terça-feira, 12 de julho de 2005
Elvis Presley - Elvis Country (1971)
Quando o álbum foi anunciado pela RCA Victor houve quem dissesse que o disco não iria vender bem. Ele não era direcionado nem para os fãs do distante Elvis roqueiro dos anos 50 e nem tampouco para os que vinham acompanhando seu estilo Made in Hollywood dos anos 60. A capa, por si só, também chamava a atenção, trazendo um Elvis garotinho em uma das suas primeiras fotos, ao mais puro estilo sulista de Tupelo, a pequenina cidadezinha onde nasceu. Elvis também fez questão que ao lado da foto mais bem trabalhada, por uma bonita direção de arte, estivesse a fotografia original, com ele ao lado de seus pais, Vernon e Gladys. Ter a oportunidade de colocar sua querida mãe na capa de um de seus discos o encheu de orgulho e saudades. Intitulado "Elvis Country (I'm 10,000 Years Old)", o disco foi um sucesso de vendas, mostrando que a opção de se abraçar o country de vez era muito bem-vinda por parte de seu público. A seleção musical era das melhores. Elvis selecionou o material que iria gravar e fez uma mescla de antigas canções - algumas de sua época de infância - com sucessos recentes. Ele queria homenagear seus primeiros anos, quando ouvia country nas estações de rádio de Memphis, com o melhor que Nashville vinha produzindo no momento. O disco, lançado no começo de 1971, acabou antecipando muito do caminho que Elvis iria trilhar naqueles anos.
1. Snowbird (G. Mac Lellan) - O álbum "Elvis Country" começa com uma música que curiosamente não foi gravada nas sessões de junho de 1970, mas sim nas sessões de gravação realizadas em setembro desse mesmo ano. Essa belíssima música, que ganhou algumas versões ao vivo em 1971, estava nas paradas na voz da cantora canadense Anne Murray, quando Elvis a gravou. De melodia leve e com uma letra bem poética a canção se sobressaiu por causa do estilo, digamos, enigmático de sua letra. Para entender bem isso basta passear pela mensagem do autor. Vide os versos: "Então pássaro da neve me leve com você para onde for / Para as terras de brisas gentis / Onde as águas pacíficas correm". O destaque dessa música é a guitarra que não é executada por James Burton, que sequer participou das sessões de setembro e sim de outro músico talentoso, Chip Young. Em termos discográficos porém a canção nunca teve um papel de destaque dentro da discografia de Elvis. Como já era um sucesso musical na voz de outro artista, não era mesmo de se esperar que ela se tornasse campeã de popularidades na rádios, agora na voz de Elvis. Esse aspecto é bem curioso, porque muitas belas gravações de Elvis nunca se destacaram nas paradas justamente por esse tipo de situação. Os radialistas apenas consideravam versões interessantes de sucessos de outros artistas interpretados por Elvis Presley. Pensando assim não abriam muito espaço na programação. Apenas os fãs, ao comprarem os discos do cantor, acabavam conhecendo essas novas versões. Para a mídia em geral eles não passavam de covers - por mais absurdo que isso possa parecer. Pensando nisso Felton Jarvis, o produtor de Elvis, tentou, sem muito sucesso, levar Elvis a gravar composições disponibilizadas pela RCA Victor especialmente para Elvis. Eram músicas compostas para serem lançadas em primeira mão na voz de Presley. Infelizmente nem sempre Elvis gostava dessas músicas, preferindo cantar ou sucessos do momento de outros cantores ou então revitalizar velhas canções do passado de que gostava tanto. Essa falta de novidades em seu repertório acabou prejudicando o sucesso de certos álbuns e singles, pois não despertavam muito a atenção do mercado na época.
2. Tomorrow Never Comes (E. Tubb / J. Bond) - Se a música anterior era caracterizada pela simplicidade e bucolismo, "Tomorrow Never Comes" chamava atenção pela suntuosidade. Seu estilo e ritmo lembram uma marcha dos tempos da guerra civil americana, daquelas que as tropas iam cantando pelas estradas em direção ao front de batalha. Essa canção também era bem antiga. Gravada originalmente na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, a composição era bem conhecida pelos artistas de Nashville. O cantor e compositor Ernest Tubb, que a tinha gravada no passado, havia trabalhado ao lado do Coronel Tom Parker. Era um velho conhecido. Seu estilo honky tonk não foi seguido por Elvis em sua versão. O cantor preferiu trazer mais dramaticidade e impacto, ignorando suas origens mais simples, para dar consistência à obra. Em minha forma de ver acabou se tornado umas das melhores gravações de Elvis durante a Nashville Marathon. Consistente e extremamente bem arranjada, ainda hoje impressiona.
3. Little Cabin On The Hill (L. Flatt / Bill Monroe) - Já "Little Cabin On The Hill" cativa pela extrema simplicidade. Essa canção nem estava na lista da RCA Victor para essas sessões. Durante o intervalo em que Elvis aproveitou para beber uma Pepsi-Cola, ele chamou o músico Charlie McCoy para perto de si e perguntou: "Ei Charlie, como era mesmo aquela velha música do Bill Monroe?". Aproveitando a deixa em sua gaita ele tocou as notas e Elvis lembrou-se imediatamente da letra. Bill Monroe havia composto "Blue Moon of Kentucky", uma das primeiras músicas gravadas profissionalmente por Elvis, ainda nos tempos da Sun Records. Por isso havia um certo carinho por parte de Presley em relação à sua obra. Elvis então cantarolou os primeiros versos que diziam "Tonight I’m alone without you my dear..." e ali mesmo decidiu que iria gravar a música. De todas as gravações que fizeram parte desse disco "Elvis Country" essa é seguramente uma das mais originais. Uma volta aos bons e velhos tempos de sua infância e adolescência.
