quarta-feira, 16 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis em Memphis

Elvis ao lado de sua mãe, Gladys.
Elvis Presley nasceu no dia 8 de janeiro de 1935. De origem bastante humilde sempre celebrou seu aniversário ao lado da mãe, Gladys. Seu pai estava ausente a maior parte do tempo em sua infância pois havia sido preso ao tentar falsificar um cheque de uma quantia irrisória. Os primeiros aniversários assim foram passados ao lado de Gladys que mesmo sendo muito pobre jamais deixou o filho sem presentes, muitas vezes bem caros, acima inclusive do modesto orçamento familiar. Anos depois, com Vernon já em liberdade, Elvis fez um pedido inusitado em seu aniversário. Apesar de ser apenas um garotinho pediu de presente uma espingarda!

Mãe super protetora, Gladys jamais daria algo assim de presente para Elvis, ainda mais sendo ele menor de idade. Ao invés de uma arma ela e Vernon resolveram lhe dar um violão! Era um presente bem mais de acordo com o recente talento musical mostrado pelo filho nas horas em que a família se reunia para ouvir o rádio da casa – o bem mais precioso daquele humilde lar. Sentando no chão, geralmente aos pés de sua mãe, Elvis acompanhava os cantores de música country e gospel que se apresentavam nos programas radiofônicos da região. Não havia televisão e o rádio era o grande responsável pelo entretenimento das famílias durante o anoitecer. Elvis conseguia imitar qualquer cantor e tinha uma bela voz que deixavam admirados vizinhos e amigos da família Presley. Ele estava a muitos anos distante da Sun Records mas já demonstrava muito talento ao cantar.

Depois que ficou adulto, rico e famoso, Elvis mostrou um lado muito interessante de sua personalidade durante seus aniversários. Ele adorava presentear as pessoas mais próximas mas ao mesmo tempo sentia-se acanhado e sem jeito quando recebia presentes, principalmente em seu dia, 8 de janeiro. Obviamente que a data era sempre um acontecimento dentro de seu círculo de amigos mas Elvis se mostrava bem tímido nessas ocasiões. Raramente deu festas de aniversário para si durante os longos anos em que morou em Graceland. Sempre preferia algo bem informal. Reunia as pessoas mais próximas e mandava comprar alguns sanduíches e refrigerantes em um boteco próximo. Nada de festas suntuosas e exageradas. Ele aliás odiava festas luxuosas. Preferia celebrar seu aniversário entre amigos e família, sem nenhum estranho por perto.

Outro fato curioso é que ele sempre preferia voltar para sua querida Memphis quando seu aniversário chegava. Raras foram as vezes em que ele celebrou mais um ano de vida longe de Graceland. Era seu refúgio e seu lar, o local mais amado pelo cantor. Isso levou Elvis a exigir de Tom Parker que a sua agenda sempre ficasse livre de compromissos no período que ia Natal até o dia de seu aniversário no começo de janeiro. Nada de gravações, de filmes ou apresentações durante esse período. E o Coronel Parker respeitou essa exigência de Elvis por longos anos.

Só na década de 70 Elvis quebraria essa tradição em sua vida profissional quando realizaria alguns concertos durante as festividades de ano novo. Nesse caso havia necessidade de colocar sua bagunçada vida financeira em dia e os shows de reveillon sempre pagavam cachês atrativos demais para serem recusados. Mesmo que um tanto a contragosto Elvis foi acima de tudo profissional e realizou esses shows.

O pior aconteceu mesmo quando finalmente chegou aos 40 anos de idade em 1975. Para surpresa de muitos Elvis ficou muito abalado ao completar essa idade. Confessou aos mais próximos que estava velho demais. Tinha receios de que não seria mais aceito pelos fãs depois dos 40. Afinal nunca tinha ouvido falar de alguém com essa idade ainda no pique da glória e da popularidade. Por essa razão esse foi seguramente seu pior aniversário. Cancelou compromissos e se trancou em seu quarto de Graceland. Ficou deprimido e procurou se isolar de tudo e todos. De certa forma previu o que isso significaria.

A data porém não passou em branco. No dia 8 os jornais de todos os EUA noticiaram o fato de que Elvis, o símbolo máximo da juventude americana, havia finalmente se tornado um “quarentão”! É realmente de se admirar hoje em dia que algo assim tenha deixado Elvis tão abatido. Atualmente os 40 anos não são mais vistos como sinal de idade avançada ou algo assim. Pessoas são plenamente produtivas aos 50, 60, até mesmo 70 anos e não faz muito sentido se sentir um velho aos 40 como Elvis se sentiu na década de 70. Os tempos porém são outros. De qualquer forma, embora tenha celebrado apenas 42 aniversários em sua curta vida, os fãs de Elvis jamais deixam passar essa tão importante data em branco, sempre relembrando o artista, alguns até mesmo celebrando com bolos e velinhas. Uma ironia do destino certamente. Mal sabia Elvis ao fazer 40 anos que isso de fato não significaria nada para um artista como ele, que é simplesmente imortal.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de março de 2005

Elvis Presley - O Prisioneiro do Rock

Esse foi o grande sucesso de Elvis nos anos 50. Foi seu terceiro filme e o primeiro totalmente escrito e produzido para ele estrelar. Nos anteriores Elvis ainda era uma dúvida. Mesmo sendo o cantor mais popular do mundo na época, não se sabia ainda se ele daria certo no cinema. Não tinha muita experiência como ator e não sabia atuar direito, mas seus filmes eram sucessos de bilheteria. Para muitos Jailhouse Rock é o melhor filme de Elvis, talvez só sendo superado por "Balada Sangrenta", de Michael Curtiz, o mesmo diretor de Casablanca. Em termos puramente cinematográficos essa opinião parece bem certa.

