quarta-feira, 24 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 12

Após o fim das filmagens de "Juventude Transviada" James Dean pegou o primeiro avião para Nova Iorque. Dean queria ir embora de Los Angeles o mais rapidamente possível. Ele só tinha queixas a falar para seus amigos e colegas atores da big apple. Para Dean se fazia pouca arte em Hollywood e muito comércio. Ele odiava ter que lidar com agentes, produtores e executivos que na sua opinião "não passavam de um bando de idiotas!". Para James Dean a verdadeira realização para um grande ator viria nos palcos, no teatro, e não no cinema que ele considerava uma forma de arte menor. E nada melhor para um profissional como ele do que estar na capital mundial do teatro, que era justamente Nova Iorque. Não havia cidade no mundo que ele não amasse mais. Em New York ele tinha toda a cultura do mundo aos seus pés. Se quisesse ler livros raros bastaria dar uma passadinha na maior biblioteca dos Estados Unidos, logo ali a 20 minutos de caminhada de seu apartamento. Se desejasse assistir a uma peça bastava virar a esquina. A Broadway fervilhava de peças maravilhosas e todos os grandes atores, diretores, autores e escritores circulavam pela cidade.

Assim James Dean passava o dia passeando pela metrópole, absorvendo todo aquele clima maravilhoso de arte e cultura em cada canto da cidade. Nas tardes gostava de passar pelo Actors Studio onde reencontrava seus professores a fazia novas amizades com os alunos novos da mais conceituada escola de arte dramática dos Estados Unidos. Havia também encontros inesperados e surpresas muitas vezes constrangedoras. Enquanto almoçava em um pequeno restaurante da quinta avenida Dean esbarrou acidentalmente com Rogers Brackett, o homem com quem vivera no começa de sua carreira. Naquela época Dean não tinha onde morar e nem onde viver. Estava desempregado e sem um tostão, sem maiores alternativas resolveu ir morar no chic apartamento de Brackett. Curiosamente agora as posições sociais estavam invertidas. Enquanto Dean crescia na carreira, Brackett passava por dificuldades financeiras após ser demitido do emprego de publicitário onde havia trabalhado por anos e anos.

A conversa entre ambos foi tensa. Dean obviamente não queria que ninguém soubesse que ele havia morado com um homem em seu passado - isso certamente destruiria sua carreira em Hollywood caso a imprensa soubesse. Já Rogers não temia esse encontro, até porque seu longo relacionamento com Dean era de conhecimento notório entre seus amigos homossexuais. O bate papo começou com amenidades, com Dean afirmando que estava se "prostituindo" em Hollywood por causa dos excelentes cachês que a Warner lhe pagava. Em determinado momento Rogers abriu o jogo com Dean e lhe contou que estava com sérios problemas financeiros, correndo o risco de ser despejado de seu apartamento na cidade. Dean não se comoveu, então Rogers resolveu lhe pedir dinheiro emprestado diretamente, já que ele estava em ascensão em Hollywood e grana certamente não lhe faltava. O pedido de ajuda de seu ex-namorado surpreendeu James Dean. De forma áspera acabou respondendo que não iria lhe emprestar dinheiro, por um motivo muito simples: "As putas não devem pagar e sim os clientes!". O comentário rude por parte de Dean foi imediatamente entendido por Rogers, afinal em muitas ocasiões enquanto dividiam o mesmo teto no passado, Dean havia lhe dito que não passava de ser sua puta particular. Depois da baixaria Dean resolveu então ir embora.

Esse modo de agir não seria encarado como uma novidade entre pessoas que conviviam e eram do círculo de amigos de Dean em Nova Iorque. Ele agia muitas vezes de forma rude, sem meias palavras. Quando voltou a Nova Iorque ele prontamente foi bombardeado por telefonemas de amigos que havia feito em seus tempos de Actors Studio. Vários deles estavam desempregados, trabalhando como garçons ou mensageiros de hotel para sobreviver. Muitos procuravam por uma forcinha por parte de Dean para arranjar trabalho na costa oeste. Quem sabe ele não poderia lhes arranjar algumas pontas ou personagens em filmes da Warner Bros... O ator porém deixou bem claro que não iria arranjar papéis para ninguém e nem arranjaria pontas ou algo parecido em filmes de Hollywood. "Não vou arranjar trabalho para ninguém!" - desabafou quando encontrou Dizzy, uma de suas melhores amigas em Nova Iorque.

