quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Elvis Presley - FTD King Creole
Colocar todos aqueles músicos em sincronia realmente não foi um trabalho fácil dentro dos estúdios. Mas Elvis sabia lidar muito bem com esse tipo de situação. Como sempre Elvis usava o bom humor e a descontração dentro dos estúdios para aliviar a tensão e a ansiedade do grupo. As sessões de gravação foram realizadas nos estúdios da RCA Victor Radio Recorders, em West Hollywood, California em janeiro de 1958. Walter Scharf foi o produtor, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar. Em fevereiro Elvis voltaria aos estúdios para alguns complementos e acabaria gravando uma nova música chamada "Danny" que acabou ficando de fora do álbum original, embora fosse uma bela balada, bem de acordo com o contexto do filme, uma vez que Danny era o nome de seu personagem.
Como escrevi, muita coisa se perdeu dessas sessões. A RCA não teve o cuidado de guardar grande parte do material descartado na época. E o que sobreviveu das sessões de King Creole? Pouca coisa realmente. As sessões foram longas e exaustivas e era de se supor que muita coisa fosse realmente gravada, mas grande parte das fitas originais foram simplesmente perdidas ou apagadas, não se sabe ao certo. Assim além das versões oficiais que conhecemos sobrou pouca coisa e esse FTD King Creole retrata bem isso. Para compensar a falta de material o selo resolveu apostar numa edição caprichada com um livro recheado de fotos (algumas inéditas) e muitas informações impressas. Direção de arte muito caprichada e bonita.
Claro que nada disso vai preencher a lacuna do que se perdeu mas dentro do possível é realmente o que podemos contar. Até mesmo “Danny”, a famosa música não usada na trilha, surge tímida. Aliás até hoje a exclusão de “Danny” do disco oficial causa debate. A canção não pode ser considerada uma das melhores coisas da trilha sonora, mas tem seus méritos, principalmente na vocalização do grupo de apoio de Elvis. Já a versão do filme de “As Long As I Have You” que ouvimos aqui é muito boa. A voz de Elvis praticamente sussurrada é um ponto alto, assim como “Lover Doll”, em versão bem simples, apenas com violão. De uma simplicidade cativante. Dois casos em que a simplicidade é tudo! Se as anteriores são caracterizadas pela singeleza o take 3 de King Creole peca pelo excesso. Há um exagero nos arranjos de metais ao fundo que torna a sonoridade estranha, pouco atrativa. Ainda bem que os produtores e Elvis perceberam isso e cortaram alguns instrumentos na versão oficial.
E o que dizer do take 18 de King Creole? Parece outra canção tal a mudança em sua velocidade. Os Jordanaires estão mais presentes e Elvis parece não levar nada muito a sério – lá pela metade da gravação ele percebe que aquela melodia certamente não tinha nada a ver mesmo. Esse registro é curioso mas foi descartado logo. É um take alternativo que definitivamente não deu certo. O CD se encerra com a “Alma Mater” Steadfast, Loyal And True. Muita gente não gosta dessa música, mas em minha opinião ela foi salva pela ternura e inocência típicas da década de 1950. Enfim, é isso. Quem sabe um dia a sessão completa não venha a surgir por aí. Possa ser que os tais registros perdidos ainda existam. Aqui vale a máxima: “A esperança é a última que morre!”.
Elvis Presley - FTD King Creole
Original Album: 1 King Creole – take 13 / 2 As Long As I Have You – take 10 / 3 Hard Headed Woman – take 10 / 4 Trouble – take 5 / 5 Dixieland Rock – take 14 / 6 Don't Ask Me Why – take 12 / 7 Lover Doll - take 7 / 8 Crawfish – take 7 / 9 Young Dreams – take 8 / 10 Steadfast, Loyal And True / 11 New Orleans – take 5 / Material Bonus: 12 Danny – take 10 / 13 As Long As I Have You – (movie version) – take 4 / 14 Lover Doll (undubbed EP master) – take 7 / 15 King Creole (First version) - take 3 –16 Steadfast, Loyal And True (First version) – take 6 / 17 As Long As I Have You (unused movie version) – take 8 / 18 King Creole (First version) – take 18 / 19 Steadfast, Loyal And True (undubbed version).
