quarta-feira, 17 de junho de 2009

Elvis Presley - Coleção de Textos II

Elvis Presley - Concertos em 1956
Em 1956 Elvis trabalhou muito. As pessoas geralmente pensam que a fama vem de forma gratuita e espontânea. Nada mais longe da realidade. No ano em que estourou nacionalmente Elvis realizou longas turnês cruzando os EUA praticamente de ponta a ponta, tocando em lugares diversos, um show por noite, geralmente com pouco tempo de descanso entre as apresentações. Viajando de carro na maioria das vezes – pois odiava viajar de avião – Elvis cruzou grandes distâncias para se apresentar nos mais distantes lugares. Sua agenda ficou lotada e Elvis de forma profissional começou a cumprir seus compromissos. Em janeiro cumpriu uma agenda puxada pelo Texas, Missouri e Louisiana. Em fevereiro a mesma coisa, 21 concertos em 30 dias, um recorde absoluto!

Nos meses seguintes as maratonas continuaram sem descanso. Algumas coisas chamam a atenção nesses dias na estrada. A primeira é que o Coronel Parker cometeu alguns erros que até hoje despertam a curiosidade dos especialistas. Ao invés de levar Elvis logo para os grandes centros urbanos como Nova Iorque ou Los Angeles para uma série de concertos em grande escala, o que seria natural para um artista que estava naquele momento se tornando um ídolo nacional, Parker agendou para Elvis uma interminável série de apresentações por cidades do interior. Esse modus operandi iria se repetir de certa forma até mesmo na década de 70. Isso foi bom ou ruim para Elvis? Em termos financeiros seria bem melhor fazer poucos shows com um público enorme em grandes centros pois a repercussão seria bem maior. Porém em termos de aproximação do ídolo com seu público, mesmo aquele morando em lugares distantes, a estratégia acabou sendo positiva pois por onde Elvis passava nesses lugares jamais era esquecido depois. Assim no auge de seu sucesso ao invés de Elvis estar em Nova Iorque se apresentando para uma grande massa ele estava em Randolph, Missouri, tocando em um colégio de high school.

Por falar em Nova Iorque Elvis esteve na cidade várias vezes durante o ano de 1956 mas foi para lá para se apresentar nos programas de TV ou gravar músicas para a RCA em seu estúdio local. Por que não se apresentou ao vivo por lá também? Só mais tarde, depois de muito assédio por parte de empresários é que o Coronel Parker agendou shows em cidades melhores. Em abril Elvis finalmente saiu de sua zona de conforto, formado pelos Estados do Sul onde se encontrava seu público mais fiel, para ir finalmente para a costa oeste onde havia maiores centros urbanos e um público mais sofisticado. Fez uma apresentação em San Diego. E foi somente em junho que ele finalmente se apresentou ao vivo em Los Angeles para cantar pela primeira vez ao público da cidade no Shrine Auditorium. Na ocasião se apresentou para várias estrelas de Hollywood que foram conferir se ele era mesmo tudo o que diziam no palco. Esse show também foi uma forma encontrada pelo Coronel Parker para entrosar o cantor com a comunidade artística local. Esses concertos porém foram exceções à regra e logo Elvis estava de volta ao sul para continuar com seus shows em lugares como Savannah, Augusta e Richmond. De todas essas apresentações a que mais lhe marcou ocorreu em 4 de julho, dia da independência dos EUA, quando se apresentou em sua querida Memphis, no Russwood Baseball Park. Muitos familiares e amigos queridos vieram assistir ao show e confraternizaram com ele depois nos camarins. Elvis estava felicíssimo em cantar na cidade para um grande público. Além disso a data era uma de suas preferidas, pois sempre a celebrava com muitos fogos e animação com as pessoas mais próximas a ele.

