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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Country (1970)

"Ele não vai durar". Essa foi uma frase dita por um radialista invejoso em 1956 e dirigida na época para um tal de Elvis Presley, mais uma moda passageira. Bom, se esse cara estava vivo em 1970, certamente mordeu a língua, pois 14 anos depois Elvis Presley continuava fazendo sucesso e sendo um dos melhores e mais badalados artistas do mundo. Seu especial na NBC em 1968 foi uma marco e o maior ato de regeneração de uma carreira já visto. Procedido dele veio as sessões de gravação de Memphis em 1969, que entre outras pérolas gerou 4 hits seguidos, incluindo "Suspicious Minds", que alcançou o primeiro lugar, e é considerada por muitos como a melhor música da carreira de Elvis. Como se já não bastasse Elvis Presley bateu ainda todos os recordes em Las Vegas, a cidade mais difícil de ser conquistada por um artista. Esse fato ocorreu em agosto de 1969, com uma série de 57 apresentações, que mostraram um Elvis tão bom quanto em 1956, e quem sabe talvez até melhor, pois era um astro com mais maturidade. Mas isso não era tudo, pois Elvis iria ainda ter novos êxitos de bilheteria nos shows da temporada seguinte nessa mesma cidade em janeiro de 1970.

E como se isso tudo não bastasse ele ainda iria realizar uma série de seis grandes concertos no Houston Astrodome. Pela segunda vez em sua carreira "Elvis Was Back!" (Elvis estava de volta!). Foi nesse espírito de renovação que Elvis entrou em estúdio em junho de 1970 para cumprir seus compromissos com a gravadora RCA Victor. De sua banda de shows só o guitarrista James Burton estava presente. Isso não tira a qualidade desse grupo que tocou com Elvis pois os outros membros da banda eram músicos experientes de estúdio, que não ficavam em nada a dever à TCB Band. Jerry Carrigan, Nobert Putman, David Brigs, Charlie Mc Coy eram alguns dos feras que participaram das gravações desse disco, que meses depois seria batizado de "Elvis Country". Eles eram músicos jovens de Nashville, que também iriam marcar presença nas sessões do ano seguinte, na mesma cidade. Durante esses dias os músicos foram extremamente produtivos pois em poucos dias Elvis e banda conseguiram gravar um número fantástico de novas canções; para se ter uma ideia no total foram registradas mais de 34 músicas!! Foi tanta música que, mesmo dois anos depois das gravações, no LP "Elvis Now", ainda se podia encontrar algumas delas vendo à luz do dia pela primeira vez.

No total essas canções ficaram espalhadas em três álbuns, a saber: "That´s The Way It Is", "Love Letters From Elvis" e "Elvis Country", sendo esse não só o melhor álbum de estúdio de Elvis da década de 70, como também o que se deu melhor nas paradas, alcançando 12º lugar nos Estados Unidos e 6º na Inglaterra. A capa, contendo a primeira foto de Elvis, ainda criança, e a ideia de juntar todas as faixas com segmentos de "I Was Born About Ten Thousand Years Ago" fizeram esse álbum soar bem diferente dos demais de sua carreira. Mas tudo isso aconteceu de forma natural pois Elvis não entrou em estúdio para gravar um álbum country. As músicas simplesmente foram sendo gravadas, sem nenhum álbum temático em mente ou projeto pré determinado. Quem escuta os "Alternate Takes" dessas sessões pode inclusive notar o clima de improviso. Aqui está um breve comentário sobre as músicas desse disco, que acabou se tornando um dos mais importantes da carreira de Elvis Presley:

Snowbird (G. Mac Lellan) - O disco começa com uma música que curiosamente não foi gravada nas sessões de junho de 1970, mas sim nas de setembro desse mesmo ano. Essa belíssima música, que ganhou algumas versões ao vivo em 1971, estava nas paradas na voz da cantora canadense Anne Murray, quando Elvis a gravou. De melodia leve e com uma letra super bonita. Vide os versos: "Então pássaro da neve me leve com você para onde for / Para as terras de brisas gentis / Onde as águas pacíficas correm". O destaque dessa música é a guitarra que não é executada por James Burton, que sequer participou das sessões de setembro e sim de outro músico talentoso, Chip Young.

