domingo, 2 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Now - Parte 1

Os brasileiros de forma em geral gostam bastante desse álbum "Elvis Now". As razões para isso são várias. Vai desde a inclusão de um dos maiores sucessos de Elvis no Brasil com a canção "Sylvia", passa pelo fato de ter uma das músicas mais marcantes dos Beatles, "Hey Jude" (o que levou muitos a comprarem o disco naquele distante ano de 1972), indo até seu design de capa, multicolorida, com jeitão hippie. Também foi um dos LPs mais vendidos de Elvis em nosso país, ganhando várias reedições ao longo dos anos. De fato temos aqui um excelente disco de estúdio, um pouco diferente em sua produção dos grandes discos de Elvis da época, mas que se firmou mesmo por causa de sua bela qualidade artística. Por essa época Elvis estava vivendo seu inferno astral, com o conturbado e complicado divórcio de Priscilla. Isso porém ainda era meio ocultado do público em geral, assim todos apenas pensavam que Elvis estava vivendo mais um bom momento em sua carreira profissional, cantando regularmente em Las Vegas, fazendo turnês, etc. Uma época bacana de sua vida, isso apesar das pistas deixadas por Presley em várias das letras que cantava nesse período.

Bom, é consenso que uma das razões do sucesso de vendas de "Elvis Now" foi mesmo a inclusão de uma bela versão de "Hey Jude", o clássico imortal dos Beatles. Elvis deu uma leveza toda própria à sua versão, culminando em uma sonoridade e uma performance realmente magistral. Um aspecto que gosto muito dessa gravação é que Elvis canta a balada com uma certa suavidade, uma leveza, que não havia nem mesmo na versão original dos Beatles. Isso se deveu ao fato de que Elvis na verdade não tinha programado nada no sentido de gravar a música dos Beatles. A coisa simplesmente aconteceu dentro do estúdio, quase como se fosse um ensaio sem maiores compromissos. Perceba que Elvis não segue à risca a ordem da letra original. Ele começa até mesmo com um verso errado. Também podemos perceber o quanto ele estava relaxado ao rir um pouco quase no final da faixa (coisa que nos velhos tempos inutilizaria qualquer take com pretensões de se tornar uma faixa oficial). No final das contas era apenas Elvis cantarolando uma música de que gostava, sem pressão, sem pretensão de soar perfeito. 

Outro fato curioso é que durante anos os Beatles silenciaram sobre a gravação de "Hey Jude" por parte de Elvis. Na realidade eles nem sequer existiam mais como grupo em 1972. Isso porém não evitou uma certa expectativa sobre a opinião do quarteto sobre essa faixa. Tudo ficou meio omisso até que Paul McCartney visitou Memphis durante uma de suas concorridas turnês. Ele foi até Graceland, visitou o museu, posou ao lado das guitarras que tinham pertencido a Elvis e depois, falando com a imprensa americana, confidenciou que havia amado a versão de Elvis para uma de suas maiores criações, justamente a versão de "Hey Jude" que ouvimos nesse disco. O próprio explicou tudo com seu jeito peculiar de se expressar ao afirmar: "Adoro ouvir Elvis cantando Hey Jude! É ótimo, tenho o disco até hoje comigo! Fantástica interpretação!". Assim se o próprio criador desse hino imortal dos anos 60 adorou a faixa quem somos nós para criticar qualquer coisa, não é mesmo?

Outro aspecto curioso desse disco foi a opção da RCA Victor em colocar a versão completa, sem cortes, de "I Was Born About Ten Thousand Years Ago". Como sabemos essa música foi picotada no disco "Elvis Country" de maneira até interessante, original, mas também torturante para quem queria ouvi-la completa. Para apaziguar as críticas de quem ficou insatisfeito por tê-la apenas aos pedaços no disco de 1971, a gravadora resolveu ouvir as reclamações, a selecionando aqui da forma como foi gravada, completa, sem  Interrupções ou algo do tipo. A letra, como já tivemos a oportunidade de explicar, ia bem ao encontro de algumas crenças e doutrinas religiosas que Elvis vinha estudando naqueles tempos, com referências a reencarnação e imortalidade da alma. Por isso a afirmação de se ter mais de dez mil anos! Coisas que Elvis conversava praticamente todos os dias com seu cabeleireiro e "guru" Larry Geller. Ler e debater temas religiosos era um dos passatempos preferidos do cantor, algo que ele nunca abandonou, colecionando literatura sobre o assunto até o dia em que morreu.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Elvis Now - Parte 2