Pablo Aluísio.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Elvis Presley - Peace In The Valley (1957)
Quando voltou aos estúdios para “encher a lata”, ou seja, gravar novas músicas para a RCA Victor, Elvis aos poucos foi gravando canções religiosas. Nada havia sido previamente programado sobre isso mas entre uma música convencional e outra Elvis foi registrando algumas canções gospel. Uma aqui, outra acolá, como quem não queria nada. Ele estava empolgado com a ótima repercussão de sua apresentação de “Peace in The Valley” no programa de Ed Sullivan algumas semanas antes então por que não gravar algumas músicas nesse estilo? Poderia dar certo, quem sabe. O ideal seria a gravação de quatro músicas para compor um compacto duplo e assim Elvis o fez. Obviamente esse tipo de música nada tinha a ver com imagem pública que ele tinha entre o grande público naquela época. Para a massa Elvis Presley era um roqueiro com brilhantina no cabelo que no palco rebolava de forma indecente e escandalosa! Nada, absolutamente nada a ver com um cantor religioso de baladas espirituais.
A verdade era que o homem Elvis Presley tinha pouco a ver com sua imagem pública. Enquanto todos pensavam que ele era um selvagem ao estilo dos personagens de Marlon Brando e James Dean no cinema, Elvis era apenas um rapaz jovem tentando subir na vida para dar uma vida melhor aos seus pais. Calmo, tímido até, não ousava falar palavrões em casa diante de Gladys e nem de Vernon Presley. Caseiro e apegado com sua mãe sempre ligava para ela onde quer que estivesse para dizer que tinha feito boa viagem e estava tudo bem. Enfim, o oposto do demônio delinquente juvenil que imaginavam dele. De certa forma esse compacto duplo era a realização de um velho sonho de Presley, a de ser um cantor gospel, de levar suas músicas preferidas para sua imensa legião de fãs, sempre nesse processo levando também uma mensagem de espiritualidade e religiosidade a todos os seus admiradores. Uma postura muito digna e adequada, diga-se de passagem. Esse tipo de trabalho sempre enchia Elvis de orgulho pessoal e ele sempre encontraria um jeito dali em diante de encaixar algo nesse estilo em seus shows e discos. Quando chegou nas lojas o resultado foi considerado muito bom. Elvis colocou um pé no mercado gospel, um dos mais influentes e ricos da sociedade americana, ao mesmo tempo em que sua imagem foi bem melhorada diante dos setores mais conservadores do país. Um saldo final muito positivo. As canções que fizeram parte desse compacto duplo foram essas:
Peace In The Valley (Thomas A. Dorsey) – Escrita em 1939 para a grande cantora Mahalia Jackson. Essa era uma música que tocava fundo na alma de Elvis porque lembrava a ele sua infância na pequena Tupelo no vizinho Estado do Mississippi onde nasceu. Quando a canção estourou nas rádios ele tinha apenas 4 anos de idade, o que ajudou a criar uma lembrança afetiva da música em sua vida. Interessante é que Elvis foi o mais fiel possível ao disco original de Jackson. Até nos mínimos detalhes – como a guitarra solando ao fundo – Elvis tentou reproduzir em seu registro. O acompanhamento vocal é praticamente o mesmo, mostrando que Elvis queria mesmo uma gravação fiel à antiga versão. Uma postura de respeito com a versão original, sem dúvida. A letra, como não poderia deixar de ser, é evocativa a um lugar imaginário onde haveria paz, onde os lobos seriam mansos e os ursos gentis. Uma metáfora do céu e do paraíso prometido aos bons cristãos que levassem uma vida digna e correta. Bem escrita a canção entrou na galeria das mais queridas entre os evangélicos do sul dos Estados Unidos. A versão oficial de Elvis foi gravada no dia 13 de janeiro de 1957 em Hollywood nos estúdios Radio Recorders.
