o que no final resultou em mais um disco de ouro na carreira do cantor.
POLK SALAD ANNIE (Tony Joe White) - Gravada originalmente por seu autor em 1968, "Polk Salad Annie" foi o trampolim que faltava na carreira de Tony Joe White, pois depois que a canção conseguiu chegar no Top 10 americano (um feito nada simples para uma canção com temática bem regional), ele rapidamente se viu entre os grandes nomes da música norte-americana: Elvis logo apresentou sua versão ao vivo em um disco oficial, Jerry Lee Lewis o chamou para participar de seu álbum "Southern Roots" e ele saiu em turnê com a banda Creedence Clearwater Revival e James Taylor. Quando Elvis voltou aos palcos em 1969 ele logo procurou revitalizar seu repertório e correu atrás de canções que lhe proporcionassem apresentar material de sucesso da época. Nessa segunda temporada em Las Vegas o grande momento de suas apresentações seria exatamente quando Elvis começava os primeiros acordes de "Polk Salad Annie", levando todos à loucura, pois Elvis enlouquecia a plateia durante a apresentação desta canção em decorrência de seus requebros.
Apesar de alguns colunistas se apressarem em afirmar que Elvis estava voltando aos bons tempos, aos anos 50 nesses concertos, a verdade era que pouca coisa havia sobrevivido de seu velho estilo de dançar. Os tempos eram outros e Elvis realmente iria se utilizar de uma nova coreografia baseada principalmente em uma de suas grandes paixões, as artes marciais e em especial o Karatê! Aliás a influência não iria só ser sentida na forma de dançar de Elvis mas também em seu figurino. Suas famosas roupas, chamadas de jumpsuits, nada mais eram que adaptações do quimono utilizado nesse tipo de arte corporal. Embora tenha utilizado variações na temporada de 1969, principalmente de cores escuras, foi nessa segunda temporada que Elvis acabou encontrando o que procurava em termos de roupa para suas apresentações. Com predominância em branco, as famosas jumpsuits entravam de forma definitiva nos shows de Elvis, criando a imagem definitiva do cantor durante os anos 70. Aliás o termo "definitivo" se aplica bem também no que diz respeito a canção em si no que se refere à carreira de Elvis. "Polk Salad Annie" foi o tipo de música que entrou nos concertos de Elvis e nunca mais deixou de frequentar a set list das apresentações. Ela caminhou ao seu lado até o fim de sua vida!
Elvis apresentou diferentes variações dessa canção ao longo dos anos, em versões mais completas e longas ou em versões mais simplificadas e curtas, tudo dependendo da época e da disposição do cantor. Apesar de existir centenas e centenas de registros de Elvis cantando "Polk Salad Annie", sendo alguns bem interessantes, posso afirmar sem medo de me equivocar que essa é a versão mais completa e mais correta do ponto de vista técnico. Muito bem executada e cantada por Elvis a versão se mostra à altura para sustentar o título de master definitiva. A lamentar apenas o fato de que grande parte dos shows apresentados por Elvis nessa segunda temporada não foram filmados, sendo que ótimas performances se perderam para sempre. Porém, para felicidade geral, a temporada seguinte seria muito bem documentada pois seria nela que seria realizado o filme "That's The Way It Is" (Elvis é assim, 1970) que registrou para a posteridade uma destas grandes performances de Elvis de forma magistral. Apesar daquela versão não ser melhor que essa, só o fato de terem filmado Elvis a apresentando com todos os cuidados técnicos que a canção e o concerto merecem, já justifica plenamente a existência desse maravilhoso filme.
YESTERDAY (Lennon / McCartney) - Vamos encarar a realidade: os anos 60 foram dos Beatles! Essa década, considerada uma das mais produtivas e maravilhosas na história da música mundial, se tornou símbolo de revolução artística, social e política! Durante esse período único na história os Beatles reinaram absolutos, sem nenhum concorrente à vista! Seus discos chegavam rapidamente aos primeiros lugares, vendiam milhões de cópias em poucas semanas e o quarteto era literalmente idolatrado pela juventude da época! E onde estava Elvis Presley durante os anos 60?! Infelizmente ele estava naufragando em Hollywood, participando de alguns dos mais estúpidos filmes já produzidos! Que tristeza! Aquele que sempre foi apontado como um dos maiores representantes da revolução do rock'n'roll na década de 50 agora era satirizado e ridicularizado por causa de seus filmes patéticos, de suas trilhas sonoras ridículas e de suas atuações constrangedoras! Depois que deixou Hollywood Elvis partiu para uma cruzada com o único objetivo de apagar esse verdadeiro "buraco negro" de sua carreira e voltar ao trono que sempre lhe pertenceu de direito. Em muitos aspectos ele conseguiu voltar lá, principalmente no período que vai de 1968 a 1973. Infelizmente depois daí Elvis, por problemas pessoais causados pelo uso excessivo de drogas, acabou novamente sofrendo uma série de reveses que novamente nublariam seu grande talento.
