segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Stevie Wonder - Send One Your Love
Nessa época o artista ainda fazia parte da gravadora Motown, aquele selo mitológico tão importante para a música negra dos Estados Unidos. Curiosamente a gravadora tratava seus artistas com mão de ferro mas Wonder conseguiu impor suas decisões, tanto que aqui surge como produtor também, algo que seria impensável nos primeiros anos da Motown, sempre controlando excessivamente todas as gravações a ponto de alguns astros deixarem o selo por se sentirem literalmente sufocados pela ditadura de Berry Gordy.
O que temos aqui é uma balada muito agradável, com ótimo acompanhamento instrumental. A música depois seria inserida no belo álbum "The Secret Life of Plants", até hoje considerado um dos momentos mais inspirados da carreira do cantor e compositor. No lado B para amenizar os custos de produção, Gordy resolveu colocar a mesma canção, só que apenas instrumental. Isso é curioso porque os colecionadores de vinil sabem bem como isso era comum, até mesmo em outros artistas. Uma pena pois o Lado B com músicas inéditas nos singles eram bem mais saborosos, tanto que daria origem a uma expressão que significava justamente isso, belas canções pouco conhecidas. Aqui não temos um lado B nesse estilo mas o single certamente é maravilhoso. Item para colecionador sem a menor sombra de dúvida.
Pablo Aluísio.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Jimmie Rodgers - Secretly
Eu já naquele tempo curtia muito o som melódico do Jimmie Rodgers. Sua geração era muito malhada pela crítica porque ele e todos os cantores que surgirem nesses anos suavizaram bastante o rock e por isso foram tachados de açucarados, cantores teens e coisas semelhantes.
É óbvio que esse tipo de pensamento também era um preconceito (um conceito criado antes de observar bem a música em si). Hoje em dia eu vejo toda essa geração do rock "sugar" americano de uma maneira bem mais amena, diria até simpática. Muitos deles foram chamados de "Mini-Elvis", porque naquela virada de década, dos 50´s para os 60´s, Elvis era apenas um recruta na Alemanha cumprindo seu serviço militar. Assim um vácuo foi aberto com sua saída dos Estados Unidos e muitos jovens com topetes vistosos procuraram seguir os passos do garoto de Memphis.
Paul Anka, Neil Sedaka, até Frankie Avalon, nadaram nessas mesmas ondas. O Rodgers é menos conhecido, o que é uma tremenda pena pois adoro seu rock mais sentimental, cheio de paixão e arranjos que são até hoje o suprassumo da sonoridade do fim dos anos 1950 e começo dos anos 1960. Essa canção "Secretaly" é seu maior sucesso no Brasil pois fez parte da trilha sonora internacional da novela "Estúpido Cupido", um grande sucesso de audiência da TV brasileira.
Aliás outro fato bem curioso é que Jimmie Rodgers cruzaria com Elvis nos estúdios da RCA Victor de Nashvillie, um encontro de duas gerações que se encontravam de forma inesperada. Segundo Priscilla o próprio Elvis tinha receios de ser trocado pela juventude justamente por ídolos mais jovens como Rodgers. Um velho trauma que ele carregou por anos. Mas enfim, essa é uma outra história... Por enquanto deixo aqui a dica de Jimmie Rodgers e seus amores adolescentes... Uma ótima nostalgia dos tempos em que os namoros eram bem mais inocentes e sentimentais, românticos e belos... uma era de ouro do romantismo ao estilo rocker americano.
Pablo Aluísio.
The Doors - Love Her Madly
Jim obviamente deu de ombros. Ele já tinha comprado sua passagem para Paris onde pretendia escrever um novo livro de poemas. Ao seu lado viajaria sua eterna namorada Pam. Só uma coisa deixava Jim feliz: o fato da canção ser do guitarrista Robbie Krieger. Ele era seu melhor amigo na banda, o que não deixava de ser uma surpresa já que Robbie era um sujeito introvertido, fechado, que não era muito de fazer amizades. Com Jim acabou se dando muito bem. Era o extremo oposto do bateria John Densmore, que vivia brigando com Jim em todas as ocasiões. Ambos se odiavam na verdade. John queria mais profissionalismo por parte de Jim e esse como todos sabemos era um porra louca, típico dos anos 60. Jim sabia que John conspirava para ele ser expulso da banda, bem ao contrário de Robbie com quem tinha amizade verdadeira. Assim sempre que Robbie fosse valorizado (como nesse caso de "Love Her Madly") ele ficaria duplamente satisfeito. Afinal amigos são feitos justamente para esse tipo de situação.
