Após um sangrento tiroteio em Tombstone o xerife Wyatt Earp (James Garner), seus irmãos e o pistoleiro Doc Holliday (Jason Robards) são julgados pelas mortes dos Clantons. Para surpresa de muitos eles são finalmente absolvidos por terem agido de acordo com a lei e em legitima defesa. Revoltado com a absolvição de todos eles, Ike Clanton (Robert Ryan) resolve fazer justiça com as próprias mãos. Ele se reúne a um grupo de foras-da-lei e fere gravemente um dos irmãos de Earp. Não satisfeito finalmente consegue encurralar e matar mais um membro da família Earp. Diante de todas as represálias Wyatt Earp resolve novamente se unir a Doc Holliday para juntos partirem para um acerto de contas final e definitivo com os Clantons. Em praticamente todos os filmes que exploram a história do lendário xerife Wyatt Earp, os eventos no OK Curral são mostrados no final, até porque não há como ter um clímax melhor do que aquele em um western. Pois bem, aqui temos algo diferente.
O confronto entre a lei e os foras-da-lei ocorre logo na primeira cena do filme. Logo não é o ponto de chegada do roteiro mas sim seu ponto de partida para a história que o espectador verá. Isso é bem interessante pois o tiroteio no OK Curral deu origem a várias outras matanças ocorridas entre os clãs Earp e Clanton. Em certos aspectos esse acerto de contas sangrento acabou se tornando mais curioso do que o próprio tiroteio famoso ocorrido em Tombstone pois revelou a verdadeira face de muitos dos personagens envolvidos naquele duelo histórico. O mais instigante é saber que tudo foi baseado em fatos reais, ou seja, a matança continuou ainda por vários meses, provando que no velho oeste sangue só era lavado com mais sangue, não havendo espaço para o perdão em nenhuma de suas modalidades. James Garner está muito bem como Wyatt Earp. Sua caracterização pode ser considerada seca e dura demais para alguns mas na verdade achei bem adequada. Garner tinha tradição de interpretar personagens mais irônicos, bem humorados, até mesmo em faroestes, mas aqui não há espaço para esse tipo de coisa. Ele está rude e casca grossa como foi o Wyatt Earp real. A verdade é que certos personagens históricos precisam de um certo respeito quando suas histórias são contadas no cinema. Não há espaço para piadinhas - o que afinal é uma ótima notícia para os fãs de westerns clássicos e tradicionais em geral.
Já Jason Robards está na pele do mitológico Doc Holliday. Esse sempre foi um personagem à prova de falhas, temos que admitir. As características que todos conhecemos (jogador, beberrão, rápido no gatilho, tuberculoso, etc) estão todas lá. Doc foi certamente o mais trágico pistoleiro do velho oeste. Um homem que sabia que não viveria muito e por essa razão não tinha medo algum de morrer em um duelo. Talvez por isso tenha sido um matador sem remorsos, dos mais eficientes que se tem notícia. Em suma, "A Hora da Pistola" é aquele tipo de faroeste que não pode faltar em sua coleção pois ele completa e conta a história que poucos conhecem de verdade. Muitos fãs sabem bem o que aconteceu no OK Curral mas não os eventos que se seguiram, os efeitos daquele conflito. Aqui temos o aconteceu depois de tudo. Uma pequena aula de história que não se aprende na escola.
A Hora da Pistola (Hour of the Gun, Estados Unidos, 1967) Estúdio: United Artists / Direção: John Sturges / Roteiro: Edward Anhalt / Elenco: James Garner, Jason Robards, Robert Ryan, Charles Aidman, Steve Ihnat, Michael Tolan, William Windom / Sinopse: Faroeste passado no velho oeste, estrelado pelo simpático e carismático ator James Garner, contando mais uma vez a história dos irmãos Earp, de seu amigo Doc Holliday e dos famosos eventos que aconteceram após o tiroteio no OK Curral. Filme com roteiro baseado em fatos históricos reais.
Pablo Aluísio.