De qualquer maneira ficaram para sempre os registros desse grande cantor, como esse de "Yesterday". O maior sucesso musical de todos os tempos na opinião de muitos especialistas. A música mais gravada da história do Pop mundial. Estes são apenas alguns títulos que esta imortal canção dos Beatles ostenta. Paul McCartney pensou em chamar esta maravilhosa canção de "ovos mexidos", felizmente mudou de opinião. Ela foi lançada originalmente no LP "Help" em 1965 quando o grupo britânico estava no auge do sucesso. A versão de Elvis foi gravada em Las Vegas, no ano de 1969, naquela que foi sua verdadeira volta aos palcos, pois sua última apresentação havia sido em 1961! Uma maravilhosa interpretação que deixa registrado para a história uma pequena amostra do grande talento do Rei do Rock para essa música fenomenal.
PROUD MARY (John Forgerty) - Essa canção foi lançada originalmente pelo grupo Creedence Clearwater Revival em single no final de 1968. Chegou ao segundo lugar nas paradas e se tornou grande sucesso do conjunto quando incluída no álbum "Bayou Country" um ano depois. Esse era considerado um dos melhores conjuntos de Rock / Country daquele período, principalmente na opinião de feras como John Lennon. Aqui vemos nitidamente a tentativa de Elvis em contrabalançar sua carreira. Ao mesmo tempo em que gravava hits de cantores como Tom Jones e Neil Diamond, simplesmente para agradar o tipo de público padrão de Las Vegas, Elvis procurava também compensar tudo com temas de grupos de rock que estavam na moda como o Creedence. A versão de Elvis Presley ao vivo tem pique, embalo, ótimo arranjo e o mais importante de tudo: uma inspirada interpretação por parte do Rei do Rock. Embora essa seja uma das versões mais populares dessa música, a regravação de Tina Turner um ano depois, é considerada pela crítica especializada como a melhor. Embora não concorde com essa visão tenho que realmente dar o devido crédito a Tina Turner por sua versão, que sem dúvida é maravilhosa.
Já no que se refere a sua trajetória dentro da carreira de Elvis a música seria outra desse disco que iria se tornar parte constante dentro do repertório de shows de Elvis. Embora não a tenha gravado em estúdio de forma oficial podemos encontrar uma versão bem interessante dela durante os ensaios do filme "Elvis On Tour" (leia abaixo a crítica). Ela também está presente no melhor disco ao vivo de Elvis nos anos 70, o famoso "Madison Square Garden". Como acontece com "Polk Salad Annie", cada versão tem suas peculiaridades que variam de acordo com o gosto do freguês! Assim certamente cada um tem seu registro preferido. De minha parte escolho essa como a mais perfeita tecnicamente e a do disco "Madison Square Garden" como a de melhor pique e emoção! É fato notório a grande qualidade das versões das primeiras temporadas de Elvis em Las Vegas. Com o decorrer dos anos a qualidade iria diminuir na mesma proporção em que Elvis ia ficando entediado com a falta de desafios a cada nova temporada em Vegas. Por essa razão as três primeiras temporadas de Elvis em Las Vegas são realmente imbatíveis no quesito de profissionalismo e perfeição técnica por parte dele.
