sábado, 13 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXIV

As Polacas
★★★
O que temos aqui é cinema brasileiro de qualidade! A história remonta ao século passado. Na ocasião, durante a primeira guerra mundial, milhares de mulheres polonesas migraram para o Brasil. Eram judias e ficaram desamparadas, muitas delas com filhos. Os maridos, na maioria das vezes, morreram na guerra. Então temos essa protagonista, uma mulher judia que chega ao Rio de Janeiro com seu filho e descobre que seu marido morreu. Viúva, sem recursos, acaba sendo presa fácil de um cafetão que administra seu próprio bordel. Um sistema de opressão completo, pois ele passou a usar o filho dela como moeda de troca e pura chantagem, chegando inclusive a separar a mãe do menino! Um drama familiar! 

Outro destaque vai para as atuações. Gostei muito da atuação do ator Caco Ciocler. Ele interpreta o dono do bordel. Um tipo de fala calma e mansa, mas que no fundo esconde uma personalidade psicopata! Grande trabalho o dele. Valentina Herszage também merece todos os elogios. Ela dá vida à protagonista, a mulher que tenta defender seu filho enquanto acaba caindo nas garras da prostituição. Uma situação terrível. Então é isso, "As Polacas" é um filme muito bom e resgata essa história que realmente aconteceu, mostrando o sofrimento de todas essas mulheres em terra estrangeira, sofrendo todos os tipos de abusos. 

Dois Papas (reprise) ★★★
Já tinha assistido desde o lançamento original. Com a chegada no streaming e toda a badalação do novo conclave, que acabou elegendo Leão XIV, decidi rever. É um filme realmente muito bom, que soube explorar bem as nuances das personalidades dos papas Francisco e Bento XVI. Cada um deles, à sua maneira, marcou a história da Igreja Católica. Muitos dos diálogos foram retirados dos próprios escritos deixados por esses papas, embora as situações em si sejam meramente ficcionais. 

È mera ficção, por exemplo, a cena final entre os papas assistindo a final da Copa do Mundo. O que poucos sabem é que o Papa Francisco fez uma promessa de não mais assistir televisão, algo que ele cumpriu á risca. Então aquela cena, aquele momento, jamais aconteceu! Só que esses pequenos deslizes não desmerecem o filme em nada. Os momentos na Capela Sistina compensam tudo. Além disso Anthony Hopkins e Jonathan Pryce estão em momento de graça (sem exagero nenhum nessa avaliação!). Hopkins em especial incorporou os trejeitos de Bento XVI de forma assombrosa. E Price está ótimo com aquela jovialidade que apenas Francisco tinha! Enfim, foi muito bom rever esse filme. Recomendo a todos!

Leopoldina - A Imperatriz do Brasil ★★★
Durante muitos anos a história esqueceu da importância da Imperatriz Leopoldina na história do Brasil. Os livros tradicionais não traziam o destaque que ela merecia no processo de independência do Brasil. Então, de uns tempos para cá, sua real participação em todos esses eventos históricos está sendo resgatada. E o que saiu de toda essa pesquisa foi o retrato de uma mulher forte, inteligente, determinada e decidida a transformar o Brasil em uma nação independente. Ela foi sem dúvida uma heroína esquecida de nossa história oficial. 

E se no campo político foi uma figura de grande importância, no campo pessoal sofreu muito com a infidelidade do marido, o imperador Dom Pedro I, que era um homem muitas vezes irresponsável em seus atos, dono de uma personalidade complicada, muitas vezes agindo com pura paixão e zero racionalidade. Leopoldina sofreu humilhações públicas terríveis quando Pedro I praticamente assumiu seu caso extraconjugal com a Marquesa de Santos. Tanta infidelidade e desrespeito por seu casamento acabaram minando a saúde de Leopoldina que não teve um final feliz em sua vida. De qualquer maneira, antes tarde do que nunca, pelo menos aqui temos o resgate de sua memória, onde sua importância é novamente colocada no lugar que sempre lhe foi devida. 

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 12 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXIII

O Buraco da Agulha ★★★
Em algum lugar do passado, provavelmente nos anos 80, eu tenha assistido a esse filme, mas sinceramente não me recordava bem. Então surgiu essa oportunidade de assistir (ou rever) em um streaming. Gostei do filme! É uma história de espionagem que passa na segunda guerra mundial. Donald Sutherland interpreta um espião nazista na Inglaterra. Seu missão passa a ser descobrir onde haverá a invasão dos aliados no continente europeu. Esse será o Dia D, dia da virada, onde a Alemanha começaria a perder a guerra. Ele descobre essa informação. Os exércitos vão desembarcar na Normandia. Entretanto não vai ser fácil repassar isso aos nazistas, uma vez que sua identidade foi descoberta e ele passa a ser caçado por serviços de inteligência dos ingleses. 

Seu plano passa a ser fugir para a Escócia, onde serã resgatado por um submarino alemão que o levará de volta ao seu país. Só que chegar vivo até lá não vai ser fácil, ainda mais depois que seu pequeno veleiro afunda e ele vai parar numa ilha isolada, chamada de ilha da tempestade. Lá vive um veterano de guerra que após sofrer um acidente de carro ficou em cadeiras de rodas. Sua esposa também mora na pequena vila local. Casada com um homem inválido, ela se torna ressentida e passa a se sentir atraída pelo alemão. E o espião nazista passa a manipular todas aquelas pessoas para ter uma chance de avisar ao seu submarino de resgate onde se encontra. 

Gostei de praticamente tudo aqui, do roteiro, da história e das interpretações. Donald Sutherland encontrou um personagem adequado ao seu tipo, com aquele olhar esbugalhado e demoníaco! Um último aspecto digno de nota vem das dificuldades que um espião enfrentava naqueles tempos, principalmente por causa dos problemas de comunicação com sua base. O espião do filme está sempre em busca daquele enormes rádios amadores, um mais antigo do que o outro. Em tempos atuais ele jamais passaria por algo assim. De qualquer maneira isso contribui ainda mais para o charme nostálgico desse bom filme de espionagem da velha escola. Deixo a recomendação!

