Oscar 1987
Eu acompanho o Oscar com regularidade desde 1987. Por essa razão vou começar hoje uma pequena retrospectiva sobre o prêmio justamente por esse ano. Todas as sextas estarei falando sobre uma premiação do Oscar aqui no blog. É claro que entendo que o Oscar é antes de mais nada um espetáculo para as massas, mais um show dentro do muito apropriadamente chamado show business. Dito isso não significa que o filme que vence o Oscar de Melhor Filme em seu ano é de fato o mais perfeito lançado naquele período. Nada disso. Oscar além de um grande negócio para a Academia é também política! Como a votação é feita pelos próprios membros da Academia o indicado deve saber manejar bem seu jogo de relações públicas entre seus colegas, caso contrário nada feito. Pode ser o ator mais talentoso, o mais criativo diretor de todos os tempos ou o roteirista mais maravilhoso que nada levará. Oscar é isso, acima de tudo. Mesmo assim é impossível negar seu glamour e seu charme mesmo após tantas décadas. Pessoas que não ligam para o cinema acabam se interessando um pouco todos os anos, justamente por causa do Oscar. Negar isso é simplesmente negar a realidade dos fatos. O Oscar é justo? Quase nunca não! É importante para o cinema? Tenha plena certeza disso.
Pois bem, em 1987 o grande vencedor da noite foi "Platoon" de Oliver Stone. Era um filme escrito e dirigido por alguém que esteve na Guerra do Vietnã e viu de perto o absurdo daquele conflito. Na época Stone explicou que havia escrito o roteiro de "Platoon" (que significa em português, "Pelotão") pela simples razão de tentar entender por tudo o que passou. Era um tipo de auto análise, exorcismo pessoal, para finalmente superar tudo aquilo. O enredo era metade ficção e metade baseado em fatos reais. De fato é um ótimo texto, um excelente roteiro, que mostrava o outro lado do soldado americano. Não mais o herói dos antigos filmes de guerra mas sim um sujeito meio perdido, vivenciando uma guerra que mal compreendia e presenciando atos horrendos de violência gratuita - inclusive contra civis. "Platoon" daria mais força ainda ao chamado ciclo do Vietnã, uma série de filmes dos anos 80 sobre o conflito que até aquela década os americanos queriam mais era esquecer.
Concorreram ao Oscar de Melhor filme com "Platoon" naquele ano os filmes "Filhos do Silêncio", "Hannah e Suas Irmãs", "A Missão" e "Uma Janela para o Amor". Todos bons filmes, acima da média. Eu sou um defensor do número de apenas cinco concorrentes ao Oscar de melhor filme do ano. Hoje em dia como sabemos temos 10 indicados - um exagero completo! Cinco está de bom tamanho. Quando se indicam 10 filmes a tendência é que entrem bobagens entre os concorrentes (como inclusive já entrou nas últimas premiações). Desses quatro indicados eu destaco "Uma Janela para o Amor" do excelente diretor James Ivory (que também foi indicado ao Oscar de Melhor Direção). Ivory, gosto de repetir, é sinônimo de elegância, classe e sofisticação. Woody Allen e David Lynch (por "Veludo Azul") também concorreram naquele ano mas o vencedor foi mesmo Oliver Stone por "Platoon". Aliás é tradição o melhor filme levar o prêmio também de melhor direção. Poucos foram os anos em que isso não ocorreu. Acho essa mentalidade plenamente justa já que é lógico supor que o melhor filme do ano também seja o mais bem dirigido.
Na categoria Melhor ator do ano houve um fato marcante. Após uma das carreiras mais brilhantes da história de Hollywood finalmente o grande Paul Newman foi premiado por "A Cor do Dinheiro". Ele corria o risco de seguir os passos de outros monstros da história do cinema como Charles Chaplin e Alfred Hitchcock que nunca venceram o Oscar por seus trabalhos maravilhosos. Tentando corrigir esse erro que seria histórico então resolveram premiar o velho Newman numa justa (mas tardia) premiação em sua carreira. O filme aliás era realmente muito bom. Ao seu lado o maior galã da época, Tom Cruise, que iria perseguir o Oscar por longos anos, sempre se frustrando a cada premiação. Para melhor ator coadjuvante o vencedor do ano foi outro veterano muito querido, Michael Caine, por seu trabalho em "Hannah e Suas Irmãs". Durante anos Caine foi satirizado por topar fazer qualquer filme, inclusive algumas horrendas continuações de "Tubarão" mas aqui teve seu reconhecimento, também tardio, mas também justo.
