quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Filmografia Leonardo DiCaprio - Parte 3

A Praia
Um jovem norte-americano, em férias pela Ásia, ouve falar de uma praia maravilhosa, realmente paradisíaca, ainda inexplorada por turistas. Instigado pela lenda ele decide fazer uma viagem até lá e realmente a encontra. Um lugar muito bonito, mas também perigoso, que colocará sua vida em risco. Ainda colhendo os frutos do grande sucesso de Titanic, que havia se tornado o filme de maior bilheteria da história, o ator Leonardo DiCaprio poderia escolher qualquer filme, qualquer super produção de Hollywood naquela época. Só que para surpresa de todo mundo ele acabou optando por esse filme menor, sem grande expressividade. 

Não foi uma boa escolha. O filme realmente apresentava muitos problemas de roteiro e foi arrasado pela crítica em seu lançamento. Havia mesmo uma enorme pressão sobre o Leo e ao que tudo indica ele preferiu mesmo apostar em algo mais modesto. O filme até que não é tão ruim como os críticos falaram, mas temos que reconhecer que de fato é bem esquecível e nada marcante. Tem uma história simples, que até se torna interessante em alguns momentos, mas no geral realmente se torna algo decepcionante para um ator que vinha de um sucesso tão grandioso como Titanic. 

A Praia (The Beach, Estados Unidos, 2000) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Danny Boyle / Roteiro: John Hodge, Alex Garland / Elenco: Leonardo DiCaprio, Tilda Swinton, Daniel York / Sinopse: Jovem norte-americano decide conhecer uma praia exótica, de complicado acesso, no meio selvagem e acaba caindo numa armadilha mortal. 

Gangues de Nova York
Assisti a esse filme no cinema, na época de seu lançamento original. Jamais poderia pensar que a elegante e fina Nova Iorque teria tido um passado tão violento e brutal. O diretor Martin Scorsese sempre foi apaixonado pela cidade e resolveu contar esse período histórico pouco lisonjeiro do lugar, em um tempo onde cada palmo de território era disputado no braço por violentos membros de Gangues. Esteticamente bem realizado, com excelente produção, algo que era mesmo de se esperar de um filme dirigido por Martin Scorsese, esse "Gangs of New York" nunca me agradou muito. Achei o filme sujo e violento em demasia, com pouco espaço para uma melhor dramaturgia. Em poucas palavras? Muita briga para pouca história.

Foi, se não estou enganado, o primeiro filme da parceria entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio. Assim o diretor deixava de trabalhar ao lado de Robert De Niro, seu ator preferido e habitual desde os anos 60, para dirigir DiCaprio, um astro de Hollywood, com grande força comercial nas bilheterias. O resultado em meu ponto de vista foi apenas morno. Além disso sempre achei um desperdício contratar um ator brilhante e talentoso como Daniel Day-Lewis para atuar como um mero butcher, um açougueiro irascível e brutal, com facão nas mãos. Sua indicação ao Oscar inclusive foi mais pelo conjunto da obra de sua carreira do que por sua atuação no filme.  

Outro ponto é que Scorsese amenizou bastante o racismo que imperava nas ruas de Nova Iorque na época histórica que o filme retrata. Afinal as gangues eram todas unidas por fatores raciais, de origem, principalmente as que envolviam imigrantes. Bom, de uma forma ou outra, mesmo não sendo um filme que me agradou totalmente, devo dizer que a produção tem seu lugar dentro da rica e inigualável filmografia de Scorsese, um verdadeiro mestre da sétima arte.

Gangues de Nova York (Gangs of New York, Estados Unidos, 2002) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Martin Scorsese, Jay Cocks / Elenco: Leonardo DiCaprio, Cameron Diaz, Daniel Day-Lewis, John C. Reilly, Liam Neeson / Sinopse: A história do filme se passa em 1863 quando o jovem Amsterdam Vallon (Leonardo DiCaprio) chega a Nova Iorque em busca de vingança. Ele quer a cabeça de Bill 'The Butcher' Cutting (Daniel Day-Lewis) que matou seu pai anos antes. Não será algo fácil já que Nova Iorque estava completamente dominada por gangues violentas de rua. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator (Daniel Day-Lewis), Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia (Michael Ballhaus).

Prenda-Me se for Capaz
Qual é a história contada no filme? Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio) resolve se passar por médico, advogado, piloto de avião comercial e tudo mais que conseguir convencer para as pessoas ao seu redor. Para isso usa sua lábia, seu conhecimento básico das profissões que finge exercer e muito carisma. Com apenas 18 anos coleciona uma série de pequenos golpes que acabam lhe trazendo muitos benefícios, inclusive acesso amplo a ambientes que lhe seriam negados caso não inventasse todas as suas lorotas. Após participar de um roubo milionário o FBI resolve seguir seus passos. É justamente isso que faz o agente Carl Hanratty (Tom Hanks) ir em seu encalço. A tentativa de capturá-lo porém não será das mais fáceis.

Esse é um filme leve, divertido, alto astral mesmo que o personagem seja no fundo apenas um estelionatário. Steven Spielberg no fundo não quis fazer um filme sobre um criminoso e seus crimes. Ele na verdade quis explorar o absurdo das situações, sempre com um largo sorriso na face. Funciona? Certamente sim, só que não é dos melhores filmes do diretor. Considero uma obra menor dentro da vasta e importante filmografia de Spielbeg, que alterou várias coisas da história real (sim, o filme é baseado numa história real). O personagem de Tom Hanks, por exemplo, nunca existiu de fato, foi uma criação para ajudar a tocar a história, já que na vida real foram vários agentes diferentes. Já o personagem vivido pelo Di Caprio era um escroque pé de chinelo que o FBI colocou as mãos e depois foi trabalhar com a agência para capturar outros meliantes. Então é isso. Um filme menor do diretor, porém divertido.

Prenda-Me Se For Capaz (Catch Me If You Can, Estados Unidos, 2002) Estúdio: DreamWorks SKG / Direção: Steven Spielberg / Roteiro: Jeff Nathanson / Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hanks, Christopher Walken, Amy Adams, Martin Sheen / Sinopse: A história real de um criminoso que enganou todo mundo nos Estados Unidos durante os anos 60. Baseado em fatos reais.

O Aviador
Howard Hughes (1905 - 1976) não era um sujeito comum. Filho único de um dos maiores industriais dos Estados Unidos, já nasceu bilionário. Excêntrico ao extremo, cheio de manias, entrou para a história americana por causa de seus projetos ousados e inovadores. Foi o primeiro a visualizar a oportunidade de tornar comercialmente viável uma rota de aviação para transporte regular de passageiros entre Estados Unidos e Europa. Investiu em filmes na era de ouro de Hollywood, criando sob sua produção alguns clássicos imortais da sétima arte. Além disso foi figura de ponta em suas indústrias pois amava tecnologia e investiu pesadamente na área criando nesse processo uma série de invenções que até hoje fazem parte do dia a dia de milhares de pessoas mundo afora. 

Era aventureiro e revolucionário mas em segredo escondia vários problemas mentais que foram minando o homem ao longo dos anos. Com uma história tão rica não faltaria assunto certamente para contar sua biografia no cinema. O diretor Martin Scorsese há muitos anos queria mostrar a vida de Howard Hughes nas telas e conseguiu após receber um excelente roteiro feito sob encomenda escrito por John Logan. O texto era enxuto e se focava nos aspectos mais interessante da vida de Hughes, exatamente o que Scorsese buscava há muitos anos.

Para surpresa de muitos o diretor acabou escalando para o papel principal o ator Leonardo DiCaprio. Certamente ele não era parecido com Howard Hughes mas demonstrou ter tanta paixão pelo material e pelo roteiro que Scorsese simplesmente não conseguiu recusá-lo. Decisão acertada pois Leonardo demonstra muita sensibilidade para interpretar o famoso industrial. Fugindo de armadilhas fáceis que poderia cair por interpretar uma pessoa com problemas mentais, ele optou por uma atuação no tom correto, respeitosa e que nunca cai na caricatura. Embora excelente o ator foi completamente ignorado pelo Oscar que resolveu premiar sua partner em cena, a talentosa Cate Blanchett que aqui interpreta a grande Katherine Hepburn, um mito do cinema que era amiga pessoal de Hughes. Por falar em Oscar o filme teve várias indicações mas fora o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante dado a Blanchett, tudo o que conseguiu vencer foram Oscars técnicos (Edição, Direção de Arte, Figurino e Fotografia). Em minha opinião merecia mais. Uma produção que consiga captar tão bem a essência de uma pessoa tão complexa como Hughes merecia bem mais.

