sábado, 26 de junho de 2010
Elvis Presley - Biografia - 1969
Elvis retorna a Memphis para a realização de uma das maiores sessões de gravação de toda a sua carreira. No American Studios, cercado de uma nova banda e sob a supervisão do produtor Chips Moman, Elvis registra alguns dos maiores clássicos de toda a sua vida musical. Um renascimento épico. Com muita vontade de gravar material de qualidade e se tornar novamente um artista relevante, Elvis consegue recuperar todo o seu prestígio profissional. O Rei do Rock está de volta. O "American Studios" era um acanhado estúdio de gravação de Memphis. Elvis voltava às suas origens, o American era localizado em um bairro negro de Memphis e lá Elvis poderia novamente respirar a cultura que deu origem à sua própria musicalidade. Segundo Priscilla: "Depois do sucesso do especial, Elvis dedicou várias semanas a uma sessão de gravação, mais uma vez altamente motivado. Pela primeira vez em 14 anos ele fora persuadido a gravar em Memphis, em uma companhia negra em que muitos artistas importantes, inclusive Aretha Franklin, haviam gravado os seus sucessos mais recentes. Os músicos dos estúdios eram jovens e Elvis estabeleceu um grande contato com eles. Mais importante ainda: Elvis fazia uma música sensacional com eles. Ele ficava cantando no estúdio, até o amanhecer, voltava à noite, transbordando de energia, pronto para recomeçar. Sua voz estava em grande forma e seu entusiasmo era contagiante. Cada faixa ficava cada vez mais sensacional do que a anterior. Escutávamos as canções repetidamente e Elvis estava sempre gritando, exultante: -'Escutem esse som' - ou então decidia: - 'Vamos tocar tudo de novo'" Elvis Presley voltava a ser Elvis Presley, o Rei do Rock.
Fevereiro de 1969 - A RCA lança o single "Memories / Charro". Com o sucesso absoluto da exibição do NBC TV Special exibido no final de 1968, a RCA corre para aproveitar o momento e lança o single com uma das músicas mais representativas do especial. Memories (Strange / Davis) - Acho "Memories" realmente uma música muito especial. Muito bem escrita, bem arranjada e contando com Elvis em um dos seus melhores momentos. No especial Elvis fez uma grande apresentação da música, sentado ao lado de umas garotas bonitas, ainda com sua roupa de couro negro. Foi lançada em single no começo de 1969 com "Charro" (do filme de mesmo nome) no lado B. Foi um belo êxito de vendas, reconciliando definitivamente Elvis com as paradas de sucesso.
Março de 1969 - É lançado "His Hand In Mine / How Great Thou Art", meras reprises que não conseguem grande repercussão.
Março de 1969 - Elvis faz seu último filme ao velho estilo: "Change of Habit" (Ele e as três noviças). Com Mary Tyler Moore no elenco, esse filme marca o adeus de Elvis à sua carreira de ator em Hollywood. O filme só chegaria aos cinemas no ano seguinte.
Abril de 1969 - Chega às lojas o single de grande sucesso "In The Guetto / Any Day Now". In The Guetto (Mac Davis) - Em meio ao furacão que foi os anos sessenta Elvis lançaria esta música que trazia um conteúdo político em sua letra. A Guerra do vietnã, a revolução sexual e a luta dos negros contra o preconceito racial (luta pelos direitos civis) eram alguns dos fatos que estavam na ordem do dia. Elvis Presley não poderia ficar à margem de tudo isso. Em uma entrevista coletiva o repórter perguntou a Elvis: "Está tentando mudar sua imagem com temas tipo "In The Guetto"? Elvis respondeu: "Não. 'Guetto' é uma grande música e simplesmente não poderia dispensá-la após tê-la escutado". "In The Guetto" foi lançada como single alcançando o terceiro lugar das paradas dos EEUU e o segundo lugar no Reino Unido. Any Day Now (Hillard/Bacharad) - Sucesso do maestro Burt Bacharach que se tornou um grande sucesso na voz do cantor Chuck Jackson em 1962. No final dos anos 60 ainda foi gravada por Percy Sladge. Elvis escolheu o melhor para gravar durante estas sessões. Aqui se nota a marcante presença dos metais durante todo o arranjo. Foi lançada como lado B do single "In the Guetto" levando disco de ouro por suas vendas. É o primeiro single de Elvis Top 5 desde abril de 1965.
Junho de 1969 - "From Elvis in Memphis" é lançado.
Este disco representou muito na carreira de Elvis Presley. Depois de vários anos desperdiçando seu talento em trilhas sonoras, o cantor voltava a gravar músicas de qualidade. A fórmula "trilha / filme" já havia se esgotado pois o último grande êxito de Elvis tinha sido o filme "Viva Las Vegas" (amor a toda velocidade, 1964). De 1965 em diante Elvis iria lançar trilhas cada vez piores, como "Spinout" (minhas três noivas, 1966), "Double Trouble" (canções e confusões, 1967), "Clambake" (o barco do amor, 1967) e "Speedway" (o bacana do volante, 1968), que seriam grandes fracassos de vendas. Era hora de mudar para salvar a carreira do Rei do Rock. Em 1968 o cantor iria estrelar um especial de TV pela NBC que se tornaria um grande sucesso e que recuperaria o brilho de Presley. A Partir daí Elvis voltaria aos shows ao vivo e às paradas de sucesso, conquistando novamente público e crítica. A Revista Rolling Stone resumiu tudo no artigo referente ao lançamento deste disco: "From Elvis in Memphis é mais que um LP. É a prova de que quem começou tudo isso está melhor do que nunca. Um verdadeiro astro de Rock'n'Roll. Elvis domina um repertório que derrubaria dúzias de Mick Jaggers. Sem esforço algum, ele vai da ternura à fúria, da ironia à paixão, tudo em menos de um segundo. Ele só precisava de um disco para provar que ainda é o melhor de todos e este disco chama-se From Elvis in Memphis".
Destaques do disco: WEARIN' THAT LOVED ON LOOK (Dallas Frazier/Al Owens) - Elvis abre o LP com esta ótima canção. Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" (Elvis and Me, Ed.Rocco, 1985) relembra sobre estas sessões de gravação: "Pela primeira vez em 14 anos ele fora persuadido a gravar em Memphis no American Studios(...) Os músicos do estúdio eram jovens e Elvis estabeleceu um grande contato com eles. Mais importante ainda: Elvis fazia uma música sensacional com eles". Essa canção inicial já trazia uma instrumentalização muito bem elaborada, muito distante dos arranjos feitos às pressas pelas sofríveis trilhas sonoras pós 65. Era o prenúncio do que estava por vir. ONLY THE STRONG SURVIVE (Gamble/Huff/Butler) - Grande sucesso do cantor e compositor Jerry Butler. O Estúdio escolhido para Elvis gravar este disco foi o American Studios em Memphis. Era um estúdio de gravação bem rústico localizado nos arredores de Memphis onde grandes nomes como Dione Warwick, Roy Hamilton, Neil Diamond, Aretha Franklin e Wilson Picket gravaram grandes sucessos. Era para muitos a "Volta ao lar de Elvis". LONG BLACK LIMOUSINE (George/Stavall) - Sucesso de Jody Miller. Foi a primeira música gravada por Elvis durante as sessões no American Studios. As músicas foram gravadas entre os dias 13 e 22 de Janeiro e 17 a 22 de Fevereiro de 1969. A intenção era gravar mais de trinta músicas em uma única vez, porém Elvis pegou uma infecção viral que o afastou dos estúdios durante um mês, voltando logo após para mais uma rodada de gravações. Detalhe: Elvis nunca mais gravaria com alguns desses músicos, pois ele iria montar o seu próprio grupo, a famosa TCB Band (das iniciais de "Taking Care of Business" ou em português "Tomando conta dos negócios", o lema de Elvis). A TCB iria acompanhá-lo até seus últimos shows e discos. IT KEEPS RIGHT A HURTIN (Tilloston) - Lançada originalmente em 1962 pelo cantor e compositor Johnny Tilloston. O maior especialista sobre a história de Elvis, Peter Guralnick, escreveu sobre estas sessões: "Elvis Presley será lembrado pela posteridade por suas músicas na Sun Records e pelas maravilhosas gravações no American Studios em Memphis". Sem dúvida, o salto de qualidade foi enorme e mostrou para Elvis que ele deveria deixar Hollywood para trás. Esses caras de cinema não entendiam nada de Rock 'n' Roll. I'M MOVIN ON (Hank Snow) - Música escrita pelo lendário Hank Snow e grande sucesso em 1950. Elvis que possuía uma incrível intuição artística sabia que estas canções iriam se transformar em grandes sucessos. Ele já tinha perdido a paciência de gravar tantas musiquinhas ruins das trilhas sonoras pós-65 e sabia que esta era a chance que ele precisava para voltar ao topo. Por essa razão deu o melhor de si nas sessões, trocando idéias com seus novos produtores Felton Jarvis e Chips Moman. Elvis sentiu durante muito tempo a falta de um bom produtor, pois passou os anos 60 produzindo praticamente sozinho seus discos. Jarvis se tornou um bom parceiro de estúdio para o cantor, tanto que dele não mais se separou. O produtor continuou trabalhando com Elvis até seu último disco, "Moody Blue". POWER OF MY LOVE (John Hartford) - A Melhor música do disco. Um dos músicos relembra sobre estas sessões: "O famoso cantor negro Roy Hamilton também gravava no American. Cantava nos clubes à noite e vinha de dia aos estúdios. Elvis gravava à noite, mas costumava chegar cedo aos estúdios para ouvir Roy" (Elvis adorava o sentimento e o estilo musical dos negros). E quando recebeu o Demo de "Angelica" deu para Roy gravar. A Música se tornou um grande sucesso mas infelizmente Roy Hamilton faleceu logo depois.
Junho de 1969 - Clean Up Your Own Back Yard / The Fair's Moving You, novo single de Elvis é lançado. Clean Up Your Home Backyard (Billy Strange / Mac Davis) - Com o especial de 68 no gatilho Elvis foi filmar "The Trouble With Girls" em outubro de 68, seu último filme pela MGM. O filme é bem diferente dos anteriores com Elvis em um papel no mínimo inusitado. Não acho o filme tão bom assim, mas está longe de ser o seu pior. Contém cinco músicas, a curta "Violet", um dueto na engraçada "Signs of the Zodiac", uma regravação de um gospel de 1960, "Swing Down Sweet Chariot", que acho que ficou bem melhor nessa versão de 68, a belíssima balada "Almost" e uma das músicas mais intrigantes da carreira de Elvis: Clean Up Your Home Backyard. Com uma das melhores letras que eu já ouvi, essa música pinta um retrato sarcástico da sociedade hipócrita de uma típica cidadezinha dos EUA: fala do falso religioso que prega e se mete na vida de todo mundo, mas que na verdade em vez de ir para a missa fica se embriagando em casa, o cara que critica todo mundo, mas que trai a esposa com a funcionária de sua loja etc. No final conclui: "Quando você chega no fundo da questão, não é uma pena que nessa pequena cidade ninguém consegue admitir que possa estar um pouco errado?" Não chega a ser uma música com conotação social como "If I Can Dream" ou "In The Guetto", mas é na mesma linha, só que nela o tópico é abordado de forma irônica. Possui ainda uma instrumentação meio blues / funk bastante interessante. Foi lançado como single e foi relativamente bem, alcançando 35º lugar. (Victor Alves) The Fair's Moving You (Fletcher / Flett) - Lado B de um single lançado em junho de 1969 com "Clean Up Your Own Back Yard", esta tema do filme "The Trouble With girls" (lindas encrencas, as garotas, 1969). Em 1969 Elvis terminava seu contrato de sete anos com a MGM. Estava cansado de Hollywood, de seus roteiros de baixo nível e do sistema industrial dos executivos da indústria do cinema. Queria sair novamente para a estrada e entrar em contato com seus fãs. Os seus três últimos filmes feito ao velho estilo foram: "Charro" (charro, 1969), um western com o cantor de barba! ; "The Trouble with Girls" (lindas encrencas, as garotas, 1969) o melhor dos três com a presença de Vincent Price no elenco e "Change of Habit" (ele e as três noviças, 1969), com Mary Tyler Moore, no qual o cantor interpreta um médico numa clínica pobre de um guetto de Nova York. Nesta época Elvis cunhou uma frase que resumia seus últimos filmes: "Pior que assistir um filme ruim é estar em um".
