quinta-feira, 20 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis as Recorded Live on Stage in Memphis - Parte 5

Já que o show foi realizado em Memphis nada mais natural do que Elvis trazer bastante country music em seu repertório. E se fosse do começo de sua carreira, melhor ainda. Havia um toque de nostalgia envolvida nessa apresentação, até porque apos tantos anos, voltar a se apresentar em Memphis, a cidade que Elvis considerava seu lar, era muito importante para ele. Assim ele colocou "Trying To Get To You" na seleção musical do concerto. Ele de fato gostava mesmo dessa música, tanto que ela foi figurinha fácil em suas turnês durante os anos 70. Dentro de sua discografia ela fez parte de seu primeiro álbum na RCA Victor. Era uma volta ao passado.

E também por Memphis ser uma das cidades sulistas mais importantes dos Estados Unidos, Elvis não poderia jamais deixar de cantar "An American Trilogy" para esse público. Essa foi uma música histórica, na verdade um medley, que unia músicas tradicionais, ainda dos tempos da guerra civil americana. Como se sabe esse conflito foi um dos mais devastadores da história dos Estados Unidos. E dentro da tragédia sempre a arte se faz presente para captar corações e mentes daqueles que viveram esses tempos difíceis.

Nessa guerra havia dois exércitos. O do sul, chamado confederado (porque eles defendiam a ideia de uma confederação, onde os estados poderiam deixar os Estados Unidos, se assim quisessem) e o do norte (que defendia que a secessão, a saída dos estados da união, não era possível). Os soldados do sul, com casacos cinzas, cantavam sobre Dixieland nos campos de batalha. Dixieland era um lugar utópico, nostálgico, que no fundo representava todo o sul dos Estados Unidos. Memphis era Dixieland, assim como Atlanta, Nashville, também eram Dixieland. Qualquer cidadezinha do sul, por menor que fosse, era Dixieland. Dixieland era o sul inteiro. Era um sentimento de paixão pelas origens, não um lugar bem delimitado geograficamente. Por isso Elvis jamais poderia deixar essa canção de fora em seu concerto de Memphis.

Por fim, fechando o show, Elvis não saiu do que costumeiramente fazia em outras turnês. Ele sempre encerrava seus concertos com a balada do filme Blue Hawaii chamada "Can´t Help Falling In Love". Eu sempre fiquei com um pé atrás de todas as execuções dessa balada em shows ao vivo. Acontece que ela deveria ser executada de uma forma terna, romântica. Só que no excesso de adrenalina dos concertos Elvis e banda sempre a aceleravam demais. Com isso a canção perdia parte de sua beleza em termos de harmonia e desenvolvimento. Assim sempre preferi mesmo a versão de estúdio da trilha sonora original. Foi a melhor performance de Elvis em toda a sua carreira. Nada supera aqueles belos arranjos e aquela bela vocalização por parte do cantor.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Elvis Presley - Good Times - Parte 1

O LP "Good Times" não foi lançado no Brasil na época. Absurdo completo, mas essa era a nossa realidade em 1974. Nem tudo que era lançado nos Estados Unidos chegava nas mãos dos fãs brasileiros. Uma pena porque o disco era bom. Trazia finalmente material novo, inédito, gravado por Elvis no Stax Recording Studio, em Memphis. Como se sabe Elvis já não tinha mais a mesma disposição de ir até Nashville para fazer novas gravações. Preferia ficar por ali mesmo, nos arredores de Graceland. Era algo mais confortável para ele. Sem outra saída, a RCA Victor concordou com a mudança.

Esse é um álbum de boas baladas, country e um ou outro flerte com a black music, principalmente a produzida em Memphis. O Stax tinha longa tradição em gravações de artistas negros locais. Elvis que sempre bebeu dessa fonte ficou muito à vontade por ali. Reuniu basicamente sua banda de palco e foi para o estúdio em busca de material novo para seus discos. A primeira rodada de gravações aconteceu em julho de 1973.

"Good Time Charlie's Got The Blues" é certamente uma das músicas que mais aprecio dessa fase. Tecnicamente seria um blues com sabor country, escrito por Danny O'Keefe. Fez parte do primeiro álbum desse cantor e compositor em 1967. Ele era tipicamente um artista daquela época, do flower power, do chamado verão do amor. A guerra do Vietnã começava sua escalada rumo ao desastre e ele compôs essa balada de letra e harmonia bem melancólicas. Curiosamente o guitarrista James Burton diria anos depois que a faixa tinha sido um dos seus melhores trabalhos ao lado de Elvis, onde ele tocou seu instrumento apenas com a inspiração do momento, sem se importar muito com as partituras à sua frente. O solo ficou realmente muito bonito. Em seu lançamento original a canção chegou a um honroso nono lugar na parada Billboard Hot 100. Excelente posição!

