sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Paul McCartney - Run Devil Run

Considero, desde o primeiro momento que o ouvi, como o melhor trabalho nostálgico de Paul McCartney. A seleção das canções é simplesmente magistral e Paul demonstra muita garra em cada faixa, não deixando o pique cair em nenhum momento. São canções extremamente representativas para o cantor uma vez que era justamente esse tipo de som que fazia sua cabeça quando era apenas um adolescente em Liverpool. Assim Paul mescla músicas de sua adolescência com novas composições feitas por ele recentemente mas com o sabor dos velhos rocks daqueles anos maravilhosos. Tirando a questão puramente musical do foco, sempre achei muito curioso o fato de Paul ter gravado esse álbum justamente após a morte de sua esposa querida de longa data, Linda. O disco soa quase como um desabafo, como um grito de alegria para espantar a tristeza do momento. Até porque nada melhor para despachar a melancolia do que um bom e velho rock dos primórdios do gênero não é mesmo?

E não há como negar que aqui temos pequenas preciosidades, clássicos eternos da história do rock. Basta olhar para a lista para entender muito bem a intenção de Paul. É um verdadeiro resgate da sonoridade dos ídolos da juventude dele. Lá estão, por exemplo, artistas como Elvis Presley (em versões de “All Shook Up”, “I Got Stung” e “Party”), Chuck Berry ("Brown Eyed Handsome Man"), Gene Vincent ("Blue Jean Bop") e Carl Perkins (sempre um dos favoritos de Paul, aqui representado pela simpática "Movie Magg"). A faixa título "Run Devil Run" é um rock dos diabos, com todas as características que fizeram a fama e o sucesso dos pioneiros do rock. Aliás era justamente isso que Paul queria, compor uma música nova com a essência das clássicas canções do surgimento do rock ´n´ roll. Outro ponto digno de muitos elogios é o talentoso arranjo que Paul deu para cada canção. Tudo soa como se uma banda punk interpretasse os velhos sucessos da década de 50. Esse estilo me lembrou muito dos próprios Beatles quando cantavam em Hamburgo. Arranjos viscerais, diria até mesmo sujos, mas extremamente empolgantes. O próprio Ringo disse que eles não se pareciam com os Beatles na época, mas sim como uma banda punk! Depois de ouvir esse CD você certamente vai entender porque o bom e velho McCartney ainda é considerado um dos deuses vivos da nação rocker. Longa vida a esse gênio da música.

Paul McCartney - Run Devil Run (1999)
Blue Jean Bop
She Said Yeah
All Shook Up
Run Devil Run
No Other Baby
Lonesome Town
Try Not to Cry
Movie Magg
Brown Eyed Handsome Man
What It Is
Coquette
I Got Stung
Honey Hush
Shake a Hand
Party

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Unplugged

Paul McCartney passou muitos anos na carreira sem lançar discos ao vivo, afinal se formos analisar sua discografia oficial veremos facilmente que ele só lançou um álbum nesse estilo até o final dos anos 80 e mesmo assim quando ainda fazia parte do grupo Wings. Curiosamente da década de 1990 em diante o ex-beatle parece ter tomado gosto pelo formato e assim começou a lançar vários discos retirados de seus shows e concertos. Esse "Unplugged (The Official Bootleg)" é um dos melhores por causa de seu repertório muito agradável e nostálgico. Paul parece querer homenagear seus ídolos de adolescência colocando várias canções de Gene Vincent e Elvis Presley na seleção musical. Também não deixa de lado os Beatles, interpretando inclusive algumas músicas mais obscuras do quarteto de Liverpool. 

O projeto foi um dos primeiros da série "desplugada" da MTV que iria virar febre nos anos seguintes. Paul McCartney nem precisava de algo assim por causa de sua imensa importância na história do rock, mas não faz mal. Afinal os fãs dos Beatles certamente não reclamaram do disco! O CD abre com o clássico do rock "Be-Bop-A-Lula" de Gene Vincent. Ele tentava imitar a forma de cantar de Elvis e foi tão bem sucedido que até Gladys (a mãe de Presley) confundiu-se, pensando que aquela música que ouvia no rádio era mais uma gravação de seu próprio filho! Paul optou por fazer uma versão bem fiel, embora colocasse também seu próprio estilo na sua versão. "I Lost My Little Girl" é uma canção dos primeiros tempos dos Beatles, quando eles ainda tentavam um caminho a seguir enquanto se apresentavam em espeluncas de Liverpool.

