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domingo, 17 de novembro de 2024

Marilyn Monroe

Marilyn Monroe 
Estamos lançando o segundo livro de Cinema Clássico de nossos blogs. O primeiro trazia a filmografia e a vida do ator Marlon Brando. Agora trazemos um livro com 190 páginas com todos os filmes comentados da atriz Marilyn Monroe. Além de textos sobre sua vida, curiosidades, fatos interessantes, etc. Um ótimo presente de Natal nesse fim de ano para aquele seu amigo cinéfilo ou sua namorada que esteja interessada nessa grande Deusa da Sétima arte! Segue abaixo um resumo desse novo livro de Marilyn, inclusive com os links para adquirir a edição nos principais sites de vendas de livros na internet. 

Nesse livro você encontrará uma grande quantidade de informações sobre a atriz Marilyn Monroe. A filmografia completa dessa grande estrela do cinema está comentada filme a filme. Dados pessoais de sua vida pessoal, seus casamentos conturbados, além de crônicas e textos sobre ela. Como adicional ainda encontrará uma seleção dos melhores livros, filmes e discos dessa inesquecível estrela de Hollywood. Para comprar o Livro da Marilyn click nos links abaixo:




Pablo Aluísio. 

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Jerry Lewis - O homem por trás do Palhaço

Título no Brasil: Jerry Lewis - O homem por trás do Palhaço
Título Original: Jerry Lewis, clown rebelle
Ano de Lançamento: 2018
País: França
Estúdio: ARTE Films
Direção: Gregory Monro
Roteiro: Gregory Monro
Elenco: Jerry Lewis, Dean Martin, Martin Scorsese, Marilyn Monroe, Shirley MacLaine (em imagens de arquivos). 

Sinopse:
Documentário realizado na França que traz um perfil geral da carreira do ator e diretor de cinema Jerry Lewis. Cenas antigas e raras foram recuperadas, além de partes de entrevistas que o artista realizou ao longo de sua vida, tanto nos Estados Unidos, como também na Europa. 

Comentários:
Jerry Lewis é cultuado na França como grande diretor de cinema. E também como comediante tem grande prestígio profissional, chegando a ser comparado ao grande Charles Chaplin. Esse documentário francês retrata bem o respeito que os cineastas franceses cultivam em relação a Jerry Lewis. Eu não discordaria dessa visão, eu pessoalmente considero Lewis um dos grandes comediantes da história do cinema. Sua obra não deixa dúvidas sobre isso. E esse documentário também traz uma preciosa entrevista em que Jerry Lewis admite que a pessoa mais importante de sua vida foi Dean Martin! De fato ele nunca se recuperou do fim da parceria. Ele adorava Martin, não apenas como grande amigo, mas também como companheiro de tantos filmes e shows. Uma pena que a dupla tenha sido desfeita. E Jerry admite que se lembrará dele pelo resto de sua vida. Essa entrevista foi realizada após a morte de Dean Martin e a emoção do velho palhaço fica mais do que evidente. Enfim, um documentário muito bom, feito para quem aprecia e ama a história do cinema. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O Segredo das Joias

O Segredo das Joias
Mais um clássico, muito bem dirigido, pelo mestre John Huston. Na história uma quadrilha de criminosos é recrutada para um plano ousado, um roubo de joias em um banco. O cofre é bem guardado, mas o plano do roubo é muito bem arquitetado por um homem que acabou de sair da prisão. Ele é conhecido no meio criminal como "O Doutor". De certo modo é um gênio do crime. Só que para realizar seu plano ele precisa de um financiador. Um advogado ouve sobre o roubo e decide bancar a empreitada criminosa. Só que ele esconde o fato de que na realidade está falido e não tem como comprar as joias depois que elas forem roubadas. 

É um autêntico filme de crime, produzido no começo dos anos 50. Curiosamente dentro do bom elenco quem iria se tornar mesmo uma estrela era a ainda jovem Marilyn Monroe. Ela interpreta a jovem amante do advogado que está envolvido no roubo das joias. Chamada de Angela, a personagem de Marilyn não passa de uma Sugar Baby bem ingênua que em um primeiro momento mente para salvar seu amante mais velho das garras da polícia. E isso poderia inclusive lhe trazer muitos problemas. Marilyn Monroe já estava nesse filme com o visual que a consagraria no cinema, com cabelos platinados. Ainda bem magra e jovem ela estava linda em cena! Só não tinham ainda lhe dado a chance para brilhar, o que iria acontecer em breve na sua carreira. 

O Segredo das Joias (The Asphalt Jungle, Estados Unidos, 1950) Direção: John Huston / Roteiro: Ben Maddow, John Huston, W.R. Burnett / Elenco: Sterling Hayden, Louis Calhern, Jean Hagen, Sam Jaffe, Marilyn Monroe / Sinopse: Quadrilha é formada para realizar um bem planejado roubo de joias. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor direção, melhor roteiro, melhor ator coadjuvante (Sam Jaffe) e melhor direção de fotografia (Harold Rosson). 

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O Mistério de Marilyn Monroe

Título no Brasil: O Mistério de Marilyn Monroe
Título Original: The Mystery of Marilyn Monroe
Ano de Lançamento: 2022
País: Estados Unidos
Estúdio: Netflix
Direção: Emma Cooper
Roteiro: Anthony Summers
Elenco: Anthony Summers, Marilyn Monroe, Robert Kennedy, John Kennedy, Dean Martin, Peter Lawford (em imagens de arquivos). 

Sinopse:
Esse documentário é todo baseado no trabalho do escritor Anthony Summers que escreveu o livro "A Deusa". No processo de elaboração daquele livro ele ouviu dezenas de pessoas que viveram e conheceram Marilyn. Esses tapes gravados servem então como um precioso registro dos últimos dias de vida da famosa atriz e muitos deles são reproduzidos nas cenas desse documentário. 

Comentários:
Outro documentário sobre um grande nome do passado que revi nesses dias. É interessante porque os mesmos defeitos e qualidades do livro "A Deusa" se repetem aqui. Afinal vem da mente da mesma pessoa. A maior qualidade do livro e desse filme é certamente recriar a última noite de vida de Marilyn Monroe em seus menores detalhes e cravar uma suposta interferência em tudo o que aconteceu de Bob Kennedy que inclusive teria estado na casa de Marilyn na noite em que ela morreu. Infelizmente tudo fica apenas na esfera da tese, pois provas mesmo não existem ou foram simplesmente apagadas pelos policiais na época da investigação original. O ruim, o defeito, é que a própria carreira de Marilyn é deixada de lado. Seus filmes, seus grandes momentos no cinema, esqueça. Nada disso encontrará aqui. Muitos acusam inclusive o filme e o livro de apelar para o sensacionalismo. Uma acusação que tem seu fundo de verdade. O que não dá para ignorar no final de tudo é que coisas realmente foram acobertadas sobre os eventos que levaram Marilyn à morte. Assista e tire suas próprias conclusões. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Nasceste Para Mim

Título no Brasil: Nasceste Para Mim
Título Original: You Were Meant for Me
Ano de Produção: 1948
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Lloyd Bacon
Roteiro: Elick Moll, Valentine Davies
Elenco: Jeanne Crain, Dan Dailey, Oscar Levant, Marilyn Monroe

Sinopse:
Chuck Arnold é um músico e líder de banda que acaba se apaixonando por Peggy, uma garota de sua cidade natal que acaba conhecendo durante um baile. Poucas semanas depois acaba se casando com ela. A vida de músico, sempre viajando para outras cidades, passando longas temporadas fora de casa, porém acaba prejudicando seu relacionamento com a esposa e as coisas pioram ainda mais quando sua banda começa a realmente fazer sucesso.

Comentários:
Mais um filme do comecinho da carreira de Marilyn Monroe. Aqui ela não teve tanta sorte como nos demais filmes pois sua participação acabou no chão da sala de edição pois o diretor cortou justamente a cena em que ela tinha maior presença - muito embora tenhamos consciência que suas duas linhas de diálogo eram pouco mais do que uma figuração comum. Mesmo assim ela ainda pode ser visualizada rapidamente numa cena gravada durante uma animada festa, na pista de dança. Ela, acredite, está na pista de dança lotada que foi captada pelo filme. Anos depois a própria Marilyn comentou o começo duro de sua carreira ao falar ironicamente sobre sua ofuscada participação nesse filme: "Que papel foi aquele?!". Papel é forma de dizer pois no fundo ela não passa de uma figurante anônima. É uma pena pois o filme, cujo enredo se passa inteiramente na década de 1920, poderia dar a chance para Marilyn pelo menos surgir na tela muito bonita, com aquele figurino do passado. De uma forma ou outra vale a pena ver o filme para tentar achar Marilyn em seus poucos segundos de fama.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Torrentes de Ódio

Título no Brasil: Torrentes de Ódio
Título Original: Scudda Hoo! Scudda Hay!
Ano de Produção: 1948
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: F. Hugh Herbert
Roteiro: F. Hugh Herbert
Elenco: June Haver, Lon McCallister, Walter Brennan, Marilyn Monroe

Sinopse:
Um peão decide se organizar na vida, pois está apaixonado pela filha de seu patrão. Para mostrar que tem futuro resolve comprar um par de mulas para transporte, algo que lhe dará muita dor de cabeça depois, mas ele está decidido a dar certo para conquistar o amor de sua vida.

