sexta-feira, 12 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos IV

Elvis Presley - O Primeiro Disco no Brasil - Foi em 1956 que pela primeira vez um disco de Elvis Presley foi lançado no Brasil. Era um 78 RPM, com “Heartbreak Hotel / I Was The One” (praticamente idêntico ao Americano). Elvis se tornou conhecido no Brasil porque as reações à sua música e dança nos EUA chamaram a atenção da imprensa brasileira. A RCA Brasil não tardou a colocar seu compacto simples no mercado. Não se sabia ainda ao certo como o público de nosso país iria reagir ao cantor. Aqui predominava os grandes cantores de bolero e samba canção como Orlando Silva e Nelson Gonçalves. A música brasileira era muito forte e era complicado trazer um cantor americano de rock para as paradas.

As pessoas de maneira em geral desconheciam o novo ritmo que já dominava nos EUA. As vendas de Heartbreak Hotel em nosso país não foram excepcionais mas foram boas e a RCA resolveu lançar mais compactos. No total foram seis em 1956. “Hound Dog / Don´t Be Cruel” não poderia faltar em vista do enorme sucesso do single americano. Já o compacto com “Love Me Tender” veio com os lados trocados, “Love Me Tender” surgiu em nosso mercado como Lado B de “Anyway You Want Me” numa clara demonstração que os responsáveis pelos lançamentos de Elvis no Brasil desconheciam completamente o artista em questão. Só numa segunda prensagem corrigiram o erro. Como a RCA americana havia lançado vários singles com músicas do primeiro álbum de Elvis a filial brasileira seguiu seus passos colocando no mercado “Blue Moon / Just Because”, “Tutti Frutti / I Got a Woman” e “Blue Suede Shoes / Trying To Get To You”. Não é de se estranhar que Tutti Frutti tenha se tornado tão popular por aqui. Idem “Blue Suede Shoes”.

Foi em 1956 também que chegou em nossas lojas o primeiro álbum de Elvis no Brasil. Intitulado simplesmente “Elvis Presley” esse disco acabou se tornando conhecido por seu número de catálogo (BKL 60). É um disco muito confuso com seleção musical caótica misturando faixas da Sun Records com canções do primeiro álbum americano de Elvis e músicas mais recentes como “Don´t Be Cruel”. Para piorar colocaram como capa a mesma que havia sido utilizada em um compacto duplo americano. O Brasil era muito atrasado em termos de informações e marketing naquela época e tudo foi feito meio que ao acaso, sem muito conhecimento de causa ao estilo “vamos ver se dá certo”. A verdade pura e simples é que os empregados da RCA no Brasil não sabiam direito quem era Elvis ou o que ele representava. Com o direito de lançar seus discos no Brasil eles apenas pincelaram faixas ao acaso e compilaram o álbum sem muito critério ou organização.

As coisas só melhorariam depois no segundo álbum quando sabiamente resolveram seguir o LP oficial norte-americano. Além da desorganização o fã brasileiro de Elvis da década de 50 ainda teve que aturar atrasos absurdos nos lançamentos. “Elvis” o segundo álbum, por exemplo, só chegou em nossas lojas um ano depois, em 1957. As novidades vindas dos EUA chegavam aqui com muito atraso, de meses de diferença. Curiosamente nas cidades portuárias onde havia maior fluxo de americanos os discos importados chegavam aqui bem antes. No Rio de Janeiro muitos jovens adquiriam seus discos de Elvis diretamente de marinheiros e comerciantes americanos. 

Em Salvador o consulado americano também era uma opção para se ter acesso a material importado, de boa qualidade e inédito no Brasil. Foi assim que um jovem chamado Raul Seixas tomou conhecimento da música de Elvis Presley muito antes dos brasileiros em geral. Discos originais americanos eram raridades em nosso país, além de serem caríssimos. Mesmo assim para os admiradores valia certamente o sacrifício. Voltaremos a falar na discografia brasileira de Elvis Presley nas próximas semanas. Esse foi apenas o começo. Muita água iria rolar ainda por baixo dessa ponte.

Elvis Presley - Elvis no Brasil - A data em que Elvis Presley morreu está chegando e é curioso que geralmente nesses momentos as pessoas param um pouco para relembrar os grandes nomes do passado. Assim também ocorre com Elvis. Morto em 1977 o nome do cantor ainda hoje se faz presente pois dificilmente se encontrará alguém que não saiba quem foi ele. Até mesmo no Brasil seu nome segue como referencial, principalmente quando algum outro ídolo da música morre no auge da popularidade (como aconteceu com Michael Jackson e Amy Winehouse). Para não cair no clichê resolvi escrever um texto mais abrangente sobre a influência e a extensão da popularidade que o nome de Elvis alcançou em nosso país.

É fato que a cultura brasileira, principalmente a musical, sempre foi muito forte e presente na vida de todos. Via de regra o brasileiro realmente aprecia mais sua própria musicalidade, os seus próprios ídolos nacionais. Não é muito comum para o nosso povo eleger ídolos internacionais como seus preferidos. Se é assim hoje em dia imagine há mais de 50 anos quando provavelmente o nome de Elvis Presley foi pela primeira vez ouvido por algum brasileiro. Tente imaginar o Brasil em plena década de 1950. A moralidade, os costumes, tudo era muito diferente do que vemos hoje em dia. As mulheres eram de certa forma reprimidas em sua vida social, profissional e principalmente afetiva. Namorar apenas no portão de casa, passear só levando o irmãozinho (ou a irmãzinha) mais novos juntos. Sexo antes do casamento, nem pensar. Moças de família que tivessem vida sexual pré matrimônio logo caiam na boca do povo, ficavam "mal faladas". A revolução sexual ainda não havia acontecido, a pílula anticoncepcional ainda era peça de filme de ficção e o medo da gravidez precoce era muito presente. Pode ter certeza que tornar o nome de Elvis Presley tão popular assim dentro desse contexto histórico não foi nada fácil.

Elvis chegou no Brasil no comecinho de 1956. As lojas receberam um compacto simples com duas músicas do jovem cantor americano. Não havia capa - era apenas o acetato em uma embalagem simples da RCA Victor. O single era pesado, de 78 RPM e vinha sem muito promoção. No lado A "Heartbrek Hotel" e no B "I Was The One". Curiosamente a filial brasileira só decidiu lançar o disquinho após Elvis ser comentado na revista O Cruzeiro. Lá ele era apresentado aos brasileiros da época como um cantor revolucionário, cabelo grande e pasmem "Rebolativo"! Imaginem o rebuliço que isso causou! Embora Elvis ainda fosse uma novidade seu alter ego, James Dean, já era bem conhecido por aqui. A moçada já estava adotando seu visual "transviado", então quando Presley estourou em polêmica logo foi adotado pela geração "topete e brilhantina". E Elvis era bem isso mesmo, um "James Dean de guitarras" ou um "Marlon Brando que sabia cantar"!

Com toda essa onda em torno de seu nome o disquinho acabou vendendo bem. "Heartbreak Hotel" virou modinha nas rodinhas cults da juventude carioca. Ouvir Elvis, aquele rebelde americano, era sinal de que o jovem estava por dentro do que acontecia nos meios musicais. Com a popularidade logo Elvis também virou ídolo das garotas. Não era para menos. Bem apessoado, sensual e com imagem "perigosa" (para os padrões morais daqueles anos) Elvis logo virou poster nos quartos das beldades. Aliás é interessante notar que a popularidade de Elvis estourou primeiro no Brasil no Rio de Janeiro. Elvis, o roqueiro, logo virou ídolo da moçada carioca. Em São Paulo também houve interesse no cantor na época de seu surgimento, mas não no nível do que aconteceu no Rio. Lá ele fez muito sucesso e foi adotado pelos jovens cariocas de braços abertos.

De fato fora do Rio a explosão da popularidade de Elvis se deu por causa do cinema. Embora Elvis tenha se tornado popular nos EUA graças às suas aparições na TV, tais apresentações não chegaram ao Brasil. Foi o cinema e sua máquina publicitária que colocou o nome Elvis Presley na boca do povo brasileiro. Primeiro com o western B, "Love Me Tender" e depois com seus três filmes posteriores da década de 1950 que logo o transformaram em ícone popular. Os compactos foram sendo lançados um atrás do outro, as capas tentavam de maneira geral seguir a direção de arte dos lançamentos americanos, tornando Elvis um produto comercial quente no Brasil. A exceção ocorreu porém no primeiro álbum lançado por aqui. O disco chamado simplesmente "Elvis Presley" nada tinha a ver com o primeiro LP de Elvis nos EUA. Ao invés de copiarem a famosa capa com letras em rosa e vermelho do disco original preferiram colocar como capa uma imagem que havia sido em um EP nos EUA. Embora confusa a coisa deu certo e o hoje conhecido BKL 60 vendeu um bocado bem. Felizmente no segundo disco do cantor, chamado simplesmente "Elvis" a RCA brazuca resolveu seguir os passos da discografia americana.

Hoje em dia há uma certa visão entre especialistas e fãs de que os filmes de Elvis representaram um erro em sua carreira. Em termos artísticos pode até ter sido um erro mas do ponto de vista de popularização do nome de Elvis não há o que discutir. Se olharmos para a realidade brasileira teremos então uma perspectiva bem mais ampla desse aspecto. O cinema foi extremamente importante na carreira de Elvis aqui no Brasil. Embora os filmes nem sempre tenham sido bons o fato é que estrelando um filme atrás do outro nos anos 60 o cantor conseguiu se manter na ordem do dia e se tornar popular até mesmo em pequenas cidades do interior brasileiro, onde se não fosse por seus filmes ele não teria sido tão conhecido.