O primeiro clássico Beatle vem com a imortal "Here, There and Everywhere" do Revolver. Sem favor algum essa é certamente uma das melhores melodias escritas por Paul em toda a sua carreira. Ele a escreveu para o seu amor na época, a atriz Jane Asher (e naquela época todos os demais Beatles pensavam que eles iriam se casar!). Depois dela Paul faz uma pequena homenagem a Elvis Presley com "Blue Moon of Kentucky", lado B do primeiro single do Rei do Rock ainda nos tempos da Sun Records. Uma bela faixa, sem dúvida. "We Can Work It Out", "I've Just Seen a Face", "She's a Woman" e "Blackbird" estão na setlist para lembrar a todos que aquele que está no palco foi uma das metades mais importantes do melhor conjunto de rock da história, os Beatles. Nada mais justo. O curioso é que Paul evitou os grandes hits da banda, escolhendo músicas mais periféricas do repertório do grupo. A única exceção talvez seja a linda "And I Love Her" que foi um grande sucesso na época de "A Hard Day´s Night". Essa foi outra que Paul compôs para Jane. Já "San Francisco Bay Blues" é uma inédita, nunca antes gravada por Paul, nem em estúdio e nem ao vivo. A representante blues do álbum. Sua fase no Wings também não poderia ser esquecida e Paul acabou escolhendo duas faixas dessa época, "Every Night" e "Junk". Mais uma vez nenhum hit, apenas belas músicas que foram subestimadas injustamente em seu lançamento original. Como eu escrevi o repertório é muito bem escolhido, selecionado e criterioso. Há o lado bom para o ouvinte do CD, mas também é interessante notar que não foi uma seleção musical para levantar o público para cantar junto! É uma lista de canções para especialistas e não para as massas - e talvez por isso Paul nunca mais o tenha repetido em suas grandes apresentações de estádios, por exemplo.

Título: Unplugged (The Official Bootleg)
Artista: Paul McCartney
Ano de Lançamento: 1991
Gravadora / Selo: Emi / Parlophone
Produtor: Joel Gallen, Geoff Emerick

Paul McCartney - Unplugged (1991)
Be-Bop-A-Lula
I Lost My Little Girl
Here, There and Everywhere
Blue Moon of Kentucky
We Can Work It Out
San Francisco Bay Blues
I've Just Seen a Face
Every Night
She's a Woman
Hi-Heel Sneakers
And I Love Her
That Would Be Something
Blackbird
Ain't No Sunshine
Good Rockin' Tonight
Singing the Blues
Junk

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Paul McCartney - All The Best

Paul McCartney foi um grande criador de hits após a separação dos Beatles. Para quem ainda tem dúvidas sobre isso eu aconselho a adquirir esse “Paul All The Best” com os maiores sucessos de sua carreira solo. Não é apenas força de expressão, eu me lembro muito bem que bastava ligar o rádio nas décadas de 70 e 80 para ouvir Paul tocando insistentemente em todos os programas. Ele criou de fato grandes sucessos radiofônicos e a sua música estava realmente no ar, tocando em todos os lugares e para todos os públicos. Olhando para a extensa discografia de Paul McCartney duas coisas chamam a minha atenção. A primeira é que durante os primeiros vinte anos de sua carreira solo Paul lançou pouquíssimos discos ao vivo (para falar a verdade lançou apenas um, “Wings Over America”). Era de certa forma uma sequência do que havia acontecido nos próprios Beatles que nunca lançaram um disco ao vivo oficial, mesmo o grupo tendo atravessado o mundo várias vezes em excursões de sucesso. Outra característica marcante é que Paul, em seus primeiros anos, também lançou poucas coletâneas oficiais, de fato lançou apenas uma única reunião de sucessos, o álbum “Wings Greatest” de 1978.