4. The Fool (N. Ford) - A música "The Fool" (literalmente em português "O Tolo") nunca se destacou dentro da discografia de Elvis. Era aquele tipo de faixa que servia para completar cronologicamente um disco. Essa gravação tem uma linha melódica singular, cantada com uma certa quebra de ritmo, sempre presente ao longo de sua execução. Só acelera um pouco depois quando Elvis tenta trazer alguma energia. Particularmente aprecio o arranjo bem country and western. Aqui a banda TCB poderia muito bem ser substituída por qualquer grupo regional das montanhas do Kentucky. Aliás seria mais do que adequada. No geral é isso, um country um pouco preguiçoso que poucos pararam para prestar maior atenção. Importante dizer também que você não deve confundir essa "The Fool" com "Fool" que é outra música, essa do álbum "Elvis" de 1973. De qualquer forma o álbum finalmente chegou ao mercado americano em janeiro de 1971, para aproveitar o período de férias. Na época muitos criticaram o Coronel Parker e a RCA Victor por eles terem escolhido a época errada para lançar o disco que deveria ter sido lançado no natal, em dezembro de 1970, uma vez que era justamente nas festas de fim de ano que os discos de Elvis vendiam bem, muito acima da média. Esse cochilo porém acabou não atrapalhando muito as vendas do disco. Ele conseguiu chegar entre os 12 álbuns mais vendidos da seletiva lista Billboard Hot 100. Uma ótima posição para Elvis naquela época, ainda mais se tratando de um disco de música country. E na lista especializada de country music o disco se saiu ainda melhor, atingindo a sexta posição. Nada mal.
5. Whole Lot-ta Shakin' Goin' On (D. Williams / S. Davis) - Há uma certa dose de exageros nas críticas que são feitas à gravação de Elvis do clássico "Whole Lotta Shakin' Goin' On". Talvez isso venha do fato dessa canção ser muito associada ao roqueiro Jerry Lee Lewis. É fato que a versão de Elvis não tem o pique da versão de Lewis, porém é inegável que esse sabor mais country que Elvis e banda trouxeram para a música também a tornou bem irresistível. Um fato curioso é que após a gravação da música, o produtor Felton Jarvis, sem conhecimento de Elvis, adicionou um exagerado arranjo de metais. Quando a versão foi mostrada para o cantor para sua aprovação final, ele odiou tudo. "Tirem essas cornetas daí" - falou Elvis sem meias palavras. Jarvis era um excelente produtor, porém em determinados momentos podia mesmo exagerar na dose.
6. Funny How Time Slips Away (Willie Nelson) - Depois de tanta densidade, nada melhor do que ouvir algo mais relaxante. Esse parece ter sido a principal proposta de "Funny How Time Slips Away". Elvis adorava essa canção, tanto que a levou para os palcos, para os concertos, por anos a fio. Por essa razão há centenas de versões ao vivo da música em muitos CDs bootlegs, além das que fazem parte da discografia oficial. Willie Nelson a compôs originalmente. Cantor e compositor do universo country americano, Nelson tinha sua própria maneira de interpretar. Um estilo vocal muito distante do barítono Elvis Presley. Sabiamente Elvis resolveu ignorar aquele timbre vocal, adaptando a música para o seu próprio jeito. Ficou obviamente menos country (Nelson evoca demais o estilo mais caipira da country music) e por essa razão mais acessível ao público em geral. Tudo resultando em outro excelente e marcante momento desse álbum.
7. I Really Don't Want To Know (H. Barnes / D. Robertson) - "I Really Don't Want To Know" é seguramente uma das melhores músicas do repertório de "Elvis Country". Essa linda balada country foi composta por Don Robertson. Esse compositor era velho conhecido na discografia de Elvis. Chegou a compor uma canção para o primeiro disco do cantor, em 1956. A faixa era "I´m Couting on You". Depois seguiu compondo para Elvis ao longo dos anos. Especialmente nos anos 60 escreveu lindas canções românticas como "There's Always Me" e "Starting Today". Era um pianista talentoso, criador de melodias maravilhosas. A versão original dessa faixa do "Elvis Country" porém não foi escrita para Elvis, mas sim para Eddie Arnold. Lançada como single em 1954 acabou se tornando bem conhecida no sul. De certa maneira chamou a atenção de Elvis, ainda na sua juventude, quando ainda dava os primeiros passos em sua vida profissional como cantor.
8. There Goes My Everything (D. Franzier) - Outro country dos anos 60 foi "There Goes My Everything". Em 1965, ainda sob efeitos da Beatlemania, o cantor regional Dallas Frazier lançou seu single, conseguindo um sucesso espantoso para uma música country, ainda mais naquela época onde o rock vivia uma de suas fases de maior impacto dentro das paradas. Ele logo chamou a atenção de Elvis, que estava sempre sintonizando as estações de rádio country de Memphis. Acabou apreciando muito a música e quando teve a chance registrou sua versão pessoal. O interessante é que Elvis imprimiu um tom bem dramático em sua gravação, algo que beirava a sacralidade. Talvez por apresentar essa característica a canção nunca se tornou uma unanimidade entre os fãs. Na Inglaterra fez um sucesso inesperado na voz de Elvis, chegando na sexta posição entre os singles mais vendidos. E Elvis não desistiu dela, fazendo uma nova gravação de sua melodia, com uma letra gospel, chamada de "He Is My Everything". Pelo visto ele tinha mesmo um carinho especial por essa composição.
9. It's Your Baby You Rock It (S. Milete) - A melhor versão de "It's Your Baby You Rock It" você não ouvirá no disco oficial lançado em 1970. O melhor take dessa gravação foi lançado muitos anos depois na caixa "Walk a Mile in My Shoes: The Essential '70s Masters". Nesse box finalmente ouvimos a versão que deveria ter sido a master, bem completa e com ótimo arranjo. De qualquer forma essa é uma faixa que não se destacou como merecia dentro da discografia de Elvis. Também composta pelo autor Shirl Milete, da estranha "Life", ele aqui foi mais convencional, menos esquisito. Sua maior qualidade é de fato a melodia, dando destaque para os solos do guitarrista James Burton. O interessante é que Elvis a gravou originalmente, porém a RCA Victor não trabalhou na música. Assim acabou não se tornando um sucesso. Uma pena.
10. Faded Love (B. Willis / J. Willis) - "Faded Love" nunca foi muito conhecida. Também nunca se tornou um sucesso na carreira de Elvis. Era uma velha canção country, lançada originalmente por Bob Wills and The Texas Playboys em 1950. Elvis sempre ouviu muito rádio, principalmente em sua juventude. Por isso acabou se lembrando dessa antiga gravação, uma representante tardia do gênero Western swing. A letra era uma lembrança emocional e nostálgica de Bob Wills em relação ao seu pai falecido. Nada de amores impossíveis, como muitos pensam. Patsy Cline, uma cantora que Elvis particularmente apreciava, também fez sua versão em 1963.