WALK A MILE IN MY SHOES (Joe South) - Alguns autores, de forma precipitada, escreveram que essa canção seria a exceção à regra desse disco, ou seja, seria a única versão original de Elvis Presley presente no On Stage. Todas as demais seriam apenas versões de Elvis para músicas conhecidas de outros artistas. Isso é um equívoco dos grandes. A canção já havia sido lançada antes por seu autor Joe South. Esse aliás não é apenas um compositor de Elvis como muitos afirmam. Pelo contrário, Joe South tem uma carreira firmada, com grandes sucessos como o single "Games People Play" de 1969. Além de grande cantor, premiado inclusive com o almejado prêmio Grammy, Joe é um dos mais gravados autores do Sul dos EUA, tendo ganhado versões de suas músicas nas vozes de artistas prestigiados como Lynn Anderson, Jerry Reed e Deep Purple. De qualquer maneira essa forte identificação entre a canção e a carreira (e a vida de Elvis também) é plenamente justificada, pois sua letra pode ser vista como um retrato perfeito dos caminhos percorridos pelo cantor na última década de sua carreira. Preste atenção no teor da canção e reflita bem se ela retrata bem ou não o tortuoso caminho percorrido pelo Rei do Rock nos anos setenta, tanto que acabou sendo utilizada como título da ótima caixa, com cinco CDs, lançada pelo grupo alemão BMG (Atual dono dos direitos autorais das canções do cantor) nos anos 90. Acompanhado por sua banda Elvis nos brinda com outro grande momento. Infelizmente a música não se firmou dentro dos concertos e também foi logo abandonada por Elvis. De qualquer maneira ela virou um símbolo dessa segunda temporada do cantor em Las Vegas, o que não deixa de ser um grande mérito para a música em si.
LET BE ME (Bécaud / Delanoe / Curtis) - Talvez um dos grandes problemas de Elvis Presley era o fato dele não escrever suas próprias músicas. Sempre dependendo das criações de outras pessoas, Elvis ficava muitas vezes de mãos atadas. Quando lançava uma nova canção dentro de sua discografia nos anos 70 era praticamente certo que seria apenas uma regravação de uma obra original de outro cantor ou grupo musical. Esse disco é um retrato fiel disso. Todas as dez músicas eram regravações de Elvis das músicas de outras pessoas. Duas coisas aconteciam quando Elvis colocava no mercado um disco desses. A primeira era a falta de novidades e de impacto nas paradas de sucesso. Embora sejam ótimas versões elas não tinham mais potencial (com raras exceções) de liderar as paradas dos EUA, pois já tinham chegado lá nas vozes de seus intérpretes originais. Outro problema era que Elvis estava agora vivendo em uma outra atmosfera musical, muito diferente da que ele viveu nos anos 50. Naquela década um cantor como Elvis, que praticamente apenas gravava material providenciado pela sua gravadora, sem criar nada de original, até poderia ser encarado como algo natural. Ele se colocava apenas como um intérprete e nada mais. Porém nos anos 60 a situação mudou de figura. Depois de toda aquela revolução musical, a originalidade se colocou em primeiro plano. Um artista era tão mais valorizado quanto mais original fosse sua obra.
Nesse ponto Elvis e suas regravações de temas de outros artistas era visto com certo desprezo por vários setores da crítica e principalmente do público jovem daqueles anos. Afinal a quem interessaria ouvir temas que já tinham sido lançados antes e que já estavam saturados nos ouvidos das pessoas daquela época? Certamente apenas os fãs de Elvis iriam apreciar com mais intensidade um disco como esse. Para o consumidor médio o interesse decaia pois afinal de contas não havia nada de novo nesse tipo de lançamento, o material já era por demais conhecido. Em vista disso os discos de Elvis, principalmente aqueles gravados ao vivo em Las Vegas, começaram a circular apenas entre seus próprios fãs. Let Be Me, a canção que fecha o disco é providencial nesse aspecto. Era uma regravação (a versão foi originalmente gravada pelo cantor francês Gilbert Bécaud com o título de "Jet'appartiens" pelo selo EMI em 1960, sendo que a primeira versão em língua inglesa foi a do grupo vocal "The Everly Brothers"), não trazia novidades para o mundo musical da época e por essa razão não conseguiria se sobressair nas paradas, mesmo sendo uma belissima versão, lindamente cantada por Elvis. Por essa e outras razões é que muitos discos de Elvis em sua última década de carreira não conseguiram atingir ótimos números em termos de cópias vendidas, mesmo sendo alguns deles o que de melhor Elvis produziu em toda sua vida artística.