Tomorrow Never Comes (E. Tubb / J. Bond) - Caso raro em que o arranjo de orquestra fica bem em uma música de Elvis. Ela foi gravada originalmente em 1944 por Ernest Tubb (que na época era promovido pelo Coronel Tom Parker). Elvis estava com ótima voz nessas sessões e isso fica evidente nessa música. Essa maturidade vocal só foi adquirida ao longo dos anos, provavelmente Elvis não teria sucesso se a gravasse nos anos 50, por exemplo. Sua introdução é parecidíssima com a da música "Running Scared" de Roy Orbison. Elvis a cantou em um ensaio em julho de 1970, mas a master ainda é a melhor versão.

FTD The Nashville Marathon - Tomorrow Never Comes (take 2): Gravada originalmente em 1944 por Ernest Tubb, essa canção deve ter sido um difícil desafio vocal para Elvis, principalmente em seu final, que exigia uma entonação de tenor. Como demonstrado neste take Elvis dá conta, e bem, do recado. Nela foram acrescentados pesados metais culminando com um final regido à la orquestra, um pouco exagerado pelo meu gosto. Mas na música como um todo os metais são bem vindos, junto com o acompanhamento dos backing vocals. Esse take é bem parecido com a versão final e demonstra que Elvis segurava uma música dessa magnitude sem a presença de pesadas orquestras (apesar do bom arranjo de orquestra incluído no master). Elvis a tentou informalmente em ensaio de julho de 70. Não ganhou lugar nos shows de Elvis por pura injustiça. Ou talvez por ser muito melodramática. Sua introdução lembra bastante Running Scared de Roy Orbison.

Little Cabin On The Hill (L. Flatt / Bill Monroe) - O autor dessa música também escreveu uma das primeiros canções do rei na época da Sun Records: Blue Moon Of Kentucky. E como a anterior essa também data da década de 40. Talvez a música mais country do álbum inteiro com um ótimo trabalho de gaita por parte de Charlie Mc Coy. Tem um take mais longo disponível no CD "Essential Elvis vol 4".

The Fool (N. Ford) - Uma das melhores músicas do disco, essa música de letra "auto crítica irônica", devia estar na cabeça de Elvis já há um bom tempo, visto que ele a praticou bastante na Alemanha em 1959, só que usando piano na introdução ao invés dos riffs de James Burton, que ficaram bem melhores. Não acho ela muito country, está mais para pop blues. Destaque novamente para a gaita de Charlie McCoy.

Whole Lot-ta Shakin' Goin' On (D. Williams / S. Davis) - Não sei como essa música veio parar nesse álbum, pois de country ela não tem absolutamente nada. É sim, um dos melhores rocks que eu já ouvi na voz de Elvis! Coloca a versão de Jerry Lee Lewis no chinelo, sem dúvida. Isso graças a banda que detona com os vocais furiosos de Elvis berrando nos minutos finais da música - Claro, tudo para compensar a falta de letra. Para quem não entendeu o título de 5 palavras traduz uma só ideia: sexo. Não chega a ser uma daquelas músicas de Elvis como "Baby Let´s Play House" ou "Let Yourself Go" onde a proposta sexual é bem mais explícita, mas a malícia está lá. Uma versão mais longa se encontra no "Essential Elvis vol 4". Essa música fez parte do "Aloha From Hawaii", num medley com "Long Tall Sally". Também foi executada ao vivo em vários outros medleys até 1974. Já havia sido gravada por Elvis em shows em agosto do mesmo ano, em Las Vegas.

Funny How Time Slips Away (Willie Nelson) - O autor dessa música viria, após a morte de Elvis, a ressuscitar "Always on My Mind". Elvis gravou essa música pela primeira vez ao vivo em 1969 e em uma única tentativa a gravou em estúdio no mês de junho de 1970. Muito bonita e aconselhável para relaxar, ela ganhou destaque em muuuitos shows de Elvis até sua morte, destacadamente os do período 1972 / 1976. Aqui na versão master Elvis dá um tratamento em ritmo de blues, contando com um solo simplesmente espetacular de James Burton.

