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domingo, 6 de janeiro de 2008

A Volta do Vinil

Fico surpreso pela volta do interesse do vinil. Eu sou de uma geração que já nasceu ouvindo música por esse formato. Os discos eram obras de arte, com suas capas maravilhosas. O som do vinil também sempre foi muito elogiado. Depois surgiu o CD e aí o bom e velho vinil deixou de ser fabricado. As pessoas jogaram fora seus antigos vinis e muitos terminaram no lixo ou então virando reciclagem, como um bonito relógio na parede.

Eu nunca joguei meus vinis fora. Sempre mantive a coleção. Não os ouço mais, é verdade, pois não tenho mais vitrola, porém por uma questão sentimental mantenho todos eles. De Elvis Presley a The Beatles, passando por vários outros estilos musicais, não quero me desfazer dessas relíquias.

O curioso é que o vinil acabou tendo uma sobrevida. Ele tem despertado interesse nas novas gerações. Virou algo cult. Que coisa não? Em termos industriais o velho formato era considerado coisa do passado, por causa de sua tecnologia jurássica. Realmente havia muitos ruídos e "fogueiras queimando" ao lado do cantor quando ouvíamos esse tipo de produto industrial. Porém as pessoas também criaram um certo sentimento de nostalgia relacionado a eles. De qualquer forma tudo é válido nesse mundo musical.

De minha parte não voltarei ao vinil. Primeiro porque já renovei todas as minhas coleções para o formato CD e depois porque cansei mesmo de correr atrás. Dizem que um disco de vinil novo, recentemente saído da fábrica, não sai por menos de 200 reais. Pelo visto não foi apenas o vinil que voltou, mas a exploração também. Acho um absurdo esse tipo de coisa. Isso porque criou-se um tipo de fetiche em torno do produto em si. Nada a ver. Se o vinil voltar mesmo que volte acessível a todos, como foi no passado. Nada de glamorizar uma mídia sonora para ter um tipo de status em relação a isso. O tal "fetiche da mercadoria" não está com nada, como já dizia o barbudo Karl Marx

Um crônica sobre o velho disco de vinil - "Ligue a sua eletrola..." - cantava Nelson Gonçalves no bolerão "Meu Triste Long-Play". Para os mais jovens essas duas palavras não fazem o menor sentido, pois não sabem o que é uma eletrola e nem muito menos o que seria um Long-Play. Normal. A tecnologia avança para frente e esses duas ferramentas tecnológicas são tão obsoletas e ultrapassadas hoje em dia como a máquina de escrever e a caneta tinteiro. São tecnologias mortas, que foram deixadas de lado após o advento da tecnologia digital. Claro, existem os colecionadores saudosistas e os que defendem o som mecânico (entenda-se vinil) mas do ponto de vista do avanço da ciência não há mais volta. Sim, sou do tempo do LP (Long-Play) e ainda tenho vários em minha casa. Não os ouço mais, pois não tenho mais o toca-discos para isso, a tal eletrola citada na voz de Nelson Gonçalves.

Em termos de qualidade e preço tenho poucas saudades do disco de vinil. Eram caros, se velhos vinham com vários defeitos, furos, e o som era completamente comprometido. Comprar um disco no sebo então era uma verdadeira loteria. O problema é que quem gostava de clássicos (como eu) tinha que se sujeitar a isso para conseguir ouvir aquele cantor de rock antigo, como o próprio Elvis. Esperar pelas gravadoras era o fim da picada, principalmente no Brasil. Aliás não tenho a menor saudade das gravadoras, pois lançavam apenas o que queriam e quando queriam. Quando a maioria delas começou a descer a ladeira não tive a menor pena. Pelo contrário, me senti vingado para falar a verdade!

Hoje em dia a cultura musical navega online, com muita facilidade. Se você quiser adquirir todo o catálogo de qualquer artista basta dar um click. Na minha época era tudo muito complicado. A maioria dos álbuns eram fora de catálogo e você tinha que ir em algum sebo de discos usados para quem sabe, num lance de sorte, encontrar aquele disco raro pela frente. As antigas lojas de discos usados mais pareciam antigas criptas de reis do Egito. Muita poeira, ratos por todos os lados e aquele atendente que não sabia de coisa nenhuma. Você tinha assim que se lançar sobre pilhas e pilhas de discos velhos, sujos, empoeirados e alguns até mesmo com resquícios de crimes - certa vez peguei um disco que gostava muito que estava com sangue coagulado humano na capa!!! Provavelmente estava na cena de algum assassinato! Imagine o meu nojo ao me deparar com aquilo! Horrível, horrível...

As capas dos vinis eram maravilhosas, temos que convir. Eram grandes, bonitas e algumas verdadeiras obras de arte (como a do "Sgt Peppers" dos Beatles). O problema é que como eram de papel podia-se escrever nelas e brasileiro sempre teve o péssimo, horroroso hábito de fazer dedicatórias para suas namoradas. Assim quando você encontrava aquele super raro disco do Carl Perkins tinha um choque quando via na capa em letras garrafais a dedicatória de "Xampinho, com amor para Maria Simplória". Imagine a decepção! Outra coisa comum era encontrar a capa mas não o disco em si! Certa vez achei uma capa maravilhosa do Eric Clapton mas dentro colocaram o disco do Genival Lacerda! Outra decepção dos tempos do vinil.

Como escrevi guardo ainda uma boa coleção de discos de vinil por pura questão sentimental. A maioria deles já tenho em CD e outras mídias sonoras. Para falar a verdade quase tudo que tenho em vinil caberia em no máximo dez DVDs se gravasse os discos no formato data arquivo. Ele ocupam um espaço que hoje em dia soa desconfortável para a maioria das pessoas, principalmente atualmente quando os apartamentos e casas diminuem na medida em que aumenta o valor médio do metro quadrado nas grandes cidades. Se tornou um objeto sem propósito, desproporcional. Mas como disse tem seus defensores. Algumas vezes penso sobre essa curiosa atração que o vinil ainda exerce (inclusive sobre mim). Talvez seja o carisma da própria tecnologia em si ou apenas um símbolo de uma era que não existe mais. Provavelmente o apaixonado por discos de vinil seja apenas um simpático saudosista vintage. Afinal, o passado também tem seu charme.

Pablo Aluísio.