Quando eu era garoto, ouvi certa vez meu pai dizer que o filme "Os Brutos Também Amam" (Shane - 1953) era um faroeste diferente. Aquela opinião ficou anos martelando em minha cabeça. E, quando alguns anos mais tarde, assisti ao famoso western, concordei com meu pai. O clássico, baseado no best-seller de Jack Schaefer, é um dos maiores e mais emocionantes faroestes já produzidos. E o sucesso não foi à toa. "Shane" é um faroeste realmente diferente e emocionante que foi pensado e carinhosamente engendrado em cima de valores morais raros para aquela época, como: amizade, lealdade e honra. O início do filme é de uma beleza rara, onde a natureza exuberante faz as honras da casa, desfilando, um a um, os astros do filme. O silencioso Shane (Alan Ladd) abre o clássico cavalgando, lentamente, sob as bençãos e a beleza indizível da cordilheira de Grand Tetons no Vale do Wyoming. O forasteiro, solitário e caladão, chega bem devagar ao pequeno rancho parnasiano da família Starrett, tendo como testemunha o pequeno par de olhos curiosos do pequeno Joey Starrett (Brandon De Wilde). Shane é calado e de poucas palavras - ele fala apenas o que interessa deixando sempre no ar um duvidoso passado do qual está claramente tentando esquecer. Apesar da enorme introspecção e doses cavalares de mistério, Shane só quer um pouco de água, comida e descanso, em troca de trabalho.
Aos poucos, o pistoleiro, semelhante a um diácono, vai conquistando a amizade e a confiança da família Starrett, mas principalmente do pequeno Joey que se encanta pelo forasteiro. Em pouco tempo, Shane já é quase um membro da família, ajudando o patriarca Joe Starrett (Van Heflin) nos trabalhos mais pesados, e também nas horas vagas, ajudando o pequeno Joe a atirar. O carisma e o charme do pistoleiro vão encantando Marian Starrett (Jean Arthur) esposa de Joe que aos poucos vai manifestando pelo pistoleiro, um misto de paixão, admiração e curiosidade. O diretor George Stevens conduz com maestria essa troca de olhares - e até de sentimentos - porém, sempre preservando o sentimento de honestidade e lealdade de Shane para aquela pequena família que o acolheu, mas principalmente para seu amigo, Joe Starrett. O filme jorra lirismo por todos os poros.
Todo esse céu de brigadeiro, no entanto, começa a mudar quando a família Starrett recebe a visita de Rufus Ryker (Emile Meyer) e seu bando. Rufus, que é o Barão do gado da região, tenta convencer Joe a vender suas terras e ir embora. Porém, quando percebe que Joe tornara-se amigo de um pistoleiro (Shane), ele e seu bando vão embora. A partir daí o conflito entre o Barão do gado, Rufus Ryker, e os colonos, explode. O Barão, para garantir o seu monopólio do gado e sentindo-se ameaçado por Shane, manda buscar na cidade de Cheyenne o pistoleiro frio e sanguinário, Jack Wilson (Jack Palance). Shane então, resolve despir-se de suas vestes de homem bom e de família e começa a mostrar a sua cara. Os acontecimentos e escaramuças da bandidagem, o colocará frente a frente com o seu velho conhecido e implacável Jack Wilson num duelo inesquecível. O final é emocionante e mostra toda a categoria de um diretor que, alguns anos depois, dirigiria três mitos: James Dean, Liz Taylor e Rock Hudson, no clássico, "Assim Caminha a Humanidade". E, com relação a Shane...meu pai tinha toda a razão.
Os Brutos Também Amam (Shane, EUA, 1953) Direção: George Stevens / Roteiro: A.B. Guthrie Jr, Jack Sher baseado na obra de Jack Schaefer / Elenco: Alan Ladd, Jean Arthur, Jack Palance, Van Heflin, Ben Johnson, Elisha Cook Jr., Brandon de Wilde / Sinopse: Shane (Allan Ladd) é um cowboy errante e solitário que chega num pequeno rancho e conquista a amizade dos moradores locais, incluindo uma bela jovem e um garoto.
Telmo Vilela Jr.