Não é bem aquele tipo de filme que eu indicaria para os admiradores do personagem Sherlock Holmes. Isso porque o roteiro subverte completamente a figura do detetive. Ao invés de ser uma mente brilhante, capaz de resolver qualquer caso criminal, aqui temos apenas uma ficção criada pelo Dr. Watson (Ben Kingsley). Isso mesmo, ele cria de sua imaginação a figura de Holmes e contrata um ator canastrão chamado Reginald Kincaid para interpretá-lo. Na realidade ele não é inteligente, muito pelo contrário, é burro como um porta. Apenas representa o tipo para o público em geral. Essa subversão de Sherlock Holmes se tornaria bem indigesta se não fosse para a tela na pele de Michael Caine.
Verdade seja dita, o filme não se sustentaria se não tivesse um ator tão carismático como ele em cena. Até porque Ben Kingsley como o Dr. Watson não tem apelo (nem dentro do enredo do filme e nem aqui fora, olhando-se tudo sob um ponto de vista puramente cinematográfico). Assim sobram algumas cenas divertidas (o roteiro se propõe a ser engraçado) ao mesmo tempo em que tenta trazer o inimigo mais tradicional de Holmes, o Prof. James Moriarty (Paul Freeman), como o vilão clássico para sustentar a frágil trama. Confesso que a caracterização de um Sherlock Holmes estúpido me incomodou várias vezes. Para quem cresceu lendo os livros e vendo os filmes do mitológico personagem detetive fica mesmo difícil de engolir essa nova abordagem, mesmo que tudo seja feito em nome do humor.
Sherlock & Eu (Without a Clue, Inglaterra, 1988) Direção: Thom Eberhardt / Roteiro: Gary Murphy, Larry Strawther / Elenco: Michael Caine, Ben Kingsley, Paul Freeman, Jeffrey Jones / Sinopse: O sumiço de formas usadas para a fabricação de papel moeda do banco central da Inglaterra leva o famoso detetive Sherlock Holmes (Michael Caine) e seu fiel companheiro Dr. Watson (Ben Kingsley) a entrarem no caso. Por trás de tudo parece haver a figura sinistra do Prof. James Moriarty (Paul Freeman). Só que nem tudo é o que aparenta ser.
Pablo Aluísio.