Depois do impacto inicial e da popularização pelo cinema o nome de Elvis Presley se firmou em nosso país. Fãs clubes foram formados e o artista ganhou grupos de fãs fiéis, que sempre acompanharam seu trabalho ao longo dos anos. A regularidade acabou se refletindo em sua discografia nacional. Embora nem todos os discos de Elvis tenham sido lançados oficialmente no Brasil, muitos deles chegaram por aqui assim que eram lançados no mercado americano. Nos anos 70 a filial da RCA em nosso país manteve vários discos de Elvis em catálogo por anos a fio. Com sua morte o interesse ficou ainda maior e a gravadora relançou quase todos os seus discos em 1982, fato único no Brasil. Hoje, 34 anos após sua morte a música de Presley chega aos mais distantes rincões pela maravilhosa ferramenta chamada Internet. Sem necessidade de ter um meio físico para existir a obra do cantor não mais encontrou barreiras para se difundir. Jovens ainda nos dias atuais se encantam com o incrível talento de Elvis e assim logo se tornam fãs. É um ciclo natural que não terá mais fim. Sobreviverá a minha pessoa, a você que lê esse texto e a de muitas gerações que já se foram ou que ainda virão. A arte tem essa grandeza. Ela não encontra barreiras ou fronteiras, se espalha por todos os lugares. Assim será eternamente com Elvis Presley, esse grande talento musical que nos deixou há décadas, mas que fincou raízes na cultura humana com a beleza de sua arte, de sua música.

Elvis Presley - 2 Original Albuns - A Sony fez o lançamento dos dois primeiros álbuns de Elvis Presley em um mesmo box. foi na verdade um teste de mercado da empresa pois se as vendas fossem boas a gravadora pretendia seguir em frente nesse formato, colocando dois álbuns originais para serem vendidos juntos. Como era de se esperar nesse primeiro pacote que chegou nas lojas tivemos Elvis Presley (1956) e Elvis (1956), dois clássicos absolutos da era de ouro da primeira geração do rock americano. Além das faixas que fizeram parte dos discos originais em vinil, a Sony achou por bem "rechear" o CD duplo com canções que foram gravadas na mesma época, embora não fizessem parte dos álbuns que chegaram originalmente nas lojas nos anos 50. 

Assim faixas como "I Don't Care If The Sun Don't Shine" e "That's All Right" foram adicionados na seleção do primeiro disco e "Don't Be Cruel" e "Love Me Tender" na do segundo. Pessoalmente não gostei desse tipo de mistura, porém o objetivo desse tipo de lançamento fica bem óbvio. A Sony visa com esse tipo de lançamento não o fã mais veterano de Elvis, mas sim os mais jovens, que estão descobrindo sua música agora. É uma tentativa de renovar as gerações dos ouvintes da obra do cantor. Sob esse aspecto até que a intenção está valendo. Já para o que vem acompanhando Elvis há anos não há maior interesse nesse lançamento já que a seleção de músicas só trouxe as gravações master, oficiais, que todos conhecemos.

Elvis Presley - 2 Original Albuns (2017):

Elvis Presley (1956):
Blue Suede Shoes - I'm Counting On You - I Got A Woman - One-Sided Love Affair - I Love You Because - Just Because - Tutti Frutti - Trying To Get To You - I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You) - I'll Never Let You Go (Little Darlin') - Blue Moon - Money Honey - That's All Right - I'm Counting On You - I Got A Woman - Heartbreak Hotel - I Love You Because - Shake, Rattle And Roll - Lawdy, Miss Clawdy - When It Rains, It Really Pours - I Don't Care If The Sun Don't Shine - My Baby Left Me - Blue Moon - Good Rockin' Tonight

Elvis (1956):
Rip It Up - Love Me - When My Blue Moon Turns To Gold Again - Long Tall Sally - First In Line - Paralyzed - So Glad You're Mine - Old Shep - Ready Teddy - Anyplace Is Paradise - How's The World Treating You - How Do You Think I Feel - Rip It Up - Love Me Tender - Don't Be Cruel - Hound Dog - I Was The One - Too Much - I Want You, I Need You, I Love You - Old Shep - Mystery Train - Any Way You Want Me (That's How I Will Be) - Playing For Keeps - I Forgot To Remember To Forget

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos III

Elvis Presley - Blue Suede Shoes / Tutti Frutti
Claro que esse single traz dois dos maiores clássicos do rock em seu surgimento. Só que temos que colocar tudo sob uma perspectiva dentro da discografia americana. Nos Estados Unidos esse compacto não teve todo o impacto que alcançou nos demais países do mundo. Na América do Norte ele foi visto apenas como um single promocional do álbum "Elvis Presley" de 1956. As duas músicas assim foram encaradas como meras reprises do material que já tinha sido lançado no disco original, no LP. 

A RCA Victor nem se esforçou muito em promover o pequeno compacto. Por essa razão o compacto nem se destacou tanto assim nas paradas de vendas norte-americanas. Foi um vinil considerado secundário no mercado, apenas para promover o disco completo. Já no resto do mundo foi aquele estouro de vendas. Duas das canções de rock mais fortes do repertório de Elvis fizeram com que o single vendesse milhões de cópias na Europa e no Japão! Até mesmo no Brasil o disquinho foi lançado ainda em uma versão de compacto 78 rotações, porque a indústria brasileira ainda estava um pouco fora de rota do que se fazia lá fora, ainda era tecnologicamente atrasada. Inclusive em nosso país o grande hit foi o lado B com "Tutti Frutti". Chegou a tocar muito nas rádios fluminenses e de São Paulo. Era o puro rock que os brasileiros começavam a conhecer. Os jovens adoraram e os mais velhos acharam uma barulheira! 

De qualquer forma esse single é sem dúvida um marco na discografia de Elvis. A RCA por sua vez lançou basicamente duas versões, uma apenas com uma capa genérica da RCA, branca, cortada no meio para destacar o selo do single, sem firulas e com preço promocional e outra mais bem trabalhada, trazendo a mesma direção de arte da capa do primeiro LP de Elvis na gravaora. Essa era um pouco mais cara nas lojas de discos. Item de colecionador, sem sombra de dúvidas. 

Elvis Presley - Blue Suede Shoes / Tutti Frutti (1956)
Lado A: Blue Suede Shoes
Lado B: Tutti Frutti
Produção: Steve Sholes
Selo: RCA Victor

Elvis Presley - I Got a Woman / I'm Counting On You
Mais um single extraído do álbum "Elvis Presley" de 1956. A RCA Victor não estava deixando barato, tentando fazer com que as músicas desse disco rendessem o máximo possível. Queriam recuperar o dinheiro investido na contratação de Elvis na Sun Records da maneira mais rápida possível. Não era para tanto, gato apressado come peixe cru. Elvis iria se tornar o artista mais lucrativo da história da gravadora nos anos seguintes. Era apenas uma questão de esperar e trabalhar bem seu potencial dentro do estúdio. Pois bem, esse single trazia como Lado A o clássico de Ray Charles, "I Got a Woman", uma música com ritmo gospel e letra das mais profanas. Uma curtição dele com os fundamentalistas religiosos. Elvis ignorou isso e a gravou, apenas porque gostava muito da canção. 

E há um aspecto nisso que não podemos ignorar. Ray Charles não gostava de Elvis. Chegou ao ponto de ofender ele em uma entrevista, dizendo sem meias palavras que Elvis era um vagabundo e que não queria ter nenhum contato com ele. Aquela velha coisa de ladrão da música negra, algo que iria atravessar Elvis e seu valor como artista por anos a fio. Ele sempre seria acusado disso. O velho estava com a alma envenenada em direção a Elvis. Fico até surpreso com o fato de Ray Charles ter dado autorização para que Elvis gravasse sua criação, afinal ele não tinha nenhuma simpatia com o jovem cantor de Memphis. Elvis, por sua vez, nunca respondeu as ofensas, preferindo o silêncio. Aliás nem mesmo se sabe se ele chegou a tomar conhecimento disso. Ao contrário, iria gravar outras músicas de Ray Charles nos anos seguintes e tornaria "I Got a Woman" uma música fixa em seu repertório de shows durante os anos 70. Eram águas passadas. 

Elvis Presley - I Got a Woman / I'm Counting On You (1956)
Lado A: I Got a Woman
Lado B: I'm Counting On You 
Produção: Steve Sholes
Selo: RCA Victor

Elvis Presley - I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry 
Não vá perder a conta. Aqui temos mais um single extraído do primeiro disco de Elvis na RCA Victor. Foi o disco com mais singles de toda a discografia do cantor. Olhando para o passado parecia até mesmo um certo desespero da gravadora. Ele havia sido comprado pela RCA do selo Sun Records de Memphis e parecia que os executivos de Nova Iorque não tinham muita fé que Elvis iria retornar o dinheiro pago por eles. Claro que estavam enganados e o tempo iria provar isso, mas em 1956 parece que a RCA estava um tanto quanto desesperada nesse sentido, de gerar lucro o mais rápido possível. 

Pois bem, temos aqui duas faixas que não tinham muito potencial de sucesso nas paradas. Era um single com dois "Lados B" se podemos dizer assim. Além de errarem na escolha das músicas para o compacto a RCA Victor ainda errou na escolha dos lados. "I'm Gonna Sit Right Down and Cry" deveria ter sido lançada no Lado A pois era esse que era mais divulgado pelos DJs das rádios. A baladinha "I'll Never Let You Go" era bem fraquinha nesse sentido e já estava até mesmo fora de sua época quando o compacto chegou nas lojas. De qualquer maneira uma cópia do single chegou nas mãos de um jovem adolescente de Liverpool chamado John Lennon. Quando sua bandinha de escola se profissionalizou e passou a se chamar The Beatles ele fez questão de gravar ao lado de seus companheiros uma excelente versão de "I'm Gonna Sit Right Down and Cry"  na BBC. A gravação ficou primorosa. Se ainda não conhece, não deixe de ouvir. 