11. I Washed My Hands In Muddy Waters (J. Babcock) - Durante as sessões em Nashville, em junho de 1970, durante uma improvisação, Elvis lembrou desse sucesso country chamado " I Washed My Hands In Muddy Waters". Apenas um artista como ele, sempre ligado no universo da música country do sul, poderia recordar de uma música como essa. Isso porque esse era aquele tipo de hit bem regional, que só tocava mesmo nas rádios do sul do país, ficando praticamente desconhecida nos grandes centros urbanos como Nova Iorque ou Los Angeles. Essa música fazia parte do repertório do cantor Stonewall Jackson, considerado um dos melhores intérpretes do estilo que ficou conhecido como Honky Tonk. Essa vertente do country tinha esse nome porque nasceu da improvisação de artistas em suas apresentações nos bares do sul. Para agradar ao público nesses lugares valia tudo, inclusive inventar músicas na hora, bem na base do improviso mesmo. As letras eram criadas no momento, sem muita sofisticação, praticamente uma criação coletiva entre o cantor e seus músicos. O público também ajudava, aplaudindo ou vaiando a nova canção que nascia ali, no calor do momento. E foi durante uma apresentação desse tipo que um compositor conhecido apenas como "cowboy" Joe Babcock criou essa divertida "I Washed My Hands In Muddy Waters". Como ele não tinha muito nome dentro do universo country de Nashville, a vendeu para Jackson, que a gravou no pequeno selo Imperial. O single de Jackson não fez qualquer sucesso. A história porém não terminou aí. Johnny Rivers, um ano depois do lançamento do single de Jackson, finalmente conseguiu chamar a atenção para a canção. Ele gravou sua própria versão e essa conseguiu emplacar entre as 10 mais tocadas nas rádios do sul no verão de 1966. Depois surgiu outra versão, dessa vez com o grupo vocal The Spencer Davis Group, até Elvis finalmente também gravar a canção em 1970, encerrando o ciclo. Como foi ensaiada praticamente como uma jam session, a gravação de Elvis sempre foi considerada a mais extrovertida de todas elas. A levada é de diversão mesmo, com pouca coisa sendo levada à sério. O produtor Felton Jarvis até mesmo pensou em arquivá-la por isso, mas depois resolveu arriscar, a colocando dentro do repertório do álbum "Elvis Country" para representar o Honky Tonk, tão popular entre os que curtiam a country music do sul dos Estados Unidos.
12. Make The World Go Away (H. Cochran) - Essa música em sua versão original alcançou primeiro lugar em 1965 e a versão de Elvis difere dela, pois aqui a orquestra está presente de forma bem pesada e Elvis a canta de forma bem mais emocionante. Definitivamente uma das músicas que exigiu mais do vocal de Elvis, como ele mesmo admitiu, principalmente em sua parte final. A mais bonita do disco e uma ótima escolha para encerrá-lo. Ganhou versões em 1970 , 1971 e uma em 1973. Você poderá ouvir uma versão ao vivo no CD The Impossible Dream. Uma das melhores músicas da década para Elvis, havia sido cantada pouquíssimas vezes em 1970 e aqui ganha sua versão ao vivo definitiva. Após essa temporada Elvis a abandonaria de seus shows, só a cantando uma vez mais em agosto de 1973. Por fim uma informação interessante: o cantor brasileiro Jerry Adriani gravou uma versão em nossa língua dessa música de Elvis. A nova versão foi chamada de "Deixe o Mundo Girar". Ficou boa a nova gravação, não há como negar.
13. I Was Born Ten Thousand Years Ago (Arr. Elvis Presley) - Esta música foi "picotada" entre as faixas do LP "Elvis Country". Ficou estranho. No disco "Elvis Now" ela aparece completa da forma como foi gravada em meados de 1970. A ideia de colocar a canção unindo todas as músicas do disco foi do produtor Felton Jarvis. Isso surgiu porque Elvis sugeriu a ele que colocasse como subtítulo do LP a frase: "I'm 10.000 Years Old" ou "Eu tenho 10 mil anos". Sem dúvida isso retrata a face esotérica do Rei do Rock, que na época estava muito interessado em estudar as religiões orientais, tais como Budismo e Hinduísmo, que pregavam a reencarnação da alma até o atingimento do nirvana, fase no qual o espírito não precisaria mais retornar à terra, pois já estava devidamente evoluído. Segundo os cálculos de Elvis, sua primeira reencarnação havia sido há 10.000 anos, o que justificava a frase como subtítulo do disco. Todo esse misticismo acabou chegando ao Brasil e influenciando duas pessoas muito importantes em nossa cultura. Elvis Presley foi um dos maiores ídolos do baiano Raul Seixas. Isso não é segredo pra ninguém, mas, o que pouca gente sabia é que a música "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" - além de um pleonasmo vicioso - é também uma homenagem ao velho Rei do Rock. O som de Raul foi gravado em 1976, seis anos depois de Elvis gravar "I Was Born About Ten Thousand Years Ago". O título é igualzinho e o conteúdo das letras é bem parecido (compare as duas), abordando temas mitológicos, bíblicos e históricos. A versão de Raul é creditada a Raul Seixas e Paulo Coelho e não faz referência nenhuma à música gravada por Elvis, que é de domínio público. Paulo Coelho foi procurado pela redação do programa Fantástico da TV Globo e, por e-mail, admitiu: "Realmente, a letra foi inspirada na música do Elvis. Era uma maneira de Raul prestar sua homenagem ao seu maior ídolo".
Single I Really Don't Want to Know / There Goes My Everything - Outra boa notícia em termos comerciais para a RCA Victor foi a boa receptividade do single "I Really Don't Want to Know / There Goes My Everything" nas paradas, chegando inclusive a ser premiado com um disco de ouro. Desde o lançamento do primeiro single de Elvis nos anos 70 (com as canções "Kentuck Rain / My Little Friend") o cantor vinha em uma bem sucedida sucessão de boas vendas de seus compactos, sempre premiados com discos de ouro ou platina. Uma onda muito boa que Elvis vinha surfando desde seus primeiros shows em Las Vegas. E esse novo single não seria exceção. A má notícia para os fãs brasileiros era saber que "Elvis Country" não seria lançado em nosso país. Só nos anos 90 a filial nacional completou essa lacuna imperdoável na discografia brasileira, finalmente lançando o vinil em nosso país. Antes tarde do que nunca.