Dizzy era uma garota na faixa de seus 23 anos que tinha criado um vínculo muito forte com Dean. Ela tinha estudado para ser atriz, mas depois se encantou com as artes plásticas e vivia em Nova Iorque vendendo seus quadros para galerias de arte especializadas em jovens artistas. Nos fins de semana ganhava uns trocados se apresentando em companhias de dança da cidade. Para Dizzy as artes eram essenciais como a própria respiração e por isso ela procurou estudar todas elas. James Dean a adorou desde a primeira vez que conversaram. De fato foi a grande amiga de Dean em Nova Iorque até sua morte. A aproximação logo se tornou irresistível para Dizzy, mas Dean a confrontou dizendo: "Querida, eu adoro estar ao seu lado, mas isso não quer dizer que queira ser seu namorado. Espero que entenda isso. Eu iria magoar você, tenha certeza disso. Eu gosto de meninas, mas também de meninos. Não quero que você sofra por isso". Dizzy foi uma das poucas pessoas que Dean falou abertamente sobre sua bissexualidade. Ele gostava tanto dela como amiga que resolveu deixar tudo claro para evitar maiores mal-entendidos. Foram amigos até o fim da vida de Dean.

Pablo Aluísio. 

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 11

Para não contrariar seu pai, Dean continuou frequentando o curso de Direito na UCLA. Morando em uma fraternidade no campus ele tinha liberdade suficiente para ir atrás do que realmente gostava. E Dean não gostava de leis e decisões judiciais, mas sim de teatro e artes cênicas. Assim sua presença foi ficando cada vez mais rara no departamento jurídica e cada vez mais presente entre os alunos aspirantes a atores.

Dean também começou a participar de grupos amadores de teatro. Era comum na época pessoas comuns participando de peças de teatro montados e encenados dentro da própria comunidade. Donas de casa, advogados, enfermeiras, todos podiam ter a chance de subir em um palco e ser um ator por um dia. James Dean viu aí uma boa oportunidade de começar por algum lugar. Em pouco tempo estava fazendo parte de grupos desse tipo.

Conforme o tempo foi passando suas notas em Direito foram desabando. Depois de um tempo nesse impasse James resolveu jogar tudo pela janela. Abandonou o curso e consequentemente a fraternidade do qual fazia parte. Era onde ele morava, sem o curso de Direito James Dean estaria literalmente no meio da rua, até porque seu pai também havia ficado irado com sua decisão de largar tudo. Mesmo com essa pressão, Dean resolveu abandonar a UCLA. Ele sabia, em seus pensamentos, que não tinha futuro nessa area.

Depois que Dean largou a faculdade o seu relacionamento com seu pai, que já era frio e distante, ficou ainda pior. Não parecia haver volta para a relação entre pai e filho. Durante um tempo James Dean pensou em ir para Nova Iorque, onde estavam as melhores escolas de atuação do mundo, mas ele não tinha grana nem para a viagem. Sem ter onde morar, sem emprego, sem universidade, esse parecia um dos piores momentos de sua vida. Além do mais Dean não queria voltar para Indiana, para a casa de seus tios. Seria aceitar uma derrota. Foi então que Dean começou a procurar um emprego, qualquer um, para tentar se manter em Los Angeles, até conseguir algo melhor ou conseguir transformar seu sonho de ser ator em realidade.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 10

Em Nova Iorque James Dean finalmente encontrou a liberdade que tanto procurava. Na cidadezinha onde nasceu e cresceu todos cuidavam da vida dos outros. Não se podia dar um pequeno passo sem que isso se tornasse a fofoca da cidade. Já em Nova Iorque, uma metrópole, ninguém queria saber da vida de ninguém. Dean podia seguir seus próprios passos sem se importar com o que os outros iriam dizer. Liberdade, acima de tudo. Era o que ele tanto procurava.

Além disso a cidade fervilhava artisticamente. Não era apenas a arte dramática. Havia poetas, artistas plásticos, escritores, todos os tipos de artistas que se podia imaginar. James Dean assim passou a cultivar amizades com toda essa gente. Seu passatempo preferido passou a frequentar um café perto do Actors Studio, onde ele passou a conhecer a classe artística de NYC. E apesar de ser bem jovem, Dean decidiu que não queria apenas atuar, ele queria tudo o que pudesse alcançar.