Elvis Presley - I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry (1956)
Lado A: I'll Never Let You Go
Lado B: I'm Gonna Sit Right Down and Cry
Selo: RCA Victor
Produção: Steve Sholes

Elvis Presley - I Love You Because / Trying to Get You 
Esse foi mais um single do Elvis que a RCA lançou em 1956, trazendo em seu repertório duas reprises que já tinham sido lançadas no primeiro álbum do cantor na gravadora. Curiosamente a RCA escolheu duas faixas dos tempos da Sun Records para compor esse compacto. Quando a RCA comprou o passe de Elvis pela Sun Records o contrato determinava que toda gravação que Elvis havia feito para a Sun seria agora de propriedade comercial exclusiva da RCA Victor. E isso incluía músicas que tinham sido gravadas e lançadas no mercado e também canções que apenas tinham sido gravadas, mas que não tinham chegado nas mãos dos fãs de Elvis. Foi o caso dessas duas canções. 

Olhando para o passado vejo também erros. O Lado A do single deveria ter vindo com a música "Trying to Get You" que tinha muito mais potencial de fazer sucesso nas paradas, principalmente na parada de country music da Billboard. Só que a RCA errou e colocou a baladinha "I Love You Because" como faixa principal do single. Eu pessoalmente acho essa gravação bem singela, quase beirando o amadorismo, com um ainda muito jovem Elvis, com sua voz fininha e tímida, tentando acertar o tom certo da música que canta. Ele passa insegurança nessa performance, não tem jeito!

Elvis apreciava muito mais "Trying to Get You", tanto que a levou com muita consistência para seus shows nos anos 70. Praticamente podemos dizer que Elvis a cantou de forma sistemática até o final de seus dias, pois esse country fez parte inclusive de seu repertório de seus shows finais. Não podemos nos esquecer que Elvis queria agradar ao público que ia em seus shows e esse era formado, naquela época, basicamente por moradores de cidades interioranas do sul dos Estados Unidos, que obviamente amavam country. 

Só que esqueça aquelas versões grandiosas dos palcos dos anos 70. Essa aqui do single é a gravação original. É um bom registro, mas em termos de poderio vocal não tem como escapar de uma realidade. A voz poderosa de Elvis nos anos 70 trouxe muito mais força para essa música. Nos tempos da Sun Records Elvis ainda não tinha toda essa maturidade como cantor. 

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos II

Elvis Presley (1956) - Discografia Americana
Discografia Americana: Elvis Presley (1956)
A discografia oficial da carreira de Elvis é a americana. Cada país ao redor do mundo trouxe inovações no que diz respeito aos discos de Elvis Presley. Porém a principal foi a lançada pela RCA Victor nos Estados Unidos a partir de 1956. A indústria fonográfica estava no auge naquele ano. Com isso a gravadora do cantor não apenas lançavas os álbuns (LPs), mas também uma série de singles, compactos duplos e versões estendidas do disco, lançamentos conhecidos como EPs (Extended Play). Abaixo segue a relação mais completa desses itens que foram extraídos do primeiro álbum de Elvis pela RCA. .Perceba como as mesmas gravações poderiam chegar de diferentes formas nas mãos do colecionadores.

ELVIS PRESLEY (1956)
BLUE SUEDE SHOES
I'M COUNTING ON YOU
I GOT A WOMAN
ONE-SIDED LOVE AFFAIR
I LOVE YOU BECAUSE
JUST BECAUSE
TUTTI FRUTTI
TRYIN' TO GET TO YOU
I'M GONNA SIT RIGHT DOWN AND CRY (OVER YOU)
I'LL NEVER LET YOU GO (LITTLE DARLIN')
BLUE MOON
MONEY HONEY

Singles extraídos deste disco:
Blue Suede Shoes / Tutti Frutti
I Got a Woman / I'm Counting On You
I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry
I Love You Because / Trying to Get You
Just Because / Blue Moon
Money Honey / One-Sided Love Affair

Obs: Esses singles foram lançados periodicamente após o lançamento do álbum principal. Todos foram lançados em 1956. Não havia faixas inéditas entre eles, apenas as músicas do LP. Por isso não obtiveram, em regra, boas posições de vendas na parada Billboard.









Compactos Duplos extraídos deste disco:
Elvis Presley (Blue Suede Shoes / Tutti Frutti / I Got a Woman / Just Because)
Elvis Presley (Blue Suede Shoes / I Got a Woman / I'm Gonna Sit Right Down and Cry / I'll Never Let You Go / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / Tutti Frutti / Trying to Get You )

Ficha Técnica: Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Elvis Presley (1956) - FTD Elvis Presley Embora grande parte dos fãs de Elvis saibam o que significa FTD por uma questão didática vou aqui explicar em poucas linhas do que se trata. FTD é a sigla de "Follow That Dream" que é um novo selo que vem colocando no mercado muito material inédito de Elvis. Basicamente são três os tipos de CDs que são lançados todos os anos pela FTD. Shows ao vivo (muitos inéditos ou com sensível melhora sonora, focado principalmente nos muitos concertos que Elvis realizou na década de 70), Álbuns Clássicos (como esse que aqui comentarei onde são recuperados os discos tais como foram lançados na discografia oficial de Elvis acrescidos de muitos takes inéditos) e finalmente coletâneas (geralmente misturando takes inéditos de discos diversos de Elvis). A coleção FTD enfim é o que de melhor há em termos de novidade com o nome Elvis Presley no mercado.

Esse FTD Elvis Presley é o título do selo que revisita o primeiro álbum oficial da carreira de Elvis na discografia americana. Eu já sabia de antemão que seria muito complicado compilar material suficiente para o lançamento desse CD. O fato é que o primeiro álbum de Elvis na RCA Victor era composto de canções da Sun e da RCA, principalmente pelo material gravado pelo cantor em Nova Iorque e Nashville. Infelizmente grande parte dessas sessões estão perdidas. Não houve por parte dos produtores, nem de Sam Phillips e nem de Steve Sholes, um cuidado maior em arquivar os takes alternativos dessas gravações de forma adequada. A consequência desse descuido é que há realmente uma grande lacuna de registros desses trabalhos de Presley em estúdio. Não há como afirmar com certeza que não existam mais ou se foram simplesmente jogados fora depois de tantos anos. O que se sabe com certeza é que por enquanto estão desaparecidos. Deveria se esperar um pouco mais, pode ser que tais registros estejam nas mãos de algum colecionador americano ou europeu só esperando a hora adequada de lançar no mercado.

Para tentar compensar essa falta de material relevante o produtor Ernst Jorgensen cometeu vários erros aqui. O primeiro foi lançar um CD duplo onde não havia quantidade de músicas suficientes para isso. O CD 2 do título inclusive é de uma inutilidade absurda. Contendo takes de apenas 3 canções, que inclusive não fizeram parte do primeiro álbum de Elvis, o segundo disco soa fora do lugar adequado dentro da coleção! Qual é o propósito de algo assim? Provavelmente só encarecer o produto pois esses registros de "Shake Rattle and Roll", "I Want You, I Need You, I Love You" e "Lawdy Miss Clandy" são desnecessários e inoportunos. Um desperdício. O que salva o título realmente é o CD 1 com o álbum completo (com sensível melhora em sua qualidade sonora) e os takes alternativos de "Heartbreak Hotel", "Money Honey" e "I Was The One". No segundo CD só se destaca mesmo uma rara entrevista de Elvis dada ao jornalista Don Davis. Vale pela curiosidade histórica. Fora isso nada mais de muito importante. É pouco? Certamente sim. Incompleto? Com certeza! De qualquer forma é o que se pode arranjar em face do perdido material que deveria fazer parte do disco. Quem sabe se no futuro os demais takes não sejam descobertos em algum depósito da RCA pelo mundo afora. Enquanto esse dia não chega temos que nos contentar com esse FTD Elvis Presley, mesmo que incompleto.

FTD Elvis Presley (1956)
Original release and outtakes: Blue Suede Shoes / Im Counting On You / ot A Woman / One Sided Love Affair / I Love You Because / Just Because / Tutti Frutti / Trying To Get To You / I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You) / I'll Never Let You Go (Little Darlin') / Blue Moon / Money Honey / Bonus singles: Heartbreak Hotel / I Was The One / Lawdy Miss Clawdy / Shake Rattle And Roll / My Baby Left Me / I Want You, I Need You, I Love You / First RCA Sessions: I Got A Woman (N/A - incomplete) / I Got A Woman (N/A) / Heartbreak Hotel (4 - incomplete) / Heartbreak Hotel (5) / Heartbreak Hotel (6) / Money Honey (fragments*) / Money Honey (10 - incomplete) / I'm Counting On You (1 - incomplete*) / I'm Counting On You (N/A - incomplete) / I'm Counting On You (13) / I'm Counting On You (14 - incomplete*) / I Was The One (1) / I Was The One (2 - fs) / I Was The One (2) / I Was The One (3-fs*) / I Was The One (3 - incomplete*) / I Was The One (7A - not master) / I Was The One (N/A - incomplete*) CD-2: Dry reverb and outtakes The Dry Reverb Tape: I'm Counting On You (1) I'm Counting On You (2 - incomplete*) Session Outtakes: Lawdy Miss Clawdy / Shake, Rattle And Roll / I Want You, I Need You, I Love You / Don Davis Interviews Elvis Presley

Elvis Presley (1956) - Review
Esse foi o primeiro álbum do Elvis. Era um garotão contratado pela RCA Victor. Iria dar certo? Bem, era uma aposta da gravadora naquele momento. Claro que eu reconheço o grande valor histórico desse disco, mas curiosamente não é o meu preferido do cantor nos anos 50. Esse posto vai para o segundo LP dele, lançado nesse mesmo ano. Eu considero o segundo melhor do que esse primeiro. Não o comprei em vinil nos anos 80, como tantos outros discos do Elvis. Só vim adquiri-lo mesmo já no formato CD quando foi lançado aqui em versão nacional (bons tempos quando isso acontecia nos anos 90).

