terça-feira, 16 de junho de 2009

Elvis Presley - Coleção de Textos III

Elvis Presley - Elvis: O Preço da Fama
Elvis Presley sempre teve problemas em relação a dormir bem. Desde a adolescência ele sentia dificuldades em relaxar e ter uma boa noite de sono. Como a família Presley era muito pobre Elvis se virava para dormir na sala da casa, seja no sofá, seja em colchões pelo chão. Não é complicado entender que nessas circunstâncias era realmente difícil descansar. Em vista disso Elvis adquiriu o hábito nada saudável de dormir muito tarde e acordar muito cedo. Quando sua carreira de cantor tomou um bom rumo a coisa toda tendeu a piorar. Na estrada Elvis pouco dormia entre as apresentações. Bill Black, o baixista de seu grupo, o definia como uma “coruja”, uma pessoa que nunca dormia e que preferia passar a noite no carro ouvindo rádio até o dia amanhecer.

Para segurar o pique Elvis acabou conhecendo alguns remédios que lhe ajudavam a sempre estar bem disposto mesmo quando dormia mal (ou não dormia em absoluto). Quem iniciou Elvis nessas pílulas? Não se sabe ao certo. Para alguns os primeiros comprimidos foram receitados por um médico para Elvis em sua adolescência, já para outros Elvis acabou tomando conhecimento de uma grande variedade de soníferos e estimulantes na estrada mesmo, com os músicos que participavam dos mesmos shows em que ele cantava. As chamadas “bolinhas” eram bem populares entre os músicos que as usavam para aguentar a dura rotina de viagens e shows. O fato é que Elvis logo começou a se sentir muito familiarizado com essas drogas e em pouco tempo estava em busca de mais informações, lendo revistas e livros técnicos sobre farmacologia. Tão interessado ficou no assunto que alguns anos depois deu uma pista ao responder a uma pergunta numa entrevista sobre qual seria seu hobby preferido. “Eu gosto de ler livros médicos” – respondeu na lata o cantor.

Por volta de 1956 Elvis começou a sentir novamente seus velhos problemas de saúde em decorrência da correria a que estava sendo submetido. Sempre viajando, cumprindo compromissos, em Los Angeles, Nova Iorque, Nashville, tudo ao mesmo tempo agora Elvis foi sentindo a pressão aumentar a cada dia. Não havia semana livre – quando não estava em estúdio gravando discos, estava na estrada fazendo shows, quando não estava em um canal de TV estava em um set de filmagens. As pessoas esqueciam que Elvis era apenas um jovem de 21 anos de idade que agora assumia responsabilidades enormes, fora a pressão de sempre fazer sucesso nas paradas, de sempre alcançar o topo dos mais vendidos. Diante de tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo Elvis começou a ter sérios problemas para conseguir dormir. Ele sempre sofreu de insônia mas agora com a pressão de sua vida profissional as coisas foram piorando cada vez mais. Elvis não conseguia relaxar quando ia para a cama – seu pensamento ficava a mil, ele pensava nas obrigações do dia seguinte, no que teria que enfrentar, no lançamento de seus novos discos. Alarmada pelo estado de Elvis sua mãe Gladys mandou um de seus primos para acompanhar Presley nas viagens. Gladys temia que seu filho tivesse um ataque de sonambulismo durante as excursões e caísse pela janela de algum quarto de hotel nas cidades pelas quais passava.

Assim não era raro ele passar dias sem dormir, mesmo com as pílulas que tomava. Para aguentar a rotina puxada do dia Elvis começou a tomar estimulantes pela manhã. Claro que ele ainda estava muitos anos distantes da forte dependência que iria desenvolver nos anos seguintes mas isso já era um claro sinal de que algo definitivamente não ia bem. Uma bolinha à noite para tentar dormir bem e outra pela manhã para aguardar a rotina de gravações e shows. O pior acontecia nas noites de concertos. Elvis ficava com a adrenalina a mil e após as apresentações não conseguia relaxar de jeito nenhum. Elétrico era uma boa definição para seu estado após descer do palco. Ficava a noite inteira ligado e na manhã do dia seguinte seguia viagem para outra cidade para fazer um novo show. Isso tudo sem dormir, sem descansar. Uma rotina realmente penosa. Como odiava voar ele cumpria todos os seus compromissos viajando de carro com a banda. Não é preciso muito para entender o quanto isso era desgastante e cansativo. Para aguentar, mais pílulas. A fama e o sucesso começavam certamente a cobrar seu preço. E não era barato.