O Aviador (The Aviator, Estados Unidos, 2004) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: John Logan / Elenco: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, Jude Law / Sinopse: Cinebiografia do industrial Howard Hughes, um homem à frente de seu tempo que tinha que lidar não apenas com os desafios de sua posição mas também com um terrível problema mental que o afligia.

Os Infiltrados
Na violenta Boston há uma guerra surda entre o departamento de polícia local e os membros de uma gangue de traficantes de drogas de origem irlandesa! Para descobrir o que se passa no mundo do crime os policiais infiltram um de seus homens entre os criminosos. Curiosamente ao mesmo tempo a gangue também resolve implantar um de seus homens dentre os tiras. Está formada a guerra de informações.

É um dos filmes que menos gosto de Martin Scorsese. Olhando para produções como esse noto um certo desvirtuamento no estilo do cineasta. Ao longo dos anos ele foi ficando cada vez mais intenso, para não dizer exagerado. Nesse processo perdeu grande parte de sua classe. O elenco é fenomenal, com destaque para a presença de Jack Nicholson, mas no geral o filme não conseguiu funcionar plenamente, pelo menos em minha forma de ver. Há um uso excessivo de cenas violentas e algumas de extremo mau gosto que me fazem questionar o que estaria se passando na cabeça do velho Scorsese. Claro que nada disso fará grande diferença pois "The Departed" foi sucesso de crítica e público. 

É mais um fruto da parceria do diretor com o ator Leonardo DiCaprio que, coitado, segue sua sina de ir atrás do Oscar de todas as formas sem conseguir nada. Nesse aqui as coisas foram ainda piores, o agente de Leo fez grande promoção para o ator na Academia - o que de fato era merecido pois ele está bem no filme - mas ele sequer conseguiu ser indicado! Até o velho Jack foi esquecido - provavelmente por causa da pouca participação de seu personagem na trama em geral. Ao invés disso os membros da Academia resolveram premiar o medíocre Mark Wahlberg com uma indicação de Melhor Ator Coadjuvante. Sinceramente? Sua indicação me pareceu ser uma piadinha de humor negro dos membros votantes do Oscar...

Os Infiltrados (The Departed, Estados Unidos, 2006) Estúdio: Warner Bros / Direção: Martin Scorsese / Roteiro: William Monahan, Alan Mak / Elenco: Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Martin Sheen, Vera Farmiga, Alec Baldwin / Sinopse: A violência explode no submundo do crime em uma grande cidade dos Estados Unidos. Filme vencedor do Oscar de Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Edição e Direção. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Direção.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

Filmografia Leonardo DiCaprio - Parte 2

Romeu + Julieta
Romeu (Leonardo DiCaprio) ama Julieta (Claire Danes), mas não conseguem ficar felizes e em paz pois pertencem a duas famílias que simplesmente se detestam e se odeiam. Como superar todas as adversidades em nome de um grande amor como aquele? Desde essa época o Leonardo DiCaprio sonhava com o Oscar de melhor ator (e lá se vão vinte anos de puro desespero por um prêmio que parece não chegar nunca!). Enfim... voltemos ao filme. A premissa é básica: trazer a obra do grande e imortal William Shakespeare para o público jovem. E como fazer isso? Transformando tudo em um videoclip, ou melhor explicando, usar a linguagem dos videoclips para atrair a atenção da juventude dos anos 90 (que não parava de assistir a MTV). 

Como se trata também de uma das obras mais populares do dramaturgo inglês era de se esperar que fluísse às mil maravilhas. Não foi bem isso que aconteceu. A verdade é que o diretor Baz Luhrmann é um pretensioso arrogante que pensa estar sempre revolucionando o cinema com seus filmes. Menos. Ele fez um filme muito colorido, bonitinho e simpático, mas a despeito disso também esvaziou muito a obra que lhe deu origem. Na ânsia de soar moderninho demais tudo o que Baz Luhrmann conseguiu no final das contas foi ser muito, mas muito chato! O filme nunca me convenceu e nem agradou. Há excessos de modernices que aborrecem. Além disso Leonardo DiCaprio parece estar mais preocupado em aparecer bonitinho em cena, como se estivesse posando para uma revista de adolescentes entediadas, do que em atuar realmente bem. Assim não há como salvar o filme. O bardo merecia coisa muito melhor (além do devido respeito, é claro). E o Leo ficou novamente a ver navios. Oscar que é bom... nada!

Romeu + Julieta (Romeo + Juliet, Estados Unidos, 1996) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Baz Luhrmann / Roteiro: Craig Pearce, baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Leonardo DiCaprio, Claire Danes, John Leguizamo / Sinopse:Uma visão moderna do clássico Romeu e Julieta. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Direção de Arte (Catherine Martin e Brigitte Broch). Vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Direção, Design de Produção e Roteiro Adaptado.

As Filhas de Marvin
Após sofrer um derrame, Marvin passa a ser cuidado por sua filha Bessie (Diane Keaton). Vinte anos depois, ela descobre que está com leucemia e que nessa situação delicada de saúde precisará da ajuda de sua irmã Lee (Meryl Streep), que não vê há anos. O reencontro das duas irmãs vai acabar gerando um choque de personalidades.

Esse filme ainda hoje é considerado um dos melhores dramas produzidos nos anos 90. Foi produzido em parte pela produtora do ator Robert De Niro que generosamente interpreta o papel coadjuvante de um médico na história. Além de De Niro o filme ainda tem um elenco maravilhoso. Diane Keaton interpreta a irmã sofredora que passou a vida toda cuidando do pai doente, abrindo mão de sua própria vida pessoal. Meryl Streep é a irmã que foi embora, teve uma vida e passou todo esse tempo negligenciando seus familiares. Seu retorno não vai ser isento de crises e dramas. 

E completando esse ótimo elenco o filme ainda apresenta um jovem Leonardo DiCaprio interpretando um rapaz de 17 anos, vivendo todos os problemas emocionais de sua adolescência. Grande trabalho de atuação coletiva, o filme levou uma indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de melhor atriz para Diane Keaton. Em minha opinião foi pouco, Meryl Streep e Leonardo DiCaprio também mereciam indicações nas categorias de atriz e ator coadjuvante. Eles também estão ótimos nesse filme sensível e tocante que tampouco deixa de lado momentos de humor e desconcentração no meio de uma história dramática e até mesmo bem pesada.

As Filhas de Marvin (Marvin's Room, Estados Unidos, 1996) Estúdio: Scott Rudin Productions, Tribeca Productions / Direção: Jerry Zaks / Roteiro: Scott McPherson / Elenco: Diane Keaton, Meryl Streep, Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Hume Cronyn, Gwen Verdon / Sinopse:Uma história de uma família e seus dramas do dia a dia. 

Titanic
Jack Dawson (DiCaprio) é um jovem pobretão que ganha numa aposta uma passagem de navio no imenso Titanic. A viagem partirá de Londres rumo aos Estados Unidos, considerado naqueles tempos a terra das oportunidades para imigrantes de todo o mundo. Durante a jornada Jack acaba conhecendo a bela Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet), uma garota rica e cheia de sonhos. Ambos se enamoram, mas antes que essa paixão venha a se concretizar definitivamente um grande desastre acontece. O Titanic esbarra em um iceberg em alto-mar, levando à morte centenas de milhares de seus passageiros. 

Quando assisti "Titanic" pela primeira vez, nos cinemas em seu lançamento, pude perceber que o roteiro não era muito original. Na verdade era uma mistura e uma reciclagem de velhos clichês sentimentais e apelativos que curiosamente ainda funcionavam muito bem. Certas fórmulas nunca perdem seu poder de atração perante a plateia. O público e a crítica, claro, foram fisgados imediatamente. O curioso é que nada disso parecia ser o ponto principal do filme. A trama em si parecia uma coisa secundária, usada apenas para que James Cameron viabilizasse seus projetos ambiciosos de fazer as melhores imagens do navio afundado em alto-mar. Para isso ele gastou milhões de dólares. A bilheteria imensa do filme iria assim servir para tornar viável seu velho sonho de ir até as profundezas do Atlântico Norte ver como o Titanic se encontrava no presente. O resultado foi o que todos conhecemos. 

