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sábado, 14 de dezembro de 2024

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 4

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 4
É curioso e interessante, mas eu sempre ouvi a canção "Baby's in Black" como uma espécie de ensaio para o que viria depois, com "Eleanor Rigby". Diria que as duas músicas são almas gêmeas, com o mesmo tipo de feeling! Sim, porque fato inegável é que essa faixa do Beatles For Sale foge mesmo da antiga fórmula das primeiras músicas dos Beatles. Pense bem. A protagonista é uma "garota de preto" cuja letra soa muito mais sombria do que poderia se imaginar. Paul McCartney, já nessa época, nessa fase primeira dos Beatles, já deixava claro que estava pronto para alcançar horizontes bem mais amplos. 

Paul costuma dizer que muitas de suas melhores músicas trazem personagens de mera ficção que ele utilizou ao longo dos anos. Nesse caso a tal garota vestida de preto seria mais uma delas, ou melhor dizendo, a primeira personagem de literatura que Paul inseria nos álbuns dos Beatles. Enfim, mostrava mesmo como Paul era diferenciado na criação de suas próprias canções. 

"Every Little Thing" não é tão inovadora como a faixa anterior, mas isso não significa que ela não seja outra bela surpresa. Eu iria além e penso que essa canção tem um sabor claramente oriental. Ela me lembra músicas criadas em um mundo antigo, em uma grande cidade de fusão cultural entre a tradição ocidental e oriental, como Constantinopla!

Veja sua marcação de ritmo, inclusive com pontuação de refrão que realmente foge do que se costumava ouvir na música pop dos anos 60. Ela tem um estilo diria até mesmo épico, por mais estranho que isso possa parecer. O vocal está com John Lennon, aqui com voz duplicada em estúdio. Enfim, uma faixa que até hoje impressiona por sua singularidade fora dos padrões. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 16 de novembro de 2024

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 3

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 3
Há duas músicas de Carl Perkins nesse disco dos Beatles. "Honey Don't" é a primeira. Esse country music foi escolhido a dedo por John Lennon para ser a faixa que Ringo Starr cantaria no álbum. Como se sabe os Beatles sempre deixavam uma música para Ringo cantar nos discos oficiais do grupo. Era uma maneira de valorizar o baterista, fazendo com que ele ganhasse auto confiança em si mesmo. E o timbre de Ringo era muito adequado para esse tipo de sonoridade. Nos primeiros discos dos Beatles sempre que surgia um country no estúdio, todo mundo já sabia, essa faixa seria gravada pelo Ringo.

"Everybody's Trying to Be My Baby" foi a outra composição de Carl Perkins que os Beatles escolheram para fazer parte do disco. Carl Perkins era um artista da Sun Records, a mesma gravadora de Memphis que havia descoberto Elvis Presley e Johnny Cash, entre outros tantos pioneiros da primeira fase do rock americano. Os Beatles eram fãs dessa geração de artistas. 

Na época era bem complicado achar um disco de Perkins na Inglaterra, mas eles conheciam suas músicas, principalmente por causa do rádio. O fato de Liverpool ser um dos portos mais movimentados da Inglaterra também ajudava aos rapazes. Havia sempre algum marinheiro disposto a vender cópias de discos para eles. E assim os Beatles foram conhecendo a nata da música dos Estados Unidos.  

"Kansas City / Hey-Hey-Hey-Hey!" era outro cover do rock americano. Essa foi composta pela excelente dupla Leiber e Stoller, que escreveram alguns dos maiores sucessos da carreira de Elvis Presley. É interessante que a ideia do medley surgiu quando os Beatles estavam em turnê nos Estados Unidos. Eles iriam tocar na cidade de Kansas City e improvisaram esse número para homenagear o público dessa cidade americana. A coisa deu tanto certo, teve tão boa receptividade, que John e Paul decidiram fazer uma versão de estúdio. Ficou, como era de esperar, realmente excelente.

Pablo Aluísio. 

sábado, 9 de novembro de 2024

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 2

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 2
"Eight Days a Week" quase virou canção tema do filme "Help!". Ela foi intitulada originalmente de "Oito braços para lhe abraçar" que era uma tremenda apelação de marketing para fisgar as fãs adolescentes dos Beatles. Depois de algum tempo John Lennon começou a achar tudo aquilo brega demais (e obviamente era algo bem pegajoso e bregoso), por isso o título da música foi finalmente mudado. 

É interessante também notar que os Beatles estavam bem pressionados para completar um disco para as festas de final de ano, por isso eles encaixaram essa música nesse álgum. Inicialmente ela foi pensada para fazer parte de "Help!", mas os Beatles mudaram de opinião sobre isso. Assim ela foi finalmente escalada para o "For Sale". Fez bem, se encaixando perfeitamente no repertório desse disco.

"Words of Love" é um cover dos Beatles com a imortal balada romântica escrita por Buddy Holly. Paul McCartney sempre foi um fã de carteirinha desse pioneiro do rock americano, a tal ponto que anos depois iria comprar os direitos autorais de toda a obra de Buddy Holly, que morreu muito jovem em um acidente de avião. Nesse mesmo evento trágico morreram também Ritchie Valens (de La Bamba) e Big Bopper, outro roqueiro da época. Como forma de homenagem e referência os Beatles então decidiram gravar essa criação imortal de Holly. Ficou linda a gravação, simplesmente irretocável. Um dos grandes momentos do disco.