Comentários:
Outro filme do comecinho da carreira de Marilyn Monroe em que você terá que prestar muita atenção para encontrar a atriz em cena. Infelizmente a maior parte de sua participação foi parar no chão da sala de edição do estúdio mas ainda podemos ver a loira descendo as escadas de uma igreja no domingo pela manhã, acenando e dizendo sua única linha de diálogo no filme inteiro: "Oi Rad!" Por essa razão não é raro muitos jornalistas cometerem a burrice de dizer que essa foi a primeira aparição de Marilyn Monroe no cinema (como já comentamos em resenhas de filmes anteriores de Marilyn, esse tipo de afirmação simplesmente não procede). O elenco também traz outra curiosidade, a presença da também aspirante à fama Natalie Wood, que interpreta Eufraznee 'Bean' McGill (que nome hein?). Hoje em dia sua presença e a de Marilyn se tornaram os grandes atrativos do filme. No geral o filme não é lá grande coisa (como Marilyn ou sem ela). Se trata mesmo de uma diversão ligeira, um filme de rotina dentro da indústria de cinema dos anos 40. Não há qualquer sinal de que aquela garota quase figurante das escadas da capela um dia iria se tornar um mito da sétima arte. Vale como curiosidade histórica e apenas isso.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 35

Marilyn Monroe na Columbia Pictures
Assim como aconteceu com os Beatles, que foram esnobados pela gravadora Decca, antes de se tornarem famosos, Marilyn Monroe também foi desprezada pela Columbia Pictures, antes de se tornar a estrela de cinema mais popular de sua época. De fato Marilyn Monroe começou sua carreira na Columbia, onde apareceu nos primeiros filmes, ainda como uma garota bonita, uma extra, sem diálogos para falar para as câmeras.

Na verdade a Columbia não soube aproveitar Marilyn. Havia centenas e centenas de moças jovens e bonitas andando pelos estúdios em busca de uma chance e os diretores de elenco da Columbia não entenderam que tinham uma jóia em mãos. Isso porque apesar de Marilyn ser sim uma starlet, como todas as outras, ela tinha um natural talento para comédias e isso nunca foi enxergado pelos executivos da Columbia.

Assim, mais ou menos um ano depois de ter assinado seu primeiro e único contrato com a Columbia ela foi demitida sem maiores explicações. Simplesmente o estúdio lhe avisou que não tinha mais interesse nela. E como há mudanças que levam para novos caminhos, Marilyn saiu da Columbia e assinou com a Fox, onde iria se tornar a mais popular atriz de Hollywood de seu tempo. Imagine a cara dos diretores da Columbia ao perceberem que tinham dispensado uma mina de ouro em bilheterias!

Dos quatro grandes estúdios de Hollywood, a Columbia era a que tinha mais problemas de caixa e orçamento. Em determinado momento o estúdio ficou prestes a falir e assim, numa tentativa de evitar o fechamento, demitiu dezenas de atrizes, entre elas Marilyn. A jovem loira havia percebido que as garotas bonitas eram bem desprezadas na Columbia, pois não tinham direito a camarins próprios e muitas vezes tinham que levar sua própria maquiagem, pois o estúdio não iria fornecer esse tipo de coisa para elas. Anos depois Marilyn Monroe lembraria em entrevistas que as atrizes eram mal tratadas na Columbia. Quando foi demitida ela ficou bem chateada, pois iria voltar para a fila do desemprego, mas depois de poucos dias esse desânimo passou e ela voltou pra luta. Assim Marilyn não lamentou deixar a Columbia. Pelo menos na Fox ela teria melhor tratamento. Além disso a Fox estava no topo dos grandes estúdios. De certa maneira foi a sorte grande dela, embora não soubesse disso na época. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Arquivos: Marilyn Monroe

Marilyn Monroe: Uma última longa conversa com uma garota solitária. Apenas algumas semanas antes de sua morte, Marilyn Monroe conversou longamente com o editor associado da LIFE, Richard Meryman, sobre os efeitos da fama em sua vida. Sua história foi publicada na edição de 3 de agosto. Aqui ele se lembra de como era Marilyn enquanto conversava com ele.

Se Marilyn Monroe ficou feliz em ver você, o "olá" dela soará em sua mente por toda a sua vida - o calor ofegante da ênfase no "lo", seus olhos profundos voltados para você e seu rosto radiantemente enrugado em um sorriso maravilhosamente infantil.

Experimentei isso pela primeira vez quando, depois de duas reuniões de conhecimento em Nova York, fui, no final da tarde, há várias semanas, à casa dela em Brentwood, Califórnia, para iniciar uma série de conversas sobre fama. Esperando uma das famosas esperas por Marilyn, sentei-me no carpete macio da sala e comecei a me esforçar para configurar meu gravador. De repente, percebi um par de calças amarelas brilhantes ao meu lado. De calça comprida estava Marilyn, observando-me em silêncio com um sorriso solícito, muito ereta e esbelta, com ombros delicadamente estreitos. Ela parecia mais baixa do que eu lembrava e estava espetacular em uma blusa larga. Levantei-me e nos cumprimentamos e ela disse: "Você quer meu gravador? Comprei um para tocar poemas de uma amiga minha."

Antes de iniciar o que seria uma conversa de pelo menos seis horas, ela queria me mostrar sua casa, que ela havia pesquisado e comprado pessoalmente. Descrevendo-o anteriormente, ela exclamou: "...e tem paredes." Ela recusou ao LIFE qualquer foto disso, dizendo: "Não quero que todos vejam exatamente onde eu moro, como é meu sofá ou minha lareira. Você conhece o livro Everyman? Bem, eu quero ficar apenas no fantasia de Everyman."

Era uma pequena casa de três quartos construída em estilo mexicano, a primeira casa inteiramente sua que ela já teve. Ela exultou com isso. Numa viagem especial ao México, ela procurou cuidadosamente em barracas de beira de estrada, em lojas e até em fábricas, para encontrar as coisas certas para colocar ali. Os itens grandes não haviam chegado - nem ela jamais os veria instalados. Enquanto ela me conduzia pelos cômodos, vazios e improvisados, como se alguém morasse ali apenas temporariamente, ela descreveu com entusiasmo amoroso cada sofá, mesa e cômoda, onde eles iriam e o que havia de especial neles. As poucas pequenas coisas mexicanas - um candelabro de lata, bancos dobráveis engenhosamente esculpidos em peças únicas de madeira, uma mesa de centro forrada de couro, azulejos nas paredes da cozinha - revelavam seu gosto impetuoso e encantador. Separado da casa, anexo à garagem para dois carros, havia um grande cômodo sendo convertido em apartamento que seria, explicou ela, "um lugar para qualquer amigo meu que esteja com algum tipo de problema, você sabe, e talvez eles vão querer viver aqui, onde não serão incomodados até que tudo esteja bem para eles."
De volta à casa, observei a profusão de flores lá fora. Seu rosto ficou brilhante e ela disse: “Não sei por que, mas sempre fui capaz de fazer qualquer coisa crescer”. Ela continuou: "Quando eu era casada com o Sr. Miller, comemoramos o Hanukkah e senti, bem, também deveríamos ter uma árvore de Natal. Mas não suportava a ideia de sair e cortar uma árvore de Natal."

Na sala de estar, sentados em uma cadeira e sofá indefinidos, continuamos conversando — depois que Marilyn se serviu de uma taça de champanhe. A cada pergunta ela fazia uma pausa pensativa. “Estou tentando encontrar a cabeça do prego, não apenas desferir o golpe”, disse ela. Então respirava fundo e seus pensamentos desabavam, palavras ofegantes caindo sobre palavras ofegantes. Uma vez ela disse: "Basicamente, uma maneira de lidar com a fama é com honestidade e estou falando sério, e a outra maneira de lidar com isso quando algo acontece - como coisas aconteceram recentemente, e outras coisas aconteceram comigo, de repente, meu Deus , as coisas que eles tentam fazer com você são difíceis de aceitar - eu lido com silêncio."