Já "Spanish Eyes" era mais uma aproximação de Elvis com a música europeia. Ela havia sido gravada pela primeira vez em 1965 com seu título original, "Moon Over Naples". Al Martino foi quem a apresentou com sucesso pela primeira vez ao público americano. Andy Williams também conseguiu grande êxito de vendas com sua própria versão. Quando a música finalmente chegou nas mãos de Elvis já tinha outro nome, "Spanish Eyes", algo que atraiu Elvis desde que a conheceu anteriormente. É uma canção muito tradicional entre os descendentes latinos que vivem na América. Elvis realizou uma bela versão em estúdio, chegando a cantá-la também em concertos ao vivo. Em ambas as situações sua performance sempre foi das melhores. Era algo que claramente o inspirava a cantar bem.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Good Times - Parte 2

Certa vez li um artigo escrito por um crítico de música inglês em que ele dizia que "Loving Arms" era o mais próximo que Elvis tinha chegado de gravar uma valsa. Uma valsinha com sabor country. Essa opinião não deixou de ter seu fundo de verdade. A canção realmente tinha um pouco dessa antiga e tradicional escola musical. Se bem que ela não foi composta em Viena, mas sim em Yakima, uma cidadezinha do estado de Washington. Foi lá que nasceu Tom Jans, cantor e compositor folk, country, que acabou tendo sua obra gravada por Elvis alguns anos depois.

A versão de Elvis foi obviamente inspirada não na gravação original de Tom Jans, mas sim na que saiu no disco de Kris Kristofferson. Elvis já havia gravado antes músicas desse talentoso ator e cantor, em especial "Help Me Make It Through The Night" que já tinha sido lançada no álbum "Elvis Now" de 1972.

O grande sucesso do disco "Good Times" porém foi inegavelmente a canção "My Boy". Era uma versão em língua inglesa da música original francesa que havia sido composta pela dupla Jean-Pierre Bourtayre e Claude François. Para muitos autores a canção mexeu com Elvis por causa da letra, versando sobre um pai e seu filho, após o fim de seu casamento. Algo bem próximo do que Elvis vinha passando em sua vida pessoal. Embora tenha se divorciado de Priscilla em 1972, o fim desse relacionamento jamais foi superado por Elvis. Pior era saber que Lisa Marie, sua filha, iria crescer em um lar desfeito. Elvis jamais conseguiu se conformar com isso. Era algo muito doloroso para ele do ponto de vista emocional. Assim a canção vinha como uma forma de mensagem sincera para sua filha.

"If That Isn't Love" sempre achei um pouco coadjuvante, sem brilho próprio. Um autêntico Lado B da discografia de Elvis. É uma canção romântica, uma declaração de amor com versos até simples. "Se isso não for amor / Então o oceano está seco / E não há estrelas no céu / E os pássaros não podem voar / Sim, se isso não for amor / Então o céu é um mito / Não há sensação como esta", Como se pode perceber pelos seus versos é uma canção romântica bem singela, novamente com claro estilo country, onde o autor tenta trazer esse sentimento amoroso bucólico, misturando seus sentimentos com aspectos da natureza. Um autêntico poema da primeira geração romântica. De uma forma ou outra chamou a atenção de Elvis que quis gravar sua versão da música.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Elvis Presley - Good Times - Parte 3

Pois é, quem disse que a vida ia ser fácil? Elvis em 1974 tentava ainda superar o fim de seu casamento. O divórcio tinha acabado com seu sonho de casal feliz um ano antes. O cantor ainda procurava justificativas, fazia reflexões e tentava superar a depressão. Muitas vezes aproveitava para mandar mensagens do que pensava nas letras das músicas dos discos que gravava.

Em "She Wears My Ring" Elvis cantava uma letra que ia direto ao ponto, se referindo ao anel de casamento. Só que o seu matrimônio havia sido uma experiência ruim. Como ele poderia ser ao mesmo tempo nostálgico sobre tudo o que aconteceu? Provavelmente chorava por uma idealização que nunca chegou a se concretizar. Diante de tudo isso sempre achei a música a mais baixo astral do álbum. Não empolga e no fim das contas chega a cair na monotonia em alguns trechos.