Pablo Aluísio.
Jim Morrison
Pois bem, voltemos. Por volta do início dos anos 90 já tinha tudo do grupo. Do primeiro ao último disco. Ouvir The Doors em minha vida foi tão gratificante quanto ouvir o Pink Floyd. Claro que o Floyd é muito mais rico em termos musicais mas isso não desmerece o grupo de Jim Morrison. Na verdade o diferencial entre esse artista e os demais é que sua biografia é tão interessante, tão rica que ficamos até absorvidos por ela. Afinal quando se é jovem encontrar um ídolo (palavra essa que não uso mais em minha vida) pela frente é algo bem marcante.
O problema de Jim Morrison era que ele ainda era um jovem quando morreu. Imagine morrer aos 27 anos apenas! Quem vê suas últimas fotos vai perceber que Morrison estava parecendo um velho, um sujeito barbado, gordo, inchado aparentando muito mais de 40 anos fácil. A explicação é que ele entrou fundo nas drogas, nas bebidas e nos excessos. Quase não conseguia mais se apresentar ao vivo porque ou estava embriagado ou narcotizado. Mas verdade seja dita, ele não era esse doidão todo apenas pela diversão ou pelo vício. Morrison tinha essa postura de exageros e auto-destruição também por uma questão de ideologia. Ele era fã da frase: "As portas do excesso abrem os pilares do conhecimento". Assim para atravessar para o "outro lado" ele pagou o preço de todos os excessos possíveis e imagináveis. E o preço de uma bad trip dessas era a própria vida!
Hoje em dia já não ouço os Doors como antigamente. A discografia do grupo é relativamente pequena (não chega nem a dez discos oficiais) e assim em pouco tempo você esgota, ouve todos os discos, todas as canções e se cansa mais rapidamente do que o habitual. Passa longe de ser uma obra extensa. Ainda considero o Doors um dos melhores grupos de rock dos anos 60 e Morrison um baita de um cantor. Recentemente vi um famoso jornalista brasileiro na Globo falando que Jim Morrison não era um bom cantor. Discordo completamente, acho que ele era extremamente talentoso. Em entrevistas dizia que um dia queria cantar como Sinatra e Elvis. Não chegou lá, mas fez bonito.
Infelizmente ele entrou de cabeça naquela ideologia que dominava a juventude dos anos 60 e morreu cedo demais. Tudo se resumia em "Viver intensamente e morrer jovem". Era o máximo para os garotos daqueles anos loucos e psicodélicos. Assim como Hendrix e Joplin morreu com apenas 27 anos, se tornando um mito trágico tal como Dionísio que adorava. Quem sabe o que ele faria se tivesse tido a oportunidade de viver mais alguns anos? Morreu cedo e foi enterrado em sua próprio mito. O único consolo é saber que se o mito se foi pelo menos a obra ficou. Descanse em paz Rei Lagarto!
Pablo Aluísio.
Cream - Fresh Cream
Hoje em dia o Cream é considerada uma das superbandas da história do rock mas em seu começo as coisas eram bem diferentes. Quando gravaram esse primeiro disco ainda eram completamente desconhecidos nos Estados Unidos (só depois da gravação foram à América em busca de projeção e sucesso). "I Feel Free", uma canção símbolo dessa fase, não entrou no álbum em sua primeira edição, sendo lançada em separado, como single, para tornar o som da banda mais popular entre os ingleses. Deu certo. Mesmo em uma gravadora pequena eles conseguiram chamar a atenção do público e emplacaram um sexto lugar entre os mais vendidos. A partir daí o Cream decolaria mas infelizmente o grupo implodiria apenas três anos depois, fruto das constantes brigas entre Ginger Baker e Jack Bruce. Clapton que já tinha vivenciado algo parecido com o Yardbirds nem pensou duas vezes, pegou seu boné e foi embora causando o fim do Cream. De qualquer maneira isso não importa pois o registro continua para a eternidade. Cream é um som maravilhoso que não pode ser ignorado por verdadeiros fãs de rock. Se ainda não conhece corra para conhecer!