Não demorou muito e James Dean se matriculou nos mais diversos cursos de arte. Chegou até mesmo a estudar ballet! Isso seria impensável em Indiana, naquela sociedade rural e atrasada, onde isso era coisa de afeminados. Em Nova Iorque obviamente ninguém pensava assim. Ser bailarino era apenas mais uma chance de aprender uma nova expressão artística. Na dança James Dean acabou encontrando uma forma de aliviar o stress, a tensão do dia a dia. Foi uma experiência que ele gostou bastante.

Além disso se expressar com o corpo era algo essencial para um bom ator. No próprio Actors Studio os jovens atores eram incentivados a aprenderam canto, dança moderna, tudo que pudesse a desenvolver melhor a expressão corporal. Uma forma de ir fundo na arte dramática. Além disso todos os estudantes eram também incentivados a procurar por bons livros, grandes clássicos da literatura antiga e moderna. Ter cultura era essencial para se tornar um bom ator. Afinal ter base cultural era o primeiro passo para ser um grande artista em qualquer área que se abraçasse..

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 9

Conforme o tempo foi passando James Dean foi ficando cada vez mais decepcionado com Hollywood. Ele arranjou uma agente e começou a ir em testes para filmes, mas a resposta era sempre negativa. Dean não conseguia papéis e nem trabalho. Chegou a implorar para trabalhar como extra, mas nem nisso foi bem sucedido. Os responsáveis pelas escolhas do elenco davam as mais variadas justificativas para recusá-lo. Alguns diziam que ele não tinha experiência e nem currículo! Outros disseram que ele não tinha altura suficiente! Era uma desculpa esfarrapada atrás da outra.

Sem emprego, sem trabalho no cinema, Dean ouviu atentamente um veterano durante um desses dias em que passou horas para fazer sua audição para um filme qualquer. O velho ator lhe disse: "Você é jovem! O que está fazendo aqui? Vá para Nova Iorque se tornar um ator de verdade! Estude, vá fazer teatro! Você quer começar sua carreira profissional logo como ator de cinema? Primeiro você deve se tornar um ator para só depois, quem sabe, fazer filmes! O verdadeiro ator é o ator de teatro e Nova Iorque é o lugar certo para isso!". Esse sábio conselho tocou James Dean profundamente. O velho tinha razão. Dean então decidiu mudar sua estratégia de vida. Comprou uma passagem de avião para Nova Iorque (paga por sua agente) e na segunda-feira seguinte foi embora de Hollywood, de Los Angeles, e de seus testes medíocres.

Conforme lembraria depois Dean chegou em Nova Iorque com 5 dólares no bolso. Era um tempo frio, com muita chuva, mas nem isso desanimou o jovem ator. Ele adorou o clima da cidade, os bairros de artistas como o Greenwich Village, onde havia oportunidades para todos, pintores, escultores, poetas e... atores! A cidade respirava arte em todos os lugares. Escrevendo para um amigo Dean relatou: "Os primeiros dias em Nova Iorque foram impactantes! Essa grande cidade quase me esmagou! Agora estou mais confortável nela. Adoro caminhar pela Broadway, ver as peças que estão em cartaz! Nova Iorque, essa sim é uma cidade acolhedora!".

O ator gostou tanto da nova cidade que mesmo anos depois quando já era um astro em Hollywood, sempre ia para NY para passar os fins de semana. De fato ele considerava a "Big Apple" como seu verdadeiro lar. Nada de Hollywood com sua sociedade fútil e petulante. Os verdadeiros artistas estavam andando pelas ruas de Nova Iorque, isso Dean afirmou mais de uma vez. O ator tinha razão em amar o novo lar. Em Nova Iorque as coisas finalmente começaram a dar certo. Ele foi aprovado para participar de peças e o mais importante de tudo: foi aceito na prestigiada escola de atores do Actors Studio. Sua vida estava para mudar para sempre!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 8

Depois que abandonou a universidade, James Dean ficou sem grana, sem apoio do pai e sem emprego. Dean chegou a ponto de ficar sem ter nem o que comer, geralmente contando com a boa vontade de conhecidos que lhe pagavam algum lanche casual. Diante de uma situação financeira tão ruim Dean acabou encontrando a solução para seus problemas em Rogers Brackett. Ele era um homossexual rico e bem relacionado em Los Angeles. Um sujeito que poderia lhe ajudar no começo de sua carreira, que ainda não tinha decolado. 