Ainda falando sobre os bons e velhos tempos, Elvis soava mais uma vez como pura nostalgia em "Talk About The Good Times". Esse country rock de maravilhosa melodia deveria ter se tornado um dos grandes sucessos de Elvis nos anos 70. Também deveria ter sido explorada mais por Elvis em seus concertos. Iria funcionar muito bem, principalmente por causa de seu ritmo contagiante. Infelizmente nada disso aconteceu. A RCA Victor nunca promoveu a gravação e Elvis não a levou para seu repertório de shows. Com isso acabou muito restrita, sendo conhecida basicamente apenas por seus fãs de longa data. Que desperdício!

"Take Good Care of Her" voltava para a melancolia. Cantar essa letra deve ter sido um martírio psicológico para Elvis. Nela um homem apaixonado se lamentava pelo fim de seu relacionamento. Sem ter chance de fazer nada sobre isso apenas dizia para o novo casal (sua ex-mulher e o novo homem dela) que eles deveriam se cuidar mutuamente, para serem felizes. Desiludido, chegava ao ponto de dar parabéns ao novo casal! Que dureza hein? Era como se Elvis se dirigisse a Mike Stone para dizer a ele que cuidasse bem de Priscilla, porque ela havia sido o maior amor de sua vida! Resignação completa, um homem de joelhos por causa da nova situação, tentando superar tudo da melhor forma possível! Psicologicamente tenho certeza não foi nada bom para ele gravar uma canção como essa! Não me admira a depressão ir aumentando dia a dia, tornando a doença uma companheira constante e nada agradável em sua vida.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Good Times - Parte 4

"I Got a Feelin' in My Body" é uma das melhores músicas do álbum "Good Times". Em um disco de músicas mais voltadas para o romantismo, em um repertório de baladas country, essa faixa realmente se destacava por ser diferente. Ela foi composta por Dennis Linde, e oferecida quase que imediatamente para Elvis gravar. Para quem tinha composto o hit "Burning Love" era mais do que bem-vinda.

Porém como já havia virado tradição (negativa, é bom frisar) a gravadora RCA Victor nada fez para promovê-la nas rádios. Mal promovida, acabou não fazendo o sucesso que todos esperavam. O que é uma pena, já que ela tinha potencial, quase no mesmo nível que "Burning Love".

O curioso é que em 1979, já depois da morte de Elvis, a RCA decidiu relançá-la como lado A de um single com "There's a Honky Tonk Angel (Who Will Take Me Back In)". O resultado? Chegou ao sexto lugar na Billboard, parada country! Veja como a RCA cometia erros dentro da discografia de Elvis. Por que não a divulgaram em 1974? Sem palavras...

Do estilo mais dançante dentro do disco eu ainda prefiro "I've Got a Thing About You Baby". Nem preciso me repetir aqui. Essa é outra gravação ótima de Elvis que a RCA Victor não fez a menor questão de promover. O incrível é saber que a RCA (Radio Corporation of America) tinha centenas de estações de rádio ao seu dispor, fazia parte da mesma empresa. Só era necessário o envio de acetatos para essas rádios espalhadas por todos os Estados Unidos para transformar qualquer canção gravada por Elvis em sucesso instantâneo, mas ao invés disso a gravadora do cantor nada fez, não promoveu, não fez nada pelo disco. Assim ficava mesmo complicado se destacar nas paradas musicais da época.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 1

O disco "Raised on Rock" não foi muito bem sucedido do ponto de vista comercial. Só conseguiu chegar entre os 50 álbuns mais vendidos, segundo a parada da Billboard. Uma posição bem ruim para um astro do porte e da fama de Elvis Presley. Pior do que isso, era um álbum de gravações inéditas, o que deixou a RCA Victor perplexa pela falta de interesse dos próprios fãs de Elvis. Ninguém pareceu se interessar. Muito se criticou também na época de lançamento que era um LP muito curto (não chegava nem a 30 minutos de duração), sem grandes sucessos e músicas de impacto. Faltava uma "Burning Love", por exemplo, para puxar as vendas para cima. Sem hits, acabou ficando no vácuo.