E quais são os destaques desse álbum? As minhas faixas preferidas fogem um pouco do óbvio. "Blue Suede Shoes" e "Tutti Frutti" foram os grande hits, mas vamos deixar elas um pouco de lado. Eu gosto muito de "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)" e "One-Sided Love Affair" em que Elvis explorou todos os seus dotes musicais. "I Got A Woman" é um clássico e "Money Honey" é uma grande faixa de rock. Porém a grande música foi herdada dos tempos da Sun Records. Se trata de "Blue Moon", uma gravação atemporal, ainda hoje muito relevante, mesmo em filmes e coletâneas mais modernas. Enfim é isso. O jovem Elvis ainda era um pouco cru, mas o talento estava lá, a ser lapidado. E logo ele deixaria de ser apenas um nome potencial para ser um grande nome da história da música internacional.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956)
Blue Suede Shoes
I'm Counting on You
I Got A Woman
One-Sided Love Affair
I Love You Because
Just Because
Tutti Frutti
Trying to Get to You
I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)
I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')
Blue Moon
Money Honey

Elvis Presley (1956) - O Primeiro Álbum
Hoje andei ouvindo novamente o primeiro álbum de Elvis Presley. Fazia tempo que tinha parado para ouvir com maior atenção. É curioso. Remoendo minhas velhas lembranças me recordo que comprei o segundo disco antes desse, o que me levou a ter uma impressão de que o primeiro álbum de Elvis era bem menos rico musicalmente do que o segundo. De certa maneira isso é uma verdade já que as sessões que deram origem a "Elvis" (1956) contaram com mais recursos, mais músicos, mais instrumentos, enfim, mais capricho. Além disso não podemos esquecer que o First Album contava com várias canções dos tempos da Sun Records e essa gravadora, como bem sabemos, era uma pequena empresa, quase fundo de quintal. Recursos tecnológicos e produção requintada realmente não eram bem com eles (pobre Sam Phillips!).

Pois bem. O disco abre com "Blue Suede Shoes" que é definitivamente um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. É interessante que li muitas e muitas vezes certos jornalistas dizendo que Carl Perkins, autor da música, era o predestinado para seguir o sucesso de Elvis. Um acidente o tirou de cena e abriu caminho para que Elvis se tornasse quem foi! Será mesmo? Olhando para trás, hoje mais maduro, não posso deixar de pensar que esse pensamento é de uma bobagem sem tamanho. Quem em sã consciência realmente criou tamanha abobrinha que perdurou por anos e anos a fio em revistas e livros? Santa bobagem, Batman. Mas enfim.... são clichês do jornalismo. Confesso aqui publicamente que nunca gostei muito de "I'm Counting on You" do Don Robertson. Ele era genial em músicas românticas, mas aqui Elvis não chegou a uma gravação irrepreensível. Ficou algo pelo meio do caminho. Talvez sua simplicidade seja um pouco demais da conta.

"I Got A Woman" é aquela música profana que Ray Charles criou em cima de uma linha de melodia gospel. Ele sabia o que fazia. Bem no meio do sul racista e evangélico ele ousou criar algo tão fora dos padrões como essa música. Se já era herege no piano de Charles imaginem o choque que causou na voz de Elvis Presley com toda aquele gingado considerado indecente pelos puritanos. Era certamente uma coisa do capeta encarnado. Depois dela vem "One-Sided Love Affair" do Bill Campbell. Certamente é o primeiro belo arranjo do álbum, uma harmonia maravilhosa entre o vocal inconfundível de Elvis, piano, bateria e demais instrumentos. Estão numa sincronia ímpar. Provavelmente seja a melhor gravação em termos técnicos de todo o álbum, só perdendo talvez nesse quesito para "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)", sim, aquela música que os Beatles tentaram copiar sem sucesso em seu programa de rádio na BBC. Se nem os Beatles conseguiram recriar essa sonoridade imaginem o nível que a música como um todo apresenta. Obra prima.

Já a dobradinha "I Love You Because" e "Just Because" nunca fez muito minha cabeça. A primeira é muito, digamos, melancólica (de um jeito ruim de ser). Falta também um melhor equilíbrio entre vocal e instrumentos de apoio. Elvis está muito à frente o que sempre me intrigou pois ele ao longo da carreira sempre fez questão que sua voz fosse encoberta pelo seu grupo musical (opinião aliás com a qual o Coronel Parker não concordava). A segunda é um skiffle. Até aí nada demais. O problema é que os ingleses acabaram com o tempo se tornando os mestres desse ritmo. Como Elvis não era inglês... Deixemos isso de lado. "Tutti Frutti" talvez seja uma das músicas de Elvis mais conhecidas no Brasil, mas nos Estados Unidos e no resto do mundo ela é mais associada a Little Richard que a compôs e a gravou originalmente. Certa vez Elvis se referiu ao rock como "chiclete". Provavelmente estava lembrando dessa gravação. Maledicências à parte, não há como negar, a gravação de Pelvis é um dos pontos altos do álbum. Só ele tinha essa capacidade de mastigar e engolir a letra de uma música como ouvimos aqui. A cultura adolescente surgiu assim, em gravações como essa, não se engane.

Por fim, não podemos deixar de mencionar a clássica "Blue Moon". Poucos sabem, mas esse take quase foi jogado na lata de lixo da Sun Records porque afinal de contas Elvis esqueceu a letra bem no meio da sessão. Sam Phillips porém viu mais a frente. Ele percebeu que havia uma grande linha melódica ali - e Steve Sholes, produtor de Elvis na RCA Victor também percebeu a mesma coisa. Resultado? Ela foi encaixada no disco. Tinha tudo para ser um take alternativo descartado, acabou virando um clássico absoluto! Nada mal. Então é isso. Nada como ouvir de novo um disco que mudou a história da música para sempre. Ainda acho que o álbum seja esquelético em suas propostas sonoras?! Tudo depende do ponto de vista usado, meu caro, realmente tudo depende...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis Presley (1956) - Textos I

Eu gosto muito desse disco. Afinal é um álbum histórico, o primeiro gravado por Elvis Presley em sua nova gravadora, a RCA Victor. Porém devo dizer que dessa fase inicial, em 1956, ainda prefiro muito mais o segundo álbum de Elvis na RCA, intitulado simplesmente de "Elvis". Ali já havia um melhor tratamento nas canções, com mais primor em termos de arranjo e gravação. Esse primeiro disco ainda tem aquela sensação de que algumas faixas (em especial as trazidas da Sun Records) ainda estavam muito cruas. São gravações quase amadoras, afinal quando estava na Sun, Elvis ainda era em certos termos um cantor iniciante, procurando por uma carreira musical. Mesmo assim negar a importância desse LP é impossível. Por isso vamos tecer alguns comentários sobre cada faixa do disco.

1. Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - O álbum abre com a canção "Blue Suede Shoes", um clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins. Até hoje se fala muito que Perkins poderia ter sido maior que Elvis, que ele teve azar de sofrer um acidente de carro muito sério e outras coisas. Olha, com todo o respeito ao Carl Perkins e seu talento, eu vejo esse tipo de observação como uma grande bobagem. Todo tipo de comparação é condenável. Cada um tem seus próprios defeitos e qualidades. Não penso que Perkins poderia ser maior do que Elvis, até porque depois de um tempo ele se recuperou e continuou na carreira, sem chegar nem perto do sucesso de Elvis Presley. Isso não o desmerece em nada, mas prova que dizer que ele poderia ter sido o grande nome do rock é especulação e uma tremenda bobeira

2. I´m Counting On You (Don Robertson) - "I'm Counting on You" havia sido composta por Don Robertson. Compositor de classe, excelente pianista, esse californiano iria cair nas graças de Elvis que por anos iria gravar inúmeras músicas criadas por ele. Basta lembrar das excelentes baladas românticas "Anything That's Part Of You", "I Met Her Today", "There's Always Me", "No More" e tantas outras lindas canções que trouxeram muita qualidade musical para diversos discos de Elvis ao longo dos anos. Coisa fina. É importante chamar a atenção que quando Elvis a gravou ainda não tinha à disposição uma banda maior, com mais instrumentistas, algo que iria enriquecer muito suas gravações no futuro. Em minha opinião a gravação de Elvis é de certo modo ofuscada um pouco por causa dessa falta de diversidade de arranjos. Provavelmente se Elvis a tivesse gravada em 1960 teríamos uma grande faixa, com orquestra ao fundo, mais qualidade em termos de grupo de apoio. De qualquer forma mesmo contando com uma pequena banda de apoio Elvis ainda conseguiu realizar um bom trabalho. Sua performance vocal era o grande diferencial, algo que conseguia se sobressair a todas as limitações técnicas da época.

3. I Got a Woman (Ray Charles) - Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor. Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

4. One-Sided Love Affair (Campbell) - Outra que vai na mesma linha é  "One-Sided Love Affair". Perceba que em seus primeiros discos Elvis desenvolveu uma técnica muito pessoal de cantar, que chegou a ser dita por alguns críticos dos anos 50 como um "mastigar de sílabas". Outro escreveu que Elvis cantava como se mastigava chicletes! Apesar da rabugice desses jornalistas, o fato é que a coisa toda até faz algum sentido. Elvis parecia um cantorzinho jovem brincando com o estilo de cantar daqueles tempos. Basta lembrar de Frank Sinatra e Dean Martin para uma comparação rápida. Elvis não  entoava sua voz com soberba, apenas cantava a letra da música de uma maneira mais relaxada, quase casual. Acabou criando uma nova linguagem musical nesse processo...

5. I Love You Because (Leon Payne) - Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

6. Just Because (BJ Snelton / S.Robin) - "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

7. Tutti Frutti (Joe Lubin / Richard Penniman / Dorothy LaBostrie) - Outro hino da geração rocker é "Tutti Frutti". Essa é do Little Richard. Elvis nunca levou essa canção muito à sério, verdade seja dita. Ele inclusive poderia se referir a esse rock como uma música chiclete como ele gostava de dizer. O que significava exatamente isso? Ora, significava que Elvis a via como uma canção de rock sem muita substância, feita apenas para agitar, embalar seus fãs durante seus shows e apresentações na TV. Tanto isso parece ser verdade que ele logo a deixou de lado, não a usando mais depois desse disco. De qualquer forma Little Richard não cansou de agradecer a Elvis por ter gravado sua música. Em um documentário sobre esse álbum ele afirmou com todas as letras que só tinha mesmo a agradecer ao Rei do Rock, pois se Elvis não tivesse gravado suas músicas ele provavelmente ainda seria cozinheiro de uma espelunca em Atlanta. A gratidão sempre é muito bem-vinda meu caro Richard. Falou pouco, mas falou bonito!