Julho de 1969 - Elvis volta aos palcos!
Elvis volta aos palcos e se apresenta em Las Vegas pela primeira vez. Dez dias depois que o primeiro homem pisou na Lua, finalmente Elvis volta aos shows e pisa no palco pela primeira vez desde 1961. Elvis está novamente empolgado, o NBC TV Special representou mais do que nunca uma virada decisiva em sua carreira. As sessões de janeiro no American Studios consolida a ótima fase que é coroada definitivamente com seu retorno ao local onde sempre foi rei: diante de seu público. Para lhe acompanhar Elvis forma uma excelente banda liderada pelo guitarrista James Burton e é acompanhado por uma orquestra de primeira linha. Em ótima forma física, esbanjando humor e alto astral Elvis conquista a todos numa série de apresentações com casa lotada. Jerry Hopkins, amigo e testemunha ocular de seu retorno triunfante relembra: "Elvis caminhou preguiçosamente até o centro do palco, agarrou o microfone do pedestal, fez uma pose dos anos 50 - pernas firmes, joelhos estalando quase imperceptivelmente - e antes que pudesse começar sua primeira música, a platéia o fez parar. Logo que ele ia começar a primeira música, levou no rosto um grande rugido. Todas aquelas milhares de pessoas estavam de pé, muitas em cima das cadeiras e gritando". Elvis então dá o melhor de si e mostra que não perdera seu toque mágico com o público e mostra que ainda é o rei do rock. O show se traduz em um enorme sucesso, tanto de público como de crítica. Elvis não contêm após a apresentação. Ao encontrar o Coronel Parker ambos se abraçam, lágrimas nos olhos, celebrando o grande momento e o grande triunfo. Elvis diz ao Coronel: "Temos que colocar o pé na estrada novamente, vamos ganhar o país!". No dia seguinte toda a imprensa falada e escrita do país está comentando e celebrando a volta de Elvis às apresentações ao vivo. O Coronel anuncia que em breve Elvis irá começar a visitar as cidades americanas. No último dia da temporada Elvis dá uma grande festa em seu apartamento no International Hotel. Elvis confidencia a Joe Esposito: "Joe, estou muito feliz, há muito tempo não sentia tanto prazer assim em cantar e me apresentar!". Assim se manifestou a revista Rolling Stone sobre os shows de Presley: "Elvis é sobrenatural. É a sua própria ressurreição". A Revista Newsweek escreveu: "Aconteceram muitos fatos na vida de Elvis, mas o mais inacreditável foi sua permanência no mundo musical, onde carreiras meteóricas quase sempre se desvanecem, tal qual estrelas cadentes". A revista "Elvis Monthly" expressou a opinião dos fãs: "Em 20 de julho de 1969, o Homem desceu na Lua, a Águia pousou e Neil Armstrong deu um pequeno passo para o homem, um gigantesco passo para a humanidade. A Atenção do mundo voltou-se para o Mar da Tranqüilidade e fez-se a História. Em 26 de julho de 1969, Elvis Presley pisou no palco do International Hotel - O Rei retornou. Pode ter sido um pequeno passo para Elvis, mas foi um gigantesco passo para seus fãs". Parte da temporada será lançada depois no disco duplo "From Memphis to Vegas / From Vegas To Memphis". Elvis ainda era o eterno Rei do Rock. Viva Elvis!
Agosto de 1969 - Pela primeira vez desde 1962 Elvis chega ao primeiro lugar da parada americana de singles da revista Billboard com o single "Suspicious Minds / You'll Think Of Me". Suspicious Minds (Mark James) - O grande sucesso de Elvis no período em que sua carreira renascia no final dos anos 60. O single "Suspicious Minds" ocupou a primeira posição no hit parade mundial exatamente na semana em que o festival de Woodstock acontecia nos EUA. No evento máximo da era de "Paz e Amor" a geração hippie prestou sua homenagem àquele que começou toda essa revolução cultural e comportamental lá nos distantes anos 50. Um grande momento de Elvis que ficou eternamente gravado na mente de todos os que viveram momento tão magico! A canção em si é muito bem arranjada e faz parte das maravilhosas sessões de Elvis em Memphis no American Studios. Elvis aqui conta com ótimo material composto por Mark James, que iria se tornar um de seus principais compositores nos anos 70 ao lado de Dennis Linde, Tony Joe White, Joe South, Jerry Reed e Mac Davis. You'll Think Of Me (Shuman) - Lado B do single "Suspicious Minds". Elvis utilizou o que de melhor havia em estúdio para gravar as músicas escolhidas por ele, bem ao contrário das trilhas de filmes em que o material era determinado pelos estúdios de cinema. Elvis sabia da má qualidade destas músicas e se sentia muito mal ao gravá-las. Finalmente em 1969 ele deu um basta a esta situação e decidiu que ninguém mais iria interferir no seu trabalho. Isto representou um saldo de qualidade imenso na carreira do Rei.
Setembro de 1969 - "Charro" é lançado.
Depois de um ano de suas filmagens, Charro chega aos cinemas americanos. A excelente fase em que Elvis passa se reflete na boa bilheteria do filme, porém a crítica não perdoa. A revista Variety decreta sobre o filme: "Charro é um western americano que tenta imitar os westerns spaguettis, que por sua vez são imitações baratas das produções americanas! Como conciliar tamanha contradição? Só em uma coisa o filme é superior aos faroestes baratos italianos: A canastrice de Elvis supera em muito a de Giulianno Gemma". Dois meses depois outro filme de Elvis estréia nos Estados Unidos: The Trouble With Girls (Lindas encrencas, as garotas), outra produção que é relativamente prestigiada pelo público. Mesmo com os bons resultados Elvis não pensa mais em voltar aos cinemas, pois tudo o que lhe importa agora é cair na estrada e voltar a fazer shows. A carreira de ator de Elvis Presley está definitivamente encerrada.
Novembro de 1969 - É lançado o último single de Elvis nos anos 60: Don't Cry Daddy / Rubberneckin'. O single se torna um grande sucesso chegando ao Top 10 da Billboard. (6º lugar). Don't Cry Daddy - impossível não se sentir emocionado ao ouvir essa música. Letra brilhante e passional, interpretação maravilhosa, Elvis demonstra que é um artista único e que jamais poderá ser substituído. "Don't Cry Daddy" foi gravada nas fantásticas sessões do American Studios no começo de 1969. Muitos anos depois sua filha, Lisa Marie Presley, fez uma bonita e sincera homenagem ao pai em um dueto de Don't Cry Daddy. Tocante e sensível, para dizer o mínimo. Já Rubberneckin também teve uma trajetória curiosa ao longo dos anos. Gravada inicialmente para o filme Change of Habit (Ele e as três noviças), a canção foi parcialmente esquecida durante anos. Porém em 2003 ela foi redescoberta pelo BMG que produziu um remix, que ao ser lançado, chegou ao primeiro lugar nas paradas americanas. Um merecido sucesso, diga-se de passagem. Um belo embalo que fez jus ao legado deixado por A Little Less Conversation. Lançada no Brasil no LP Almost in Love. Nota 10.
Dezembro de 1969 - "From Memphis to Vegas / From Vegas To Memphis" é lançado.
Este é um disco monumental. Foi o primeiro álbum duplo da carreira de Elvis. Seguindo os passos de seu trabalho anterior, "From Elvis in Memphis", este também traz músicas gravadas no American Studios em Memphis juntamente com o primeiro registro ao vivo da carreira de Elvis a ser lançado em sua discografia oficial. Assim o antigo vinil duplo era dividido entre o Disco I "From Memphis to Vegas" com o show ao vivo gravado em Las Vegas no mês de agosto de 1969, e o disco II "From Vegas to Memphis" com mais canções da fantástica sessão de gravação do American Studios em Memphis. No mesmo mês da gravação do disco I e do festival de Woodstock, Elvis chegava ao primeiro lugar nas paradas com o single "Suspicious Minds / You'll Think of Me". Este foi um dos períodos mais produtivos e bem sucedidos da carreira de Presley. Em 1970 este disco iria ser dividido, sendo lançado separadamente, surgindo assim os LPs "Elvis in Person at International Hotel" e "Back in Memphis". O disco foi lançado em novembro de 1969 e se tornou um grande sucesso. Este foi sem dúvida um ponto alto na carreira do Rei do Rock'n'Roll. O Disco "From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis" (LSP 6020) foi um grande sucesso da carreira de Elvis.
Destaques do disco: MEDLEY: MISTERY TRAIN (Philips / Parker) / TIGER MAN (Lewis / Burns) - Ótimo Medley reunindo "Mystery Train", canção da época da Sun Records e Tiger Man, que se tornou conhecida após Elvis a apresentar no NBC TV Special em 1968. Tudo foi perfeitamente arranjado por Felton Jarvis e Elvis, com um maravilhoso balanço e equilíbrio entre cordas e metais. Este mesmo medley foi utilizado por Elvis no começo do filme "That's The Way It Is" (Elvis é assim, 1970). A coreografia e os efeitos de luzes do cinema completaram o magnifico show visual e sonoro desta jóia do Rock. WORDS (B.Gibb / R.Gibb / M. Gibb) - Ótimo momento do disco. Aqui se percebe toda a versatilidade de Elvis, pois esta é uma música do conjunto Bee Gees, muito popular nos anos 70, principalmente pela trilha sonora do filme "Saturday Night Fever" (os embalos de sábado à noite, 1977). Este grupo se tornou um dos símbolos dos anos em que a discoteque dominava o mundo musical americano e mundial. INHERIT THE WIND (Rabbit) - Canção que abre o segundo disco denominado "From Vegas to Memphis". Esta segunda parte traz músicas gravadas por Elvis em estúdio em Memphis no American Studios. O Coronel Tom Parker, empresário de Elvis, resolveu em 1970 relançar este álbum duplo de Presley em dois LPs separados. Assim o disco "Back in Memphis" nada mais é que o segundo disco do álbum duplo "From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis". A estratégia do coronel acabou dando certo, levando Elvis a receber mais um disco de ouro pelo LP "Elvis in Person at International Hotel". STRANGER IN MY OWN HOME TOWN (Mayfield) - Mais um blues dentro da carreira de Elvis. O cantor apreciava particularmente R&B, ou seja, Rinthim and Blues, mas sempre estava à procura de um bom material para gravar blues. Aqui ele encontra um de ótimo nível, o que resulta num dos melhores momentos do disco. Na caixa "Walk a mile in my shoes" há uma versão envenenada desta música, bem melhor que a oficial. A LITTLE BIT OF GREEN (Arnold / Morrow / Martin) - Canção que foi sucesso na voz do cantor Eddy Arnold. Elvis apreciava muito o estilo de Arnold, chegando inclusive a gravar duas vezes seguidas uma música de Eddy nos anos sessenta: "You Don't Know Me". A primeira versão foi completada para o filme "Clambake" (o barco do amor, 1967), mas Elvis não gostou e resolveu gravá-la novamente. AND THE GRASS WON'T PAY NO MIND (Neil Diamond) - Sucesso de Neil Diamond. Elvis iria gravar outras canções de Diamond como "Sweet Caroline". Neil Diamond foi um típico cantor romântico dos anos setenta e não conseguiu ficar muito tempo entre os mais do Hit Parade mundial. Sua carreira entrou em decadência no início dos anos oitenta, mas mesmo assim ele gravou vários outros discos. DO YOU KNOW WHO I AM? (Russel) - Uma magnifica interpretação de Elvis Presley. Mais uma vez fica evidenciado a perfeita harmonia entre o cantor e sua equipe vocal. Elvis a gravou diversas vezes para se chegar a um resultado perfeito. Nestes casos Elvis usava um modo original de gravar. Ele mandava apagar as luzes do estúdio para sentir maior inspiração. Ouvindo a canção chega-se a conclusão que a tática deu certo. Esta sem dúvida é uma das melhores canções que Elvis gravou em Memphis em 1969. Um primor. FROM A JACK TO A KING (Miller) - Era uma das preferidas de Priscilla Presley, a esposa de Elvis. Numa versão pirata pode-se ouvir Elvis e seu Produtor Felton Jarvis discutindo o melhor modo de gravá-la. É um grande registro do que se passava dentro do estúdio, com Presley cheio de idéias para transformar o demo numa grande música.