E isso não deixava de ser algo a se lamentar, porque havia sim boas faixas em seu repertório. Nenhuma delas se tornou muito relevante para a carreira de Elvis, isso era verdade, mas inegavelmente havia boa música ali. Talvez o disco tenha se prejudicado por problemas pessoais de Elvis. A gravadora queria realizar uma nova maratona de gravações, como a que havia acontecido em 1969 e 1970, mas Elvis sucumbiu no meio dos trabalhos. Ele chegava atrasado no estúdio, aparentando desinteresse (um efeito da depressão pelo qual vinha passando) e isso desanimava os demais músicos da banda. O produtor Felton Jarvis acabou tendo muito trabalho com o grupo. Um baixista foi demitido por tocar deitado no chão, entediado pelo estado desanimador de Elvis. Tudo muito baixo astral.

Parte desse clima passou para algumas das canções. Um exemplo era "Are You Sincere", uma música muito melancólica, depressiva mesmo, que Elvis gravou com dificuldades. A letra, extremamente simples e emocional, com estrofes pequenos e repetitivos, criava um clima de desamparo completo no ouvinte. Quando Elvis morreu e a RCA lançou o disco "Our Memories of Elvis" essa canção foi a que abriu o disco. A diferença é que ela vinha na sua versão crua, tal como fora gravado em estúdio. No disco oficial "Raised On Rock" ela aparecia com os diversos tratamentos sonoros colocados pelo produtor Felton Jarvis. Muitos fãs preferem ouvir as faixas limpas, apenas com Elvis e banda tocando em estúdio, porém penso que não é sempre o caso. "Are You Sincere", por exemplo, ganhou bastante em beleza pelas mãos talentosas do produtor Jarvis. Sem overdub ela só conseguia se parecer mais tristonha e depressiva do que já era e isso não era bem uma qualidade a se louvar.

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 2

Muitos criticam a canção "Girl of Mine" afirmando que seria uma performance preguiçosa por parte de Elvis Presley. Há uma certa dose de verdade nisso. Elvis que já não vinha muito bem no aspecto psicológico (a depressão ia aumentando a cada dia) apenas levou a música em um certo tom, diria no controle remoto. A melodia e a harmonia da música também não ajudavam. Ele é bem assim mesmo, composta dessa forma. O que salva é a sonoridade country bem característica de Nashville nos anos 70. Particularmente gosto da letra. Tem versos bem construídos como os que seguem: "Quando você dorme ao meu lado, eu fico olhando você deitada / Suas mãos sobre o travesseiro e o luar em seu cabelo / Eu sinto uma sensação tão boa, tão boa que quase choro / Eu beijo seus lábios sonolentos e digo, eu te amarei até o fim dos meus dias." Como se pode ver a "sonolência" da música em si se justifica em parte por seus próprios versos.

Já "Find Out What's Happening" tem um ótimo balanço. Essa é obviamente influenciada pela black music, inclusive o clima do Stax Recording Studios se fez mais presente do que em qualquer outra faixa desse disco. Aqui o produtor Felton Jarvis abriu muito mais espaço para os músicos da banda de Elvis, com vários solos (todos ótimos) e uma valorização ainda maior do baixo, que no estúdio contou com três baixistas (Tommy Cogbill, Donald Dunn e Thomas Hensley) que foram se revezando no decorrer das gravações. A letra também é boa. Ao invés de Elvis se colocar como o homem que foi abandonado pela mulher amada (tema recorrente em seus discos dos anos 70) aqui é ele que vai embora. Uma mudança de astral bem-vinda. Fossa demais ninguém aguenta, não é mesmo? Aqui Elvis pelo menos canta versos mais auto afirmativos como: "Baby, você me conhece bem / Você sabe que eu quero dizer, o que eu digo / Antes de dizer adeus / Eu vou dar-lhe apenas mais um dia / É melhor descobrir o que está acontecendo / Descubra o que está acontecendo antes de tempo, Oh yeah / Se você não descobrir o que está acontecendo / Você vai descobrir que eu estou indo embora agora, Oh yeah"

