segunda-feira, 12 de abril de 2010
Elvis Presley - Blue Hawaii - Parte 1
Se o público adorou, a crítica especializada não gostou muito do que ouviu. Era algo muito plastificado, meio kitsch, soando como uma falsa sonoridade da música do Havaí. Uma visão distorcida de Hollywood em relação àquela cultura daquelas ilhas distantes. O que Elvis pensou desse conjunto de músicas? Se formos levar em conta o que ele havia achado de outras trilhas sonoras, como "Saudades de um Pracinha", ele deve ter tido suas reservas. Entretando, como sempre profissional, foi lá e gravou as faixas da trilha sonora, mesmo não gostando muito.
O interessante é que pelo menos três canções o agradaram dentro daquele repertório (com excesso de músicas, para alguns). Ele particularmente apreciava a linda canção romântica "Can't Help Falling in Love", tanto que passou a usá-la para encerrar seus shows na década de 70. Ele parecia curtir também "Hawaiian Wedding Song", que inclusive chegou a cantar para Priscilla em sua lua de mel, como ela mesma confessou em sua biografia. Por fim Elvis parecia ter apreço igualmente pela italiana "No More".
Por outro lado achava uma verdadeira palhaçada faixas como "Ito Eats", que só funcionava no contexto do filme e ficava péssima ao se ouvir no disco ou então de "Rock-a-hula Baby", que chegou a ser usada em single, mas que nunca convenceu ninguém. Uma música fraca. O sucesso absurdo tanto do filme como de sua trilha sonora fizeram com que Elvis se retraísse em suas opiniões pessoais. Ele ficou calado. Chegou a ponto de dizer numa entrevista que não deveria se mexer em um sucesso desses. Se as pessoas gostavam, então era isso mesmo, era o caminho. Esse pensamento o fez ficar em Hollywood por dez anos, gravando trilhas para filmes.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Blue Hawaii - Parte 2
Depois dela Elvis gravou a também romântica "Ku-u-i-po". Se formos comparar as duas músicas a melodia dessa é bem mais bonita. Tem um belo arranjo de violão solando ao fundo, além, é claro do Steel Guitar que permeia por praticamente todas as faixas do disco. Quem estava tocando esse som peculiar foi o especialista Alvino Rey, trabalhando pela primeira vez ao lado de Elvis em estúdio, até porque esse tipo de sonoridade era novidade nos discos do cantor. Tudo arranjado para que o ouvinte se sentisse no próprio Havaí, curtindo uma de suas maravilhosas praias ao sol.
E então, depois de gravar as duas havaianas faixas já citadas, Elvis se preparou para fazer uma boa gravação de "No More" que não fazia parte da cultura musical do Havaí, mas sim da doce Itália. Elvis, é bom lembrar, era admirador da música italiana, tanto que de tempos em tempos fazia suas próprias versões da musicalidade tão forte da rica cultura daquele país. E ele se saiu muito bem, em apenas 9 takes a faixa estava pronta, mostrando que Elvis a conhecia muito bem. Estava na ponta da língua, afiada para gravar rapidamente. Elvis em mais um momento Mario Lanza de sua discografia.
E para encerrar os trabalhos naquele dia 21 de março Elvis fechou a noite gravando a versão definitiva de "Slicin' Sand". O take escolhido pelo produtor Joseph Lilley para ser a versão oficial do disco foi o de número 4. Boa escolha. É uma boa faixa do LP, mas não vá chamar isso de rock. Não é! É uma pop music que tem seus pontos positivos, embora no geral fique na média do resto da trilha sonora. Destaque para o bom solo de guitarra de Hank Garland.
Pablo Aluísio.
domingo, 11 de abril de 2010
Elvis Presley - Blue Hawaii - Parte 3
"Ito Eats" é a música mais fraca da trilha sonora. Nada é tão ruim como essa faixa. Eu poderia inclusive dizer, sem medo de ser injusto, de que essa canção é uma verdadeira porcaria. E no filme fica ainda pior quando mostra o tal do Ito, um sujeito gordinho que come sem parar. Penso que essa deveria ter sido descartada da trilha. Deixassem apenas no filme, como um número curto. Também não ficaria nada mal se o diretor tivesse jogado fora essa sequência que até tenta ser divertida, mas é sem graça demais.