Havia uma variedade de gêneros musicais nesse álbum de Elvis lançado em 1972, mas era inegável também que a country music se fazia muito presente em seu repertório. A primeira faixa do disco era justamente um country chamado  "Help Me Make It Through The Night" de autoria do cantor e compositor Kris Kristofferson. Era uma canção bem recente na época, lançada no disco "Kristofferson" de 1970. Esse álbum tinha se tornado um dos preferidos de Elvis, justamente pelo seu estilo country / rock de Nashville que estava começando a se sobressair nas rádios do sul.

A história de criação dessa canção é bem curiosa. Ela foi explicada pelo autor alguns anos depois, em entrevista. Ele disse que leu uma entrevista de Frank Sinatra para a revista Esquire onde o cantor se esquivava de uma pergunta sobre suas crenças religiosas. Frank respondeu: "Em que eu acredito? Eu acredito em um copo de whisky, em uma boa companhia, na bíblia... ou em qualquer coisa que me ajude a atravessar a noite!".

Sinatra vinha passando por uma crise depressiva após o fim de seu casamento e passava as noites em claro, tentando chegar no dia seguinte. Foi justamente em cima dessa declaração que Kris Kristofferson escreveu sua canção. Inicialmente ele ofereceu a música para Dottie West, mas ela recusou. Assim ele acabou a gravando originalmente para o seu álbum de 1970. A versão de Elvis surgiria dois anos depois. Para alguns Elvis havia se identificado com a letra, pois ele também vinha passando por problemas relacionados a uma grave depressão, após o fim de seu casamento com Priscilla. Além disso Elvis tinha sérios problemas de insônia, que o deixava acordado por noites seguidas. Assim se tornava bem óbvio que ele tinha muitos motivos para se ver naquelas palavras escritas por Kristofferson.

Outro country do disco foi a faixa "Fools Rush In". A primeira versão veio com Johnny Mercer em 1940. Tempo de guerra, com os soldados americanos se preparando para lutar na Europa contra os nazistas. Essa versão porém era bem antiga, não marcando muito Elvis (afinal ele tinha apenas cinco anos de idade quando ela foi lançada) As versões que parecem ter inspirado Elvis vieram bem depois, primeiro com Frank Sinatra e depois com Ricky Nelson que a transformou em um grande sucesso em 1963. A letra também demonstrava trazer uma certa identificação para Elvis na época. Afinal apenas os tolos abriam completamente seu coração. Com a traição de Priscilla, o divórcio e tudo o mais que de ruim lhe havia acontecido não era mesmo de se admirar que Elvis não se sentisse apenas magoado com o fracasso de seu casamento, mas também como um verdadeiro tolo por ter acreditado demais no amor.

Pablo Aluísio. 

sábado, 1 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis Now - Parte 3

Elvis nasceu em berço evangélico, mas jamais se fechou dentro da doutrina religiosa dos seguidores de Lutero. Pelo contrário, ao longo da vida ele procurou por várias manifestações religiosas diferentes, tendo estudado as religiões orientais (que sempre o fascinaram, até o fim da vida) e o cristianismo dito mais tradicional. Elvis tinha muito apreço com a religião católica, a primeira religião cristã a surgir na história, principalmente na forma como os católicos tratavam a Virgem Maria. Uma das orações preferidas do cantor aliás era a "Ave Maria" que ele sempre rezava em momentos de reflexão.