Se  Find Out What's Happening" valorizou a banda de Elvis, dando destaque a eles como solistas, a canção "I Miss You" veio para valorizar seu grupo de vocalistas de apoio. J.D.Summer e The Stamps, e o Grupo Voice ganharam destaque. O curioso é que o produtor Felton Jarvis achava excessivo o número de vocalistas que Elvis levava para o estúdio. Todos os seus álbuns estariam bem servidos apenas com o grupo liderado por J.D.Summer, mas Elvis resolveu formar ele próprio um outro grupo vocal, o Voice, com cantores que estavam desempregados na época. Além de ser um ato de generosidade do cantor, era também a forma dele ter sempre eles por perto, para cantar nas suítes depois dos shows ou como grupo de aquecimento antes das gravações de seus discos em estúdio. No mais a letra de "I Miss You" era outro recado para Priscilla, com Elvis abrindo seu coração em versos como: "Então eu relembro todos os bons tempos juntos... / O amor que repartimos, a alegria e os sorrisos... / Como eu quero que você sinta o que meu coração diz esta noite querida... / Eu sinto sua falta e eu quero você aqui.. / Sonhos que eu tinha, eles acabaram-se num instante... / Os planos que eu fiz, as esperanças para o amanhã... / Se eu pudesse, eu diria como estou sozinho esta noite, querida...  / Eu sinto sua falta e eu quero você aqui..". Pois é, definitivamente ele ainda não havia superado a separação e o fim de seu casamento.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 3

Na segunda edição de seu livro "Elvis" o escritor Albert Goldman defendeu a tese de que Elvis havia se matado em 16 de agosto de 1977. Para o autor essa teoria poderia ser confirmada não apenas pela depressão que acompanhou Elvis em seus últimos anos, como também por seus discos, sempre com faixas melancólicas e tristes. Pessoalmente eu jamais concordei com essa visão. A única coisa que Goldman tinha razão era sobre o repertório de muitos dos discos gravados por Elvis nos anos 70. Realmente há bastante música romântica neles, mas não do romantismo que vinha acompanhando Elvis desde seus primeiros trabalhos. As baladas de Elvis nos anos 50 e 60 eram ternas, com temas geralmente falando sobre o amor adolescente, o amor na juventude.

Já nos discos dos anos 70 a coisa muda de estilo. Aqui grande parte das baladas falam sobre a angústia, a tristeza e em muitos casos até mesmo o desespero do fim de um amor idealizado, perfeito. Ora, quando se perde o amor de sua vida a tendência é realmente entrar em um estado de desespero mesmo... Assim as letras com que Elvis se identificava nesse período de sua carreira eram bem soturnas, sem esperança, puro torpor. Era algo maravilhoso que havia ficado para trás para sempre. Não tinha mais volta. O amor chegara ao fim, tragicamente.

Havia também espaço para tentativas de reconciliação. Em "For Ol' Times Sake", a segunda música mais importante do disco, ele tentava convencer, em um último esforço, sua amada a voltar para seus braços após um rompimento doloroso. Tudo feito de alma aberta, de maneira sincera. Isso fica bem claro em versos como "Antes que você vá embora e me abandone / Dê uma olhada ao redor e me diga o que você vê / Aqui eu me encontro, como um livro aberto". Um trechos mais significativos dessa balada é a parte em que Elvis cantava: "Então, uma vez mais, em nome dos velhos tempos / Venha e deite sua cabeça sobre meu peito / Por favor, não jogue fora este momento / Nós podemos esquecer o lado ruim e considerar os melhores / Se você não tem nada mais a dizer / Me deixe pelo menos te abraçar uma vez mais, em nome dos velhos tempos".

Elvis tentou voltar para Priscilla inúmeras vezes, mas sempre encontrou resistência na ex-esposa. Em determinado momento ele se despiu de sua vaidade e suplicou para que Priscilla voltasse dizendo "Eu quero minha família de volta!".  Para Albert Goldman tudo isso serviu para destruir ainda mais o ego de Elvis, sua própria auto imagem. Ele de certa maneira se humilhava por um recomeço, mas no final todos os seus esforços foram em vão. Em seus discos Elvis aproveitava para passar mensagens mais do que claras para Priscilla. Enquanto ele tentava de tudo, Priscilla só parecia mais interessada em colocar o divórcio pra frente. Nem pelos velhos tempos ela parecia disposta a voltar para Elvis.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 4

"Sweet Angeline" é uma balada muito triste e chorosa, mas sua melodia melancólica tem seu charme. Essa canção quase não foi gravada por Elvis porque durante essas sessões ele teve muitos problemas de saúde. O abuso de drogas estava cobrando seu preço, atrapalhando o cantor agora no aspecto profissional. Ele apresentou alguns problemas respiratórios que o impediam de trabalhar normalmente. Também se aborreceu com o clima de tédio e descaso que se instalou nos estúdios durante as gravações. Um baixista foi inclusive demitido por tocar deitado no chão, cansado de esperar por Elvis.