Dezembro de 1969 - Elvis passa o reveillon assistindo suas sessões privadas de cinema em Memphis.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Biografia - 1968
Janeiro de 1968 - Novo single de Elvis chega às lojas: "Guitar Man / Hi-Heel Sneakers". Mais um ótimo single retirado das sessões de setembro de 1967. Essas canções representavam para Elvis na época um salto de qualidade gigantesco em sua carreira musical. São músicas que demonstravam que Elvis ainda era o Rei do Rock, mesmo depois de tantos filmes e trilhas sonoras de baixa qualidade. Guitar Man seria utilizada posteriormente no NBC TV Special, o programa de TV que iria salvar a carreira de Elvis de uma vez por todas. E Hi-Heel Sneakers é um ótimo momento de Elvis cantando um Blues visceral. Sem as amarras típicas impostas pelos estúdios de cinema Elvis demonstrava com esse material que ainda tinha muita lenha para queimar em sua carreira. Ele não estava acabado, apenas deveria redirecionar os rumos de sua carreira. Esse single é um tiro certeiro nesse caminho.
Fevereiro de 1968 - Nasce no dia 1º Lisa Marie Presley, única filha de Elvis.
Fevereiro de 1968 - A RCA lança "US Male / Stay Away". No lado A mais uma música campeã, dessa vez gravada em janeiro de 68 juntamente com Too Much Monkey Bussines. Outro exemplo de ótimo momento de Elvis em estúdio. No Lado B, Stay Away, canção lançada para promover o péssimo filme Stay Away, Joe (Joe é muito vivo). Sem dúvida um single que retrata o novo e o velho Elvis, um esbanjando estilo em um country moderno da melhor estirpe e o outro preso às músicas medíocres de filmes B. Felizmente para todos os fãs o primeiro sairia vencedor dessa disputa.
Março de 1968 - Elvis lança o ótimo single Gospel "You'll Never Walk Alone / We Call On Him". Há muito tempo que Elvis não lançava 3 singles excelentes, um atrás do outro, em apenas 3 meses. Isso sinalizava uma só coisa: Elvis estava voltando aos seus dias gloriosos. Aqui uma música que traz uma das melhores interpretações da carreira do Rei do Rock. Elvis demonstra toda sua emoção em uma gravação eterna, para entrar na história da música religiosa dos Estados Unidos. Todas as duas canções foram gravadas nas maravilhosas sessões de setembro de 1967. Elvis estava aos poucos, renascendo e ressurgindo das cinzas, como um verdadeiro Fénix!
Março de 1968 - Um novo filme de Elvis chega às telas: Stay Away, Joe (Joe é muito vivo). No elenco os veteranos Burgess Meredith e Katy Jurado. Na direção Peter Tewksbury. A publicidade da produtora vende o filme com a seguinte frase: "Elvis vai para o Oeste e o Oeste se torna selvagem!". Elvis até mesmo defende o filme: "Em Stay Away, Joe represento um pele vermelha astuto e criativo. Acho que pode ser uma melhoria nas produções". A crítica porém não gosta do filme e Stay Away, Joe não consegue fazer sucesso nas bilheterias. O resultado é tão desanimador que pela primeira vez Elvis pensa em abandonar sua carreira de ator em Hollywood.
Maio de 1968 - A RCA lança "Your Time Hasn't Come Yet, Baby / Let Yourself Go". No Lado A apenas uma canção de rotina. No Lado B: Let Yourself Go (Joy Byers) - Gravada em 1967, se um remix fosse feito preferiria a versão de 68 onde os vocais de Elvis estão de matar. Sua voz estava rouca como na década de 50 só que mais grossa e madura. Parte da trilha de "Speedway" essa música alcançou apenas 72º lugar nas paradas e foi lado B, não recebendo maior atenção. Com uma letra maliciosa e ritmo que ficaria perfeito na voz de Britney Spears, essa música nas pesquisas entre os fãs é quase unânime como preferida para um remix. Muita gente já notou seu potencial, falta só o EPE e a BMG. Como vocês vêem Elvis não é só "Hound Dog" e "Tutti Frutti" e é o único cantor que conheço que quase trinta anos depois de sua morte possui pelo menos uma dezena de músicas, lançadas mas desconhecidas, com, talvez, o mesmo potencial de clássicos como os acima citados. "A Little Less Conversation" que o diga... (Victor Alves).
Junho de 1968 - Speedway (O Bacana do Volante) é lançado.
Aqui Elvis contracena com a filha de Frank Sinatra, Nancy. Na direção mais uma vez Norman Taurog. Novamente outro filme sem grandes novidades, com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. Nancy Sinatra por sua vez interpreta uma fiscal da receita federal que vai atrás do personagem de Elvis para lhe cobrar impostos sonegados. O filme se tornou um dos últimos de Elvis na MGM. O cantor apenas passeia entre as cenas, visivelmente entediado. A produção também não ajuda sendo apenas mais uma repetição de muitos filmes anteriores do "Rei do Rock". Esse é outro filme de Elvis que não se traduz em sucesso, revelando de uma vez por todas que a antiga fórmula está completamente esgotada. Nem os fãs mais ardorosos prestigiam. A trilha sonora chegou nas lojas um mês antes do lançamento do filme e se tornou um novo fracasso de vendas, com um péssimo 82º lugar entre os mais vendidos. Com isso a RCA disse basta ao lançamento de trilhas e decretou o fim das mesmas, para o alívio geral, diga-se de passagem. Speedway foi a pá de cal nesse velho esquema inventado por Tom Parker de lançar filme / trilha no mercado. Foi a última trilha sonora da carreira de Elvis e não deixou saudades. Um melancólico adeus, sem dúvida.
Junho de 1968 - Elvis viaja à Los Angeles para a gravação de um especial de TV a ser exibido pela NBC no natal. Em Burbank Elvis começa a gravação do mitológico Elvis NBC TV Special.
Setembro de 1968 - A RCA lança o single "A little Less Conversation / Almost In Love". O single se torna famoso por dois motivos: A Little Less Conversation (Mac Davis / Strange) - Uma canção obscura dentro da discografia de Elvis, fez parte do filme "Live a Little, Love a Little" (Viva um pouquinho, Ame um pouquinho, 1968) no final dos anos 60. No Brasil ela só foi lançada uma única vez, e mesmo assim em 1971 no também cavernoso disco "Almost in Love". Isso mudou radicalmente quando o DJXL resolveu fazer um remix em cima da música. Bingo! Com o apoio da Nike que a colocou em um de seus comerciais durante a Copa do Mundo 2002, a música se tornou um tremendo sucesso chegando ao primeiro lugar em inúmeros países. Foi a canção que comandou a verdadeira "Elvismania" que tomou conta do planeta em 2002. Almost In Love também se tornou bem conhecida pois foi a única música cantada por Elvis composta por um brasileiro, Luís Bonfá. E também foi a única Bossa Nova verdadeira interpretada pelo Rei do Rock. Elvis mostra aqui que seu vocal estava apto a encarar qualquer tipo de ritmo musical. Boa demonstração da versatilidade do cantor.
Setembro de 1968 - Elvis viaja ao Arizona para as filmagens de Charro, western da pequena produtora National General Corporation. O filme vai levar quase um ano para chegar às telas.
Setembro de 1968 - Morre Dewey Phillips o primeiro DJ a colocar um disco de Elvis Presley ao ar em uma rádio de Memphis. Elvis declara: "Estou muito abalado. Éramos amicíssimos. Sinto demais o passamento de Dewey. Nunca esquecerei o quanto me ajudou no começo da minha carreira."
Outubro de 1968 - É lançado para venda exclusiva nas lojas Singer o disco "Singer Presents Elvis Singing Flaming Star and Others". LP semi oficial sem importância reunindo de forma confusa várias canções de trilhas de filmes dos anos 60. Como não foi lançado em lojas de discos convencionais, não foi classificado na parada Top 200 da Billboard.
Novembro de 1968 - Novo filme de Elvis chega aos cinemas: Live A Little, Love a Little (viva um pouquinho, ame um pouquinho). O filme é criticado pelo próprio Elvis: "Meus filmes não foram lá essas coisas, mas o enredo desse último foi complicado demais. Faço o papel idiota de um fotógrafo atrás de uma linda morena, guardada por um enorme cachorro" O filme não faz qualquer sucesso e é ignorado pelo público, mas não pela crítica. O New York Times escreve: "Elvis mudou o mundo e a música há dez anos. Mas depois de tantos filmes ninguém mais pode afirmar que isso seja verdade".
Novembro de 1968 - A RCA se antecipa ao especial da NBC e lança o single "If I Can Dream / Edge of Reality". If I Can Dream (Brown) - Pôxa! às vezes eu gosto tanto de uma música de Elvis Presley que fica até difícil escrever sobre ela. É esse o caso. Sem dúvida uma das minhas preferidas disparadas. Em uma palavra: épica! Com um simples single Elvis colocou os Beatles e os Rolling Stones no bolso e detonou eles das paradas! Depois de anos sendo superado, por causa de suas trilhas ruins, Elvis mostrou quem é que mandava. Os fãs do Rei ficaram de peito lavado e eu também (se tivesse tido a oportunidade e a idade de vivenciar isso, claro!). Mas deixando essas questões puramente comerciais de lado, se "If I Can Dream" fosse apenas um compacto obscuro na carreira de Elvis eu ainda iria amar essa música, sem dúvida nenhuma. Ela foi lançada com "Edge of Reality" no natal de 1968 e foi ouro na mesma semana. Foi uma das mais políticas músicas de Elvis, que tratava e falava de forma poética de vários problemas que a sociedade americana e mundial vinham enfrentando naquela época. Para gravá-la Elvis pediu que ficasse sozinho no estúdio, que fossem apagadas todas as luzes. Ele se sentou no chão do estúdio e comovido presenteou e deixou para a eternidade um momento simplesmente insuperável! Um momento raro. Os produtores e engenheiros de som do Burbank Studios ficaram simplesmente de queixo caído! Anos depois, Bones Howe, um dos presentes, confidenciou que após gravar a música Elvis conversou baixinho com alguém no estúdio! Ainda sentado no chão ele agradeceu, emocionado, a essa "entidade" pela inspiração. Não se sabe o que ocorreu, mas dizem que naquela noite conversou com sua querida mãe, falecida dez anos antes... ela estava ao seu lado, segurando sua mão...
Dezembro de 1968 - NBC TV Special é exibido.