Elvis Presley - On Stage - February 1970: / 2º temporada Las Vegas (Fevereiro de 1970): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo)/ Bob Lanning (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin (piano) / The Imperials (vocais) /The Sweet Inspirations (vocais) (vocais) / John Wilkinson (guitarra) / Bobby Morris e sua Orquestra / Produzido por Felton Jarvis / arranjado por Felton Jarvis, Glen D. Hardin, Glenn Spreen, Bergen White / Ficha Técnica / 1º temporada Las Vegas (agosto de 1969) (Yesterday e Runaway): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo)/ Ronnie Tutt (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin (piano) / The Imperials (vocais) /The Sweet Inspirations (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / John Wilkinson (guitarra)Felton Jarvis / arranjado por Felton Jarvis, Glen D. Hardin, Glenn Spreen, Bergen White / On Stage / February 1970: Gravado no Showroom do International Hotel, Las Vegas / Data de Gravação: agosto e setembro de 1969 e 15 a 19 de fevereiro de 1970 / Data de lançamento: junho de 1970 / Melhor posição nas charts:#13 (EUA) e # 2(UK)
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Elvis Presley - FTD Made In Memphis
Ao analisarmos um CD temos que levar em conta vários fatores intrínsecos e extrínsecos. Fatores extrínsecos são aqueles inerentes a aspectos externos do disco, tais como direção de arte, critérios de seleção musical e marketing. Critérios intrínsecos dizem respeito ao conjunto da obra em si, ao valor musical das próprias faixas, das músicas enfim. Só após colocar todos esses aspectos em relevo é que podemos sintetizar nossa opinião e darmos uma análise isenta e correta do ponto de vista material. No caso desse novo lançamento da FTD (Follow That Dream) verificamos que os problemas surgem logo no começo da avaliação. A primeira grande constatação é de que falta um critério mais relevante para justificar sua confusa seleção musical. Colocar em um mesmo CD canções de épocas distintas da carreira de Elvis, mesmo que sob o fraco pretexto de que todas foram gravadas em Memphis (Made in Memphis), é no mínimo tenebroso.
Aliás esse foi um aspecto bastante debatido e levantado entre os colecionadores mais conceituados, ou seja, a fragilidade do critério seletivo desse CD, da escolha errática, equivocada e pouco criteriosa do repertório. O fã de longa data de Elvis Presley sabe que uma coletânea sem valor é aquela que simplesmente amontoa várias canções desse artista sem nenhum laço mais relevante as unindo, com o único propósito de vender para os leigos de forma fácil, rápida e certa. Se isso vale para a discografia oficial de Elvis, vale também para os chamados discos alternativos, como esses do selo FTD. Causou-me grande admiração a falta de critério desse lançamento, principalmente porque os lançamentos anteriores, praticamente todos eles, sempre respeitaram a ordem das sessões, a organização que sempre deve se ter em vista em se tratando da obra de um artista tão complexo e multifacetado como Elvis. Misturar em um mesmo produto canções produzidas em 1969 no American Studios com faixas gravadas no Stax em meados dos anos 70 causa arrepios e perplexidade entre os especialistas. O fato de se tratar de um CD essencialmente de takes alternativos só agrava a situação de desconforto.
Partindo do que foi exposto chegamos logo à conclusão que nesse ponto o CD deixa a desejar, pois não há um bom critério de seleção que justifique sua existência. Uma das primeiras coisas que levo em conta quando um novo título de Elvis chega em minhas mãos são sem dúvida os critérios organizacionais utilizados. Se há mistura de faixas de momentos diversos da carreira de Elvis, já perde pontos logo no primeiro momento em que analiso seu valor. Isso é justamente o que ocorre aqui. Qualquer pessoa, com o mínimo conhecimento sobre Elvis, sabe muito bem que ele evoluiu nitidamente ao longo dos anos, o Elvis de 1969 no American, por exemplo, pouco se assemelha ao Elvis da fase final de sua carreira. É importante que se respeite a ordem cronológica histórica das sessões em que as canções foram gravadas ou então, pelo menos, que se respeite o disco oficial em que foram unidas pela primeira vez, fora disso, quando se misturam músicas de períodos distintos, fica sempre um inconfundível cheiro de bagunça e desorganização no ar, ou na pior das hipóteses de falta de conhecimento daquele que organizou a coletânea (o que certamente não é o caso aqui). De qualquer maneira essa união causa certamente perplexidade aos estudiosos do tema em questão. O segundo ponto negativo é a direção de arte, uma das mais fracas dessa coleção. Usando como base e fundamento fotos amadoras tiradas por fãs, que são apenas interessantes, o CD perde pontos significativos no critério visual, em sua beleza estética, que se é um fator extrínseco, e sem dúvida o é, não é menos importante se formos considerar e levar em conta a opinião dada pelos colecionadores e consumidores logo após seu lançamento. Se um livro não pode ser julgado pela capa, um CD muito menos, temos que nos curvar, infelizmente, ao mundo narcisista em que vivemos para dar a devida importância à beleza externa do produto e nesse ponto o CD Made In Memphis também perde pontos nesse aspecto. Não é mal feito ou mal elaborado, nada disso, é apenas banal e corriqueiro. Essas são apenas observações iniciais. Seguindo em frente na análise, vamos agora verificar cada faixa e julgá-la em seus valores intrínsecos, ou seja, deixemos os aspectos apenas periféricos para entrar naquilo que é mais importante, o valor artístico das faixas e sua importância dentro da discografia do artista.