De qualquer maneira, deixando comparações de lado, o fato é que esse "O Prisioneiro do Rock" tem bom roteiro e músicas famosas. O cantor vestido de prisioneiro acabou marcando tanto a cultura pop que até hoje a imagem é explorada em produtos como action figures, posters e brinquedos. O filme tem a famosa cena da dança dos prisioneiros que alguns consideram o primeiro videoclip da história e uma canção tema que vendeu milhões de cópias ao redor do mundo. Um marco na história de Elvis no cinema. Tanto isso é verdade que esse musical da MGM sempre é citado em revistas de cinema quando a carreira de Elvis na sétima arte é tratada em algum artigo ou matéria especial.

Pena que em poucos meses Elvis seria convocado pelo exército americano, o que iria interromper sua carreira por dois longos anos enquanto servia na Alemanha ocupada. Quando voltou aos EUA, Elvis estrelou vários musicais água com açúcar que não chegavam nem perto da qualidade de seus primeiros filmes. Os roteiros fracos acabaram decepcionando o cantor que abandonou Hollywood definitivamente em 1969 para se dedicar novamente apenas à sua carreira de cantor de sucesso em Las Vegas e em turnês pelos EUA.

Realmente a questão chave sobre Elvis no cinema era que ele não era um ator, era um cantor que usava o cinema para vender discos. Cada um nasce com seu talento, Elvis Presley jamais poderia ser comparado a James Dean ou Marlon Brando, do mesmo modo que nenhum deles poderiam sequer tentar cantar igual a Elvis. No fundo Tom Parker, o empresário de Elvis, usava o cinema como um tremendo meio promocional para a música de Elvis e nesse aspecto o objetivo foi alcançado pois Elvis alcançou uma popularidade que nenhum outro cantor de sua época conseguiu chegar. Pois é, os filmes de Elvis mostraram que era possível arrecadar boas bilheterias com um astro do mundo da música estrelando filmes. Depois de Elvis, vários astros foram para o cinema como os Beatles, Rolling Stones e até Michael Jackson (inclusive postumamente). No Brasil Roberto Carlos estrelou diversos filmes nos anos 60 só para citar um exemplo mais próximo de nós. Nenhum desses filmes eram "obras de arte" do cinema, longe disso, eram meios promocionais para os artistas e como tais devem ser encarados.

O Prisioneiro do Rock (Jailhouse Rock, Estados Unidos, 1957) Direção: Richard Thorpe / Roteiro: Guy Trosper / Elenco: Elvis Presley, Judy Tayler e Mickey Shaugnessey / Sinopse: Vince Everett (Elvis Presley é um jovem que acaba cometendo um crime sem intenção. Preso e condenado é enviado para a penitenciária do Estado. Lá conhece Hunk Houghton (Mickey Shaugnessy) que o apresenta ao mundo da música. Após ser libertado Vince decide tentar uma carreira artística. Com a ajuda da bela Peggy Van Aldern (Judy Tyler) ele tenta subir os degraus da fama e do sucesso.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Pan Pacific, 1957

Se formos comparar com o ano anterior Elvis se apresentou bem menos em 1957. A razão é bem simples de explicar. Ao assumir o compromisso de fazer dois filmes em Hollywood sobrou pouco tempo para ele cair na estrada. As filmagens de Loving You e Jailhouse Rock foram um pouco além do que estava previsto. Além disso o cantor teve que gravar as trilhas sonoras desses filmes e mais  um álbum natalino. Fazer concertos ao vivo se tornou secundário. Mesmo assim aconteceram coisas marcantes no palco nesse ano. Elvis se apresentou fora dos Estados Unidos pela primeira (e última vez). Ele foi ao Canadá por duas vezes. Fez sucesso por lá e consolidou uma carreira internacional  (por mais curta que fosse). Por essa época começaram a chegar propostas tentadoras ao escritório do Coronel Parker. Empresários de outros países como Inglaterra, França e Alemanha, queriam contratar a nova sensação da música americana para realizar turnês em seus respectivos países. O Coronel recusou uma por uma as propostas, mesmo com cachês oferecidos que equivaliam ao triplo do que Elvis vinha ganhando ao se apresentar em algumas cidades americanas. O motivo todos sabem. O Coronel Parker era imigrante ilegal e por isso não podia tirar seu passaporte. Sem passaporte nada de viagem e ele certamente não deixaria Elvis viajar sozinho pois tinha receios de que perdesse seu passe para algum empresário estrangeiro que caísse nas graças do cantor.

Em entrevistas Elvis sempre estava falando em fazer uma turnê na Inglaterra - era um de seus sonhos. O Coronel o levava na conversa dizendo que eles deveriam esperar por propostas melhores e Elvis caía na lábia de Parker. O problema é que essa proposta de fato nunca seria aceita, em hipótese alguma, pelos motivos já explicados. Ao invés de ir para a Europa Elvis voltou ao Canadá em agosto. Ele se apresentou em Vancouver no Empire Stadium. Outro sucesso de público e crítica. Depois disso fez uma pequena e restrita turnê por três cidades importantes: Seattle, Portland e Tacoma. Foram concertos sem maiores incidentes onde Elvis procurou dar o melhor de si mas sem se cansar muito.

Seu teste de fogo nesse ano aconteceu no Pan Pacific Auditorium nos dias 29 e 29 de outubro de 1957. Nesses dois concertos Elvis estava disposto a impressionar o público. Havia muitos figurões e celebridades de Hollywood na platéia. Como Elvis almejava consolidar sua carreira de ator ele procurou dar o melhor de si para mostrar toda a extensão de seu talento como performance. Ao adentrar o palco ele parecia elétrico, realmente empenhado em fazer a melhor apresentação de sua vida. Elvis não parou um só minuto, dançando, requebrando, caindo no chão, usando o microfone ora com ternura e ora com fúria. Queria colocar tudo o que havia aperfeiçoado naqueles anos todos num único concerto. Ao seu lado no palco estava um enorme e inconveniente boneco de Nipper, o cãozinho símbolo da Radio Corporation of America (RCA), sua gravadora. Elvis olhou para aquele mascote e resolveu brincar com ele. Já que não havia como ignorar aquele boneco enorme então seria melhor usá-lo como parte do show. No começo começou a cantar abraçado ao bichinho mas depois começou a rolar pelo chão com o boneco. O público foi ao delírio. Elvis ria, se insinuava, parecia se divertir como nunca! Mal sabia ele na confusão em que estava se metendo.