Cream - Fresh Cream (1966)
I Feel Free
N.S.U. (Non-Specific Urethritis)
Sleepy Time Time
Sweet Wine
Spoonful
Cat's Squirrel
Four Until Late
Rollin' and Tumblin
I'm So Glad
Toad
Pablo Aluísio.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Roy Orbison
Foi certamente uma carreira longa, produtiva e importante. Infelizmente ele se foi muito cedo, com apenas 52 anos, enquanto levava uma vida sossegada em Madison, Tennessee. Era o dia 6 de dezembro de 1988. Para não deixar a data passar em branco resolvemos antecipar essa homenagem para esse ícone da música popular americana (e mundial). Em breve escreverei mais sobre Roy aqui, inclusive comentando seus discos que são em sua maioria excepcionais. Aguarde.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
A-ha - Scoundrel Days
Hoje em dia ela está em baixa por uma série de fatores (inclusive no Brasil está literalmente fechando suas portas) mas na década de 80 a MTV era o canal que todo jovem sintonizava. O A-ha assim surgiu como algo exótico e diferente, afinal os americanos não sabiam (como ainda hoje não sabem) o que era a Noruega ou onde ela ficava no mapa. Só sabiam que era um país muito frio e distante que conquistava as paradas americanas através desse trio de caras de nomes pra lá de esquisitos. Com as portas abertas o grupo aproveitou cada espaço, cada programa na TV americana para ganhar fama e divulgar de quebra sua música. Tanta divulgação surtiu efeitos bem positivos pois esse é seguramente um dos discos do A-ha com o maior número de hits FM da história do grupo.
Todas as faixas são destaques, de uma forma ou outra. A canção título é uma balada muito bem escrita, seguindo a tendência de dar nome ao disco como aconteceu em seu primeiro álbum. Gosto muito dos arranjos inspirados de "October" e "The Swing of Things". O mesmo pode-se dizer da simpática e cativante "Maybe, Maybe" que me lembra e muito o clima descontraído e levemente despretensioso das músicas dos anos 50. A canção mais marcante é certamente "Cry Wolf" mas gostaria de chamar a atenção para a diferente "Manhattan Skyline" que em minha opinião é uma das gravações mais simbólicas do som que se fazia na década de 80. Arranjos, letras, tudo nos remete para aqueles anos. Sinal que o som do A-ha ficou datado? Não diria isso, na verdade é apenas a prova que a música que eles fizeram cativou bastante, mesmo após tantos anos, afinal de contas você só se lembrará daquilo que realmente ficou gravado em sua memória não é mesmo? Maior prova que o A-ha não é uma banda descartável como se diz por ai não há.
A-ha - Scoundrel Days (1986)
Scoundrel Days
The Swing of Things
I've Been Losing You
October
Manhattan Skyline
Cry Wolf
We're Looking for the Whales
The Weight of the Wind
Maybe, Maybe
Soft Rains of April
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Engenheiros do Hawaii - O Papa É Pop
"Pra Ser Sincero" é maravilhosa! Mostra bem como eles eram bons em letras e ritmo. A música título "O Papa é Pop" foi composta quando o grupo lembrou da visita do Papa João Paulo II no Brasil. Ele tinha se tornado não apenas um símbolo religioso, mas também um ícone pop, plenamente incorporado dentro da cultura pop da época. Uma visão completamente correta. Visão de intelectuais, categoria que se encaixa bem para os membros dessa banda. Enfim, quer conhecer o melhor que o Rock no Brasil produziu? Ouça esse disco.