O CD abre com três takes alternativos do American Studios, sendo In The Guetto a primeira delas. Essa canção tem grande importância na carreira de Elvis Presley porque foi uma resposta por parte dele às constantes críticas de que seu material dos anos 60 era infantil e bobo, apolítico e supérfluo, passando à margem de tudo o que ocorria dentro da conturbada sociedade daquela época. Realmente, se formos levar em conta as trilhas sonoras de seus últimos filmes, temos que dar razão à opinião daqueles que atacavam Elvis. O grande valor sempre dado às músicas do American provêm justamente disso, do salto qualitativo imenso que representou para a carreira do cantor. Depois do American Elvis foi novamente valorizado e colocado no patamar a que ele sempre teve direito. A faixa é praticamente idêntica à oficial, exceto pela ausência do acompanhamento vocal (que era quase sempre adicionado depois, pelo menos no que diz respeito a essa sessão em particular). Já as seguintes, You'll Think Of Me e Who I Am apresentam modificações. A primeira é, do ponto de vista de arranjos, bem próxima da versão que conhecemos, mas é nitidamente diferente, principalmente pelo deslocamento do refrão e de uma ou outra pequena modificação feita por parte de Elvis. A segunda é um dos grandes momentos de Elvis no American. Na primeira tentativa temos uma levada bem mais lenta que a do take definitivo que foi para o disco. Depois de uma pequena pausa, Elvis recomeça já em sua velocidade normal. Apesar de não ter sido a escolha de Elvis, a primeira tentativa me pareceu bem interessante (pena que dure tão pouco!). O que mais impressiona é saber que esse é apenas o take 4!!! Isso nos dá uma ideia de como Elvis conseguia ótimos resultados no menor tempo possível, pois apesar de ser um dos primeiros takes alternativos, ele é praticamente perfeito, com mínimas alterações em relação ao que foi escolhido para o material definitivo que iria fazer parte do disco oficial.
As três canções seguintes foram lançadas no mesmo disco, Promised Land. Assim como o disco anterior, esse também foi gravado nos estúdios Stax em Memphis. Porém, ao contrário do Raised On Rock, ele sempre foi considerado um disco mais coeso e de melhor qualidade técnica. It's Midnight retrata bem isso. Na 11ª tentativa, Elvis e seu grupo produzem uma belíssima versão de uma canção que por si só já é linda. Poderia muito bem entrar na versão final do disco, sem nenhum problema, sendo inclusive superior em certos aspectos e em determinados momentos à versão oficial. A mesma situação se repete depois com Thinking About You, que conta com um ótimo dedilhado e um belíssimo arranjo, um dos melhores dos anos 70. Mais um exemplo da grande capacidade de Elvis em gravar material inédito rapidamente! Em apenas três tentativas Elvis praticamente fecha e chega na versão original e definitiva. Não há praticamente nenhuma diferença entre essa versão e a que entrou no LP. Compare as duas e perceba bem o que estou afirmando. Fechando a parte de "Promised Land" do disco chegamos ao conhecido country You Asked Me To. Essa é bastante recomendada para quem gosta de sentir como foi a gravação, como estava o clima dentro dos estúdios. Aqui podemos ouvir Elvis relaxado, conversando e rindo bastante. Charlie Hodge novamente comparece também com sua conhecida risada e Elvis também se diverte muito! O que é mais interessante é que Elvis não desafinava nem mesmo quando estava dando suas conhecidas gargalhadas! Isso é o que eu chamo de brincadeira no tom certo!