Peter Pan: Pesadelo na terra do nunca ★★★
Os direitos autorais dos personagens infantis do passado estão entrando em domínio público. E curiosamente uma nova safra de cineastas estão usando eles em sangrentos filmes de terror! Atitude mais tóxica de encontrar, impossível! Pois bem, depois do Ursinho Pooh, chegou a vez do Peter Pan entrar na dança. Só que o Peter Pan aqui é outro (nem precisaria enfrentar a questão dos direitos autorais para falar a verdade!). Nessa história Peter Pan é um psicopata muito violento e demente. Sua especialidade é raptar crianças, levar elas para sua casa sombria e sinistra, prometendo que elas vão para a terra do nunca, onde jamais deixarão de ser crianças! É de dar arrepios...

Deus que me perdoe, mas eu lembrei do Michael Jackson! Pois é, a tal casa do psicótico se chama Neverland, tem aquele clima doentio de mitologia infantil, mas que no fundo simula um estado de falsa inocência em um ambiente que na verdade é  mentalmente muito doentio. O filme também tem uma Sininho, uma mulher mais velha, antiga vítima do psicopata, que demonstra ter algum problema de retardamento mental. E não esqueçamos do Capitão Gancho, aqui um monstro mesmo, provavelmente uma criança raptada em um passado distante. Ele vive em um porão escuro há décadas, mas como veremos, não esqueceu de quem lhe fez muito mal. Enfim, slasher sangrento, nojento, ao estilo Sangue e Tripas. Se você não suporta nem ouvir falar nesse tipo de filme, já sabe, fique bem longe!

Tim Lopes - História de Arcanjo ★★★
Tim Lopes foi um jornalista da Globo que foi morto com requintes de crueldade por um traficante chamado Elias Maluco há alguns anos. Esse foi um crime tão bárbaro que chocou o Brasil! Impossível você não se lembrar do que aconteceu. Pois bem, esse documentário procura contar a história do Tim Lopes, mostrando seus principais trabalhos no jornalismo, além de sua coragem de entrar em certas "bocadas" no Rio de Janeiro que nem os policiais entrariam. E esse estilo de fazer um jornalismo tão forte acabou custando a vida desse homem, pai, amigo, filho e principalmente jornalista de primeira grandeza. 

Quem presta depoimentos sobre o Tim Lopes e dirige o documentário é seu próprio filho. Ele inclusive visita o lugar onde o pai foi assassinado, bem no alto do morro, em um lugar conhecido como Pedra do Sapo (ou algo assim). O Tim Lopes foi um jornalista que trouxe o lado mais sórdido da sociedade carioca para os jornais em que trabalhou. Revelou esquemas de corrupção no IML, mostrou o cotidiano das prostitutas exploradas e oprimidas, pegou estrada para mostrar como viviam os caminhoneiros, enfim, um jornalista que deixará saudades. Esse documentário é uma bela homenagem a ele. Que sua história jamais seja esquecida!

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XXII

Lee
★★★
Esse filme conta a história real da correspondente de guerra Lee Miller, aqui interpretada pela atriz Kate Winslet. No começo de sua carreira ela trabalhava no setor de fotografias de moda. Por essa razão logo arranjou emprego na prestigiada revista Vogue. Só que a segunda guerra mundial começou e ela não viu outra maneira de seguir adiante. Colocou na cabeça que queria fotografar o front, a linha de frente. Então se tornou correspondente americana naquele que foi o maior e mais devastador conflito armado da história. 

E certamente tudo o que vivenciou foi um choque! Primeiro com os soldados feridos, desfigurados pela guerra. Uma de suas fotos mais famosas mostravam um desses militares completamente enfeixado. Aquele pobre diabo nunca mais iria ter uma vida normal. Agora, Lee jamais estaria preparada para o que encontrou nos campos de concentração. Pilhas de corpos de judeus mortos nessa que era uma verdadeira linha de montagem da morte. Ela jamais iria se recuperar desses momentos e suas fotos hoje em dia são consideradas de grande valor histórico e cultural para o que aconteceu naqueles dias de puro terror genocida. Enfim, temos aqui mais um daqueles filmes que mostram uma história que tinha que ser contada pelo cinema. Não poderia ser deixada de lado, é pura história da humanidade em sua mais crua essência. 

A Noite dos Lobisomens ★★
Uma super Lua cheia atinge nosso planeta. O que sai disso é uma massa de lobisomens ferozes que invadem as ruas das grandes cidades. Ninguém está a salvo. Uma empresa de alta tecnologia biológica até desenvolve uma espécie de soro que pode deixar as pessoas imunes a essa transformação em larga escala, só que as pesquisas ainda estão no começo e enquanto não são concluídas esses lobisomens surgem em massa para fazer novas vítimas. 

OK, mais um filme de lobisomens. Esses monstros clássicos são os que mais sofrem na sétima arte. São centenas e centenas de filmes péssimos com essas criaturas do folclore. O Lobisomem, coitado, é o Rei dos filmes B e Z do terror atualmente! Esse filme aqui pelo menos não é um desastre cinematográfico completo. Não chega a ser colocado entre os melhores já feitos sobre o tema, mas fica ali no meio termo. É sim um filme mediano, que dá para assistir sem maiores problemas, desde que você não espere por grande coisa. 

Agora, para finalizar, devo deixar alguns elogios aqui para o design das criaturas. São poucas cenas digitais. Os bichanos são mostrados de forma analógica mesmo (ponto muito positivo!). São máscaras, faces movidas por animatronics e coisas do tipo. Isso me deixou com uma certa nostalgia dos anos 80 porque naqueles tempos não havia efeitos digitais por computação gráfica. Um acerto por parte dos produtores desse filme. Nesse aspecto o filme certamente acertou no alvo. O caminho é esse aí. 

Papa Francisco: Um Homem de Palavra ★★★
Infelizmente o nosso querido Papa Francisco se foi. Ficam as lembranças e as saudades. Esse documentário feito pelo prestigiado diretor Wim Wenders traz uma série de imagens preciosas desse querido nome da história do catolicismo. O diretor acompanhou o Papa em viagens internacionais (como a que ele fez no Brasil) para mostrar o impacto da presença do Papa nos mais diferentes países por onde caminhou. Sem dúvida o Papa Francisco foi um dos mais carismáticos líderes religiosos do mundo! Era realmente um homem que levava multidões por onde passava. 