Dessa forma esse “All The Best” é outra exceção na discografia do cantor e compositor. Eu particularmente nunca gostei de coletâneas de sucessos. Prefiro os discos oficiais com todo o repertorio à disposição do ouvinte. Trabalhos que reúnem apenas os grandes sucessos sempre trazem uma visão muito superficial do artista. O ideal é realmente ir descobrindo tudo aos poucos, de forma gradual, inclusive com as canções obscuras que não fizeram sucesso ou que foram completamente ignoradas. De qualquer modo nem todos tem tempo ou interesse para isso. Já outros simplesmente querem ter apenas um álbum do cantor em sua coleção. Para esses eu aconselho ainda hoje esse título, mesmo após todos esses anos. Na era do vinil ele foi lançado como álbum duplo, com encartes de luxo e belíssima direção de arte (ainda tenho em minha coleção essa preciosidade). Aqui o disco capta os anos de maior sucesso de Paul. São hits e mais hits, provando o legado de sucessos do cantor. De inédita apenas as ótimas faixas “Once Upon a Long Ago" (uma sonoridade maravilhosa que ganhou um clip marcante) e a infantil “We All Stand Together” (que tem um lindo arranjo orquestral). Ouvindo esses registros – aliados a todos os seus grandes sucessos – não podemos deixar de ficar admirados com tanto talento e criatividade musical. Acredito que esse é o grande diferencial de Paul McCartney como artista. É um músico que nunca teve medo de arriscar e transitar em todos os estilos musicais, até mesmo em músicas infantis. Nem preciso falar também de suas peças compostas para grandes orquestras.  Então fica a recomendação caso você queira ter apenas um disco do ex-beatle em sua coleção de CDs com o melhor de sua carreira solo. Não é o ideal para um talento do nível de um Paul McCartney mas...

Paul McCartney – All The Best (1987)
Jet
Band on the Run
Coming Up
Ebony and Ivory
Listen to What the Man Said
No More Lonely Nights
Silly Love Songs
Let 'Em In
C Moon
Pipes of Peace
Live and Let Die
Another Day
Maybe I'm Amazed
Goodnight Tonight
Once Upon a Long Ago
Say Say Say
With A Little Luck
My Love
We All Stand Together
Mull of Kintyre

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Press To Play

Depois dos ótimos discos "Tug Of War" e "Pipes of Peace" Paul McCartney deu continuidade em sua carreira nos anos 80 lançando em 1986 o álbum "Press to Play". Eu me recordo que o disco foi esperado com grande expectativa pelos fãs do ex beatle. O fato é que nos anos 80 Paul conseguiu emplacar vários hits inesquecíveis e formou parcerias musicais extremamente produtivas ao lado de artistas como Stevie Wonder e Michael Jackson. Além do sucesso nas paradas musicais Paul também vinha apresentando uma ótima sequência de excelentes clips promocionais para suas canções.

Dessa forma tudo soava a favor de seu novo lançamento, que chegaria ao mercado bem no auge de sua popularidade na carreira solo. O primeiro clip promocional do disco foi vinculado no programa Fantástico da Rede Globo (não existia ainda a MTV em nosso país) e mostrava um cantor bem à vontade pegando carona no Metrô de Nova Iorque. Era de certa forma um videoclip bem mais simples e modesto do que o material que vinha sendo apresentando antes, mas cumpria sua meta de promover o novo disco que estava para ser lançado. A canção era muito boa e tinha bom ritmo. Além disso trazia uma novidade para o nosso país: a participação talentosa do guitarrista brasileiro Carlos Alomar. Na mesma semana o disco finalmente foi lançado no Brasil.

Provavelmente eu fui uma das primeiras pessoas a comprar o disco no Brasil já que o adquiri quando ele literalmente chegou nas prateleiras. Naquele momento só conhecia mesmo "Press" que já vinha tocando regularmente nas rádios brasileiras com extrema habitualidade. Era um novo sucesso de Paul, não restava dúvidas. A direção de arte da capa de "Press To Play" era de extremo bom gosto, uma foto tirada com o mesmo equipamento usado na era de ouro de Hollywood na década de 30. Por isso a capa possui todo esse charme retrô e vintage que lhe caía muito bem. O álbum apesar de não ser duplo vinha com dupla capa, sendo que em seu interior Paul colocou dois desenhos com as respectivas fichas técnicas de forma esquematizada. Se a parte gráfica era excelente, a musical deixou a desejar.

Confesso que a primeira audição do disco me causou certa decepção. De primeira mão só consegui encontrar 3 faixas fortes no disco: Stranglehood (muito bem arranjada com inspirada execução de cordas), "Only Love Remains" (uma das mais belas baladas românticas de Paul na era pós Beatles, com lindo arranjo de piano) e a própria "Press" (com uma sonorização diferente da versão que saiu nos EUA - muito superior na minha opinião). As demais músicas do disco não ficavam à altura das expectativas. Paul chegava inclusive a requentar velhos arranjos de seu passado como os que tinha utilizado em "London Town" (na parte falada do disco "spoken word"). Também não havia nenhuma parceria digna de maior nota no restante do álbum (seu trabalho ao lado de Eric Stewart não foi muito bom na minha opinião).