"Mr. Moonlight" é outro cover. Foi composta por Roy Lee Johnson. Era uma daquelas canções que ninguém esperava encontrar em um disco dos Beatles na época. A sonoridade lembra o som que era mais comum nas décadas de 1930 e 1940, tendo pouco ou nada a ver com a imagem e a sonoridade dos Beatles naquela época. Pode-se inclusive imaginar como as fãs adolescentes dos Beatles se sentiram a ouvir algo tão fora da rota quando compraram o disco. Na parte interna do álbum havia uma grande foto dos Beatles na frente de ídolos da era do cinema mudo americano. Pois bem, isso sim era algo que combinava com "Mr. Moonlight".

Pablo Aluísio. 

sábado, 2 de novembro de 2024

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 1

The Beatles - Beatles For Sale - Parte 1 
"No Reply" é uma beleza de melodia. Com John Lennon nos vocais principais (em voz dobrada dentro dos estúdios), é um dos melhores momentos desse disco. Não sei exatamente a razão, mas essa canção sempre me levou a ter um sentimento de estar ouvindo uma antiga trilha sonora da era do cinema mudo, onde as trilhas dos filmes eram executados por pianistas dentro das salas de cinema. Tem uma sonoridade de música antiga, do começo do século XX. Poderia estar em uma velha película estrelada por Douglas Fairbanks.

Agora imagine ser um dos roqueiros mais populares do mundo, ser exaltado em todos os lugares por onde passava, com milhares de fãs lhe idolatrando, ter fama e sucesso financeiro e ainda assim escrever uma música chamada "Eu sou um Perdedor" ("I'm a Loser"). Foi justamente isso que John Lennon fez, bem ali na onda da Beatlemania. Era coisa para poucos. Na letra John afirmava várias vezes que era um perdedor e nada daquilo que as pessoas pensavam. John Lennon, sem favor nenhum, foi um dos maiores letristas da história do rock. E para deixar ainda mais sua marca registrada ele também acrescentou sua característica gaita. Lennon em estado puro.

"Rock and Roll Music" foi composta, gravada e lançada originalmente por um dos pais do rock, Chuck Berry. Esse foi um artista único, com uma história que era puro rock ´n´roll. Negro, sempre envolvido com tretas na justiça, onde vivia entrando e saindo da cadeia, era um tipo marginal em sua vida pessoal. Porém como artista seu talento era inegável. Certa vez John Lennon o encontrou pessoalmente em um programa na TV americana durante os anos 70. Sem nem pensar duas vezes se derreteu de elogios na frente dele, o chamando de "meu herói". Realmente, para aquela geração roqueira ele foi mesmo um símbolo, um herói do movimento.

"I'll Follow the Sun" é linda! Simplesmente isso, uma das mais lindas músicas gravadas pelos Beatles. É impressionante como aqueles jovens conseguiam criar algo tão belo no estúdio. O produtor George Martin também acertou muito ao sugerir aos Beatles que eles fizessem arranjos simples e belos, com solos de violão e o baixo de Paul em segundo plano, quase imperceptível. Esse tipo de sonoridade relaxante e romântica iria ressurgir alguns anos depois no clássico "Here Comes The Sun". Tinha o mesmo sentimento, o mesmo feeling.

Pablo Aluísio. 

sábado, 19 de outubro de 2024

The Beatles - Help! / I'm Down

The Beatles - Help! / I'm Down
O single extraído do álbum Help! vinha com a música tema do filme e um Lado B que não tinha sido incluído no álbum e que era uma faixa inédita na discografia dos Beatles até então. Tradicionalmente os compactos dos Beatles geralmente vinham com duas músicas compostas por John Lennon e Paul McCartney. E quase sempre eles também dividiam os vocais, sendo uma das músicas cantadas por John e a outra por Paul. Foi exatamente o que aconteceu aqui. John cantava Help!, que no fundo era uma composição apenas dele e no Lado B Paul cantava sua nova composição "I'm Down". 

O curioso é que Paul McCartney sempre gostou de Little Richard e ao longo dos anos os Beatles tocaram muito o repertório do inimitável cantor americano. Então Paul decidiu compor uma música que tivesse o estilo de Little Richard. Nasceu assim essa faixa. Em uma entrevista o próprio Paul resumiu a questão afirmando: "Eu costumava cantar as coisas dele, mas chegou a um ponto que eu queria a minha própria canção, então eu escrevi '"I'm Down'". 

A canção também seria incorporada aos shows do grupo, virando um ponto alto do concerto. Paul inclusive adorava a versão que eles tocaram no Shea Stadium, com John Lennon literalmente "massacrando" as teclas do teclado no palco! Quem assistiu ao documentário com o concerto pôde perceber que eles se divertiram como nunca a tocando para os fãs em Nova Iorque. 

Pois bem, o single inglês vendeu muito, chegou ao primeiro lugar nas paradas, mas a Capitol queria mais. Os executivos da gravadora não entendiam como não havia um single com a música "Yesterday" que no fundo era o maior sucesso do disco "Help!". Assim eles decidiram criar um single voltado para o público nos Estados Unidos. Esse novo single Made in USA vinha com "Yesterday" no lado A e "Act Naturally" no Lado B. E o sucesso foi tão grande que o single americano começou a ser lançado em outros países, afinal ele trazia a grande canção desse disco. Nem preciso dizer que vendeu milhões de cópias mundo afora. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 21 de setembro de 2024

The Beatles - Help! - Parte 5

The Beatles - Help! - Parte 5
Finalizando essa série de textos sobre o disco Help! vamos tecer alguns comentários sobre a versão norte-americana do álbum. Antes de mais nada meu veredito é definitivo: o disco americano da Capitol é muito ruim e sem noção! Eles ignoraram a ótima seleção de faixas do original inglês e fizeram uma mistureba indigesta com músicas instrumentais (inclusive de outros filmes) e as músicas dos Beatles. Coitados dos fãs que moravam nos Estados Unidos e tiveram que comprar essa porcaria para levar para casa. 