Foi um prato cheio para os jornais sensacionalistas. No outro dia Elvis estava sendo acusado de ter "possuído" um cachorro no meio do show! Um claro exemplo de exibicionismo erótico e barato segundo seus críticos mais ferozes. Os conservadores arrancaram os cabelos da cabeça! Ele estava incentivando atos de Zoofilia? Meu Deus prendam esse representante de Satã na terra! O que esse marginal estava afinal querendo? Denegrir toda a moral da sociedade americana? Quem ele pensava que era? A ala mais retrógrada da sociedade americana estava chocada com os acontecimentos! Um exaltado jornalista perdeu a postura e atacou ferozmente Elvis, dizendo que tal como a Juventude Hitlerista havia corroída a alma da juventude alemã, Elvis estava corroendo a juventude americana em seus valores mais fundamentais e básicos. Era a reencarnação de Hitler! Após dizer que seus fãs clubes eram centros de incentivos para orgias, drogas, bebedeiras e delinquência juvenil sugeriu que Elvis fosse contido, se possível respondendo a um pesado processo criminal. Terminou o texto ironizando afirmando que após trancafiar o "mal em pessoa" a chave deveria ser jogada fora para não haver perigo dele voltar às ruas! A notícia se espalhou rapidamente e assim Elvis se viu no meio da maior polêmica de sua carreira até então. E isso tudo porque ele apenas rolou com Nipper pelo chão durante o show! Sem dúvida muitos queriam sua cabeça numa bandeja naquela época. O pior é que ele faria um outro concerto no mesmo local na noite do dia seguinte. Sem hesitar o chefe do departamento de polícia local mandou filmar toda a apresentação. Se Elvis voltasse a fazer alguma barbaridade iria para a prisão na mesma hora! Joguem esse louco na cadeia!!! – esbravejavam os líderes religiosos pentecostais!

Quando o show começou e Elvis entrou no palco caminhando lentamente e calmamente ele se deparou com todos aqueles tiras ao redor, com alguns deles filmando cada gesto, cada detalhe. Eles queriam pegar o flagra de Elvis e Nipper naquele enlace imoral! Elvis parou, olhou tudo aquilo e deu um sorriso irônico dizendo: "Eu vou ser um anjo essa noite"! Todos riram. Anos depois Elvis brincaria dizendo que não poderia mexer nem o dedinho da mão pois isso poderia ser considerado imoral e indecente. Para os setores conservadores isso iria dar uma lição no cantor e significaria o fim de sua carreira. Quem iria comprar um disco daquele Rasputin maníaco depois de tudo aquilo?! Pensaram errado. O fato trouxe uma publicidade jamais vista a Elvis e ele ficou mais famoso ainda. Os jovens que o idolatravam agora o endeusaram completamente. Elvis era o novo James Dean, o novo rebelde, o carinha muito louco que no palco colocava pra quebrar mesmo! Ele encarnava toda a rebeldia dos jovens do mundo! O que aqueles velhos sabiam sobre música e Rock ´n´ Roll? Nada, absolutamente nada!

Um mês depois de todo esse rebuliço Elvis chegou ao Havaí pela primeira vez. As ilhas, que teriam um papel fundamental em sua carreira no futuro, o receberam de braços abertos. Foi uma viagem produtiva e divertida onde Elvis esfriou a cabeça. O fim do ano chegou e Elvis se recolheu em sua nova mansão, Graceland. Ele havia comprado a enorme casa por cem mil dólares. Era uma velha residência no mais puro estilo sulista. Elvis que era extremamente caseiro ficou duplamente gratificado. Estava ao lado de seus pais queridos, tinha vários discos e singles nas paradas e seus filmes tinham se tornado grandes sucessos de bilheteria. Não faltava mais absolutamente nada e ele se sentia feliz e realizado, tanto profissionalmente como pessoalmente. Ao contrário da imagem que seus shows no Pan Pacific construíram, a do rebelde sem causa com guitarras, a verdade pura e simples era que Elvis não era em sua vida privada uma pessoa rebelde, que queria abalar as estruturas da sociedade. Muito pelo contrário. Presley era acima de tudo um rapaz família, que adorava estar junto de seu pai e sua mãe, curtindo a privacidade de sua nova mansão. Dentro de Graceland Elvis podia relaxar completamente, sem temer qualquer tipo de invasão de sua vida privada. Dentro dos muros de sua casa ele voltava a ser o mesmo Elvis de Tupelo. Uma pessoa brincalhona, cercado pelas pessoas que ele entendia ser de plena confiança. Com Gladys ao seu lado desenvolveu uma divertida linguagem de bebê - ele falava como uma criança pequena com Gladys e ela respondia a ele no mesmo tom! Ninguém entendia nada do que falavam entre si mas invariavelmente Elvis caia no chão de tanto dar risadas com essa brincadeira. A felicidade era plena e reinava em cada canto de sua querida Graceland! Era seu sonho se tornando realidade.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis e Yvonne Lime

Elvis conheceu Yvonne Lime no set de filmagens de Loving You. Filmes assim, com muitos jovens em cena, exigiam uma quantidade extra de “gatinhas” para figuração. Yvonne era uma delas. Ao contrário das demais não ficou se atirando em cima de Elvis o tempo todo durante as gravações o que talvez tenha chamado sua atenção. Após alguns desencontros entre uma cena e outra Elvis finalmente conseguiu ficar a sós com ela. Começou aí um dos milhares de “namoricos” que Elvis teria com tietes e atrizinhas nos estúdios de Hollywood, onde passaria grande parte de seu tempo a partir de agora. O curioso em relação a Yvonne é que Elvis parece ter se afeiçoado bem a ela, ao ponto inclusive de levá-la para Memphis na Páscoa de 1957 para que ela conhecesse seus pais – e tudo isso bem debaixo do nariz de Anita Wood!