O interesse de Rogers em relação a Dean era claramente sexual. Ele se sentiu atraído pelo jovem ator e o tornou seu namorado, seu protegido. Embora se apaixonasse mesmo por mulheres, James Dean estava aberto a todas as possibilidades. Além disso se houvesse uma ajuda financeira seria muito bem-vinda. Era claro para Rogers que James Dean tinha interesse nele e isso passava por uma ajuda em dinheiro em relação à sua situação. Era um relacionamento de interesses mútuos e eles sabiam disso. Com tudo certo entre eles James Dean arrumou suas malas e foi morar com Brackett em sua casa sofisticada nas colinas de Hollywood. 

Anos depois quando finalmente resolveu falar sobre seu romance com James Dean, Rogers explicou que aquela não havia sido a primeira experiência homossexual na vida do ator. Ele teria tido ao namorado que havia se relacionado com um pastor gay de sua cidade natal. Era curioso que em uma pequena cidadezinha de Indiana, Dean, ainda jovem, teria tido um romance proibido justamente com o pastor evangélico que era amplamente admirado e respeitado pelos moradores. Naquele meio oeste rural teria sido um escândalo e tanto se algo assim fosse descoberto. 

Outro fato que Rogers Brackett lamentaria seria o fato de ter rasgado as cartas de amor que James Dean havia lhe escrito anos antes. Ele disse na entrevista: "Se eu soubesse que Dean iria virar um ator tão popular do cinema, um astro de Hollywood, eu teria guardado todas as cartas românticas que ele me escreveu. As terias colocado em leilão e teria ficado muito rico com elas! Pena que depois que terminamos eu as rasguei, com raiva e mágoa dele! Uma coisa estúpida que fiz!". A mágoa de Brackett em relação a Dean teria sido causada pelo distanciamento de Dean para com ele, principalmente depois que ficou famoso. Assim que as coisas começaram a dar certo James Dean dispensou o namorado que havia lhe ajudado sem muita cerimônia.

Pablo Aluísio.

-James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 7

E então James Dean resolveu largar a universidade. Foi uma decisão um tanto impulsiva, mas Dean parecia muito seguro de sua decisão. Ele estava decidido. Não haveria volta, Claro que o pai de Dean não gostou nada da ideia. Era absurda sob o seu ponto de vista. Além do mais como Dean iria viver dali para frente? Ele não tinha emprego, nem onde viver. O relacionamento com o pai já estava ruim há tempos. Com a decisão de James Dean a coisa toda só piorou. Como Dean já era maior de idade, seu pai resolveu deixar para lá. Cada um é dono de seu próprio destino e cada um tem seu caminho. Agora Dean teria que se virar, procurar por seu próprio sustento. 

Uma solução seria arranjar um emprego e um lugar para morar. Ele conseguiu as duas coisas com um amigo que também estava deixando a universidade. Eles alugaram um pequeno apartamento em Los Angeles e depois Dean conseguiu um emprego no estacionamento de um dos estúdios de cinema em Hollywood. Foi a primeira aproximação com a indústria cinematográfica. Claro, não era bem o que ele esperava, mas já era um começo, humilde começo, mas um começo.

Os dias de Dean como trabalhador no estacionamento não duraram muito. Ele se mostrou um funcionário indisciplinado, que passava o tempo todo ridicularizando seu próprio uniforme. Seu chefe não gostou nada das piadinhas e assim Dean foi logo demitido. "Aquele seu amigo, vou te contar!" - teria dito o chefe do estacionamento para o amigo de Dean. Sem grana e sem perspectiva ele procurou por alguma solução. Não demorou muito e logo Dean se viu sem ter nem o que almoçar, já que as prateleiras do pequeno apê estavam vazias. Até a luz do lugar acabou sendo cortada. Dean começou então a chamar amigos para irem até lá, para um jantar "a luz de velas" - como se fosse algo glamoroso e não falta de pagamento da conta de luz! No fundo a tática de Dean era que seus amigos trouxessem alguma comida para a noite - para assim ele também ter o que comer! A coisa toda acabou funcionando. Todas as noites James Dean tinha pelo menos comida para passar mais alguns dias.