Suas inflexões vieram como reviravoltas surpreendentes e cada emoção estava em plena bravura, representada com gestos exuberantes. Em seu rosto brilhavam raiva, melancolia, bravata, ternura, tristeza, alto humor e profunda tristeza. E cada ideia geralmente terminava com uma mudança surpreendente de pensamento, com a risada dela se transformando em um guincho delicioso. “Acho que sempre tive um pouco de humor”, disse Marilyn. "Acho que às vezes as pessoas simplesmente questionam: 'ela sabe o que está dizendo', e às vezes você de repente pensa em outra coisa e não quis dizer exatamente. Estou apontando para mim. Eu não digerir as coisas com a mente. Se eu fizesse, a coisa toda não funcionaria. Então eu seria apenas uma espécie de intelectual e não estou interessado nisso. "

Nesse ponto comecei a perceber que Marilyn não fazia nada pela metade. Sobre seus milhões de fãs, ela disse: "O mínimo que posso é dar a eles o melhor que podem obter de mim. Qual é a vantagem de inspirar na próxima respiração se tudo o que você faz é soltar o ar e inspirar outra?" Pude também ver como era importante para ela sentir que a pessoa com quem conversava "entendeu".

Compreender aparentemente significava ser muito solidário, ficar do lado dela em tudo, reconhecer as nuances de seus significados e valorizar tudo o que ela valorizava, principalmente as pequenas coisas. Quando demonstrei entusiasmo genuíno pela casa dela, ela disse: "Bom, tenho certeza de que vou me dar bem com qualquer pessoa que goste da minha casa."
Mas eu tinha a sensação constante e desconfortável de que meu status com ela era precário, que se eu me tornasse um pouco descuidado, ela poderia de repente decidir que eu, como muitos outros que ela achava que a haviam decepcionado, não entendia. Uma vez eu perguntei a ela como ela "se preparou" para fazer uma cena. Fui instantaneamente confrontado por uma indignação real: "Eu não aciono nada. Não sou um Modelo T. Acho que é meio desrespeitoso referir-me a isso dessa forma."

Mas eu não conseguia ficar impaciente com a impaciência dela. Foi tudo tão compreensível quando ela falou sobre as pessoas que escreveram colunas e histórias sobre ela: "Eles andam por aí e perguntam principalmente aos seus inimigos. Os amigos sempre dizem: 'Vamos verificar se está tudo bem com ela'". ela acrescentou melancolicamente: "Sabe, a maioria das pessoas realmente não me conhece." Havia tristeza em seus olhos quando ela descreveu como uma vez encontrou seu enteado Bobby Miller escondendo uma revista contendo um artigo sinistro sobre ela, e como Joe DiMaggio Jr.

"Você sabe, ha, ha, sua madrasta é Marilyn Monroe, ha, ha, ha. Todo esse tipo de coisa." E havia saudade na sua voz enquanto ela voltava repetidamente às “crianças, aos idosos e aos trabalhadores” como uma fonte de calor na sua vida, como as pessoas inofensivas que a tratavam naturalmente, que ela podia conhecer espontaneamente. Senti uma onda de proteção por ela; um desejo - talvez do tipo que foi a raiz da ternura do público por Marilyn - de mantê-la longe de qualquer coisa feia e dolorosa.

Antes de eu sair naquela noite, ela pediu que lhe enviassem uma transcrição da entrevista. “Muitas vezes acordo durante a noite”, explicou ela, “e gosto de ter algo em que pensar”.

Quando cheguei na tarde seguinte para uma segunda sessão, ela imediatamente pediu para adiar a nossa conversa. Ela estava cansada, disse ela, das negociações com a 20th Century Fox sobre a retomada de Something's Got To Give. Mas ela hospitaleiramente me ofereceu uma bebida e conversamos. Ela estava obviamente chateada. Mas não havia nenhum indício de desespero taciturno. Ela ficou eletrizada de indignação e começou a falar com raiva sobre como os estúdios tratam suas estrelas. Então ela fez uma pausa, disse que precisava de algo para ajudar a superar o cansaço e pegou uma taça de champanhe. Perguntei se ela já desejou ser mais durona. Ela respondeu: "Sim - mas não acho que seria muito feminino ser durona. Acho que vou me contentar com o que sou."
Fomos interrompidos quando o médico dela chegou. Marilyn foi até a cozinha, voltou com uma pequena ampola e, segurando-a para mim, disse: "Não brinca, eles estão me obrigando a tomar injeções no fígado. Aqui, vou provar isso para você." A essa altura ela estava disposta a continuar conversando, e já era quase meia-noite quando Marilyn deu um pulo e anunciou que iria colocar um bife na grelha. Ela voltou para dizer que não havia bife nem comida alguma. Antes de eu partir, uma das últimas coisas que ela disse foi: "Com a fama, você sabe, você pode ler sobre si mesmo, as idéias de outra pessoa sobre você, mas o que é importante é como você se sente sobre si mesmo - para sobreviver e viver o dia a dia com o que surge."

No fim de semana, Marilyn estava programada para posar para fotos, então sugeri que tomássemos o café da manhã antes do compromisso do meio-dia. Ela concordou e cheguei no sábado às 10. Toquei a campainha várias vezes. Nenhuma resposta. Mas pela janela pude ver um homem sentado em sua pequena varanda envidraçada, lendo uma revista com a paciência entediada de alguém que estava ali há muito tempo. Esperei e liguei por cerca de 10 minutos, depois afastei-me por uma hora. Às 11 horas meu telefone foi atendido pela governanta de Marilyn, a Sra. Murray, que me levou para esperar em um quarto de hóspedes perto de um pequeno corredor do quarto de Marilyn. Ao meio-dia, a Sra. Murray levou uma bandeja com o café da manhã para ela. Pouco depois, Marilyn apareceu e disse olá.

Tornei-me então uma testemunha do lendário processo de Marilyn se preparando para um compromisso - e chegando quatro horas atrasada. O cavalheiro paciente era seu cabeleireiro, Sr. Kenneth. Enquanto ele cuidava dela e ela ficava sentada embaixo da secadora, pude ouvir risadas estrondosas. Depois, com seus rolinhos, ela fazia pequenas tarefas descalças pela casa e entrava e saía do quarto, fazia telefonemas, me visitava para perguntar se eu estava confortável, toda ocupada, agitada, sem fazer nada. Não houve nada daquele medo e desânimo diante dos espelhos de que tanto tinha ouvido falar. Ela estava totalmente alegre e totalmente desorganizada. Não pude deixar de sentir que o que algumas pessoas atribuíam ao medo do palco poderia ser, em parte, sua dívida interminável com o tempo. A mecânica necessária da vida diária estava além do seu alcance; ela sempre começava atrás e nunca a alcançava.

Finalmente ela estava quase pronta e entrou cambaleante na sala onde eu estava sentado. Ela usava salto alto, calça laranja, sutiã e segurava descuidadamente uma blusa laranja sobre o peito. "Eu pareço uma abóbora com essa roupa?" ela perguntou. Ela parecia maravilhosa. "Você colocará a indústria da moda à frente em 10 anos." Eu disse. Ela ficou muito satisfeita e respondeu: "Você acha? Ótimo!"

Dois dias depois, liguei para Marilyn para outro encontro para conversar sobre a versão final de sua história. Ela disse: “Venha a qualquer hora, tipo, você sabe, para o café da manhã”. Havia em sua voz um tom que eu já havia reconhecido: uma vontade atraente de agradar. Voltei às 10 e mais uma vez ela dormiu até meio-dia. Finalmente nos sentamos juntos em um sofá minúsculo. Ela estava descalça, vestindo um roupão e ainda não havia lavado o rímel da noite anterior. Seu cabelo delicado estava em um redemoinho de sono. Mas ela me fez sentir que isso era um elogio. "Amigos", ela disse, "aceitam você do jeito que você é." Como sempre, seu rosto estava muito pálido. Ela segurou o manuscrito bem diante dos olhos e leu-o cuidadosamente em voz alta, ouvindo cada frase para ter certeza de que soava exatamente como ela.

Ela guardou o manuscrito e voltei para buscá-lo no final da tarde. Na escadaria da casa ela me mostrou as alterações que havia feito a lápis, todas pequenas. Ela me pediu para fazer um comentário sobre dar dinheiro discretamente a pessoas necessitadas. E então nos despedimos. Enquanto eu me afastava, ela de repente me chamou: "Ei, obrigada." Virei-me para olhar para trás e lá estava ela, muito imóvel e estranhamente desamparada. Pensei então na reação dela antes, quando perguntei se muitos amigos haviam telefonado para se reunir quando ela foi demitida pela Fox. Houve silêncio e, sentada muito ereta, com os olhos arregalados e magoados, ela respondeu com um minúsculo “Não”.