Os erros começam logo na primeira faixa do disco. Acredite, eles abriram o álbum com o tema de James Bond! Eu sei que o filme era uma espécie de paródia engraçadinha dos filmes do agente secreto, mas não era preciso esse tipo de escolha infeliz. O que não faltavam era músicas novas dos Beatles, então escolher o tema de Bond era uma verdadeira palhaçada por parte dos executivos da Capitol. 

As músicas instrumentais são todas sem graça. A Capitol queria lançar uma trilha sonora mesmo do filme, por isso enfiaram músicas instrumentais incidentais que foram usadas ao longo das cenas. Os fãs americanos dos Beatles não queriam ouvir isso. Queriam ouvir os Beatles! Não houve como reclamar, tiveram mesmo que engolir temas como "In the Tyrol", "The Bitter End / You Can't Do That", "The Chase", entre outras, todas arranjadas pelo maestro Ken Thorne.

E afinal o que entrou dos Beatles no disco? Acredite, poucas músicas mesmo! Inclusive cortaram "Yesterday" do disco! Eu nunca vi tamanho absurdo na minha vida. Simplesmente um dos maiores clássicos da discografia dos Beatles! Não dá para acreditar! Da seleção do disco original só entraram mesmo as seguintes músicas: "The Night Before", "You've Got to Hide Your Love Away",  "I Need You", "Another Girl",  "Ticket to Ride",  "You're Gonna Lose That Girl"  e obviamente a música título do filme, "Help!". O resto das faixas foi cortada, sem dó e nem piedade. Os fãs americanos ficaram a ver navios! Enfim, a versão Made in USA do disco "Help!" era mesmo uma imensa porcaria!

Pablo Aluísio. 

sábado, 14 de setembro de 2024

The Beatles - Help! - Parte 4

Os Beatles sempre deixavam espaço para George Harrison contribuir com uma ou duas canções nessa fase inicial do grupo. Nesse álbum "Help!" George trouxe "You Like Me Too Much". A música tem uma introdução de órgão que causa surpresa, parece mais um velho arranjo para algum velho filme de faroeste. O resto da música, ainda bem, segue em um ritmo totalmente diferente, com John nos teclados, solando por toda a faixa. Com voz dobrada também podemos perceber como Harrison havia melhorado como vocalista. Nem parecia aquele cantor tímido dos primeiros discos dos Beatles.

E por falar em bons vocais, John Lennon está muito bem na bela balada "You're Going to Lose That Girl". Um som acústico, valorizando mais o violão do que guitarras, que nessa época formavam a identidade musical dos Beatles. A letra, composta por Lennon, é um diálogo franco. Um amigo diz ao outro que ele deve cuidar melhor de sua garota, pois caso contrário vai perdê-la, talvez até para ele mesmo. Dica de um jovem para outro. Se cuida meu amigo!

"Another Girl"  é puro Paul McCartney que compôs a faixa, com breve anotações de Lennon. Ele também lidera os vocais. Outro dia assisti a um show recente de Paul e pude perceber que por causa da idade ele tem perdido parte de sua voz. Algo natural de acontecer. Nesse faixa, com Paul jovem e cheio de energia, podemos notar como tudo mudou com o passar dos anos. Curiosamente Paul a escreveu quando estava na Tunísia, curtindo férias.

"Tell Me What You See" traz vocais dobrados de Paul e John. Outra boa balada do disco. Os Beatles, de maneira em geral, trouxeram uma excelente sonoridade para esse álbum, caprichando nos arranjos mais bem elaborados. Da primeira fase do grupo desse disco pode ser considerado um dos mais bem arranjados. Algo que podemos perceber também em "I've Just Seen a Face" com lindo arranjo de solos de violão em sua introdução. A música cantada por Paul também soa como um bom country music. O feeling é puro Nashville. A letra foi feita também para Jane Asher. O namoro de Paul com ela também tinha suas pequenas histórias, de como eles se conheceram, etc. Algo que Paul transformava em música para o disco dos Beatles. Sem dúvida um bom momento desse álbum.

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de setembro de 2024

The Beatles - Help! - Parte 3

Para muitos a maior obra-prima da carreira dos Beatles é o clássico romântico "Yesterday". Quando Paul escreveu a música, após pensar na melodia ao acordar numa certa manhã, ele ficou convencido que a música não era original. De que ele apenas estava se lembrando de uma antiga música cantada por seu pai. O velho tinha feito parte de uma banda de jazz nos anos 30 e estava sempre tocando velhas músicas ao piano quando a família se reunia. Será que era isso mesmo que estava acontecendo?

Paul levou a música para o produtor George Martin que não se lembrava de nenhuma música com aquelas notas. Logo era mesmo uma criação pura da mente de Paul. Ao falar com o produtor esse deu a ideia de que usar um quarteto de cordas na gravação da faixa, pois assim ela ganharia um acompanhando clássico que depois a imortalizaria. Isso também significava tirar os demais Beatles da gravação. A música teria apenas Paul, os músicos clássicos e George Martin arranjando tudo.

Paul escolheu pelo caminho certo. Optou por um arranjo clássico. A gravação ficou maravilhosa e os demais três Beatles ficaram completamente de fora da versão original. Melhor assim. O resto é história. Considerada a música com o maior número de versões da história da música, "Yesterday" se tornou ainda maior que os próprios Beatles, ganhando vida própria. Curiosamente ela foi mal posicionada na trilha sonora, ficando perdida lá no final do Lado B do vinil. Nem em single foi lançada na Inglaterra. Mesmo assim logo se destacou, virando um grande hit da época. Um daqueles sucessos que rompem o teste do tempo. Ainda hoje é uma das melodias mais conhecidas em todo o mundo.