8. Trying To Get To You (Charles Singleton / Rose Marie McCoy) - Uma das faixas desse álbum, o country "Trying to Get to You", seria utilizada por Elvis nos palcos até o fim de sua vida. Isso provava o quanto ele gostava da música, até porque ela nunca foi exatamente um sucesso em sua discografia, havia muitas outras músicas bem mais populares. Porém Elvis tinha um apreço especial por ela, como bem demonstra as centenas de versões ao vivo que cantou. Essa música também foi uma das que a RCA Victor aproveitou do período em que Elvis gravava na Sun Records, um ano antes. O produtor Steve Sholes ouviu todo o material que Sam Phillips enviou para Nova Iorque e escolheu entre as gravações aquelas que poderiam ser aproveitadas no disco de estreia de Elvis na RCA. Foi uma boa escolha do produtor. A gravação é realmente muito bem realizada por Elvis e banda.

9. I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Joe Thomas/Howard Biggs) - Caso típico de se ouvir uma música pela primeira vez e adorar logo de cara! Foi esse o meu caso ao ouvir a canção " "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)". Passados tantos anos desde que comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez não mudei em nada a minha percepção dessa excelente faixa do álbum de estreia de Elvis Presley. Esse é seguramente um dos melhores momentos do álbum. Veja, todas as faixas desse disco se ressentem, em minha opinião, de um melhor trabalho em termos de arranjos.Porém no que diz respeito a essa música não teria nada a criticar. Ela é perfeita! Anos depois, nos tempos de seu programa semanal na BBC, os Beatles decidiram apresentar uma versão desse clássico rockabilly. Nem preciso dizer que a gravação dos ingleses ficou excepcional, resultando em uma gravação muito alto astral, alegre, para cima! Que conclusão diria sobre tudo isso? A música foi gravada por Beatles e Elvis Presley. Em ambos os discos o resultado ficou excepcional. Por tudo isso credito essa como uma das melhores da época de ouro do rock. E isso, meus caros leitores, definitivamente não é pouca coisa!

10. I'll Never Let You Go (Little Darlin') (Jimmy Wakely) - Outra canção que foi resgatada dos anos na Sun Records foi a balada "I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')" de autoria de Jimmy Wakely. Esse foi um cantor e compositor popular no sul dos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940. Vestido de cowboy ele ganhou fama se apresentando no palco do Grand Ole Opry. Seguindo os passos de artistas como Gene Autry ele foi abrindo seu caminho, chegando até mesmo a compor para trilhas sonoras de filmes B de faroeste. Como Elvis sempre foi louco por cinema não era surpresa ele ter escolhido músicas do repertório de Wakely para gravar. A intenção era ter uma boa seleção musical country para tocar nos pequenos festivais que contratavam Elvis nessa fase de sua vida. Afinal cantar em feiras de gado e eventos desse tipo exigia mesmo um repertório bem popular, country, de acordo com o gosto das pessoas que frequentavam esses festivais.

11. Blue Moon (Richards Rodgers / Lorenz Hart) - "Blue Moon" é maravilhosa. Quando Elvis a gravou, em 1954, na Sun Records, ela já era uma balada consagrada dentro do universo musical americano. Gravada inicialmente nos anos 1930, bem no auge da depressão que assolava a economia daquele país, tinha se tornado um símbolo sentimental em uma época muito dura na vida das pessoas. Fica óbvio que Elvis a conhecia desde a infância. O diferencial de sua versão foi a performance claramente emocional que imprimiu na gravação. Embora tivesse alguns pequenos problemas, como o fato de Elvis ter esquecido a letra bem no meio da gravação, ainda assim a RCA Victor resolveu resgatá-la para fazer parte do primeiro disco do cantor na nova gravadora. O produtor Steve Sholes viu ouro puro ali. Era uma bela obra prima musical.

12. Money Honey (Jesse Stone) - "Money Honey" teve sua gravação original feita em 1953 por Clyde McPhatter que estava tentando emplacar uma carreira solo longe de seu grupo The Drifters. Essa primeira versão não teve muito sucesso. Depois ela foi regravada por Billy Ward and the Dominoes, onde finalmente se tornou um hit nas paradas, chegando a vender a incrível marca de um milhão de cópias. A versão de Elvis ficou muito bem executada, com aceleração de seu ritmo original, até porque agora a música era puro rock ´n´ roll na voz de Presley. O curioso é que a versão de Elvis acabou inspirando outro roqueiro famoso da época, Eddie Cochran, que também registrou sua própria interpretação na música pelo selo London em 1959, justamente quando Elvis estava bem distante, servindo o exército americano na Alemanha.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956): Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Elvis Presley (1956) - Parte 1
O álbum abre com a canção "Blue Suede Shoes", um clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins. Até hoje se fala muito que Perkins poderia ter sido maior que Elvis, que ele teve azar de sofrer um acidente de carro muito sério e outras coisas. Olha, com todo o respeito ao Carl Perkins e seu talento, eu vejo esse tipo de observação como uma grande bobagem. Todo tipo de comparação é condenável.


Cada um tem seus próprios defeitos e qualidades. Não penso que Perkins poderia ser maior do que Elvis, até porque depois de um tempo ele se recuperou e continuou na carreira, sem chegar nem perto do sucesso de Elvis Presley. Isso não o desmerece em nada, mas prova que dizer que ele poderia ter sido o grande nome do rock é especulação e uma tremenda bobeira

Outro hino da geração rocker é "Tutti Frutti". Essa é do Little Richard. Elvis nunca levou essa canção muito à sério, verdade seja dita. Ele inclusive poderia se referir a esse rock como uma música chiclete como ele gostava de dizer. O que significava exatamente isso? Ora, significava que Elvis a via como uma canção de rock sem muita substância, feita apenas para agitar, embalar seus fãs durante seus shows e apresentações na TV. Tanto isso parece ser verdade que ele logo a deixou de lado, não a usando mais depois desse disco. 

De qualquer forma Little Richard não cansou de agradecer a Elvis por ter gravado sua música. Em um documentário sobre esse álbum ele afirmou com todas as letras que só tinha mesmo a agradecer ao Rei do Rock, pois se Elvis não tivesse gravado suas músicas ele provavelmente ainda seria cozinheiro de uma espelunca em Atlanta. A gratidão sempre é muito bem-vinda meu caro Richard. Falou pouco, mas falou bonito!

Elvis Presley (1956) - Parte 2
Caso típico de se ouvir uma música pela primeira vez e adorar logo de cara! Foi esse o meu caso ao ouvir a canção " "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)". Passados tantos anos desde que comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez não mudei em nada a minha percepção dessa excelente faixa do álbum de estreia de Elvis Presley.

Esse é seguramente um dos melhores momentos do álbum. Veja, todas as faixas desse disco se ressentem, em minha opinião, de um melhor trabalho em termos de arranjos.Porém no que diz respeito a essa música não teria nada a criticar. Ela é perfeita!

Anos depois, nos tempos de seu programa semanal na BBC, os Beatles decidiram apresentar uma versão desse clássico rockabilly. Nem preciso dizer que a gravação dos ingleses ficou excepcional, resultando em uma gravação muito alto astral, alegre, para cima! Que conclusão diria sobre tudo isso? A música foi gravada por Beatles e Elvis Presley. Em ambos os discos o resultado ficou excepcional. Por tudo isso credito essa como uma das melhores da época de ouro do rock. E isso, meus caros leitores, definitivamente não é pouca coisa!

Outra que vai na mesma linha é  "One-Sided Love Affair". Perceba que em seus primeiros discos Elvis desenvolveu uma técnica muito pessoal de cantar, que chegou a ser dita por alguns críticos dos anos 50 como um "mastigar de sílabas". Outro escreveu que Elvis cantava como se mastigava chicletes! Apesar da rabugice desses jornalistas, o fato é que a coisa toda até faz algum sentido. Elvis parecia um cantorzinho jovem brincando com o estilo de cantar daqueles tempos. Basta lembrar de Frank Sinatra e Dean Martin para uma comparação rápida. Elvis não  entoava sua voz com soberba, apenas cantava a letra da música de uma maneira mais relaxada, quase casual. Acabou criando uma nova linguagem musical nesse processo...

Elvis Presley (1956) - Parte 3
Uma das faixas desse álbum, o country "Trying to Get to You", seria utilizada por Elvis nos palcos até o fim de sua vida. Isso provava o quanto ele gostava da música, até porque ela nunca foi exatamente um sucesso em sua discografia, havia muitas outras músicas bem mais populares. Porém Elvis tinha um apreço especial por ela, como bem demonstra as centenas de versões ao vivo que cantou.

Essa música também foi uma das que a RCA Victor aproveitou do período em que Elvis gravava na Sun Records, um ano antes. O produtor Steve Sholes ouviu todo o material que Sam Phillips enviou para Nova Iorque e escolheu entre as gravações aquelas que poderiam ser aproveitadas no disco de estreia de Elvis na RCA. Foi uma boa escolha do produtor. A gravação é realmente muito bem realizada por Elvis e banda.

"Money Honey" teve sua gravação original feita em 1953 por Clyde McPhatter que estava tentando emplacar uma carreira solo longe de seu grupo The Drifters. Essa primeira versão não teve muito sucesso. Depois ela foi regravada por Billy Ward and the Dominoes, onde finalmente se tornou um hit nas paradas, chegando a vender a incrível marca de um milhão de cópias. A versão de Elvis ficou muito bem executada, com aceleração de seu ritmo original, até porque agora a música era puro rock ´n´ roll na voz de Presley. O curioso é que a versão de Elvis acabou inspirando outro roqueiro famoso da época, Eddie Cochran, que também registrou sua própria interpretação na música pelo selo London em 1959, justamente quando Elvis estava bem distante, servindo o exército americano na Alemanha.