Na categoria atriz Marlee Matlin foi premiada por "Filhos do Silêncio". O prêmio teve um significado profundo pois foi o primeiro dado a uma deficiente. O mais importante porém é reconhecer que ela de fato mereceu a premiação. Seu trabalho no filme é realmente emocionante. Na categoria atriz coadjuvante Dianne Wiest levou o prêmio por "Hannah e Suas Irmãs", outra premiação também merecida, muito embora eu pessoalmente preferisse a querida Maggie Smith por "Uma Janela para o Amor", Já o prêmio de roteiro foi para Woody Allen por "Hannah e Suas Irmãs" mas ele não apareceu na festa para receber seu Oscar, preferindo ficar tocando clarinete em um clube de jazz de Nova Iorque - seu hobbie de longos anos. Já nos chamados Oscars técnicos o grande vencedor da noite foi a excelente ficção "Aliens, o Resgate". Levando os prêmios de Efeitos Especiais, Efeitos Sonoros (Som). "A Mosca", como era de se esperar levou o Oscar de Melhor Maquiagem em uma das maiores barbadas da história da Academia. Ninguém pensaria que seria diferente. A melhor música original do ano foi a do grande sucesso "Top Gun: Ases Indomáveis" que superou inclusive outros "clássicos" dos anos 80 como por exemplo "Karate Kid II - A Hora da Verdade Continua" e "A Pequena Loja dos Horrores" (na minha opinião a mais bem escrita).
Finalizando essa pequena retrospectiva do Oscar de 1987 não poderia deixar de citar o prêmio Irving G. Thalberg dado a Steven Spielberg. Como se sabe Spielberg nos anos 80 foi o monarca absoluto de Hollywood mas nunca conseguia levar o prêmio máximo da sétima arte para casa. Oscar para ele era uma miragem. A indústria então resolveu reconhecer sua importância para a indústria o premiado com esse honroso troféu. Spielberg sabia que sua fama de "Peter Pan" o estava atrapalhando em busca de seu Oscar e por isso ainda nos anos 80 providenciou uma série de projetos mais sérios para um dia, quem sabe, chegar lá! E isso como todos sabemos realmente aconteceria. O eterno Peter Pan cresceria e seria finalmente reconhecido pela Academia alguns anos mais tarde.
Pablo Aluísio.
Eu acompanho o Oscar com regularidade desde 1987. Por essa razão vou começar hoje uma pequena retrospectiva sobre o prêmio justamente por esse ano. Todas as sextas estarei falando sobre uma premiação do Oscar aqui no blog. É claro que entendo que o Oscar é antes de mais nada um espetáculo para as massas, mais um show dentro do muito apropriadamente chamado show business. Dito isso não significa que o filme que vence o Oscar de Melhor Filme em seu ano é de fato o mais perfeito lançado naquele período. Nada disso. Oscar além de um grande negócio para a Academia é também política! Como a votação é feita pelos próprios membros da Academia o indicado deve saber manejar bem seu jogo de relações públicas entre seus colegas, caso contrário nada feito. Pode ser o ator mais talentoso, o mais criativo diretor de todos os tempos ou o roteirista mais maravilhoso que nada levará. Oscar é isso, acima de tudo. Mesmo assim é impossível negar seu glamour e seu charme mesmo após tantas décadas. Pessoas que não ligam para o cinema acabam se interessando um pouco todos os anos, justamente por causa do Oscar. Negar isso é simplesmente negar a realidade dos fatos. O Oscar é justo? Quase nunca não! É importante para o cinema? Tenha plena certeza disso.
Pois bem, em 1987 o grande vencedor da noite foi "Platoon" de Oliver Stone. Era um filme escrito e dirigido por alguém que esteve na Guerra do Vietnã e viu de perto o absurdo daquele conflito. Na época Stone explicou que havia escrito o roteiro de "Platoon" (que significa em português, "Pelotão") pela simples razão de tentar entender por tudo o que passou. Era um tipo de auto análise, exorcismo pessoal, para finalmente superar tudo aquilo. O enredo era metade ficção e metade baseado em fatos reais. De fato é um ótimo texto, um excelente roteiro, que mostrava o outro lado do soldado americano. Não mais o herói dos antigos filmes de guerra mas sim um sujeito meio perdido, vivenciando uma guerra que mal compreendia e presenciando atos horrendos de violência gratuita - inclusive contra civis. "Platoon" daria mais força ainda ao chamado ciclo do Vietnã, uma série de filmes dos anos 80 sobre o conflito que até aquela década os americanos queriam mais era esquecer.