Para compensar o romantismo de "Yesterday" John Lennon resolveu trazer um cover bem barulhento para fechar o álbum, justamente a música que viria logo a seguir do clássico imortal de Paul. Estamos falando do rock "Dizzy, Miss Lizzy" de autoria de Larry Williams. Seria um dos últimos covers da discografia dos Beatles pois eles logo iriam abandonar essa coisa de gravar músicas de outros artistas em seus álbuns. A partir de determinado momento os Beatles decidiram que só iriam gravar músicas de sua própria autoria, fossem da dupla Lennon e McCartney ou de George Harrison. Eles fechariam para sempre o espaço para outros compositores em seus discos.

Pablo Aluísio.

sábado, 31 de agosto de 2024

The Beatles - Help! - Parte 2

Eu sempre gostei de "It's Only Love". Pena que John Lennon não apreciava e ele tinha composto a faixa. Lennon considerava a letra muito fraca. O tema mostrava um sujeito tímido e apaixonado que ficava feliz apenas em ver a amada passar ao seu lado. Um caso exemplar de amor platônico. Anos depois John diria que havia composto essa música romântica apenas para completar o lado B do álbum "Help!". Paul McCartney, por outro lado, defendeu "It's Only Love", dizendo que era uma boa canção pop e que os Beatles na época não faziam literatura, mas apenas boas músicas populares.

A música "I Need You" foi composta por George Harrison. Também é cantada por ele nessa versão oficial do disco. Uma canção simples, mas bem arranjada e executada. George, como era de se esperar, colocou a guitarra em evidência em toda a música e isso acabou se tornando a maior característica dessa faixa. Já era um sinal do potencial do músico, algo que só iria crescer nos anos que viriam. Esse ainda não era o George Harrison de "Here Comes The Sun" ou "Something", mas já demonstrava que estava no caminho certo.

"Ticket to Ride" foi um dos grandes hits desse disco, uma das músicas mais tocadas nas rádios na época de lançamento original do LP. Há muitas histórias envolvendo o real significado dessa letra, desde as mais pueris, até mesmo as mais, digamos, picantes, onde os Beatles estariam falando na verdade dos clubes noturnos de Hamburgo, na Alemanha, quando eles passaram por aquele país. Qual seria a versão verdadeira? Isso se perdeu nas areias do tempo. É uma letra que pode ter vários significados diferentes, como era bem ao gosto de John Lennon quando escrevia suas composições.

"Act Naturally" não foi composta pelos Beatles, mas sim pela dupla formada por Johnny Russell e Voni Morrison. É uma música country, muito agradável aos ouvidos, escolhida especialmente para o timbre vocal de Ringo Starr.  Na década de 1970 John Lennon iria dar algumas declarações indelicadas em relação ao Ringo, dizendo que ele não era o maior cantor do mundo. Bom, Lennon poderia passar sem essa, afinal para que atacar o companheiro de banda, não é mesmo? De qualquer forma Ringo passou por cima de tudo isso e aqui soa perfeito em meu ponto de vista. A música é simples, mas igualmente um dos bons momentos do disco.

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de agosto de 2024

The Beatles - Help! - Parte 1

Retornando aos comentários dos discos oficiais dos Beatles vamos agora tecer algumas observações sobre o disco "Help!" de 1965. Lembrando que tomarei como base a discografia inglesa dos Beatles, do selo EMI, por ser considerada a oficial. A discografia dos Estados Unidos é diferente, com outros discos lançados pela Capitol, outras seleções de faixas. E sobre a discografia brasileira posso fazer textos sobre as peculiaridades inerentes a esses discos nacionais bem diferenciados. Isso porém será tema para outra ocasião. Vamos falar de "Help!" então...

Segundo o próprio John Lennon os Beatles estavam cheirando muita cocaína quando gravaram o álbum "Help!". Para John era óbvio que a letra pedindo socorro não era apenas uma poesia ao sabor do vento, era sim um verdadeiro pedido de socorro, pelo menos por parte dele. Havia toda aquela loucura da Beatlemania acontecendo, os Beatles eram pressionados para escrever um sucesso atrás do outro, muito consumo de drogas e a vida havia se tornado uma roda viva de insanidade. Pedir socorro era algo natural para John Lennon. Quem poderia culpá-lo por agir assim? De uma maneira ou outra essa faixa virou um clássico imediato dos Beatles, se tornando rapidamente um grande sucesso mundial.

As demais canções da trilha sonora também eram muito interessantes. Particularmente gosto muito do ritmo de "The Night Before". Aliás essa faixa foi considerada tão satisfatória pelos Beatles que em algum momento eles até mesmo cogitaram colocá-la como título do álbum, posto que obviamente foi perdido quando John Lennon apareceu com a música "Help!", essa imbatível para dar nome ao novo álbum. Também era o título ideal para o filme. A companhia cinematográfica achou ótima a sugestão de usar "Help!" como nome do filme. Era chamativo e tinha o impacto necessário. "The Night Before" havia sido composta por Paul McCartney. Seu estilo pessoal está em cada detalhe, em cada nota musical.