Além dessas belas e inesquecíveis imagens esse documentário também traz trechos de entrevistas com Francisco. Em clima mais ameno, diria quase lírico, o Papa vai falando sobre os mais diversos temas. Francisco era um homem que tratava os temas mais espinhosos com uma leveza incrível. Em minha forma de pensar isso acontecia por algumas razões bem pessoais de sua personalidade. Ele não apenas era um homem bom, como também conseguia transmitir essa bondade e gentileza com suas mensagens de acolhimentos e inclusão. Um Papa que jamais esqueceremos. E esse filme é um dos seus mais carinhosos retratos. Vá em paz querido Papa Francisco! 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XXI

Anora
★★★
O fato desse filme ter sido o vencedor do Oscar de melhor filme do ano demonstra que há problemas no cinema atual ou pelo menos que há muitos problemas nos votantes do maior prêmio do cinema mundial. Veja, não quero dizer com isso que esse seja um filme ruim, nada disso, apenas que é um filme comum. Não vi nada demais nele, em nenhum aspecto. Começa como um daqueles filmes de adolescentes dos anos 80 onde um carinha muito louco decide embarcar numa série de farras e festinhas, tão típicas de sua idade. Até aí nada demais. Ele acaba contratando uma garota de programa e meio que perde a cabeça com ela. Depois de uma transa rápida decide contratar a moça (a tal Anora) para passar ao seu lado durante uma semana. Preço do programinha: 10 mil dólares! 

Então parte ele e sua amada de programa para Las Vegas, a cidade do pecado, onde em cada esquina tem uma capelinha para a relização de casamentos Fast Food. E não demora muito, lá vai o desmiolado casar com a garota de programa e stripper! O problema é que apesar de ter 21 anos de idade ele ainda age como um adolescente retardado de 14. Então seus pais descobrem o ocorrido. Eles são russos, envolvidos em negócios não muito legais (provavelmente aqueles magnatas que orbitam Putin) e viajam às pressas para a Rússia. 

E aí, meus caros, o filme vira uma daquelas comédias dos anos 80, tipo Sessão da Tarde, com muitas confusões para anular esse casamento. O filme é isso! Eu fiquei surpreso com a superficialidade de tudo! Eu sou de um tempo em que o Oscar premiava filmes que eram verdadeiros eventos cinematográficos do ano, filmes grandiosos, que marcavam época! Esse "Anora" é só engraçadinho! Nem o trabalho da atriz, que também venceu o Oscar, me causou qualquer tipo de espanto. É muito mais do mesmo. E ela fica pelada grande parte do filme! Enfim, "Anora" é um daqueles vencedores que vão ser esquecidos rapidamente. Um filme fraco para falar a verdade. 

Caos e Destruição ★★★
Filme de ação da Netflix. Estrelado pelo ator brucutu Tom Hardy. Vi muita gente criticando, mas em minha opinião, essa é uma fita OK. Bem mediana, mas que cumpre aquilo que promete, afinal o cinema não vive apenas de grandes filmes marcantes. Há espaço desde sempre para esse tipo de produção. Eu me lembro dos anos 80, talvez a década símbolo desses filmes de ação. As locadoras eram cheias desses Action movies, sinal que o público gostava! Esse fita aqui ficaria perfeitamente adequado numa fileira de VHS daquela década. 

Pois bem, na história o Tom Hardy interpreta um policial. Não é dos tiras mais honestos, já que se envolveu com muita coisa errada no passado. Agora tenta livrar o filho do prefeito que se envolveu numa guerra de quadrilhas do submundo. Ele esteve envolvido na morte de um jovem, filho de uma poderosa líder da máfia chinesa. Então já viu, vai sobrar tiros e porradas para todos os lados! As cenas de ação inclusive são bem realizadas, com destaque para a perseguição inicial com os carros da polícia tentando parar um caminhão cheio de material roubado dentro!

Um dos aspectos que eu vou frisar nesse filme vem nos tiros dados pelos personagens. Sim, isso mesmo. Trabalharam muito nos efeitos digitais desses momentos de ação. Todas as balas causam o estrondo de uma arma ponto 50, aquelas gigantes das forças armadas. Não importa o calibre da arma que qualquer personagem esteja usando em cena, sempre vai sair uma bala ponto 50 de seu cano! Fica legal, devo admitir, causa impacto nas cenas, mas do ponto de vista da realidade de um tiro desses fica muito exagerado. Enfim, esse filme é isso aí, puro exagero! Certamente os que curtem esse tipo de produção de ação vão gostar...

O Espião Que Veio do Frio ★★★
Esse é o tipo de filme que eu gostaria de assistir nos dias atuais. Infelizmente Hollywood não produz mais filmes como esse que priorizam a inteligência, com boas tramas de espionagem. Quando se produz filmes sobre espiões atualmente tudo acaba desandando, mais cedo ou mais tarde, para cenas de ação espetaculares. Nada contra filmes de ação, entretanto as boas tramas, os grandes conchaves, as jogadas sutis e as conspirações que sempre envolveram o mundo dos espiões, parecem ter ficado para trás de forma definitiva! Uma pena! Lamento muito.

No enredo desse filme o ator Richard Burton interpreta um espião inglês. Sua missão é localizar e eliminar um agente duplo que agora atua dentro da Alemanha Oriental, se tornando bem conhecido por eliminar justamente espiões britânicos. O problema é atravessar a cortina de ferro (a história se passa na guerra fria) e localizar esse assassino. Pior do que isso, como chegar até ele sem deixar suspeitas? Revelar mais seria estragar as surpresas de um roteiro mais do que inteligente. Em determinado momento do filme vem a surpresa, a reviravolta que vai fazer você abrir um sorriso de satisfação por ter assistido a esse clássico das histórias de espionagem internacional. Assim não há mais nada do que dizer, apenas que se trata de um filmão! Adorei!

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XX

Watchmen - Volume 1
★★★
A DC Comics decidiu fazer essas duas animações que nada mais são que adaptações do clássico dos quadrinhos escritos por Alan Moore. Claro que o velho bruxo inglês odiou tudo! Há muitos anos ele brigou com a editora e vive nesse atrito há muito tempo com eles! Então transformar sua obra-prima em animação foi mais um fato de desapontamento de seu criador. 