It Is No Secret (Stuart Hamblem) - A versão original foi lançada em 1950 pelo cantor religioso Bill Kenney e o grupo The Ink Spots. A canção foi composta pelo cowboy cantor Stuart Hambleim que era muito popular por seu famoso programa de rádio – que era ouvido também pelo garoto Elvis e sua mãe Gladys nos primeiros dias da família Presley em Memphis. Hambleim se tornou muito conhecido por causa dos temas que escreveu para os grandes nomes do faroeste americano como Gene Autry, Roy Rogers e John Wayne. Anos depois decidiu seguir uma linha mais evangélica, completamente centrada em músicas religiosas e “It Is No Secret” faz parte dessa sua nova fase de vida. A versão de Elvis tem um toque mais moderno se formos comparar com a versão original. Aqui ele quis certamente melhorar um pouco em relação ao disco original. Sua visão da canção ficou pronta no dia 19 de janeiro de 1957, logo após Elvis finalizar a trilha sonora daquele que seria seu novo filme, “Loving You”.
I Believe (Drake / Graham / Shirl / Stillman) - Extremamente emocional para Elvis, essa música ganha em grandiosidade e emoção, principalmente porque notamos nitidamente como ele se entregava completamente, de corpo e espírito, a esse sentimento religioso. Música Gospel sempre teve um significado muito grande para Elvis, provavelmente foi o primeiro tipo de canção que ele ouviu, nos cultos da assembleia de Deus, do qual fazia parte. Tinha um carinho especial por elas tendo gravado três discos exclusivamente com este gênero musical no decorrer de sua carreira: "His Hand in Mine" em 1960, "How Great Thou Art" em 1967 e "He Touched Me" em 1972. Curiosamente todos os prêmios Grammy da carreira de Elvis Presley lhes foram dados por seus trabalhos religiosos!
Take My Hand Precious Lord (Thomas A Dorsey) - Outra música composta por Thomas Dorsey, "Take My Hand Precious Lord" foi particularmente complicada de finalizar. Depois de várias tentativas Elvis se deu por satisfeito e após ouvir todos os takes da sessão escolheu a que melhor lhe agradava. Mas intimamente, como confidenciou a Scotty Moore, não ficou muito certo sobre a escolha. Isso demonstra como Elvis trabalhava fixamente e arduamente sobre uma canção até achar a versão definitiva. Estas quatro canções incluídas em "Peace In The Valley" foram a materialização de um dos sonhos de infância de Elvis, pois desde de criança ele almejava ser cantor de músicas religiosas. É certo pelos registros que Elvis certamente deu o melhor de si. Ele ainda não tinha o pleno domínio vocal que iria adquirir ao longo dos anos mas isso em nada prejudicou ou maculou o resultado final, pelo contrário, mostrou que definitivamente ele não era apenas um cantorzinho para consumo jovem, um mero ídolo adolescente. Era na realidade um dos melhores intérpretes surgidos dentro da música americana, algo que provaria nos anos seguintes. Um talento inigualável certamente.
Elvis Presley - Peace In The Valley (1957) - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #39 (EUA) # - (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - Discografia Brasileira 1957
É óbvio que o Brasil era muito atrasado em tudo (continua sendo), mas é complicado entender porque os álbuns “Loving You”, “Elvis Christmas Album” e a trilha de “Jailhouse Rock” completa não chegou aos fãs da época. O único “lançamento” em álbum daquele ano foi “Elvis” que foi lançado no ano anterior nos EUA. Pelo menos a edição nacional seguiu os passos da americana. Para se ter uma idéia do atraso o “Elvis Christmas Album” só chegou no mercado nacional quatro anos depois, com outra capa.