Logo chegou uma ordem de despejo por falta de pagamento do aluguel. O que salvou Dean de virar um esfomeado morador de rua foi uma agente que conheceu nessa mesma semana. Ela acreditou em Dean e o contratou. Agora a agência de atores, modelos e atrizes iria se esforçar para arranjar algum papel para seu novo contratado. Não seria fácil, mas Dean tinha confiança. Se sua nova agente pudesse arranjar algum trabalho, mesmo que no teatro ou em comerciais de TV, já estaria de bom tamanho. E a sorte acabou batendo na porta de Dean. A Pepsi-Cola estava contratando jovens para aparecer em um de seus comerciais televisivos. Os candidatos teriam que dançar e depois tomar uma Pepsi na frente de um jukebox! Dean passou no teste e assim conseguiu seu primeiro pagamento, seu primeiro cachê! A primeira coisa que fez foi ir ao mercado para comprar comida! Passar fome em Los Angeles não fazia bem parte de seus sonhos de um dia virar ator...

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 6

Quando James Dean terminou o colegial ele não tinha a menor ideia do que iria fazer na vida. Morando numa pequena cidade do estado de Indiana suas perspectivas de futuro não pareciam muito promissoras. Aos amigos da escola Dean dizia que queria ser ator, advogado ou até mesmo pastor protestante. Eles não ficaram muito surpresos com isso pois Dean havia sido muito próximo do reverendo DeWeerd. Foi o pastor inclusive que havia despertado em Dean o gosto pela poesia e pela arte. Ele incentivava o jovem Dean a atuar nas peças da escola e lhe dava livros, principalmente de Shakespeare, para que Dean tomasse gosto pela literatura e pelas artes cênicas. Esse líder religioso de Fairmount foi seguramente a pessoa que mais influenciou James Dean em sua vontade de um dia se tornar ator em Hollywood.

O tio de Dean, Marcus, com quem ele havia ido morar quando sua mãe faleceu acreditava que o sobrinho seria feliz sendo um fazendeiro como ele havia sido por toda a vida. James Dean gostava da vida no campo, mas essa escolha estava fora de seus planos. Ele queria experimentar a vida lá fora, na cidade grande. A oportunidade bateu sua porta quando seu pai, que morava na Califórnia, lhe escreveu dizendo que ele deveria ir para Los Angeles morar com ele. O pai de Dean queria que ele se formasse em Direito na UCLA, a universidade da Califórnia. Dean que estava com vontade de ir embora de Indiana viu ali sua grande oportunidade. Na semana seguinte ele pegou o primeiro trem e foi embora para a Califórnia, para quem sabe, um dia, vir a se ator de teatro e cinema.

James Dean chegou em Los Angeles com uma mochila nas costas e cinco dólares no bolso. Seu pai o pegou na estação ferroviária. Ele adorou a ensolarada e quente Califórnia desde os primeiros dias. Seu principal desafio seria passar no exame de admissão da UCLA. Dean tinha sido um bom aluno desde os primeiros dias na escola em Fairmount e ao lado do reverendo DeWeerd conseguiu acumular uma boa bagagem cultural que foi decisiva quando ele finalmente foi aprovado na Universidade que seu pai tanto sonhara. Ser um aluno de Direito na UCLA era uma grande honra para a família. Certamente James Dean estava indo pelo caminho certo.

A felicidade no mundo acadêmico porém não era repetida na vida familiar de Dean. Os longos anos que morou longe de seu pai cobraram um preço. Na verdade ambos se sentiam quase como estranhos. O fato do pai morar com uma mulher com quem Dean não gostava só piorava as coisas. Assim poucos meses depois de chegar em Los Angeles, Dean resolveu ir embora da casa de seu pai. Ele conseguiu ser aceito numa fraternidade de estudantes (muito comum nos Estados Unidos). A Sigma Nu reunia os estudantes de Direito da UCLA em apenas uma grande residência dentro do Campus. O clima mais sofisticado do lugar porém fez Dean novamente se sentir deslocado. Dean achava seus colegas bem afetados, esnobes e por essa razão não se deu muito bem. Pior do que isso, Dean começou a perder interesse pelas matérias jurídicas, ficando quase todo o tempo no Departamento de Artes Cênicas da UCLA. Sua vocação para ser ator novamente falava mais alto.