Fonte: Life

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 34

Marilyn Monroe e Joe Di Maggio
Alguns romances parecem que foram escritos nas estrelas. Infelizmente na maioria das vezes apenas parecem mas não se concretizam. Esse parece ter sido o caso de Marilyn Monroe e Joe Di Maggio. Ela, uma das atrizes mais populares da história do cinema. Ele, um mito do beisebol, considerado o "último grande herói" do mais americano dos esportes. Um ícone da nação. Se eram parecidos no quesito fama não poderiam ser mais diferentes em suas personalidades. Di Maggio era um ítalo-americano típico. Turrão, era reservado e tratava a imprensa a patadas. Ciumento e possessivo achava que o lugar da mulher era realmente na cozinha preparando um belo prato de macarronada para o maridão. Monroe era o oposto de tudo isso. Expansiva e louca por publicidade Marilyn sabia que para manter sua popularidade tinha que manter bons contatos com a imprensa. Tinha amigos jornalistas e vira e mexe os presenteava com furos - muitas vezes de sua própria vida pessoal. Como artista adorava os holofotes, sejam quais fossem. Era literalmente uma estrela e como sabemos é da natureza das estrelas sempre brilharem o máximo possível.

Os dois se conheceram meio ao acaso. Di Maggio viu uma foto de Marilyn em uma revista e ficou impressionado pela beleza da atriz. Usou de seus contatos no meio cinematográfico para conhecê-la a qualquer custo. Informada ela não deu muita bola, afinal não acompanhava beisebol e pouco sabia sobre Di Maggio. Após alguns desencontros resolveram se encontrar. Foi um jantar formal, com Joe sempre receoso em tudo ir por água abaixo. Curiosamente apesar da diferença de personalidades acabaram se entrosando. Marilyn há muito almejava encontrar seu par ideal para quem sabe formar uma família de verdade (algo que realmente nunca teve em vida). Finalmente depois de vários encontros finalmente foram para a "terceira base" (uma gíria bem em voga nos EUA). Se deram muito bem sob os lençóis. Tão bem que esse acabou sendo realmente o elo que sempre os mantinham juntos.

Em um impulso típico da atriz acabaram se casando. Di Maggio finalmente tinha seu grande prêmio, a mulher de seus sonhos. Ele tinha sua própria ideia do que seria um casamento ideal e para falar a verdade Marilyn bem se esforçou para corresponder a esses anseios do marido. Se tornou praticamente uma dona de casa. Fazia a comida de Joe enquanto esse ficava na sala assistindo seus faroestes preferidos na TV. Até suportou o bando de amigos beberrões do marido que sempre os visitavam para beber, jogar cartas e contar piadas machistas. Imaginem a cena: um monte de italianos ao redor de uma mesa de bridge sendo servidos com salgadinhos e cerveja por um dos maiores símbolos sexuais do mundo. Olhando bem de perto realmente não havia como dar certo uma coisa dessas. Marilyn já tinha tido uma experiência assim com seu primeiro marido. O fato puro e simples era que ela na realidade queria voltar aos sets de filmagem o mais rápido possível.

Assim após alguns meses Marilyn finalmente retornou aos braços de seu público. Lá estava ela em plena Nova Iorque filmando as famosas cenas do vestido levantado em "O Pecado Mora ao Lado". Di Maggio que já havia tido vários atritos com ela por causa dos roteiros dos filmes que fazia ficou discretamente posicionado atrás das câmeras, meio na surdina. Marilyn obviamente nem tomou conhecimento da presença do marido no local. Di Maggio franziu a testa. O que viu lhe deixou profundamente irritado. Marilyn com as saias esvoaçantes, deixando muito pouco para a imaginação dos homens no local. Rindo e se divertindo ela acabou adorando as cenas. A volta para casa foi tumultuada. Joe pediu explicações - Marilyn retrucou. Depois de muita gritaria finalmente aconteceu o que selou o fim do casamento. Joe Di Maggio, o herói americano, agrediu Marilyn. Ela já tinha suportado muita coisa de Joe mas isso não. Era o fim. Em pouco tempo Monroe pediu o divórcio e se foi. Di Maggio ficou arrasado. Ele ainda tentou várias e várias vezes reatar seu relacionamento mas Marilyn, que quase virou um dia uma típica dona de casa italiana, caiu fora para sempre. Era o fim do casamento dos sonhos da grande nação ianque.

O casamento da estrela e do herói do esporte acabou definitivamente, mas não a paixão de Di Maggio. Ao longo dos anos ele virou literalmente um chiclete no saldo alto da atriz. Sempre pronto a tentar uma reconciliação. Engoliu seu tradicional orgulho italiano e se prestou a passar por verdadeiras humilhações públicas. Marilyn nunca voltou atrás e parece não ter se arrependido disso. Mas como diz o velho ditado o mundo dá voltas. Após diversos fracassos amorosos Marilyn encontrou seu destino no quarto de sua casa em Hollywood. Na cama sozinha ela ainda tentou fazer uma última chamada mas o efeito das pílulas que tomou foram fortes demais. Ela apagou. Em suas últimas semanas Marilyn Monroe estava arrasada. Tinha sido despedida da Fox após inúmeros atrasos e faltas no set de seu último filme. Tentara e fracassara em seu romance duplo com os irmãos Kennedy. Abandonada e ferida Marilyn se afogou em tristeza e depressão. Para alguns uma morte acidental, para outros suicídio e como todo conto de fadas Made in USA esse também teve sua pitada de teorias da conspiração. Teria Marilyn sido assassinada pelo FBI ou pela CIA? Hoje, passado tantos anos isso realmente não importa mais.

No apagar das luzes do mito eterno foi Di Maggio quem acabou sendo o responsável por seu funeral. Afastou da cerimônia as pessoas que ele acreditava terem sido danosas a Marilyn (como Frank Sinatra, por exemplo). Providenciou uma despedida simples e respeitosa, com os poucos verdadeiros amigos da atriz. No final se mostrou inconsolável de uma dor que jamais iria se cicatrizar. Ao longo dos anos Di Maggio recusou milhões de dólares para escrever sua auto biografia. Certa vez confidenciou a um amigo próximo que jamais o faria, porque sabia que a imprensa queria mesmo era saber sobre a vida de Marilyn Monroe e ele certamente não a trairia nesse ponto. Enquanto viveu ele mandou depositar diariamente um ramalhete de flores na lápide da amada. Era uma forma de provar que jamais a esqueceria. No final seu amor por Marilyn mostrou-se realmente eterno e incondicional pois cumpriu sua promessa de nada declarar sobre sua amada. Morreu em 1999 sem falar uma linha sequer sobre seus anos ao lado da atriz mais famosa da história do cinema. O amor realmente desconhece as razões de sua própria existência.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 33

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 33
Só para se ter uma ideia do tipo de participação de Marilyn Monroe em seus primeiros filmes basta conferir seu papel (se é que poderíamos dizer isso) no filme "Torrentes de Ódio". Essa é uma produção de 1948. É uma aparição ao estilo "piscou, perdeu". Marilyn é a jovenzinha que passa atrás da atriz principal do filme, descendo as escadas de uma igreja. Ela apenas dá uma olá para a protagonista e nada mais. Sua "atuação" é tão sem importância que muitas biografias simplesmente ignoraram o filme como sendo um da filmografia da atriz, que fez questão de deixar claro: "Olha rapazes, eu estive nesse filme, basta prestar atenção!".

Porém o talento de Marilyn Monroe e seu carisma falaram mais alto com o passar dos anos. Aos poucos ela foi chamando atenção em um filme aqui, outro acolá. E as cartas de fãs e admiradores começaram a chegar nos estúdios Fox. E como a própria Marilyn Monroe diria alguns anos depois em uma entrevista, "Receber a primeira carta de um admirador, no começo da carreira, é como se embriagar! É uma alegria que até hoje sinto quando relembro".

Naquela época em Hollywood isso era extremamente importante para qualquer ator ou atriz, pois os executivos dos estúdios costumavam medir a popularidade de seus contratados pelo número de cartas que recebiam. E em pouco tempo o camarim de Marilyn ficou repleta de cartas, vindas de todos os lugares dos Estados Unidos e também do exterior. E ela fazia questão de ler todas, de ficar emocionada com cada frase escrita por seus fãs por todos os lugares. Era um sentimento de auto afirmação para quem sempre teve problemas de autoestima.

Além disso o nome de Marilyn começou a aparecer cada vez mais nas revistas de fofocas, fazendo com que ela fosse ainda mais conhecida a cada dia. Marilyn sabia manipular a imprensa ao seu favor. Quando fotos suas de nudez surgiram na imprensa, Marilyn soube facilmente virar o jogo para seu lado. Ela explicou, de forma chorosa, que havia tirado aquelas fotos porque estava sem dinheiro para pagar o aluguel. Claro que imediatamente ganhou o jogo da opinião pública. Ela novamente contou sua história de garotinha órfã abandonada, que havia passado por muitos problemas financeiros ao longo de sua vida, sempre na pobreza, sempre dura, tentando sobreviver. As pessoas que inicialmente a acusavam de ser vadia logo mudaram de opinião. Com compaixão de Marilyn elas logo passaram para seu time de admiradores. E para virar o jogo Marilyn não precisou mentir, ela apenas contou a verdade sobre sua vida. Bastou abrir seu coração e contar tudo, de forma bem honesta. Claro que o público não apenas aprovou seu modo de agir como começou a ir aos cinemas em busca de novos filmes com a jovem atriz. O sucesso estava encaminhado em sua carreira. 