O fato é que Paul formou uma banda nova para o disco, chamando músicos talentosos mas o resultado final ficou abaixo do que se esperava. O disco também não correspondeu muito bem nas paradas pois das demais músicas apenas "Only Love Remains" ganhou algum destaque, sendo promovida inclusive com um bonito videoclip (o segundo e último do disco). O LP também trazia uma sonoridade que tentava se comunicar melhor com os arranjos mais em moda dos anos 80 com farto uso de sintetizadores, o que causou o efeito oposto com o tempo o deixando bem datado hoje em dia.

Atualmente o disco está meio esquecido. As músicas não estão entre as mais populares de Paul e ele ignorou completamente o disco em suas apresentações ao vivo. "Press to Play" no final das contas demonstra que até mesmo os grandes nomes da música possuem seus momentos "menores". O fato é que depois da pouca repercussão do disco Paul acabou deixando de lado discos mais produzidos como esse para alcançar novos limites e tentar novas idéias para sua carreira, lançando, por exemplo, um disco "pirata" na União Soviética e gravando um belo trabalho ao lado de Elvis Costello (Flowers In The Dirty) para fechar com chave de ouro a década de 1980. Mas essa é uma outra história...

Paul McCartney - Press To Play (1986)
STRANGLEHOLD
GOOD TIMES COMING/FEEL THE SUN
TALK MORE TALK
FOOTPRINTS
ONLY LOVE REMAINS
PRESS
PRETTY LITTLE HEAD
MOVE OVER BUSKER
ANGRY
HOWEVER ABSURD

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Paul McCartney - Pipes Of Peace

Um dos grandes sucessos de Paul na década de 80, naqueles que foram alguns dos anos mais criativos de toda sua carreira. Aqui Paul segue com a fórmula que havia dado muito certo em Tug of War, ou seja, reunir-se a um grande nome da música com produção do maestro George Martin, seu produtor mais constante desde a época dos Beatles. Se em Tug of War tínhamos a presença muito especial de Stevie Wonder aqui Paul resolveu trazer nada mais, nada menos, do que o auto proclamado Rei do Pop, sim ele mesmo, Michael Jackson. Foi uma via de mão dupla,. Jackson participou de Pipes of Peace e em contrapartida Paul deu às caras no fenomenal disco Thriller (na ótima faixa “The Girl Is Mine”). Em Pipes of Peace Michael Jackson participa de duas excelentes canções, a simpática "Say, Say, Say" e a baladona "The Man". Ambas as músicas foram assinadas por Paul e Michael. Infelizmente a parceria bem sucedida não duraria muito pois Paul e Michael se desentenderam depois por causa da venda dos direitos autorais da discografia dos Beatles. Paul queria comprar mas Michael lhe passou a perna e as comprou antes, deixando Paul desolado. Sobre o acontecimento Jackson resumiria tudo com a seguinte frase: "Amigos, amigos, negócios à parte". Nunca mais voltaram a trabalhar juntos embora as regras de boa educação fizessem com que nas eventuais vezes que se encontraram se tratassem com a devida cordialidade.

Além de Michael Jackson, Paul resolveu formar uma nova banda para as gravações, formação essa que eu pessoalmente considero das melhores: Ringo Starr (dispensa maiores apresentações), Denny Laine (do Wings), Eric Stewart (ex-10cc) e Stanley Clarke.(um instrumentista excepcionalmente talentoso). Tantos talentos juntos geraram um excelente álbum com músicas excepcionais como a própria música título, "Pipes of Peace", que ganhou um dos melhores videoclips da carreira de McCarntey. Passada na I Guerra Mundial a estória relembra um pequeno evento, baseado em fatos reais, que aconteceu quando dois exércitos inimigos resolveram bater uma bolinha nos campos enlameados do front durante uma trégua. Paul inclusive surge dos dois lados, como um inglês e um alemão. Extremamente bem produzido o clip até hoje é lembrado, tal sua qualidade. A música "Say, Say, Say" também virou um videoclip bastante divertido com Paul e Michael interpretando charlatões no século passado. A canção se tornou o carro chefe do disco e foi lançada em single que trazia uma estranha capa com Paul e Michael com pernas enormes, realmente desproporcionais. 