A balada "You've Got to Hide Your Love Away" tem uma doce melancolia. Essa criação de John Lennon tem claras tintas no estilo de Bob Dylan. O cantor e compositor americano inclusive havia se encontrado com os Beatles. Segundo John, ele não gostou muito de Dylan. Achou ele muito paranoico e estranho. Isso porém não os impediu de fumar maconha ao lado do cantor norte-americano, terminando a noite dando muitas risadas. Após ouvir alguns discos de Dylan, John chegou na conclusão que poderia fazer algo melhor, no próprio estilo do colega músico. E assim nasceu essa faixa, que aliás ficou excelente. Um John Lennon cheio de inspiração e talento tentando seguir os passos e o estilo de Bob Dylan. Tudo resultando numa pequena obra-prima dos Beatles nessa fase.

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de julho de 2024

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 5

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 5
Então chegamos no texto final sobre esse álbum dos Beatles. Inclusive é bom salientar que esse disco está completando 60 anos de seu lançamento justamente nessa semana! Como o tempo voa, não é mesmo? E se você gosta de John Lennon eu sempre gosto de dizer que esse é o seu disco dos Beatles. Certamente foi o título em que John mais se empenhou, onde a maioria das músicas foram compostas por ele, com pequenas pinceladas de Paul McCartney. O disco é o mais autoral de John Lennon nessa primeira fase dos Beatles. 

E isso fica bem claro na faixa "When I Get Home", uma canção em que John Lennon fez praticamente tudo, a letra, a melodia, os arranjos e o vocal principal. Reza a lenda que John a compôs quase como um pedido de desculpas para sua primeira esposa pois vivia tanto tempo na estrada, fazendo shows com os Beatles, que praticamente não ficava mais em casa. Mal a via, nem seu filho Julian. Parece que John se sentiu culpado por ser um pai e um marido ausente. Então usou esses versos para se desculpar. 

O álbum termina com a faixa "I'll Be Back". Uma pena que não tenha feito parte do lote de músicas que foram usadas no filme pois é muito boa. Acontece que apenas as músicas do Lado A realmente ganharam cenas no filme. O Lado B, apesar das boas músicas presentes nele, ficaram de fora. E entre elas estava essa. 

Um fato curioso é que essa canção faz parte de um seleto grupo de músicas. Canções que tinham o mesmo título, mas que eram músicas diferentes, gravadas pelos Beatles e por Elvis. A música de Elvis também fez parte de uma trilha sonora dos anos 60, "Double Trouble". E essa dos Beatles, como já sabemos, foi a faixa final do Lado B do disco original. E se esses artistas cumpriram ou não suas promessas de voltarem, uma coisa é certa, parece que eles nunca se foram, pois suas músicas continuam sendo ouvidas até hoje em dia, mesmo após muitas décadas de seu lançamento original. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 8 de junho de 2024

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 4

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 4
Apesar da correria para compor e gravar toda a trilha sonora desse filme podemos dizer que os Beatles se saíram muito bem. Não há nenhuma música ruim no repertório desse álbum. John e Paul estavam particularmente entrosados e motivados para trazer o melhor material possível para seus fãs. E não podemos deixar de notar que poucas vezes John Lennon esteve tão presente em um disco dos Beatles. Aliás podemos dizer sem medo de errar que esse foi o disco em que ele mais colaborou. Grande parte das canções foram compostas por ele e depois aprimoradas ao lado de Paul no estúdio. 

"Any Time at All", por exemplo, é uma música nitidamente feita por John Lennon. É um rock com uma pegada bem firme, uma característica que Lennon particularmente apreciava pois ele gostava de dizer que era acima de tudo um roqueiro que tocava em uma banda de rock. Por essa razão nem sempre ele gostou daquelas músicas mais românticas de Paul. E piorou muito quando Paul trouxe, anos depois, músicas que Lennon considerava não apropriadas para um grupo de rock, como "Honey Pie" (do álbum branco) e "Maxwell’s Silver Hammer" (do Abbey Road) que ele achava uma grande porcaria. 

"I'll Cry Instead", também presente no lado B do álbum em sua versão inglesa, era outra faixa que seguia essa linha. O mais interessante é que Lennon aqui colocou algumas pitadas de sua própria personalidade na letra, embora a música fosse um pouco acima do melodramático para seu gosto. Nessa época da juventude John gostava de projetar uma imagem mais de durão, então ele ficava meio embaraçado de cantar uma música em que admitia que era um tanto tímido e que poderia chorar por causa de uma garota. 

Ser piegas não era bem o que ele queria demonstrar naqueles anos, mas ainda assim Paul achou uma boa canção e ajudou seu parceiro a terminar a música. Como os Beatles estavam precisando completar o disco para cumprir suas obrigações contratuais com a gravadora EMI ela então foi finalizada e gravada, tudo em um final de semana. So que na verdade John nunca ficou muito satisfeito com essa canção, tanto que nunca a levou para os palcos, se tornando assim uma autêntica música lado B dos Beatles. E vamos convir que a gravação ficou muito boa, acima até da média. Afinal eram os Beatles e eles estavam em uma fase muito criativa nessa época. 

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 29 de maio de 2024

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 3

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 3
Esse álbum dos Beatles levou muito tempo para ficar pronto. Eles levaram praticamente seis meses para completar o disco. Não que os Beatles tivessem ficado todo esse tempo dentro do estúdio gravando as canções. Pelo contrário. Eles tiveram que cumprir tantos compromissos que ficou complicado para eles terminarem o álbum. Só para se ter uma ideia eles tiveram que interromper as gravações para sua primeira turnê americana, a mesma que deu origem à Beatlemania nos Estados Unidos e no mundo.