"Hawaiian Wedding Song" é a música havaiano de casamento. A própria Priscilla Presley confidenciou que Elvis cantou um trechinho dessa música quando a levou para o quarto, na Lua de Mel do casal em Las Vegas. Uma palhinha apenas. A versão de estúdio ficou muito boa. A cena final do filme é com ela, com Elvis todo vestido de branco. Uma bela cena do filme, ficou bem bonita, sem dúvida. Em termos de palco Elvis chegou a cantá-la algumas vezes ao vivo nos anos 70. Uma versão Live inclusive chegou a ser lançada pela RCA em sua discografia oficial, no álbum póstumo "Elvis in Concert".
"Island of Love" também é uma bonita música, mas bem mais fraca que a anterior. Tem um parte puramente instrumental que ficou bem legal. Ainda assim é bem esquecível também. No vinil original de 1961 ela foi colocada como penúltima música, lá no finalzinho do Lado B. Os ouvintes meio que deram de ombros, não se importando muito com essa "Ilha do Amor". No final das contas fica na média das demais baladas. É agradável de ouvir, apenas isso.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Blue Hawaii - Parte 4
Por outro lado "Almost Always True ' é uma das boas canções da trilha. No disco original em vinil era segunda música do lado A, logo depois da música título do filme. Uma boa faixa, com ótima participação do saxofonista Homer "Boots" Randolph que costumava melhorar muito as músicas de Elvis nos anos 60 com seus solos instrumentais. Não chega a ser um rock, mas sim uma música pop das mais agradáveis de se ouvir. E não tem aquele monte de Steel Guitar e nem de Ukulele que aparecem nos arranjos das outras músicas desse álbum.
Podem dizer o que quiserem, mas eu pessoalmente gosto muito de "Moonlight Swim". O que mais curto nessa canção é seu arranjo, principalmente vocal, que nos remete a músicas bem mais antigas, inclusive da década de 1920. Aliás esse tipo de acompanhamento vocal feminino deveria ter sido mais presente nos discos de Elvis dos anos 60. Aqui destaco o excelente trabalho das cantoras. Ficou muito bom!
"Aloha Oe" é até bonita, contando inclusive com uma introdução remetendo aos antigos cantos tradicionais havaianos. Entretanto depois de ouvir tantas músicas com guitarras havaianas tudo fica meio cansativo. Melhor é esperar a longa introdução terminar para ouvir a bela voz de Elvis quase cantando em estilo tradicional. É uma faixa pequenina. Funciona melhor em cena. No disco, ouvindo, não acrescenta muito.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Blue Hawaii - Parte 5
O curioso é que as fãs da época pensavam que a faixa (que havia chegado a elas em single antes do lançamento do filme nos cinemas) iria embalar alguma cena bem romântica no filme, mas isso não aconteceu. Elvis a canta para uma senhora. Pois bem, como a música virou um hino praticamente, Elvis a resgatou em 1969 para ser usada em seus shows em Las Vegas. Nunca mais deixou de cantá-la, sendo usada como a música de despedida de praticamente todos os concertos que realizaria até o final de sua vida.
"Beach Boy Blues" já não era tão especial. Na realidade até considero uma faixa que tinha muito potencial, mas que de certa forma foi estragada por aquelas produções plastificadas de Hollywood. É incrível como os estúdios de cinema muitas vezes estragavam os ritmos musicais mais tradicionais. Ao invés de gravar um blues de grande qualidade, os escritores apareciam com meras imitações para o gosto do público médio dos Estados Unidos. Esse é um caso bem representativo disso. A cena do filme, com Elvis em cana, também não acrescenta muito. Acho a canção fraca.
E fraca também pode ser considerada a última canção que Elvis gravou para esse disco. Estou me referindo a "Rock-a-hula Baby". Ei, misturar Havaí, ou sua sonoridade, com o Rock bravio, dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, realmente não parecia uma boa ideia. E não era mesmo! Foi escolhida para ser o lado B do single ""Can't Help Falling in Love". Por essa razão até ficou bem conhecida na época, afinal o compacto vendeu milhares de cópias. Só que tudo isso foi de certa forma em vão. A música era bem fraca mesmo e não resistia a ouvidos mais atentos. Depois de algumas audições logo se tornava bem enjoativa.