No final dos anos 60 a TV NBC passava por uma séria crise financeira e de audiência. Suas concorrentes ABC e CBS ganhavam cada vez mais espaço, enquanto a NBC perdia cada vez mais. Para mudar esse quadro, a direção da emissora resolveu apostar alto em uma nova grade de programação, dando destaque especial para a sua área de shows. A NBC resolveu investir pesado e entrou em contato com o coronel Tom Parker para a realização de um especial de final de ano com Elvis Presley. Seria a principal atração do fim da temporada, com ampla publicidade e ótimos contratos de marketing. Elvis precisava tanto da NBC quanto ela precisava de Elvis. O Rei do Rock vinha em um mal momento da carreira. Seus filmes já estavam desgastados, Elvis sentia-se cada vez mais frustrado com a política dos grandes estúdios de cinema de Hollywood, que lhe mandavam fazer o mesmo filme ano após ano, com as mesmas trilhas sonoras e os mesmos roteiros estúpidos. Elvis estava mais do que farto deste esquema em 1968. Quando soube da idéia do especial, se empolgou e disse ao seu empresário que fechasse o contrato, pois ele queria voltar o quando antes a se apresentar ao vivo. Ainda tinha contratos a cumprir na costa oeste, mas queria que estes fossem os últimos. Sem dúvida, para quem apostava em uma carreira de ator, aquilo tudo representava um grande retrocesso. Era uma derrota para Elvis deixar Hollywood assim. A verdade era que ele descobriu, ao longo dos anos, que nenhum estúdio iria lhe dar uma chance para desenvolver uma carreira dramática em Hollywood. Para os chefões Elvis tinha que sempre desempenhar o mesmo papel: o de Elvis Presley. Se continuasse no esquema dos estúdios cinematográficos, Elvis iria continuar a fazer uma comédia musical atrás da outra até sua carreira se apagar de vez. Ele estava decidido a pular fora e salvar o que ainda tinha restado de seu legado musical. E assim foi feito. Depois de acertar seu cachê (meio milhão de dólares por quatro dias de trabalho) Elvis finalmente se preparou para sua volta. O show seria transmitido no final do ano, em dezembro. O coronel Parker sugeriu um roteiro simplesmente desastroso para o especial: "Elvis entraria de papai noel, cantaria meia dúzia de músicas natalinas e iria embora pela chaminé". Elvis e o produtor Steve Binder simplesmente odiaram essa idéia. Juntos, trocaram pensamentos e conceitos e chegaram a um modelo básico. Elvis seria acompanhado de sua primeira banda, Scotty Moore e D.J. Fontana (Bill Black havia morrido em 1965). Seria um show acústico (o primeiro da história), com Elvis vestindo uma roupa de couro negro, tocando uma guitarra Gibson, tudo de forma natural e autêntica. Ele interpretaria seus velhos sucessos e duas canções escritas especialmente para o programa: "If I Can Dream" e "Memories". Estava em ótima forma física e empolgado pela chance de voltar a apresentar um material de qualidade. Tudo que precisava era uma chance de mostrar novamente seu incontestável talento. Os ensaios foram exaustivos, Elvis tomou a frente, elaborando arranjos e produção, esse foi um momento crucial de sua vida, se falhasse, provavelmente seria o fim de sua carreira. E ele sabia disso. Em 1968, aos 33 anos de idade, Elvis Presley finalmente voltou à TV, num especial histórico para NBC em comemoração ao natal. O cantor estava no auge de sua beleza física e o show foi um marco em sua vida. Com cenas em estúdio e ao vivo, Elvis estava natural, espontâneo, Elvis como ele só. Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" relembra o impacto do show: - "O especial de Elvis foi um sucesso espetacular e alcançou o maior índice de audiência do ano. A música final, "If I Can Dream", foi sua primeira gravação que ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas em muitos anos. Sentamos em torno da TV assistindo ao programa, esperando nervosamente pela reação. Elvis se manteve silencioso e tenso durante toda a exibição do programa, mas assim que os telefones começaram a tocar, compreendemos que ele conquistara um novo triunfo. Não perdera a classe, ainda era o rei do rock'n'roll". Com esse programa Elvis se convenceu que era hora de deixar Hollywood para trás e retomar os rumos de sua carreira musical. Não haveria mais trilhas sonoras insípidas, o momento era de entrar em estúdio novamente para gravar canções de qualidade, para mudar novamente os rumos musicais de seu tempo.
Destaques do Especial: Trouble (Jerry Leiber / Mike Stoller) / Guitar Man (Hubbard) - Para abrir o programa Elvis apresentou esse Medley bem sacado. Em um disco pirata dos anos 80, pode-se ouvir Elvis trocando idéias sobre esses arranjos com W. Earl Brown. Elvis diz: - "Vamos balancear a orquestra com a banda, cara!", no que o produtor responde: -"Também pensei nisso, ok!". O acompanhamento ficou bem mais forte e presente, sem dúvida. A orquestra presente foi a da NBC. Isso se nota bem, pois seu som é bem peculiar dentro da discografia de Elvis, essa você só vai ouvir nesse disco. Mas, vamos às músicas: "Trouble" é a melhor música da trilha do filme "King Creole" e também a mais conhecida. Trouble é uma preciosidade composta por Leiber e Stoller em que o ritmo e o conteúdo de sua letra caiu como uma luva para a estória do personagem Danny Fisher, um garoto correto que tenta sobreviver numa New Orleans infestada de Gangsters. Esta versão que foi utilizada no memorável "Comeback Special" de 1968 é muito boa. Porém sem sombra de dúvida "Trouble" vai ficar imortalizada mesmo na versão original gravada por Elvis no dia 15 de Janeiro de 1958 para o filme "King Creole". "Se você procura por encrenca, veio ao lugar certo!" Já "Guitar Man" é a típica música de Elvis pós 67: muito mais arranjada do que o normal trazendo a excelência instrumental do compositor Hubbard. Ela foi lançada em um single em janeiro de 1968 com "Hi-Heel Sneakers" no lado B. Baby, What You Want Me to Do - Clássico de Little Richard e Jimmy Reed. Elvis pára a música no meio para brincar um pouco, falando com os músicos e com a platéia: ao simular um problema no lábio Elvis vira a boca e diz: "Espere caras, estou com um problema nos lábios", dá seu sorriso ímpar e diz: "Pois fique sabendo que fiz 29 filmes desse jeito". Todos riem. Depois relembra seus shows na Flórida onde não podia mexer nada, apenas seu dedo mindinho. Lembra que os shows eram filmados pela polícia para impedir que ele fizesse "imoralidades" nos palcos. Elvis se diverte com o fato. Mostra o lado divertido do Rei do Rock. Where Could I Go But The Lord (James B. Coats) - Canção do disco "How Great Thou Art", por demais conhecida no mundo Gospel norte americano. Foi escrita inicialmente pela dupla de compositores K.E.Harris e J.M.Black em 1890. Em 1940 J.B.Coats escreveu uma versão bastante modificada. Foi gravada ainda por Red Foley em 1951 e por Faron Young em 1954. Elvis a utilizou ainda no NBC TV Special num medley com outras canções evangélicas. Up Above My Head (Brown) - Esse medley continua com essa música inédita. São ao todo sete minutos e meio de gospel. Faz sentido. Até porque era época de natal e também porque Elvis não ia dispensar essa chance de colocar esse ritmo, o seu preferido, no seu especial de retorno. Esse é um gospel tocado principalmente em igrejas de negros no sul dos Estados Unidos. Elvis sempre teve uma posição altamente positiva em relação à questão racial. Colocava artistas negros para lhe acompanhar em seus shows (como as Sweet Inspirations) e sempre que podia incentivava e elogiava a cultura negra de seu país. Para um sulista isso significava uma atitude altamente louvável, pois estes Estados sulistas dos EUA sempre foram os mais racistas. Saved (Leiber / Stoller) - Até hoje me pergunto: como uma dupla de judeus iria escrever uma música gospel como essa? Só mesmo Leiber e Stoller para aprontar uma dessas. Devem ter deixado seu rabino com os cabelos em pé, sem dúvida. Viva o ecumenismo! Medley: Nothingville (Strange / Davis) / Big Boss Man (Smith / Dixon) / Guitar Man (Hubbard) / Little Egipt (Leiber e Stoller) / Trouble (Leiber e Stoller) / Guitar Man (Hubbard) - O último medley do especial, juntando músicas novas e inéditas como Nothingville (nunca mais foi usada por Elvis) com trilhas sonoras (Little Egipt de "Carrossel de Emoções"), além das já citadas "Guitar Man" e "Trouble". Funciona? Em termos, acho que "Big Boss Man" merecia uma faixa solo e não cortada como saiu. Tremenda geléia geral que às vezes dá indigestão! Esse medley foi utilizado no especial como pano de fundo de várias cenas de estúdio, com Elvis, dançarinos e um fiapinho de roteiro. Totalmente dispensável. Não deveriam ter cortado vários trechos de Elvis ao vivo para colocar isso. Felizmente anos depois, as cenas inéditas apareceram e tudo foi corrigido.
Dezembro de 1968 - A RCA lança a trilha do NBC TV Special. É o primeiro álbum de Elvis Presley a alcançar o Top 10 desde 1965. O disco vende muito bem e Elvis se reconcilia com o sucesso finalmente. A imprensa americana em peso elogia a perfomance de Elvis no Especial. Muitos analistas acabam denominando o show de "Comeback Special", ou seja, o especial da volta de Elvis. Ao longo dos anos o apelido pegará e o NBC TV Special acabará ficando conhecido por esse nome. Muitos jornais e revistas colocam Elvis e seu retorno em destaque. A revista Eye escreve: "É um milagre ver um homem perdido reencontrar o caminho. Elvis cantou com o ímpeto que as pessoas esperam de um verdadeiro astro de Rock'n'Roll. Movimentou seu corpo com um empenho tão natural que deve ter deixado Jim Morrison verde de inveja. Não importa que a maioria das músicas tenha mais de dez anos, pois Elvis as interpretou como se tivessem sido escritas ontem!". A Record World celebrou a volta de Elvis: "Não foi o velho Elvis, comercializado na nostalgia de seus velhos rocks e na ridícula censura de Ed Sullivan, mas sim uma apresentação atual, viril, cheia de humor, vibrante e com a agitação de nossos dias". O New York Times, sempre cético em relação aos filmes de Elvis disse: "Parece que Elvis finalmente vai seguir o caminho da luz da boa música e do bom gosto, luz essa que passa bem longe de seus filmes em Hollywood". A Variety estampou com destaque: "Elvis enfim ressuscita!".
Dezembro de 1968 - A revista inglesa New Musical Express, mais influente publicação de música do Reino Unido, coloca Elvis na capa e o elege o "Cantor número um do ano". A Billboard faz uma votação entre seus leitores e o NBC TV Special vence como melhor apresentação musical do ano na TV americana.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Elvis Presley - Biografia - 1967
Janeiro de 1967 - Elvis adquire um novo hobby: cavalgar. Logo compra cavalos para toda a máfia de Memphis, Priscilla e seu pai. Mas não fica por aí e resolve adquirir um rancho nos arredores de Memphis. Por 300 mil dólares Elvis adquire a propriedade do Rancho Círculo G. Com a gastança desenfreada Vernon liga para o Coronel e lhe pede que arranje logo um novo trabalho para Elvis, pois caso contrário, ele iria gastar o último centavo no rancho e nos cavalos. Parker acaba assinando com a United Artists a produção de um novo filme: Clambake (O barco do amor). Elvis lê o roteiro e detesta: outro filme de praias e biquinis com todas aquelas músicas ruins. Sem alternativa porém acaba indo a Hollywood filmar mais esse abacaxi para equilibrar suas contas e a sua vida financeira. A frustração é tamanha que Elvis engorda de forma descontrolada, chegando aos 100 Kg pela primeira vez em sua vida. O estúdio lhe ordena que emagreça rápido. Para perder peso então Elvis se auto medica e começa a usar anfetaminas. Em pouco tempo estará totalmente dependente desses medicamentos.
Fevereiro de 1967 - Elvis lança o disco Gospel How Great Thou Art.
Um aspecto muito importante e pouco conhecido da carreira de Elvis Presley era o seu profundo amor à música Gospel. Nascido e criado numa pequena cidade do sul dos Estados Unidos (Tupelo), Elvis teve deste o começo de sua vida uma aproximação muito grande com a canção religiosa. Foi ouvindo estes hinos sacros que o jovem Presley aprendeu a cantar e expressar seus sentimentos através da música. Todos os domingos Elvis, sua mãe Gladys e seu pai Vernon iam aos cultos protestantes da Igreja Primeira Assembléia de Deus. Lá o pequeno garoto do Mississipi ficava deslumbrado com o magnetismo e a vibração dos pastores. Pode-se dizer, sem medo de errar que foi com estes pregadores que Elvis aprendeu que a música deveria ser acompanhada de uma perfomance que prendesse a atenção do público. Se mexer e sacudir ao som do senhor era a regra básica e, sem dúvida, o futuro Rei do Rock aprendeu isto perfeitamente. Estes cultos despertaram um sentimento tão forte em Elvis que, aos 9 anos, num gesto de caridade após o culto deu tudo o que possuía (um monte de gibis velhos) às crianças carentes da região. Já adulto e famoso, Elvis sempre ia aos cultos das igrejas de negros para ouvir e cantar canções religiosas. Isto era um ato muito corajoso por parte do cantor, pois o sul dos Estados Unidos vivia uma separação racial muito forte entre brancos e negros. Para Elvis isto tinha pouca importância, para ele esta divisão não existia: tudo era música, tudo era mágica. O disco foi o melhor trabalho de Elvis em muitos anos e pela primeira vez em sua carreira receberia o Grammy por esse disco.