Como obra cinematográfica o filme é puramente piegas, mas de uma pieguice irresistível, com trilha sonora evocativa e o melhor dos mundos em termos de efeitos especiais, sonoros, etc. Tecnicamente é um filme perfeito, com roteiro redondinho para agradar às grandes massas (com aquela velha coisa romântica de garoto pobre se apaixonando por garota rica), um pano de fundo histórico não muito fiel aos fatos e toneladas de computação gráfica. Um milk-shake que todos estavam esperando consumir. A maioria que provou, gostou e não teve do que reclamar. O filme é o blockbuster romântico por excelência, provavelmente o maior de todos os tempos, o que não quer dizer que seja isento de falhas ou equívocos. Será que alguém ainda se importa com isso hoje em dia?

Titanic (Titanic, Estados Unidos, 1997) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: James Cameron / Roteiro: James Cameron / Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Bill Paxton, Jonathan Hyde / Sinopse: Uma bela história de amor que se passa no Titanic, o navio que iria protagonizar o mais famoso naufrágio da história. Filme vencedor de 11 Oscars.

O Homem da Máscara de Ferro
Na França, durante o auge do absolutismo do reinado de Louis XIV, um grupo de mosqueteiros aposentados resolve ajudar Philippe (Leonardo DiCaprio), irmão gêmeo do cruel monarca francês, que foi encarcerado em uma masmorra com uma torturante máscara de ferro, para que ninguém possa ver sua face. Filme baseado no livro escrito pelo aclamado autor Alexandre Dumas. 

Um elenco acima da média valorizado por uma produção luxuosa. Esses são os principais méritos de mais uma refilmagem dessa conhecida estória. Se trata da sexta adaptação para as telas do famoso livro. Para se ter uma ideia a primeira versão foi realizada em 1929 com William Bakewell no papel principal. Depois vieram novos remakes em 1939, 1977 (com Richard Chamberlain como Phillipe), 1979 (filme com o título de "O Quinto Mosqueteiro" estrelado por Beau Bridges) e finalmente "O Homem com a Máscara de Ferro" de 1985. Nessa versão de Randall Wallace (o roteirista de "Coração Valente") se optou por realizar um filme com foco mais na diversão, embora sem deixar de lado a carga dramática do livro original. Wallace se preocupou especialmente em desenvolver os personagens dos mosqueteiros, procurando tornar todos mais humanos, com características próprias de cada um. 

Leonardo DiCaprio também está muito bem em dois personagens. Em um deles, a do Rei Luís XIV, se mostra arrogante, cruel e sanguinário. Um monarca que não perde muito tempo com aspectos morais ou éticos de seus atos condenáveis. No outro, como Philippe, ele muda de personalidade, se revelando um jovem oprimido, mas com uma grande humanidade. Embora não tenha sido realizado nenhuma versão que podemos afirmar com segurança ser a adaptação definitiva do livro, essa aqui se mostra bem superior às demais. Um bom filme, com muita ação, baseado em um dos romances mais conhecidos da literatura mundial.

O Homem da Máscara de Ferro (The Man in the Iron Mask, Estados Unidos, França, 1998) Estúdio: United Artists / Direção: Randall Wallace / Roteiro: Randall Wallace / Elenco:  Leonardo DiCaprio, Jeremy Irons, John Malkovich, Gérard Depardieu, Gabriel Byrne, Peter Sarsgaard / Sinopse: Uma antiga lenda envolvendo a monarquia francesa ganha vida nesse filme histórico. Filme indicado ao European Film Awards na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Gérard Depardieu).

Celebridades
Nos anos 70 Woody Allen dirigiu uma série de filmes bem autorais. Os roteiros eram bem intelectualizados e o humor refinado. Acontece que naquela época o diretor tinha um produtor rico, um tipo de mecenas, que sempre bancava a produção de seus filmes. Mesmo que essas produções não trouxessem grandes bilheterias ou até mesmo se viessem a se tornar fracassos, não importava. O mecenas estava lá para bancar Allen e sua filmografia. Nos anos 90 ele morreu. Assim Woody Allen precisou se mexer novamente, fazer filmes mais comerciais, que trouxessem retorno financeiro aos estúdios. Esse "Celebridades" é dessa segunda fase. Allen deixou as obras mais autorais de lado, encheu seus filmes de atores conhecidos e estrelas de Hollywood (que participavam quase de graça em suas obras pelo simples prestígio de trabalhar nelas) e mudou seu estilo de fazer cinema.

Eu nunca gostei muito desses filmes da segunda fase do diretor. Eles são artificiais demais, com roteiros mais bobos, mais simples, tudo para abrir espaço a uma constelação de atores famosos. A maioria desses filmes trazem roteiros mosaicos, com várias histórias se desenvolvendo ao mesmo tempo, se encontrando apenas no final. Algo cansativo e que nem sempre funciona direito. Como o próprio nome desse filme indicava, Allen resolveu reunir um grupo de celebridades do cinema, com direito a  Leonardo DiCaprio e Charlize Theron em papéis menores, servindo como coadjuvantes de alto luxo. No saldo final tudo é bem fraco. Allen até tentou se justificar, dizendo que o roteiro servia como uma crítica ao mundo das celebridades, mas sabemos que o que ele queria mesmo era fazer boa bilheteria. Sem o velho e bom mecenas era hora de arregaçar as mangas e fazer sucesso a todo custo. Por fim um detalhe curioso: no elenco temos uma participação especial de Donald J. Trump, ele mesmo o atual presidente dos Estados Unidos! Naquela época ele era apenas mais uma celebridade espalhafatosa e ninguém poderia supor que um dia iria se tornar presidente!

Celebridades (Celebrity, Estados Unidos, 1998) Direção: Woody Allen / Roteiro: Woody Allen / Elenco:  Leonardo DiCaprio, Charlize Theron, J.K. Simmons, Joe Mantegna, Kenneth Branagh, Judy Davis, Donald J. Trump / Sinopse: Um grupo de casais, alguns deles formados por celebridades, passa por inúmeras crises em seus casamentos, tudo desandando para uma série de divórcios escandalosos.

Pablo Aluísio. 

Filmografia Leonardo DiCaprio - Parte I

O Despertar de um Homem
Filme baseado em fatos reais. O enredo se passa nos anos 70. Enquanto cresce e se torna um homem o jovem Toby Wolff (Leonardo DiCaprio) presencia sua mãe Caroline (Ellen Barkin) se envolver com uma série de homens violentos, irascíveis e cafajestes. A situação se torna insustentável o que faz com que ela procure recomeçar sua vida em uma outra cidade. Lá acaba conhecendo um novo namorado, Dwight (Robert De Niro), um sujeito que parece ser um bom partido para ela. Trazendo um pouco de estabilidade em sua conturbada vida amorosa, Caroline acaba tendo que lidar com os atritos entre sua nova paixão e seu filho que não gosta do novo companheiro dela.

Esse bom filme assisti em VHS nos anos 90. É aquele tipo de drama que procura ser o mais pé no chão possível. Nada de espetacular ou absurdo acontece - apenas retrata as dificuldades da vida de um jovem, adolescente, que vê sua mãe errando sempre na escolha de seus namorados. Tudo baseado nas memórias pessoais do escritor Tobias Wolff. Eu me recordo que o filme realmente me tocou quando o vi pela primeira vez. Embora nunca tenha passado por algo semelhante deve ser muito penoso (para não dizer traumatizante) ser criado em uma família desestruturada como a do personagem de Leonardo DiCaprio. Afinal de contas nessa idade o ser humano vai criando seus valores morais, seus padrões familiares e quando não há modelos disso por perto tudo pode ficar ainda mais desesperador. 

Robert De Niro está realmente inspirado pois seu papel exige uma dualidade de personalidades que ele desenvolve muito bem. Para Caroline ele é um tipo de pessoa, já para seu filho o quadro muda drasticamente. DiCaprio, anos antes de virar ídolo em "Titanic" demonstra uma maturidade em seu trabalho que realmente espanta. Afinal ele era apenas um garoto na época! Por fim a bela Ellen Barkin explode em sensualidade em seu papel, mesmo sendo uma personagem em si dramática e infeliz. Assim tente dar uma de coruja hoje à noite e faça uma forcinha para conferir pois esse "This Boy's Life" realmente vale a pena.

O Despertar de um Homem (This Boy's Life, Estados Unidos, 1993) Estúdio: Warner Bros / Direção: Michael-Caton Jones / Roteiro: Robert Getchell, baseado no livro de Tobias Wolff / Elenco: Robert De Niro, Ellen Barkin, Leonardo DiCaprio, Chris Cooper / Sinopse: A história de uma jovem mulher, seu filho e os relacionamentos dramáticos que acaba se envolvendo. 

Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador 
Lasse Hallström, talentoso cineasta sueco que realizou o brilhante "Minha Vida de Cachorro ", teve o melhor momento em sua carreira no cinema americano nesse muito terno e comovente "What's Eating Gilbert Grape" em 1993. O filme que agora completa 20 anos merece passar por uma revisão por parte dos cinéfilos. A trama gira em torno da família de Gilbert Grape (Johnny Depp). Ele é um jovem normal que pretende seguir em frente com sua vida mas que não consegue criar um caminho próprio por causa de problemas familiares. Seu irmão, Arnie Grape (Leonardo DiCaprio), é deficiente mental e precisa de cuidados especiais. Sua mãe tem problemas emocionais e sofre de uma obesidade sem controle. Suas irmãs não são menos problemáticas. Uma é solitária e triste e a outra rebelde e bem agressiva. No meio de tantos conflitos Gilbert tenta levar uma vida normal.

"Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador" tem vários méritos cinematográficos. Em termos de elenco temos uma interpretação brilhante de Leonardo DiCaprio que lhe valeu inclusive indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro. Foi o primeiro filme que chamou a atenção do grande público para seu trabalho. Muitos consideram até hoje seu melhor trabalho de atuação física no cinema. Johnny Depp também está muito bem, curiosamente fazendo um papel bem atípico de sua carreira, a de um jovem comum. Sem maquiagem pesada e sem interpretar um personagem bizarro (tão comum em seus filmes posteriores) Depp mostra seu talento natural. 

O roteiro também se revela muito delicado, colocando as várias questões humanas envolvidas na trama com rara sensibilidade. O filme fez bastante sucesso no mercado de vídeo na época e hoje, como já foi escrito, merece uma revisão. Um excelente drama mostrando a vida de uma família americana tipicamente interiorana que certamente vai agradar aos mais sensíveis. Se ainda não viu não deixe passar em branco, principalmente se você for um fã dos atores Leonardo DiCaprio e Johnny Depp. Esse é um filme que vale a pena conhecer.

Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (What's Eating Gilbert Grape, Estados Unidos, 1993) Direção: Lasse Hallström / Roteiro: Peter Hedges / Elenco: Johnny Depp, Leonardo DiCaprio, Juliette Lewis, Mary Steenburgen, John C. Reilly, Darlene Cates, Laura Harrington, Mary Kate Schellhardt / Sinopse: O filme narra a conturbada vida familiar de Gilbert Grape (Depp) que tenta levar uma vida normal em meio a inúmeros problemas familiares.

Diário de um Adolescente
Adaptação cinematográfica do livro escrito por Jim Carroll. Durante a década de 1960, esse escritor, ainda adolescente, afundou no mundo das drogas. Para manter o vício em heroína, passou a cometer crimes como furtos e roubos. E acabou entrando no submundo de Nova Iorque. Muitos anos antes de Titanic, o ator Leonardo DiCaprio já estrelava filmes excelentes. Quer um exemplo dessa fase de sua carreira? Temos aqui um exemplo perfeito. O filme não foi um sucesso de bilheteria na época em que foi lançado. Na realidade, era praticamente um filme independente, feito com pouco mais de 2 milhões de dólares. Mesmo assim, se destacava porque a história que contava era extremamente importante. 

Era uma mensagem para os adolescentes que poderiam cair no mundo das drogas pesadas. Tudo o que se vê no filme é autobiográfico e realmente aconteceu de fato com o escritor que escreveu o livro original que deu origem ao roteiro desse filme. A cidade de Nova Iorque surge aqui como um lugar sujo e cheio de criminalidade. E o protagonista transita entre o mundo do basquete colegial, onde ele se dava muito bem e o mundo das drogas, onde ele afundava cada vez mais. É seguramente um dos melhores filmes da carreira de Leonardo DiCaprio. E isso em uma época em que ele era apenas uma adolescente promissor no mundo do cinema!

Diário de um Adolescente (The Basketball Diaries, Estados Unidos, 1995) Estúdio: New Line Cinema / Direção: Scott Kalvert / Roteiro: Bryan Goluboff / Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Wahlberg, Lorraine Bracco, Marilyn Sokol, James Madio, Patrick McGaw / Sinopse: O filme conta a história de um jovem que na fase mais promissora de sua vida acaba se encontrando com as drogas e o mundo do crime. 

Rápida e Mortal
Lady (Sharon Stone) chega numa cidade perdida do velho oeste para participar de uma competição de duelos para saber quem é o mais rápido do gatilho na região. A competição é organizada por Herod (Gene Hackman), um facínora que aterroriza todos os habitantes honestos da cidadezinha. Em troca de uma suposta “proteção” ele cobra valores absurdos de comerciantes e cidadãos que pagam na verdade para não serem mortos por ele e seus capangas armados até os dentes. O que Herod não sabe é que Lady vem em busca de vingança pela morte de seu pai, um xerife que cruzou com o caminho dele em um passado remoto. 

“Rápida e Mortal” é de certa forma uma homenagem do cineasta Sam Raimi aos antigos filmes clássicos do chamado western spaguetti. Tudo ecoa ao estilo dessas produções – a trilha sonora, os enquadramentos de câmera, a violência e o enredo, que novamente constrói toda uma trama em cima de um ato de vingança, tentando trazer justiça a um evento do passado (tema que era bem recorrente nos faroestes italianos). As cenas de duelos que permeiam toda a estória reforçam ainda mais esse aspecto. A estilização das mortes e os personagens em si são os aspectos mais visíveis da produção nesse sentido.

Muitos podem torcer o nariz pelo fato do filme ser estrelado pela atriz Sharon Stone (no auge de sua carreira) mas o fã de filmes de western deve ignorar esse detalhe. O que não faltam aqui são atores talentosos em cena. O elenco aliás é um dos maiores trunfos do filme pois é recheado de grandes nomes. Além de Sharon Stone (linda e mostrando que ficava muito bonita de figurino country) temos ainda o maravilhoso Gene Hackman (como o vilão, ótimo como sempre), Leonard DiCaprio (Como Kid, filho de Herod, um jovem falastrão e fanfarrão que pensa ser melhor no gatilho do que realmente é na verdade) e Russel Crowe (como um pistoleiro arrependido e convertido que agora só pensa em servir como missionário de Deus, rejeitando a violência). 

De quebra Cary Sinise surge em flashbacks como o pai da personagem de Sharon Stone, um xerife morto em serviço. Confesso que na época em que assisti pela primeira vez o filme não me marcou muito. Achei apenas um western eficiente e nada mais. Agora em uma nova revisão revi minha antiga opinião pois o achei realmente divertido, com boa fluência e ritmo. O roteiro que gira quase que totalmente em torno do torneio de duelos poderia desenvolver melhor os personagens mas do jeito que está não compromete. No final das contas o tempo acabou fazendo bem a “Rápida e Mortal”, quem diria.

Rápida e Mortal (The Quick and the Dead, Estados Unidos, 1995) Direção: Sam Raimi / Roteiro: Simon Moore / Elenco: Sharon Stone, Gene Hackman, Russell Crowe, Leonardo DiCaprio, Lance Henriksen / Sinopse: Em busca de vingança uma cowgirl conhecida apenas como Lady (Sharon Stone) chega numa cidadezinha aterrorizada pelo bandido Herod (Gene Hackman). Ele está organizando um torneio de duelos para determinar quem é o gatilho mais rápido da região. Não demora para que ela também entre na disputa!

Eclipse de uma Paixão
O filme resgata a juventude do poeta Arthur Rimbaud (1854 - 1891). Impulsionado por seu mentor e mestre Paul Verlaine (David Thewlis) ele começa a dar os primeiros passos em relação a sua obra, que se tornaria no futuro uma das mais importantes da história. Ao lado do escritor também surgem aspectos de sua própria vida pessoal, como sua sexualidade fora dos padrões convencionais de sua época.

Esse filme acabou ganhando notoriedade pelos motivos errados. Ao invés das pessoas discutiram aspectos biográficos do imortal Rimbaud, ficou-se meses falando das ousadas cenas de homossexualidade protagonizadas pelo galã adolescente Leonardo DiCaprio! Assim grande parte dos méritos artísticos do filme foram literalmente ignoradas em prol de um debate fútil e incoerente sobre os rumos que a carreira de DiCaprio estavam tomando. Afinal, seria interessante para um ator que estava prestes a se tornar um dos maiores astros de Hollywood se expor dessa forma, em cenas tão polêmicas? 

