Após sofrer um acidente de carro bastante sério, que inclusive vitimou seu próprio filho, um garotinho com apenas cinco anos de idade, Claire Bennett (Jennifer Aniston) precisa reencontrar o caminho de sua vida. Isso não será muito fácil. Ela sofreu vários ferimentos no acidente e por essa razão sua rotina diária é marcada por muitas dores em suas pernas e coluna. Para combater essa situação ela também recorre a um vasto cardápio de drogas. O uso excessivo de remédios acaba lhe causando estranhas alucinações, como a presença constante de uma conhecida de um grupo de apoio que resolveu se suicidar pulando de uma ponte em Los Angeles. Deprimida, sofrendo de intensas dores, alucinando com uma suicida e com a vida pessoal em frangalhos Claire só consegue encontrar algum tipo de apoio com sua empregada, a mexicana Silvana (Adriana Barraza). Para piorar ela começa também a nutrir uma estranha obsessão pela mulher que se matou, resolvendo ir visitar sua família, conhecendo seu marido e seu pequeno filho. Estaria de alguma forma tentando suprir o vazio familiar que sua vida se tornou após o acidente? Pois é, durante muitos anos eu reclamei da atriz Jennifer Aniston. Além de ter se tornado uma celebridade irritante, dessas que vivem em revistas de fofocas, ela ainda parecia presa eternamente na personagem Rachel Green de "Friends". Enfim, era o próprio modelo da superficialidade em Hollywood.
Depois de uma sucessão de comédias bobocas, meros passatempos descartáveis, eis que ela resolveu finalmente abraçar um projeto mais significativo e ousado. Despida de qualquer tipo de vaidade Aniston surge na tela como um bagaço, literalmente falando. Envelhecida, sem maquiagem e com o rosto inchado (que lhe dá uma aparência bem estranha) a atriz finalmente cresceu e saiu daquela fase de Peter Pan em que parecia encarcerada para sempre. Provavelmente seja o grande momento de sua carreira, ao ponto inclusive de ter sido considerada injustiçada pela Academia. Eu devo concordar. Para uma estrela como ela, a atriz finalmente deixou as bobeiras que vinha estrelando de lado para se entregar de corpo e alma a essa personagem. O roteiro não se propõe a explicar o que teria acontecido a Claire desde o começo. Inicialmente o texto apenas acompanha a rotina desgraçada dela e o público vai juntando as pequenas pistas do que teria lhe acontecido. Quando se torna obcecada pela jovem que se matou, ela própria começa a flertar com a ideia de também colocar um fim em seus problemas físicos, psicológicos e emocionais. O suicídio passa a ser visto então como algo válido para colocar um ponto final em seu sofrimento. Nesses momentos a melancolia parece tomar conta de todos os seus pensamentos. Um reflexo disso é que o filme em si acaba se tornando também uma obra muitas vezes pesada e de complicada assimilação. Curiosamente esse aspecto meio sombrio acaba se tornando também o grande mérito do filme em si. "Cake" certamente deixará muitos dos fãs de Jennifer Aniston assustados com sua proposta, mas ao mesmo tempo fará um bem imenso para sua carreira. Espero que ela a partir de agora siga por esse caminho.
Cake: Uma Razão para Viver (Cake, EUA, 2014) Direção: Daniel Barnz / Roteiro: Patrick Tobin / Elenco: Jennifer Aniston, Adriana Barraza, Anna Kendrick / Sinopse: A advogada Claire Bennett (Jennifer Aniston) precisa encontrar um novo sentido para sua vida após a morte do filho em um grave acidente de carro. Com sequelas da batida, que a impede de levar uma vida normal, Claire começa a pensar em fazer o mesmo que uma conhecida do grupo de apoio ao qual frequentava, que resolveu acabar com tudo ao se suicidar. Filme indicado ao Globo de Ouro a ao Screen Actors Guild Awards na categoria de Melhor Atriz (Jennifer Aniston).
Pablo Aluísio.