Assim Elvis decidiu que iria trazer a "Ave Maria" para seus discos. A forma que ele encontrou para isso foi gravar a canção religiosa católica "Miracle of the Rosary", que ele considerava belíssima! Tão inspirado ficou ao ouvi-la pela primeira vez que comprou algumas imagens católicas para ter em sua casa, tanto em Graceland, como na Califórnia. Elvis não se importava com críticas de que aquilo seria algum tipo de idolatria, porque havia estudado o catecismo romano e entendido a razão de ser das imagens católicas. Nada a ver com idolatria ou algo do tipo. Esse era um velho preconceito evangélico que Elvis não aceitava, pelo contrário, sempre tentava explicar teologicamente que as imagens serviam apenas como instrumentos de fé. Além disso ele amava a arte sacra dos católicos, tendo trazido para seu figurino inúmeros crucifixos e adornos da igreja de Roma.

Um dos sonhos de Elvis inclusive era fazer uma viagem até Roma, para conhecer o Vaticano. Quando estava servindo o exército na Alemanha ele chegou a programar uma viagem que só foi cancelada na última hora por causa de imprevistos. Acabou assim indo até Paris, mas sem deixar de lado seus planos de ir até a Basílica de São Pedro. Nos anos 70 ele teve bastante vontade de realizar uma grande turnê por toda a Europa, com Roma incluída dentro do cronograma, mas tudo foi por água abaixo por causa do Coronel Parker que não tinha passaporte e não poderia acompanhar o cantor por seus shows pelas grandes cidades históricas da Europa.

Outro bom momento desse álbum "Elvis Now" veio com a faixa "Early Morning Rain". Um belo country, com melodia agradável e relaxante. De todas as canções desse disco essa foi certamente uma das que ele mais utilizou em seus concertos durante os anos 70. Aliás é interessante notar que também foi incluída no especial de TV "Aloha From Hawaii". Aqui Elvis não a usou no show propriamente dito, mas numa sequência própria, sem público, apenas a cantando de forma sóbria, concentrada. Curiosamente apesar de ser um country (um gênero nascido no sul dos Estados Unidos), a canção havia sido composta por um canadense, Gordon Lightfoot, em 1966. A versão porém que inspirou Elvis a gravar a faixa foi a de Peter, Paul and Mary. Elvis simplesmente adorava o estilo vocal desse trio que fez grande sucesso nos anos 60.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Now - Parte 4

É fato que os americanos nunca deram muita bola para a balada romântica "Sylvia". Nos Estados Unidos essa música nunca chegou a ser um sucesso. Nem entre os fãs mais ardorosos daquele país há qualquer destaque dado para a canção. Assim ela é considerada mesmo um verdadeiro "Lado B", ou seja, uma faixa gravada apenas para completar o espaço de um disco. Nada mais do que isso. O curioso é que mesmo em fóruns de colecionadores no exterior há um certo desprezo pela gravação.

No Brasil as coisas mudam de figura. "Sylvia" foi certamente um dos maiores sucessos da carreira de Elvis Presley. A música tocou muito nas rádios, ajudou o álbum "Elvis Now" a vender muito em nosso país, além de ter sido colocada como single nacional para aproveitar o sucesso na época. O compacto (único no mundo todo) até hoje é cobiçado por quem coleciona discos de vinil.

Em suma, "Sylvia" foi um grande hit verde e amarelo, sob qualquer ponto de vista. Fazendo um exercício de imaginação, se Elvis tivesse vindo ao Brasil realizar algum show por aqui nos anos 70 certamente ele teria que colocar "Sylvia" como um dos destaques de seus concertos, já que o público brasileiro não iria admitir uma apresentação sem essa canção tão querida dos fãs brasileiros. Como infelizmente isso nunca aconteceu e como Elvis ficou mesmo enclausurado dentro dos Estados Unidos pelo resto de sua vida, ele nunca chegou a interpretar a música ao vivo, afinal para os americanos ela nunca passou de ser um mero "Lado B" da discografia do cantor. Que pena!