Tudo bobagem. Hoje em dia, quando ninguém mais fala sobre isso, o filme ganha contornos ainda mais interessantes para entender o artista (e o homem) por trás de uma obra tão importante. Ele morreu ainda bem jovem (com apenas 37 anos) e o que mais chama atenção é que seus melhores trabalhos foram feitos quando ele era ainda bem mais jovem, quando era praticamente um adolescente. Enfim, temos aqui uma boa amostra para a vida sofrida e breve desse poeta. Basta deixar as futilidades de lado para entender um pouco de seu pensamento ímpar.

Eclipse de uma Paixão (Total Eclipse, Inglaterra, França, Bélgica, 1995) Estúdio: Capitol Films, Le Studio Canal+ / Direção: Agnieszka Holland / Roteiro: Christopher Hampton / Elenco: Leonardo DiCaprio, David Thewlis, Romane Bohringer, Dominique Blanc, Félicie Pasotti, Christopher Chaplin / Sinopse: A história do jovem Arthur Rimbaud, sua obra e seus amores. Filme indicado ao San Sebastián International Film Festival.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXVII

Meu Nome era Eileen
★★★
Filme muito bom! A Netflix tem esse grave problema. Eles colocam um filme como esse sem a devida divulgação e em pouco tempo ele se perde no meio de milhares de outros bem piores que estão no catálogo. Há de se ter cuidado em não deixar passar em branco bons filmes como esse. Pois bem, a história se passa na década de 1950. Eileen é uma jovem solitária que trabalha em uma instituição de internamento de delinquentes juvenis que cometeram crimes graves. Na prática é basicamente uma penitenciária para jovens. Ela é filha de um policial aposentado que tem o péssimo hábito de ficar bêbado todos os dias, dando tiros para o alto, assustando a vizinhança. Não é uma rotina legal de se viver com alguém assim. Só quem já passou por isso sabe do que estou falando. 

Então sua vida cinza e sem graça de repente ganha brilho quando ela começa a conhecer melhor a nova psicóloga da instituição. É uma mulher bonita, elegante, muito charmosa, com pinta de estrela de cinema. Logo surge um clima de potencial romance entre as duas - pelo menos assim pensa a Eileen. Quando elas marcam um encontro, o coração da garota só falta explodir de felicidade! Nesse ponto da história eu pensei sinceramente que estaria prestes a embarcar em um filme com temática GLBT, mas surgem surpresas. Não vou falar nada aqui para não estragar, mas acredito que você vai ficar também surpreso com o que vai acontecer. Comigo aconteceu exatamente assim. Pensava estar vendo um tipo de filme, que logo à frente se revelou outro tipo de história. Essa surpresa não foi negativa, pelo contrário, fez com que eu ficasse ainda mais satisfeito de ter assistido a essa produção. Acredite, tem até mesmo elementos que me lembraram dos clássicos de Hitchcock, mas claro, com a devida sensatez. Então é isso. Vale muito a pena conhecer e assistir! 

O Último Amor de Mr. Morgan ★★★
O cinema americano tem perdido a mão para filmes humanos como esse, o que é uma grande lástima. Em um mundo onde apenas filmes de super-heróis de quadrinhos parecem fazer sucesso é sempre muito bom assistir a uma história terna como essa. No enredo temos esse senhor chamado Mr. Morgan. Já idoso e agora tentando superar a morte de sua esposa querida, companheira de tantos anos, ele vai perdendo o gosto pela vida. É a solidão da velhice que atinge milhares de pessoas ao redor do mundo, não importando seu grau social. Então ele vai procurando algum sentido na vida, para continuar se interessando por sua própria existência em um mundo cada vez mais sem graça e cinza. 

Um dia, por mero acaso, puxa conversa com uma simpática jovem e descobre que ela é professora de dança. Já que ele não tem nada para fazer em seu dia a dia, ele resolve ir lá na classe de sua nova amiga. Quem sabe dançar um pouquinho não vá trazer algum tipo de graça e suavidade em seu cotidiano que pode ser muito duro e enervante. E a amizade deles vai seguindo em frente. Claro que Mr. Morgan (em excelente interpretação de Michael Caine em um de seus últimos papéis no cinema) começa a pensar nela com intenções românticas, mas a despeito disso não dá um passo à frente. Tem receios de estragar sua amizade com aquela pessoa que passa a ser muito importante em sua vida. É isso, um filme humano, sensível, bem conduzido, com ótimo elenco. Tudo que você procura em um bom drama encontrará por aqui. Eu adorei! Espero que nunca deixem de produzir filmes como esse! Os cinéfilos em busca de maior conteúdo e relevância temática agradecem!

Encantadora de Tubarões ★★★
Esse documentário está na Netflix. Conta a história dessa jovem (bonita, loira, dourada pelo sol) que decide fazer algo incomum em sua vida. Que tal ganhar a vida mergulhando ao lado de tubarões? Claro, ela é uma mergulhadora profissional, mas nada ameniza o perigo de se nadar em pleno oceano ao lado de um dos predadores mais temidos do reino animal. Usando suas redes sociais para divulgar suas fotos ao lado dos tubarões e vídeos de todos os tipos, ela foi ficando cada vez mais conhecida na internet. Não deixa de ser uma maneira corajosa de ganhar engajamento e monetização nas redes sociais com esse estilo de vida de pura adrenalina. 

Só que seus mergulhos ao lado dessas feras acabam também trazendo muitas críticas, principalmente de biólogos. Até porque, pense bem, mostrando esses vídeos ela certamente passa, mesmo que indiretamente e de forma inconsciente, a mensagem de que se pode mergulhar ao lado de tubarões sem problemas. Não é verdade! As chances de um ataque são grandes, então há igualmente esse lado bem perigoso em relação ao material que ela produz. Muitas pessoas passam a assistir seus vídeos, pensando que tudo bem, pode mergulhar ao lado de um tubarão branco enorme que será tudo de boa! Pois é, meus caros. Tudo na vida tem um lado bom e ruim. Muitas vezes é preciso ficar atento para esse tipo de mensagem subliminar que sim, pode ser bem perigosa, quem sabe até mortal, para determinados tipos de públicos que não possuem o devido bom senso e o necessário senso crítico. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 14 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXVI

Encontrando o Amor em Oxford ★★★
Esse filme me ganhou já nos primeiros momentos. Eu gosto muito de filmes assim, cujas histórias se passam nessas universidades centenárias na Inglaterra. Que lugares bonitos! Ali você sente mesmo a valorização da arte, da cultura, da educação e do aprendizado. E tem a tradição maravilhosa que se materializa nos prédios históricos, com aquela arquitetura antiga e clássica, todos belíssimos exemplos do mais fino bom gosto. Como tudo isso faz falta em países como o Brasil onde a boçalidade, a ignorância e a estupidez parecem ser sempre o Menu do dia a dia. Mas voltemos ao filme. 

A história, baseada em fatos reais, conta a história de uma jovem. Ela é de família modesta, foi criada por uma mãe solo. A vida, como se poderia prever, é dura, conflituosa, com muita falta de recursos. Só que a jovem se esforça para melhorar na vida. Ela é estudiosa, aplicada, quer ir para a universidade dos seus sonhos. Com ótimas notas ela chega lá! Acaba recebendo uma bolsa de estudos da prestigiada universidade de Oxford. Ao chegar naquele lugar tudo parece maravilhosa. Ela se torna estudante de literatura inglesa (não tem coisa mais chic do que isso!). Só que como é uma bela jovem logo chega também as questões do coração. Um rapaz da mesma universidade tem bastante interesse nela, mas definitivamente não vai ser fácil chegar nela de uma maneira ou outra. A garota quer se aplicar nos estudos, não em namoros ocasionais! 

Filme romântico muito bom, com maravilhosa direção de fotografia. Adorei tudo, do roteiro, do elenco jovem, dos belos cenários. Tudo de muito bom gosto e o mais especial de tudo, é um filme romântico que não faz pouco caso da inteligência do espectador. Pelo contrário. O respeita, acima de tudo. Com isso ganha muitos pontos a favor. Está mais do que recomendado!