Logo ambos estavam em um namorinho do tipo “chove não molha”. Ela vinha e ia de acordo com a vontade de Elvis. Yvonne por sua vez não deixou de reparar algumas coisas curiosas no modo de ser do namorado. Ao contrário de todo jovem americano que assim que entra na maioridade fica louco para ir embora morar sozinho, Elvis não tinha qualquer plano nesse sentido. Ele adorava seus pais e não tinha a menor intenção de ir morar longe de sua mãe Gladys. Outro detalhe que chamou atenção em Yvonne era o gosto musical do namorado. Na época em que Elvis era considerado o roqueiro número 1 do mundo ele simplesmente não ouvia nada do gênero em casa. Na coleção de LPs de vinil do Rei do Rock simplesmente não havia discos de rock. Ao invés disso Elvis passava horas ouvindo música gospel em sua recente vitrola (ou victrola), dada de presente por sua gravadora, a RCA Victor. Quando dava um tempo nas músicas religiosas Elvis sintonizava a estação country de Memphis.

O cantor também tinha criado fascinação por motos e cinema. De fato seu programa preferido nas horas de lazer era assistir algum filme no cinema local durante as madrugadas – Elvis invariavelmente tinha que pagar do próprio bolso o projetista pois poucos topavam passar a noite trabalhando para um único espectador. A grande quantidade de caras ao redor de Elvis também deixou a atriz surpresa. Onde quer que ia Elvis se via acompanhado por seis, dez, algumas vezes até doze amigos a tiracolo. Nessas ocasiões tudo era pago pelo cantor – da entrada do cinema ao refrigerante consumido por seus amigos. Se Elvis ria, todo mundo ria, se ele ficava sério, todo mundo ficava em silêncio. Se pedisse um refrigerante os caras se atropelavam entre si para ver quem pegava a garrafa primeiro. Yvonne logo percebeu que a maioria deles eram simples puxa-sacos. Era o começo daquilo que anos depois ele iria chamar de Máfia de Memphis.

O breve romance de Yvonne e Elvis terminou de forma abrupta depois que ela de volta a Hollywood confessou a uma revista de fofocas que estava namorando ele. Elvis sentiu-se traído e em sua concepção Yvonne havia ultrapassado uma linha que ele não admitia ser transposta – aquela que revelava algum aspecto de sua vida pessoal para a grande imprensa. Quando Elvis “descurtia” alguém não tinha mais volta e assim Yvonne deixou de fazer parte de seu círculo íntimo. Foi descartada.

Yvonne só veria Elvis pessoalmente novamente na década de 70. Em 1975 ela e o seu segundo marido foram a Las Vegas assistir a uma apresentação do cantor. Depois  usando de sua influência como atriz de cinema conseguiu encontrar Elvis nos bastidores. Ela não gostou nada do que viu. Elvis estava muito acima do peso e parecia meio desnorteado, sem saber direito quem ela era. Só depois de apresentados é que ele finalmente se lembrou: “Ah, é você! Como tem passado querida?”. Cordial e educado Elvis procurou ser, como sempre, um exemplo da velha educação sulista. Perguntou como estavam as coisas e depois se desculpando disse que teria que ir embora pois tinha “compromissos demais para uma só pessoa”. Essa seria a última vez que Yvonne veria Elvis Presley pessoalmente. Em 1977 ela soube da morte de Elvis pois na TV não se falava de outra coisa. Ficou obviamente chocada mas não muito surpresa pois o estado de saúde de Elvis era sempre comentado no meio artístico de Los Angeles. Muitos anos depois ainda tencionou visitar Graceland que agora tinha visitação pública aberta mas desistiu de última hora. Para quem teve o privilégio de ser uma pessoa tão próxima dele em vida não havia muito sentido em visitar agora a velha e solitária mansão.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis e Judy Tyler

Mal Elvis terminou de rodar "Loving You" na Paramount e ele foi para a MGM iniciar os trabalhos de seu filme seguinte, "Jailhouse Rock". Isso demonstrava bem o caminho que sua carreira iria seguir nos anos que viriam. Um filme atrás do outro, trilhas sonoras e muita publicidade dos estúdios de Hollywood. A produção de "Jailhouse Rock" era mais modesta do que a do filme anterior do cantor. Há muito tempo que os anos de glória tinham passado para a Metro. O estúdio que foi o maior e mais rico do cinema americano vivia em crise e só não fechava as portas porque conseguia todos os anos pelo menos um grande sucesso de bilheteria que acabava amenizando os prejuízos dos demais filmes. Foi essa a razão da MGM ter tanta pressa em lançar um filme com Elvis. Eles queriam aproveitar o calor do momento em que o jovem cantor era o nome mais quente da música americana. Se havia dado certo na Fox com "Love Me Tender" e na Paramount com "Loving You" então daria certo novamente na MGM. Por uma questão de cortes no orçamento o filme seria em preto e branco e não haveria nem sinal do Technicolor berrante da produção de Hal Wallis.