Elvis Presley - Elvis Country (1971): Elvis Presley (voz, violão e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / Farrel Morris (percussão) / Weldon Myrick (steel guitar) / Bobby Thompson (Banjo) / Buddy Spicher (violino, rabeca) / The Jordanaires (vocais) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (vocais) / Al Pachucki (engenheiro de som) / Arranjado e produzido por Felton Jarvis e Elvis Presley / Data de Gravação: 4 a 8 de junho e 22 de setembro de 1970 nos Estúdios B da RCA em Nashville / Data de Lançamento: janeiro de 1971 / Melhor posição nas charts: #12 (EUA) e #6 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - I Really Don't Want To Know (1970)
No lado B a RCA Victor colocou a canção "There Goes My Everything". Essa canção foi originalmente lançada em 1965 na voz do cantor country Dallas Frazier. Ele foi um veterano da música regional norte-americana, estando na ativa desde a década de 1950. Inclusive surgiu no mercado no mesmo ano em que Elvis se profissionalizou. Enquanto Elvis lançava "Thats All Right / Blue Moon of Kentucky", Dallas surgia no meio com o single "Space Command". Um fato curioso aconteceu na discografia inglesa, quando a RCA resolveu inverter a ordem das músicas, colocando "There Goes My Everything" como lado A. A estratégia fez com que o single vendesse mais no Reino Unido do que nos Estados Unidos! A versão de Elvis ficou boa, embora não seja unanimidade. De qualquer maneira esse compacto chegou nas lojas e alcançou apenas a vigésima primeira posição entre os mais vendidos da Billboard Hot 100. A RCA esperava por vendas melhores já que se tratavam de músicas inéditas, mas não foi bem isso o que aconteceu. Para alguns o fato do compacto trazer duas músicas country influenciaram sobre isso, já que Elvis acabava ficando restrito a um público mais do sul, que curtia o som de Nashville.
Elvis Presley - I Really Don't Want To Know / There Goes My Everything (RCA Victor, 1970) Data de lançamento: Dezembro de 1970 (Estados Unidos) - Março de 1971 (Inglaterra) - Agosto de 1971 (Brasil) / Melhor Posição nas Paradas: #21 (Estados Unidos) #6 (Inglaterra) / Produção: Felton Jarvis / Data de gravação: I Really Don't Want To Know (7 de junho de 1970) - There Goes My Everything (8 de junho de 1970) / Selo: RCA Victor.
Pablo Aluísio.
domingo, 10 de julho de 2005
Elvis Presley - You'll Never Walk Alone (1971)
No total conseguiram reunir nove músicas (abaixo da média da época que era em torno de 10 a 12 canções para se completar um álbum). Mesmo assim como o disco chegaria em preço promocional nas lojas não haveria muitos problemas. O novo disco foi chamado de "You'll Never Walk Alone". Uma canção simplesmente maravilhosa que puxaria a venda dessa nova coletânea. Apesar de alguns equívocos na seleção o fato é que esse disco realmente era um atrativo e tanto para o colecionador da época. Estamos falando de um tempo em que não existia internet e nem muitos lançamentos de Elvis no mercado. Por isso qualquer novidade, qualquer música menos conhecida que chegava nas lojas, já era uma boa notícia para os fãs. O repertório era bem eclético. Além da já citada "You'll Never Walk Alone", clássico gospel gravado por Elvis em 1967, o disco trazia ainda gravações dos distantes anos 1950 (como "I Believe", "It Is No Secret (What God Can Do)", "(There'll Be) Peace in the Valley" e "Take My Hand, Precious Lord"), músicas de filmes (como a excelente "Let Us Pray" de "Change of Habit" e "Sing You Children" de "Easy Come, Easy Go"), além de versões esparsas de gravações religiosas feitas por Elvis durante os anos 1960 (como "Who Am I?" e "We Call on Him"). Para quem estava em busca de músicas difíceis de achar no mercado na época era uma bela e muito bem-vinda surpresa.
1. You'll Never Walk Alone (Oscar Hammerstein II / Richard Rodgers) - É muito curioso perceber que em 1967 Elvis gravou em Nashville a canção "You'll Never Walk Alone". Essa era uma velha canção, dos tempos da II Guerra Mundial, que havia sido inclusive usada em musicais da época. Elvis ignorou esse passado e remodelou a música ao seu estilo. Tecnicamente a gravação de 67 não é perfeita, mas os produtores da RCA Victor resolveram aproveitar mesmo assim, com pequenas imperfeições, por causa da inspirada interpretação do cantor. A faixa deveria ter sido lançada em um álbum convencional (ou seja, que não fosse uma trilha sonora de filme) que a RCA planejava há tempos. Infelizmente desistiram da ideia.
2. Who Am I? (Rusty Goodman) - Na falta de uma definição melhor poderíamos dizer que essa gravação era mais um daqueles momentos de Elvis em estúdio que ficavam completamente perdidos dentro de sua discografia. Muitas vezes Elvis gravava um grande lote de novas músicas em Nashville ou em Memphis e depois todo o pacote era levado para a central da RCA Victor em Nova Iorque onde eles escolhiam quais seriam lançadas e de que forma (em álbuns, singles, etc). Essa canção religiosa havia sido escrita por Rusty Goodman, membro de um grupo vocal gospel sulista chamado The Goodman Family Revival ou como era mais conhecido, The Happy Goodman Family. Esse tipo de artista só uma pessoa nascida e criada no sul dos Estados Unidos e mais ainda, que fizesse parte da comunidade evangélica, poderia conhecer. Era um tipo de grupo de nicho mesmo, bem específico. Como Elvis adorava a sonoridade de quartetos gospel, não é de se admirar que ele conhecesse muito bem a obra desse grupo religioso. Afinal ele era um colecionador desse tipo de disco. A sua versão porém só veio muitos anos depois, sendo gravada em fevereiro de 1969.
3. Let Us Pray (Buddy Kaye / Ben Weisman) - Essa faixa foi escrita para o filme "Change of Habit (no Brasil, "Ele e as três noviças). Esse filme, da fase final de Elvis em Hollywood, contava no elenco com a talentosa atriz Mary Tyler Moore, recentemente falecida. Ao contrário de muitas comédias musicais fracas que Elvis estrelou após 1965, essa produção tinha um bom roteiro e uma direção segura do cineasta William A. Graham. Elvis canta essa música na cena final do filme, quando ele está se apresentando durante uma missa em uma bela e histórica igreja católica de Nova Iorque. É um hino religioso, mas com ótimo ritmo, parecendo até mesmo um rock animado. Ideal para quem ainda não entendeu que o gospel foi um dos elementos mais importantes na criação e surgimento do Rock ´n´ Roll nos anos 50. Destaque também para o belo coro feminino da gravação, naquela época uma novidade e tanto nas gravações de Elvis.