O ano de compromissos foi terminando. Elvis realizou uma turnê muito bem sucedida pela Florida em agosto, culminando com uma importante apresentação numa das mais musicais cidades americanas, New Orleans, na Louisiana. Era um teste de fogo pois praticamente todos em New Orleans são envolvidos de uma forma ou outra com o cenário musical e lá Elvis tinha realmente que fazer uma boa apresentação, mostrar serviço. Seu show agradou, inclusive á população negra local, de uma musicalidade ímpar. O ano de correria terminou oficialmente para Elvis no dia 15 de dezembro quando finalmente se despediu do Louisiana Hayride, em Shreveport.

O saldo final do ano foi muito positivo. Elvis trabalhou demais, viajou como nunca em sua vida, conheceu outros públicos, outros ares e conseguiu consolidar sua fama e sucesso em nível nacional. Tanto esforço e trabalho resultaram em um retorno financeiro excepcional. Em dezembro o Wall Street Journal informou que Elvis tinha se tornado um dos artistas mais bem pagos dos EUA naquele ano com renda bruta total de US$ 22 milhões de dólares. Nada mal para alguém que só tinha 21 anos de idade. Em pouco mais de um ano Elvis Presley havia se tornado o mais novo milionário do país. Nada mais justo para quem ganhou sua fortuna com muito esforço e trabalho duro. O futuro prometia ser de muitas glórias e êxitos porém Elvis em pouco tempo logo teria alguns dissabores. Mas essa é uma outra história...

Elvis Presley - Las Vegas, 1956
Tudo na vida tem seu tempo certo. Se ainda não deu certo é porque ainda não é a hora. Um exemplo claro disso aconteceu com Elvis Presley em Las Vegas no ano de 1956. Hoje o nome Elvis é instantaneamente associado a Vegas por causa de suas temporadas de enorme sucesso na cidade durante a década de 70. O que poucos sabem (ou se lembram) é que Elvis foi para Vegas bem no começo de sua carreira em 1956 e as coisas não saíram tão bem como ele planejava.

Na verdade a temporada de Elvis em Las Vegas, a única que fez na década de 50, foi uma ideia infeliz de Tom Parker que com uma incrível falta de visão jogou o artista errado no lugar errado na época errada. Por que Elvis não deu certo em Las Vegas naquela ocasião? Muito simples de entender.

Nos anos 50 Elvis era um cantor jovem, cantando uma música essencialmente vibrante (chamada Rock ´n`Roll) feita e produzida para a juventude em geral. E o que era Las Vegas em 1956? Basicamente uma cidade-show feita para um público bem mais velho, aposentado, que ia para a cidade gastar suas economias de uma vida nas roletas de Nevada, Estado onde o jogo era legal e liberado. Havia nitidamente uma divergência entre o público que ia aos showrooms dos cassinos de Vegas e o cantor Elvis. A chamada cidade do pecado era o lar de cantores e artistas muito diferentes de Presley. Ele certamente não deveria estar lá, naquele momento.

Elvis na ocasião se apresentou com a orquestra de Freddy Martin e isso definitivamente nada tinha a ver com sua música. O marketing foi equivocado e bobo, vendendo Elvis como um “cantor atômico”! Na primeira noite Elvis subiu ao palco e logo percebeu que tudo seria diferente. O público, formado por casais em bodas de prata, aplaudiu timidamente o cantor e sua banda. Não havia gritos e nem animação na plateia, apenas uma ou outra tosse de algum fumante inveterado. O clima era tão ruim que Elvis não conseguiu se soltar, ficar à vontade. Aparentando nervosismo cometeu alguns erros, tentou contar algumas piadas mas a recepção gelada o deixou desnorteado. No outro dia a crítica sobre a apresentação de Elvis foi ruim. Um crítico escreveu: “Para os adolescentes que gritam em seus shows Elvis Presley pode ser considerado um gênio mas para o público ontem que o assistiu no Hotel Frontier ele foi apenas um furo. O conteúdo lírico de suas músicas é sem sentido e seu grupo musical com apenas 3 componentes é tosco”. A reação foi tão ruim que até o Coronel Parker entendeu que havia cometido um erro ao jogar Elvis na arena daquele público, formado pelo mesmo setor conservador e reacionário que odiava a ginga e o idioma musical do artista.