Para contracenar com Elvis a Metro trouxe a starlet Judy Tyler, prata da casa. Judy era uma garota bonita, estilo pin-up, com cabelos pretos curtos e traços marcantes. Ela estudava ballet e sonhava com a carreira de atriz, mas ainda era bem inexperiente, com apenas um filme no currículo, o musical B "Bop Girl Goes Calypso". Fora isso nada demais a não ser pequenas participações em séries de TV. A verdade é que ela era apenas uma jovem tentando emplacar no concorrido mercado de jovens atrizes de Hollywood. Elvis e Judy fotografavam muito bem juntos. Para se sair melhor na tela, Elvis foi aconselhado pelo diretor Richard Thorpe a escurecer ainda mais seus cabelos, na tonalidade mais escura que encontrasse. Assim ficaria bem melhor na fotografia preto e branco da produção. Foi então que Elvis optou pela tinta mais negra existente no mercado. Além disso os técnicos em cabelos e maquiagem da Metro fizeram um tratamento especial em seus cabelos que o deixaram mais crespos, bem longe dos longos cabelos lisos que ele desfilou na tela em seus filmes anteriores. Fazia parte da caracterização de seu novo personagem, chamado Vince Everett, que bem ao contrário do traumatizado Deke Rivers de "Loving You", era um sujeito durão e brigão que não levava desaforo para casa. Se Rivers tangenciava os personagens encucados de James Dean, Everett era o mais próximo que Elvis chegou dos perigosos personagens de Marlon Brando como o motoqueiro Johnny de "O Selvagem".

Infelizmente "O Prisioneiro do Rock" seria o último filme de Judy Tyler. Por um desses trágicos acontecimentos do destino ela morreria logo após encerradas as filmagens em um terrível acidente de carro, ceifando sua vida na flor da idade. Ela tinha apenas 24 anos quando morreu, coincidentemente a mesma idade em que James Dean faleceu, pois o ator também morreu em um acidente semelhante dois anos antes. Judy vinha ao lado do marido numa estrada perto da cidade de Rock River no Wyoming quando seu esposo perdeu o controle do carro, que acabou derrapando na pista, indo de encontro a um veículo que vinha no sentido oposto. O choque foi certeiro e fatal. Com a batida Judy morreu instantaneamente. Seu marido ainda resistiu por algumas horas após o acidente, mas também faleceu no dia seguinte no hospital da cidade. Uma pessoa que vinha no outro carro também não resistiu aos ferimentos e também morreu.

A notícia chocou Elvis! Muito abalado, foi aconselhado a não comparecer ao funeral da colega. Em seu lugar o Coronel Parker soltou uma nota para a imprensa, assinada também pelos pais de Elvis, que dizia: "Elvis se sente profundamente entristecido com a morte da atriz Judy Tyler. Por essa razão decidiu não comparecer ao seu funeral. Sua família entende ser essa a melhor decisão para ele. Elvis deseja se lembrar de sua amiga tal como ela era. A família Presley, com grande pesar, enviará flores em homenagem à querida amiga que deixará muitas saudades".

O fato chocou tanto Elvis e a tal ponto que ele praticamente baniu o filme de sua vida. Ver Judy ali ao seu lado contracenando e saber que ela morreu de forma tão precoce e sem sentido o deixava terrivelmente deprimido. Na década de 1960 quando sua paixão pelo cinema aumentou, Elvis sempre procurava rever seus antigos filmes menos "Jailhouse Rock" e "Loving You". O primeiro lembrava a morte de Judy Tyler e o segundo o falecimento de sua querida mãe, pois Gladys surgia em um cena de "Loving You", na última sequência quando aparece batendo palmas ao lado do filho no meio da plateia durante a última canção do filme; Segundo os amigos mais próximos de Elvis, sua aversão ao filme "Jailhouse Rock" se tornou tão acentuada que ele evitava ver até mesmo ver o material promocional do filme como posters e fotos. De qualquer modo o filme realmente ficou como o último registro da atriz nas telas de cinema. Um testamento de sua potencialidade que infelizmente jamais se confirmou.

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de março de 2005

Elvis Presley - Elvis e Lizabeth Scott

Quando Elvis chegou em Hollywood para finalmente estrelar "Loving You", o produtor Hal Wallis o apresentou imediatamente para a atriz Lizabeth Scott. Naquela altura ela já era uma veterana das telas, tendo estreado no cinema na década de 40. Scott era uma revelação do produtor que tentou por vários anos a transformar numa estrela. Seu plano era muito simples, transformar Lizabeth Scott numa nova Elizabeth Taylor. Ambas tinham origem inglesa e um porte elegante. Desse modo  Wallis acreditava que a escalada rumo ao topo seria apenas questão de tempo. Sempre a escalando em seus filmes, ele foi tentando abrir caminho para sua protegida, mas as coisas não pareciam dar muito certo. A imprensa de Hollywood não comprou a ideia de transformar a atriz numa estrela. Lizabeth Scott poderia até se tornar uma segunda Lauren Bacall, uma versão loira da grande estrela da MGM. Porém os planos do produtor nunca deram certo. Lizabeth Scott assim acabou sendo apenas uma boa atriz, uma coadjuvante interessante para bons filmes.

Em 1957 ela foi escolhida para fazer parte do elenco de "Loving You" (A Mulher que eu amo, no Brasil). Esse seria o segundo filme estrelado por Elvis Presley. Hollywood apostava no cantor para ele se tornar uma espécie de "Novo James Dean". Lizabeth Scott seria uma atriz mais experiente em um elenco com muitos jovens, inclusive Elvis e Dolores Hart. O produtor Hal Wallis acreditava que o casal formado por Elvis e Dolores era muito jovem e inexperiente, sem condições de levar um filme daquele porte sozinhos. Era precisa alguém com mais experiência por perto. Lizabeth Scott iria cumprir justamente essa função.

Assim Lizabeth vinha para contrabalancear a inexperiência do casal principal e trazer um pouco mais de conteúdo dramático nas cenas. Logo no começo das filmagens ela percebeu que iria se dar bem com Elvis. Numa primeira impressão ela chegou a pensar que ele poderia sofrer de algum estrelismo por causa de seu sucesso como cantor, mas isso não aconteceu. Elvis sempre pareceu prestativo e atento em suas dicas de interpretação. Ao invés de se comportar como um arrogante, Elvis foi inteligente e procurou aprender com a atriz, que sempre surgia dando palpites e dicas para ele. Entre uma cena e outra Lizabeth ensaiava com Elvis as falas, a postura, a forma de agir diante das câmeras. De fato ela acabou se tornando uma professora de atuação para Elvis durante as filmagens, uma vez que ele nunca havia estudado teatro ou qualquer outro curso para atuar bem.