Pablo Aluísio.
sábado, 10 de abril de 2010
Elvis Presley - Something For Everybody - Parte 1
A música "I'm Coming Home" foi a primeira a ser gravada para esse LP e também era a canção que abria o Lado B do disco. Grande faixa, grande gravação, sem dúvida uma das melhores do álbum. Mais uma vez tinha uma certa referência com a volta de Elvis aos Estados Unidos após cumprir o serviço militar, mesmo que tudo isso fosse pensado apenas de forma indireta.
"Gently", a segunda música gravada nessa sessão, é um dos maiores exemplos do estilo de cantar mais suave que Elvis vinha desenvolvendo por essa época. Com melhores recursos de tecnologia dos estúdios de gravação da época, Elvis conseguia imprimir um novo estilo de interpretação, bem suave, quase como se estivesse sussurrando de verdade. E o arranjo mais acústico era bem de acordo com a letra e a performance do próprio cantor.
"In Your Arms" é outro pop digno de aplausos. Excelente música. Por volta de 1961, o ano em que esse disco foi gravado, a música americana havia mudado. Os pioneiros do rock já estavam fora de cena e uma nova geração de cantores jovens havia surgido. E não havia nada de rock naquelas músicas que estavam tocando nas rádios. Era algo mais pueril, com versos sobre amores adolescentes. Com discos como esse Elvis também seguia a tendência.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Something For Everybody - Parte 2
É importante salientar que nessas mesmas sessões de gravação Elvis gravou a música "I Feel So Bad", mas a RCA decidiu que não iria encaixar essa faixa no álbum e sim lançá-la depois como single. Logo após esse blues excelente, cheio de energia e vibração, Elvis iria gravar a romântica "It's a Sin" em uma das mais belas vocalizações de sua carreira, naquele período, primeira metade dos anos 60. Ficou maravilhosa sua performance nos microfones nessa música. Definir tudo em apenas uma palavra? Magistral.
"I Want You with Me" chegou a ser escolhida para fazer parte da trilha sonora do filme "Coração Rebelde", mas na realidade foi gravada aqui nessas sessões de "Something For Everybody". Perceba como seus arranjos iniciais revelam bem esse lado mais voltado para a velha Hollywood. Depois a gravadora desistiu dessa opção e a canção acabou virando apenas uma das faixas do disco. Destaque para o solista dos Jordanaires que teve oportunidade de cantar em destaque com sua voz bem característica. O grupo de apoio, a banda, também estava em dia inspirado.
E se você me perguntar qual é a melhor música desse disco eu não teria problemas em dizer que esse título pertence a"There's Always Me". Que música, senhoras e senhores. Linda demais! Tão bela que os produtores da sessão logo entenderam isso, a colocando para abrir o álbum, no Lado A do vinil original. Esse é um daqueles registros que mostram como Elvis Presley foi um cantor talentoso, em todos os aspectos. O grupo vocal também se destaca, fazendo um fundo de coros que deu tanto trabalho que foi gravado à parte, para só depois ser adicionado à perfomance de Elvis. Obra-prima da discografia do Rei.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Something For Everybody - Parte 3
Depois dela vale citar outra bela canção romântica chamada "Sentimental Me". Outro cover de Elvis para uma canção antiga, também da década de 1940. A música estourou na versão do grupo The Ames Brothers. Na Europa ela ganhou uma interpretação linda e muito inspirada de Jackie Brown and his Quartet. As duas entraram nas paradas logo no começo de 1950. A versão de Elvis segue a tendência desse disco, ou seja, voz suave e terna, adicionando muito romantismo à sua interpretação. Sua versão mais recente é a de 2005 quando o cantor country David Slater a regravou para seu album "Nice And Easy".
"Put Blame On Me" tem o mesmo título de uma música antiga cantada no cinema pela diva Rita Hayworth. Porém se trata de uma outra composição. Gravação original que anos depois, em 1965, seria utilizada como parte da trilha sonora do filme "Tickle-me" (O Cavaleiro Romântico" no Brasil). Este filme dirigido por Norman Taurog, sem sombra de dúvida é um dos piores que Elvis realizou em seus anos de Hollywood, uma vez que não se teve nem ao menos a preocupação de se gravar um trilha sonora própria para a produção. Lamentável. Todas as músicas de sua trilha já tinham sido lançadas antes em outros álbuns do cantor.