Pablo Aluísio.

O Príncipe Encantado

Nobre regente (Laurence Olivier) conhece jovem corista (Marilyn Monroe) em um show de variedades e a convida para jantar em sua residência oficial em Londres. O encontro acaba trazendo inúmeras consequências para ambos durante os dias seguintes. Essa sinopse não esconde a verdadeira vocação de "O Príncipe Encantado". É um texto teatral e o filme não nega sua origem. Grande parte das cenas se passa em ambiente fechado e em cena duelam (no bom sentindo) o formalismo profissional de Laurence Olivier e o adorável amadorismo de Marilyn Monroe. Os acontecimentos de bastidores, das filmagens, há anos povoam o imaginário dos cinéfilos. Marilyn, como era de se esperar, causou todo tipo de problemas para Olivier, tantos que essa conturbada filmagem acabou virando um filme próprio que recebeu várias indicações ao Oscar, "My Week With Marilyn".

As histórias do set são saborosas mas e o filme? Sim, é uma boa comédia, muito bem produzida com lindos figurinos, cenários, muita pompa e luxo. Marilyn Monroe está encantadora. Apesar dos problemas de saúde ela surge em cena linda e aparentando muita saúde (o que me deixou surpreso). No saldo final considerei sua atuação muito superior á de Laurence Olivier, esse está particularmente travado na interpretação do nobre regente dos balcãs. Já Monroe não, está natural, espontânea. Não causa admiração a declaração que Laurence Olivier fez muitos anos depois da realização do filme reconhecendo que Marilyn estava ótima em "O Príncipe Encantado". Concordo plenamente. Aliás se tem algo que prejudica o filme é justamente a mão pesada do diretor Olivier. Ele demonstra claramente não ter o timing perfeito para Marilyn. O filme se alonga além do que seria razoável e tem barrigas (quebras de ritmo que o levam a certos momentos de monotonia). Pra falar a verdade quem salvou a produção foi realmente Marilyn que em muitos momentos simplesmente carrega o filme nas costas. Quem diria que a amadora Monroe daria uma rasteira no grande Laurence Olivier? Pois deu, e foi em "O Príncipe Encantado". O filme é dela no final das contas. Assista e confira!

O Príncipe Encantado (The Prince and The Showgirl, EUA - Inglaterra, 1957) / Direção de Laurence Olivier / Roteiro de Terence Rattigan / Fotografia de Jack Cardiff / Trilha sonora de Richard Addinsell / Com Laurence Olivier, Marilyn Monroe, Sybil Thorndike, Jeremy Spencer, Richard Wattis / Sinopse: Nobre regente (Laurence Olivier) conhece jovem corista (Marilyn Monroe) em um show de variedades e a convida para jantar em sua residência oficial em Londres. O encontro acaba trazendo inúmeras consequências para ambos durante os dias seguintes.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 30 de março de 2023

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 32

E então Marilyn entrou na fase de maior sucesso de sua carreira. Ela colecionou uma série incrível de grandes sucessos de bilheteria. Praticamente todos os seus filmes entraram na lista dos dez maiores sucessos do ano, muitas vezes conseguindo emplacar dois ou mais filmes nessa mesma lista top 10. Era um sucesso de público realmente espetacular. "O Pecado Mora ao Lado" foi bem simbólico desse período. O filme foi bastante elogiado pela crítica e alguns chegaram a cogitar até mesmo sua primeira indicação ao Oscar pela inspirada interpretação nessa comédia romântica saborosa. 

Marilyn interpretava uma loira de fechar quarteirão que se mudava por alguns dias para o apartamento vizinho ao de um quarentão, cuja esposa tinha ido passar algumas semanas na casa de sua mãe. Claro que um monumento de mulher como aquele iria mexer com esse sujeito bem comum, que ficava caidinho por ela. Situação mais do que delicada. Marilyn aqui caprichou no tipo de papel que sabia fazer muito bem, a da loira de olhos azuis, extremamente bonita, mas obviamente não muito inteligente, chegando ao ponto de ser meio bobinha, embora sua sensualidade estivesse a mil graus! Beleza e ingenuidade, uma combinação explosiva para muitos homens!

O filme se notabilizou também por causa da imagem icônica de uma linda Marilyn Monroe de vestido branco, vendo surpresa suas saias sendo levantadas pelo ar do metrô de Nova Iorque logo abaixo. Para os anos 50 esse tipo de cena sensual era pura dinamite e causou grande furor entre os conservadores (tem gente mais chata no universo do que eles?). Nem preciso dizer que as filas nas portas do cinema só aumentaram depois que o poster do filme foi exibido orgulhosamente pela Fox na Times Square. As fotos da cena também encheram as revistas populares. Era um big hit cinematográfico sem precedentes. 

Depois de todo esse sucesso, Marilyn resolveu exigir do estúdio um maior cachê e um maior cuidado com seus filmes. Queria apenas os melhores diretores e o melhor que a Fox poderia disponibilizar em termos de cinema na época. Ela também exigiu a assinatura de um novo contrato que lhe desse controle total da produção de seus filmes, com direito de escolher pessoalmente os diretores e de vetar qualquer nome do elenco que lhe desagradasse. Como se pode ver, de loira burra ela não tinha absolutamente nada, sabia exigir seus direitos de estrela de cinema. E quando todos pensavam que ela iria ficar em Los Angeles brigando com os executivos da Fox, ela surpreendeu a imprensa e seus fãs ao subir em uma avião para ir morar em Nova Iorque. Queria estudar no Actors Studio, queria melhorar como atriz. Quem poderia criticar a deusa por fazer essa escolha?

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 31

O casamento de Marilyn com o marido Joe DiMaggio durou muito pouco tempo. Ele queria uma mulher tradicional que fosse uma dona de casa que cuidasse dele. Que fizesse seu prato de jantar enquanto ele assistia a filmes de Faroeste na TV. Ou seja, ele queria uma típica matrona italiana, coisa que Marilyn jamais foi na vida e que ela não tinha a menor intenção de ser algum dia. Pior do que isso, ele queria que Marilyn abandonasse sua carreira no cinema. Era o maior absurdo que ela poderia ouvir. Logo ela que havia lutado tanto para ser atriz. Marilyn também não gostava dos amigos de Joe DiMaggio. Uns caras que pareciam ter saído de algum fichário da máfia italiana. Eles iam para a casa dela e pediam cervejas enquanto jogavam cartas. Faziam dela uma garçonete! 

Não demorou muito e Marilyn se aborreceu de tudo e de todos. Ela estava prestes a atuar no filme "No Mundo da Fantasia", que iria exigir muito dela em termos artísticos. Tinha que decorar suas falas, atuar dramaticamente e ainda dançar e cantar no filme que tentava reviver o estilo dos antigos clássicos musicais do cinema americano. Então se tornou uma situação intolerável para a atriz ter que trabalhar o dia todo e voltar para casa e encontrar aquele bando de italianos que queriam tratá-la como uma garota qualquer. Numa noite ela se aborreceu totalmente com a situação e colocou todos para fora da casa dela. Colocou todos para correr!

O casamento de Marilyn Monroe com Joe também afundou por causa da agressão física que ela sofreu após o marido testemunhar sua cena clássica, sendo filmada nas ruas em Nova Iorque para o filme "O Pecado Mora ao Lado". A sequência das saias voando pelo ar do metrô, com sua calcinha sendo vista por todos foi intolerável para Joe. Quando eles voltaram para seu apartamento, ele a agrediu fisicamente. Aquilo foi o fim de tudo. Marilyn deu um basta! Entrou em contato com seu advogado e enviou as papéis de divórcio pelo correio. Joe nunca mais!

O curioso é que Joe jamais deixarei de pegar no pé dela, sempre à espreita, esperando uma nova chance. Quando ela faleceu foi ele que providenciou tudo. Quem cuidou de seu funeral. E durante 30 anos, manteve as flores no túmulo de Marilyn Monroe, até sua própria morte. Ele jamais a esqueceu. Quando procurado por repórteres e jornalistas para escrever um livro, ele recusava dizendo que sabia o que eles queriam. Eles queriam saber detalhes privados da vida de Marilyn Monroe, algo que ele jamais faria. E realmente cumpriu o que prometeu, nunca escreveu um livro, nem deu entrevistas sobre a famosa ex-esposa.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

A Malvada

Título no Brasil: A Malvada
Título Original: All About Eve
Ano de Lançamento: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Roteiro: Joseph L. Mankiewicz
Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, Marilyn Monroe, George Sanders, Celeste Holm, Hugh Marlowe

Sinopse:
Margo (Bette Davis), uma veterana atriz de teatro, com a chegada da idade, começa a se sentir prejudicada. Além disso, ela precisa enfrentar a acirrada concorrência de atrizes mais jovens, entre elas um ambiciosa mulher que trabalha como sua assistente pessoal. Filme vencedor de 6 Oscars entre eles o de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro.