De qualquer forma, deixando isso de lado, vamos ao que interessa. Nesse primeiro volume somos apresentados a esses estranhos super-heróis. Um deles, conhecido como Comediante, é assassinato. Jogam o velho pela janela! O detetive noir Rorschach sai então em busca da solução do mistério. Afinal vários deses heróis do passado estão morrendo, em circunstâncias misteriosas. Ele se une nessa investigação ao Coruja, uma espécie de Batman esquisito desse universo paralelo. 

Esse primeiro volume vai até a prisão do Rorschach. Assim temos apenas a metade dessa história. Eu gostei de tudo e achei muito bom que essa animação tenha sido produzida. Não teria mais paciência para ler o material original. Já havia gostado do filme adaptado, mas agora devo dizer que a história tem mais espaço para ser desenvolvida com mais calma, com o ritmo adequado. Afinal, se nos quadrinhos, tudo era bem desenvolvido, não deveria ser diferente nessas novas animações, que aliás são muito bem produzidas. 

Watchmen - Volume 2 ★★★
A segunda animação começa exatamente onde a primeira terminou. Rorschach está preso, mas é retirado de lá pelo Coruja, que elabora e executa uma operação de resgate dentro da prisão de segurança máxima onde ele cumpre sua pena. A intenção é descobrir quem teria matado o Comediante e outros heróis de um passado glorioso e distante desses personagens. 

Nesse Volume 2 também há muito espaço para o personagem do Dr. Manhattan. No passado ele foi um cientista brilhante, mas depois de ter sido exposto a altas doses de radiação se transformou nesse ser, muito poderoso e praticamente indestrutível. Só ele pode salvar a humanidade de seu triste futuro de caos e destruição, mas em crise existencial ele parte em direção a Marte, onde se pergunta se a humanidade merece mesmo ser salva de sua própria aniquilação. Essa parte da animação abre espaço para algo mais reflexivo, porém não espere por grandes divagações existencialistas, pois no fundo tudo fica mesmo ali na base da superficialidade! 

De qualquer maneira esse Volume 2 traz o desfecho de todo o enredo. O Homem mais inteligente do mundo se torna uma peça chave. Não achei ele tão inteligente assim, confesso, mas como estamos diante de uma adaptação dos quadrinhos, não adianta também exigir em demasia. Dentro de seu nicho, Watchmen é de fato um belo trabalho de criação do complicado e temperamental Alan Moore. Vale inclusive ter a coleção original em seu acervo pessoal, caso seja um apreciador da nona arte. 

A Batalha das Ardenas - A Última Ofensiva de Hitler ★★★
Essa foi a última cartada de Hitler na Segunda Guerra Mundial. O exército alemão estava em frangalhos, sendo destruído sistematicamente no leste pela invasão da União Soviética. Sem alternativas, o insano e desesperado Hitler decidiu ir para o tudo ou nada, numa grande ofensiva contra as forças aliadas que vinha conquistando territórios no oeste, depois do Dia D. O lugar escolhido para essa grande ofensiva foi a floresta das Ardenas, uma região de complicada operação. Por essa razão os aliados tinham poucos e cansadas tropas por ali. Imagine a surpresa daquelas militares quando se viram frente a frente com divisões e mais divisões blindadas do exército alemão!

O filme até que tem seus méritos, mas não espere por uma grande produção. Esse é um filme de guerra com orçamento mais restrito. Isso também não significa que fizeram uma porcaria de filme, nada disso. As cenas de combates são até que muito bem realizadas. Tem bom timing e os conflitos armados diretos entre aliados e nazistas soam bem feitos. 

Só reclamaria do final abrupto da história. Você está ali concentrado nas cenas e de repente, quase sem mais nem menos, o filme acaba! Você vai ficar surpreso! Para complementar ainda há longos textos nos letreiros finais contando a história de alguns desses militares que morreram nessa batalha. Tudo detalhado, só que confesso que esse tipo de material só vai interessar mesmo a quem tem muito interesse por história militar. Para o público em geral, que só queria assistir a um bom filme de guerra, vai ficar um gostinho de desconfiança e meio de decepção pela forma rápida que o filme foi encerrado. Faltou mesmo um melhor capricho nesse roteiro. 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XIX

O Macaco ★★★
Algumas histórias só poderiam sair da mente doentia de Stephen King. Sim, doentia e de certo modo dono de uma criatividade sem fim, se bem que devo ser sincero nessas linhas, dessa vez o King não foi tão criativo como poderíamos esperar. Até porque essa coisa de brinquedos amaldiçoados já foi bem explorada pelo cinema de terror. Nos anos 80 já era uma coisa batida! Então realmente não tem tanta novidade nesse conto, mas vamos lá... A história gira em torno de um brinquedo, um macaco que toca tambor. E todas as vezes que ele desce suas baquetas uma desgraça acontece. As mais bizarras mortes acontecem. Superficialmente eles são designadas por acidentes mesmo, mas não se engane sobre isso, são maquiavélicas mortes promovidas pelo Macaco. 

Então surge esses dois irmãos que cruzam com o brinquedo do Macaco. Eles são gêmeos, mas com personalidades bem opostos. Enquanto um é mais sensível, o outro é um babaca irritante. E não demora muito para que eles entendam que o Macaco causa mortes por onde passa. Depois de várias delas, inclusive de sua mãe, eles decidem jogar o velho brinquedo em um poço. O tempo passa, os garotos se tornam adultos, viram pais e as mortes recomeçam. E fica a dúvida pois o Macaco foi jogado dentro do poço. Provavelmente alguém tirou o brinquedo de lá, abrindo de novo as portas do inferno. Salve-se quem puder...

Eu até me diverti com o filme, mas bem sabendo e com a consciência de esse novo filme é na verdade um prato requentado. Nada de muito novo. Como é uma obra do Stephen King despertou interesse, mas nada de muito especial você encontrará por aqui. De bom mesmo temos um humor negro que muitas vezes funciona bem. Acontece nas mortes, já que a maioria delas são bem bizarras, algumas feitas pra rir mesmo, por mais estranho que isso possa parecer. Pois é, como eu já escrevi, a mente do King tem dessas coisas. É bem doentia! 