I Really Don't Want To Know
(H. Barnes / D. Robertson) - Don Robertson escreveu várias músicas para Elvis, sendo que entre as que ele gravou estão: "They Remind Me To Much Of You", "There's Always Me", "Starting Today", além de muitas outras. Essa parceria vem de longa data, pois a primeira música de Robertson gravada por Elvis foi "I´m Couting on You", que fez parte do seu primeiro disco. Só que "I Really Don´t Want to Know" não foi escrita especialmente para Elvis e sim para Eddie Arnold que a gravou em 1954, no mesmo ano em que Elvis começou sua carreira. Essa música ganhou ainda algumas versões incompletas ao vivo em 1977 e foi lançada como lado A de um single em 1971 para promover o disco "Elvis Country", porém só alcançando 21º lugar nas paradas.

There Goes My Everything (D. Franzier) - Sincera e particularmente não gosto dessa música. O ritmo é arrastado, apesar da boa letra. Mas isso é questão de gosto. A música é muito bem executada e uma das favoritas de Elvis dentre as que ele gravou nessa sessão em particular. Mas acho que não faria a menor falta na discografia dele. Lançada como lado A na Inglaterra alcançou 6º lugar! Ganhou algumas versões ao vivo em 70 e 71, mas como disse não é das melhores e não vai mudar sua vida. Ganhou uma versão gospel no ano seguinte com a mesma melodia, mas letra diferente chamada "He Is My Everything".

FTD The Impossible Dream - There Goes My Everything é a seguinte. Esse ótimo country (apesar de eu não gostar muito) ganhou poucas versões ao vivo, e sua inclusão faz lógica, pois o Elvis Country havia sido recentemente lançado e sua entrada na lista dos shows era uma forma de divulgar o disco, até mesmo porque uma promoçãozinha não mata ninguém. Foi lançada como single no lado B nos EUA, que sabemos não eram contabilizados nas paradas na época. Foi lado A e 6º lugar na Inglaterra. Muito boa versão ao vivo. Um dos grandes destaques deste CD é a belíssima

It's Your Baby You Rock It (S. Milete) - S. Milete escreveu três músicas para essa sessão sendo "Life" a melhor delas e "When I´m Over You" a pior. Essa fica num meio termo, apesar dos vocais perfeitos de Elvis e um solo muito show de James Burton. Uma das músicas mais country do disco e a única gravada pela primeira vez, as chamadas "Originals".

FTD The Nashville Marathon - It´s Your Baby You Rock It (take 3): A parte country do CD começa bem com essa música bem para cima. Como Life, S. Milete é quem escreveu essa canção, que aparentemente é apenas razoável, porém com Elvis em plena forma vocal junto com a banda, com destaque para James Burton que dá um show! Mostra básica de Elvis em transformar algo normal em uma ótima música. Fez parte do Elvis Country e era a única música realmente nova do disco. Esse take carece um pouco da energia do master, mas é muito bom. Aqui sentimos falta um pouco dos backing vocals femininos, que aqui caíram como uma luva. Porém, em um disco com muitas músicas boas It´s Your Baby não ganhou muita atenção, não sendo muito conhecida e apreciada nem mesmo entre os fãs

Faded Love (B. Willis / J. Willis) - Elvis virou essa música de ponta cabeça, se comparado com a versão original (coisa que ele fazia com bastante frequência), transformando um country puro em um pop rock de primeira, com destaque para dois solos meio estilo blues de James Burton. Quem quiser ter uma noção de como era a versão original ouça a uma mini versão country dessa música no CD "Essential Elvis vol 4", onde ele enquanto espera a chegada da letra de "Faded Love" grava "The Fool".