Comentários:
Esse filme é considerado o melhor da carreira de Bette Davis por muitos críticos de cinema. Ela fez tantos filmes maravilhosos que, em minha opinião, é complicado afirmar qual seria realmente o seu melhor filme. Mas de qualquer modo, esse é seguramente um dos mais consagradores de sua atuação. Essa foi uma atriz realmente diferenciada, que enchia os olhos do público com seu talento espetacular. O roteiro do filme trata de questões extremamente relevantes, como o ressentimento, a ambição, a ganância e até mesmo a inveja que impera nos meios artisticos. A personagem Eve surge extremamente complexa no roteiro. Ela age como cortadinha, uma mulher boazinha, mas que no fundo esconde a alma de uma mulher ambiciosa que apenas quer subir na vida de qualquer jeito. Ótima interpretação da atriz Anne Baxter. 

Em termos de elenco, outro destaque vem com a presença de uma jovem Marilyn Monroe, interpretando uma bela loira platinada que serve de troféu para um figurão do meio teatral durante uma festa. Ela tem apenas duas cenas no filme, mas chama bastante atenção por causa de seu figurino elegante e de sua exuberante beleza. Eu considero esse um roteiro tecnicamente perfeito, sem nuances negativas. Entretanto, é bom chamar a atenção para um certo moralismo que não tem mais sentido nos dias de hoje. Em determinado momento, a personagem Eve é condenada por relacionamentos de seu passado, por ter se relacionado com um homem casado. Isso não seria um crime. De qualquer forma o filme é excelente, acima de qualquer crítica mais mordaz. Merece nota máxima em termos de sétima arte!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 30

Em 1954, uma equipe de Hollywood entrou em um avião e foram todos juntos para Alberta, no Canadá. Eles tinham o objetivo de filmar um faroeste nas belas reservas naturais daquela região. O elenco era estrelado pela atriz Marilyn Monroe e por Robert Mitchum. Ele era considerado um galã fora de rota. Um anti-herói, na verdade. Não fazia pose e assumia suas opiniões, inclusive em relação ao uso da maconha. Mitchum assumia publicamente que era maconheiro, e dizia que não havia nada de errado em fumar um pouco de erva de vez em quando. Isso lhe valeu problemas com a lei. Ele foi processado e passou até mesmo algumas semanas numa cadeia na Califórnia. Só que nada disso o dobrou. Ele continuou do mesmo jeito. E por incrível que pareça, isso não destruiu sua popularidade, muito pelo contrário, ele ficou mais popular ainda. 

Para Marilyn Monroe, aquele seria um raro filme de faroeste em sua carreira. A produção se chamou "O Rio das Almas perdidas". Havia sequências em um rio de fortes correntezas. E Marilyn passou sufoco ao filmar essa cena. Sua balsa afundou no meio do rio selvagem. Ela estava com botas de cowgirl, e essas botas logo ficaram cheias de água. Assim, ela acabou sendo puxada para baixo e só não morreu afogada porque a equipe de dublês a ajudou de forma imediata. Para Marilyn, foi um susto e tanto, mas valeu a experiência. 

Joe DiMaggio ficava ao redor acompanhando as filmagens enquanto pescava com um amigo. Ele era morto de ciúme de Marilyn, estava sempre preocupado com Robert, que estava obviamente seduzindo a sua esposa. O ator estava mesmo querendo levar Marilyn para a cama, e isso causava uma certa tensão sexual no set de filmagens. Para a equipe de Hollywood, tudo soava como um divertimento a mais. Uma coisa engraçada. Robert às vezes fugia do controle, dizia abertamente a Marilyn para todos ouvirem: "Ei, boneca, vamos ali no meio do mato, vamos resolver uns probleminhas". DiMaggio ficava furioso com isso. E todos riam. 

Obviamente que Robert e Joe DiMaggio não se deram bem. O ator até dava bom dia ao marido de Marilyn, mas esse geralmente respondia com grunhidos. Anos depois, Robert Mitchum diria que conhecia bem aquele tipo de italiano machista e ciumento. Ele acertou em cheio ao prever que Marilyn iria acabar sendo vítima de violência doméstica em suas mãos. Não deu outra, o casamento iria acabar justamente porque Joe iria bater em Marilyn após as filmagens ousadas do filme "O Pecado Mora ao Lado". Justamente a famosa e inesquecível cena da saia branca levantada com o vento do metrô abaixo de Nova Iorque. "O Rio das Almas perdidas" acabou se tornando um sucesso. Robert Mitchum continuou com suas frases polêmicas. E Marilyn Monroe, como todos sabemos, se tornou uma deusa da história do cinema americano.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 29

Aos 29 anos de idade Marilyn Monroe já havia feito em torno de 13 abortos! Foi exatamente isso que ela confidenciou para seu psiquiatra em meados dos anos 1950. Era um número absurdo, mesmo para uma mulher da época, com uma vida sexual ativa. Esse tipo de procedimento feito sem responsabilidade iria custar caro para Marilyn no futuro, uma vez que quando ela finalmente se casou e quis ter filhos, não conseguiu. E ela não teve filhos, segundo alguns médicos, justamente por ter feito inúmeros abortos. Nem é necessário dizer que ela ficou arrasada com tudo o que aconteceu.

O fator psicológico aliás pesou muito mais para Marilyn do que apenas o físico. Desde que se popularizou na Califórnia, a análise passou a ser feita por inúmeros astros e estrelas de Hollywood. Segundo Marlon Brando escreveu em seu livro, a grande maioria dos atores e atrizes da época eram completamente neuróticos. Marilyn Monroe foi uma que logo recorreu ao tratamento psicológico. Algo que o diretor Billy Wilder dizia ser um erro, pois em sua opinião o grande carisma de Marilyn nas telas vinha justamente desse seu lado meio biruta! "Essas atrizes entram em um consultório para fazer análise e saem de lá como uma coisa arrumada demais, plástica, sem graça nenhuma! O charme de Marilyn era ter dois pés esquerdos!" - ironizou o cineasta.

Um apoio que Marilyn recebeu por essa época foi do professor de atuação Lee Strasberg, Percebendo que Marilyn andava muito vulnerável do ponto de vista psicológico, ele abriu as portas de sua própria casa para a atriz. Marilyn passou a frequentar a vida pessoal e familiar de Strasberg, algo sem precedentes na vida do mestre. Anos depois, ele deu uma entrevista dizendo que embaixo de todo o mito, da imagem de mulher famosa e maravilhosa que o cinema vendia ao público, havia uma pessoa muito carente de atenção e carinho. Marilyn estava cansada de ser usada como objeto sexual pelos homens com quem se envolvia. Ela queria ser amada e respeitada como uma mulher, não ser apenas explorada por todos.

Assim, como já havia acontecido várias vezes antes em sua vida, Marilyn transformou a família de Lee Strasberg em sua própria família. Como eles eram judeus, Marilyn chegou até mesmo a pensar em se converter para o judaísmo. Tudo feito de impulso, como era peculiar em sua personalidade. Ela ficou fascinada pelos rituais do povo judeu e após ir a uma celebração ao lado de Lee Strasberg na sinagoga de Los Angeles, passou a dizer para todo mundo que iria se tornar judia! Quem ouviu Marilyn e a conhecia de longa data nem deu muitos ouvidos. No passado ela já havia dito que iria se tornar católica, protestante e até budista! Depois do impulso inicial, ela sempre ficava pelo meio do caminho, não indo adiante em nada no que dizia respeito a religiões. Como dizia Billy Wilder, ela tinha mesmo dois pés esquerdos!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 28

Recentemente a atriz Jennifer Lawrence reclamou publicamente da diferença salarial entre as atrizes e atores em Hollywood. Alguém deveria informar a ela que essa é uma luta muito antiga na indústria cinematográfica americana. Desde a velha Hollywood essa é uma realidade injusta que se recusa a mudar, mesmo com o passar dos anos. Uma das primeiras atrizes a levantar essa bandeira da igualdade salarial foi Bette Davis, ainda na década de 1930. Naqueles tempos distantes ela se indignou ao descobrir que a maioria dos atores masculinos que trabalhavam em seus filmes ganhavam muito mais do que ela, que em última análise estrelava seus dramas no cinema. Ao perguntar a um produtor da Warner Bros porque seu ator coadjuvante ganhava mais do que ela, acabou ouvindo uma resposta que a deixou chocada. O produtor lhe disse: "Ele ganha mais do que você porque você é uma mulher!!!".