Elvis Presley (1956) - Parte 4
"Blue Moon" é maravilhosa. Quando Elvis a gravou, em 1954, na Sun Records, ela já era uma balada consagrada dentro do universo musical americano. Gravada inicialmente nos anos 1930, bem no auge da depressão que assolava a economia daquele país, tinha se tornado um símbolo sentimental em uma época muito dura na vida das pessoas. Fica óbvio que Elvis a conhecia desde a infância. O diferencial de sua versão foi a performance claramente emocional que imprimiu na gravação. Embora tivesse alguns pequenos problemas, como o fato de Elvis ter esquecido a letra bem no meio da gravação, ainda assim a RCA Victor resolveu resgatá-la para fazer parte do primeiro disco do cantor na nova gravadora. O produtor Steve Sholes viu ouro puro ali. Era uma bela obra prima musical.

Outra canção que foi resgatada dos anos na Sun Records foi a balada "I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')" de autoria de Jimmy Wakely. Esse foi um cantor e compositor popular no sul dos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940. Vestido de cowboy ele ganhou fama se apresentando no palco do Grand Ole Opry. Seguindo os passos de artistas como Gene Autry ele foi abrindo seu caminho, chegando até mesmo a compor para trilhas sonoras de filmes B de faroeste. Como Elvis sempre foi louco por cinema não era surpresa ele ter escolhido músicas do repertório de Wakely para gravar. A intenção era ter uma boa seleção musical country para tocar nos pequenos festivais que contratavam Elvis nessa fase de sua vida. Afinal cantar em feiras de gado e eventos desse tipo exigia mesmo um repertório bem popular, country, de acordo com o gosto das pessoas que frequentavam esses festivais.

"I'm Counting on You" havia sido composta por Don Robertson. Compositor de classe, excelente pianista, esse californiano iria cair nas graças de Elvis que por anos iria gravar inúmeras músicas criadas por ele. Basta lembrar das excelentes baladas românticas "Anything That's Part Of You", "I Met Her Today", "There's Always Me", "No More" e tantas outras lindas canções que trouxeram muita qualidade musical para diversos discos de Elvis ao longo dos anos. Coisa fina. É importante chamar a atenção que quando Elvis a gravou ainda não tinha à disposição uma banda maior, com mais instrumentistas, algo que iria enriquecer muito suas gravações no futuro.

Em minha opinião a gravação de Elvis é de certo modo ofuscada um pouco por causa dessa falta de diversidade de arranjos. Provavelmente se Elvis a tivesse gravada em 1960 teríamos uma grande faixa, com orquestra ao fundo, mais qualidade em termos de grupo de apoio. De qualquer forma mesmo contando com uma pequena banda de apoio Elvis ainda conseguiu realizar um bom trabalho. Sua performance vocal era o grande diferencial, algo que conseguia se sobressair a todas as limitações técnicas da época.

Elvis Presley (1956) - Parte 5
Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor.

Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

 "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Book - Elvis na Sun Records

Elvis Presley - That´s All Right / Blue Moon Of Kentucky
Os fãs já sabem mas não custa repetir: esse foi o primeiro single comercial da carreira de Elvis Presley. Eu gosto de usar a expressão "comercial" justamente para não confundir com o primeiro acetato que Elvis gravou na Sun, "My Happiness". Aquele era um disquinho amador, feito para matar a curiosidade do próprio Elvis que queria ouvir como ficaria sua voz em um disco. É interessante, mas praticamente todos os jornalistas (principalmente os marujos de primeira viagem) costumam sempre confundir. Escrevem que "That´s All Right (Mama)" foi o primeiro disquinho de Elvis e ele o gravou para sua querida mãe. Obviamente estão trocando completamente as bolas. Confundem os discos e ainda por cima levantam uma lenda antiga que hoje em dia não tem mais razão de ser. Elvis não gravou "My Happiness" para dar de presente para a mãe. Gladys Presley nem sequer fazia aniversário naquele mês, então é tudo lenda. Uma lenda muito tocante, bonita, mas uma simples lenda, nada mais.

Assim vamos começar a falar sobre a discografia de Elvis pelo seu primeiro single que efetivamente foi gravado para chegar nas lojas ao consumidor. Estamos falando da primeira metade dos anos 1950 numa região considerada atrasada daquele país. Imaginem o que era gravar um single naqueles tempos e o mais complicado: distribuir ele em lojas afastadas, promover as canções em rádios para só depois tentar vender o show do novato cantor. Não era fácil. Assim Elvis tinha que literalmente acertar o alvo logo no comecinho da carreira. Se ninguém se interessasse ou então se ninguém gostasse era o fim e ele voltaria a dirigir caminhão, simples assim. O talento porém falou mais alto e no caso de Elvis Presley tocou fundo em quem ouviu as canções. Era um trio básico em estúdio (Elvis, Scotty e Bill) mas eles soaram como se fossem mais pessoas. Créditos? Todos para Sam Phillips, um produtor subestimado. Seus efeitos de ecos nas músicas criavam um efeito tão perfeito, maravilhoso que preenchia qualquer lacuna que o ouvinte sentisse. Coisa de gênio, claro. Hoje em dia cópias originais são uma verdadeira preciosidade, disputadas em leilões. E pensar que na época de seu lançamento os compactos custavam poucos centavos - nem chegava a 1 dólar, imagine você.

O lado A do single trazia a boa "That´s All Right" (Mama), de autoria do compositor Arthur Grudup. Na época a música foi considerado um bom country, mas obviamente hoje seu status é bem diferente, sendo considerada música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Phillips, a Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de provar seu talento graças a interferência da secretária de Phillips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "jovem de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "That's All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Em 2003 foi eleita a música mais inovadora da história.

No lado B o ouvinte da época tinha "Blue Moon Of Kentucky" de Bill Monroe. Originalmente foi lançada no ano de 1948 pelo próprio autor Bill Monroe, considerado o "pai do Bluegrass". O pequeno single trazia o selo Columbia e teve uma repercussão restrita às paradas ligadas ao gênero country and western do sul dos Estados Unidos. De qualquer forma ela acabou chamando atenção e ficou sempre em evidência, sendo muito tocada em estações de rádio da região. Certamente virou uma das preferidas também de um garoto de apenas 13 anos que sempre estava sintonizando suas velhas estações country em busca de novidades. O nome do garoto em questão? Nem é preciso dizer.

O single "Sun 209" fez sucesso nas estações de rádios de Memphis. Sam tinha bons contatos com DJs dos principais programas. Na primeira vez que tocou no rádio, Elvis ficou tão nervoso que decidiu ir ao cinema. Como era tímido provavelmente tinha receios da reação de amigos e parentes. Para sua surpresa todos gostaram. Era a materialização do velho sonho de se tornar cantor nascendo para aquele garotinho que ouvia Bill Monroe no rádio. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada em julho de 1954 contando apenas com Elvis no violão, Scotty Moore na guitarra e Bill Black no baixo. Não houve bateria! O produtor Sam Phillips providenciou tudo, trazendo essa pequena banda para atuar ao lado do jovem talento.  Para quem não acredita em sonhos impossíveis, "Blue Moon Of Kentucky" veio para registrar para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música popular mundial, um sonho que se tornou possível para Elvis Presley, pois ele acreditou em sua materialização com convicção. Pois é, "Sonhos são como deuses, nós temos que acreditar neles" já dizia a conhecida frase.

Elvis Presley - Good Rockin' Tonight / I Don't Care if The Sun Don't Shine
O segundo single de Elvis Presley pela Sun Records foi lançado em setembro de 1954. Curiosamente muitos críticos de música e arte chegam a considerar a canção "Good Rockin Tonight" o primeiro rock´n´roll genuíno da história da música. Pessoalmente não chegaria a tanto uma vez que as raízes R&B ainda estão bem presentes. A canção foi gravada originalmente pelo próprio autor Roy Brown em 1947. Brown era de New Orleans, provavelmente a cidade mais musical de todos os EUA. Lá se respira musicalidade em cada esquina, em cada canto. Nas ruas, nos bares, em concertos ao vivo, a cidade parece respirar notas musicais a cada hora do dia.

A versão de Elvis surge quando a música já era bem conhecida em Memphis e no sul - mas não tanto nas cidades do norte e oeste o que talvez explique a forte identidade que ligam Elvis à canção nessas regiões. Sam Phillips queria que Elvis a gravasse pois seria uma boa oportunidade de tocá-la ao vivo em shows por causa de sua vibração contagiante. Por essa época o cantor já havia se apresentado pela primeira vez de forma profissional. Além de seu minúsculo repertório Elvis contava com seu carisma à prova de falhas em cada show que realizou. Esqueça os grandes shows apoteóticos que vem à mente quando se pensa em Elvis Presley. No comecinho de sua vida na estrada Elvis se apresentava em qualquer lugar que lhe desse uma chance. Valia de tudo, clubes noturnos pequenos, pátios de escolas, festivais e até em cima de carrocerias de caminhão. O importante era ser visto e ouvido pelo maior número de pessoas possível.

Ouvindo o registro não podemos ficar menos do que admirados. Na gravação participaram apenas Elvis, Scotty Moore e Bill Black novamente. O resultado é acima de qualquer crítica. Elvis, no auge da juventude, esbanja personalidade e carisma em cada nota musical. Tecnicamente todos também estão extremamente bem. Não há como se comparar a versão de Roy Brown com a de Elvis. São coisas distintas, completamente diferentes. Os arranjos originais eram basicamente formados por metais, bem de acordo com o som de New Orleans. Elvis virou a música ao avesso. Sua versão é visceral, empolgante e com uma sonoridade completamente renovada. Em termos de vocalização também não há o que comparar. Brown era talentoso mas um cantor limitado. Já Elvis cantava com o coração. A versão de Elvis Presley pode sim ser considerada um dos primeiros Rocks da história - mas não a original de Brown.