I Washed My Hands In Muddy Waters (J. Babcock) - Uma das melhores do disco. Novamente um caso de uma música pop rock, que não tem muito a ver com country. Destaque absoluto para a banda, desde James Burton e seus solos até a própria orquestra que ficou ótima nessa música. Basta comparar com a "unddubed version" disponível no "Essential Elvis vol.4". Os caras detonaram nessa música gravada em apenas uma tentativa. Com uma letra diferente falando da história de um cara que se meteu em enrascada e acabou preso. Foi ensaiada nos ensaios de julho, mas nunca teve uma versão ao vivo.

Make The World Go Away (H. Cochran) - Essa música em sua versão original alcançou primeiro lugar em 1965 e a versão de Elvis difere dela, pois aqui a orquestra está presente de forma bem pesada e Elvis a canta de forma bem mais emocionante. Definitivamente uma das músicas que exigiu mais do vocal de Elvis, como ele mesmo admitiu, principalmente em sua parte final. A mais bonita do disco e uma ótima escolha para encerrá-lo. Ganhou versões em 1970 , 1971 e uma em 1973.

FTD The Impossible Dream - Make The World Go Away, também do Elvis Country. Uma das melhores músicas da década para Elvis, havia sido cantada pouquíssimas vezes em 1970 e aqui ganha sua versão ao vivo definitiva. Após essa temporada Elvis a abandonaria de seus shows, só a cantando uma vez mais em agosto de 73.

I Was Born Ten Thousand Years Ago* (Arr. Elvis Presley) - Esta música foi "picotada" entre as faixas do LP. No disco "Elvis Now" ela aparece completa da forma como foi gravada em meados de 1970. A ideia de colocar a canção unindo todas as músicas do disco foi do produtor Felton Jarvis. Isso surgiu porque Elvis sugeriu a ele que colocasse como subtítulo do LP a frase: "I'm 10.000 Years Old" ou "Eu tenho 10 mil anos". Sem dúvida isso retrata a face esotérica do Rei do Rock, que na época estava muito interessado em estudar as religiões orientais, tais como Budismo e Hinduismo, que pregavam a reencarnação da alma até o atingimento do nirvana, fase no qual o espírito não precisaria mais retornar à terra, pois já estava devidamente evoluído. Segundo os cálculos de Elvis, sua primeira reencarnação havia sido há 10.000 anos, o que justificava a frase como subtítulo do disco. Todo esse misticismo acabou chegando ao Brasil e influenciando duas pessoas muito importantes em nossa cultura. Elvis Presley foi um dos maiores ídolos do baiano Raul Seixas. Isso não é segredo pra ninguém, mas, o que pouca gente sabia é que a música "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" - além de um pleonasmo vicioso - é também uma homenagem ao velho Rei do Rock. O som de Raul foi gravado em 1976, seis anos depois de Elvis gravar "I Was Born About Ten Thousand Years Ago". O título é igualzinho e o conteúdo das letras é bem parecido (compare as duas), abordando temas mitológicos, bíblicos e históricos. A versão de Raul é creditada a Raul Seixas e Paulo Coelho e não faz referência nenhuma à música gravada por Elvis, que é de domínio público. Paulo Coelho foi procurado pela redação do programa Fantástico da TV Globo e, por e-mail, admitiu: "Realmente, a letra foi inspirada na música do Elvis. Era uma maneira de Raul prestar sua homenagem ao seu maior ídolo".

Elvis Presley - Elvis Country (1970): Elvis Presley (voz, violão e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / Farrel Morris (percussão) / Weldon Myrick (steel guitar) / Bobby Thompson (Banjo) / Buddy Spicher (violino, rabeca) / The Jordanaires (vocais) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (vocais) / Al Pachucki (engenheiro de som) / Arranjado e produzido por Felton Jarvis e Elvis Presley / Data de Gravação: 4 a 8 de junho e 22 de setembro de 1970 nos Estúdios B da RCA em Nashville / Data de Lançamento: janeiro de 1971 / Melhor posição nas charts: #12 (EUA) e #6 (UK).

Pablo Aluísio e Victor Alves.