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 5

Uma das histórias mais curiosas da carreira do ator James Dean foi sua aproximação com Vampira (nome artístico de Maila Nurmi). Para se destacar em Hollywood na década de 1950 era necessário se criar toda uma personagem em torno de si, assim provavelmente algum produtor iria se interessar. Maila, uma atriz desempregada, assumiu o papel de Vampira por sugestão do marido. Havia uma série de filmes de terror e ficção sendo realizados por pequenos e grandes estúdios e assumir uma caracterização ao estilo de Vampira viria bem a calhar para ser escalada nesses filmes. Obviamente que era tudo um jogo de cena, um ato de marketing para angariar papéis. Maila ia caracterizada como Vampira aonde quer que fosse e foi assim que chamou a atenção do novato James Dean. O ator gostava muito de freqüentar um café que ficava na esquina da Sunset Boulevard em Hollywood. E foi lá que topou pela primeira vez com Vampira.

Dean que gostava de agir e se vestir de forma pouco convencional levou um tremendo susto ao ver aquela mulher alta, toda vestida de preto, fortemente maquiada e caracterizada. Sem pensar duas vezes foi até ela puxar assunto. Ao que tudo indica Dean não matou a charada logo de cara e ficou convencido que Maila fosse devota de alguma seita satânica ou algo do gênero. No bate papo James Dean foi logo avisando que estava “em busca de forças demoníacas”, pois queria conhecer a fundo alguma seita satânica. Vampira obviamente achou sua abordagem muito estranha pois não sabia se ele estava tirando uma onda dela ou se falava sério. Era normal para Dean agir assim, de forma esquisita e pouco comum. De uma forma ou outra o assunto fluiu muito bem e em pouco tempo ambos estavam se considerando grandes amigos. “Ele tinha as mesmas neuroses que eu” – explicou anos depois a atriz. Dean também mostrou muito interesse no universo de filmes de terror, principalmente os estrelados por Boris Karloff, ator que adorava, mas sabia que essa não era bem sua praia – “A Warner nunca me deixaria fazer um filme desses”, explicou.

Ao longo de meses a aproximação de Dean e Vampira evoluiu para um breve flerte casual. Era um caso amoroso do tipo “chove não molha”. Dean se aproximava, ficavam juntos alguns dias e depois o ator desaparecia por semanas, sem dar notícia. Vampira lembra que Dean passava por problemas emocionais na época. “Ele estava apaixonado por Píer Angeli mas a mãe da garota não gostava dele. Dean também não colaborava muito para ser aceito pois continuava o mesmo, sem se passar de bom moço”! Após várias idas e vindas finalmente Dean rompeu com Vampira pela imprensa. Foi uma completa surpresa para ela. Usando da coluna de fofocas de Hedda Hooper ele declarou que Vampira “não passava de uma farsa!”. A atriz também não deixou barato dizendo que James Dean “ficava com qualquer um” (uma óbvia referência ao seu bissexualismo). Segundo Vampira, Dean participou de uma animada festa gay em Malibu na noite anterior à sua morte em um acidente de carro. O ator também seria conhecido em certos redutos gays como “o cinzeiro humano” pois gostava que seus amantes apagassem seus cigarros em seu braço! Resta saber se esse tipo de afirmação era apenas um ato de vingança ou um fato real. Quem pode saber a verdade?! De qualquer modo uma coisa é certa: poucas vezes se viu na história de Hollywood um casal tão incomum quanto James Dean e Vampira, eles eram certamente excêntricos e bizarros e combinavam perfeitamente em sua esquisitice!