"Good Rockin Tonight" na voz de Elvis Presley foi lançada pela Sun Records sob o registro de catálogo "Sun 210" em setembro de 1954 com "I Don't Care If The Sun Don't Shine" no lado B. Era o segundo compacto simples de Elvis que chegava nas lojas do Sul, dois meses após o lançamento de "That's All Right / Blue Moon Of Kentucky". Depois de seu lançamento a canção virou um ícone da primeira geração do Rock. Um símbolo que nunca mais foi esquecido, tanto que muitos artistas iriam prestar seu tributo a esse momento tão raro e importante nas décadas posteriores! Entre as mais conhecidas versões está a que Paul McCartney produziu em sua turnê New World Tour. Uma versão belíssima desta canção, que inclusive conseguiu capturar toda a sua essência roqueira. Em conclusão o que ficou realmente na história do rock foi a versão de Elvis Presley. A despeito da importância da gravação original de Roy Brown nada se compara à energia e a espontaneidade incomparáveis que Elvis Presley injetou na música. Um momento único em sua carreira.

Elvis Presley - Milkcow Blues Boogie / You´re a Heartbreaker
O terceiro single de Elvis Presley pela Sun Records foi composto por Milkcow Blues Boogie no lado A e You're A Heartbreaker no lado B. Conforme as vendas foram se tornando cada vez mais interessantes para a gravadora de Sam Phillips os singles (compactos simples com uma música de cada lado) também foram sendo editados com maior frequência. Era uma maneira não apenas de popularizar o cantor nas estações de rádio, como também de promover seu nome entre o público jovem de Memphis e cidades vizinhas. A Sun Records tinha limitações em termos de divulgação e promoção de seus artistas, mas fazia o possível para transformar seus singles em sucesso de vendas.

Quando o terceiro single de Elvis chegou nas lojas ele já era o maior vendedor de discos do selo Sun. Não tardou a surgir diversos boatos afirmando que a gravadora havia se tornado pequena demais para Elvis. Foi por essa época que começaram a surgir pessoas interessadas em tirar o cantor da Sun para um selo maior. De qualquer forma Presley ainda tinha o passe pertencente ao selo do sol nascente, embora seus dias por lá realmente estivessem contados. Para quem gosta de detalhes fonográficos aqui vai uma informação adicional: esse single levou o catálogo de número Sun 215. Um original vale alguns milhares de dólares e os poucos que sobreviveram ao tempo estão nas mãos de colecionadores.

"Milkcow Blues Boogie" foi gravada inicialmente por Kokomo Arnold em 1953 pelo selo Decca, sendo que em 1946 Bob Willis & his Texas Playboys já a tinham gravado com o título de "Brain Cloudy Blues". A versão de Presley surgiu no mercado como a música título de seu terceiro single pela Sun Records em 29 de dezembro de 1954. Ela foi gravada na terceira sessão de Elvis pela pequena gravadora de Sam Phillips contando somente com o trio básico de suas primeiras músicas: apenas Elvis, Bill e Scotty. A data correta desta sessão é motivo de controvérsia pois alguns autores determinam o mês de novembro e outros, dezembro, não ocorrendo um consenso sobra a data certa. Até mesmo nos encartes dos CDs mais recentes a dúvida persiste.

Essa é provavelmente uma das canções mais peculiares que já ouvi. A letra e o arranjo não deixam dúvidas: é uma canção escrita, feita e produzida para o Sul rural americano dos anos do pós guerra. A sonorização abafada e o ritmo estranho podem deixar muitos fãs jovens do cantor surpresos! Mas era justamente esse tipo de canção que tocava nas rádios regionais de Memphis quando Elvis era apenas um aspirante ao estrelado. Vale a pena sentir e ouvir a sonoridade daquela época na voz do artista que melhor representou aquela geração.

"You´re a Heartbreaker" vinha para completar o single. Apesar de ter sido legada ao lado B do acetato essa é seguramente a melhor canção desse disco. É um country de ritmo agradável, muito bem executado pelo trio Blue Moon Boys, trazendo Elvis em momento inspirado, obviamente "mastigando" as palavras em seu vocal ao estilo bem country and western. A letra, juvenil e emocional, se refere a uma "destruidora de corações" - tão comuns na juventude de cada um desses jovens dos anos 50! Enfim, linda baladinha country que marcou seu terceiro lançamento na Sun Records.

Elvis Presley - Baby Let's Play House / I'm Left, You're Right, She's Gone
Em abril de 1955 surgiu nas  lojas o quarto e penúltimo single de Elvis Presley pela Sun Records. O compacto do selo amarelo trazia duas canções gravadas por Elvis nos dois meses anteriores. Por essa época Elvis já estava se apresentando em shows ao vivo, cruzando os estados sulistas com seu número. Por isso as sessões na Sun Records eram feitas nos intervalos dos concertos, nos dias em que Elvis estava de folga em Memphis.

"Baby Let's Play House" foi gravada em uma sessão em fevereiro. Nessa ocasião Elvis gravou apenas essa faixa, o que era de certa forma incomum, já que ele costumava gravar de quatro e cinco músicas em uma noite. Não que ele não tenha tentado gravar outras canções. Nessa ocasião ele tentou gravar as primeiras versões de "I Got a Woman" e "Trying To Get To You", mas não ficaram boas e Sam Phillips resolveu descartá-las. Havia sido apenas um pequeno ensaio e depois de alguns minutos o próprio produtor resolveu encerrar a sessão. Ele poderia voltar outra noite para acertar. O mesmo aconteceria em março com "I'm Left, You're Right, She's Gone". Elvis, cansado dos compromissos na estrada, não conseguiu ir muito além dos takes dessa música. De qualquer maneira as duas músicas ficaram muito bem gravadas, caprichadas, por isso Sam as escolheu para compor esse quarto single.

Por essa época os primeiros disquinhos de Elvis começaram a chegar também nas principais cidades do país. A distribuição ficou melhor e os primeiros compactos de Elvis chegaram em lojas de Nova Iorque e Los Angeles. A RCA Victor, a poderosa gravadora multinacional, se interessou por Elvis. Outras gravadoras já tinham mostrado interesse, mas nenhuma delas havia ido direto ao ponto de forma tão decisiva. Numa manhã de sábado Sam Phillips recebeu um telefonema de Nova Iorque. Era um executivo da RCA. Ele sondava se Sam estava disposto a negociar o passe do jovem cantor. Sam, sempre com problemas financeiros, viu aquilo como uma tábua de salvação de sua pequena Sun. Sim, ele estava aberto a propostas e poderia encontrar um enviado da RCA Victor caso ele fosse até Memphis. Encontros foram agendados para dali duas semanas e imediatamente Sam soube que os dias de Elvis na Sun Records estavam chegando ao fim.

Elvis Presley - Baby Let's Play House / I'm Left, You're Right, She's Gone
Data de Gravação: Fevereiro e Março de 1955
Local de Gravação: Sun Records, Memphis, TN
Data de Lançamento: Abril de 1955
Produção: Sam Phillips
Músicos: Elvis Presley (vocais e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Jimmie Lott (bateria, apenas em "I'm Left, You're Right, She's Gone")

Elvis Presley - I Forgot To Remember To Forget / Mystery Train
Em agosto de 1955 chegou nas lojas de Memphis o quinto e último single de Elvis na gravadora Sun Records. Com o código de Sun 223, o pequeno disquinho trazia mais duas músicas inéditas do cantor gravadas no estúdio de Sam Phillips. Por essa época Elvis já estava ao lado de seu novo empresário, Tom Parker, que lhe disse que ele deveria ir embora da Sun. A pequena gravadora sulista não teria mais nada a lhe oferecer em termos de incentivo em sua carreira. Para Tom Parker apenas uma grande companhia fonográfica como a RCA Victor (a maior dos Estados Unidos) poderia lhe trazer a fama tão desejada. Ficar na Sun era perder tempo. Elvis deveria ter Memphis para trás e ir imediatamente para os grandes centros como Nova Iorque e Los Angeles.

Claro, foi um conselho acertado. A RCA tinha sim interesse em Elvis. Via no rapaz não apenas um talento nato, como também o cantor ideal que eles tanto procuravam. No novo selo Elvis iria ser produzido por Steve Sholes, um produtor experiente, com faro para o sucesso comercial. De uma forma ou outra a primeira providência da RCA Victor após assinar com Elvis foi relançar todos os seus cinco compactos na Sun, dessa vez garantindo distribuição nacional e internacional. O alcance da multinacional era algo completamente impossível de se igualar por Sam e sua pequena empresa. Philips obviamente ficou um pouco triste por Elvis deixar sua gravadora, mas isso era algo mesmo irreversível de acontecer. Como gratidão Elvis prometeu que sempre que possível voltaria à Sun para rever os velhos amigos - algo que ele cumpriu realmente.

Já em termos puramente musicais esse single foi considerado realmente genial. Não pelo lado A do compacto que trazia a boa " I Forgot To Remember To Forget", uma balada com claro sabor country and western, mas sim pelo aclamado lado B "Mystery Train". Até hoje essa faixa é considerada por críticos e especialistas em música como uma das mais perfeitas gravações da carreira de Elvis. É até mesmo espantoso que Elvis e Sam tenham produzido algo assim com tão poucos recursos técnicos. Um famoso crítico de Nova Iorque certa vez escreveu que se Elvis tivesse desaparecido em 1955 sem deixar rastros ele ainda assim seria lembrado por causa de sua performance de Mystery Train. Um ponto de vista que não tenho como discordar.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis (1956) - Discografia Brasileira

Esse disco virou um marco na discografia brasileira pelo simples fato de que foi a primeira vez que um lançamento em LP no Brasil foi bem fiel ao original dos Estados Unidos. Como bem sabemos o primeiro álbum de Elvis não foi lançado no Brasil na época, sendo deixado de lado. Só que a filial brasileira finalmente acertou ao lançar uma edição nacional bem de acordo com o segundo disco de Elvis. Trazia a mesma capa e a mesma seleção de músicas. Além do texto original da contracapa, traduzido para o português. Para quem era fã de Elvis nos anos 50 foi um grande presente!