4. (There'll Be) Peace in the Valley (Thomas A. Dorsey) - Essa era uma velha música religiosa de autoria de Thomas A. Dorsey, a aclamada "(There'll Be) Peace in the Valley". Tudo bem que era um clássico dentro do repertório religioso de Elvis, tendo sido a primeira música gospel cantada pelo cantor na TV americana, ainda na década de 1950. O problema era mesmo de saturação. Se já havia sido lançada tantas vezes antes no "Elvis Christmas Album", porque lançá-la mais uma vez aqui, em um disco que poderia abrir espaço para outras canções desse estilo que não tinham tido o mesmo espaço? Uma pena que o próprio Elvis não tinha controle (ou até mesmo interesse) na seleção musical de seus discos. Caso ele olhasse com mais cuidado sobre isso coisas assim não aconteceriam.
5. We Call on Him (Fred Karger / Sid Wayne / Ben Weisman) - Essa faixa acabou sendo mal lançada, em março de 1968, como lado A de um single que não foi devidamente promovido pela gravadora. Esse foi certamente um dos maiores erros da RCA Victor pois a performance de Elvis era magistral. O lado B desse single trazia "We Call on Him", outra gravação dessa mesma sessão de setembro de 1967 em Nashville que a RCA também aproveitou para colocar nesse álbum. Outra boa faixa desperdiçada. Ficou anos fora de catálogo. Para os fãs brasileiros a situação era ainda pior porque o compacto nem sequer foi lançado no Brasil. Descaso completo da filial da RCA em nosso país. De qualquer forma era outra bela canção do repertório mais intimista de Elvis. Uma pena que ambas as músicas, tanto seu lado A como seu lado B, tenham sido tão equivocadamente lançadas no mercado. Gravações que tinham grande potencial nas paradas, acabaram passando despercebidas pelos fãs de Elvis.
6. I Believe (Ervin Drake / Irvin Graham / Jimmy Shirl / Al Stillman) - Para completar o disco a RCA usou de material que já naquela época estava saturado, pelos inúmeros relançamentos, como as constantes reedições do disco natalino "Elvis Christmas Album". Embora a música "I Believe" tenha sido lançada inicialmente no EP gospel "Peace in The Valley", o fato é que ela também fez parte do repertório original do disco de natal. Assim não era uma novidade para os colecionadores, muito pelo contrário. Soava como mais um caça-níquel. A composição feita para ajudar espiritualmente os soldados americanos na Guerra da Coreia já não tinha mais o mesmo impacto de antes.
7. It Is No Secret (What God Can Do) (Stuart Hamblen) - Essa música foi gravada por Elvis em janeiro de 1957. É no mínimo curioso perceber que mesmo na fase mais roqueira de sua carreira, como nesse ano em que ele estrelaria o sucesso cinematográfico "Jailhouse Rock", Elvis jamais havia deixado de lado o gospel, as músicas religiosas de sua infância e juventude. Essa canção data de 1951, quando foi lançada pela primeira vez pelo grupo vocal tradicional The Ink Spots. Na época o single chamou a atenção pois conseguiu ocupar espaço até mesmo entre os mais vendidos do ano! Não era mais apenas um lançamento de nicho (no caso religioso), mas sim da principal lista de sucessos do país, a conhecida Hot 100 da Billboard. Um feito e tanto. Some-se a isso o fato de Elvis adorar quartetos gospel e você entenderá porque ele a gravou, assim que foi possível.
8. Sing You Children (Fred Burch / Gerald Nelso) - Outra canção retirada da fase Hollywoodiana de Elvis é "Sing You Children". É divertido perceber como a discografia de Elvis era bagunçada naqueles tempos. Os executivos misturavam músicas avulsas, restos de filmes, gospel e o que mais viesse na cabeça. Algo impensável nos dias de hoje, ainda mais se tratando de um artista tão importante como Elvis Presley. Pois bem, A RCA resolveu encaixar "Sing You Children" do filme "Easy Come, Easy Go" (Meu Tesouro é Você, no Brasil) para completar o disco. Escrita por Fred Burch e Gerald Nelson, essa música foi apresentada no filme numa sequência nonsense (típica da segunda metade dos anos 60, em musicais) onde Elvis com um pandeiro nas mãos tenta atravessar o público e fica perdido no meio das pessoas. Cinematograficamente falando não é nada memorável, mas tudo é deixado em segundo plano por causa do ótimo visual do cantor, com figurino todo preto, impecável em sua forma física. Afinal Elvis compensava qualquer problema com sua presença carismática em cena.
9. Take My Hand, Precious Lord (Thomas A. Dorsey) - Outra música de Thomas A. Dorsey e que também fez parte do compacto duplo "Peace In The Valley" foi "Take My Hand, Precious Lord". Ela também foi incluída aqui nesse álbum. Aliás creditar a autoria dessa canção ao reverendo Dorsey é algo historicamente meio impreciso. Esse tipo de hino religioso tem na verdade autoria incerta, pois vinha sendo cantado nas igrejas evangélicas históricas desde os primórdios da colonização americana. Quem a realmente compôs? Não se sabe ao certo, apenas se sabe que Dorsey a registrou, após criar uma ou duas linhas de melodia e harmonia. Como sua fonte de criação é bem imprecisa (pode ter sido até mesmo uma composição coletiva nas capelinhas do sul), fica tudo pelo meio do caminho. De uma forma ou outra Elvis adorava esse hino e resolveu também deixar sua versão.
Elvis Presley - You'll Never Walk Alone (1971) - Faixas do EP "Peace In The Valley": Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Faixas da trilha sonora do filme "Change of Habit": Elvis Presley (voz) / Dennis Budimir (guitarra) / Mike Deasy (guitarra) / Howard Roberts (guitarra) / Robert Bain (baixo e guitarra) / Max Bennett (baixo) / Carl "Cubby" O'Brien (bateria) / Roger Kellaway (piano) / B.J. Baker, Sally Stevens, Jackie Ward (backup vocals) / The Blossoms: Darlene Love, Jean King & Fanita James (backup vocals) / Data de lançamento: 22 de março de 1971 / Selo: RCA Camden / Melhor posição nas paradas: 69 (Billboard 200).
