Gary Cooper foi imortalizado como o xerife abandonado à própria sorte pela cidade que defende em "Matar ou Morrer". Ator ícone da era de ouro do cinema americano o astro estrelou dezenas de produções ao longo dos anos. Seus personagens sempre refletiam o ideal americano do desbravador do velho oeste. Mesmo assim ainda brilhou em dramas, filmes de guerra e até comédias leves! Segue abaixo comentários de filmes assistidos desse grande nome.
Matar ou Morrer
Elenco: Esse foi o filme da vida do Gary Cooper e isso meus amigos não é pouca coisa já que Cooper foi um dos maiores nomes da história do cinema americano. Grace Kelly, na flor da idade, esbanja beleza e charme. No elenco de apoio duas curiosidades para os cinéfilos: Lee Van Cleef, que se tornaria um dos "vilões" mais recorrentes em filmes de western nos anos seguintes e Lon Chaney Jr, isso mesmo, o Lobisomen em pessoa dos antigos filmes de terror. Ele aliás tem ótima cena ao lado de Cooper em que diz que "as pessoas não se importam realmente com honra e justiça". / Direção: Excelente, Fred Zinnemann realmente era craque, um cineasta de mão cheia. Existe uma determinada cena que ilustra bem como sua direção é inspirada. Enquanto o xerife caminha pela cidade vazia a câmera dá um travelling e sobe, mostrando toda a solidão e abandono do personagem naquele momento. / Produção: Minimalista. O interessante é que tudo o que foi preciso para contar a estória do filme foi a cidade cenográfica (até bastante despojada) e a estação de trem. Nada mais. É o típico caso em que a produção se resguarda para não atrapalhar o clima psicológico em que vive o xerife naquele momento crucial. / Argumento e roteiro: O roteiro segue em tempo real (uma grande novidade na época). Embora o enredo em si pareça simples, na realidade não é. Seu subtexto traz diversas leituras, inclusive sobre a hipocrisia que reina em toda comunidade humana. Muito interessante, vale a pena procurar e descobrir as diversas entrelinhas que o argumento tenta passar aos espectadores.
Lanceiros da Índia
O filme enfoca a ocupação inglesa nos postos mais avançados da fronteira indiana. Para quem andou cabulando as aulas de história é bom relembrar que durante longos anos o império britânico dominou a Índia. O roteiro obviamente adota a visão do colonizador. Não é para menos, a produção é de 1935 então é lógico que os indianos não iriam aparecer como heróis ou virtuosos. Pelo contrário, os colonizados aqui são retratados como animais traidores e covardes. Já os ingleses são o supra sumo da honra, são à prova de torturas e chegam ao ponto de não revidar fogo inimigo para cumprir ordens dos superiores! Uma situação no mínimo esquisita, vamos convir. Luvas de pelica é pouco! O elenco é liderado por Gary Cooper em um figurino de matar! Roupas espalhafatosas parecem ter sido a marca registrada das tropas coloniais inglesas. Tudo é muito exagerado e chamativo (vide a roupinha do ator aí em cima). Cooper inclusive está muito parecido com Rodolfo Valentino nas cenas - até o famoso bigodinho de Valentino ele adotou! O outro ponto forte de "Lanceiros da ìndia" é sua bela produção. Há ótimas cenas de batalha, inclusive a explosão real de um paiol dos rebeldes da fronteira. Curiosamente apesar de passar uma extrema veracidade em termos de fotografia o filme não foi feito em terras indianas mas sim no americaníssimo Alabama. De qualquer forma não faz diferença. No final das contas "Lanceiros da Índia" é um boa aventura que diga-se de passagem não envelheceu tanto assim apesar dos quase 80 anos de sua realização.