Anatomia de uma Queda ★★★
Esse filme foi bem badalado em seu lançamento, chegando a fazer bonito no Oscar. A história é relativamente bem simples. Um homem cai da janela de sua casa. Uma janela alta, perigosa. Ao cair morrer imediatamente. A política é chamada e começam as investigações. O que começa como um inquérito sobre uma queda acidental logo muda de rumo. Uma jovem que esteve na casa minutos antes da queda relata uma certa tensão entre o homem que morreu e sua esposa. Era um casal em crise há muitos anos, principalmente depois que o filho deles sofreu um acidente e perdeu a visão. Além disso ela teria um passado de traição dentro do casamento. A esposa, para complicar ainda mais, teria traído o marido com outra mulher. Dinamite pura! 

Então a esposa é indiciada como a assassina. Vai a julgamento. No tribunal do Júri o promotor público precisa provar que ela realmente empurrou o marido da janela. Ele caiu em cima de uma pequena estrutura de madeira, fazendo a queda ainda mais mortal. E assim se desenvolve o filme, se tornando logo  um interessante drama de tribunal. O roteiro sabiamente manipula o espectador, que ora crê que ela é inocente, para logo depois desconfiar de suas reais intenções. Como eu já analisei, temos aqui um bom filme de tribunal. Não é para todo tipo de público, mas quem gosta de filmes jurídicos vai ser sem dúvida uma boa opção. 

Divórcio dele, Divórcio dela ★★★
Não deixa de ser uma ironia termos a existência de um filme como esse. Explico. Elizabeth Taylor e Richard Burton casaram e se divorciaram tantas vezes em suas vidas que já até perdemos a conta. Então de divórcio eles entendiam bem. E o filme foi realizado quando eles já estavam maduros, coroas mesmo. Foi uma espécie de avaliação do que aconteceu com eles próprios ao longo da vida. A razão que leva um casamento à ruína é exposta sob o ponto de vista do marido e depois da esposa. Dando origem a duas partes bem distintas que se unem para formar um todo bem coerente. A mesma história, mas sob pontos de vista bem diferentes. 

O filme foi produzido inicialmente para ser lançado nos cinemas, mas o corte final se revelou longo demais. Então os produtores fizeram um acordo com uma emissora de televisão da época e acabou exibindo o filme em duas partes separadas, uma após a outra, em dias distintos. Primeiro, o fim do casamento no olhar do marido, interpretado por Burton, depois a mesma crise sobre o olhar da esposa, na pele de uma ainda bonita Elizabeth Taylor. Eu gostei do resultado. Tem uma edição bem diferente, com idas e vindas entre passado e presente. Por isso o espectador precisa de atenção redobrado. Penso que algo assim funcionaria melhor no cinema, já que na TV costumamos perder a concentração. De qualquer forma está valendo. É um bom drama sobre relacionamentos perdidos, à beira da falência completa. 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XXV

O Moinho das Mulheres de Pedra
★★★
Não é todo dia que eu assisto um filme como esse, um terror e suspense dos anos 60, produzido na Itália! Pois então, devo logo começando essa análise dizendo que gostei muito e de certa maneira até fiquei surpreso pelo requinte da produção. Não se engane sobre isso, esse filme tem uma direção de arte belíssima! Os cenários, a ambientação, tudo um luxo só! Não ficava nada a perder se formos comparar com os filmes da Hammer inglesa, por exemplo. Aliás em muitos aspectos até mesmo superava as produções feitas na Inglaterra. Por essa época o cinema italiano já era uma indústria cultural consolidada. Não me admira que tenha sido tudo produzido nos lendários estúdios da Cinecittà em Roma. Palmas para os realizadores do filme! 

Então tudo bem, é um filme bem produzido e tudo, mas você deve estar se perguntando se a história é boa! Eu gostei! Sim, tem alguns elementos meio, digamos, inocentes demais para os padrões atuais, mas ainda assim apreciei a história contada. Nela temos um jovem pesquisador que vai até um antigo moinho, realmente histórico, para consultar documentos sobre sua fundação. O lugar hoje pertence a um professor de arte especializado em bonecos de cera e estátuas de mármore. Algo bem renascentista. Só que o veterano mestre também tem seus segredos, inclusive em relação a uma misteriosa filha, que vive dentro desse moinho sombrio. Falar mais seria revelar aspectos da história que ajudam o filme a ser o que é. Uma produção italana dos anos 60 que deve ser redescoberta nos dias atuais, ainda mais se você aprecia filmes clássicos de terror. 

Rita Lee - Mania de Você ★★★
A querida Rita Lee se foi... e esse documentário emocional tem como objetivo contar parte de sua história, tanto no aspecto familiar como profissional. Para isso conta com os preciosos depoimentos do eterno companheiro de vida, Roberto de Carvalho, além de trazer os três filhos do casal falando sobre a artista, relembrando seu passado. Eu, que acompanhei essa história apreciando a música maravilhosa da Rita Lee, gostei de tudo. Uma bela homenagem, sem dúvida. 

Agora só uma coisa me incomodou um pouco. O período de Rita Lee nos Mutantes foi ignorado. Quem assistir ao documentário e não conhecer a história dela vai pensar que sua carreira começou quando ela se uniu ao grupo Tutti-Frutti nos anos 70. Não foi bem assim. Rita Lee tem todo um passado riquíssimo, do ponto de vista artístico, ao lado dos Mutantes nos anos 60. Acredito que eles foram colocados de lado porque a separação da Rita Lee dos Mutantes não foi uma coisa amigável ou pacífica. Mágoas ficaram pelo meio do caminho, então até entendo a opção de deixar isso de lado. Provavelmente uma decisão da família e quem sabe até mesmo da Rita Lee antes de morrer (não conheço os detalhes sobre isso). De qualquer maneira nada vai mesmo atrapalhar. Esse é um excelente documentário que resgata não apenas a pessoa da Rita Lee como artista, mas também como mãe e esposa. Vale muito a pena conhecer. E obrigado Rita, por ter existido, por ter criado essas maravilhosa música que nos deixou. Como eu já disse antes, a Rita Lee foi a trilha sonora da minha vida também. Por isso fico muito grato a ela. Descanse em paz!

Hotel Transilvânia 3 ★★★
Mantém o mesmo nível das três primeiras animações. O diretor dessa é um craque do ramo, tendo criado personagens inesquecíveis dos desenhos animados como cientista mirim Dexter. Então nem vá se preocupar em termos de qualidade. Está tudo aqui, novamente, repetido com talento pela terceira vez. Na estorinha a filha do Drácula está preocupada com ele. Afinal faz séculos que ele tirou suas últimas férias! Então ela faz uma surpresa ao paizão: Um cruzeiro onde ele vai relaxar e descansar de seu velho hotel. E juntos vão todos os monstros da trupe. 

E como está há muitos séculos solitário, Drácula também encontra o amor, justamente na capitã do navio, uma balzaquiana loira chamada Erica. Seria uma boa, se apaixonar agora bem mais velho, já com netos e tudo mais. Só que o Drácula está entrando numa cilada. Ela na verdade é bisneta de um inimigo histórico do Drácula, o lendário caçador de vampiros Van Helsing. Desse modo ela não quer namorar o vampirão, mas sim acabar com ele! Então vira um Deus nos acuda, com direito a certas sequências que lembram até mesmo os bons tempos dos filmes de Indiana Jones. Então é isso, boa animação. Essa franquia nunca deixou a bola cair em termos de qualidade. Talvez por isso siga sendo tão bem sucedida comercialmente. Merecido sucesso, é bom salientar. Assista com muita pipoca e guaraná. A diversão é garantida. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 13 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXIV

As Polacas
★★★
O que temos aqui é cinema brasileiro de qualidade! A história remonta ao século passado. Na ocasião, durante a primeira guerra mundial, milhares de mulheres polonesas migraram para o Brasil. Eram judias e ficaram desamparadas, muitas delas com filhos. Os maridos, na maioria das vezes, morreram na guerra. Então temos essa protagonista, uma mulher judia que chega ao Rio de Janeiro com seu filho e descobre que seu marido morreu. Viúva, sem recursos, acaba sendo presa fácil de um cafetão que administra seu próprio bordel. Um sistema de opressão completo, pois ele passou a usar o filho dela como moeda de troca e pura chantagem, chegando inclusive a separar a mãe do menino! Um drama familiar! 

Outro destaque vai para as atuações. Gostei muito da atuação do ator Caco Ciocler. Ele interpreta o dono do bordel. Um tipo de fala calma e mansa, mas que no fundo esconde uma personalidade psicopata! Grande trabalho o dele. Valentina Herszage também merece todos os elogios. Ela dá vida à protagonista, a mulher que tenta defender seu filho enquanto acaba caindo nas garras da prostituição. Uma situação terrível. Então é isso, "As Polacas" é um filme muito bom e resgata essa história que realmente aconteceu, mostrando o sofrimento de todas essas mulheres em terra estrangeira, sofrendo todos os tipos de abusos. 