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de julho de 2019

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 4

Depois do fim das filmagens de "Vidas Amargas" James Dean mergulhou em um dos períodos mais felizes de sua vida e isso por causa de seu relacionamento com Pier Angeli. Ele mudou seu estilo de vida para fazer o namoro dar certo e isso causou uma forte impressão dentro da comunidade de Hollywood. Ao invés de andar jogadão, com jeans e camisas surradas, Dean começou a vestir terno e smoking e para grande surpresa de quem o conhecia passou a apreciar jantares requintados ao lado da namorada. Até compareceu devidamente elegante na estreia do filme "Nasce uma Estrela"! Para quem vivia de moto, andando pelas ruelas menos turísticas da cidade, sem dúvida foi uma mudança radical. Poucas semanas depois de ser liberado pela Warner, Dean resolveu que era hora de voltar para Nova Iorque. Apesar de estar feliz ao lado de Angeli o fato era que o ator só se sentia em casa completamente na grande Apple, onde tinha sua turma formada desde os tempos do Actors Studio. Assim que chegou na costa leste ele emendou um pequeno trabalho na TV, apenas para não ficar sem trabalhar. Depois participou de um novo grupo de teatro que estava montando uma peça na Broadway. Longe de Hollywood o namoro com Angeli começou a esfriar.

A um amigo próximo James Dean confidenciou que Pier e sua mãe estavam pressionando o jovem rebelde a se amarrar, a se casar com a namorada. Isso era algo impensado para ele que sentia ver sua carreira decolar pela primeira vez. Isso porém não era tudo. A mãe de Pier Angeli queria que Dean virasse católico para que tudo saísse de acordo com seus planos. Dean não tinha religião fixa e não frequentava qualquer tipo de igreja e por essa razão ficou receoso. Ele até toparia virar romano se isso fosse de agrado da namorada, a única coisa que definitivamente não estava disposto naquele momento era se casar. Isso era algo fora de cogitação. Obviamente James Dean queria que o relacionamento fosse bem sucedido e um dia, quem sabe, poderia resultar em casamento, mas obviamente em um futuro indeterminado e não nos próximos meses como a mãe de Angeli queria. Infelizmente James Dean tomaria ciência pelos jornais que sua namorada estava indo a festas em Hollywood enquanto ele estava em Nova Iorque. Nas fotos publicadas ela aparecia feliz e sorridente, dançando inclusive com outros homens. Isso definitivamente deixou Dean totalmente aborrecido.

Depois de mais algumas semanas ele retornou a Los Angeles. A Warner queria providenciar seu segundo filme, chamado "Rebel Without a Cause" que seria dirigido pelo cineasta Nicholas Ray. O roteiro prometia pois tratava sobre jovens rebeldes da Califórnia. Era uma boa oportunidade para Dean, além disso o roteiro parecia ter sido escrito sob medida para ele. Em sua próprias palavras: "O meu personagem nesse filme será o de um jovem que tenta fazer tudo certo, mas que no final acaba fazendo tudo errado!". Após ler o script ficou bastante animado com o projeto e na mesma semana informou aos executivos da Warner que faria o filme com certeza! Se as coisas na esfera profissional pareciam andar bem, na vida privada o namoro com Angeli ia de mal a pior. Desde que voltara de Nova Iorque as brigas começaram a se tornar frequentes demais e Dean, rebelde como era, não estava disposto a ser manobrado nem pela namorada e nem muito menos pela mãe dela. No meio do turbilhão o namoro finalmente esfriou. Dean foi para seu lado e Angeli para o outro. Para sua completa surpresa a ex-namorada anunciou em poucos dias que ficaria noiva do cantor Vic Damone, algo que deixou Dean totalmente desnorteado, sem saber como reagir.

Dois meses depois veio uma bomba ainda maior. Pier anunciou sua data de casamento com o cantor ítalo-americano. A cerimônia foi uma das mais concorridas da comunidade de Hollywood, mas Dean ficou obviamente de fora da lista de convidados. Isso não o deixou intimidado e assim ele resolveu ir de moto para ver o que estava acontecendo no dia do casamento de sua ex. Estacionou sua Harley do outro lado da rua, acendeu um cigarro e ficou bem ali, quase como um desafiante. Assim que Angeli saiu da igreja e a chuva de arroz cobriu seu belo vestido de noiva, James Dean subiu em sua moto, acelerou e saiu em disparada, numa das mais representativas atitudes de sua vida, mostrando de forma clara que apesar da desilusão amorosa, ninguém ainda tinha forças suficientes para controlar o rebelde de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 3

Assim que as filmagens de "Vidas Amargas" iam avançando, Dean e Kazan começaram a ter atritos. O que começou com uma simbiose de ideias interessantes para o filme logo desandaram para pequenos mal entendidos que cresceram ao ponto de Kazan falar mal do ator para a imprensa. Para o diretor as filmagens começaram muito bem, mas conforme foram avançando surgiram problemas envolvendo James Dean com praticamente todos os membros do elenco.