As filmagens foram tranquilas, sem sobressaltos. Se dentro do set tudo corria em paz, fora dele as coisas eram bem mais complicadas. Na época Lizabeth Scott tinha que lidar com muitos problemas, inclusive em sua vida pessoal. Havia uma série de boatos afirmando que na verdade ela era lésbica. Dentro do meio cinematográfico sua suposta homossexualidade já era bem conhecida. Ela seria assim uma das mais famosas lésbicas de Hollywood na era clássica. A grande preocupação era que esse seu segredo fosse divulgado ao grande público o que arruinaria sua reputação e carreira. Revistas de escândalos como a Confidential estavam no pé da atriz durante as filmagens de "Loving You". A comunidade de Hollywood sempre procurava se proteger sobre isso, respeitando a orientação sexual homossexual de seus membros, mas a imprensa não. Muitos jornalistas queriam o escândalo para vende jornais e revistas.

Hal Wallis sabia dos riscos, mas resolveu apoiar sua atriz. Havia sempre uma tensão no ar quando um novo número da revista sensacionalista chegava nas bancas. A ansiedade e o medo parecem ter sido decisivos para uma decisão radical tomada pela atriz após as conclusões das filmagens. Assim que o diretor gritou "corta" pela última vez, ela se reuniu com Wallis nos camarins e lhe comunicou que era o fim. Não mais atuaria no cinema, estava farda de tanta pressão e tensão. Ela não queria mais ser pressionada, nem ser alvo de fofocas. Queria viver sua vida privada em paz, ser feliz acima de tudo. Lizabeth simplesmente se encheu de tudo e todos e partiu para uma vida reclusa, longe dos holofotes. Não queria sofrer aquele tipo de constrangimento.

De fato ela só retornaria às telas uma única vez em 1972 para uma pequena participação em um filme de um amigo. Fora isso decretou adeus a Hollywood com esse filme de Elvis. Para os fãs do cantor só restou o agradecimento. Assistindo ao filme hoje em dia, podemos perceber nitidamente a importância de Lizabeth Scott na produção. As cenas mais fortes, do ponto de vista dramático, pertencem a ela. Sua experiência e ótima presença cênica fizeram toda a diferença do mundo no resultado final. Elvis e Dolores Hart eram dois jovens inexperientes perto da longa caminhada que Scott já vinha trilhando. Caminho esse que ela resolveu abandonar após as filmagens de seu primeiro e único filme ao lado de Elvis Presley. Um adeus marcante de uma atriz talentosa que nunca chegou ao estrelado, mas que deixou sua marca registrada em vários filmes durante sua conturbada carreira.

Pablo Aluísio.  

Elvis Presley - Elvis e Dolores Hart

Ela tinha um futuro promissor. Era considerada a estrela do amanhã por uma grande publicação em Hollywood e tinha conseguido assinar seu grande contrato com a Paramount no valor de 1 milhão de dólares. Tudo parecia caminhar muito bem para ela até que desistiu de tudo para abraçar uma vida religiosa enclausurada em um convento Beneditino na zona rural de Connecticutt. Lida assim a história da vida da atriz Dolores Hart mais parece um roteiro, mas não é. Em 2011 ela finalmente voltou às telas no documentário "Deus é o Elvis Maior", que concorreu ao Oscar em sua categoria. Desde 1962 Dolores não pisava em uma noite de premiação da Academia mas voltou para ajudar na divulgação do filme. Vestida com o hábito de freira ela chamou atenção por onde passou. Aos 73 anos, sorridente e simpática, encantou a todos os presentes.

Ainda bonita, com lindos olhos azuis que lhe valeram por anos uma comparação com a diva Grace Kelly, Dolores aos 18 anos teve o privilégio de ser a atriz que pela primeira vez beijou Elvis Presley em um filme. Foi em "Loving You" (A Mulher Que Eu Amo, no Brasil), um musical que captou o jovem Rei do Rock no auge da carreira e da beleza. Sobre Presley ela só tem coisas boas a dizer: "Ele era uma pessoa muito doce. Muito amigo e companheiro nas filmagens. Éramos muito jovens e inexperientes então nos ajudamos mutuamente. Ele adorava James Dean e Marlon Brando e queria ter uma carreira como a deles. Se empenhava muito nas cenas e levava tudo muito à sério". Elvis inclusive compareceu a sua festa de aniversário realizada com a nata jovem de Hollywood presente para lhe homenagear.

O sucesso de Loving You abriu ainda mais as portas para Dolores em Hollywood. Ela foi escolhida pelo próprio mestre do suspense Alfred Hitchcock para aparecer em seu famoso programa de TV e depois foi selecionada por um dos grandes cineastas do cinema americano, George Cukor, para aparecer no clássico "A Fúria da Carne". Ela voltou a trabalhar com Elvis Presley em "Balada Sangrenta" mas começou a sentir a pressão de ser uma jovem starlet na capital do cinema. Havia muita competição na luta pelos papéis e aos poucos Dolores foi percebendo que não mais se sentia feliz com sua carreira de atriz. Ela fez nove filmes em cinco anos e foi ficando cada vez mais cansada daquele ambiente. Em 1963 participou de seu último filme, "Come Fly WIth Me" onde interpretava uma aeromoça. Estava noiva e compromissada mas deu uma reviravolta em sua vida resolvendo finalmente abraçar uma existência religiosa cristã. Após passar alguns dias de férias em uma distante propriedade em Connecticut ela resolveu conhecer a abadia local e se encantou com a paz do lugar. Após pensar muito resolveu virar freira, algo que foi visto com desconfiança pela Madre Superiora que não acreditava que uma atriz de Hollywood poderia se tornar uma religiosa praticamente da noite para o dia. "Levou três anos e muitas visitas ao convento para que as freiras finalmente acreditassem em mim e me dessem as ordens sagradas" relembra Dolores.