Bette Davis então começou uma ampla campanha em prol da igualdade salarial, mas as demais atrizes da época, receosas em abraçar sua causa, a deixaram praticamente sozinha nessa luta. Muitas apenas queriam ter uma chance e não seria bom comprar uma briga com os estúdios em pleno auge do Star System, onde os estúdios fabricavam astros e estrelas em ritmo de produção industrial. Caso alguma delas lhe trouxessem problemas eram simplesmente substituídas por outras, geralmente mais jovens e mais belas. Mesmo sabendo disso Bette, no alto de uma grande coragem pessoal, resolveu comprar a briga. Claro que em pouco tempo ela começou a sofrer represálias, filmes estrelados por ela foram cancelados e os grandes estúdios de Hollywood não queriam nem ouvir falar de seu nome. Tudo chegou a um ponto tão crítico que Bette aceitou papéis secundários e chegou inclusive ao cúmulo de colocar um anúncio no setor de empregos nos classificados de Hollywood em busca de emprego.

Depois de Bette Davis a luta por melhores salários em Hollywood esfriou. A atriz Vivien Leigh foi uma das que se sentiu injustiçada. Seu trabalho no clássico "E O Vento Levou" é até hoje elogiado, uma atuação magistral. Ela também foi o grande destaque do filme, uma opinião que parece unânime entre público e crítica. Mesmo assim ela ganhou quase quatro vezes menos do que seu partner, o astro Clark Gable. Tão desiludida ficou que em pouco tempo deixou o cinema americano, voltando para a Inglaterra para atuar em filmes menores e mais artísticos. Mesmo com toda a situação realmente ultrajante que sofreu ela preferiu a discrição, não indo para a briga com a MGM que produziu a superprodução. Provavelmente Vivien teve receio de sofrer um boicote como havia acontecido com Bette Davis.

Esses salários ruins pagos pelas grandes empresas de cinema de Hollywood causavam situações constrangedoras, complicadas de explicar. Marilyn Monroe já era uma estrela da Fox, seus filmes rendiam milhões de dólares, mas ela continuava a levar uma vida de dura na Sunset Boulevard, morando em um pequeno apartamento praticamente sem móveis. Marilyn chegou ao ponto de ser processada várias vezes por aluguéis atrasados e contas de telefone que ela não pagava. De fato, a atriz vivia de malas prontas, sempre pronta a ser despejada dos pequenos apartamentos em que havia morado praticamente a vida inteira. A situação ficou tão ruim que Marilyn precisou fundar sua própria produtora para negociar com a Fox como pessoa jurídica. A solução, sugerida por seu advogado, acabou aumentando os rendimentos de Marilyn que depois de muitos anos de cachês baixos finalmente conseguiu comprar uma casa própria em Los Angeles.

Essa situação só viria mesmo a mudar quando Elizabeth Taylor resolveu colocar a própria Fox contra a parede. O estúdio queria muito que ela estrelasse o épico Cleópatra. Liz não tinha muito interesse e por isso chocou a imprensa quando pediu um milhão de dólares de cachê. Jamais uma atriz havia ganhado uma quantia dessas em Hollywood desde a sua fundação. Após muitas negociações e brigas a Fox finalmente se curvou ao seu pedido e assim Elizabeth Taylor se tornou a primeira mulher da história do cinema mundial a receber um salário milionário por seu trabalho. Um feito quase único e inédito, que só seria repetido anos depois com Audrey Hepburn que em 1964 pediu (e levou) seu milhão de dólares por sua atuação em "My Fair Lady".

Infelizmente apesar de tantas lutas e conquistas a média salarial das mulheres em Hollywood jamais se igualou ao dos homens, em época nenhuma. A desigualdade continuou e foi piorando ao longo dos anos, principalmente depois do auge dos filmes de ação. Bette Davis costumava dizer que além de não pagar o mesmo cachê que os homens a velha Hollywood também não abria espaço para mulheres mais velhas e que não se enquadrassem nos padrões de beleza da indústria. Bom, por tudo o que ela disse podemos dizer que as coisas realmente não mudaram muito na cidade dos sonhos desde aqueles distantes anos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 27

Certa vez o ator Tony Curtis foi entrevistado pelo canal E! afirmando que iria publicar um livro de memórias intitulado “Making of Some Like It Hot” em que contaria os bastidores das filmagens do clássico de Billy Wilder “Some Like It Hot” (Quanto Mais Quente Melhor, no Brasil). Entre as revelações Curtis prometia contar toda a verdade sobre o suposto romance que teve com a estrela do filme, a atriz Marilyn Monroe e mais: Tony garantia que Marilyn engravidou dele durante o caso amoroso ocorrido nos sets de filmagens, tudo acontecendo debaixo do nariz do marido dela na época, o escritor Arthur Miller. Será verdade? Principalmente depois de tudo o que sabemos sobre a complicada e problemática filmagem de um dos mais famosos filmes de Monroe.

Todos que participaram da produção de "Quanto Mais Quente Melhor" concordam que as filmagens foram tudo, menos um mar de rosas. Na realidade o caos imperou no set. Marilyn Monroe estava simplesmente impossível durante as gravações levando todos, do diretor aos membros da equipe de apoio, à loucura. Atrasos, ataques de estrelismo, esquecimento de falas, brigas e muitas faltas marcaram a atuação de Monroe nesse filme. Certa vez Marilyn chegou ao local de filmagens tão fora de si que todos pensaram que ela iria ter um ataque ou algo parecido. As filmagens foram canceladas e mais um dia foi perdido.

O diretor Billy Wilder, sempre irônico e com um humor mordaz recordou: "Quase enlouqueci com esse filme. Marilyn me deixava horas e horas esperando por ela nos estúdios. Todos a postos, equipe e atores, tudo pronto mas nada dela aparecer. Algumas vezes Marilyn aparecia com até seis horas de atraso e quando aparecia parecia uma morta viva - mal conseguia falar e não sabia nenhuma de suas falas! Sabe, eu tenho uma tia que decora todas as falas, chega nos estúdios na hora certa, é extremamente pontual e profissional. Na bilheteria ela deve valer uns cinco centavos! Entende o que digo? Tivemos que engolir muitos sapos para ter Marilyn Monroe nesse filme!" Só um grande diretor do nível de Wilder para controlar e administrar tantos problemas. Ele completou: "Só consegui dormir normalmente novamente depois que o filme acabou. Sinceramente, nunca mais quero passar por isso de novo, prefiro que meu próximo filme renda cinco centavos na bilheteria!".

Com os demais atores a situação foi ainda mais caótica. Como não aparecia regularmente para trabalhar Marilyn logo ganhou a antipatia de seu partner em cena, Tony Curtis, que após o filme declarou publicamente: "Beijar Marilyn Monroe é como beijar Hitler!" Em outra ocasião durante uma grande discussão com o ator, Marilyn jogou uma taça de vinho em seu rosto, causando um grande tumulto durante as filmagens. Com todo esse histórico fica realmente complicado acreditar que Marilyn teria tido um romance amoroso com Curtis, resultando ainda mais em gravidez. Infelizmente todos os demais envolvidos (como o diretor Billy Wilder e o ator Jack Lemmon) estão falecidos. A última palavra ficará realmente com Tony Curtis.

Marilyn Monroe foi sem a menor sombra de dúvidas um dos maiores mitos da história do cinema. Tinha uma vida pessoal marcada por inúmeros problemas (infância abandonada e infeliz, casamentos desfeitos, romances escandalosos, vício em medicamentos, problemas mentais, entre outros) e por isso é muito complicado nos dias de hoje determinar o que realmente aconteceu e o que são apenas estórias inventadas para faturar em cima de seu mito. Tony Curtis foi um grande nome do cinema também, tendo uma carreira vitoriosa nos anos 50 e 60. Porém com os anos 70 sua carreira no cinema estagnou e ele ficou com sérios problemas financeiros. Estaria apenas tentando ganhar algum dinheiro extra com sua bombástica revelação? Só o tempo dirá...

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 26

Ao longo de sua carreira Marilyn Monroe fez sucesso interpretando loiras burras em seus filmes. Isso criou uma imagem dela no inconsciente coletivo de acordo com o que se via nas telas. Só que Marilyn poderia ser muitas coisas em sua vida, menos burra! Na verdade ela era bem esperta no que dizia respeito em criar uma lenda em torno de si mesma. Ao longo da vida a loira atriz colecionou uma série de amizades com jornalistas de todo o país. Ela poderia ser considerada até mesmo uma das estrelas de Hollywood mais abertas e prontas para colaborar com jornalistas em geral.