Dois Papas (reprise) ★★★
Já tinha assistido desde o lançamento original. Com a chegada no streaming e toda a badalação do novo conclave, que acabou elegendo Leão XIV, decidi rever. É um filme realmente muito bom, que soube explorar bem as nuances das personalidades dos papas Francisco e Bento XVI. Cada um deles, à sua maneira, marcou a história da Igreja Católica. Muitos dos diálogos foram retirados dos próprios escritos deixados por esses papas, embora as situações em si sejam meramente ficcionais. 

È mera ficção, por exemplo, a cena final entre os papas assistindo a final da Copa do Mundo. O que poucos sabem é que o Papa Francisco fez uma promessa de não mais assistir televisão, algo que ele cumpriu á risca. Então aquela cena, aquele momento, jamais aconteceu! Só que esses pequenos deslizes não desmerecem o filme em nada. Os momentos na Capela Sistina compensam tudo. Além disso Anthony Hopkins e Jonathan Pryce estão em momento de graça (sem exagero nenhum nessa avaliação!). Hopkins em especial incorporou os trejeitos de Bento XVI de forma assombrosa. E Price está ótimo com aquela jovialidade que apenas Francisco tinha! Enfim, foi muito bom rever esse filme. Recomendo a todos!

Leopoldina - A Imperatriz do Brasil ★★★
Durante muitos anos a história esqueceu da importância da Imperatriz Leopoldina na história do Brasil. Os livros tradicionais não traziam o destaque que ela merecia no processo de independência do Brasil. Então, de uns tempos para cá, sua real participação em todos esses eventos históricos está sendo resgatada. E o que saiu de toda essa pesquisa foi o retrato de uma mulher forte, inteligente, determinada e decidida a transformar o Brasil em uma nação independente. Ela foi sem dúvida uma heroína esquecida de nossa história oficial. 

E se no campo político foi uma figura de grande importância, no campo pessoal sofreu muito com a infidelidade do marido, o imperador Dom Pedro I, que era um homem muitas vezes irresponsável em seus atos, dono de uma personalidade complicada, muitas vezes agindo com pura paixão e zero racionalidade. Leopoldina sofreu humilhações públicas terríveis quando Pedro I praticamente assumiu seu caso extraconjugal com a Marquesa de Santos. Tanta infidelidade e desrespeito por seu casamento acabaram minando a saúde de Leopoldina que não teve um final feliz em sua vida. De qualquer maneira, antes tarde do que nunca, pelo menos aqui temos o resgate de sua memória, onde sua importância é novamente colocada no lugar que sempre lhe foi devida. 

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 12 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXIII

O Buraco da Agulha ★★★
Em algum lugar do passado, provavelmente nos anos 80, eu tenha assistido a esse filme, mas sinceramente não me recordava bem. Então surgiu essa oportunidade de assistir (ou rever) em um streaming. Gostei do filme! É uma história de espionagem que passa na segunda guerra mundial. Donald Sutherland interpreta um espião nazista na Inglaterra. Seu missão passa a ser descobrir onde haverá a invasão dos aliados no continente europeu. Esse será o Dia D, dia da virada, onde a Alemanha começaria a perder a guerra. Ele descobre essa informação. Os exércitos vão desembarcar na Normandia. Entretanto não vai ser fácil repassar isso aos nazistas, uma vez que sua identidade foi descoberta e ele passa a ser caçado por serviços de inteligência dos ingleses. 

Seu plano passa a ser fugir para a Escócia, onde serã resgatado por um submarino alemão que o levará de volta ao seu país. Só que chegar vivo até lá não vai ser fácil, ainda mais depois que seu pequeno veleiro afunda e ele vai parar numa ilha isolada, chamada de ilha da tempestade. Lá vive um veterano de guerra que após sofrer um acidente de carro ficou em cadeiras de rodas. Sua esposa também mora na pequena vila local. Casada com um homem inválido, ela se torna ressentida e passa a se sentir atraída pelo alemão. E o espião nazista passa a manipular todas aquelas pessoas para ter uma chance de avisar ao seu submarino de resgate onde se encontra. 

Gostei de praticamente tudo aqui, do roteiro, da história e das interpretações. Donald Sutherland encontrou um personagem adequado ao seu tipo, com aquele olhar esbugalhado e demoníaco! Um último aspecto digno de nota vem das dificuldades que um espião enfrentava naqueles tempos, principalmente por causa dos problemas de comunicação com sua base. O espião do filme está sempre em busca daquele enormes rádios amadores, um mais antigo do que o outro. Em tempos atuais ele jamais passaria por algo assim. De qualquer maneira isso contribui ainda mais para o charme nostálgico desse bom filme de espionagem da velha escola. Deixo a recomendação!

Peter Pan: Pesadelo na terra do nunca ★★★
Os direitos autorais dos personagens infantis do passado estão entrando em domínio público. E curiosamente uma nova safra de cineastas estão usando eles em sangrentos filmes de terror! Atitude mais tóxica de encontrar, impossível! Pois bem, depois do Ursinho Pooh, chegou a vez do Peter Pan entrar na dança. Só que o Peter Pan aqui é outro (nem precisaria enfrentar a questão dos direitos autorais para falar a verdade!). Nessa história Peter Pan é um psicopata muito violento e demente. Sua especialidade é raptar crianças, levar elas para sua casa sombria e sinistra, prometendo que elas vão para a terra do nunca, onde jamais deixarão de ser crianças! É de dar arrepios...

Deus que me perdoe, mas eu lembrei do Michael Jackson! Pois é, a tal casa do psicótico se chama Neverland, tem aquele clima doentio de mitologia infantil, mas que no fundo simula um estado de falsa inocência em um ambiente que na verdade é  mentalmente muito doentio. O filme também tem uma Sininho, uma mulher mais velha, antiga vítima do psicopata, que demonstra ter algum problema de retardamento mental. E não esqueçamos do Capitão Gancho, aqui um monstro mesmo, provavelmente uma criança raptada em um passado distante. Ele vive em um porão escuro há décadas, mas como veremos, não esqueceu de quem lhe fez muito mal. Enfim, slasher sangrento, nojento, ao estilo Sangue e Tripas. Se você não suporta nem ouvir falar nesse tipo de filme, já sabe, fique bem longe!

Tim Lopes - História de Arcanjo ★★★
Tim Lopes foi um jornalista da Globo que foi morto com requintes de crueldade por um traficante chamado Elias Maluco há alguns anos. Esse foi um crime tão bárbaro que chocou o Brasil! Impossível você não se lembrar do que aconteceu. Pois bem, esse documentário procura contar a história do Tim Lopes, mostrando seus principais trabalhos no jornalismo, além de sua coragem de entrar em certas "bocadas" no Rio de Janeiro que nem os policiais entrariam. E esse estilo de fazer um jornalismo tão forte acabou custando a vida desse homem, pai, amigo, filho e principalmente jornalista de primeira grandeza. 

Quem presta depoimentos sobre o Tim Lopes e dirige o documentário é seu próprio filho. Ele inclusive visita o lugar onde o pai foi assassinado, bem no alto do morro, em um lugar conhecido como Pedra do Sapo (ou algo assim). O Tim Lopes foi um jornalista que trouxe o lado mais sórdido da sociedade carioca para os jornais em que trabalhou. Revelou esquemas de corrupção no IML, mostrou o cotidiano das prostitutas exploradas e oprimidas, pegou estrada para mostrar como viviam os caminhoneiros, enfim, um jornalista que deixará saudades. Esse documentário é uma bela homenagem a ele. Que sua história jamais seja esquecida!

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXII

Lee
★★★
Esse filme conta a história real da correspondente de guerra Lee Miller, aqui interpretada pela atriz Kate Winslet. No começo de sua carreira ela trabalhava no setor de fotografias de moda. Por essa razão logo arranjou emprego na prestigiada revista Vogue. Só que a segunda guerra mundial começou e ela não viu outra maneira de seguir adiante. Colocou na cabeça que queria fotografar o front, a linha de frente. Então se tornou correspondente americana naquele que foi o maior e mais devastador conflito armado da história. 