Durante uma cena com o ator Raymond Massey (que interpretava seu pai no filme) Dean começou a recitar pequenas obscenidades e palavras de baixo nível para seu colega, enquanto ele tentava se concentrar em declamar seu rebuscado texto. Para Dean tudo não passou de uma brincadeira, mas para Massey aquilo era o ápice da falta de profissionalismo. Com sua estrela Julie Harris as coisas não fluíram melhor. Dean começou a debochar de seu jeito tímido e calado. Julie tentava levar na brincadeira, mas depois aquilo começou a aborrecer a tal ponto que Kazan disse literalmente que "ela era realmente uma santa em aguentar aquele James Dean no set sem perder a paciência"!

Depois de morar um tempo com Richard Davalos em um apartamento cedido pela Warner, James Dean resolveu tomar uma decisão radical. Largou o apartamento, pegou sua velha mochila com os poucos pertences pessoais e resolveu que iria morar dentro de seu camarim no estúdio. Kazan achou aquilo uma maluquice, mas Dean explicou que o camarim no final das contas era mais espaçoso que seu pequeno quarto e além do mais o deixaria mais perto do trabalho (na verdade o deixaria sempre "dentro" de seu trabalho). Os produtores não fizeram questão, mas lhe informaram que assim que as filmagens terminassem ele teria que sair de lá, pois outro filme seria feito e os camarins seriam disponibilizados para o elenco que chegaria para trabalhar no novo filme. Dean deu de ombros, afinal de contas por mais estranho que fosse seu comportamento ele certamente não estaria disposto a viver indefinidamente dentro de um camarim de estúdio de cinema.

Enquanto estava de folga das filmagens, James Dean resolveu visitar os sets de outros filmes, entre eles "O Cálice Sagrado" que estava sendo filmado perto de seu camarim. Foi lá, visitando Paul Newman, que Dean viu pela primeira vez a atriz Pier Angeli. Foi amor à primeira vista! Embora Dean tivesse tido vários casos amorosos com homens em sua vida, ele tinha uma  certa tendência em alimentar paixões amorosas em relação a garotas que conhecia e admirava. Angeli era uma delas. De família católica italiana tradicional, a atriz era o extremo oposto de James Dean, na época considerado um ator largado de Nova Iorque, um sujeito conhecido por sua rebeldia e comportamento fora dos padrões. De qualquer maneira, como diz o ditado, os opostos se atraem. E assim James Dean ficou gamado por ela! Nem bem a viu pela primeira vez comentou depois com Paul Newman: "Puxa, ela não parece ser desse mundo!". Discretamente James Dean convidou Angeli para se sentar com ele no refeitório da Warner durante o almoço. Não demorou muito e surgiram de mãos dadas, confirmando que estavam namorando. A mãe de Pier Angeli não gostou nada de saber da novidade por causa da fama de rebelde e selvagem do ator e tentou acabar com o precoce namoro, mas foi em vão.

Enquanto isso as filmagens de "Vidas Amargas" iam chegando ao fim. Elia Kazan desabafou e disse que Dean não se deu bem com ninguém, nem com o elenco e nem com a equipe técnica. Também reclamou de suas atitudes insuportáveis, como por exemplo, sempre tentar estragar as cenas de Julie Harris. Outro aspecto que incomodou Kazan foi a forma como Dean lidava com o trabalho pois na opinião do diretor "Ele perdia muito tempo tirando fotos de si mesmo". Um egocêntrico? Para Kazan não restava a menor dúvida. Durante as filmagens, Dean resolveu comprar uma nova moto, da marca Triumph, ideal para corridas. Assim que descobriu isso Kazan chamou Dean de lado e lhe avisou: "Não tenho nada a ver com sua vida pessoal, mas enquanto o filme não ficar pronto você não participará de nenhuma corrida". Dean contestou e disse que nunca se machucara antes! Mesmo assim, como ainda era seu primeiro filme, resolveu acatar as ordens do cineasta. Na festa final de confraternização das filmagens James Dean não apareceu. Preferiu pegar sua mochila, colocar nas costas e ir embora de moto até o litoral. Haveria uma corrida para amadores e Dean não queria perder a chance de correr com sua possante moto pela primeira vez.

Pablo Aluísio.