Hypnotic - Ameaça Invisível ★★
Não gostei muito. Tem muitos clichês que o roteiro cai muitas vezes em suas próprias armadilhas. Na história temos um sujeito que lamenta a morte de sua filha e o fim de seu casamento. Essas são coisas colocadas como verdadeiras desde a primeira cena, mas calma lá, estamos na presença de uma daquelas histórias em que nada é realmente da forma que se passa na tela. O protagonista interpretado por um pouco envolvido Ben Affleck está na verdade lidando com uma agência do governo americano que usa grandes hipnotizadores para criarem novas realidades ao seu interesse. Então já deu para entender que o personagem do Affleck pode estar muito bem preso dentro de sua mente, pensando que sua realidade existe, mas que na verdade não passa de uma hipnose. 

E aqui está o maior problema dessa história. Em determinado ponto o espectador vai perder o chão embaixo dos seus pés. Nada mais vai parecer realidade. É uma reviravolta atrás da outra. Na quinta ou sexta vez que isso acontece a tendência de quem está assistindo ao filme é desistir de tudo, da história, dos personagens, de tudo. Cansei! É algo que se torna muito cansativo e até mesmo irritante. Afinal de roteiradas estamos cheios, não é verdade? Então o roteiro curte mesmo essa coisa de jogar na cara do espectador de que tudo que ele viu não existe, é hipnose. Então se levantar da cadeira e ir embora do cinema acaba virando uma grande tentação. Quem aguentar até o final saiba que a surpresa final (depois de tantas outras) nem é tão bem bolada assim. Eu até achei decepcionante! Ficamos com aquela sensação de que no fundo, no fundo, só perdemos um bom tempo vendo esse filme esquecível. Enfim, uma história desastrada e desastrosa. Não vale a pena. 

Contato Visceral ★★★
Vou logo colocando as cartas na mesa. Só vi esse filme por causa da Dakota Johnson. Além de ser bem bonita, é boa atriz. Gosto dela e de seu trabalho. Então me deparei casualmente com esse terror na Netflix e resolvi dar uma olhada. Não é nada muito marcante, mas dá um caldo, como se diz na gíria. Ela interpreta a namorada do protagonista. Esse é um barman em New Orleans. Trabalha em um daqueles bares que os americanos gostam, com sinucas e tudo mais. Um dia uma briga começa no estabelecimento. Um grupo de jovens universitários deixa o lugar, assustados com a briga, e deixam para trás um celular. O barman, interpretado pelo ator Armie Hammer, pega o celular caído no chão e leva pra casa. Sua intenção é obviamente devolver para o seu verdadeiro dono no dia seguinte.

Só que o tal celular tem um conteúdo bizarro, com fotos de rituais de magia negra, cabeças decepadas e tudo aquilo que já vimos em outros filmes de terror. Aquilo parece perturbar o barman e sua namorada (a beleza da Dakota). Em pouco tempo os dois começam a surtar um com o outro, adotando comportamentos bizarros, fora do padrão. Ele vai percebendo que seu emprego no bar está por um fio e seu relacionamento com a sua gata vai de mal a pior. De carta maneira passa a entender que ficou amaldiçoado ao ter contato com todo aquele tipo de magia negra, tão típica de New Orleans. 

Pois é, não espere por grande coisa, mas devo dizer que o filme é bem desenvolvido. Eu fiquei interessado até o fim. Fim esse que achei muito abrupto! É um daqueles roteiros que no final não vai perder tempo explicando nada para você. O espectador que tire suas próprias conclusões. No meu caso fiquei com a clara impressão que os produtores deixaram a porta aberta para futuras continuações (que até aqui ainda não aconteceram). Então é isso, um filme até bacaninha. Não vá assistir se você não curte terror de magia negra e nem tiver paciência com o horror cotidiano de um relacionamento falido. Ah, e se não gostar de baratas também não recomendo! Elas estão por todas as partes e fecham a cortina dessa história pouco usual e comum. Sim, o filme fede a baratas negras. Lamento...

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 9 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XVIII

O Brutalista
Esse filme conta a história do arquiteto  László Toth. Judeu, conseguiu sobreviver ao campo de concentração nazista para onde foi enviado. Em liberdade, decidiu ir embora para os Estados Unidos. Conseguiu um pequeno trabalho na loja de móveis de um amigo, mas a verdade é que sua realidade era bem dura nesses primeiros tempos, chegando a trabalhar como peão comum em obras de construção civil para sobreviver. Sua sorte mudou quando foi contratado pelos filhos de um milionário para melhorar a biblioteca de sua mansão. Com o tempo esse mesmo magnata chamado Harrison Lee Van Buren o contrataria para a obra de sua vida, uma grande construção feita inicialmente para a comunidade, mas que com o tempo ganhou ares de revolução na arquitetura moderna. O interessante é que depois ficamos sabendo que essa obra teria se inspirada na crueza e na brutalidade dos próprios campos de concentração. Então a denominação de brutalismo para esse tipo de arquitetura estava mais do que adequada. Sua grande genialidade foi tornar suas tristes e amargas lembranças em uma obra-prima! Transformar o pesadelo do passado em algo bom, bonito, para deleite das pessoas. 

Em linhas gerais esse é um bom filme. Para o ator Adrien Brody significou o Oscar de melhor ator. Um prêmio que teve sua dose de controvérsia. Isso porque descobriu-se depois que a Inteligência Artificial havia sido utilizada para melhorar seu sotaque estrangeiro! Pois é, nem tudo o que você ouvirá nesse filme veio diretamente da boca do ator, mas de uma máquina! A que ponto chegamos! De qualquer maneira não vou aqui desmerecer seu trabalho de atuação. Ele se entrega mesmo ao papel, principalmente nas cenas mais complicadas, como o abuso de drogas por parte do protagonista. Foi uma vida sofrida, mas que gerou bons e belos frutos. Esse tipo de história merece mesmo ser contada pelo cinema. 