No lado B "Ode a Koala Bear", uma musiquinha muito simpática e bem arranjada. Um fato curioso é que Paul na época da gravação desse disco estava muito envolvido no projeto para um musical a ser lançado no cinema. Assim as coisas ficaram meio atropeladas. Tentando ganhar tempo Paul acabou incluindo várias composições que iriam entrar em Tug Of War mas ficaram de fora do disco como "Keep Under Cover", "Hey Hey", "Tug Of Peace" e "Sweetest Little Show". Talvez por essa razão "Pipes of Peace" ganharia uma injusta fama de ser uma “sobra” de "Tug of War". Tal forma de pensar é bem injusta pois o álbum apesar de sofrer influências do disco anterior certamente tem identidade própria. No final o disco fez sucesso, e apesar dos pesares conseguiu emplacar nas paradas, chegando a vender 1 milhão de cópias apenas nos EUA. O sucesso prosseguiu em vários outros países conquistando vários discos de ouro e platina. Paul McCartney assim confirmava mais uma vez sua grande vocação para o sucesso.
  
Paul McCartney – Pipes of Peace (1983)
Pipes of Peace
Say Say Say
The Other Me
Keep Under Cover
So Bad
The Man
Sweetest Little Show
Average Person
Hey Hey
Tug of Peace
Through Our Love

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Tug Of War

Após a separação dos Beatles, Paul McCartney resolveu formar seu próprio grupo musical. Assim ele reuniu o músico Denny Laine e sua esposa Linda McCartney e fundou o Wings. Paul passaria praticamente toda a década de 70 promovendo o conjunto mas no começo dos anos 80 resolveu encerrar suas atividades. A partir daí ele próprio assinaria seus discos, assumindo definitivamente uma carreira solo. Tug Of War seria assim seu próximo projeto estritamente pessoal desde McCartney II em 1980. Porém ao contrário desse primeiro disco nos anos 80, que foi extremamente experimental, Paul iria desenvolver um disco bem mais produzido e feito para fazer bonito nas paradas. Para tanto chamou o produtor dos Beatles, George Martin, para conduzir as gravações. Paul tinha claras ambições de voltar a reconduzir sua carreira para o caminho do grande sucesso. Com Martin ao seu lado, Paul conseguiu produzir aquele que, muito provavelmente, foi seu melhor trabalho musical nos anos 80, Tug Of War.

Além da presença marcante de George Martin, Paul resolveu escalar um grupo de excelentes músicos para lhe acompanhar no projeto. Assim ele convidou Steve Wonder para participar (e dividir a autoria) em dois belos momentos do disco: What's That You're Doing? e Ebony and Ivory, essa última lançada em single de grande sucesso. Para homenagear suas raízes musicais trouxe o lendário cantor da Sun Records, Carl Perkins e com ele gravou uma das faixas mais deliciosas de Tug Of War, Get It. Stanley Clarke, famoso músico de jazz também se uniu ao grupo que ficou completo com a participação muito especial do ex-Beatle Ringo Starr. Como o disco foi gravado meses após a trágica morte de John Lennon, Paul resolveu homenagear seu antigo amigo e parceiro musical na linda faixa Here Today. A faixa título traria uma temática que seria depois desenvolvida no próximo trabalho de McCartney, Pipes Of Peace, e Ballroom Dancing se tornaria uma das mais conhecidas (e dançantes) faixas de toda a carreira de McCartney. Completando o LP, Paul ainda emplacou aquela que está entre algumas de suas mais bonitas melodias, Wanderlust. Em suma o disco é ótimo em qualquer aspecto que se analise.

Com ele Paul foi logo aclamado pela crítica e pelo público, fazendo com que o álbum logo se tornasse o mais vendido nas principais paradas musicais do mundo, como a Billboard e a NME (em ambas Tug Of War chegaria ao primeiro lugar). Esse grande sucesso comercial acabou colocando Paul em contato com Michael Jackson, que naquele mesmo ano desenvolvia seu fenomenal disco Thriller. Paul até mesmo participaria do disco do astro na faixa The Girl Is Mine e no ano seguinte lançaria um single ao lado de Michael, Say, Say, Say, mas essa é uma outra história...