Elvis havia assinado por um determinado período com o hotel New Frontier mas queria mesmo era dar o fora de Las Vegas o quando antes. O baterista do grupo de Elvis, D.J. Fontana, deu seu veredito: “Não acho que aquele público estava preparado para Elvis. Ele fazia muito sucesso com uma plateia mais jovem mas não com aquele tipo de gente. Nós tentamos trabalhar com a orquestra de Freddy Martin mas não tinha muito a ver com nosso som. Mesmo assim fomos profissionais e tentamos fazer o melhor que podíamos para agradar”. Para tudo não se transformar em um fiasco completo o Coronel Parker resolveu lotar o hotel com um grupo de fãs adolescentes de Elvis para agitar um pouco as coisas. No sábado em que isso aconteceu Elvis finalmente realizou um bom concerto. Mas isso aconteceu apenas naquela ocasião e logo Elvis estava de novo se apresentando para o público “quadrado” de Vegas.

Liberace, um cantor extravagante que se apresentava no hotel Riviera veio dar uma força a Elvis mas ao lado do cantor só conseguiu fazer palhaçadas e macaquices. A temporada havia sido um fiasco e todos se conformaram com isso. Elvis realizou os últimos shows e finalmente se viu livre da verdadeira “arapuca” que havia se transformado Las Vegas para ele. Ironicamente a cidade o receberia de braços abertos em 1969 quando ele voltou para brilhar lá como nunca em sua carreira. Isso porém só aconteceria anos depois. Sobre sua estadia na cidade na década de 50 Elvis foi realista e brincou: “Coloquei o maior ovo da minha carreira em Las Vegas”.

Elvis Presley - Elvis na TV
Muita gente se pergunta como foi possível a Elvis se tornar tão popular em tão pouco tempo. Foram vários os fatores para que em poucos meses o cantor se tornasse tão conhecido mundo afora. Dentro dos EUA Elvis contou com a excelente estrutura de divulgação da RCA Victor. RCA é uma sigla que significa em português Corporação de Rádios da América. Fácil entender então que se tratava de uma rede nacional de rádios interligadas pelo país afora que obviamente promoveria o novo cantor. Assim da noite para o dia Elvis começou a ser ouvido de costa a costa da América, uma vez que a RCA tinha o controle de centenas de rádios espalhadas pelo país.

Outro fator de grande divulgação da música de Elvis foi uma nova invenção que invadia os lares americanos: a Televisão. Embora alguns anos depois o Coronel Parker tenha esnobado a TV e seus programas de auditório, o fato é que nos primeiros anos de Elvis na RCA a TV teve uma função vital para tornar o jovem cantor tão popular quanto se tornou. Logicamente se Elvis não fosse tão talentoso de nada adiantaria todo esse esquema promocional. A questão é que com tantos instrumentos para divulgação aliado ao talento nato do artista não haveria como dar errado. Em pouco mais de um mês Elvis já estava na boca do povo, comentado, debatido e o mais importante conhecido. Afinal ele não apenas se tornava popular por sua música mas também por sua dança e seu estilo de se apresentar, considerado imoral ou selvagem nos moralistas anos 50. Elvis Presley era diferente de tudo, muito além do que se esperava ver na TV daqueles tempos. Um furacão de novidade, excentricidade e explosão sensual.