E a correria foi tão grande que quando as filmagens de seu primeiro filme terminaram eles não tinham sequer gravado a música título do disco, a canção "A Hard Day's Night". Por essa razão não existe nenhum cena no filme mostrando os Beatles tocando essa música. Eles simplesmente não tinham gravado a faixa durante as filmagens. Só depois de pronta é que os editores a colocaram no filme, mas apenas nos créditos iniciais. Uma loucura incrível. E como todos sabemos a música também foi composta meio às pressas, em quartos de hotel das turnês. Quem deu a dica foi Ringo, exausto de tantos compromissos. Ele apenas fez um trocadilho espirituoso em cima da maneira de falar e pensar de John Lennon. Deu certo.

"You Can't Do That" também foi gravada na pressa. A EMI queria lançar um single o mais rapidamente possível. Já que o disco não conseguia ficar pronto era necessário colocar alguma coisa nova no mercado para faturar em cima da imensa popularidade dos Beatles. Assim eles se reuniram de forma urgente dentro da EMI e gravaram essa música que seria colocada como Lado B de  "Can't Buy Me Love". Como se pode perceber a pressão em cima do grupo era grande, principalmente por parte da gravadora. Eles tinham que compor e gravar em ritmo quase industrial. Manter o pique para tantas solicitações de material era complicado.

Quando chegou em junho de 1964 o filme estava praticamente pronto, mas o disco ainda não. Os Beatles precisavam gravar ainda cinco ou seis faixas para o lado B do disco. John e Paul tinham decidido não colocar nenhum cover no álbum, mas apenas composições próprias. Então eles correram para criar um lado inteiro para o que seria a trilha sonora do filme. "Things We Said Today" foi composta dentro dos estúdios da BBC, onde os Beatles tinham seu próprio programa musical, onde tocavam e conversavam com os ouvintes e o DJ. Enquanto estavam esperando sua vez de entrar, eles apressadamente fizeram a música. Depois foi uma questão de tempo para finalizá-la em Abbey Road, poucos dias depois.

Pablo Aluísio.

sábado, 25 de maio de 2024

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 2

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 2
Os Beatles gravaram esse álbum no meio de uma correria sem fim. Eles tinham turnês para fazer, cenas para filmar e além de tudo encontrar tempo para gravar as canções do disco que futuramente seria a trilha sonora original. E mais curioso de tudo é que todas as músicas seriam compostas pela dupla Lennon e McCartney. Mesmo que ainda fossem jovens eles já sabiam do valor de seu trabalho musical e por isso determinaram que não haveria músicas de outros nesse álbum.

E no meio de toda essa agitação eles ainda tinham fôlego para compor belas baladas como "I Should Have Known Better". Essa música seria usada como faixa 2 do lado A do disco original britânico, ou seja, os Beatles colocavam fé na música. Acertaram bem no alvo pois a música se tornou um hit, um sucesso instantâneo do grupo assim que chegou nas rádios inglesas e americanas. O tema era de arrependimento, porém obviamente numa levada mais juvenil, adolescente, afinal esse era o público dos Beatles na época. Jovens não pensam muito bem em seus atos, são impulsivos, mas era melhor pensar um pouco melhor antes de fazer alguma bobagem. Esse era o tema da música.

Embora George Harrison não tenha composto nenhuma música para esse disco, John Lennon o escalou para cantar a bucólica "I'm Happy Just to Dance with You". Tema simples, bem romântico, ideal para bailinhos, onde o sujeito apaixonado ficava feliz apenas por dançar com a garota que amava. A voz de George e sua conhecida timidez que lhe valeu o apelido de "O Beatle quieto" combinou bem com a letra e a melodia. Os Beatles porém pouco trabalharam em cima dessa canção, se tornando apenas um bom complemento para o disco de uma forma em geral.

E fechando o lado A do disco original britânico surgia a boa faixa "Tell Me Why" onde o destaque vinha dos vocais dos Beatles. Todo mundo cantando junto em Abbey Road. Imagine um casal de adolescentes em crise. Ele quer saber porque o relacionamento vai tão ruim, por que ela o trata tão mal. Afinal o que ele fez? Um tema ideal para as fãs que gritavam pelos Beatles na época, ou melhor dizendo, para os fãs, uma vez que a letra vinha em primeira pessoa, de um namorado perplexo pelo que vinha acontecendo nos últimos dias. Pelo visto o pobre coitado acabou mesmo sem respostas...

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de maio de 2024

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 1

The Beatles - A Hard Day's Night - Parte 1
Esse álbum foi lançado bem no auge da Beatlemania. Para as fãs que gritavam pelo grupo nos shows foi um deleite ter à disposição 13 novas canções inéditas, todas elas escritas pela dupla Lennon e McCartney. De fato foi um dos álbuns mais vendidos dos Beatles, até porque as vendas foram impulsionadas pelo sucesso do filme. O público via os Beatles nas telas de cinema e depois comprava essa trilha sonora nas lojas de discos. Era a dobradinha comercial perfeita na visão do empresário Brian Epstein e da gravadora EMI.

E o disco vinha mesmo cheio de novidades interessantes, músicas que iam do mais puro rock, passando pelo pop, indo parar no lado mais romântico da banda. Na coleção de belas baladas nenhuma se comparava a "If I Fell", um dos grandes sucessos do álbum. Essa foi uma composição conjunta entre John e Paul. Essa balada ganhou bastante destaque no filme, em uma boa cena, bem elaborada pelo diretor Richard Lester. O cineasta quis trazer algo de casual, como se os Beatles ainda estivessem se preparando para a apresentação, numa espécie de ensaio, onde John ao violão dava os primeiros acordes enquanto Ringo ainda motava sua bateria. Funcionou, embora os Beatles não fossem atores profissionais conseguiram fazer a cena sem problemas, sem doses excessivas de canastrice.