Concorreram ao Oscar de Melhor filme com "Platoon" naquele ano os filmes "Filhos do Silêncio", "Hannah e Suas Irmãs", "A Missão" e "Uma Janela para o Amor". Todos bons filmes, acima da média. Eu sou um defensor do número de apenas cinco concorrentes ao Oscar de melhor filme do ano. Hoje em dia como sabemos temos 10 indicados - um exagero completo! Cinco está de bom tamanho. Quando se indicam 10 filmes a tendência é que entrem bobagens entre os concorrentes (como inclusive já entrou nas últimas premiações). Desses quatro indicados eu destaco "Uma Janela para o Amor" do excelente diretor James Ivory (que também foi indicado ao Oscar de Melhor Direção). Ivory, gosto de repetir, é sinônimo de elegância, classe e sofisticação. Woody Allen e David Lynch (por "Veludo Azul") também concorreram naquele ano mas o vencedor foi mesmo Oliver Stone por "Platoon". Aliás é tradição o melhor filme levar o prêmio também de melhor direção. Poucos foram os anos em que isso não ocorreu. Acho essa mentalidade plenamente justa já que é lógico supor que o melhor filme do ano também seja o mais bem dirigido.
Na categoria Melhor ator do ano houve um fato marcante. Após uma das carreiras mais brilhantes da história de Hollywood finalmente o grande Paul Newman foi premiado por "A Cor do Dinheiro". Ele corria o risco de seguir os passos de outros monstros da história do cinema como Charles Chaplin e Alfred Hitchcock que nunca venceram o Oscar por seus trabalhos maravilhosos. Tentando corrigir esse erro que seria histórico então resolveram premiar o velho Newman numa justa (mas tardia) premiação em sua carreira. O filme aliás era realmente muito bom. Ao seu lado o maior galã da época, Tom Cruise, que iria perseguir o Oscar por longos anos, sempre se frustrando a cada premiação. Para melhor ator coadjuvante o vencedor do ano foi outro veterano muito querido, Michael Caine, por seu trabalho em "Hannah e Suas Irmãs". Durante anos Caine foi satirizado por topar fazer qualquer filme, inclusive algumas horrendas continuações de "Tubarão" mas aqui teve seu reconhecimento, também tardio, mas também justo.
Na categoria atriz Marlee Matlin foi premiada por "Filhos do Silêncio". O prêmio teve um significado profundo pois foi o primeiro dado a uma deficiente. O mais importante porém é reconhecer que ela de fato mereceu a premiação. Seu trabalho no filme é realmente emocionante. Na categoria atriz coadjuvante Dianne Wiest levou o prêmio por "Hannah e Suas Irmãs", outra premiação também merecida, muito embora eu pessoalmente preferisse a querida Maggie Smith por "Uma Janela para o Amor", Já o prêmio de roteiro foi para Woody Allen por "Hannah e Suas Irmãs" mas ele não apareceu na festa para receber seu Oscar, preferindo ficar tocando clarinete em um clube de jazz de Nova Iorque - seu hobbie de longos anos. Já nos chamados Oscars técnicos o grande vencedor da noite foi a excelente ficção "Aliens, o Resgate". Levando os prêmios de Efeitos Especiais, Efeitos Sonoros (Som). "A Mosca", como era de se esperar levou o Oscar de Melhor Maquiagem em uma das maiores barbadas da história da Academia. Ninguém pensaria que seria diferente. A melhor música original do ano foi a do grande sucesso "Top Gun: Ases Indomáveis" que superou inclusive outros "clássicos" dos anos 80 como por exemplo "Karate Kid II - A Hora da Verdade Continua" e "A Pequena Loja dos Horrores" (na minha opinião a mais bem escrita).
Finalizando essa pequena retrospectiva do Oscar de 1987 não poderia deixar de citar o prêmio Irving G. Thalberg dado a Steven Spielberg. Como se sabe Spielberg nos anos 80 foi o monarca absoluto de Hollywood mas nunca conseguia levar o prêmio máximo da sétima arte para casa. Oscar para ele era uma miragem. A indústria então resolveu reconhecer sua importância para a indústria o premiado com esse honroso troféu. Spielberg sabia que sua fama de "Peter Pan" o estava atrapalhando em busca de seu Oscar e por isso ainda nos anos 80 providenciou uma série de projetos mais sérios para um dia, quem sabe, chegar lá! E isso como todos sabemos realmente aconteceria. O eterno Peter Pan cresceria e seria finalmente reconhecido pela Academia alguns anos mais tarde.
Pablo Aluísio.
Oscar 1987
ResponderExcluirPablo Aluísio.