As seis faixas seguintes são todas das Jungle Sessions. Muito já se escreveu sobre essas sessões. Para alguns um retrato triste de um artista na fase final de sua vida, absorto totalmente num estado tão deplorável que mal tinha ânimo para se dirigir a um estúdio de verdade e gravar seu último disco; para outros um momento precioso e raro que captou os últimos registros fonográficos da genialidade ímpar de Elvis Presley, mesmo que sob condições adversas. Qualquer posicionamento extremado aqui nessa questão é condenável. Nem podemos destituir essas faixas de sua qualidade inerente e nem podemos também celebrar a total falta de profissionalismo por parte de Elvis na gravação dessas músicas. O fato dele realmente não ter entrado em um estúdio da RCA demonstra inequivocamente seu desinteresse pela qualidade final dessas gravações. Outro fator que também pouco ajudou foi a incrível sucessão de fatos bizarros que antecederam sua descida à Jungle Room. Mas a despeito de todos os problemas que cercaram o registro dessas faixas não podemos ficar menos do que surpresos com o produto final, pois se há um ponto fora de qualquer divergência é a constatação que o material, apesar de tudo, é de excelente nível. As três primeiras faixas desse conturbado período, Solitaire, She Thinks I Still Care e Moody Blue são sintomáticas nesse sentido. A primeira traz Elvis conferindo e dando uma geral na letra e na harmonia antes das gravações e fazendo uma pequena piada com o cantor Neil Sedaka. Quando o take realmente começa podemos notar como Elvis rapidamente entra no espírito da faixa. Em poucos segundos ele sai de um estado de animação e brincadeira para assumir rapidamente o tom melancólico e pesado que a canção exige. Depois ainda afirmam que ele não era um bom ator! She Thinks I Still Care sempre foi uma das minhas preferidas, apesar de sempre ter dado preferência à versão alternativa mais ao estilo blues (que pode ser conferida na caixa "Essential Elvis 70's"). Essa versão que está presente nesse CD é ainda mais introspectiva que a do disco oficial e apesar disso não deixa de ser bem interessante, principalmente pela presença mais incisiva de teclados. A versão de Moody Blue pouco traz alterações relevantes, fato que se repete nas três últimas faixas dessas sessões, Bitter They Are, Harder They Fall, Love Coming Down e For The Heart são praticamente idênticas ao material que já conhecemos tão bem, tirando é óbvio as devidas proporções. De todas elas destaco apenas For The Heart. É uma bela música que retrata muito bem e de forma cristalina o caminho que Elvis vinha tomando em seus últimos anos.
O antes aclamado Rei do Rock ia cada vez mais direcionando sua carreira para um tipo de música mais centrada em suas raízes, leia-se country music. Essa guinada nem sempre era bem vista por um grupo determinado de fãs, justamente àqueles que se tornaram seus admiradores nos anos 50 e eram basicamente órfãos da primeira geração do Rock'n'Roll. Essa situação de desconforto nunca foi totalmente superada. Apesar de Elvis ter realmente deixado seu velho estilo de lado, principalmente em suas sessões de estúdio dos anos 70 (com exceções como Promised Land), é inegável que o country sempre o acompanhou e fez grande parte de sua fase inicial também. Para explicar essa situação a melhor resposta mesmo tenha sido justamente àquela dada pelo próprio Elvis. Quando questionado porque não gravava mais rocks Elvis sempre respondia que não encontrava mais material de qualidade desse ritmo e que para ele nem sempre seria proveitoso trazer à tona velhas músicas dos anos 50, por exemplo. Depois de ouvir todos os takes alternativos do CD finalmente chegamos na parte realmente importante desse CD do selo FTD. O mais interessante desse lançamento talvez seja mesmo as músicas que Elvis gravou de forma caseira na casa de Sam Thompson em Memphis. Aliás se formos analisar bem, chegaremos à conclusão que a única razão da existência desse título do selo FTD se encontra justamente nesses registros. Foi a forma encontrada por Ernst Jorgensen para lançar esse material. São cinco canções, Baby, What You Want Me To Do, I'm So Lonesome I Could Cry, See See Rider, Spanish Eyes e That's All Right, todas gravadas em novembro de 1973. Ninguém aqui seria tolo o bastante para partir para uma avaliação de suas qualidades técnicas, muito longe disso, pois sua importância transcende esse tipo de atitude. O que importa é a oportunidade única de se ouvir Elvis em um momento de descontração ao lado de pessoas que desfrutavam de sua intimidade na época. Elvis vinha se recuperando de vários problemas de saúde, inclusive estivera hospitalizado vários dias e ainda se encontrava em um período de convalescença. Foi justamente nessa situação que ele e Linda Thompson resolveram visitar a casa de Sam logo na primeira semana de novembro daquele mesmo ano. Elvis, Linda e Rick Stanley (filho de Dee, a madrasta de Elvis e guarda costas de plantão) foram lá com a intenção de fazer uma visita de cortesia, conversar um pouco e se descontrair para esquecer um pouco seus problemas pessoais e de saúde. O que era para ser apenas um encontro casual e de amenidades acabou mudando de foco quando Elvis começou a promover uma animada "sessão" ao lado de seus anfitriões (estavam presentes também os pais de Sam Thompson e sua esposa, Louise). Elvis deu uma canja e nem se importou ao perceber que Sam havia ligado seu pequeno gravador para deixar registrado para a história aquela "performance" do Rei do Rock. Aliás ele chegou mesmo a brincar com o fato ao dizer de forma jovial: "Ladies and Gentleman, this is being recorded tonight live for a new album..."