Eu sempre gostei muito de "Judy". Um belo momento deste trabalho musical é representado por esta ótima balada de nome tão singelo: "Judy". Este era um truque dos primeiros compositores de Rock'n'Roll: utilizar nomes de pessoas ou cidades para sensibilizar os moradores destes mesmos lugares ou que tivessem o nome destas canções para que elas comprassem o disco! "Judy" foi ainda lado B de um single lançado em 1967, (seis anos depois!?) com "There's Always Me" no lado principal. Single fora de época que não fez qualquer sucesso nas paradas.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Elvis Presley - Flaming Star - Parte 1
Acontece que a trilha sonora de "Estrela de Fogo" só contava com apenas 5 músicas, sendo que uma delas nada mais era uma versão diferente, com outra letra, pouco modificada da música tema. Assim, se formos pensar bem, só havia mesmo 4 canções gravadas em estúdio para esse filme. Não havia material nem mesmo para completar um dos lados do LP, caso ele fosse programado realmente.
Depois de "G.I. Blues" Elvis colocou na cabeça que queria ser um grande ator de cinema, ao estilo Marlon Brando e James Dean, seus grandes ídolos. E músicas não faziam parte desse menu. Elvis só esqueceu que seu grande talento pessoal era para a música e não para a arte de atuar, algo que exigia dele outros talentos, completamente diferentes de ter uma bela voz e saber cantar bem.
Como o tempo iria provar ele estava errado nesse tipo de pensamento. "Estrela de Fogo" certamente foi um dos bons filmes de sua carreira, mas não fez muito sucesso. Nada comparado com o hit de "Saudades de um Pracinha", esse sim um projeto que valorizava seu lado superstar, de cantor de sucesso. De qualquer maneira uma coisa era certa, essa trilha sonora de "Flaming Star" era apenas uma trilha sonora incidental, praticamente. O que foi uma tremenda decepção para quem queria comprar os discos de Elvis naquela época.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Flaming Star - Parte 2
Uma enorme bagunça. Assim poderia definir tudo o que fizeram com a trilha sonora do filme “Flaming Star”. Para inicio de conversa mais da metade das canções do filme não foi lançada na época. Apenas “Flaming Star” e “Summer Kisses, Winter Tears” saíram regularmente em um compacto duplo chamado “Elvis by Request”, o resto das músicas foram esquecidas, arquivadas e ficaram inéditas por anos a fio. E afinal qual teria sido a melhor decisão? Ora, não é preciso ir muito longe para perceber que a RCA deveria ter lançado um EP (compacto duplo) com as cinco canções – algo que faria depois em trilhas sonoras com “Kid Galahad” e “Follow That Dream”. Isso seria em um mundo perfeito mas nada disso aconteceu.
Elvis gravou as canções do filme (ele não queria pois em seu entender precisava apenas atuar bem no filme) e a RCA praticamente nada fez com elas no mercado. Provavelmente “Flaming Star” tenha sido a trilha sonora de Elvis Presley mais negligenciada de sua carreira. As músicas que chegaram ao mercado não fizeram sucesso e as que foram arquivadas ficaram no limbo por anos, esquecidas completamente.
Fazendo uma rápida retrospectiva: “Britches” só chegou ao mercado fonográfico muitos anos depois no álbum “A Legendary Performer, Volume 3”. “A Cane and a High Starched Collar”não teve melhor sorte. Apesar de aparecer no filme e ter um bom embalo também nunca foi lançada na época, só sendo colocada timidamente no disco “A Legendary Performer, Volume 2”. Por fim a estranha e desnecessária "Black Star" arranjou um espaço no LP “Collectors Gold”. Pra falar a verdade a trilha sonora só foi reunida de fato pela RCA na série Double Features, que nos anos 90 conseguiu trazer alguma organização para a extremamente bagunçada discografia de Elvis nos anos 60.
Nessa edição além da trilha completa de “Flaming Star”, o fã de Elvis ainda teria acesso às trilhas de “Wild In The Country” e “Follow That Dream”. Gosto muito dos CDs Double Features, pois além do bom gosto (com excelentes encartes e direção de arte bonita), o fã ainda tinha acesso a todas as informações como datas de gravação, autores, etc. Já para quem esteja a fim de realmente radicalizar em termos de “Flaming Star” eu recomendo o bootleg “Master and session - Flaming Star” que traz as canções oficiais e muito mais como takes e versões alternativas. Demorou décadas mas “Flaming Star” finalmente chegou ao fã de Elvis como era esperado.
Pablo Aluísio.