Paul McCartney - Tug Of War (1982)
Tug of War
Take It Away
Somebody Who Cares
What's That You're Doing?
Here Today
Ballroom Dancing
The Pound Is Sinking
Wanderlust
Get It
Be What You See (Link)
Dress Me Up as a Robber
Ebony and Ivory

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Paul McCartney - McCartney II

Depois do fim dos Beatles, Paul McCartney resolveu formar uma nova banda. Juntou-se com sua esposa Linda (que não tocava nada) e com o talentoso Denny Laine e formou o Wings. Anos depois Paul explicaria que preferiu assim pois sempre fez parte de algum conjunto ao longo de sua vida e não sabia trabalhar de outro jeito. Também tinha receios de que seu nome sozinho não fosse comercialmente impactante ou viável (ora vejam só que absurdo!). Foi com os Wings que Paul atravessou toda a década de 70, lotando estádios mundo afora, conquistando discos e mais discos de ouro e criando um hit atrás do outro. Após a gravação do álbum “Back to Egg” Paul decidiu assumir de forma definitiva uma carreira solo. Jogou para o alto o conceito dos Wings e resolveu a partir daí assinar seus álbuns simplesmente como Paul McCartney. Os anos de glória pós-Beatles tinham lhe ensinado grandes lições, a melhor delas era que Paul poderia trabalhar muito bem sozinho, sem necessidade de ter que controlar um grupo de pessoas ao redor, muitas vezes com acessos de ego descontrolado. O vício de Denny Laine em drogas também contribuiu muito para Paul encerrar seu grupo. Por volta de 1980 ele sabia que o projeto de sua banda Wings estava enterrado de vez. Era o fim desse ciclo em sua carreira.

Assim logo no começo de 1980 Paul lançou seu novo disco, “McCartney II”. Qual foi a razão da escolha desse título? Muito simples, o primeiro álbum “McCartney” marcou seu rompimento com os Beatles. Era um álbum praticamente caseiro que Paul gravou em seu estúdio doméstico, onde surgia tocando todos os instrumentos sozinho. Em suas próprias palavras a ideia era simplesmente “gravar algo para tocar no toca fitas do carro durante as viagens”. “McCartney II” segue o mesmo caminho e a mesma filosofia de produção. Paul toca tudo, arranja tudo e obviamente canta e compõe todo o material. Se o primeiro álbum representava o rompimento dos Beatles, esse segundo marcava o fim dos Wings. O velho Macca sabia bem o que fazia. Apesar de sempre afirmar que o disco não tinha pretensão nenhuma, o fato é que ele era composto de excelentes faixas, algumas inclusive que se tornaram grandes sucessos na voz do ex-Beatle. O carro chefe era a simpática “Coming Up” que chegou a ser elogiada publicamente por John Lennon em uma entrevista.

Um feito e tanto para John que sempre soltava farpas em direção ao trabalho solo de seu ex-companheiro de banda. Já "Waterfalls" mostrava o lado mais romântico e melódico de McCartney. Canção linda que virou inclusive single em junho de 1980. Paul explicaria depois que a compôs pensando nas lindas paisagens naturais, como aquelas que são vistas em comerciais de estações de turismo. As demais faixas do álbum seguiam um lado mais experimental, com uma sonoridade bem diferente, que inclusive valeu ao disco o apelido de projeto “maluquinho” de Paul. O exemplo maior era justamente "Temporary Secretary", que mais parecia uma farra de estúdio do que uma gravação convencional. Mesmo assim o álbum virou sucesso e chegou ao primeiro lugar na Inglaterra, provando a Paul que o caminho a seguir era esse mesmo. De qualquer modo, mesmo com sua verniz alternativa, não há como negar o incrível charme que “McCartney II” possui. Um disco que se tornou um perfeito retrato desse novo artista que renascia mais uma vez em sua maravilhosa trajetória musical. 

Paul McCartney - McCartney II (1980)
Coming Up
Temporary Secretary
On the Way
Waterfalls
Nobody Knows
Front Parlour
Summer's Day Song
Frozen Jap
Bogey Music
Darkroom
One of These Days

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Back to the Egg

Eu sempre achei a ideia do grupo Wings sem muita lógica. Paul McCartney separou-se dos Beatles, provavelmente o melhor grupo de rock da história, e de repente surgiu no mercado com esse Wings. Nunca convenceu ninguém. Claro que a banda lançou algumas das melhores canções de Paul mas todos sabiam que era pura fachada. Em minha visão Paul ficou meio receoso de se colocar completamente solo no mercado e não dar certo, assim inventou o Wings como um escudo de proteção. Mas passados 10 anos do fim dos Beatles, Paul não precisava mais disso, ele tinha se consolidado plenamente, feito turnês maravilhosas e não precisava mais se esconder atrás dessas asas. Assim o Wings deu adeus como projeto e como grupo de rock. "Back to the Egg" é justamente isso, Paul dando bye bye a esse velho conceito que para falar a verdade nem pegou direito pois desde o começo dos anos 70 as pessoas se referiam aos discos como se fossem de Paul ou no máximo citavam os Wings como "o grupo do Paul McCartney". Certa vez li uma definição muito divertida sobre o conjunto que dizia "Wings: Paul McCartney e mais um grupo de ratinhos de laboratório dele fingindo serem colegas de banda". Cruel? Sim, mas bem perto da realidade.