Destaques do disco: How Great Thou Art (Stuart K. Hine) - Escrita em 1886 pelo Reverendo Carl Boberg com o nome de "O Stored Gud". Em 1907 o Reverendo Stuart K. Hine escreveu a primeira versão em língua inglesa, esta por sua vez baseada na versão alemã da canção intitulada "Wie Gross Bist Du". A primeira gravação foi de George Beverly Shea em 1955, seguida da versão dos Blackwood Brothers em 1957. Elvis recebeu o prêmio Grammy na categoria "Melhor Perfomance Inspirativa" por sua interpretação desta música em 1974 no disco "Elvis As Recorded Live On Stage in Memphis" (1974). Sem dúvida um marco na carreira de Presley. In The Garden (C.Austin Miles) - Música composta no início do século, mais exatamente em 1912. Em 1960 fez parte da trilha sonora do filme "Wild River" (rio selvagem, 1960). Entre os grandes nomes que a gravaram estão Mahalia Jackson e Jim Reeves. Somebody Bigger Than You And I (Johnny Lange / Walter Heath - Joseph Burke) - Canção Spiritual bem ao gosto de Presley. O cantor e ator Gene Autry a gravou com grande sucesso para a trilha do filme "The Old West" (o velho oeste, 1951). Mahalia Jackson também fez sua versão, sendo ela aliás, uma das cantoras preferidas de Elvis. Finalmente o grupo "The Ink Spots" fez uma versão muito bem arranjada em 1951. Em 1967, na mesma época da gravação destas canções Elvis foi eleito o "Solteiro favorito da América" para desespero de Priscilla e seus pais. Farther Along (W.B.Stone) - Escrita em 1937. Foi gravada por Red Foley e Bill Monroe, autor de "Blue Moon of Kentucky". As sessões de gravação destas canções ocorreram nos dias 25, 26, 27 e 28 de janeiro de 1967 nos estúdios B da RCA em Nashville. So High (Tradicional) - Foi gravada inicialmente por Rosetta Tharp. Em 1959 a cantora LaVern Backer a gravou com o título de "So High, So Low" e alcançou um grande sucesso. Elvis disse mais tarde em uma entrevista coletiva: "Não existe nada mais belo do que um grupo vocal em harmonia cantando Gospel". Esta canção é um exemplo do que ele se refere. Where Could I Go But The Lord (James B. Coats) - Música por demais conhecida no mundo Gospel norte americano. Foi escrita inicialmente pela dupla de compositores K.E.Harris e J.M.Black em 1890. Em 1940 J.B.Coats escreveu uma versão bastante modificada. Foi gravada ainda por Red Foley em 1951 e por Faron Young em 1954. Elvis a utilizou ainda no NBC TV Special num medley com outras canções evangélicas. Where No One Stands Alone (Mosie Lister) - Escrito sob encomenda para o grupo "Statemen Quartet" em 1955. O cantor Don Gibson também fez uma versão. Além dos três discos Gospel de Elvis (His Hand in Mine, How Great Thou Art e He Touched Me) iriam ser lançadas diversas coletâneas Gospel ao longo de sua carreira como "He Walks Beside Me" e "You'll Never Walk Alone". A reunião definitiva dos trabalhos sacros de Elvis iria se concretizar através da caixa de CDs lançadas nos anos 90 "Amazing Grace" reunindo todas as músicas Gospel de Elvis Presley em seus 21 anos de carreira.
Fevereiro de 1967 - Elvis volta à Hollywood para as filmagens de mais um filme, dessa vez pela United Artists: Clambake (O Barco do Amor). No Elenco Bill Bixby e novamente Shelley Fabares. Tudo é feito em poucas semanas. Elvis começa a mostrar sinais de impaciência com sua carreira. Em reunião com Tom Parker expôe suas idéias. O Coronel promete estudar mudanças. É o começo do renascimento de Elvis.
Fevereiro de 1967 - O pai de Priscilla visita Elvis em Graceland e lhe cobra uma posição em relação à sua filha. Elvis se sente pressionado pelo capitão Beaulieu. O Coronel aconselha Elvis a tomar uma decisão logo. Sem muitas alternativas Elvis pede Priscilla em casamento.
Março de 1967 - Estréia outro filme de Elvis nas telas, mas dessa vez sem muita publicidade. Easy Come, Easy Go (Meu Tesouro é Você) não faz sucesso e encerra a carreira de Elvis nos estúdios Paramount. Também marca o fim da antiga parceria entre Elvis e o produtor Hal Wallis. A RCA, também farta das trilhas sonoras ruins não edita um LP e sim um EP sem divulgação nenhuma, que não consegue sequer entrar na Top 200 da Billboard. Disco e filme se tornam um novo desapontamento e dos mais embaraçosos.
Abril de 1967 - Para promover o filme Trouble Double a RCA lança o single Long Legged Girl (J.L. Mc Farland / W. Scotty) - Outro grande rock da trilha que sofre do mal de ser muito curto. Essa música agitada, com uma guitarra estridente, foi lançada como single alcançando a péssima 63ª posição nos EUA. Nunca um lado A de Elvis havia entrado nas paradas e conseguido como posição máxima, colocação tão baixa. E dessa vez a culpa não era da música, que era boa, e sim porque o público já não estava mais prestando atenção nos lançamentos de Elvis Presley por essa época! Curiosidade: Foi a música mais curta de Elvis a entrar no Hot 100, com apenas 1 minuto e vinte e sete segundos de duração. That's Someone You Never Forget (Red West / Elvis Presley) - Composição do Rei do Rock junto com seu guarda-costas Red West. Elvis conheceu Red ainda adolescente e ambos se tornaram grandes amigos. Em 1976 Elvis acabou demitindo Red que junto com seu irmão Sony escreveriam o livro "Elvis, What Happened?" (Elvis, o que aconteceu?). Este livro trazia pela primeira vez ao público aspectos da vida particular de Elvis como o abuso de drogas entre outras coisas. Triste fim para uma longa amizade. O single fracassa nas vendas atingindo um desolador 63º lugar entre os mais vendidos.
Maio de 1967 - Elvis se casa com Priscilla em Las Vegas.
O pedido: - Uma noite, pouco antes do natal de 1966, Elvis bateu de leve na minha porta e disse: "Sattnin, preciso falar com você." Tínhamos uma senha. Provocante, eu lhe disse que teria de pronunciá-la antes que eu o deixasse entrar. Ele riu e disse: "Olhos de fogo" - o apelido que eu lhe dava quando estava furioso. Elvis estava com seu sorriso infantil e as mãos nas costas. "Sente-se e feche os olhos Sattnin" - disse. Obedeci. Quando abri os olhos, deparei com Elvis ajoelhado aos meus pés, na minha frente, estendendo uma caixinha de veludo preto. "Sattnin..." - murmurou ele. Abri a caixa para descobrir o mais lindo anel de diamantes que já vira. Era de três e meio quilates, cercado de diamantes menores, destacáveis. - eu poderia usá-los separadamente. "Vamos nos casar" - anunciou Elvis - "Você vai ser minha. Eu lhe disse que saberia quando o momento chegasse. Pois o momento chegou". Ele enfiou o anel em meu dedo. Eu estava emocionada demais para falar; foi o momento mais lindo e romântico da minha vida. Nosso amor não seria mais um segredo. Eu poderia viajar abertamente como a Sra. Elvis Presley, sem o receio de inspirar alguma manchete escandalosa. E o melhor de tudo, os anos de angústia e medos de perdê-lo para uma das muitas mulheres que disputavam o meu lugar estavam terminados. Elvis estava ansioso em mostrar o anel ao pai e vovó, informando-os que estávamos oficialmente noivos. Nem mesmo tive a chance de me vestir. Levando em consideração nosso estilo de vida irregular, ficar noiva no meu quarto de vestir e mostrar o lindo anel de diamantes num roupão não parecia absolutamente estranho. Eu queria compartilhar a notícia com meus pais, mas Elvis sugeriu que esperássemos até a nossa volta para Los Angeles, poucas semanas depois. Poderíamos então anunciar pessoalmente; eles mereciam nossa consideração. Naquela noite ligamos para meus pais e os convidamos para passar um fim de semana conosco em Bel Air. Elvis estava mais nervoso do que em qualquer outra ocasião anterior no dia em que eles deveriam chegar. Olhava a todo instante pela janela, à espera do carro. Estava ansioso em lhes mostrar o anel e quase o fez no instante mesmo em que passaram pela porta, mas eu consegui manter a mão nas costas até que todos sentamos. Estendi então a mão e disse: "Só queríamos mostrar isso a vocês". "E o que isso significa?" - perguntou papai, olhando para a minha mão. "É um anel de noivado, senhor" - informou Elvis. As lágrimas afloraram aos olhos de mamãe. "Oh Deus, é lindo!" - murmurou ela. Os dois estavam extasiados. Adoramos informá-los que finalmente ocorria o que esperavam há tanto tempo e pelo que muito haviam rezado. Ressaltamos a importância de manter o noivado em segredo, pedindo que mantivessem um sigilo absoluto, mesmo para a família, já que os garotos poderiam comentar na escola e a notícia se espalharia rapidamente. Queríamos um casamento íntimo, não um evento de celebridade. Meus pais concordaram com todos os planos. Não podiam estar mais felizes e durante todo o fim de semana se mostraram radiantes de prazer. Durante os cinco anos em que vivia com Elvis raramente lhes permitira discutir o casamento. A possibilidade da família ser magoada era a preocupação maior de meus pais. Agora não tinham mais que se preocupar se haviam tomada a decisão acertada ao deixarem a filha tão jovem saísse de casa. Sei que o coronel Parker pedira a Elvis que analisasse o nosso relacionamento e decidisse o que julgava melhor. A atitude de Elvis em relação ao casamento era de que se tratava de algo definitivo. Embora ele fosse monógamo por natureza, adorava as opções. Apesar disso não estava disposto a me largar. Curiosamente , depois da conversa com o coronel Parker, Elvis não levou muito tempo para chegar à conclusão de que era o momento certo. A decisão foi sua e somente sua. O vestido: Em meio ao maior excitamento, fizemos o resto dos planos para o casamento. A primeira sugestão foi de que eu providenciasse o vestido imediatamente; se a notícia vazasse, poderíamos casar de um momento para o outro. Mas minha busca por um vestido de noiva acabou se prolongando por meses. Disfarçada por óculos escuros e um chapéu, visitei todas as butiques exclusivas de Memphis a Los Angeles; apesar do disfarce, era paranóica o bastante para pensar que todos me reconheciam. Cheguei a conversar com diversas costureiras sobre modelos, mas não confiava o bastante para dizer que seria para um vestido de noiva. Finalmente alguém indicou uma loja pouco conhecida de Los Angeles. Charlie acompanhou-me, apresentando-se como meu noivo. Foi ali que encontrei meu vestido de noiva. Não era extravagante, nada tinha de excepcional - era simples e para mim maravilhoso. Sai da cabine para mostrá-la a Charlie. Ao me ver, Charlie ficou com os olhos cheios de lágrimas e murmurou: "Você está linda, Beau. Ele vai ficar muito orgulhoso". A cerimônia - A cerimônia de casamento foi a 1º de maio de 1967. O coronel Parker cuidou de tudo. Seu plano era de que Elvis e eu seguíssemos de carro de Los Angeles para nossa casa em Palm Springs no dia anterior ao casamento, a fim de que quaisquer repórteres inquisitivos que suspeitassem do evento pensassem que a cerimônia ocorreria lá. Na verdade, planejávamos levantar antes do amanhecer no dia do casamento e voar de Palm Springs para Las Vegas, onde passaríamos pelo cartório às sete horas da manhã, a fim de pegar a licença para o casamento. De lá seguiríamos imediatamente para o Aladdin Hotel. Ali trocaríamos de roupa, faríamos uma pequena cerimônia na suíte do proprietário do hotel e depois - era o que esperávamos - deixaríamos a cidade antes que a notícia se espalhasse. O tempo era essencial. Sabíamos que a notícia se espalharia pelo mundo assim que solicitássemos a licença para o casamento. Foi justamente o que aconteceu. Poucas horas depois de obtermos a licença, o escritório de Rona Barret começou a telefonar para indagar se os rumores sobre o casamento eram