Engenheiros do Hawaii - O Papa É Pop (1990)
O Exército de um Homem Só I
Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones
O Exército de um Homem Só II
Nunca Mais Poder
Pra Ser Sincero
Olhos Iguais aos Seus
O Papa é Pop
A Violência Travestida Faz Seu Trottoir
Anoiteceu em Porto Alegre
Ilusão de Ótica
Perfeita Simetria
Pablo Aluísio.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Duran Duran - Rio
Outro dia lendo uma publicação inglesa vi uma lista que colocava o Duran Duran como um dos mais influentes grupo de rock da Inglaterra! Como é?! Eu sempre me recusei a considerar o Duran Duran uma banda de rock. Em minha opinião esse grupo era uma transição entre o pop mais plástico e uma variação bunda mole de um tipo de rock mais inofensivo (perdão por usar a palavra rock), uma categoria que costumo chamar de rock de FM (quem viveu os anos 1980 e a era de ouro das estações de frequência modulada irá entender de imediato o que estou querendo dizer).
Além de implicar com o som mela cueca do "Duran Duran" ainda nunca fui com a cara do Simon Le Bon! Na boa, nada tenho contra gays em geral; mas o Le Bon sem dúvida foi o astro pop rock mais gay da música inglesa - nem Boy George e nem muito menos George Michael, símbolos da musicalidade GLS British, conseguiram chegar perto. Também foi o músico mais cara de pau que já vi, usando roupinhas pra lá de bregas, mesmo na época. Coisas de oncinha que entregavam completamente o Le Bon. E ainda chamavam o sujeito de charmoso e elegante! Please... Lixo cultural é isso aí, my friend! Tantas primas donas reunidas em um mesmo grupo só poderia dar mesmo em brigas com luvas de pelica e o Duran Duran logo se implodiria, dando origem a outros grupos, igualmente farofas, mas isso é uma outra história que depois contarei por aqui...
Título Original: Rio
Artista: Duran Duran
Ano de Produção: 1982
País: Inglaterra
Estúdio / Selo: Capitol / EMI
Produção: Colin Thurston
Formato Original: Vinil
Músicos: Simon Le Bon, Nick Rhodes, John Taylor, Roger Taylor
Faixas: Rio / My Own Way / Lonely In Your Nightmare / Hungry Like
the Wolf / Hold Back the Rain / New Religion / Last Chance on the
Stairway / Save a Prayer / The Chauffeur.
Pablo Aluísio.
Ray Charles - I Got a Woman
Obviamente Ray Charles tinha seu próprio estilo, único e maravilhoso, mas por questões puramente comerciais deixava isso um pouco de lado. O importante era sobreviver. Depois de uma temporada numa pequena gravadora ele foi finalmente contratado pela conhecida e poderosa Atlantic Records. Foi a grande chance de sua vida. As coisas porém não começaram muito bem pois Charles continuava a seguir os passos de Nat King Cole. Após lançar quatro singles e perceber que nenhum havia feito sucesso ele finalmente tomou coragem para assumir seu próprio estilo em seus discos. Assim levou "I Got a Woman" para gravar. Se fizesse sucesso seria ótimo, caso contrário ele voltaria para o estilo anterior.
"I Got a Woman" estourou nas paradas e levou o nome de Ray Charles pela primeira vez ao topo das paradas. A fórmula era mais do que interessante. A melodia era claramente inspirada na Gospel Music Negra, nos hinos religiosos que Ray conhecia tão bem desde criança. A letra porém não tinha nada a ver com religião, era aliás bem ousada, quase escandalosa naqueles tempos moralistas e conservadores. A fusão entre Gospel e uma letra tão profana deu origem a um novo gênero musical, a Soul Music, a música que vem de dentro, do fundo da alma. Finalmente após tantos anos de luta em busca do sucesso o maravilhoso Ray Charles havia finalmente encontrado seu caminho.
Claro que "I Got a Woman" abriu todas as portas para Ray Charles a partir daí. Desse ponto em diante ele não mais deixaria os picos da fama e do sucesso. A canção em si se tornou um marco e para muitos especialistas foi um dos primeiros registros de rock da história! Afinal de contas o que é o Rock em sua essência? Uma mistura talentosa de gêneros musicais diversos. "I Got a Woman" se enquadra perfeitamente nesse conceito. Consagrada por crítica e público a música ainda seria gravada por outros mitos, entre eles Elvis Presley e os Beatles. Maior prova de sua imortalidade não há!
Pablo Aluísio.