A Árvore dos Enforcados
Roteiro e Argumento: O roteiro do filme foi extremamente bem escrito. A estória se passa toda durante a corrida do ouro numa montanha de Montana. Assim encontramos todos os tipos de personagens grotescos que habitavam esse tipo de local: ladrões, assassinos, estupradores, vigaristas, ou seja, toda a escória do mundo atrás da oportunidade de ficar rico da noite para o dia. Os roteiristas desenvolveram muito bem os personagens do ponto de vista psicológico, mostrando inclusive seus piores lados (até do médico feito por Gary Cooper). / Produção: Filmada em locações a produção é extremamente caprichada. Reconstruíram uma vila de mineradores com tudo o que tinham direito, inclusive lojas, bordéis e tudo o mais. Não poderia ser diferente já que a presença de Gary Cooper já era garantia de boas bilheterias e por isso os produtores não tinham receio de só usar o melhor que Hollywood poderia oferecer na época. / Direção: O filme foi dirigido não só por Delmer Daves mas também pelo ator Karl Malden que não foi creditado na época. Como as filmagens foram extremamente complicadas por causa das locações Karl dividiu a direção com Daves. O resultado foi ótimo como se pode ver nas telas. / Elenco: Gary Cooper era fenomenal. O sujeito passava dignidade e austeridade apenas com um olhar, impressionante. Aqui o mais interessante é o caráter dúbio de seu personagem que esconde fatos obscuros de seu passado até o final do filme. Afinal o que ele tenta tanto esconder? Karl Malden também está excelente. Seu personagem é um porcalhão e a cena em que ele tenta estuprar a personagem de Maria Schell é extremamente ousada para aquela época. Outro destaque do elenco fica com George C Scott, aqui fazendo um curandeiro bebum e vigarista. Ótimo.
Vera Cruz
O filme já começa à toda mostrando o encontro da dupla central, Cooper e Lancaster, numa cena com diálogos totalmente cínicos e dúbios. De certa forma isso se repetirá em todo o restante da fita. Curioso porque até mesmo o personagem de Gary Cooper parece não ter muitos escrúpulos. Coronel do exército confederado ele agora vaga pelo deserto mexicano para vender sua mão de obra ao grupo que lhe pagar melhor, ou seja, é um mercenário. Já o personagem de Burt Lancaster é bem pior, ladrão de cavalos, mentiroso e trapaceiro, desde o começo do filme já sabemos que não há nada o que esperar dele em termos éticos. Algo que se confirma no final quando teremos o tradicional duelo no meio das ruínas de uma cidade mexicana! "Vera Cruz" foi um dos primeiros westerns em que a ação foi colocada em primeiro plano, superando até mesmo os cânones dos faroestes mais tradicionais. Muitos especialistas inclusive qualificam "Vera Cruz" como uma espécie de predecessor do que seria feito no chamado Western Spaguetti. Não chegaria a tanto mas não há como negar que os faroestes italianos iriam utilizar de vários elementos que estão presentes aqui. Um dos elementos é justamente a simplificação dos roteiros em detrimento da ação incessante. A trama da produção na realidade se desenvolve praticamente toda em torno de uma diligência com carregamento de ouro que tenta chegar até o porto de Vera Cruz. No meio do caminho Cooper e Lancaster, que estão protegendo o carregamento ao lado de um pelotão do exército mexicano, vão enfrentando todo tipo de desafios, conflitos e traições (sim, todos querem no final ficar com a fortuna e para isso não medem esforços em trair qualquer um). A produção é muito boa - bem acima da média dos faroestes da época. O figurino dos mexicanos na fita pode até ser considerada exagerado, mas é fiel no final das contas uma vez que eles realmente se vestiam daquela maneira. Em conclusão Vera Cruz é um bom western, talvez um pouco prejudicado pelo excesso de personagens e pirotecnia. Vale pelo carisma de Lancaster e pela presença sempre muito digna do grande mito Gary Cooper.
O Navio Condenado
Outro filme que transita muito bem por diferentes gêneros. Começa como suspense, vira filme de tribunal e se encerra como aventura, com ótimas tomadas submarinas. A primeira coisa que chama atenção em "O Navio Condenado" é o seu elenco! Charlton Heston e Gary Cooper no mesmo filme já é motivo suficiente para o tornar obrigatório para qualquer cinéfilo que se preze. De quebra ainda tem Richard Harris, jovem, em papel coadjuvante que terá grande importância no desenvolvimento da trama. O filme é baseado em um famoso livro britânico, "The Wreck of the Mary Deare", lançado no mesmo ano e talvez por isso sofra um pouco no sentido de se colocar muitas informações em um tempo limitado - não há como escapar, livros e filmes são meios diferentes e o que pode ser estendido em um geralmente não cai bem em outro. Percebi que houve uma preferência por parte dos roteiristas em enfocar no duelo travado entre os personagens de Cooper e Heston na primeira parte do filme! Os efeitos daqueles acontecimentos, que na minha opinião são bem mais interessantes, foram reduzidos nas cenas de tribunal. Mesmo assim o filme prova algumas coisas importantes, entre elas a de que um filme de aventura não precisa ser vazio ou burro, pelo contrário, pode ter uma sub trama muito bem bolada e inteligente, como vemos aqui. O resultado final está mais do que recomendado.