Se fosse dizer qual realmente seria o núcleo básico do Wings diria que ele era formado mesmo apenas por Paul, sua esposa Linda e Denny Laine. Os demais membros era temporários, iam e viam de acordo com as necessidades de Paul. Isso, convenhamos não é grupo de rock nenhum, mas sim um mero nome comercial que esconde o fato de estarmos diante da carreira solo de Paul McCartney e seus vários músicos de palco e estúdio. Nada mais do que isso. Além dos habituais membros do Wings, prestes a desaparecer, Paul resolveu ainda chamar grandes nomes para tocar numa faixa super especial que ele havia composto chamada "Rockestra Theme". Entre os convidados estavam o mito David Gilmour do Pink Floyd (provavelmente o maior guitarrista de todos os tempos), Pete Townshend do The Who e dois membros do Led Zeppelin, John Paul Jones e John Bonham. Esse padrão de convidar grandes músicos se tornaria regra para Paul nos anos que viriam já que em pouco tempo ele estaria dividindo o microfone com gente como Michael Jackson e Stevie Wonder, com maravilhosos resultados. Eu considero "Back to the Egg" um dos melhores trabalhos de Paul onde hits convivem com faixas menos conhecidas. Infelizmente essa minha opinião não é compartilhada nem mesmo pelo próprio McCartney que numa entrevista anos depois afirmou que o disco era "super produzido demais", mostrando que se fosse mais simples seria de seu agrado. Deixe a modesta opinião de Paul de lado e conheça esse excelente momento de sua discografia nos anos 70, você certamente não irá se arrepender.

Paul McCartney - Back to the Egg (1979)
1. Reception
2. Getting Closer
3. We're Open Tonight
4. Spin It On
5. Again And Again And Again
6. Old Siam, Sir
7. Arrow Through Me
8. Rockestra Theme
9. To You
10. After The Ball/Million Miles
11. Winter Rose / Love Awake
12. The Broadcast
13. So Glad To See You Here
14. Baby's Request
15. Daytime Nighttime Sufferin*
16. Wonderful Christmastime*

* Incluídas no lançamento posterior em CD.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Paul McCartney - London Town

Paul McCartney formou o Wings após o fim dos Beatles e durante toda a década de 1970 gravou algumas de suas melhores canções. Esse "London Town" não é tão badalado quanto alguns de seus vitoriosos álbuns daquela época mas tem um charme muito especial. Paul tentou aqui capturar o que seria o autêntico som do pop / rock britânico. Ao lado de sua esposa Linda e Denny Lane, Paul quase chegou lá. O disco é bem produzido, não resta dúvidas mas tem um grave problema: é muito irregular. O que talvez explique essa montanha russa entre as faixas é a maneira caótica como o disco foi gravado. Paul sempre foi bem disciplinado em relação ao seu trabalho em estúdio mas como toda regra tem exceção London Town foi registrado numa bagunça incrível. O projeto foi inicialmente desenvolvido em Abbey Road mas depois o próprio Paul paulatinamente o abandonou deixando apenas duas faixas prontas. Depois de muito vai e vem ele retornou para finalizar o álbum mas a linha de conexão já havia se partido e assim durante quase um ano Paul foi terminando o disco no estilo "pinga pinga".

O Wings também sofreu baixas durante as gravações e por isso o disco soa hoje sem identidade. As faixas vão do belo ("London Town", "I´m Carrying", "With a Little Luck") ao medíocre ("Famous Groupies" e "Morse Moose And The Grey Goose"). De qualquer forma há preciosidades perdidas no conjunto como por exemplo a ótimo e injustamente desconhecida até hoje, "I've Had Enough". Uma faixa simples apenas com guitarra, bateria e baixo, como convém aos grandes rocks. Na minha concepção uma canção que poderia entrar facilmente em qualquer discos dos Beatles em sua primeira fase. A pegada é excelente - impossível não lembrar dos primeiros registros do quarteto de Liverpool ainda nos tempos do Cavern. Outra música injustamente esquecida é "Girlfriend" que ganharia um ano depois uma regravação com Michael Jackson em seu LP "Off The Wall". No mesmo lirismo juvenil encantador ainda há "Children, Children" - o típo de música que não vemos mais atualmente em discos atuais pois o cinismo reinante poderia facilmente as qualificar como "bobas" ou "pueris" demais.