verdadeiros. Elvis e eu seguimos o plano do coronel, mas enquanto corríamos de um lado para o outro, durante o dia, não pudemos deixar de pensar que nos daríamos mais tempo se tivéssemos de fazer tudo de novo. Ficamos particularmente aborrecidos pela maneira como nossos amigos e parentes acabaram sendo afastados. O coronel até disse a alguns dos rapazes que a sala era muito pequena para caber a maioria e suas esposas e não havia tempo de mudar para uma sala maior. Infelizmente já era tarde demais para mudar qualquer coisa quando Elvis descobriu. Agora, recordo às vezes a confusão daquela semana e me pergunto como foi possível que as coisas escapassem inteiramente ao nosso controle. Eu gostaria de ter tido a força para declarar na ocasião: "Vamos com calma. Este é o nosso casamento, com ou sem fãs, com ou sem imprensa. Vamos convidar quem quisermos e realizá-lo onde quisermos!". A impressão foi de que a cerimônia acabou um instante depois de começar. Fizemos as promessas. Éramos agora marido e mulher. Lembro dos flashes espocando, os parabéns de papai, as lágrimas de felicidade de mamãe. Eu daria qualquer coisa por um momento a sós com meu marido. Mas fomos imediatamente levados para uma sessão fotográfica, depois a uma entrevista coletiva e finalmente a uma recepção, com mais fotógrafos. Sra. Elvis Presley. Era diferente, soava muito melhor do que os rótulos anteriores, como "companheira constante", "namorada adolescente", "Lolita de plantão", "amante". Pela primeira vez, eu era aceita por todos os nossos conhecidos e pela maioria do público. Havia exceções, é claro - as que acalentavam alguma esperança de que um dia poderiam conquistar Elvis. Eu não podia compreender isso na ocasião. Estava apaixonada e imaginava que todas seriam felizes por nós. Senti-me orgulhosa quando li nos jornais que eu fora o segredo mais bem guardado de Hollywood; era maravilhoso ser reconhecida. Estavam encerrados os anos de dúvida e insegurança, sem saber se eu pertencia e a que lugar. A noite de núpcias - Eu estava ao mesmo tempo exausta e aliviada quando finalmente voltamos a Palm Springs, no Learjet de Frank Sinatra, o Christina. Havia mais fotógrafos e repórteres à nossa espera quando desembarcamos e outros se postavam diante de nossa casa. Fiquei surpresa ao constatar que Elvis estava se comportando muito bem, levando em consideração o nervosismo que demonstrara por aquele compromisso supremo. Contudo, ele foi simpático com a imprensa e enfrentou tranqüilo os intermináveis pedidos de poses dos fotógrafos, algo que normalmente só podia suportar por curtos períodos. Além de todo o resto, não dormíamos há quase 48 horas. À sua maneira, Elvis estava determinado a fazer com que o dia do casamento fosse especial para nós. Ele gracejou com Joe Esposito, indagando: "É assim que se faz?". Ele carregou-me no colo pelo limiar da casa, cantando "Hawaiian Wedding Song". Parou e deu-me um beijo longo e apaixonado, depois subiu a escada e levou-me para o quarto, com toda a turma rindo e aplaudindo. Ainda era dia e o sol brilhava forte pelas janelas do quarto quando Elvis colocou-me no meio da cama enorme, com extremo cuidado. Tenho a impressão de que ele realmente não sabia realmente o que fazer comigo. Afinal, Elvis me protegera e salvara por muito tempo. Estava agora compreensivelmente hesitante em consumar todas as promessas sobre a excelência daquele momento. Recordando agora não posso deixar de rir ao pensar como nós dois estávamos nervosos. Poder-se-ia até imaginar que era a primeira vez que ficávamos juntos em circunstâncias tão íntimas. Gentilmente, os lábios de Elvis se encontraram com os meus. Depois, ele fitou-me fundo nos olhos e disse, a voz suave, enquanto me puxava contra o seu corpo: "Minha esposa...amo você, Cilla..." Ele cobriu meu corpo com o seu. A intensidade da emoção que eu experimentava era eletrizante. O desejo e a intensidade que haviam se acumulado em mim ao longo dos anos explodiram num frenesi de paixão. Ele teria imaginado como seria para mim? Planejara durante todo o tempo? Jamais saberei. Mas sei com certeza que, ao passar de moça para mulher, toda a longa, romântica e ao mesmo tempo frustrante aventura que Elvis e eu partilháramos parecia ter valido a pena. Tão antiquado quanto isso possa parecer, éramos agora um só. Era algo especial. Ele fez com que fosse especial, como acontecia com qualquer coisa de que se orgulhasse. Tudo foi muito especial naquela noite. (Priscilla Presley, "Elvis e Eu")
Junho de 1967 - Double Trouble é lançado nos cinemas.
Deve ter sido frustrante, no mínimo, para Elvis gravar a trilha sonora de "Double Trouble". A maioria das músicas eram esquecíveis, e com certeza não acrescentariam nada para o cantor. Logo ele que há um mês estava em Nashville gravando o espetacular disco gospel "How Great Thou Art", além de várias outras músicas incríveis como "Tomorrow is a Long Time", "Down in the Alley" e "I´ll Remember You". Elvis se atrasou para a sessão de gravação e como resultado a MGM mudou o endereço das gravações para o seu próprio estúdio, que era simplesmente horrível. A essa altura ninguém ligava mais para a qualidade de nada e o porquê de Elvis se submeter a essa humilhação, tendo que gravar para a trilha péssimas canções como "Old Mac Donald", é um dos grandes mistérios da humanidade! Uma das poucas coisas boas dessa sessão foi que Elvis teve a chance de conhecer pessoalmente seu ídolo Jackie Wilson, que estava pelas redondezas. Uma curiosidade é que Elvis, em 1975, ajudou financeiramente Jackie quando ele sofreu um ataque cardíaco. O filme "Double Trouble" (Canções e Confusões, no Brasil) não é tão ruim e teve a vantagem de teoricamente ser ambientado na Europa, mudando o ambiente. Teoricamente, pois foi todo filmado nos EUA. Possue alguns personagens interessantes como os dois ladrões, bem engraçados, uma trama previsível, mas bem legal e uma intrigante atriz como a principal. Annete Day fez sua estréia no cinema com Elvis nesse filme e aparentemente não gostou, pois esse foi seu único. Ela tinha apenas 18 anos quando contracenou com Elvis e os dois tiveram uma boa química, mais cômica do que romântica. O clima sombrio do filme envolvendo tentativas de assasinato de Guy Lambert (nome do personagem de Elvis) parece que previa o naufrágio nas bilheterias, sendo que este filme foi um dos cinco que menos renderam na carreira de Elvis. A trilha sonora foi a primeira a nem conseguir entrar para o top 40 americano conseguindo a lastimável 47ª posição. Na Inglaterra foi um pouco melhor sendo 34º lugar.
Destaques do disco: Double Trouble (D. Pomus / M. Shuman) - Doc Pomus e Mort Shuman foram responsáveis por grande parte do melhor material gravado por Elvis de 1960 a 1963, porém, sua última contribuição (Elvis ainda viria em 69 a gravar a belíssima "You´ll Think of Me" de Mort Shuman) não é lá essas coisas e seguia a mediocridade de músicas recentemente escritas por eles como: "What Every Woman Lives For" e "Never Say Yes". Não que "Double Trouble" seja ruim, mas comparada com músicas como "Little Sister" e "Viva Las Vegas", também escritas pela dupla, mostram claramente que Pomus e Shuman não estavam exatamente inspirados. Mas Elvis e a banda estão ok. A letra é bobinha e a música muito curta. Destaque para a escandalosa introdução da orquestra, fato raro em músicas de Elvis à época. Baby Ir You Give All Of Your Love (Joy Byers) - Mais uma excelente contribuição de Joy Byers para a discografia de Elvis. Essa música super animada é uma das melhores das últimas trilhas sonoras e junto com "City by Night", a melhor do filme. Merecia um lançamento em single, talvez como lado B de "Long Legged Girl". Foi bastante subestimada pela gravadora. Could I Fall In Love (Randy Starr) - Os filmes de Elvis sempre possuíam boas baladas e esse aqui não é exceção. Pena que o arranjo dessa não seja tão bom quanto de "Am I Ready?" por exemplo, o que tirou seu potencial de single. Interessante é a cena em que Elvis a canta para Annete Day, onde o acompanhamento da música é oriundo de um pequeno single que Elvis bota para tocar. Na capa a foto de Guy Lambert! (o personagem interpretado por Elvis). City By Night (Giant / Baum / Kaye) - Definitivamente uma das melhores músicas de Elvis nas trilhas da década 60, essa canção foi o mais próximo que Elvis chegou de cantar um jazz em sua carreira. Com um trompete sinistro, a banda afiadíssima e a voz de Elvis em perfeitas condições, com um "yeah" no final que lembra "Trouble", essa verdadeira pérola não recebeu a menor atenção em sua época de lançamento. Talvez seu próprio estilo, diferente de tudo que Elvis havia gravado, tenha desagradado aos fãs mais tradicionalistas do cantor. Além disso, o disco "Double Trouble" foi um dos maiores fracassos da carreira de Elvis. Lançado em 1967, ano em que Elvis amargou o seu pior ano de apatia com o público, com a carreira praticamente arruinada por seus filmes em Hollywood. Em um cenário tão desolador, que chance de atenção essa preciosidade poderia ter tido? (Victor Alves) IT Won't Be Long - Para encerrar a parte da trilha de "Double Trouble" temos essa música, que se não chega a ser excepcional, mantém a dignidade, com um ritmo bom e bem executado. Solando em toda a canção temos a preciosa participação do guitarrista Tiny Timbrell. É bem acima da média do restante do material do filme, porém não é nada demais, apenas correta no final das contas.
Curiosidades: A jovem inglesa Annette Day foi sorteada em um concurso feito por uma revista de música britânica para ser a próxima estrela de um filme de Elvis Presley. Detalhe: ela nunca tinha sido atriz antes! / As externas do filme foram filmadas em Bruxelas e Londres e depois projetadas atrás de Elvis durante as filmagens em Hollywood, numa técnica chamada Back Projection / O filme foi rodado com o nome de "You're Killing Me" que depois foi mudado pelos produtores para "Double Trouble" / Para fazer as cenas perigosas da atriz Annette Day foi utilizado como dublê o próprio primo de Elvis, Billy Smith, que desta vez teve que usar roupas femininas e perucas. Lógico que ele virou logo alvo de brincadeiras por parte de Elvis e da Máfia de Memphis / "Double Trouble" foi o 58º filme mais assistido do ano de 1967 nos EUA / O Jornal Hollywood Reporter curiosamente elogiou o longa ao escrever que "essa era a película mais bem produzido de Elvis desde Viva Las Vegas"!
Agosto de 1967 - Novo single é lançado com reprises: There's Always Me / Judy. O público e os fãs ignoram o lançamento.
Setembro de 1967 - As coisas começam a mudar para melhor na carreira de Elvis. Pela primeira vez em muitos meses é lançado um single de inegável valor artístico: Big Boss Man / You Don't Know Me. O Lado A foi gravado no dia 10 desse mês e representa um grande salto de qualidade no material apresentado por Elvis nesse período. No Lado B outra excelente música que foi prejudicada por ter sido lançada também na péssima trilha de Clambake. O Single não fez grande sucesso (38º lugar) mas foi notado pela crítica que o encheu de elogios.
Outubro de 1967 - Estréia outro filme de Elvis, dessa vez pela United Artistis: Clambake (O barco do Amor). A produção não traz nenhuma novidade relevante sendo apenas mais um musical de rotina. O filme não faz sucesso e sua trilha sonora desaba para a 40º posição entre os mais vendidos da Billboard. De bom mesmo apenas a inclusão de três "bonus songs" na trilha: Big Boss Man, Just Call me Lonesome e Singing Tree. O filme? é melhor esquecer.