Outra música escrita por Paul que fez muito sucesso foi "Can't Buy Me Love". Na edição original ela vinha como a última faixa do Lado A do disco, por isso não se esperava muito dela em termos de sucesso nas rádios. Só que nos Estados Unidos ela foi escolhida praticamente como o carro-chefe do disco, se tornando um dos grandes hits dos Beatles na terra do Tio Sam.  Os executivos da Capitol (a gravadora americana que lançava os discos dos Beatles na América) tinham uma visão mais apurada de seu mercado do que os ingleses. John Lennon chegou a colaborar em sua criação, porém em pequenas doses, conforme ele mesmo diria anos depois numa entrevista. Para Paul foi gratificante ver seu sucesso no outro lado do Atlântico. Era a prova de que ele sabia fazer, mesmo sem querer, grandes sucessos, aquelas músicas que não cansavam de tocar nas rádios. Um hit perfeito.

E mostrando que Paul realmente dominou em termos de composições para esse álbum, vale destacar outra bela canção romântica chamada "And I Love Her". Era uma criação de Paul McCartney, o eterno romântico dos Beatles. A bonita letra foi escrita para Jane Asher, a namorada de Paul, a garota ruiva que todos pensavam iria se tornar sua esposa em poucos anos. É incrível que seu relacionamento com Jane, que serviu de inspiração para tantas músicas românticas dos Beatles, não tenha se transformado em casamento. Em algum momento a coisa desandou entre o casal, para decepção de muita gente que vivia ao lado deles naquela época. O próprio John Lennon (que já era casado) tinha certeza que isso iria acontecer. Outra composição que Paul McCartney fez praticamente sozinho, levando ela praticamente pronta para os estúdios de Abbey Road em Londres. Essa rotina de Paul levar novas músicas de amor já compostas integralmente levou John Lennon anos depois a pensar sobre esse período, essa fase dos Beatles. Ele disse: "Parecia que Paul sempre surgia como o Beatle romântico, com alma de veludo e que eu só tinha rocks vibrantes para apresentar ao grupo. Era algo natural que acontecia. Eu tinha que fazer um contrabalanço a Paul. Já que ele compunha muitas canções românticas eu tinha que cuidar do lado mais roqueiro dos discos. Por isso fiquei com essa imagem nos primeiros LPs dos Beatles".

Pablo Aluísio.

sábado, 11 de maio de 2024

The Beatles - Can't Buy Me Love / You Can't Do That

The Beatles - Can't Buy Me Love / You Can't Do That
Em seu recente livro de memórias, onde Paul explica de onde veio algumas de suas mais populares músicas, McCartney relembrou como "Can't Buy Me Love" foi composta. A música foi criada em Paris. Os Beatles estavam se apresentando na França, em uma curta turnê no famoso teatro Olympia. Assim eles faziam os shows de noite e de dia, geralmente no período da tarde, tentavam compor novas músicas, ainda mais naquele momento em que eles tinham assinado um contrato novo para novos discos no selo americano Capitol. 

A música foi composta para sair em single, mas acabou sendo muito associada ao novo disco dos Beatles, pois seria o maior sucesso da trilha sonora de "Os Reis do Ié, Ié, Ié" ou citando o título original dessa produção, "A Hard Day´s Night". Assim que foi lançada em compacto foi um grande sucesso de vendas, chegando no primeiro lugar dos singles mais vendidos da Europa e dos Estados Unidos. No Brasil, nem preciso dizer, também foi um grande sucesso nas rádios. 

O Lado B desse single trazia a faixa "You Can't Do That". Essa era uma criação de John Lennon. Aliás grande parte do disco "A Hard Day´s Night" foi composto por Lennon, com Paul ajudando de forma coadjuvante. Nessa época John estava em uma das fases mais criativas de sua carreira e ele estava mesmo empenhado em compor muito e compor bem. Tanto que durante esses primeiros anos ninguém, nem mesmo Paul, ousava contestar sua liderança nos Beatles. 

O compacto original com essas duas músicas chegou ao mercado internacional em 16 de março de 1964, Depois a gravadora EMI decidiu incluir as duas faixas na trilha sonora do novo filme dos Beatles, o primeiro e considerado o melhor trabalho deles no cinema. Esse filme captou bem o clima da Beatlemania. Em fotografia preto e branco foi um precioso registro cinematográfico de como eram os Beatles naquela época. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 27 de abril de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 6

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. 

Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.

sábado, 20 de abril de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 5

Essa canção "All I've Got To Do" fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem. O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. 

John diria que ele estava tentando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco. E demonstrava que os Beatles conheciam muito da música norte-americana. Liverpool e seu porto eram pioneiros na chegada dos discos vindos dos Estados Unidos, por isso os jovens da cidade conheciam muito bem todos esses grupos negros que para o resto da Inglaterra eram bem desconhecidos. 

De autoria do compositor Meredith Willson temos "Till There Was You". Ele era conhecido na época de sua auge de sucesso como o "The Music Man" pois era conhecido por escrever grandes sucessos musicais para a Broadway em Nova Iorque e para a indústria do cinema americano na costa oeste. Ele era talentoso e muito solicitado. Acabou se tornando um dos compositores mais ricos da indústria fonográfica americana. Quem trouxe essa bela balada para o disco dos Beatles? Certamente foi Paul McCartney que adorava seu estilo mais Old School. Lembrando que ela ganhou também um belo arranjo nos estúdios Abbey Road, com destaque para o inspirado violão solado por George Harrison e a percussão providenciada por Ringo Starr. Mais uma prova que os Beatles conheciam demais as músicas populares do outro lado do oceano, na terra do Tio Sam. 