Depois dessa primeira edição iria demorar muitos anos para que Elvis (1956) voltasse às lojas de discos no Brasil. Só em 1982 ele retornou dentro do pacote Pure Gold que colocou no mercado uma grande leva de LPs de Elvis Presley em razão do quinto ano de falecimento do cantor. Esses discos, de selos da cor amarela, tão malhados por determinados colecionadores nacionais, deveriam ser mais respeitados, afinal de contas colocou muitos discos importantes de volta ao nosso mercado. 

Em 1992 esse disco ganhou finalmente sua versão brasileira em Compact-Disc (CD). Na época isso foi bem celebrado pelos fãs brasileiros. Ele foi lançado inclusive junto de um pacote que também trazia o primeiro disco de Elvis, além da trilha sonora do filme "Loving You" (o terceiro álbum da discografia de Elvis). E depois alguém teve a ideia de juntar os dois primeiros álbuns em apenas um CD. Eu não gostei desse tipo de coisa pois não respeita a discografia original de Elvis. 

Em 1999 outra edição em CD também foi lançada. Uma versão bem básica, sem luxo ou capricho. E para os fãs mais antenados todas as músicas desse álbum também foram incluídos no box "The King Of Rock ’n’ Roll". Uma caiza maravilhosa com 5 CDs trazendo todas as gravações que Elvis realizou na década de 1950. Foi lançada como edição limitada, com caixas numeradas. Um item de colecionador bem essencial. 

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Money Honey / One-Sided Love Affair

Elvis Presley - Money Honey / One-Sided Love Affair
Duas ótimas canções do álbum Elvis Presley de 1956. Entenda que por essa época a RCA Victor estava meio que no modo desespero pois muitos executivos da gravadora temiam ter prejuízo na contratação desse jovem cantor de Memphis chamado Elvis. Então eles saturaram (essa é a palavra certa) o mercado com discos, singles e compactos duplos de Elvis. Tudo na tentativa desesperada de não perder dinheiro. Uma tolice pois Elvis iria retribuir cada centavo investido em sua contratação. Definitivamente não era necessário tantos lançamentos extras tiradas do repertório desse seu primeiro disco!

"Money Honey" chegou a ser cantada por Elvis em um programa de TV em 1956. Elvis, com os cabelos bem loiros, fixados em muita brilhantina, parecia um artista completamente inovador nessa apresentação. Nada se comparava a ele naquela época. Era a personificação máxima do que era esperado de um rockstar. A letra da música inclusive foi definida por alguns conservadores como "extremamente cínica". 

Nada do que Elvis fazia naquele ano era elogiado pelos mais velhos! Na verdade eles odiavam Elvis por tudo aquilo que ele representava para a juventude. No lado B do single tínhamos "One-Sided Love Affair". Agradável de ouvir, bem mais suave, mostrava bem o estilo vocal de Elvis naquele período. Muitos não gostavam e nomes como Quincy Jones chegariam a dizer que Elvis nem sequer sabia cantar! Vejam só que absurdo! É o preço que se pagava por ser um artista realmente inovador! 

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Elvis Presley - The Sun Sessions

Elvis Presley - The Sun Sessions
Em 1976 chegou nas lojas de discos de todo o mundo esse álbum intitulado "The Sun Sessions". Foi a primeira coletânea de verdade produzida pela RCA Victor trazendo praticamente todas as músicas gravadas profissionalmente por Elvis na Sun Records. A razão da existência desse disco tinha menos a ver com fatores de pesquisa discográfica e mais com busca de lucro imediato de um investimento feito pela gravadora. Em 1975 a RCA comprou todo os direitos do catálogo de Elvis por meros 5 milhões de dólares. Era óbvio que esse legado tinha muito mais valor, entretanto Elvis precisava pagar algumas dívidas na época e resolveu vender tudo o que havia gravado na Sun e na RCA até aquele momento. Algo que a longo prazo iria se revelar um péssimo negócio, mas que para Elvis, naquele momento, parecia ser algo atrativo e compensador. 

Dito isso, é inegável que esse álbum tenha grande valor histórico. Para os fãs na época era um verdadeiro presente! Naquele ano essas músicas já eram complicadas de se achar pois os singles originais valiam verdadeiras fortunas no mercado. E as primeiras prensagens de discos da RCA que as traziam (como "For LP Fans Only" e "A Date With Elvis") tinham sido lançadas na década de 1950. Então era de fato um material muito mais do que bem-vindo. E o bom gosto da arte da capa (que ficou maravilhosa) aliada a um bom texto na contracapa, tornava o produto perfeito naquele momento. O álbum foi um sucesso comercial e de crítica, vendendo muito. Para a RCA foi uma primeira oportunidade de recuperar o valor investido na compra de todas essas músicas por parte da gravadora um ano antes do lançamento desse disco, que até hoje é bem querido por parte dos fãs de Elvis Presley.

Elvis Presley - The Sun Sessions (1976)
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Good Rockin' Tonight
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
I'm Left, You're Right, She's Gone
Baby Let's Play House
Mystery Train
I Forgot To Remember To Forget
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
I Love You Because (1st Version)
Trying To Get To You
Blue Moon
Just Because
I Love You Because (2nd Version)

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley – The Sun Sessions CD

Elvis Presley – The Sun Sessions CD
A era do CD chegou e o mercado correu para aproveitar o novo filão que nascia. Esse não pode ser considerado o mesmo disco de 1976 pois trazia uma quantidade grande de novidades. Como o CD tinha muita mais capacidade de informação e duração, era necessário colocar algo a mais para atrair a atenção dos consumidores. E nesse aspecto a gravadora caprichou. Havia no repertório desse CD uma série de gravações Outtakes e  Alternate Takes, sendo essas últimas completamente inéditas para os fãs. Material que foi encontrado depois de muitas pesquisas no arquivo da própria RCA Victor em Nova Iorque. Como se sabe, quando Elvis foi para a RCA os executivos dessas gravadora foram até Memphis e pegaram com Sam Phillips todas as gravações que Elvis havia feito naquele pequeno selo. Tudo mesmo, até fitas com takes inacabados e pedaços de ensaios. 

Para muitos fãs foi a primeira oportunidade de ouvir músicas como "Harbor Lights" e takes desconhecidos de "I Love You Because" e "I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone)". Eu me lembro bem que o lançamento desse Compact-Disc foi muito celebrado entre os fãs de Elvis nos anos 80. As pessoas não tinham a menor idéia de que ainda existia materias como esses que eram ouvidos nesse título. Mal sabiam o que estaria por ouvir nos anos seguintes! De modo geral gosto desse álbum, mas não tanto de sua capa. Traz um jovem (quase adolescente) Elvis em fundo azul. A capa do disco de 1976 era tão rica em termos de direção de arte, então esperava por mais. De qualquer forma não há como negar que esse foi um álbum importante para os fãs. Deixou muita gente feliz com o que ouviu, agora na qualidade de som cristalina do novo formato que nascia, o CD. 

Elvis Presley – The Sun Sessions CD (1987)
The Master Takes
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
Good Rockin' Tonight
I Don't Care If The Sun Don't Shine
Milkcow Blues Boogie
You're A Heartbreaker
Baby, Let's Play House
I'm Left, You're Right, She's Gone
Mystery Train
I Forgot To Remember To Forget
I Love You Because
Blue Moon
Tomorrow Night
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
Just Because
Trying To Get To You
The Outtakes
Harbor Lights
I Love You Because - Take 2 3
That's All Right
Blue Moon Of Kentucky
I Don't Care If The Sun Don't Shine
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 9
I'll Never Let You Go (Little Darlin')
When It Rains, It Really Pours
The Alternate Takes (Material Inédito):
I Love You Because - Take 3 3:33
I Love You Because - Take 5 3:27
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 7
I'm Left, You're Right, She's Gone (My Baby's Gone) - Take 12

Pablo Aluísio. 

domingo, 7 de junho de 2009

Elvis Presley - Elvis' Golden Records - Discografia Americana

Elvis' Golden Records - Discografia Americana
Esse álbum foi a primeira coletânea de sucessos da carreira de Elvis. E isso aconteceu apenas 2 anos após sua chegada na RCA Victor. E o desfile de sucessos impressiona, mostrando como Elvis realmente fez grande sucesso em seus anos iniciais. Foi um disco que vendeu muito bem, alcançando as primeiras posições tanto nos Estados Unidos como na Europa. Coletâneas de hits sempre foi um dos nichos mais vendidos na era do vinil. 

Ao longo dos anos esse disco foi ganhando inúmeras edições dentro do mercado americano. Aliás a própria série Elvis Golden Records seria campeã de vendagens ao longo dos anos, ganhando quatro volumes ao longo da carreira de Elvis. Todos os LPs levaram disco de ouro para casa! Curiosamente a RCA Victor iria abandonar a série em 1968 com o lançamento do quarto volume, deixando toda a última década de Elvis, os anos 70, sem lançamentos dessa linha.

Após a morte de Elvis um volume 5 foi lançado, mas eu particularmente considero esse disco como um álbum bastardo, oportunista, mal selecionado, que não deve ser considerado parte da linha original que inclusive foi lançada com Elvis em vida. Em minha visão pessoal esse quinto volume foi pura picaretagem do selo. 

Assim em se tratando de Elvis Golden Records considere apenas os quatro discos originais. Esse de 1958, o volume 2 lançado quando Elvis estava servindo o exército, o volume 3 lançado na primeira metade dos anos 60 trazendo muito material de sucesso de qualidade e o volume 4 que já era bem mais fraquinho se comparado com os anteriores. Então é isso. Uma linha de álbuns que marcou a carreira de Elvis, mas que não foi seguida até o fim da vida do cantor. 

Pablo Aluísio.