Dois criminosos em fuga por um lugar remoto e distante se vêem em péssima situação após o carro em que estão ficar sem gasolina. Um dos bandidos está ferido com um tiro no estômago. O outro também foi atingido por uma bala mas o ferimento é menos grave pois o atingiu no braço. Perdidos e sem saber onde estão um dos bandidos resolve procurar por socorro. Interpretado pelo ator Lionel Stander o personagem finalmente encontra uma antiga construção, medieval, à beira de uma paradisíaca praia. Lá vive o casal George (Donald Pleasence) e Theresa (Françoise Dorléac). Ele é um antigo industrial aposentado, ela, uma moça bem mais jovem que adora ouvir música e andar à beira mar com seu jovem amante. Após invadir a casa o criminoso os força a ajudá-lo no resgate do parceiro que infelizmente não consegue sobreviver aos ferimentos. Tentando entrar em contato com seu chefe, mas sem sucesso, o assaltante Richard (Stander) começa então a fazer um jogo de dominação com o casal de reféns. Tudo o que deseja é ir embora mas acaba surpreendido quando o casal recebe a visita de um grupo de turistas que deseja conhecer melhor a histórica casa (que no passado havia pertencido a um famoso escritor). Fica então armada a situação limite, um verdadeiro beco sem saída (expressão que em francês dá nome ao filme, Cul-de-sac).
Vencedor do Urso de Prata de Berlim, “Armadilha do Destino” é um dos filmes mais pessoais de Roman Polanski. Aqui ele arma todo um tabuleiro de xadrez com os personagens da trama. O enredo se passa todo dentro desse castelo medieval à beira mar onde basicamente convivem apenas três personagens, o casal e o criminoso que os mantém reféns. A chegada de mais pessoas ao local apenas aumenta o clima de tensão sobre o desfecho de todo aquele acontecimento. O trio central que domina o elenco é muito bom. Donald Pleasance interpreta um homem fraco, dominado por uma jovem esposa inconseqüente, interpretada pela bela Françoise Dorléac. Infiel trai o marido de forma ostensiva. Richard, o bandido ferido, encontra sua caracterização perfeita na atuação do eterno coadjuvante Lionel Stander. Tudo o que ele deseja é ir embora dali mas sem ter como seguir adiante tem que conviver, mesmo que por pouco tempo, com aquele casal incomum e estranho.
O curioso é que Polanski não abraça apenas a tensão e o suspense da situação como era de se prever. Pelo contrário, o cineasta surpreende o espectador ao criar um verdadeiro vínculo entre o criminoso e o casal. Conhecida como “Síndrome de Estocolmo” a situação se caracteriza sempre que as vítimas criam simpatia pelos criminosos que os mantém em cativeiro. É basicamente o que acontece aqui. De repente todos estão se embebedando, rindo e trocando confidências. A chegada de estranhos acaba quebrando essa ligação, trazendo tensão e medo de volta à casa. O resultado é acima da média, mostrando toda a genialidade do diretor. Ele na realidade brinca com o espectador, ora criando tensão, ora aliviando com a cumplicidade que surge entre os personagens principais. O clímax final só vem confirmar a verdadeira roleta russa emocional que é “Armadilha do Destino”. Tudo resultando em mais um maravilhoso trabalho desse genial cineasta.
Armadilha do Destino (Cul-de-sac, Inglaterra, 1966) Direção: Roman Polanski / Roteiro: Gérard Brach, Roman Polanski / Elenco: Donald Pleasence, Françoise Dorléac, Lionel Stander, Jacqueline Bisset / Sinopse: Após invadir uma antiga construção clássica um criminoso faz de refém um casal que mora no local. Esperando que os comparsas venham lhe resgatar ele obriga os moradores a ajudá-lo em sua fuga.
Pablo Aluísio.