Pablo Aluísio.
sábado, 9 de julho de 2005
Elvis Presley - I Feel So Bad / Wild in the Country
Para acalmar um pouco os ânimos dos críticos que afirmavam que depois que voltou do exército Elvis só gravava baladas, a RCA Victor resolveu lançar no mercado um novo single do roqueiro Elvis Presley. Era uma forma de lembrar a todos que ele ainda continuava imbatível nesse estilo musical. Detalhe importante: a canção principal não era uma balada romântica, nem um rock dos anos 50, mas sim um blues conceituado. O que no fundo era algo bem reverencial ao passado. Afinal o blues negro era uma das escolas musicais que deram origem ao próprio rock. Então nada melhor do que ir mais fundo, direto nas origens.
"I Feel So Bad" era uma releitura acelerada (e excelente) de Elvis para canção originalmente gravada em 1953 por seu autor, Chuck Willis. Esse foi um nome importante do som de Atlanta. Cantor e compositor, Willis foi um artista de peso e importância no surgimento e popularização do R&B para o público branco na década anterior. Infelizmente morreu muito jovem, com apenas 30 anos, em 1958. Elvis sempre foi um admirador do estilo dançante e contagiante de Willis, tanto que quando entrou em estúdio para gravar seu novo single ele lembrou desse antigo hit sulista. Os arranjos foram os mais próximos possíveis ao do cantor original. Agindo assim Elvis mostrava um respeito intencional com a canção e seu autor. Anos depois, quando retornou aos palcos, Elvis novamente ressuscitaria um velho sucesso de Chuck, a famosa e muito conhecida "C.C. Rider" ou "See See Rider", que usaria geralmente no começo de suas apresentações. Certamente ao olhar para o passado Elvis tinha plena noção do que estava fazendo.
Para o lado B a RCA encaixou a música tema do novo filme de Elvis que chegava nas salas de cinema naquele momento, "Wild In The Country", tema composto sob encomenda pelos estúdios Fox. No Brasil o filme recebeu o bonito nome de "Coração Rebelde". Era uma maneira de Elvis procurar por roteiros melhores, algo mais dramático. No cinema ele sempre quis seguir os passos de Marlon Brando e James Dean, embora Hollywood muitas vezes não concordasse com isso. Já no mundo musical as coisas eram um pouco diferentes. Ele tinha que manter o posto de cantor número 1 da América, o maior vendedor de discos do país. Era complicado tentar ser um ator de sucesso ao mesmo tempo em que tentava manter sua coroa de Rei do Rock.
Como Elvis vinha de uma sucessão de hits número 1, criou-se novamente uma grande ansiedade no mercado. Os números iniciais porém mostraram uma recepção bastante morna ao single. As rádios até se empenharam em divulgar a nova música de Elvis, mas apesar de sua grande qualidade a canção não conseguiu virar um hit como "It´s Now or Never". Com muito esforço da RCA, a música só conseguiu alcançar um suado quinto lugar na semana de seu lançamento, caindo várias posições nas semanas seguintes. Na Inglaterra se saiu bem melhor, chegando entre as quatro mais vendidas, mas mesmo por lá o resultado ficou abaixo do que era esperado, afinal todos aguardavam por mais um grande sucesso na voz do cantor mais popular do mundo. De qualquer maneira, se não foi o sucesso de vendas tão esperado, pelo menos ganhou boas resenhas nos principais jornais americanos. Aquele era o espírito que tinha transformado Elvis no fenômeno musical que todos conheciam. Era uma gravação com pique, energia, garra e sentimento, mostrando que a velha chama roqueira ainda brilhava na alma de Elvis Presley
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Singles - That´s The Way It Is (1970)
As duas canções do single eram inegavelmente boas. "I've lost You" surgia como versão de estúdio, ao contrário do álbum que traria a versão ao vivo gravada em Las Vegas. Como é de praxe toda gravação registrada em estúdio tem melhor qualidade técnica. A canção é bem escrita e tem bons arranjos, mas há um problema em sua estrutura, com excesso de refrão sendo repetido ao longo de toda a duração. Algo que acaba cansando os ouvidos, apesar da excelente performance de Elvis. Ele inclusive acreditou mesmo no sucesso da música, a apresentando diversas vezes em sua temporada de Las Vegas. Depois que o filme ficou pronto ele desistiu da canção e ela praticamente sumiu de seus concertos nos anos que viriam.
"The Next Step is Love" vinha no lado B. Essa música tem uma melodia que soa agradável aos ouvidos. A letra também lembra as músicas das trilhas sonoras dos anos 60, por causa de sua singeleza. A RCA acreditava que essa melodia tinha vocação para virar hit, mas isso definitivamente não aconteceu. No final das contas o single " I've lost You / The Next Step is Love" conseguiu chegar apenas na trigésima segunda posição entre os mais vendidos na época original de seu lançamento. Um resultado comercial modesto demais para um nome tão forte dentro da indústria fonográfica como Elvis Presley.
A capa trazia na discografia do cantor uma curiosidade. Era a primeira vez que um disco seu o trazia usando óculos! A foto foi tirada durante os ensaios para a temporada em Las Vegas e como sempre acontecia nesses momentos Elvis mantinha seus óculos pois havia sido aconselhado por médicos a fazer isso pois ela tinha desenvolvido glaucoma. Com a iluminação das filmagens da MGM ele resolveu manter seus olhos protegidos. Já nos palcos Elvis raramente usava óculos, o que lhe trouxe problemas oculares por causa dos canhões de luz próprios da época. Curiosamente os covers de Elvis não dispensam os óculos de "aviador" nem mesmo quando estão no palco, talvez para reforçar a caracterização do cantor (esse modelo acabou ficando bem marcado com essa fase de Elvis). Então é isso, temos aqui um single muito bem sucedido comercialmente, embora a longo prazo não tenha sido tão marcante assim pois Elvis logo deixaria de cantar as canções em seus concertos. O público também pareceu se esquecer rapidamente delas, apesar do sucesso inicial.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 8 de julho de 2005
Elvis Presley - Wear My Ring Around Your Neck
O Coronel Parker sabia que a situação realmente não era boa e em conversação com a RCA planejou uma forma de manter o nome de Elvis sempre em evidência no mundo musical. O plano era relativamente simples. Lançar regulamente singles inéditos no mercado - geralmente a cada 4, 5 meses – para que Elvis não fosse completamente esquecido. Todo o material já havia sido gravado antes de Elvis ir para o serviço militar. Devidamente arquivado, seria lançado no mercado aos poucos, de forma gradual. Assim as canções certamente iriam se tornar sucesso, tocando nas rádios e criando uma falsa impressão nas fãs de que Elvis ainda estava na ativa, produzindo.