De certa maneira "Till There Was You" tem um estilo que nos lembra os antigos boleros caribenhos, que naquela época, não podemos deixar de lembrar, estavam em alta nos Estados Unidos. Havia muitas boates de sucesso que apelavam justamente para esse lado mais hispânico, caliente, algo que se pode ver em qualquer registro cinematográfico daquele período. Basta lembrar de casas noturnas de sucesso por todos os Estados Unidos como a Tropicana. a Copacabana e a Tropical de Nova Iorque. Será que os Beatles estavam de olho nesse tipo de mercado? Afinal eles vinham de Hamburgo onde trocaram em muitos locais parecidos. É de se pensar nessa hipótese.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de abril de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 4

The Beatles - With The Beatles - Parte 4
Esse álbum "With The Beatles" tem uma sonoridade tão agradável de se ouvir. Mesmo após tantos anos ainda considero um prazer colocar esse álbum para apreciar as músicas. O grupo também parecia extremamente entrosado, efeito, é claro, de uma banda que vivia na estrada fazendo shows ao vivo. A prática, já dizia o sábio, leva à perfeição. A excelente qualidade do conjunto, do repertório das músicas, começava já desde a primeira faixa. 

Bastava colocar a agulha no LP, no vinil, para começar a ouvir os primeiros acordes. "It Won't Be Long" é um reflexo desse entrosamento do quarteto. Eles gravaram essa música, que pode até ser considerada um pouco complicada de tocar, em poucos takes. Sua estrutura rítmica sui generis levou um crítico americano a dizer que a canção tinha "cadências eólicas". A estranha designação virou uma piada dentro da banda, entre os próprios Beatles. John e Paul, autores da música, não tinham a menor ideia do que isso significava. 

Brincando sobre o fato Paul ironizou, muitos anos depois, dizendo que a crítica não fazia o menor sentido e que ele, mesmo após anos de carreira, continuava sem saber do que se tratava! Durante uma entrevista nos anos 80 John Lennon ironizou o crítico que escreveu que a música tinha as tais "cadências Eólicas" dizendo que quando ouviu essa expressão pela primeira vez pensara que era algum tipo de pássaro exótico! Brincadeiras à parte, é inegável reconhecer que se trata de uma excelente gravação do grupo. Eles estavam tinindo nos estúdios Abbey Road quando gravaram essa canção.

Já "Please Mister Postman" era um cover do som da Motown. Quem diria, os ingleses brancos revisitando a música negra americana. Eles curtiam muito a sonoridade dos artistas da gravadora de Detroit. A música já vinha sendo apresentada pelo grupo desde os primeiros shows na Alemanha, em Hamburgo, sendo por isso uma opção natural para compor esse segundo álbum dos Beatles. Seria mais fácil de gravá-la após tantos anos e era uma maneira de agradar os americanos, pois o empresário Brian Epstein já estava de olho no mercado dos Estados Unidos. Se os Beatles conquistassem seu lugar ao sol dentro da terra do Tio Sam nada mais poderia parar seu sucesso. Algo que se confirmaria no ano seguinte quando o grupo finalmente aterrissou no país de forma gloriosa para dar o pontapé inicial na Beatlemania que conquistaria o mundo.

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de março de 2024

The Beatles - With The Beatles - Parte 3

The Beatles - With The Beatles - Parte 3
"Little Child" era uma composição de Paul McCartney, ou como gostava de dizer John Lennon era "Uma filha de Paul". O tema romântico, com temática adolescente, era bem a marca registrada do baixista dos Beatles por essa época. Inicialmente Paul pensou em dar a música para Ringo cantar, mas depois desistiu. A letra começa simples, com o autor em primeira pessoa pedindo para dançar com uma garota. Letra simples, bem derivativa dos temas da época. Poderia ter contado com alguma contribuição de John, mas para falar a verdade ele era cínico demais para temas tão pueris como esse.

"Hold Me Tight" tinha uma pegada bem mais forte. Outra faixa que muitos autores atribuem ao próprio Paul McCartney, muito embora aqui John Lennon também tenha contribuído mais intensamente. Nessa época os Beatles estavam preocupados mesmo em escrever sucessos de rádio, por isso as músicas seguiam uma certa fórmula. Nessa faixa em particular eles repetiram o uso de palmas pontuando o ritmo da canção. O vocal de Paul intercala com John, dividindo o mesmo microfone. Uma música que sempre me agradou, tendo inclusive feito parte também do raro disco "Beatles Again".

"You Really Got a Hold on Me" era um cover. Nesses primeiros álbuns do grupo havia mesmo a necessidade de cantar canções de outros artistas já que os Beatles não tinham tantas músicas prontas para fazer parte do repertório. Paul e John eram até muito produtivos, o que significava que compunham muitas músicas juntos, mas também tinham um senso crítico muito forte o que deixavam muitas delas fora dos discos. Só entrava o que eles consideravam ter qualidade. 

A faixa começa com George solando sua guitarra. O ritmo é cadenciado, com toques mais românticos. Algo até esperado já que a música original dos Miracles vinha da safra de artistas negros da Motown, um verdadeiro celeiro de talentos de Detroit, uma gravadora que os Beatles particularmente gostavam muito. A letra é praticamente uma carta de amor de alguém apaixonado por uma garota que não corresponde a esse sentimento (bem adolescente). "Você realmente me pegou" é uma frase que resume. "Eu não deveria amar você por tudo o que aconteceu, mas quem controla as próprias emoções?" Pois é... complicada a situação.

Pablo Aluísio.