"Eu não entendo porque as pessoas se surpreendem tanto por eu ter abraçado o caminho de Deus! Elas possuem dúvidas sobre isso? Eu não!" - resume Dolores. Sobre o passado Dolores ainda guarda boas lembranças. "Elvis veio ao meu aniversário, tocou clarinete e depois sentou ao piano para tocar algumas canções. Era uma pessoa divertida, com ótimo humor mas que mantinha uma certa timidez que era muito charmosa. Era um cavalheiro, um exemplo de simplicidade. Guardo boas lembranças dele". Apesar do que foi fofocado na época nada houve entre eles nas filmagens, apenas uma sincera amizade. Dolores já estava de caso sério com o arquiteto Don Robinson que anos depois, desiludido por Dolores ter virado freira, jamais se casou, sempre a visitando quando possível em seu convento de reclusão. A atriz porém continuou membro da Academia, votando todos os anos nos concorrentes ao Oscar. Ela poderia ter sido uma grande atriz com o status de uma Elizabeth Taylor, quem sabe? De qualquer forma preferiu virar uma estrela de Cristo. "Quem afinal consegue entender os caminhos que Deus traça para todos nós?" - pergunta Dolores ao final.

Pablo Aluísio.  

sexta-feira, 11 de março de 2005

Elvis Presley - Shows no Canadá, 1957

Em abril de 1957 Elvis Presley realizou aquela que seria sua primeira excursão internacional. Foi no vizinho Canadá onde Elvis se apresentou em concertos nas cidades de Toronto e Ottawa. É inacreditável, mas um dos cantores mais populares de todos os tempos nunca realizou shows na Europa, nem no Japão, nem em lugar nenhum fora dos Estados Unidos. O único país estrangeiro que teve a honra de receber um show de Elvis foi justamente o Canadá! Como isso foi possível? Elvis lotaria shows em qualquer lugar no mundo tamanha era sua popularidade nessa época, mas o astro não saía de seu país de jeito nenhum! Esse fato incomum até hoje chama a atenção de estudiosos e fãs de Presley.

A verdade pura e simples é que seu empresário, o astuto Tom Parker, era um imigrante ilegal nos EUA e por isso não conseguiria tirar seu passaporte. Assim se ele não viajava, Elvis também não viajaria. Absurdo? Claro que sim. O mundo se viu privado de ver Elvis ao vivo porque em última instância seu empresário era um estrangeiro que não poderia viver nos EUA de forma legal. Aliás ele nem se chamava Tom Parker na verdade, esse era um nome falso. Ele na realidade era holandês e seu nome real era Andreas. Algumas biografias até chegam a afirmar que Parker tinha fugido de seu país natal por ter assassinado uma mulher. Verdade ou não? Hoje, passados tantos anos, fica mais complicado chegar na versão real do que de fato aconteceu.

De qualquer modo os canadenses tiveram a oportunidade de ver o grande Rei do Rock no auge de sua carreira. Elvis surgiu no palco de dourado, uma nova roupa de shows feita especialmente para os concertos mais importantes. Era um novo visual condizente com seu status de “garoto de ouro da indústria fonográfica”. Sorridente, solícito, Elvis esbanjou simpatia por onde passou. Parou para atender fãs, acenou, distribuiu gentilezas e até falou com a imprensa canadense que o tratou como se o próprio Messias tivesse chegado no solo de seu país. As apresentações foram obviamente grandes sucessos de bilheteria, lotando os locais dos concertos. O ponto alto da turnê foi seu show em Ottawa. A presença de Elvis mudou a rotina do lugar. Centenas de ônibus lotados de jovens das cidades vizinhas chegaram na cidade. Muitos não encontraram vagas nos hotéis que ficaram completamente tomados por fãs vindos de todos os lugares do país. Perto da hora do show o trânsito parou tamanha a quantidade de gente se deslocando para ir na arena onde Elvis se apresentaria. Quando o cantor subiu ao palco a gritaria foi tamanha que ninguém conseguia ouvir nada. Era ensurdecedor. Pra falar a verdade nem eles mesmos conseguiram se ouvir. Elvis e o grupo foram na garra, sem retorno nenhum, contando apenas com seus instintos. O sistema de som para concertos ao vivo na década de 50 era muito primitivo e não conseguia soar mais alto do que milhares de adolescentes gritando ao mesmo tempo – era simplesmente impossível. Como ninguém conseguia ouvir, Elvis resolveu caprichar nas poses, na dança e nos trejeitos. Se não podiam lhe ouvir pelo menos as fãs o veriam dessa forma!

A polícia local certamente não estava preparada. A multidão começou a se espremer para ficar mais perto do palco e por pouco não houve um esmagamento em massa de quem estava nas primeiras fileiras. Elvis não deixou barato e procurou dar o melhor de si, ora chegando perto de seus fãs, ora se jogando no chão, se retorcendo, esticando o braço, pedindo ajuda – era demais para as garotinhas que foram literalmente ao delírio! O concerto foi rápido, mas intenso. Duas das músicas da lista que havia sido previamente distribuída aos músicos ficaram de fora, sem maiores explicações. Elvis simplesmente as pulou, indo direto para a última canção. Talvez ele estivesse com receio de que alguém fosse morto naquele mar de gente.