Avançando no disco temos ainda "Put Your Hand in the Hand". Confesso que nunca gostei muito dessa faixa. Ela tem uma melodia até agradável, mas o excesso de repetições da letra e do refrão cansam o ouvinte após algumas audições. A letra é gospel, trazendo de volta o Elvis religioso, sempre louvando a Deus. A letra basicamente é quase uma oração, incentivando o ouvinte a colocar seu destino nas mãos de Deus, ou melhor dizendo, colocando suas mãos nas mãos do homem da Galileia, que com suas próprias mãos acalmou as águas do mar. Basicamente é isso. Como se trata de uma música religiosa o refrão é repetido inúmeras vezes. Não há nada de errado nesse tipo de composição harmônica, apenas acredito que canse um pouco, funcionando melhor mesmo dentro de um culto religioso, com todos batendo palmas e cantando juntos.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis Now - Parte 5

"We Can Make the Morning" tem um belo trabalho vocal por parte dos grupos de apoio de Elvis. Essa canção sempre considerei uma das melhores sob esse aspecto. Talvez não tenha sido tão bem recebida pelo público porque sua sonoridade destoava um pouco do que tocava nas rádios na época. "American Pie" de Don McLean era um hit nas paradas e mostrava bem o que todos estavam querendo ouvir por volta de 1972. Músicas grandiosas como essa de Elvis Presley dificilmente iriam se sobressair no mercado.

A RCA Victor porém resolveu ignorar isso e colocou a música de Jay Ramsey como lado B do novo single de Elvis. Não houve boa receptividade, fazendo com que o compacto chegasse apenas ao quadragésimo lugar entre os compactos mais vendidos, um resultado muito longe do que a gravadora pretendia. É uma pena já que definitivamente a canção era bonita e bem executada. Apenas não era a ideal para ser lançada como single naquela ocasião. De qualquer maneira acabou recebendo boas críticas por parte de revistas especializadas em música. Se não foi tão bom do ponto de vista comercial, pelo menos ganhou a simpatia dos críticos musicais.

O Lado A desse mesmo single veio com a melancólica "Until It's Time For You To Go". Essa era uma nova versão de Elvis para um sucesso de meados dos anos 60. A música havia sido escrita e lançada pela artista canadense Buffy Sainte-Marie. Ela foi uma nativa que cantando sobre paz, amor e ativismo político, conseguiu se sobressair no cenário da música naquele período. Sua versão original é bem de acordo com o movimento hippie, com apenas voz e violão, algo singelo, simples, mas ao mesmo tempo bonito e harmonioso.

Elvis de certa forma tirou a melodia de suas origens e a levou para um estilo mais country and western. Também sua banda TCB vinha nessa pegada. Elvis assim tornava a música mais palatável para o público do sul dos Estados Unidos, que tinha mais familiaridade com a sonoridade vinda de Nashville. Muito provavelmente Elvis nem tenha se inspirada na gravação original de Sainte-Marie, mas sim na versão do grupo britânico The Four Pennies. Eles a gravaram em 1965 e conseguiram transformar sua gravação em um top 20 da parada. Um feito e tanto. Pena que na voz de Elvis a música não voltou a obter muito sucesso na parada de singles. Muito provavelmente ela já havia chegado ao máximo em termos de êxito comercial com os ingleses, sete anos antes.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de abril de 2010

Elvis Presley - Separate Ways - Parte 1

O vinil "Separate Ways" de 1973 é outro disco do selo RCA Camden que trazia como carro chefe duas canções retiradas de singles recentes, misturadas com músicas de filmes e canções dos anos 60. Tudo feito sem muito critério, a não ser faturar facilmente com o nome de Elvis Presley. Era uma tática do Coronel Parker cujo lema era "vender a mesma coisa duas vezes!". Foi assim que o empresário fez sua fortuna. Muitas vezes apenas pegava velhas canções, mandava criar belas capas e as colocava de novo no mercado. Ao melhor estilo "se colar, colou", Parker e a RCA ganhavam mais dinheiro em cima do carisma do cantor, e o que era melhor, em dobro, obviamente.