E certamente tudo o que vivenciou foi um choque! Primeiro com os soldados feridos, desfigurados pela guerra. Uma de suas fotos mais famosas mostravam um desses militares completamente enfeixado. Aquele pobre diabo nunca mais iria ter uma vida normal. Agora, Lee jamais estaria preparada para o que encontrou nos campos de concentração. Pilhas de corpos de judeus mortos nessa que era uma verdadeira linha de montagem da morte. Ela jamais iria se recuperar desses momentos e suas fotos hoje em dia são consideradas de grande valor histórico e cultural para o que aconteceu naqueles dias de puro terror genocida. Enfim, temos aqui mais um daqueles filmes que mostram uma história que tinha que ser contada pelo cinema. Não poderia ser deixada de lado, é pura história da humanidade em sua mais crua essência. 

A Noite dos Lobisomens ★★
Uma super Lua cheia atinge nosso planeta. O que sai disso é uma massa de lobisomens ferozes que invadem as ruas das grandes cidades. Ninguém está a salvo. Uma empresa de alta tecnologia biológica até desenvolve uma espécie de soro que pode deixar as pessoas imunes a essa transformação em larga escala, só que as pesquisas ainda estão no começo e enquanto não são concluídas esses lobisomens surgem em massa para fazer novas vítimas. 

OK, mais um filme de lobisomens. Esses monstros clássicos são os que mais sofrem na sétima arte. São centenas e centenas de filmes péssimos com essas criaturas do folclore. O Lobisomem, coitado, é o Rei dos filmes B e Z do terror atualmente! Esse filme aqui pelo menos não é um desastre cinematográfico completo. Não chega a ser colocado entre os melhores já feitos sobre o tema, mas fica ali no meio termo. É sim um filme mediano, que dá para assistir sem maiores problemas, desde que você não espere por grande coisa. 

Agora, para finalizar, devo deixar alguns elogios aqui para o design das criaturas. São poucas cenas digitais. Os bichanos são mostrados de forma analógica mesmo (ponto muito positivo!). São máscaras, faces movidas por animatronics e coisas do tipo. Isso me deixou com uma certa nostalgia dos anos 80 porque naqueles tempos não havia efeitos digitais por computação gráfica. Um acerto por parte dos produtores desse filme. Nesse aspecto o filme certamente acertou no alvo. O caminho é esse aí. 

Papa Francisco: Um Homem de Palavra ★★★
Infelizmente o nosso querido Papa Francisco se foi. Ficam as lembranças e as saudades. Esse documentário feito pelo prestigiado diretor Wim Wenders traz uma série de imagens preciosas desse querido nome da história do catolicismo. O diretor acompanhou o Papa em viagens internacionais (como a que ele fez no Brasil) para mostrar o impacto da presença do Papa nos mais diferentes países por onde caminhou. Sem dúvida o Papa Francisco foi um dos mais carismáticos líderes religiosos do mundo! Era realmente um homem que levava multidões por onde passava. 

Além dessas belas e inesquecíveis imagens esse documentário também traz trechos de entrevistas com Francisco. Em clima mais ameno, diria quase lírico, o Papa vai falando sobre os mais diversos temas. Francisco era um homem que tratava os temas mais espinhosos com uma leveza incrível. Em minha forma de pensar isso acontecia por algumas razões bem pessoais de sua personalidade. Ele não apenas era um homem bom, como também conseguia transmitir essa bondade e gentileza com suas mensagens de acolhimentos e inclusão. Um Papa que jamais esqueceremos. E esse filme é um dos seus mais carinhosos retratos. Vá em paz querido Papa Francisco! 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XXI

Anora
★★★
O fato desse filme ter sido o vencedor do Oscar de melhor filme do ano demonstra que há problemas no cinema atual ou pelo menos que há muitos problemas nos votantes do maior prêmio do cinema mundial. Veja, não quero dizer com isso que esse seja um filme ruim, nada disso, apenas que é um filme comum. Não vi nada demais nele, em nenhum aspecto. Começa como um daqueles filmes de adolescentes dos anos 80 onde um carinha muito louco decide embarcar numa série de farras e festinhas, tão típicas de sua idade. Até aí nada demais. Ele acaba contratando uma garota de programa e meio que perde a cabeça com ela. Depois de uma transa rápida decide contratar a moça (a tal Anora) para passar ao seu lado durante uma semana. Preço do programinha: 10 mil dólares! 

Então parte ele e sua amada de programa para Las Vegas, a cidade do pecado, onde em cada esquina tem uma capelinha para a relização de casamentos Fast Food. E não demora muito, lá vai o desmiolado casar com a garota de programa e stripper! O problema é que apesar de ter 21 anos de idade ele ainda age como um adolescente retardado de 14. Então seus pais descobrem o ocorrido. Eles são russos, envolvidos em negócios não muito legais (provavelmente aqueles magnatas que orbitam Putin) e viajam às pressas para a Rússia. 

E aí, meus caros, o filme vira uma daquelas comédias dos anos 80, tipo Sessão da Tarde, com muitas confusões para anular esse casamento. O filme é isso! Eu fiquei surpreso com a superficialidade de tudo! Eu sou de um tempo em que o Oscar premiava filmes que eram verdadeiros eventos cinematográficos do ano, filmes grandiosos, que marcavam época! Esse "Anora" é só engraçadinho! Nem o trabalho da atriz, que também venceu o Oscar, me causou qualquer tipo de espanto. É muito mais do mesmo. E ela fica pelada grande parte do filme! Enfim, "Anora" é um daqueles vencedores que vão ser esquecidos rapidamente. Um filme fraco para falar a verdade. 

Caos e Destruição ★★★
Filme de ação da Netflix. Estrelado pelo ator brucutu Tom Hardy. Vi muita gente criticando, mas em minha opinião, essa é uma fita OK. Bem mediana, mas que cumpre aquilo que promete, afinal o cinema não vive apenas de grandes filmes marcantes. Há espaço desde sempre para esse tipo de produção. Eu me lembro dos anos 80, talvez a década símbolo desses filmes de ação. As locadoras eram cheias desses Action movies, sinal que o público gostava! Esse fita aqui ficaria perfeitamente adequado numa fileira de VHS daquela década. 

Pois bem, na história o Tom Hardy interpreta um policial. Não é dos tiras mais honestos, já que se envolveu com muita coisa errada no passado. Agora tenta livrar o filho do prefeito que se envolveu numa guerra de quadrilhas do submundo. Ele esteve envolvido na morte de um jovem, filho de uma poderosa líder da máfia chinesa. Então já viu, vai sobrar tiros e porradas para todos os lados! As cenas de ação inclusive são bem realizadas, com destaque para a perseguição inicial com os carros da polícia tentando parar um caminhão cheio de material roubado dentro!

Um dos aspectos que eu vou frisar nesse filme vem nos tiros dados pelos personagens. Sim, isso mesmo. Trabalharam muito nos efeitos digitais desses momentos de ação. Todas as balas causam o estrondo de uma arma ponto 50, aquelas gigantes das forças armadas. Não importa o calibre da arma que qualquer personagem esteja usando em cena, sempre vai sair uma bala ponto 50 de seu cano! Fica legal, devo admitir, causa impacto nas cenas, mas do ponto de vista da realidade de um tiro desses fica muito exagerado. Enfim, esse filme é isso aí, puro exagero! Certamente os que curtem esse tipo de produção de ação vão gostar...

O Espião Que Veio do Frio ★★★
Esse é o tipo de filme que eu gostaria de assistir nos dias atuais. Infelizmente Hollywood não produz mais filmes como esse que priorizam a inteligência, com boas tramas de espionagem. Quando se produz filmes sobre espiões atualmente tudo acaba desandando, mais cedo ou mais tarde, para cenas de ação espetaculares. Nada contra filmes de ação, entretanto as boas tramas, os grandes conchaves, as jogadas sutis e as conspirações que sempre envolveram o mundo dos espiões, parecem ter ficado para trás de forma definitiva! Uma pena! Lamento muito.

No enredo desse filme o ator Richard Burton interpreta um espião inglês. Sua missão é localizar e eliminar um agente duplo que agora atua dentro da Alemanha Oriental, se tornando bem conhecido por eliminar justamente espiões britânicos. O problema é atravessar a cortina de ferro (a história se passa na guerra fria) e localizar esse assassino. Pior do que isso, como chegar até ele sem deixar suspeitas? Revelar mais seria estragar as surpresas de um roteiro mais do que inteligente. Em determinado momento do filme vem a surpresa, a reviravolta que vai fazer você abrir um sorriso de satisfação por ter assistido a esse clássico das histórias de espionagem internacional. Assim não há mais nada do que dizer, apenas que se trata de um filmão! Adorei!

Pablo Aluísio.