Elvis e a Era de Aquarius - Nos anos 60 durante as filmagens de mais um novo filme do Rei do Rock, o cabeleleiro do estúdio não pôde comparecer para cuidar do cabelo do Elvis. Foi então que um substituto foi enviado. Seu nome era Larry Geller, hippie, nova iorquino e judeu, uma combinação bem estranha sem dúvida, mas que era o típico espiritualista em moda naquela época. Uma pessoa versada em quase todas as religiões conhecidas, desde budismo, hinduismo, xintoismo e outras várias, que só ingeria comida natural e praticava yoga e outros tipos de vertentes das religiões orientais. Nesse ponto a religião se tornara o ponto focal de sua vida - para Elvis nada mais tinha importância, nem seus amigos, nem seus filmes e discos e muito menos sua namorada Priscilla. O Coronel Tom Parker começou a ficar preocupado de verdade. Chegou a perguntar a Joe Esposito: "Joe, o que está acontecendo com o menino? Parece distante e desinteressado!". Joe Esposito prometeu ao Coronel que iria ficar de longe, observando essa amizade de Elvis e Larry. Então na manhã em que Elvis iria começar as filmagens de seu novo filme, chamado Clambake (O Barco do Amor, no Brasil), ele acordou meio sonolento e não viu o fio da TV no chão. Ao caminhar para o banheiro Elvis tropeçou no fio e caiu de forma violenta, batendo a cabeça fortemente. Ao recobrar a consciência Elvis percebeu que se machucara pra valer na cabeça. "Mas que merda! Quem colocou esse fio aqui!?". Priscilla, assustada, chamou Joe Esposito imediatamente ao quarto. Em poucos minutos o recinto estava cheio de gente: médicos, produtores, Larry, os caras da máfia de Memphis e o Coronel. O doutor declarou que Elvis tinha uma forte concussão na cabeça e que deveria ficar em repouso nas semanas seguintes, pois seria necessário a realização de mais exames, para se certificar de que nada mais grave tivesse lhe ocorrido. O começo das filmagens estava adiado por tempo indeterminado. O Coronel ficou furioso com o acontecimento. Para ele tudo era culpa dos livros espiritualistas. Elvis estava com a cabeça nas nuvens, não se importava com mais nada e nem com ninguém. Tinha se tornado uma pessoa distante e desligada do mundo. Foi então que ele resolveu reunir Elvis, Larry e todos os caras da máfia de Memphis. Para o Coronel o momento era de colocar as coisas em ordem novamente. Tom Parker não deixou por menos: "Elvis, Larry está mexendo com a sua cabeça, eu tenho certeza que ele está tentando fazer uma lavagem cerebral em você! Eu posso garantir isso! Você deve se afastar dele e dessa literatura barata. Não deve mais perder tempo com essas coisas. Você tem uma carreira para cuidar! Deve se concentrar em atuar e cantar bem e nada mais. Você não é pago para salvar o mundo, mas sim para entreter as pessoas! Deve honrar seus compromissos e cumprir seus contratos, nada mais. Você é um artista e não um guru! Você deveria queimar todos esses livros de uma vez! E vocês - disse apontando o dedo para os caras da máfia de Memphis - devem deixar Elvis em paz, ele é um artista e não um ombro amigo para trazer problemas. Cuidar de uma pessoa já é difícil, imagine onze! Isso faz qualquer homem vergar, meu Deus! Isso acaba agora, me entenderam?! Vocês devem deixar Elvis em paz, qualquer problema de agora em diante deve ser levado ao conhecimento de Joe Esposito!" - Esse último recado foi dirigido face a face a todos os membros da máfia de Memphis e a Larry Geller em especial. Foi uma bronca daquelas, com o Coronel gritando com todos a plenos pulmões! Elvis ouviu tudo calado, com a cabeça abaixada e não contestou as incisivas palavras do Coronel e nem saiu em defesa de Larry. Em um ponto Priscilla e toda a turma da máfia de Memphis concordavam com a visão do Coronel Tom Parker: todos queriam que Elvis mandasse Larry embora de Graceland e tocasse fogo em seus livros espiritualistas. A pressão foi tamanha que numa noite Elvis, ao lado de Priscilla, resolveu fazer uma grande fogueira nos fundos de Graceland para queimar toda a sua coleção de livros. Elvis apenas ficou lá, abalado e não muito certo de sua decisão, olhando todos os seus queridos livros virarem cinzas. Chegou a murmurar: "Não se deve queimar livros!". Ele sentiu muito, mas achou que aquele era o momento certo para fazer aquilo.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Biografia - 1966
Não tardou muito para que seus fãs deixassem também de ficar ao lado desses filmes e discos de baixa qualidade. Os fãs ficavam indignados ao presenciar o artista que mudou o mundo da música no século XX cantando músicas de praia, cujas letras só falavam sobre mariscos e areia. Era demais para o estômago dos fàs mais conscientes! Para desgosto dos fãs clubs as três trilhas lançadas em 1966 (Frankie and Johnny, Paradise Hawaiian Style e Spinout) estavam no mercado relembrando a todos como a carreira de Elvis estava estagnada. Nenhuma delas fez grande sucesso e pela primeira vez Elvis não conseguia atingir o Top 10 americano. Merecidamente aliás. Spinout (minhas três noivas) foi lançado para comemorar os 10 anos de Elvis em Hollywood e os fãs, que já vinham pedindo mudanças na carreira de Elvis, deram o troco ao coronel e praticamente boicotaram o lançamento. O filme se tornou um grande fracasso comercial, o maior de todos na carreira cinematográfica de Elvis. Como as coisas não estavam correndo bem, Elvis voltou aos estúdios de Nashville em junho de 66 para tentar reviver sua carreira musical. Dessa sessão surgiram três ótimos momentos: "Indescribably Blue" (finalmente em anos uma música de Elvis recebia um tratamento decente em termos de arranjo e adaptação), "I'll Remember You" (ótima música que Elvis utilizaria mais tarde no Aloha From Hawaii) e "If Every Day Like Was Christmas" (belíssima canção natalina que fracassou injustamente como single no final do ano). Dentro dos estúdios Felton Jarvis vinha para mudar tudo. Ao contrário de muitos produtores que não traziam grandes contribuições a Elvis nas gravações, Felton aparecia com ânimo e vontade de produzir material de qualidade. Sem dúvida, tudo estava caminhando para que mudanças significativas fossem feitas nos anos seguintes e toda essa série de fatores iriam acabar culminando no NBC TV Special, o especial de TV que salvaria a carreira do Rei do Rock de uma vez por todas! Felton Jarvis era, naquele momento, apenas uma brisa de que Elvis precisava para retomar o fôlego e seguir em frente! Felizmente bons ventos logo iriam aparecer no horizonte, para o bem de Elvis e de todos os seus fàs!
"Quando encontrei Elvis pela primeira vez em um estúdio ele estava desanimado e deprimido. Então aos poucos fui me tornando amigo dele. Eu disse: 'Elvis vamos fazer diferente dessa vez. Vamos melhorar os arranjos, acrescentar instrumentos, vamos tentar fazer sempre o melhor, ok?'. O meu interesse em melhorar as gravações dele o deixaram animado novamente. Em pouco tempo ele estava de volta à ativa, discutindo qual seria o melhor take, qual era a melhor forma de gravar essa ou aquela música. Ele tinha renascido. Então eu lhe trouxe várias músicas novas, canções que ele podia gravar. Ele ficou visivelmente interessado, bem diferente do que ocorria quando ele gravava as trilhas de seus filmes. Elvis tinha um talento latente e sabia o que tinha ou não qualidade. Era um martírio para ele gravar todas aquelas músicas ruins dos filmes. Mas agora ele havia se empolgado novamente e isso era o que importava para mim naquele momento. A ordem dentro dos estúdios eram claras: vamos mudar para melhor!" (Felton Jarvis, revista Billboard).
Fevereiro de 1966 - Elvis começa as filmagens de Spinout (Minhas três noivas), filme feito para comemorar seu 10º aniversário em Hollywood.
Fevereiro de 1966 - Dois singles, "Joshua Fit The Battle / Known Only To Him" e "Milky White Way / Swing Down Sweet Chariot", foram lançados conjuntamente em fevereiro de 1966. Como eram apenas reprises do disco gospel His Hand in Mine foram ignorados pelo público. Os dois singles não obtiveram sequer classificação na parada TOP 200 da Billboard. Sem dúvida uma mera tentativa da RCA em ganhar uns trocados a mais com o público gospel de Elvis, só que desta vez não colou.
Março de 1966 - O single "Frankie and Johnny / Please Don't Stop Loving Me" é lançado para promover o disco da trilha sonora do filme "Frankie And Johnny". Chegou a ser premiado com um disco de ouro, apesar de não Ter alcançado uma posição satisfatória nas paradas, apenas um mero 25º lugar nos Estados Unidos e 21º na Inglaterra. A trilha se saiu melhor, porém também não conseguiu entrar no Top 10. Esse filme traz uma seleção de canções com arranjos que lembram a clássica trilha de King Creole, mas fica muito longe do resultado de sua inspiradora predecessora. Apesar de tudo consegue ser um dos bons discos de Elvis em 1966, o que também não quer dizer grande coisa. Tanto o single como a trilha sonora foram rapidamente esquecidas pelo público.
Março de 1966 - Elvis lança o filme "Frankie And Johnny" (Entre a ruiva e a morena, no Brasil)
O primeiro disco de Elvis a ser lançado em março de 1966. O material não é de todo destituído de valor. Há raras exceções que conseguem manter o interesse. As duas primeiras faixas, "Frankie and Johnny" e "Come Along" conseguem mostrar Elvis em boa vocalização e a banda se mostra entrosada de uma maneira geral. O taipe de metais é bem produzido e não decepciona. Mas aí vem o desastre. "Petunia, The Gardeners Daughter" certamente é uma das piores músicas da discografia de Elvis. Idem para as seguintes, "Chesay", "What Every Woman Lives For" (com péssima letra) e "Look Out Broadway". As coisas melhoram um pouco com a boa canção "Begginers Luck", mas voltam a piorar com "Shout It Out". Mas como esse disco é uma verdadeira montanha russa as coisas melhoram bem com "Hard Luck". "Please Dont Stop Loving Me" é uma boa balada, mas não consegue salvar o navio, e esse, assim como o disco, afundam de forma melancólica. O resultado comercial do disco assustou pois alcançou apenas a 20º posição na lista dos mais vendidos. A mistura de New Orleans e música do começo do século seguramente não funcionou. O filme também se deu mal nas bilheterias, sendo o filme apenas o 48º mais assistido de 1966.
Junho de 1966 - A RCA Victor lança o single "Love Letters / Come What May", considerado o melhor single de Elvis no ano, contando com as ótimas músicas gravadas em maio de 1966. Seis canções convencionais e inéditas foram gravadas nessa ocasião, algumas demonstrando que o talento de Elvis ainda continuava intacto e que tudo o que ele precisava mesmo naquele momento era de material com um mínimo de qualidade. "Down In The Alley", "Tomorrow Is A Long Time" (a famosa canção de Bob Bylan), Love Letters (a versão original e não a regravação que deu origem a um disco de Elvis nos anos 70), "Beyond The Reef", "Come What May" e "Fools Fall in Love" mostravam que Elvis estava vivo e respirando, mesmo que com dificuldades. Essas seis canções, se tivessem sido lançadas em um disco normal, teriam amenizado e muito a crise musical e artística da carreira de Elvis. Mas infelizmente os executivos da RCA não souberam aproveitar. O single "Love Letters / Come What May", não contou com o mínimo de publicidade mas mesmo assim alcançou uma razoável posição entre os mais vendidos nos EUA (19º lugar) e um ótimo sexto lugar na Inglaterra.
Julho de 1966 - Elvis começa novo filme nos Estúdios em Culver City pela MGM. Double Trouble (Canções e confusões).
Agosto de 1966 - O filme "Paradise, Hawaiian Style" (No Paraíso do Havaí, no Brasil) é lançado nos cinemas americanos. O que escrever sobre Paradise, Hawaiian Style? Esse é um material tão inconsistente e falso que fica até difícil começar a apontar seus defeitos. Em primeiro lugar é um projeto que tenta imitar descaradamente Blue Hawaii, aliás com a metade dos dólares gastos no filme anterior (ordens do Coronel). Depois Elvis é jogado numa das piores trilhas sonoras de sua carreira (se não for a pior!). A faixa título é muito ruim, com péssima letra (com um verso pra lá de estúpido: "Puxa! Como é bom estar no 50º Estado!") E a partir daí é uma ladeira abaixo, com canções de mal gosto (Scratch My Back), infantis e maçantes (Datin) constrangedoras (A Dogs Life) e mal produzidas (Stop Where You Are). Nem This Is My Heaven consegue manter a dignidade. A única e honrosa exceção no meio desse pântano de músicas ruins e baratas é mesmo, como já foi dito, a bela canção Sand Castles. E por incrível que pareça ela foi a única cortada do filme! Como pôde acontecer uma coisa dessas? Realmente Paradise, Hawaiian Style é impressionante, pois até nisso eles se equivocaram. Não há muito o que comentar nesse momento opaco, depois dessa é melhor esquecer que nosso querido ídolo se envolveu em tamanho abacaxi, literalmente!.