Tirando esse lado comercial de lado, não é que havia boas músicas por aqui! Algumas belas músicas românticas que chegavam nas mãos dos colecionadores mais jovens, que não tinham acesso aos lançamentos originais. Uma dessas belas baladas era a romântica "I Met Her Today" de Don Robertson. Essa música nunca encontrou um lugar adequado dentro da discografia oficial de Elvis Presley. Apesar de ser uma bela composição de Robertson e contar com uma preciosa performance de Elvis, ela foi literalmente sendo encaixada aqui e acolá, em álbuns que não passavam de colchas de retalhos sonoros. Uma pena. Merecia melhor sorte por sua qualidade artística.

Outra de Robertson era a elegante e agradável "What Now, What Next, Where To?". Outra que ficou no vácuo por anos e anos a fio, sem que a RCA Victor a lançasse adequadamente. Ela foi gravada em maio de 1963 quando a própria RCA se questionava se o lançamento de tantas trilhas sonoras, uma atrás da outra, era de fato algo bom para a discografia de seu artista contratado. Meio às pressas, Elvis foi levado até Nashville para a gravação de músicas que não fizessem parte de nenhuma trilha de filme. O resultado foi muito bom, mas a RCA desistiu de editar um disco com as gravações, as deixando arquivadas por muitos anos. Essa música fez parte desse pacote. Uma belo momento que foi empoeirado por erros administrativos da gravadora de Elvis na época.

O público conhecia "I Slipped, I Stumbled, I Fell" do álbum "Something For Everybody" de 1961. Esse foi um belo disco com o nome de Elvis, um lançamento que fez sucesso e que tinha uma excelente qualidade artística. A voz de Elvis estava em um ótimo momento naquela época, com interpretações suaves e elegantes, que ficaram na memória dos fãs. O curioso é que apesar de ser um dos destaques daquele excelente LP, essa faixa havia sido gravada mesmo para fazer parte do filme "Coração Rebelde" (Wild in the Country). Ela foi composta pela dupla Ben Weisman e Fred Wise, compositores bem recorrentes da época em que Elvis estava em Hollywood, estrelando seus filmes em ritmo industrial.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Separate Ways - Parte 2

A grande canção desse álbum sem sombra de dúvidas é "Always on My Mind". Essa música é certamente muito conhecida nos dias de hoje, um grande sucesso de Elvis. Só que na época (estamos falando de 1972) não houve essa repercussão toda em seu lançamento. Mais do que isso, a gravação passou praticamente despercebida, como um mero Lado B qualquer de single. Aliás a canção só iria se tornar um hit após a morte de Elvis, nos anos 80. Escrita pelo trio Johnny Christopher, Mark James e Wayne Carson, a faixa era obviamente uma declaração de arrependimento por parte de Elvis para sua ex-esposa Priscilla.

Também era uma declaração de amor, afirmando que ele não a esquecera em nenhum momento e que reconhecia seus erros em seu casamento. Ele basicamente dizia que agora, com o fim do casamento, entendia que não a havia tratado bem, como deveria e que havia falhado como marido e homem. Além disso deixava claro que ela estava sempre em sua mente. Versos como esses deixam isso bem claro: "Talvez eu não tenha lhe tratado tão bem quanto deveria / Talvez eu não tenha te amado tanto quanto eu poderia / Pequenas coisas que eu deveria ter dito e feito / Eu simplesmente nunca encontrei tempo / Se eu te fiz sentir-se em segundo lugar / Garota, eu sinto muito, eu estava cego!". Priscilla obviamente entendeu tudo o que Elvis queria dizer, a tal ponto que elegeu a música para ser o tema principal da série baseada em seu livro autobiográfico "Elvis e Eu". O ciclo assim se fechava.