Na realidade os fãs nacionais consumiram em 1957 o que havia sido lançado um ano antes, em 1956, nos EUA. Ao invés de colocar os últimos lançamentos nas lojas a RCA Brasil lançou vários compactos duplos do primeiro disco americano de Elvis e a trilha sonora em compacto duplo de “Love Me Tender”. Em relação a esses compactos duplos outra peculiaridade é que eles trouxeram uma seleção de músicas diferentes das edições americanas. Fora isso nada de novo. A salvação veio nos singles que foram lançados por aqui com relativa rapidez, seguindo fielmente as edições americanas – menos nas capas pois nem todos seguiram a direção de arte original.
Assim foram lançados cinco compactos, todos em 78 ou 45 RPM. A maior curiosidade nesse pacote foi o single “Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care”, praticamente único no mundo, sem qualquer semelhança com a discografia norte-americana. Foi a forma encontrada pela RCA daqui de disponibilizar aos fãs o restante da trilha sonora de “Jailhouse Rock” que não foi lançada de forma completa como aconteceu nos EUA (onde ganhou bela edição com todas as canções do filme no formato EP – Compacto Duplo). Enfim, a discografia brasileira seguia aos trancos e barrancos, com atrasos, omissões e falhas, muitas falhas. Segue abaixo a relação de todos os itens lançados no Brasil em 1957:
Álbum:
Elvis
(Rip it Up / Love me / When my blue Moon Turns to Gold Again / Paralyzed / So Glad You're Mine / Old Sheep / Ready Teddy / Anyplace is Paradise / Long Tall Sally / First in Line / How do you Think I fell / How's The World Treating You)
Compactos Simples (Singles):
Too Much / Playing for Keeps
All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin
Teddy Bear / Loving You
Jailhouse Rock / Treat Me Nice
Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care
Compactos Duplos (EPs)
Elvis Presley
(Blue Suede Shoes / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / I'm Counting On You)
Elvis Presley
(I Got a Woman / Tutti Frutti / One-Sided Love Affair / Trying to Get You)
Elvis
(Rip It Up / Love Me / Long Tall Sally / So Glad You-re Mine)
Love Me Tender
(Love Me Tender / Let Me / Poor Boy / We´re Gonna Move)
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Elvis Presley - A Date With Elvis - Parte 1
Uma das belas canções que foram usadas nesse álbum foi a bonita balada "Is It So Strange". Aqui eu costumo dizer que temos um arranjo bem simbólico daquela primeira fase do rock americano. Percebam bem o estilo de tocar guitarra de Scotty Moore. Esse tipo de arranjo era algo muito característico nas músicas românticas dessa época. Como diria George Harrison anos depois a guitarra"chorava" em cada nota produzida pelo músico. Algo muito bonito, bem nostálgico daqueles tempos mais românticos e mais sentimentais. Gravada em 19 de janeiro de 1957, composta por Faron Young, essa linda música nunca ganhou o espaço merecido dentro da discografia de Elvis Presley.
Arthur Neal Gunter foi um músico negro americano que desde os primeiros passos na carreira no estado da Georgia onde nasceu, tentou fazer sucesso com sua música. Porém nunca alcançou os picos da glória. Ele circulou por uma série de pequenas gravadoras do sul dos Estados Unidos até ir parar em Nashville. Só que Gunter não era um artista country, mas sim de blues e gospel. Ele inclusive vinha de um grupo vocal chamado Gunter Brothers Quartet, onde ao lado de seus irmãos e primos tentava chamar alguma atenção das gravadoras da época.