Stuart Sutcliffe: O Beatle que Foi Esquecido
Documentário sobre esse Beatle que não chegou a ver o grande sucesso da banda. Ele morreu muito jovem, com apenas 21 anos de idade! Era grande amigo de John Lennon e apesar de não saber tocar direito foi colocado no grupo. Ele nunca saberia, por exemplo, que aquele pequeno grupos de amigos que tocavam covers de rocks americanos em boates de quinta categoria em Hamburgo, se tornaria a maior banda de rock da história!  Olhando para o passado foi algo bem trágico. Ele tinha toda uma vida pela frente, queria ser pintor, estava ao lado de uma garota alemã, a Astrid, que ele considerava o amor de sua vida. Assim morrer tão precocemente, realmente é uma história muito triste.

O que mais vale a pena nesse documentário, além de relembrar o próprio Stu, é o fato de que a história é contada por quem a viveu, em especial a própria Astrid. Essa mesmo história já foi contada pelo cinema no ótimo filme "Os Cinco Rapazes de Liverpool", mas aqui vemos as pessoas reais, relembrando os eventos reais. Não se trata de um roteiro para cinema. E nele ficamos sabendo que Stu morreu de uma hemorragia cerebral, causada por uma forte pancada. Lennon meio que se culpava de sua morte, pois houve mesmo um ato de violência entre os dois. Teria sido essa a causa de sua morte? Nunca saberemos ao certo, pois a verdade foi para o túmulo com quem a viveu! De qualquer forma podemos ver muitos paralelos entre ele e um de seus grandes ídolos, James Dean. Ele não apenas se parecia com Dean, mas de certa maneira viveu também uma tragédia pessoal muito semelhante. É a tal máxima de viver muito intensamente, de maneira rápida, mas de morrer jovem! Ele foi o James Dean da história dos Beatles e de quebra deixou sua voz imortalizada numa interessante versão em que cantava Love Me Tender. Mais anos 50 do que isso, impossível! 

Ingresso Para o Paraíso
Esse é um filme dos anos 90, mas produzido nesse ano. Complicado de entender não é mesmo? Eu explico! Esse roteiro bem soft e leve poderia ter sido muito bem escrito naquela que foi a década das comédias românticas. Não é à toa também que temos aqui dois astros dos anos 90, Julia Roberts e George Clooney. Só que o tempo voa e eles não podem mais viver o casalzinho apaixonado pois agora já são coroas e tudo mais. Então o roteiro os coloca como os pais de uma jovem que se forma em Direito e se torna advogada. Para celebrar ela faz uma viagem para a paradisíaca ilha de Bali, no Pacífico. Lugar bonito, com belas praias. Lá se apaixona por um jovem nativo. O casalzinho perde o juízo e decide se casar! Pior que isso, ela toma a decisão de jogar a carreira de advogada fora para viver esse amor na ilha... para sempre!

Claro que os pais ficam loucos quando descobrem isso e agora eles viajam para Bali com o firme propósito de colocar aquele casamento abaixo. Mesmo estando divorciados há anos e se detestando, eles seguem em frente, unidos agora por um objetivo comum. Mas calma, não pense que teremos pela frente um dramalhão daqueles. Eu disse que essa era uma comédia romântica dos anos 90, então tudo é muito suave, muito amigável, para não chocar ninguém! E apesar disso, dentro de suas pretensões bem modestas, o filme até que funciona para seu público alvo. Afinal quem for assistir a esse filme quer ver mesmo um filme leve, com belas paisagens do paraíso tropical e de quebra matar as saudades de seus antigos ídolos do cinema em uma década que já passou há 25 anos! Não tem nada de errado com isso. Nostalgia faz bem para a alma de algumas pessoas. 

Pablo Aluísio. 

Cinema Review - Edição XVII

O Conde de Monte Cristo
★★★
Dessa clássica história do livro de Dumas eu já assisti diversas versões. E nenhuma delas foi medíocre. Essa nova versão do cinema francês também não decepciona e de certa maneira traz um dos roteiros mais completos em termos de adaptação que já tive acesso, se dando o luxo de desenvolver melhor os personagens, mostrando detalhes do enredo, do contexto político e tudo mais. A produção também é luxuosa, com figurinos perfeitos e reconstituição de época acima de críticas. 

Claro que ao se optar por trazer muito mais do que as demais versões, isso iria resultar numa maior metragem do filme. Prepare-se pois são quase 3 horas de duração! Só que isso seria cansativo apenas numa sala de cinema. Em tempos de screaming o próprio espectador pode decidir ver tudo como se fosse uma minissérie, resultando em 3 episódios de 1 hora cada um. Assim o filme se torna muito mais palatável e interessante. 

Por fim, como referencial, eu nem pensaria duas vezes em dizer que essa foi uma das melhores versões que assisti do livro do Dumas. Está tudo aqui. Realmente não falta nada nesse roteiro muito bem escrito! Por isso se quiser mesmo conhecer esse romance e está com falta de tempo para ler o livro, nenhum outro filme seria mais indicado. Assista sem maiores receios. 

Lobos ★★★
O Homem é o Lobo do próprio Homem, já dizia o pensador Thomas Hobbes. E é mesmo! Não tenha dúvida disso! Se formos pensar bem, de modo reflexivo, apenas o ser humano é capaz de matar por puro prazer, cometendo atrocidades contra outros de sua própria espécie! E psicopatas matam desde cedo, ainda crianças e adolescentes. Seus alvos nessa fase da vida geralmente são pequenos animais. Basta ler a biografia de vários serial killers para entender bem esse aspecto. 

Na história desse filme temos uma boa amostra disso. Um homem meio estranho, um tanto antissocial e esquisito, levemente desonesto, acaba sendo demitido por roubar pequenas bijuterias de um caminhão baú onde faz mudanças. Seu patrão nem pensa duas vezes e o demite. Sem trabalho, ele acaba se interessando na história de animais que foram mortos nas redondezas onde mora. Então ele começa, por conta própria uma investigação. 

Nem preciso dizer que sua "caçada" ao assassino de animais o levará a bater de frente com um assassino em série muito real! Pois é, meus caros, ele termina na toca do lobo, literalmente. Nesse filme, apesar do título, você não encontrará lobos de verdade, apenas seres humanos que se comportam como as mais famintas e irracionais bestas assassinas das florestas. 

