Para quem acompanhou a recente visita do Papa Francisco no Brasil uma boa opção de diversão é essa comédia italiana "Habemus Papam" (o filme usa como título essa expressão em latim que sempre é dita no balcão frontal da basílica de São Pedro quando o novo Papa é apresentada aos fiéis). O enredo é dos mais curiosos. Após a morte do Papa (mostrada com cenas reais do funeral de João Paulo II), os cardeais de todo o mundo se reúnem na Capela Sistina para a eleição do novo sumo pontífice. Assim começa a votação mas sem resultados concretos. Como sabemos a fumaça preta significa votação sem escolha e fumaça branca votação e eleição do Papa. Duas votações depois e então os cardeais escolhem o novo sucessor de Pedro na Terra. A escolha recai sobre um humilde cardeal, que sequer era considerado favorito. Após vestir as vestimentas papais ele se dirige ao encontro da multidão mas no meio do caminho sofre um ataque de pânico, se recusando a encarar a multidão lá fora para ser apresentado. Em seu íntimo teme não estar à altura do cargo para o qual foi escolhido. Claro que algo assim, inédito na história do Vaticano, acaba criando várias confusões pois o novo Papa não consegue assumir a nova posição.
A Igreja então fica numa posição delicada: tem um novo Papa eleito mas esse está simplesmente em pânico diante dos desafios que terá que enfrentar. Desesperados os cardeais chamam um analista para tentar entender a crise pelo qual o Papa passa! Enquanto isso o mundo, incrédulo, espera pelo anúncio e apresentação do novo líder da maior religião do mundo, a católica. Embora seja classificada como uma comédia esse "Habemus Papam" lida com uma trama que poderia muito bem acontecer na vida real. Há boas soluções dentro do roteiro, como colocar o novo Papa como um homem indeciso sobre sua eleição que decide literalmente fugir do Vaticano para ir passear pelas ruas de Roma, pensando e meditando sobre suas novas responsabilidades. Seu lado humano é bem acentuado dessa maneira. O Papa não chega a ter nome no enredo mas sua personalidade é uma mistura de características de vários Papas do passado. Ele, por exemplo, sonha em ser um ator (algo que lembra João Paulo II que foi ator antes de abraçar a vida religiosa) e tem um caráter muito humilde e simples (nesse aspecto me lembrou de João XXIII, o Papa da humildade). Por fim quero chamar a atenção para algo curioso: embora seja uma comédia podemos notar facilmente o respeito dos realizadores do filme para com os dogmas e as doutrinas da Igreja. O roteiro certamente ri de situações absurdas que poderiam ocorrer mas sempre com uma boa postura de não transformar a figura do Papa em um bufão. Deixo a dica então, sendo você católico ou não!
Habemus Papam (Idem, Itália, 2011) Direção: Nanni Moretti / Roteiro: Nanni Moretti, Francesco Piccolo / Elenco: Michel Piccoli, Jerzy Stuhr, Renato Scarpa / Sinopse: O novo Papa é eleito no Conclave mas após sua eleição entra em pânico, com receio de não estar à altura das responsabilidades de ser o líder de uma religião mundial com mais de 1 bilhão de fiéis. Desesperados os cardeais tentam contornar a situação inédita na história da Igreja.
Pablo Aluísio.