O clima de descontração fica evidente até mesmo por pequenas coisas que são lembradas pelo próprio Sam em seu depoimento, como o latido de seu velho cachorro, o telefone tocando ao fundo (nada mais do que a cozinheira de Graceland avisando que o jantar estava pronto!), as piadas e as conversas triviais entre os presentes. O Tape finaliza com um poema declamado pelo próprio Elvis. Se você pensa que é algo muito profundo ou sério esqueça, Elvis dá sua pequena contribuição e todos caem na gargalhada (com destaque para Linda, que perde logo a compostura e mais me parece uma hiena histérica, para dizer a verdade!). Depois de ouvir essas faixas você pode se perguntar: teriam elas algum valor realmente? Na minha forma de ver as coisas, sim, certamente. Para um fã elas são interessantes pois trazem um Elvis totalmente à vontade, praticamente em casa, num clima familiar e ameno. Quem conhece a história de Elvis sabe que isso não é pouca coisa. Principalmente em seus últimos anos Elvis realmente quase nunca abria mão de sua privacidade. Não deixa de ser um momento raro podermos ouvir, mesmo que por um mínimo espaço de tempo, Elvis em seus momentos de descontração e privacidade. Só isso já seria um argumento bastante forte para demonstrar que essas faixas são realmente preciosas. Talvez elas teriam muito mais relevância se fossem músicas inéditas, canções que não fizessem parte de nenhum de seus álbuns. Como são muito conhecidas e sempre fizeram parte de seus shows e discos de estúdio o interesse decai para os colecionadores. Mas, em seu contexto, elas são muito bem-vindas.
Se há uma grande contribuição desse lançamento, ele certamente é a prova de que os responsáveis pelo catálogo de Elvis, Ernst Jorgensen e Roger Semon, estão correndo atrás, indo em busca de coisas inéditas deixadas pelo imortal cantor. Ainda não se chegou a um grande achado, a um grande tesouro perdido, mas quem sabe se no futuro não seremos brindados com um conjunto de faixas realmente inéditas, um verdadeiro registro de valor imensurável para os fãs e estudiosos em geral? Só nos resta esperar e torcer para que esse dia chegue. Enquanto ele não vem, não deixe de ouvir esse novo lançamento do selo FTD. Ele pode ser encarado muito bem como um ensaio de algo muito valioso que ainda está por vir. O saldo final do disco não deixa de ser positivo. Apesar de todas as observações que escrevi aqui, não posso retirar desse novo lançamento da FTD seus méritos. Qualquer novo material envolvendo o nome de Elvis sempre será recebido como um grande evento por todos os que se interessam pela obra e pela vida desse grande ícone cultural de nosso tempo. Que venham sempre e sempre novos lançamentos, novos registros inéditos, pois assim o interesse em torno do nome de Elvis sempre se renovará, sempre terá um inegável sabor de novidade! Que Elvis renasça em todos esses títulos, nesse e nos anos que virão pela frente e que sua chama seja sempre reacendida pelos admiradores desse fenomenal artista.
Pablo Aluísio.