Outro fato é que Elvis estava armado. Quando entrou para gravar resolveu retirar duas pistolas da cintura, bem na frente dos outros músicos da banda. Isso criou um certo mal-estar. Ninguém falou nada, mas ficou meio ruim o clima. Diante de tantos problemas a produtividade de Elvis decaiu muito.

Ele que conseguia gravar quase um álbum inteiro numa noite (como nos anos 60) agora encontrava problemas para terminar uma faixa apenas! Era incrível o declínio físico e psicológico que vinha atravessando. "Sweet Angeline" foi gravada talvez em um dos seus piores momentos, por isso ficamos com a sensação de que Elvis está bem indisposto e cansado em sua performance. Não é uma música feliz, o que talvez tenha piorado ainda mais o estado de espírito do cantor.

"Three Corn Patches" era mais alegrinha. Uma canção mais para cima, uma das poucas nesse estilo presentes no disco. Essa era uma velha canção da dupla Leiber e Stoller. Eles tinham firmado uma parceria maravilhosa com Elvis nos anos 50, resultando daí vários sucessos imortais como "Hound Dog", entre outros. O problema é que o Coronel Parker começou a achar que os direitos de suas músicas estavam caros demais. Assim riscou a dupla da carreira de Elvis. Um erro absurdo. Qualidade não tem preço. Assim a gravação dessa faixa foi um verdadeiro reencontro de Elvis com os compositores. Eles não voltaram a se encontrar novamente, mas o fato de Elvis gravar uma de suas músicas demonstravam uma certa gratidão por parte do cantor para com seus velhos parceiros de discografia.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 5

Dando continuidade na análise do álbum "Raised On Rock" de 1973 vamos tecer mais alguns comentários sobre as músicas desse disco. Uma das faixas mais lembradas desse repertório é "If You Don't Come Back". Embora alguns observadores tenham dito que se tratava de um genuíno momento da black music na discografia de Elvis, o fato é que a música foi composta pela dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Bom, quem conhece a história de Elvis Presley sabe muito bem que esses compositores estiveram ao lado de Elvis desde os primeiros álbuns na RCA Victor. Era uma parceria antiga.

Depois de uma certa desavença que eles tiveram com o Coronel Parker ficaram anos fora dos discos de Elvis. O retorno - esperado retorno - acabou acontecendo aqui, nesse agradável momento do LP original. Essa criação da dupla é, digamos, um "funk de brancos" (afinal foi escrita por uma dupla de compositores judeus de Nova Iorque). Ela tem uma letra curiosa, quase uma tragicomédia de um homem que simplesmente acorda pela manhã e descobre que sua vida está virada de cabeça para baixo, pois sua esposa o deixou. Dá a se entender, pela linguagem utilizada, que se trata de um casal de negros vivendo em um bairro da periferia. O coro feminino, exclusivamente black das vocalistas de apoio de Elvis, reforça ainda mais esse clima. É um bom momento de Elvis no disco, uma boa gravação, tanto que muitos anos depois da morte do cantor chegou a dar origem até mesmo a uma versão remix (que eu pessoalmente não gostei).

Outra que tem um estilo muito parecido, bem o som do Stax Studios, é "Just a Little Bit". Diria ate´que são músicas irmãs dentro do disco. Essa música tem uma paradinha bem característica, reforçada pela bateria. É aquele tipo de som que gruda na sua mente desde a primeira vez que a ouve. Também por ser tão própria pode criar facilmente uma certa saturação, justamente por causa desse som bem peculiar. É claramente um R&B ao estilo blues. Aqui Elvis voltou ao tempo, mais exatamente a 1959, ano em que a música foi lançada originalmente pelo pianista e compositor negro Rosco Gordon. A gravadora foi a pequena Vee-Jay que alguns anos depois compraria os direitos autorais para os Estados Unidos de um grupo de jovens ingleses desconhecidos de Liverpool. Eles mesmos, os Beatles! Imagine você que ironia do destino!

Pois bem, depois do single original de Rosco, a música voltou a ser gravada mais duas vezes. A primeira por Roy Head em 1965 e a segunda por Little Milton em 1969. Como Elvis sempre foi um ouvinte de rádios de blues e como ele também era um colecionador de discos antigos, era óbvio que já a conhecia de muitos anos. Assim quando entrou em estúdio já estava com essa velha música em seus planos. A versão, apesar dos problemas de saúde que Elvis vinha enfrentando na época de sua gravação, ficou muito boa, praticamente irretocável.

Pablo Aluísio.