O primeiro single a seguir essa nova estratégia foi “Wear My Ring Around Your Neck / Doncha Think It's Time”. O lado A era composto por um dos melhores rocks gravados por Elvis na década de 50. Ótimo ritmo em performance inspirada do cantor. Curiosamente embora seja de excelente qualidade “Neck” não conseguiu se destacar nas paradas. O máximo que conseguiu foi alcançar um suado terceiro lugar por uma semana apenas (muito pouco em se tratando de single inédito de Elvis Presley). Para alguns analistas a culpa seria da letra considerada pouco significativa. Para outros o que pesou mesmo foi a falta da presença de Elvis na promoção da música.
O lado B não era menos interessante, “Doncha Think It's Time” tinha um ritmo próprio, sui generis, com uma vocalização muito singular por parte de Elvis. O ritmo soava nervoso, pausado, com explosões vocais em momentos chaves da canção! Infelizmente também não conseguiu chamar a atenção e foi solenemente ignorada na época. De forma injusta acabou virando um “Lado B obscuro” e nada mais. Aliás o próprio Elvis parece ter esquecido dessas músicas pois nos anos seguintes jamais as cantou ao vivo e nem as utilizou em qualquer outro projeto de sua carreira. Caíram realmente no esquecimento dentro da discografia de Elvis. A RCA Victor se esforçou bastante na divulgação do compacto, mas os resultados foram desanimadores, sendo o primeiro single de Elvis desde março de 1957 a não chegar ao topo da parada. O resultado comercial morno já indicava os problemas pelos quais a gravadora iria enfrentar, afinal vender canções inéditas de um soldado servindo à pátria na distante Alemanha não era nada fácil, nem mesmo para Elvis Presley!
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Elvis e os discos de Natal
Elvis não escapou dessa realidade. E foi relativamente cedo que ele gravou um disco natalino. Em 1957, com apenas um ano de sucesso internacional na carreira, a RCA Victor colocou no mercado o "Elvis Christmas Album", o disco de natal de Elvis. É curioso porque o LP chegou nas lojas em uma época em que Elvis era considerado um roqueiro rebelde, uma figura fora do sistema mesmo. Foi uma surpresa porque ninguém pensava que um roqueiro como ele iria cantar músicas de natal. Era como ver James Dean cantar Jingle Bells em um disco de natal. Os jovens rebeldes da época, com jaqueta de couro, cabelos cheios de brilhantina, andando em suas motocicletas possantes, poderiam esperar por tudo, menos por algo assim.
Para os críticos porém o disco surpreendeu. Não havia bregas de natal, mas canções de qualidade. O repertório ia do blues ao rock mais característico da época, embora com letras essencialmente natalinas. Para colocar sua marca registrada nas gravações Elvis até mesmo improvisou um verso dizendo para uma garota que Papai Noel viria em um Cadillac! Esse disco, um dos mais vendidos de toda a carreira de Elvis, poderia ser tudo, menos bobo ou careta. Era realmente um grande trabalho do cantor e não desmerecia em nada sua fase de roqueiro rebelde. Outro fato interessante sobre o "Elvis Christmas Album" de 57 é que esse foi o primeiro LP da carreira de Elvis a ter um tratamento de primeira linha em termos de direção de arte. Havia vários brindes dentro do álbum, muitas fotos e trabalho técnico impecável. "Santa Claus Is Back In Town", "Blue Christmas", "Here Come Santa Claus" e "Santa Bring My Baby Back" são consideradas as melhores do disco. Houve ainda um single tardio lançado em 1966 com a canção "If Every Day Was Like Christmas", mas sem muita repercussão. Os Estados Unidos estavam afundando na Guerra do Vietnã e o espírito natalino estava em baixa.
Elvis só voltaria a gravar para o natal muitos anos depois, já na década de 1970. De fato o "Elvis Christmas Album" foi sendo reeditado ano após ano, até chegar em um ponto que a RCA decidiu que seria interessante gravar um novo disco nos mesmos moldes. Era 1971 e Elvis já era um artista diferente por essa época. De fato ele não queria mais gravar músicas de natal. Apenas após muita pressão acabou cedendo. O material faria parte de um disco chamado "Elvis Sings the Wonderful World of Christmas" (Elvis canta o Maravilhoso Mundo do Natal). Esse segundo e último disco natalino de Elvis tem seus defensores, mas também seus críticos. Para muitos é um álbum melancólico, com um Elvis desinteressado nos vocais. O disco foi gravado meio às pressas, com Elvis improvisando com um pequeno grupo de músicos no estúdio e talvez por isso não seja tão tecnicamente perfeito quanto o primeiro disco dos anos 50. Mesmo assim ainda tem belos momentos como "O Come, All Ye Faithful" (uma canção lindamente melancólica) e "Merry Christmas Baby" (um ótimo blues, com performance perfeita de Elvis e banda). No final esse segundo disco natalino de Elvis não vendeu bem e o cantor finalmente desistiu de insistir nesse nicho musical. Papai Noel não voltaria mais a aparecer em sua discografia.
Se isso já foi bem ruim o pior ainda estaria por vir. Em 1971 a RCA Brasil decidiu que não iria lançar o "Elvis Sings The Wonderfull World of Christmas" no mercado brasileiro. A distribuidora nacional entendeu que não havia mercado promissor para um disco de músicas natalinas cantadas por Elvis Presley em nosso país. Nem a segunda edição do "Elvis Christmas Album" com nova capa e renovado repertório que chegou ao mercado americano pelo selo RCA Camden, encontrou espaço no Brasil. Assim, sem outra alternativa, os fãs brasileiros de Elvis precisaram importar todos esses discos diretamente dos Estados Unidos, por preços nada amigáveis. Na era do vinil, onde não havia ainda internet e nem nada parecido, ou se tinha o LP original ou não se tinha nada. As coisas eram bem mais complicadas.