Igualmente sentimental e igualmente declarativa de seus pensamentos era a música "Separate Ways". A imagem que vinha das palavras que significavam "caminhos separados" também era bem clara e óbvia. O pedido de divórcio, o abandono de Elvis por parte de Priscilla e principalmente sua traição com o amante Mike Stone pegaram o rockstar de jeito, jogando sua auto estima e seu ego no chão. De repente Elvis, que era considerado o homem perfeito por praticamente todas as mulheres, descobria que havia sido trocado pelo amante de sua esposa. Pior do que isso, a traição partia da mulher que ele mais amava, Priscilla. Foi algo realmente complicado de superar (aliás Elvis nunca superou isso, verdade seja dita).

Em "Separate Ways" Elvis cantava versos como: "Não há mais nada a fazer do que seguir nossos caminhos separados / E juntar os pedaços que ficaram para trás / E talvez um dia, em algum lugar, durante a caminhada / Outro amor nos encontrará". A capa desse disco trazia Elvis com os dois pés em caminhos diferentes. Na época e até hoje em dia muitos dizem ser uma das capas mais cafonas da discografia de Elvis. Eu penso um pouco diferente. Reconheço que a capa não é uma maravilha, não é Da Vinci, porém tem lá seu charme setentista, algo até bem marcante, reconhecível de imediato por qualquer colecionador.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Elvis Presley - Separate Ways - Parte 3

"Old Shep" já era uma velha canção quando Elvis resolveu gravá-la nos anos 50. É interessante porque apesar de Elvis ser naquele momento (estamos falando de 1956) o roqueiro número 1 do mundo, ele escolheu gravar em seu novo álbum essa baladinha chorosa, feita especialmente para as crianças. Era algo fora de rota, sem dúvida. Porém Elvis tinha uma ligação emocional com a música, quando a cantou pela primeira vez em público. Ele era apenas um garotinho numa competição de calouros. O fato de a cantar naquele momento de sua vida o marcou para sempre. Gravá-la em estúdio muitos anos depois foi uma espécie de homenagem nostálgica aos seus tempos de infância.

 "It Is So Strange" também é dos anos 50. Essa bela balada nunca foi bem aproveitada na discografia de Elvis, a tal ponto que ela só ganhou um melhor espaço quando foi lançada como faixa "tapa buraco" na coletânea "A Date With Elvis" de 1959. Aquele disco mesmo em que Elvis está com uniforme militar na capa, olhando para trás, no volante de seu novo Cadillac. A gravação foi realizada em 1957. Naquele mesmo ano ela chegou aos fãs pela primeira vez no compacto duplo "Just for You". Depois disso foi arquivada e praticamente esquecida. Uma pena. Gosto bastante dessa melodia e arranjos. Perceba que a forma de tocar a guitarra de Scotty Moore se tornaria uma marca registrada dos 50´s, dos chamados anos dourados. É um estilo muito bonito de se ouvir.

"Sentimental Me" é outra bela balada romântica. Essa é do disco "Something For Everybody", um disco que não canso de dizer, capturou a voz de Elvis em um momento especial, quando ele adotou um estilo mais suave de cantar, numa espécie de versão branca de Nat King Cole. Todas as faixas desse disco, inclusive às que pertenciam a outros gêneros (como rock e pop) foram beneficiadas por esse tipo de performance vocal. Por ser tão bela e lindamente vocalizada, a RCA resolveu lançá-la novamente, só que nesse disco de 1972, "Separate Ways". Também tinha algo a ver com o momento em que ele passava, uma vez que a canção era bem sentimental, puro coração e emoção.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Separate Ways - Parte 4

O álbum "Separate Ways" segue com mais algumas músicas de trilhas sonoras que foram lançadas nos anos 60. Afinal esse disco, é impossível negar, foi uma colcha de retalhos para lucrar em cima do mercado de discos promocionais, que geralmente custavam a metade do preço dos discos oficiais. Por essa razão a RCA Victor colocou várias reprises nos lados A e B do vinil. Uma forma de faturar sem custos de produção.