O Grande Segredo
Gary Cooper foi um dos grandes astros de Hollywood nos anos dourados do cinema americano. Como cinéfilo sempre me interessei em assistir filmes antigos e clássicos e Cooper sempre despertou minha atenção em especial. Isso é fácil de explicar porque quanto mais raro se torna a filmografia de um ator do passado mais me interesso em sua carreira e em conhecer seus filmes. Gary Cooper se enquadra perfeitamente nessa situação. Embora tenha feito mais de cem filmes em sua longa carreira em Hollywood raros são os títulos disponíveis do ator para assistir no Brasil. Como todo grande astro ele tinha grande prestígio entre os fãs de cinema no passado, porém o que se percebe é que o fato de ter morrido há quase cinquenta anos dificulta e muito o acesso aos seus filmes. Tirando seus grandes sucessos (como o clássico do Western Matar ou Morrer ou então Sargento York), que foram regularmente lançados por aqui, nada mais se encontra. A realidade é que existe uma lacuna enorme de títulos pois quase 90% de sua obra cinematográfica permanece inédita em nosso país. Então foi com grande satisfação que recentemente tive a oportunidade de assistir um de seus filmes menos conhecidos. Trata-se de O Grande Segredo, filme de espionagem de 1946, lançado logo após o final da II Grande Guerra Mundial. O interessante dessa película é que aqui Cooper foi dirigido por um dos grandes diretores da história do cinema, Fritz Lang. Só por essa razão o filme já seria extremamente curioso, para não dizer obrigatório. Confesso que pouco sabia sobre o roteiro, a repercussão ou a importância desse momento de Cooper no cinema, que para minha surpresa foi quase que completamente esquecido. O astro, que sempre se dava melhor em filmes de Western aqui faz um papel bem atípico em sua carreira, interpretando um cientista recrutado pelo órgão governamental de inteligência norte-americano. Sua missão é tentar resgatar uma importante cientista que poderia ser usada pelos alemães para a construção da bomba atômica nazista. O filme tem ótimo desenvolvimento e diálogos. Cooper está bem contido em sua interpretação. Geralmente ele interpretava o tipo caladão e tímido, porém virtuoso ao extremo. Aqui ele troca o rifle pelo giz. Não deixa de ser engraçada a cena em que ele aparece fazendo cálculos para "passar o tempo"! O filme é pura diversão e deve ter empolgado bastante os militares recém chegados na volta ao lar depois do fim da Guerra. Se tenho uma crítica a fazer em relação ao filme é em razão de seu final, que lembra bastante o epílogo do clássico Casablanca. Mas isso é de menor importância. O que realmente importa é que isso em nada comprometeu a ótima experiência de conhecer mais um filme da extensa - e bastante desconhecida - filmografia do mito Gary Cooper. Agora com o surgimento do Blu Ray bem que as produtoras poderiam olhar com mais atenção a quase completa ausência de filmes de Cooper no mercado brasileiro. Os admiradores da época de ouro de Hollywood agradeceriam bastante.