Quando os acordes finais soaram ele simplesmente deu no pé, deixando o pedestal do microfone balançando. As fãs gritaram em desespero, mas o show estava encerrado. Elvis nunca dava bis, essa era uma regra não escrita. No outro dia, como sempre acontecia, choveram protestos dos mais conservadores. Uma liga cristã, formada basicamente por donas de casa que odiavam rock, publicou um manifesto nos jornais condenando o show, afirmando que Elvis era “um péssimo exemplo para a juventude” e que uma mãe consciente jamais deixaria suas filhas irem a um antro de indecência como aquele. Ninguém ligou pois isso já tinha virado rotina e um tremendo clichê. Elvis se apresentava, as fãs amavam e no outro dia os conservadores protestavam. Era previsível. Elvis nem tomou conhecimento desses fatos, em breve ele estaria de volta aos estúdios de cinema para um novo filme e isso o deixava elétrico, excitado. Assim que seu avião decolou do Canadá ele celebrou com amigos o sucesso de sua excursão. O céu era realmente o limite para Elvis Presley nessa fase de sua vida. O mundo não tinha mais fronteiras para ele.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Ed Sullivan Show, 1957

Logo no começo de 1957 Elvis teve que cumprir uma série de compromissos. Anos depois ele diria ao Coronel Parker que não mais assinasse contratos em que ele tivesse que trabalhar no período que ia do Natal até seu aniversário no dia 8 de janeiro. Elvis queria esse tempo para descansar, para curtir um pouco, afinal ele era apenas um jovem como qualquer outro. Isso porém não ocorreu em 1957 e assim Elvis teve que interromper suas rápidas férias para cair na estrada novamente, gravar novas músicas e participar do último programa de TV com Ed Sullivan. No dia 4 de janeiro Elvis teve que cumprir suas obrigações com o serviço militar que se avizinhava.

Ele foi até o Hospital dos Veteranos para o exame médico. Foi classificado como apto ao serviço militar. A notícia não passou despercebida pela grande imprensa. Muitos afirmaram que ele seria dispensado para no máximo entreter as tropas. Algo que muitos artistas fizeram durante a II Guerra Mundial. A reação foi imediata. Medalhões e veteranos protestaram e foram às rádios para dizer que Elvis Presley, independente de sua fama e sucesso, deveria prestar suas obrigações com o país como qualquer outro jovem de sua idade. Isso pegou Elvis e o Coronel Parker de surpresa pois eles nunca tinham se manifestado sobre Elvis ir ou não para o exército americano. Nem mexeram pauzinhos para algum figurão liberar Elvis da farda. Essa reação negativa foi mais fruto do sensacionalismo da imprensa americana do que qualquer outra coisa. Mas como Elvis não iria de imediato para o serviço militar regular (se fosse chamado só prestaria serviço efetivo no ano seguinte), o assunto foi deixado de lado e ele seguiu em frente com sua carreira.

Dois dias depois desse exame Elvis chegou em Nova Iorque para sua última apresentação no Ed Sullivan show do canal CBS. Ao lado da banda decidiu incluir grandes sucessos como Love Me Tender, Heartbreak Hotel, Don´t Be Cruel e Hound Dog ao lado das menos famosas When My Blue Moon Turns To Gold Again e Peace In The Valley. Essa última música era um gospel que o cantor adorava e que ele pretendia gravar em breve no estúdio. Por fim ainda arranjaram espaço para encaixar Too Much, seu último single nas lojas. Nos bastidores Elvis surgiu bem mais relaxado do que das outras ocasiões.

Ela já tinha seu nome consolidado e não era apenas um novato tentando impressionar como em 1956. Para Ed Sullivan era mais uma ótima oportunidade de elevar sua audiência às alturas. Ninguém tinha ainda esquecido os números das últimas aparições de Presley em seu programa. Houve uma tentativa por parte da CBS em assinar com Elvis a realização de mais seis aparições do cantor no programa mas o Coronel Parker não demonstrou mais nenhum interesse. O velho empresário estava de olho no cinema. A TV havia se tornado um veículo muito acanhado para seus planos. Há poucos dias Elvis havia assinado com Hal Wallis, o famoso produtor de Hollywood, a realização de um novo filme na Paramount, um dos estúdios de ponta da capital do cinema. Wallis tinha grandes planos para Elvis. O Coronel também explicou sua nova filosofia para Presley: “Daqui em diante quem quiser ver você de novo que pague um ingresso de cinema”. Elvis achou ótima a idéia. Ele queria se tornar ator de cinema pois a carreira de cantor não lhe trazia muita segurança em relação ao seu futuro. Além disso ele tinha mostrado jeito para a coisa em “Love Me Tender”.

No final do programa o apresentador Ed Sullivan resolveu falar algumas palavras de apoio a Presley. O chamou de um "jovem decente" e defendeu o artista contra os que o acusavam de incentivar a delinquência juvenil. Novamente a apresentação foi campeã em audiência mostrando a força do nome Elvis Presley no mundo do entretenimento. Depois da transmissão do programa, que foi um grande sucesso, Elvis caiu na estrada novamente. As turnês eram cansativas e em alguns shows coisas inusitadas aconteceram. Em um concerto na Pennsylvania Sports Arena, bem no meio de sua apresentação alguém jogou um ovo nele que pegou seu violão em cheio, bem no alvo. Ele tentou levar na esportiva. Enquanto a casca do ovo e sua gema deslizavam pela tampa do violão, Elvis resolveu parar a música. Após fazer uma careta disse: “A maioria das pessoas que estão aqui vieram para apreciar o show. O cara que jogou o ovo nunca vai conseguir isso. O que eu quero dizer é que queremos fazer uma apresentação legal para vocês, acima de tudo”. Os engraçadinhos que jogaram o ovo foram presos pela polícia. Eram alguns valentões que afirmaram na delegacia que não gostavam de Elvis e nem de sua música. O fato logo foi esquecido e Elvis partiu em viagem novamente. Afinal eram ossos do ofício. Seu próximo compromisso era com a RCA. A gravadora queria novas músicas o mais rápido possível pois a “lata estava vazia” – tudo o que Elvis havia gravado já tinha sido lançado no mercado. Novos sucessos viriam por aí e os fãs não perderiam por esperar.

Pablo Aluísio