Elvis Presley - Elvis em Hollywood
Foi em 1º de abril que Elvis Presley conseguiu realizar o sonho de sua vida. O ano era 1956 ele transpôs pela primeira vez os portões de ferro torneado da Paramount para um encontro com o produtor Hal Wallis. Junto com ele ia o inseparável manager, o coronel tom Parker. Ainda garoto, em Tupelo, Elvis já sonhava com as luzes do cinema. Queria ser ator, mais do que qualquer outra coisa. Voltou-se para a musica porque não via perspectivas de realizar o sonho em sua cidade natal.

Mas adorava tanto os filmes que chegou a trabalhar como lanterninha em Tupelo. São relações contidas no vídeo Elvis in Hollywood, The 50's, de Frank Martin, lançada pela BMG-Video. Vale a pena assistir á fita, Elvis, rei do rock, sempre foi espancado pelos críticos. Nunca foi considerado um verdadeiro ator. No Maximo era um cantor que rebolava diante das câmeras – e que foi engordando até perder o pique. Seu primeiro filme estreou em novembro de 1956. em Ama-se com Ternura [Love me Tender], ele desafiou duplamente os códigos de Hollywood, morreu no final e protagonizou um drama de época, desenrolado em plena guerra Civil. Nada mais estranho ao mito do jovem com o qual a teen generation da América queria tanto se identificar.

Elvis não freqüentou cursos de arte dramática. Tinha ídolos, Marlon Brando, James Dean, Humphrey Bogart. Assistiu muitas vezes ao filme que eles interpretavam. Queria captar as sutilezas da técnica de interpretação de cada um. Em Loving You [1957], sua primeira preocupação, ao chegar ao set, foi perguntar ao diretor Hal Kantes se seu personagem teria de sorrir muito. Ao atônito diretor, explicou que Bogart não ria, e por isso era grande. Para Elvis, os jovens curtiam seus shows e sua presença na tela porque a América era muito repressiva nos anos 50.

Os jovens não podiam se soltar em casa e na escola. Soltavam-se com ele, ao som do rock'n'roll. Nunca radicalizou sua rebeldia e até foi impedido pelo coronel Parker de ser o astro que queria. Mas uma vez, pelo menos, chegou perto do seu ideal ao interpretar, sob a direção de Michael Curtiz, um papel que só não foi de James Dean porque o astro de Juventude Transviada morreu. Não por acaso, os críticos consideram Balada Sangrenta [King Creole, 1958] o melhor momentos de Elvis no cinema.
 
"Love Me Tender" fez um belo sucesso de bilheteria. De fato conseguiu o feito de ser um dos 20 filmes mais vistos de 1956, uma posição importante em se tratando de um faroeste B, onde a principal atração era um jovem cantor que ainda não era tão conhecido de todo o público. Os mais velhos, por exemplo, torciam o nariz para Elvis e seus discos, pior, quando o viam dançando na TV ficavam horrorizados. E era justamente o público mais velho na época que curtia esse tipo de produção western.

De uma maneira ou outra duas coisas positivas aconteceram nesse filme. Os produtores entenderam que Elvis tinha jeito para a coisa. Fotografava muito bem nas telas e apesar de não ter experiência como ator não era tão ruim representando como se esperava. Pelo contrário, ele chegou até mesmo a ganhar alguns elogios da crítica da época. Alguns disseram que ele tinha "boa presença de cena". Seja lá o que isso realmente significava não era uma coisa ruim, uma crítica negativa em sua essência.