É certo que a beleza ajudou muito, mas havia outras atrizes e estrelas em Hollywood que eram bem mais bonitas do que ela. Marilyn também passava longe de ser a mais talentosa atriz de sua época. Sua capacidade dramática aliás sempre foi contestada! Qual foi então o segredo que transformou Marilyn em um dos maiores ícones da história de Hollywood? Para muitos autores a resposta é até simples: Marilyn soube como poucas manipular a imprensa e os estúdios de cinema! Sim, de ingênua, boba e burra ela não tinha absolutamente nada! Havia um jogo a se jogar no mundo das celebridades de cinema e ela soube jogar muito bem ele, durante muito tempo.

Desde o começo da sua carreira Marilyn percebeu que uma boa matéria numa revista ou algum artigo revelador publicado em um jornal era de grande valia para uma jovem pretendente ao estrelato como ela. Assim Marilyn começou a cultivar amizade com um grande número de jornalistas em Los Angeles e Nova Iorque. Era uma relação de mão dupla - Marilyn conseguia publicidade grátis e os jornalistas tinham seu grande furo de reportagem que tanto queriam. Um dos biógrafos mais conhecidos da história de Marilyn revelou que ela mantinha intenso contato com esses profissionais, tudo para que sua vida pessoal e profissional jamais saísse das páginas da imprensa.

Tanto isso é verdade que nenhum grande jornalista da época precisava ir atrás de grandes notícias sobre Marilyn pois ela mesma tratava de ligar para todos eles contando as novidades! Depois fingia ficar escandalizada com as notícias. Outro aspecto interessante: Marilyn também desde cedo descobriu que sua história de garota órfã poderia atrair muita simpatia e compaixão dos leitores. O efeito disso era uma popularidade cada vez maior de pessoas que torciam por ela! Dessa maneira Marilyn estava sempre com um repórter ao lado contando histórias tristes (reais e imaginárias) de sua infância e juventude. Quando essas matérias eram publicadas atraíam grande atenção, se revelando uma enorme publicidade, tudo resultando em belas bilheterias de cinema.

Assim Monroe foi certamente uma das primeiras grandes relações públicas de Hollywood. Ela sabia fazer muito bem seu marketing pessoal em um tempo em que isso nem era muito conhecido! Marilyn, de forma inteligente, entendeu que não bastava apenas ser uma boa atriz e ter beleza, era necessário também criar uma personagem pública de si mesma! Enquanto os demais astros procuravam esconder sua vida pessoal, Marilyn usava ela para ganhar manchetes de primeira página. Ela adorava esse tipo de coisa e certamente a exploração de sua vida pessoal rendia muito lucro em retorno. Como se pode ver Marilyn era loira sim, mas burra... jamais!

E nesse processo de relacionamento próximo com a imprensa ela também virou a primeira grande celebridade de seu tempo. Dando matérias e furos para as principais revistas, ela acabou sendo presença constante nas capas delas. Porém houve um preço a se pagar que foi o fim de sua privacidade. Qualquer caso amoroso ou problema logo aparecia também na imprensa, prejudicando sua vida pessoal. Quando ela foi internada em uma clínica psiquiátrica, por um surto que tivera, a imprensa correu e logo estampou nas capas que ela estava ficando louca! Assim, do pior modo possível, Marilyn foi entendendo que a imprensa poderia também destruir sua imagem. Criava a lenda e depois destruía com a mesma intensidade. E isso seguiu até sua morte quando jornalistas inescrupulosos chegaram até mesmo a invadir o necrotério para tirar duas fotos de Marilyn Monroe morta. E isso foi depois de sua autópsia, quando o corpo já apresentava sinais de desgaste. O sensacionalismo e a falta de escrúpulos nesse caso não teve mesmo limites ou barreiras éticas. No final de tudo Marilyn Monroe acabou se tornando vítima da mesma imprensa que a transformou em uma deusa da história do cinema.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 25

Marilyn Monroe tinha realmente problemas psiquiátricos? Como se sabe havia um extenso histórico de doenças mentais na família de Marilyn. Sua própria mãe foi internada em um hospício quando Marilyn era apenas uma criança. Levada para orfanatos ela definitivamente não teve uma infância feliz. Vivendo de lar provisório em lar provisório, muitas vezes sofrendo abusos psicológicos, Marilyn acabou criando uma personalidade cheia de traumas que ao longo dos anos só foram piorando. Uma coisa parecia certa, Marilyn não era uma pessoa fácil de conviver. Ela ia da doçura à fúria em questão de segundos. Também parecia demonstrar ter duas personalidades bem diferentes que se revezavam ao longo do dia. Uma delas era a da menininha órfã, que falava com uma voz de criança, parecendo muito vulnerável e indefesa. A outra personalidade era forte, decidida, dona de si e seu destino. Quem não a conhecia ficava realmente surpresa com essas mudanças.

Dorothy Manning, uma escritora que conviveu com Marilyn nos anos 1950 escreveu bem sobre essa dualidade do modo de ser de Marilyn Monroe em seu cotidiano. Dorothy relembra: "Marilyn era estranha. Quando a encontrei pela primeira vez tive a impressão de estar conhecendo uma menina em corpo de mulher. A vozinha de criança pequena era um tanto assustador. A falta de verbalização adulta, a mentalidade de uma menininha de nove anos! Ela parecia alguém com algum tipo de problema de retardo mental. Cerca de meia hora depois Marilyn surgia totalmente diferente! Ela parecia completamente dona de si, alegre, expansiva, independente, uma mulher moderna, de seu tempo, falando bem, uma diva do cinema. Suas percepções do mundo eram até mesmo brilhantes. Ela falava sobre política, os estúdios, a falta de credibilidade de certas pessoas... Era algo impressionante! Parecia duas pessoas completamente diferentes! Eu ficava sem saber como agir em sua presença!".

Teria Marilyn traços de esquizofrenia? Ou tinha um problema relacionado ao transtorno de personalidade esquizóide? Ninguém até hoje sabe ao certo qual era o problema de Marilyn. Ao longo da vida ela colecionou analistas. Em determinado momento Marilyn se convenceu que seus supostos problemas psiquiátricos poderiam ser curados com análise. Então ela virou uma cliente de inúmeros deles na Califórnia, não raro fazendo duas ou três sessões em um único dia! Nem todos esses analistas tiveram uma boa impressão sobre Marilyn. Como diria Dorothy Manning, Marilyn tinha mesmo problemas: "Todos que conheciam Marilyn tinham a sensação de que havia algo errado com ela. Havia uma sensação no ar de que Marilyn estava obviamente perturbada. Ela tinha ataques de ansiedade e insegurança. Lembrando do passado tenho a clara certeza de que Marilyn era uma pessoa bem estranha e confusa, cuja fraqueza psicológica nos atingia no coração."

O Dr. Milton Gottleb, que atendeu Marilyn, tinha opinião muito semelhante. Ele disse: "Marilyn era muito insegura, uma insegurança patológica. Era uma jovem mulher bem perturbada que tinha acima de tudo medo da vida. Não é errado dizer que tinha uma personalidade esquizóide. Muitos atores e atrizes acabam desenvolvendo algum tipo de neurose em algum momento de suas vidas.". Outro médico, o Dr. Elliot Corday, foi mais sombrio sobre sua avaliação sobre Marilyn: "Eu deixei de atender Marilyn porque ela não conseguia obter melhores resultados. As pessoas entenderiam melhor sobre sua morte se tivessem conhecimento das coisas que soube sobre Marilyn quando ela foi minha cliente. Marilyn havia tentado se matar inúmeras vezes, mais do que muitos pensam. Ela também começou a usar drogas pesadas e eu lhe disse que não seguiria sendo seu médico se aquilo continuasse. Marilyn também tinha ataques recorrentes de melancolia. Ela podia passar a tarde inteira, olhando pela janela, fitando o horizonte, sem falar nada ou pensar nada. Era um tipo de melancolia patológica que poderia levá-la a cometer atos insanos, como o suicídio, por exemplo",

Marilyn tinha muito medo de ficar louca como a mãe. Aliás a loucura não havia apenas atingido a mãe de Marilyn, mas também sua avó, suas tias, primas, etc. Estudos modernos já conseguiram provar que a depressão, por exemplo, pode por via genética, ser passada de mãe para filha. Então essa era uma possibilidade real. Por falar em depressão, Marilyn também sofria bastante com ataques dessa doença. Ela passava semanas trancada em seu quarto completamente escuro, com as portas fechadas, sem ver praticamente ninguém. Os inúmeros abortos a destruíam psicologicamente. Hoje em dia estima-se que Marilyn tenha feito ao longo da vida quatorze abortos. Em uma época em que a pílula anticoncepcional ainda não existia, o risco de surgir uma gravidez indesejada era algo constante na vida da atriz. Contraditoriamente o maior sonho de Marilyn era se tornar mãe. E isso foi apenas mais um fator para deixá-la ainda mais abalada do ponto de vista psicológico.

Pablo Aluísio.