"In My Way" foi retirada da trilha sonora do filme "Wild in the Country" ("Coração Rebelde" no Brasil). Esse filme não fez muito sucesso entre os fãs de Elvis na época porque tinha um roteiro mais dramático, com poucas músicas. Elvis queria avançar em sua carreira de ator, provando que sabia atuar bem também em dramas.

O problema é que os fãs não gostaram, acharam o filme parado e chato, só quebrando sua monotonia quando Elvis surgia em cena com seu violão para dar uma canja entre uma cena e outra. Como essa produção não fez sucesso de bilheteria, o Coronel Parker acabou convencendo Elvis a se resumir em suas comédias românticas musicais (como "Feitiço Havaiano"). Esses filmes sim faziam sucesso nos cinemas, vendendo discos com suas trilhas sonoras. Era um sucesso duplo impossível de ignorar. 

Outra música da trilha de "Coração Rebelde" colocada nesse álbum foi "Forget Me Never". Aliás é bom de se dizer que tanto essa como "In My Way" foram compostas pela mesma dupla: Ben Weisman e Fred Wise, que se especializaram em compor músicas para os filmes de Elvis em Hollywood. As duas canções também apresentam arranjos bem semelhantes, basicamente Elvis e violão, sem muitos instrumentos de apoio dentro do estúdio. São baladas românticas até bonitas, mas com singeleza em demasia, o que as rapidamente as levaram ao esquecimento.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Elvis Presley - I Got Lucky - Parte 1

Nos anos 1970 a RCA começou a lançar vários discos de Elvis do tipo nada a ver. Eram coletâneas feitas sem nenhum critério muito claro. Na maioria das vezes eram apenas lançamentos caça-níqueis, sem nenhum grande valor discográfico. Um desses LPs foi o "I Got Lucky" de 1971. Esse foi outro disco que não foi lançado no Brasil, só que ao contrário do "Good Times" que era um álbum de canções inéditas, importante para o fã da época, esse aqui não despertava grande interesse.

A seleção musical foi feita em cima de material de Hollywood dos anos 60. Canções que iam do meramente agradável ao descartável. Não sei bem quem iria se interessar por sobras de Elvis dos anos 60 naquela fase de sua carreira, mas como a RCA estava sempre pronta a tirar lucro de coisas antigas, não foi nenhuma grande surpresa a edição do disco. Lançado como parte do selo azul da subsidiária RCA Camden, o LP chegava aos consumidores em preços promocionais, geralmente pela metade do preço de um disco com o selo RCA Victor, que era o principal da companhia, aquele em que seus discos de canções inéditas eram lançados.

Mesmo assim a seleção ainda trazia coisas interessantes. Uma das faixas a se destacar nesse grupo era a bela balada romântica "I Need Somebody to Lean On". Essa música fez parte da trilha sonora de "Viva Las Vegas" (Amor a toda velocidade, no Brasil). Esse filme foi considerado por muitos como o último de grande qualidade de Elvis em Hollywood. Sucesso de público (faturou mais que "Feitiço Havaiano") e crítica, trazia ainda a melhor parceira de cena que Elvis teve no cinema, a maravilhosa Ann-Margret. Aliás sou da opinião de que Elvis deveria ter se casado com ela. Era uma mulher inteligente, independente, que certamente confrontaria Elvis em seus problemas pessoais, o colocando no rumo certo quando fosse necessário. Uma pena que isso não aconteceu.

De Leiber e Stoller havia ainda "Fools Fall in Love".Essa faixa havia sido gravada em 1966 e não fez qualquer sucesso na carreira de Elvis. Tinha um refrão que considero dos mais pegajosos que já ouvi em minha vida, mas mesmo assim não conseguiu se destacar nas paradas. Para muitos fãs que compraram o disco na época soava como algo inédito de tão desconhecida. Na verdade já havia sido lançada antes em um obscuro single com "Indescribably Blue". A versão original era de 1957 e havia sido lançada pelo grupo  The Drifters no selo Atlantic Records. Com Elvis porém não conseguiu chamar a atenção de ninguém.

Pablo Aluísio.