A RCA Victor compilou as músicas do filme e as lançou em um EP (um compacto duplo). Também colocou no mercado um single com a música "Love Me Tender" como Lado A. Os dois disquinhos venderam muito, levando o nome de Elvis Presley novamente para o topo das paradas, dos mais vendidos. O Coronel Parker não precisou de muito tempo para entender que Elvis assim poderia ser duplamente lucrativo, não apenas nas bilheterias de cinema, mas também nas lojas de discos, pois o filme impulsionava a venda de discos e vice versa. Os lançamentos fonográficos de Elvis também serviam como publicidade para os filmes. Discos vendiam filmes e filmes vendiam discos. Na visão do Coronel Parker era uma combinação comercial perfeita!

Por essa razão a Paramount Pictures anunciou logo após o sucesso de "Ama-me Com Ternura" que Elvis já estava contratado para atuar em seu próximo filme justamente pelo estúdio. A Paramount era na época um dos maiores estúdios de cinema de Hollywood. Entre seus contratados estavam John Wayne, Jerry Lewis, Dean Martin, Alfred Hitchcock, Frank Sinatra, James Stewart, Grace Kelly e tantos outros astros e estrelas da constelação do cinema. E a Paramount estava decidida a começar um novo filão de filmes feitos especialmente para Elvis. Ele seria a mais nova estrela do cinema. As apostas eram altas em relação ao seu futuro em Hollywood. O próprio Elvis sabia disso e apostava numa longa carreira de ator. Sobre isso ele chegou a declarar para uma revista de cinema na época: "Cantores aparecem e desaparecem muito rapidamente, da noite para o dia. Já se você for um bom ator poderá ficar em evidência por muitos anos".

O primeiro filme de Elvis no cinema, o faroeste "Love Me Tender" (Ama-me com Ternura, no Brasil) foi praticamente um teste. Os produtores queriam conferir se Elvis levava jeito para a coisa, se ele se saía bem em uma tela de cinema. Os resultados foram muito bons. Para um western B o filme, impulsionado pelas músicas e pela fama de Presley, se tornou um sucesso de bilheteria.

Para o segundo filme a Paramount Pictures resolveu investir em Elvis sem receios. Agora sua chegada em Hollywood era pra valer. O filme iria se apoiar exclusivamente nele. Se fizesse sucesso todos os méritos seriam de Elvis. O mesmo aconteceria se fosse um fracasso. Poderia enterrar suas pretensões de ter uma carreira em Hollywood.

A RCA Victor aproveitou o bom momento e editou a primeira trilha sonora de Elvis em um álbum completo. No lado A apenas as músicas do filme e no lado B uma série de boas canções que estavam arquivadas na sede da gravadora em Nova Iorque. O sucesso do disco antecipou o sucesso do filme. Elvis procurou estudar as atuações de seus dois maiores ídolos no cinema, James Dean e Marlon Brando. Ao diretor Hal Kanter, Elvis disse que não queria que seu personagem risse muito em cena, nada de sorrisos, isso porque Brando e Dean "sempre interpretavam personagens sérios". Bom, essa não era bem a intenção do estúdio. Eles já tinham em seus quadros os verdadeiros Marlon Brande e James Dean, assim não queriam um terceiro astro na mesma linha. Elvis era de outro tipo. Ele deveria basicamente cantar e encantar suas fãs nos filmes, nada mais. Ele seria um astro romântico ao velho estilo.

Como Elvis ainda era muito inexperiente no quesito atuação o estúdio escalou a veterana Lizabeth Scott para trabalhar ao seu lado. Era uma maneira de Elvis pegar dicas e sugestões na hora de atuar. Os dois eram sempre vistos juntos nas filmagens o que levantou alguns boatos de que estariam tendo um caso. Nada verdadeiro. Ela era bem mais velha do que ele e exercia uma certa autoridade sobre Elvis. Além disso a atriz era lésbica e mantinha sua vida privada bem longe das revistas de fofocas da época. Assim o jovem Elvis estava interessado mesmo em Dolores Hart, a bela atriz que tinha praticamente a sua idade. Não demorou muito e o cantor demonstrou estar apaixonado por ela. Anos depois Dolores largaria tudo, sua vida em Hollywood para se tornar freira numa ordem católica e sua história ao lado de Elvis seria contada no documentário "Deus é o Elvis Maior".

Pablo Aluísio. 

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