O interessante de London Town é a ausência entre as faixas de um dos maiores sucessos da carreira de Paul: "Mull of Kintyre". Paul a lançou em single pouco antes de "London Town" chegar ao mercado e por uma decisão infeliz a deixou fora do álbum (na época ainda imperava certas estratégias de marketing antigas como o lançamento exclusivo em compactos para subirem rapidamente nas paradas). O fato é que "Mull Of Kintyre" vendeu tanto na época que acabou se tornando o single mais vendido na Inglaterra, um feito e tanto. Sucesso merecido aliás pois é de grande beleza sonora com rico e sofisticado arranjo tradicional. Não faz mal, anos depois Paul finalmente consertaria o erro e a incluiria entre as faixas de "London Town" na reedição do disco em Compact Disc. Antes tarde do que nunca! Em síntese poderia dizer que "London Town" apesar de sua irregularidade, consegue atingir um excelente nível em suas melhores músicas. Só isso já vale a audição com absoluta certeza.

Paul McCartney - London Town (1978)
London Town
Cafe On The Left Bank
I'm Carrying
Backwards Traveller
Cuff Link
Children Children
Girlfriend
I've Had Enough
With a Little Luck
Famous Groupies
Deliver Your Children
Name And Address
Don't Let It Bring You Down
Morse Moose And The Grey Goose

Pablo Aluísio.

Paul McCartney - Wings at the Speed of Sound

Esse album retratava de certa forma tudo o que estava errado com os Wings na época. Como se sabe esse foi um grupo criado por Paul após o fim dos Beatles. Por anos os críticos e até mesmo alguns fãs afirmaram que esse grupo de fato nunca existiu pois no fundo era apenas Paul e alguns músicos contratados para fazer cena com ele no palco. De fato o nome de Paul McCartney ofuscava qualquer outro membro do grupo a tal ponto inclusive que a maioria das pessoas sequer sabem o nome de algum integrante desse conjunto, fora obviamente Paul e Linda. Diante de tantas críticas McCartney tentou provar que o Wings era realmente um grupo musical de fato, pra valer. Assim abriu espaço nos discos para músicas e vocais aos demais membros. O problema é que, com todo o respeito aos demais músicos, nenhum deles sequer conseguia sair da sombra de Paul McCartney. As músicas eram fracas demais, as composições não empolgavam e os vocais só serviam para dar saudades de McCartney.
   
“Wings at the Speed of Sound” é o retrato disso. Existem dois grandes clássicos na seleção, todas obviamente de Paul McCartney. A primeira a destacar é também o maior sucesso de Paul nos Estados Unidos: “Silly Love Songs”. A canção foi composta como uma resposta bem humorada de Paul a uma crítica de John Lennon que havia declarado a um jornal americano que “Paul só sabia fazer baladas românticas”. Diante da “acusação” Paul escreveu essa bela balada onde ele perguntava o que afinal havia de errado nisso? Nem precisa dizer que a melodia é maravilhosa e seu refrão pegajoso grudou nas rádios americanas como poucas vezes foi visto. A segunda grande música do álbum é “Let 'Em In”. Aqui o ritmo é suave, quase sussurrado, numa bela faixa. Paul usou uma melodia recorrente, que vai e volta ao mesmo ponto várias vezes. Mesmo assim tudo soa muito agradável aos ouvidos. Infelizmente tirando essas duas lindas canções o que sobra é o abismo. Nada mais de memorável se salva, nem as canções escritas por Denny Laine e nem muito menos as de Jimmy McCulloch. E o que dizer da ridícula “Cook of the House” de Linda McCartney? Sem comentários. O fato é um só. Não há como competir com um talento como Paul McCartney. Se ele quis aqui provar que os Wings eram mais do que ele próprio o feitiço acabou virando contra o feiticeiro pois “Wings at the Speed of Sound”, o álbum, provou justamente o contrário do que ele pretendia.
 
Wings - Wings at the Speed of Sound (1976)
Let 'Em In
The Note You Never Wrote
She's My Baby
Beware My Love
Wino Junko
Silly Love Songs
Cook of the House
Time to Hide
Must Do Something About It
San Ferry Anne
Warm and Beautiful

Pablo Aluísio.