Rasputin - O Monge Louco ★★★
Christopher Lee interpretando o louco Rasputin?! Ora, meu caro, não precisava falar mais nada para que eu prontamente fosse assistir a esse clássico da Hammer. Você, prezado cinéfilo, aliás pode falar qualquer coisa sobre esse estúdio de cinema inglês, menos que os profissionais que lá trabalhavam não tinham classe. Isso eles tinham de sobra e isso fica claro em cada cena desse filme. Claro que não haveria como contar a história de Rasputin, com tantas nuances históricas, em um filme curto, feito nos anos 60 e que tinha a proposta singela apenas de ser mais uma fita de terror da Hammer. Só que, a despeito disso, o que temos aqui é um filme muito, mas muito bom! Diria até surpreendemente muito acima da média, inclusive do que a Hammer produzia naquela década. 

O Rasputin de Lee é um insano, um bruto, que diz curar as pessoas. Usando de técnicas de hipnose ele sai controlando quem cai em sua teia de charlatanismo e misticismo barato! E quando a própria imperatriz da Rússia cai em sua lábia, ele começa a abusar do poder conquistado. Na história real a presença de Rasputin na monarquia representou sua desgraça. No filme, sem tempo para entrar nesses detalhes históricos, o que vemos é um roteiro que consegue até mesmo ser bem respeitoso com a história real. 

Não é historicamente preciso em detalhes, afinal essa é uma fita de terror da Hammer, mas mesmo em sua singeleza conseguiu preservar o mais essencial dessa estranha e bizarra figura histórica. E Christopher Lee como Rasputin é um show á parte. Quando interpretava Drácula ele realmente não tinha muito o que dizer. Era apenas um monstro, praticamente mudo! Com Rasputin esse ator teve a oportunidade de declamar com a maior convicção seus diálogos. O Lee realmente era um ator diferenciado e sua presença faz todo o diferencial. Então é isso. Gosta de clássicos do terror da Hammer com pitadas de história? Então não deixe de conhecer esse Rasputin do Christopher Lee. 

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Cinema Review - Edição XVI

Lobisomem (2025)
★★★
Antes de mais nada me desagra muito o título nacional desse filme! Ora, esse é o título original do filme clássico e depois de seu remake, aquele bom filme com Anthony Hopkins. Então ter esse filme mais uma vez com o mesmo título, aliás bem genérico, me soa como mero oportunismo comercial. Dito isso, vamos ao filme. Na história temos um protagonista que no passado precisou enfrentar uma situação perigosa ao lado do pai numa floresta. Eles foram cercados e quase atacados por uma misteriosa criatura. Um lobisomem. Os anos passam e aquele garotinho agora é um homem, casado, pai de uma filhinha adorável. Quando seu velho pai é dado como desaparecido e morto, ele então retorna para sua antiga casa paterna para tomar posse de sua herança. Algo que vai se revelar a pior decisão de sua vida. 

A mesma casa, isolada no meio da floresta, causa medo. E não é para menos. Naqueles bosques ao redor há mesmo uma criatura, um lobisomem à solta. Quando essa ataca a família do protagonista ele a defende do monstro. Na luta é ferido, mordido. Bom, se você já assistiu a algum filme de lobisomem na vida já sabe o que isso significa. Ele está condenado a também virar esse tipo de besta, meio homem, meio lobo. Agora é sua família que corre enorme risco e não por uma ameaça externa, mas por sua própria presença dentro da casa. As cartas estão na mesa.

Em geral temos um bom filme aqui. Não é excepcional em nenhum momento, mas conta bem sua história de terror. O visual dos lobisomens vai decepcionar parte do público. Após décadas de filmes com esses monstros, explorando os mais diversos tipos de maquiagem e design, os desse filme vão mesmo soar meio genéricos, até comuns. Uma deformação aqui, outra acolá. Apenas um homem deformado com grandes dentes. Nada mais. Inovador mesmo apenas a visão do Lobisomem, visto de um ponto de vista subjetivo do monstro. Essa parte ficou bem legal! De qualquer forma o saldo final é positivo. Eu gostei do que assisti e recomendo aos fãs de terror cinematográfico. 

A Profecia III ★★★
Dizem que o terceiro filme de qualquer franquia cinematográfica sempre é o mais fraco. A história do cinema parece confirmar essa máxima de experiência. Esse terceiro filme de "A Profecia" não chega a ser um desastre, até achei um pouquinho melhor do que o segundo, continuando o primeiro imbatível e muito à frente dos demais. O problema básico do roteiro desse filme é que ele precisa dar conta de muitas coisas. Os roteiristas quiseram fechar a história de uma vez. Com tantas profecias para colocar na história a coisa toda ficou bem truncada!

Só para se ter uma ideia, nesse filme Jesus precisa voltar, o anticristo precisa pegar sete punhais sagrados que podem causar sua destruição, será necessário matar todos os recém nascidos da Inglaterra numa data específica, além de dar conta de um alinhamento de três estrelas no cosmos que vai anunciar a chegada da segunda vinda do Messias e... Ufa! Coisa demais para se colocar no roteiro de apenas um filme! Um amontoado de profecias, mitologias antigas, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Algo assim não iria dar certo mesmo! A narrativa fica obviamente dispersa, sem rumo, sem foco! 

De bom mesmo apenas a presença de um Sam Neill ainda bem jovem, fazendo caras e bocas para interpretar Damien Thorn, o próprio anticristo, agora um homem adulto, industrial, dono da maior multinacional do mundo! E agora também embaixador dos Estados na Inglaterra. Como eu disse, coisas demais ao mesmo tempo. Com tanta informação junta, o filme só poderia ficar como ficou: cheio de conteúdo mal desenvolvido e vazio no aspecto puramente dramático. Um balão de gás cheio de Apocalipse fajuto dentro! 

The Witcher: Sereias das Profundezas ★★★
Engraçado, mas a verdade é que eu apenas suporto esse personagem do Witcher em animações. Pois é, eu gosto das animações do personagem, mas já tentei e não gostei nem da série original e muito menos dos seus derivados. Acho bem fracos, quase bregas. Só que quando suas histórias são colocadas em animação a coisa toda funciona muito bem. Gente, esse personagem nasceu para virar desenho animado, não tem jeito! Até pela presença de monstros que ele vai lutando ao longo de sua jornada do herói. Um monstrengo desses é mais fácil de engolir numa boa animação de fantasia. É justamente o que acontece por aqui. 