Em novembro de 1954 ele assinou com o selo fonográfico Excello para a gravação de um pequeno compacto (single). No lado A desse disquinho gravou a sua música "Baby Let's Play House". O sucesso foi mediano, mas satisfatório, chegando até mesmo a se destacar dentro da parada Billboard. E não demorou muito a chamar a atenção de um jovem chamado Elvis Presley que decidiu gravar sua versão da música. Claro, Elvis erotizou bastante a letra e o jeito de interpretar a canção, ao ponto inclusive de ser taxado de perversão pelos reacionários de plantão. Não importa, na voz de Elvis essa música realmente se tornou imortal. Curiosamente alguns meses antes de morrer em 1976 Arthur Gunter disse em uma entrevista para uma revista americana de música que "nunca teve a oportunidade de conhecer Elvis pessoalmente, nem de apertar sua mão". Infelizmente eles nunca se conheceram pessoalmente. Teria sido um encontro muito interessante, sem dúvida.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - A Date With Elvis - Parte 2
Eu fico imaginando os fãs da época, roqueiros e tudo mais, colocando o novo disco de Elvis para tocar e se deparando com um country ingênuo desses. Afinal poucos tinham tido acesso aos compactos originais da Sun. Para a imensa maioria dos fãs aquela faixa, mesmo antiga como era, soava como novidade. E de repente o Rei do Rock surgia cantando uma balada country de montanha. Deve ter sido algo bem estranho para aqueles jovens roqueiros, cheios de brilhantina no cabelo, posando de Teddy boys. Não era o tipo de som que essa juventude estava acostumada a ouvir. Não era mesmo.
E mais estranho ainda deve ter sido ouvir a canção "Milkcow Blues Boogie". Essa aqui ainda era mais provinciana e radical do que "Blue Moon of Kentucky". Também havia sido gravada por Elvis na Sun Records para um público muito específico do sul. Era um tipo de som para fazendeiros, pessoas que viviam no meio rural. Uma sonoridade de nicho. Imaginem novamente esse tipo de country de raiz surgindo aos ouvidos de quem morava nos grandes centros urbanos, como Nova Iorque ou Los Angeles. Mais esquisita ainda deve ter soada para o público internacional. No Brasil, por exemplo. Pouca gente por aqui tinha familiaridade com o Boogie rural do sul dos Estados Unidos. A gravação também era abafada, causando mais estranheza ainda aos ouvidos de quem não era daquelas bandas. Era a música da vaca leiteira, enfim.
Mais familair para a moçada de lambreta era "(You're So Square) Baby I Don't Care". Essa havia sido tirada da trilha sonora do filme "Jailhouse Rock". Já era o Elvis roqueiro que todo mundo conhecia. O astro jovem de Hollywood, o ícone do rock em seus primórdios. Mais uma pequena obra-prima composta pela dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Dessa faixa sempre é lembrado o fato de que Elvis tocou baixo nela. Bill Black se enrolou no solo da canção, se aborreceu e saiu do estúdio. Ele era assim, temperamental e cabeça quente. Elvis então viu ali uma oportunidade de mostrar seus dotes de instrumentista. Ele estudou baixo por anos e anos. E se saiu muito bem. Como raramente Elvis tocava em suas gravações, a música trazendo o "Elvis baixista" ficou marcada para sempre. Uma curiosidade para os fãs do cantor.
Pablo Aluísio.
domingo, 19 de setembro de 2010
Elvis Presley - A Date With Elvis - Parte 3
E a RCA Victor encaixou outras faixas de filmes de Elvis nessa coletânea. Uma delas foi "We're Gonna Move". Oficialmente ela veio creditada como sendo composta por Vera Matson e Elvis Presley. Na verdade hoje sabemos que todo o material do filme "Love Me Tender" foi composto pelo maestro da Fox Ken Darby. Ele apenas não quis assinar essas criações, por motivos diversos, colocando as músicas como sendo feitas por sua esposa Vera e por Elvis, para agradar ao Coronel Parker que estava de olho nos direitos autorais das músicas gravadas por Elvis. Nada pessoal, uma questão puramente de negócios.
Eu adoro a dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Em minha opinião as melhores músicas gravadas por Elvis nessa fase roqueira dos anos 1950 foram compostas por eles. Só que, apesar dessa admiração, devo dizer que "I Want To Be Free" se torna bem enjoativa depois de algumas audições. Gravada em abril de 1957, dentro do pacote de "Jailhouse Rock", essa música é certamente uma das mais fracas dessa celebrada trilha sonora. O que poderia ser pior do que isso? Basicamente temos alguns grandes clássicos nesse filme, mas essa aqui pode ser chamada de "musiquinha" sem medo de soar como uma injustiça. Enjoativa e banal, nem parece uma música com a assinatura dos geniais Leiber e Stoller.
