Bom filme que reconstitui os últimos momentos de vida do Rei francês Louis XIV, o aclamado "Rei Sol", símbolo máximo do absolutismo europeu, o monarca que disse a frase "O Estado sou Eu!". Pois é, aqui o vemos sendo corroído pela gangrena, enquanto um grupo de médicos tenta fazer algo para salvar sua vida. Tudo em vão, porque a medicina da época ainda era bem rudimentar. Até charlatães surgem na corte para tentar algum "tratamento", fazendo o Rei tomar misturas exóticas como esperma de boi, suor de sapo e outras coisas bizarras. Outro fato que chama a atenção é a exótica coleção de perucas reais, pois nem no leito de morte o monarca abriu mão de seu figurino extremamente exagerado. Afinal ele era o "Rei Sol" e como tal deveria brilhar até o fim de sua vida, mesmo que sua perna estivesse apodrecendo pela doença.
Um aspecto inusitado do ponto de vista histórico é que esse mesmo monarca determinou que sua existência seria extremamente pública, nada de levar uma vida privada em seus aposentos. Assim até para tomar uma colher de canja de galinha ela tinha que ser assistido por membros da corte que como bons puxa-sacos o aplaudiam a cada colherada! Algo muito esquisito para os olhos de uma pessoa de nossos dias, mas que em Versalhes fazia parecer algo comum, do protocolo de comportamento dos nobres que faziam parte da corte Bourbon. Todos os momentos, dos mais simples do cotidiano, eram acompanhados por nobres que o assistiam acordar, escovar os dentes, tomar o café da manhã, o almoço, o jantar, tudo sendo presenciado pela corte que formava uma pequena plateia na frente do Rei.
O filme vai fundo no detalhismo, assim o espectador que estiver disposto a saber mais sobre o leito de morte do rei terá praticamente todos os mínimos acontecimentos explorados, porém de certa forma isso também se torna um problema narrativo, pois o que temos o tempo todo é apenas o Rei agonizando em sua cama, enquanto médicos, parentes e membros do clero tentam alguma solução para salvar sua vida. Praticamente não há cenas externas, tudo se passa dentro do quarto. A beleza do palácio de Versalhes nunca aparece, o que achei algo incômodo, pois era uma forma de retratar a grandiosidade daquele Rei que até hoje é lembrado por seus excessos (foi ele aliás que construiu Versalhes e o transformou no palácio real mais luxuoso e brilhante de toda a Europa). Particularmente gostei, mas sou suspeito em minha opinião, pois adoro história de uma maneira em geral. Não sei se o filme terá apelo para pessoas que não estejam tão interessadas assim naquele período histórico da França do século XVIII.
A Morte de Luís XIV (La mort de Louis XIV, França, 2016) Direção: Albert Serra / Roteiro: Albert Serra, Thierry Lounas / Elenco: Jean-Pierre Léaud, Patrick d'Assumçao, Marc Susini / Sinopse: O filme mostra os últimos momentos de vida do Rei Luís XIV. Doente em sua cama, com a gangrena comendo parte de sua perna, o monarca conhecido como o "Rei Sol" tenta sobreviver em meio a toda a riqueza e luxo de sua corte fabulosa. Filme premiado pelo Gaudí Awards e Lumiere Awards.
Pablo Aluísio.