Nessa história ele chega numa região para matar monstros marinhos que estão atacando e matando pescadores. Só que o Bruxo logo descobre que tem algo mais acontecendo. Há um reino de sereias naquelas águas. Mais do que isso, o próprio herdeiro do Reino está apaixonado por uma das sereias. Isso é um problema e tanto para o Rei. Afinal aquele é o herdeiro de seu trono. A história assim se desenvolve. Tem boas cenas com muita ação e fantasia. Quem curte o gênero não tem mesmo nada a reclamar. E há monstros em diversos tipos, com direito a um Kraken (uma espécie de polvo gigante) atacando aquelas velhas naus de madeira do passado. Enfim, pode encarar sem problemas. Está na Netflix e é uma diversão garantida para quem gosta especialmente do gênero Fantasia. 

Pablo Aluísio.

Cinema Review - Edição XV

Caos: Os Crimes de Manson
★★★
Mais um documentário sobre o Charles Manson, um dos mais infames criminosos da história dos Estados Unidos. Após passar praticamente toda a adolescência e juventude na prisão ele finalmente foi solto nos anos 60. Acabou parando nas ruas de San Francisco, em pleno auge do movimento hippie. Encontrou alguns jovens perdidos na vida e criou uma seita! Foram todos morar em um velho rancho que era usado para filmar antigos filmes de faroeste. Ele queria ser alguém no mundo da música, mas fracassou. Irado, mandou seus seguidores fanáticos matarem quem encontrasse no endereço de um produtor musical que o rejeitou. Para azar da atriz Sharon Tate e seus amigos, que tinham alugado aquela mesma casa. Foram vítimas de um crime que não era direcionado a eles. Morreram de graça em uma orgia de sangue sem sentido! 

O tema, como se pode perceber, é por demais interessante. Não apenas na questão criminológica, mas também social, pois é até hoje tudo é um mistério, ninguém entendeu como aqueles jovens seguiam cegamente as ordens de um demente homicida como Manson. Talvez fossem as drogas que tomavam, talvez fosse por problemas mentais, carência afetiva ou qualquer outra coisa, mas o que resultou disso tudo ainda choca a muitos, mesmo após a morte do próprio Charles Manson e de alguns de seus seguidores (a jovem assassina Susan Atkins, por exemplo, também já morreu na prisão tal como seu mestre). Um bom documentário, mas que peca por tentar levantar a bola de uma daquelas teorias da conspiração sem pé e nem cabeça que os americanos adoram. Meu conselho é ignorar essa bobagem e absorver apenas os dados históricos do crime. Aí sim o documentário vai funcionar direito. 

Indústria Americana ★★★
Documentário extremamente relevante para os nossos dias. Mostra a implantação de uma fábrica chinesa na cidade de Dayton, nos Estados Unidos. Ela foi levantada no mesmo lugar onde no passado funcionou uma fábrica de automóveis da GM na cidade. Muitos dos empregados já tinham trabalhado na GM no passado, mas agora esses trabalhadores americanos iriam ter que lidar com uma nova realidade. Seus chefes seriam todos chineses. A fábrica funcionaria a partir de agora de acordo com a cultura do grande país asiático. 

Então, como era de se esperar, se opera um grande choque cultural entre um empregador chinês tentando colocar ordem numa fábrica onde a maioria dos empregados era formada por americanos. Os chineses e os americanos logo entram em choque e tudo é capturado pelo documentário. Os chineses acabam achando que os americanos são gordos demais, preguiçosos demais e sem nenhuma disciplina para o trabalho duro. Na visão da diretoria chinesa a mão de obra americana era pouco produtiva! Os americanos, por sua vez, começam a achar os chineses bem esquisitos, com sua cultura de quase escravidão ao trabalho obsessivo, trabalhando em longas jornadas, sem feriados, sem fins de semana. Quase uma escravidão moderna! O documentário mostra acima de tudo que há uma grande ilusão nessa expectativa toda de estrangeiros se instalando dentro da América, de que alguma fábrica asiática vai dar inteiramente certa se instalada dentro do território dos Estados Unidos. As diferenças culturais entre nações tão diferentes logo se faz sentir, desde os primeiros dias. É algo inclusive que o atual presidente americano tem planejado fazer. É melhor ele rever seus conceitos! 

As 7 Máscaras da Morte ★★★
Podem falar o que quiserem. Vincent Price foi um ator bacana, um simpatizante da cultura pop do terror até o fim! Veja o exemplo desse filme que ele fez nos anos 70. Há uma fina ironia cortando toda a história. No enredo Price interpreta um velho ator de teatro. Ele passou a vida interpretando Shakespeare nos palcos. Sendo claramente um amante do teatro clássico. Só que ao longo de todos esses anos foi também massacrado por críticos esnobes de Londres. A cada nova crítica, um novo fracasso e um enorme ressentimento surgindo. E aí, como estamos mesmo assistindo a um filme de terror clássico, logo começam as mortes de seus inimigos. 

O velho ator compra um antigo teatro que havia sido destruído em um incêndio. Ao lado de uma trupe formada por moradores de rua e sua filha, ele começa seus planos de vingança. Vai matando os críticos um a um, com as mortes inspiradas nas peças de Shakespeare! Olha, vou dizer uma coisa bem sincera: essa fórmula, mesmo que um tanto batida, resultou em um filme muito divertido! Sim, porque mesmo sendo tecnicamente um horror, esse filme tem momentos pra lá de divertidos. Vincent Price está obviamente se divertindo como nunca e isso fica claro em cada cena, em cada figurino estranho e bizarro que ele adota ao longo do filme. Ora surge como um cozinheiro de pratos indigestos, ora como um cabelereiro gay e afetado! Uma explosão de deboche por parte do Price. E no final, quem se diverte mais é mesmo o espectador. O Vincent Price era mesmo um cara genial, vou te contar! E aqui está um de seus momentos mais geniais na sétima arte. Diversão pura! 

Pablo Aluísio.