Depois da morte de Elvis a procura por discos do cantor explodiu, como era de se esperar, e assim a RCA Brasil decidiu inventar o disco "O Primeiro Natal Sem Elvis" que nada mais era do que o álbum de natal de 1971, com a mesma seleção musical, capa e encartes. Tudo para aproveitar o momento de comoção pela morte do cantor. O disco até que vendeu muito bem nas lojas, demonstrando que Elvis havia se tornado novamente um grande campeão de vendas no mercado, mesmo que postumamente. Nesse mesmo ano (estamos falando de 1977) três outros discos de Elvis também venderam muito bem no Brasil naquele natal. Um deles foi o "Elvis Disco de Ouro" (até hoje o LP mais vendido no Brasil). Os dois outros discos foram o "Moody Blue" (idêntico ao americano, com algumas cópias em vinil azul especial) e o "Elvis in Concert" (com a trilha sonora do último especial de TV de Elvis, em edição dupla).
Sem Elvis a RCA então fez o que foi possível nos anos seguintes para sempre lucrar com essas gravações natalinas. Novos álbuns foram criados, com novas capas, seleções musicais diferentes, algumas deles misturando as músicas dos dois discos natalinos originais, mas sinceramente falando nenhum desses discos tinham algum valor histórico. A regra era apenas ter a cada fim de ano apenas mais uma coletânea caça-níquel tentando faturar em cima do clima natalino e do nome de Elvis Presley. Por isso para o fã que queira conhecer esse aspecto diferente da carreira do cantor o ideal é apenas ter os dois álbuns oficiais que foram lançados durante sua carreira, quando Elvis ainda era vivo. Todo o resto é apenas subproduto desses dois discos originais.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 7 de julho de 2005
Ele e as Três Noviças
Esse foi o último filme de Elvis Presley. Foi uma produção conjunta entre o canal NBC e a Universal. Na verdade Elvis estava bastante desiludido com Hollywood e por isso sua carreira de ator estava chegando mesmo ao fim. De certa forma a incrível fama de Elvis foi explorada de forma equivocada pelos grandes estúdios de cinema que ao longo da década de 1960 nunca lhe deram papéis melhores ou consistentes. Como tudo o que Elvis fazia se tornava sucesso as produções seguiam sempre a mesma fórmula que ao longo do tempo foi se desgastando cada vez mais. Os roteiros eram simples desculpas para Presley sair cantando uma música atrás da outra até que finalmente se acertava com a mocinha e The End.
O curioso é que esse filme foge dessa linha mais ingênua. As personagens femininas não são jovens bobas que caem aos pés de Elvis por onde ele passa. O personagem que interpreta não é um piloto-aventureiro ou algo que o valha. Aqui Elvis faz o papel do médico John Carpenter que exerce sua profissão num dos bairros mais pobres de Nova Iorque. Em sua luta diária pelo bem estar de seus pacientes ele acaba se tornando amigo próximo de algumas noviças da paróquia local, entre elas a irmã Michelle (Mary Tyler Moore). Curiosamente embora a estória se passe toda em Nova Iorque o filme não foi rodado lá mas sim em estúdio na Califórnia, em Pasadena.
Além do clima mais pé no chão "Ele e as três noviças" também se destaca por ter uma ambientação mais naturalista, inclusive com cenas externas, algo que era incomum nos filmes de Elvis (praticamente todos os anteriores foram rodados dentro de estúdio). O cantor está com ótima aparência física, fruto de sua volta aos palcos em Las Vegas o que o renovou como artista e intérprete. Outro ponto positivo é a trilha sonora que é incrivelmente livre de bobagens que ouvíamos nas produções mais recentes do cantor. Durante um certo tempo se cogitou em exibir o filme na TV americana mas depois o bom senso prevaleceu e o filme chegou finalmente nas salas de cinema em janeiro de 1970. Depois a própria NBC o exibiu em edição cortada para encaixar dentro de sua programação noturna com menos de uma hora de duração, o que deixou a película bem truncada e sem ritmo.
O filme fazia parte do contrato que Elvis assinou com o canal em 1968 onde ficou estabelecido que ele faria um programa de TV (o NBC Special Comeback) e um telefilme - que acabou sendo esse "Change of Habit". Uma das cenas mais lembradas é a sequência final onde Elvis surge cantando dentro de uma Igreja Católica. No saldo final o filme como um todo agrada. É interessante perceber que quando as coisas pareciam melhorar para Elvis no cinema ele finalmente deixou de lado sua carreira de ator. De certo modo ele, ao que tudo indica, se conscientizou que era mesmo um cantor, um músico e não um ator. Melhor assim pois a partir desse ponto ele voltaria aos palcos definitivamente e com ânimo renovado. Os anos 70 estavam nascendo e na nova década que surgia Elvis entraria de corpo e alma em turnês extremamente bem sucedidas, levando sua música para grandes arenas e grandes multidões. Era o começo de uma nova era em sua vida artística. Nesse cenário é bom saber que Change of Habit foi uma despedida digna de Elvis das telas.
Ele e as Três Noviças (Change of Habit, EUA, 1969) Direção: William A. Graham / Roteiro: James Lee, S.S. Schweitzer / Elenco: Elvis Presley, Mary Tyler Moore, Barbara McNair / Sinopse: Médico em um gueto de Nova Iorque tenta levar sua carreira em um dos bairros mais pobres da cidade. Lá conhece três noviças da paróquia local que também estão determinadas a ajudar a carente população local.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - The Elvis Is Back Sessions
quarta-feira, 6 de julho de 2005
Elvis Presley 1976
Só que nem todo o entusiasmo de Elvis conseguiu superar seus problemas. Ele passou a se apresentar com dificuldade, principalmente por causa do peso. Suando muito, esquecendo as letras das músicas, ele começou a ser criticado pelos jornalistas que iam até seus shows. O público, obviamente, comparecia para prestigiar, mas nem sempre ficava plenamente satisfeito. Havia problemas bem visíveis ali, era algo muito claro para quem assistia aos concertos.
Elvis então adotou duas estratégias para se preservar. Ele adotou uma fórmula de atender a pedidos da plateia. Assim caso esquecesse as letras poderia ter uma desculpa em mãos. Também adotou uma longa apresentação de sua banda, com solos de praticamente cada um de seus membros. Geralmente nesses momentos Elvis sentava numa cadeira ou então ia embora para o camarim se recuperar. Em termos de repertório ele introduziu poucas músicas novas. As mais notórias eram "Hurt" e "America, The Beautifull". Uma raridade foi ter cantado "Danny Boy", mas isso foi tão breve e singular que nem sequer serve como uma citação, um exemplo válido de renovação que ele vinha promovendo nos shows.
Pablo Aluísio.