Nos primeiros meses de 1956 Elvis se apresentou várias vezes na TV americana. Veja a relação de suas aparições na telinha nessa época (com datas e músicas):

JACKIE GLEASON'S STAGE SHOW
Apresentado por Tommy Dorsey e Jimmy Dorsey, CBS TV
a) 28/01/56 - "Heartbreak Hotel" e "Blue Suede Shoes"
b) 04/02/56 - "Tutti Frutti" e "I Was the One"
c) 11/02/56 - "Shake Rattle and Roll", "Flip, Flop and Fly" e "I Got a Woman"
d) 18/02/56 - "Baby, Let's Playhouse" e "Tutti Frutti"
e) 17/03/56 - "Blue Suede Shoes" e "Heartbreak Hotel"
f) 24/03/56 - "Money Honey" e "Heatbreak Hotel"

THE MILTON BERLE SHOW
Apresentado por Milton Berle, NBC TV, Hollywood
a) 3/04/56 - "Heartbreak Hotel", "Money Honey" e "Blue Suede Shoes"
b) 5/06/56 - "Hound Dog" e "I Want you, I need You, I love you"

THE STEVE ALLEN SHOW
Apresentado por Steve Allen, NBC TV, Hollywood
a)1/07/56 - "I Want you, I need you, I love you" e "hound Dog"

TOAST OF TOWN
Apresentado por Ed Sullivan, CBS STUDIOS TV, Hollywood
a) 9/09/56 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Ready Teddy" e "Hound Dog"
b) 28/10/56 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Love Me" e "Hound Dog"
c) 06/01/57 - "Don't be Cruel", "Love me Tender", "Heartbreak Hotel", "Hound Dog", "Peace in the valley" e "When my Blue Moon turns to gold again"

Elvis Presley - Primeiros meses em 1956
8 de janeiro - Elvis celebra seu aniversário de 21 anos de idade ao lado de sua mãe Gladys. Ele havia acabado de assinar com a gravadora RCA Victor que tinha grandes planos para o jovem artista. Com o dinheiro do novo contrato Elvis planejava comprar uma nova casa para a família.

10 e 11 de janeiro - Elvis viaja até Nashville para suas primeiras gravações na nova gravadora. Seu produtor passa a ser Steve Sholes. Nessa primeira sessão na RCA Elvis grava as seguintes músicas: I Got a Woman, Heartbreak Hotel, Money Honey, I'm Counting on You e I Was The One.

20 de janeiro - A RCA Victor não perde tempo e lança o primeiro single (compacto simples) de Elvis Presley no mercado. É o primeiro disco do cantor com o selo da nova gravadora. O single vem com as canções Heartbreak Hotel e I Was The One (no lado B) e se torna um grande sucesso de vendas, chegando ao primeiro lugar nas paradas, em especial da Billboard, a mais importante dos Estados Unidos. É o primeiro sucesso nacional de Elvis que assina a composição, embora não a tenha composto de fato. Uma letra estranha, um desabafo de um homem solitário, inspirada em um bilhete de um suicida. Apesar do tema sombrio acabou virando um grande hit. Como parte da promoção da nova canção a RCA escala Elvis para aparecer em programas de TV.

30 e 31 de janeiro - A RCA Victor tem planos de colocar no mercado um álbum (LP) de Elvis Presley, mas não tem músicas suficientes para tanto. Assim Elvis viaja até Nova Iorque para a gravações de novas faixas. Nessa sessão em NYC ele grava as seguintes músicas: Blue Suede Shoes, My Baby Left Me, One-Sided Love Affair, So Glad You're Mine, I'm Gonna Sit Right Down and Cry e Tutti Frutti. Nessa mesma ocasião Elvis participa de programas de TV de grande sucesso de audiência, o que eleva e muito sua popularidade por todo o país.

3 de fevereiro - A RCA quer mais músicas gravadas por Elvis em estúdio. Assim ele participa de mais uma sessão em Nova Iorque onde grava apenas duas músicas: Lawdy Miss Clawdy e Shake Rattle and Roll. Essas duas músicas, ótimas por sinal, deveriam fazer parte do primeiro álbum de Elvis pela RCA que seria lançado no mês seguinte, mas curiosamente foram arquivadas pela gravadora, só chegando no mercado anos depois no disco "For LP Fans Only".

Pablo Aluísio. 

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