Sargento York
Roteiro e Argumento: O filme é baseado na história real do soldado Alvin York. Ele era um simples fazendeiro do Estado rural do Tennessee que foi convocado para lutar na I Guerra Mundial. Religioso passou por uma crise de consciência por ter que ir lutar e matar inimigos na Europa. O interessante é que sua vida no campo foi vital para seu sucesso no conflito pois era exímio atirador. Acabou se tornando conhecido nacionalmente e virou herói após ter matado vários atiradores alemães na França e ao lado de apenas sete homens de seu batalhão ter conseguido a façanha de render quase 140 soldados inimigos. O feito lhe valeu uma medalha do congresso americano e uma notoriedade sem precedentes entre o povo americano. O roteiro explora a vida pacata de York antes do conflito e depois na sua chegada nas trincheiras do front. Em ambas as situações o filme é extremamente bem realizado e sucedido. Provavelmente a riqueza de detalhes do roteiro se deva ao fato dele ter sido adaptado do diário pessoal de York que ele escreveu durante o conflito. / Elenco: O grande destaque do elenco de "Sargento York" é a ótima interpretação de Gary Cooper no papel principal. Aqui ele consegue com grande êxito captar a personalidade simplória do personagem. Um sujeito caipira, sem estudo, que tinha como único objetivo maior na vida comprar uma pequena faixa de terras em sua cidade para se casar com Gracie Williams (interpretada pela bela e simpática Joan Leslie). O fato de Cooper ter nascido em outro Estado interiorano (Montana) certamente lhe ajudou muito nessa caracterização. A excelente atuação de Cooper acabou lhe valendo o Oscar de melhor ator daquele ano. Mais do que merecido, é bom frisar. / Produção: A produção da Warner não mediu esforços para que contar bem a história do famoso Alvin York. Como o clima de patriotismo estava na ordem do dia em razão da II Guerra Mundial o estúdio sabia que tinha um potencial grande sucesso nas mãos e por isso caprichou na produção, investindo nos melhores profissionais disponíveis no mercado. Isso se vê bem nos detalhes da produção, figurino, cenários, equipamentos militares, tudo recriado de acordo com o contexto histórico da I Guerra Mundial.. Embora grande parte do filme tenha sido realizada em estúdio (principalmente nas cenas no Tennessee) o resultado é no final das contas excepcional. Nas cenas de batalha tudo é extremamente bem feito. As trincheiras típicas da I Guerra Mundial foram recriadas com extrema veracidade e fidelidade histórica. / Direção: O filme foi dirigido pelo excelente cineasta Howard Hawks. O que mais chama atenção nesse diretor era sua extrema versatilidade. Hawks passeava com grande êxito pelos mais diferentes gêneros cinematográficos. Realizava ótimas comédias musicais (como "Os Homens Preferem as Loiras") ao mesmo tempo em que revisitava lendas do velho oeste (sua parceria ao lado de John Wayne foi longa e produtiva). Nesse "Sargento York" ele volta a dirigir uma cinebiografia, algo que havia conseguido com grande sucesso na década de 30 com "Scarface, a Vergonha de uma Nação". Sua boa técnica e precisão podem ser conferidas nas duas partes básicas em que "Sargento York" se divide. Na primeira parte, quando York é apenas um caipirão do interior e o filme tem mais toques dramáticos. Já na segunda quando York vai para o front temos nitidamente um filme de guerra. Em ambas as divisões Hawks se sai extremamente bem sucedido, o que reforça bem sua versatilidade na direção. O resultado final é de alto nível.
O Homem do Oeste
Link Jones (Gary Cooper) foi criado em uma família de ladrões, assassinos e bandidos. Após cometer alguns crimes ao lado de seu tio e mentor Dock Tobin (Lee J. Cobb) ele foge e tenta reconstruir sua vida numa distante e pequenina vila do velho oeste. Anos depois durante um assalto ao trem onde viajava Link acaba descobrindo que seu tenebroso passado está de volta para atormentar sua vida! "O Homem do Oeste" é seguramente um dos melhores faroestes psicológicos da história do cinema americano. O filme tem uma carga de tensão absurda durante toda sua duração. O espectador não consegue desgrudar os olhos dos acontecimentos e o roteiro escrito pelo expert Reginald Rose joga excepcionalmente bem com toda a situação. A trama toda se passa em menos de 24 horas - desde o momento em que o trem que leva Link é assaltado até sua chegada com o bando de Dock Tobin numa fantasmagórica e abandonada cidade no meio do deserto de Mojave (um dos locais mais hostis dos EUA). Godard considerava "O Homem do Oeste" um dos melhores westerns já feitos. Não discordo em nada de sua opinião. Gary Cooper está excelente no papel de um homem que busca redenção mas que não consegue se livrar de uma vida de balas e mortes. Embora esteja excepcionalmente bem em cena temos que admitir que no quesito interpretação o filme pertence mesmo a Lee J. Cobb. No papel do malvado e cruel tio do personagem de Cooper, Cobb contrói uma magnífica caracterização. Um velho ladrão, pistoleiro, transpirando maldade e ruindade por todos os poros. Sua atuação realmente impressiona e fica marcada para os fãs de western. Perfeita. Por fim vale a pena lembrar que "O Homem do Oeste" não foi dirigido por qualquer um mas sim pelo genial cineasta Anthony Mann de tantos westerns excepcionais como "Winchester 73" e "Um Certo Capitão Lockhart". Um craque no estilo. Enfim recomendo "O Homem do Oeste", um faroeste brilhante que não deve faltar na coleção de nenhum cinéfilo fã do gênero.
Pablo Aluísio.