Um fato curioso sobre esse álbum é que em sua edição original norte-americana, havia uma bonita direção de arte. Dentro de uma capa que abria - tal como se fosse um álbum duplo - havia muitas fotos de Elvis no exército, além de um enorme calendário do ano de 1960, que seria aquele em que Elvis retornaria aos Estados Unidos após cumprir serviço militar. Na década de 1980, para ser mais específico, em 1982, saiu a última edição desse disco em vinil no Brasil. Fazia parte da série "Pure Gold". Pena que toda a bonita direção de arte da edição original foi deixada de lado. Em uma edição pobre trazia capa e contracapa iguais, sem nenhum luxo. Uma versão bem decepcionante para os colecionadores da época.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - A Date With Elvis - Parte 4
Em setembro de 1954 Elvis participou de uma das sessões mais produtivas em seus anos na Sun Records. Em apenas um dia ele gravou seis músicas! Ora, isso era mais da metade de um disco de vinil da época, algo que Sam Phillips poderia pensar em fazer, caso sua gravadora não fosse tão modesta. As sessões começaram com "I'll Never Let You Go", cujos primeiros takes nunca foram lançados e se perderam para sempre. Outra que se perdeu e nunca foi lançada foi "Satisfied". Essa gravação foi realmente uma perda e tanto pois Elvis nunca mais gravaria a música em sua carreira. As baladas "I Don't Care if the Sun Don't Shine" e "Just Because" também foram gravadas. Como se pode perceber Elvis estava com bastante energia e vontade de mostrar seu talento nessa ocasião.
Para finalizar essa sessão de gravação mais do que produtiva Elvis encerrou os trabalhos com chave de ouro ao gravar o clássico "Good Rockin' Tonight" de Roy Brown. Para o dono da Sun Records, o produtor Sam Phillips, esse foi certamente um dos pontos altos de Elvis na gravadora de Memphis. Havia apenas três músicos dentro do estúdio naquele dia. Elvis cantando e fazendo acompanhamento em seu violão. Scotty Moore na guitarra e Bill black em seu enorme contrabaixo. Não houve baterista. Não havia mais ninguém. É de se impressionar ao ouvir a faixa nos dias de hoje e perceber que apenas três músicos conseguiram um efeito tão bom. Naquele mesmo mês de setembro a gravadora se apressou para lançar o single Sun 210, o segundo de Elvis pelo pequeno selo de Memphis. Não havia tempo a perder.
Outra música dos tempos da Sun Records que a RCA Victor aproveitou para eolocar nesse álbum "A Date With Elvis" foi "I Forgot to Remember to Forget". Escrita pela dupla Stan Kesler e Charlie Feathers. É uma baladinha country que tem um título curioso, que em português significaria algo como "Eu esqueci de lembrar de me esquecer". Um trocadilho até divertido de palavras. Os Beatles, que eram grandes fãs de Elvis nesse período da Sun Records, gravariam a música em seu programa na BBC de Londres. O registro sobreviveu ao tempo e foi lançado anos depois no excelente box "The Beatles - Live at the BBC".
Finalizando essa análise do álbum "The Date With Elvis" aqui vão algumas informações adicionais. O disco foi lançado no mercado americano em agosto de 1959 com o código fonográfico LPM 2011. Foi o oitavo LP de Elvis a chegar ao mercado pela RCA Victor. Não foi um grande sucesso de vendas, chegando apenas ao trigésimo segundo lugar entre os mais vendidos. Curiosamente o disco foi lançado um mês antes na Inglaterra, onde vendeu muito bem, chegando ao quarto lugar das paradas inglesas. Elvis era adorado pelos fãs das ilhas britânicas. No Brasil o disco só chegaria ao mercado quase um ano depois, numa edição bem simples, sem todo o capricho gráfico da edição americana.
Pablo Aluísio.