Olho Clínico: Sobre Paradise, Hawaiian Style... Bom, o Pablo já escreveu sobre as melhores coisas que Elvis fez em 66. Texto maravilhoso que só mostra como ele é realmente um mestre em Elvis. Como sou vira lata vou falar sobre os restos. E assim chegamos a Paradise, Hawaiian Style, algo como "Paraíso ao estilo havaiano". O filme é um primor trash. Aliás de trash eu entendo pois meu DVD de cabeceira é o trash supremo "A noiva de Chucky", e nem adianta rir, Chucky é um ícone que faz Shakespeare parecer um amador!! Mas enfim... Voltemos a Elvis e os mariscos. Como disse Pablo, aqui está Elvis Presley, um dos maiores ícones do século XX, um cara que mudou o mundo, cantando "Queenie, Wahines Papaya", puxa vida!!! Socorro!!! E para completar ainda colocaram ele para contracenar com a garotinha pentelho Donna Butterworth (que diabos de nome é esse??!! Tente falar esse nome em voz alta para você ver como é complicado!!! Buterrwwoowoeeioeowrowqi – putz, deixa pra lá!) Existe uma regra entre os atores em Hollywood que diz: "Nunca contracene com animais e crianças, pois elas irão roubar seu filme". Sem dúvida uma verdade absoluta! Então o que o coronel barriga faz? Ora, coloca Elvis para contracenar com a senhorita Buterrmeoasdirnereri (chega de tentar escrever esse maldito nome) e um monte de cachorros em uma cena no qual ele canta a imortal "A Dog's Life"! (Não disse que sou expert em trashs!!) . Coitado do Elvis. Essa cena só serve para os fãs hardcores do rei conhecer alguns cachorros que eram de Elvis na época e nada mais!!! E o que o rock tem a ver com isso afinal??? Elvis está em controle remoto durante todo o filme com uma pancinha considerável. O figurino é hilário, Elvis está quase explodindo de rir da maioria das cenas e tudo é muito trash mesmo (como eu gosto afinal), e o restos da músicas são desconcertantes mesmo. A que dá nome ao filme tem um verso estúpido que diz "É bom estar no 50º Estado", afinal quem escreveu uma droga dessas!!! Obviamente compositores com danos cerebrais!!! Mas no meio dos tambores e mariscos vou salvar duas músicas que adoro, sério, adoro mesmo: Datin e Sand Castles! Puxa, tem gracinha maior que "Datin"?? Duvido. A letra é muito bonitinha, a cena lindinha e o acompanhamento fofinho. Pode me chamar de bobinho, mas dessa canção eu gosto e ponto final. Para quem gosta de ouvir Elvis rindo procure os takes alternativos dessa sessão, pois ao gravar Datin Elvis morreu de rir em algumas versões, não sei se ele estava rindo da música, dele mesmo ou dos fãs que iriam comprar o disco depois! Mas deixa pra lá... Já Sand Castles é bonita demais, me leva direto para à beira da praia no Hawaii, deitado numa rede, um pouco de água de coco, uma garota bonita de lado, poxa, me sentindo o próprio Elvis (sem a pancinha do filme, por favor!). Puxa, até parece que estou no 50º Estado...Putz esse negócio pega mesmo... (Erick Steve)
Setembro de 1966 - O Single "Spinout / All That I Am" é lançado para promover o filme Spinout (minhas três noivas, no Brasil). Como esse fracassou nas bilheterias e enterrou qualquer pretensão em se divulgar mais a trilha sonora, que tinha uma qualidade musical acima da média em comparação às outras lançadas nesse ano, o single acabou sendo seriamente prejudicado, não recebendo a atenção devida nos EUA. Ao contrário do filme que é destituído de valor artístico, a parte musical de Spinout traz pela primeira vez em muitos anos de trilhas sonoras fracas, uma seleção bastante interessante de momentos e até mesmo algumas músicas excelentes da carreira de Elvis como "Down in the Alley", "I'll Remember You" e "Tomorrow is a long Time" de Bob Dylan (Todas como Bonus Songs da trilha). Isso se deveu a um fator que ocorreu nos bastidores da RCA Victor em 1966. Por motivos de saúde o produtor de Elvis, Chet Atkins, teve que se afastar dos estúdios. Isso abriu caminho para que os trabalhos musicais de Elvis fossem providenciados por um novo produtor: Felton Jarvis. Ao contrário de Atkins, que apesar de ser um produtor e músico talentoso estava muito acomodado, Jarvis chegava com muita vontade de mostrar serviço. Resolveu embelezar as músicas de Elvis com novos arranjos e lhes dar maior qualidade harmônica, mesmo que essas fossem apenas canções descartáveis de filmes. Enfim, finalmente havia um sopro de ar fresco pairando dentro dos estúdios da RCA Victor. All That I Am - (S. Tepper / R.C. Bennett) - A prova viva de que Felton Jarvis vinha para ficar! Nesse caso o produtor pegou uma música despretensiosa que fazia parte da trilha e resolveu escrever um belíssimo arranjo de cordas em violino! A nova versão ficou tão bela que, com a concordância de Elvis, Jarvis resolveu lançá-la em single antes do filme. O resultado foi tão satisfatório que a música chegou ao Top 20 na Inglaterra, se tornando também bem conhecida no resto da Europa. Nesse compacto europeu ela foi lançada como lado A, ao contrário do single americano original que vinha com "Spinout" no lado principal e com "All That I am" no lado B. O disco com a trilha sonora se saiu melhor que o filme e conseguiu também ser Top 20 nos EUA (18º lugar entre os mais vendidos). Um excelente sinal de mudanças positivas nas combalidas trilhas sonoras de Elvis nesse período.
Outubro de 1966 - A trilha sonora do filme "Spinout" é lançada. Esse disco consegue (graças em parte às suas bonus songs) manter o interesse. Nada menos que três ótimas canções foram colocadas no disco por Felton Jarvis, certamente para evitar um vexame consecutivo a Elvis, depois de "Frankie And Johnny" e "Paradise, Hawaiian Style". "Down In The Alley", "Tomorrow Is A Long Time" e "I'll Remember You" salvaram o disco de se tornar mais uma decepção completa. Além dessas a bela balada "All That I Am" se destaca, principalmente por se tornar um belo sucesso de Elvis na Europa na época. Foi a primeira gravação do cantor a utilizar um arranjo de violinos. Mostra sem dúvida a seriedade de Felton Jarvis como produtor de Elvis. "I'll Be Back" também é uma música que sempre é citada como um ponto alto do disco. Porém para fazer jus ao material inconsistente gravado por Elvis para as trilhas sonoras nessa época, essa também marca presença na lista das piores músicas da discografia com a inacreditável Beach Shack. Simplesmente horrível. Porém se levarmos em conta que há cinco faixas fortes no disco, podemos considerar esse disco um bom sinal de mudanças na carreira de Elvis. Antes tarde do que nunca: O disco chegou ao Top 20 e o filme chegou na lista vexatória dos 50 piores filmes de todos os tempos publicada pela revista americana Premiere. Nada é perfeito.
Novembro de 1966 - Estréia o filme "Spinout" (Minhas três noivas).
Em 1966 Elvis Presley completou dez anos de carreira em Hollywood. Os executivos da MGM então resolveram elaborar um intenso projeto de marketing para celebrar a data com muito material promocional, posters, álbuns, comerciais, folders etc. No centro das comemorações estava a realização de mais um filme de Elvis na produtora: Spinout (Minhas três noivas, no Brasil). As filmagens começaram em fevereiro de 1966 e duraram dois meses. Para contracenar com Elvis foram chamadas três beldades da época: Shelley Fabares (que já havia atuado ao lado de Elvis), Debora Walley (que chegou a ter um casinho com Elvis no set de filmagem) e Diana McBaine. Na direção o "pau-pra-toda-obra" dos estúdios Norman Taurog. Infelizmente os executivos da MGM não quiseram se arriscar e resolveram apostar na velha fórmula dos filmes anteriores de Elvis, que já estavam bastante desgastados pela crítica e até mesmo pelos fãs, que vinham exigindo atráves do fanzine "Elvis Monthly" mudanças na carreira de Elvis. Ou seja, muitos fãs estavam mais lamentando esse "aniversário" do que comemorando tal data. A falta de inovação da carreira de Elvis o levou a um impasse: ele tinha que mudar o rumo que vinha tomando há tempos ou afundaria de vez e se tornaria apenas uma "lenda viva" sem relevância artística. Os primeiros sinais já tinham aparecido no ano anterior com as más bilheterias de seus últimos filmes. O público estava cansado dos mesmos roteiros, das mesmas estórias e o pior de tudo: da má qualidade do material musical apresentado nesses filmes. E Elvis tinha consciência disso, porém preso a muitos contratos cinematográficos desde a primeira metade dos anos 60 o cantor se viu amordaçado não só aos grandes estúdios como também à sua própria gravadora que lançava todas as trilhas sonoras - e que por sua vez também estava presa à obrigações com os estúdios de cinema. Por incrível que isso possa parecer a melhor coisa a acontecer na carreira de Elvis nesse período era um grande fracasso no cinema! E o que todos de certa forma já previam finalmente aconteceu! Spinout foi lançado em novembro de 1966 e afundou nas bilheterias! Nem todo o marketing do mundo o salvou de ser um dos piores fracassos da carreira de Elvis! Até mesmo os fãs resolveram boicotar o lançamento e isso acabou sendo muito bom, pois acendeu de vez a luz vermelha nas organizações Presley - não dava mais para seguir essa velha linha "Trilha / Filme". Para se ter uma idéia do tamanho da bomba, basta afirmar que o filme não conseguiu ficar nem entre os 50 mais vistos do ano - logo Elvis que mesmo em suas bilheterias mais fracas conseguia ficar no top 10 ou até mesmo no top 20. O ano que viria apenas iria corroborar essa visão e tudo isso iria desbancar na realização do NBC TV Special de 68 que iria reviver a carreira de Elvis e o levar de uma vez por todas para longe de Hollywood, para o seu próprio bem e dos seus fãs, é claro!
Novembro de 1966 - Para comemorar as festas de fim de ano a RCA lança o single "If Every Day Like Christmas / How Would You Like To Be". A música natalina If Every Day Like Christmas é ótima e não teve o merecido reconhecimento quando foi lançada, sendo outro single de Elvis que também não foi classificado no Top 200 nos Estados Unidos. Um pena. Já os ingleses demonstraram mais sensibilidade e por lá fez um sucesso merecido, chegando ao muito bem vindo nono lugar nas paradas inglesas. Sem dúvida um ótimo resultado. Talvez o single não tenha feito sucesso nos EUA por causa de seu péssimo lado B. Os americanos pensaram certamente que se tratava de material já anteriormente lançado e ignoraram completamente todo o single. Uma perda grande mesmo, tanto para Elvis como para o público em geral que perdeu a chance de conhecer um clássico absoluto. Mas um single tem dois lados e o Lado B era dose. Convenhamos, How Would Like To Be do filme de 1963 "It Happened At World's Fair" é péssima. Depois que Elvis cantou "Wooden Heart" em "G.I. Blues" (Saudades de um Pracinha, no Brasil) com as marionetes, os produtores chegaram a brilhante conclusão de que todos os seus filmes seguintes teriam que Ter pelo menos uma música mais voltada para o seu público infantil. Péssima idéia. E essa foi feita exatamente para atender aos desejos deles em Hollywood. Então lá foi Elvis cantar durante mais de 3 minutos (uma eternidade para o padrão geral de duração de sua músicas) uma musiquinha muito maçante e boba, que não chega a lugar nenhum. O pior é acompanhar um irritante arranjo de percussão que dura toda a canção, ficando no mínimo chato e no máximo constrangedor. Fico imaginando Elvis no estúdio ao lado de seu grupo, que outrora revolucionou a música mundial, ensaiando tamanha bobagem. Não me admira que Elvis muitas vezes perdia a paciência durante algumas sessões desses filmes dos anos 60. E você também vai perder a paciência ao ouvir esse equívoco musical, tenha certeza. Esse é sem dúvida um dos pontos mais baixos da carreira do "Rei Do Rock".
Pablo Aluísio.