terça-feira, 19 de novembro de 2024
A Árvore da Vida
segunda-feira, 18 de dezembro de 2023
Quando a Mulher Erra
segunda-feira, 13 de novembro de 2023
Montgomery Clift - Hollywood Boulevard - Parte 3
Filmar ali foi uma grande experiência para o ator. Embora ele tivesse conhecimento de tudo o que havia acontecido na II Guerra, era algo bem diferente estar ali, bem no meio do povo alemão derrotado, tentando sobreviver de todas as formas. O filme também serviu como propaganda americana ao colocar soldados e militares dos Estados Unidos como pessoas prontas a ajudar os sobreviventes da guerra, os retratando como pessoas amigáveis e prestativas, militares honestos e de boa índole. Após seu lançamento o filme foi bastante elogiado, vencendo um Oscar numa categoria importante, a de Melhor Roteiro (prêmio dado aos roteiristas Richard Schweizer e David Wechsler). Além disso foi indicado ainda ao Oscar nas categorias de Melhor Direção e Melhor Ator, justamente para Montgomery Clift, que estreava assim com reconhecimento em Hollywood. Afinal ser indicado ao Oscar por seu primeiro filme era algo para poucos...
Após uma estreia tão bem sucedida Clift assinou contrato para trabalhar em mais um filme, dessa vez no estúdio United Artists. É interessante notar que a MGM ofereceu a Clift um contrato de sete anos e meio (o que era o padrão na época para grandes astros), mas o ator recusou, afirmando que queria ter toda a liberdade para escolher os filmes em que iria atuar. A United Artists havia sido fundada por atores, atrizes e artistas e tinha fama de produzir filmes mais voltados para a arte, ao invés da fábrica de lucros de outros estúdios, como a própria MGM, conhecida por ser uma das grandes majors da indústria cinematográfica americana.
O roteiro que havia atraído Clift daria origem ao filme "Rio Vermelho", considerado hoje em dia como um dos maiores clássicos de western de todos os tempos. Obviamente que Montgomery Clift, o ator de Nova Iorque, não tinha pretensões de virar um ídolo cowboy das telas. O que o levou a contracenar com o mito John Wayne, sendo dirigido pelo mestre Howard Hawks, foi realmente o inspirado roteiro, um épico sobre os verdadeiros cowboys americanos, um espécie em extinção. Fisicamente o filme iria exigir bastante de Monty, por isso ele passou por um treinamento antes de entrar no set de filmagens. Aprendeu a montar, cavalgar e usar o laço. Para um sujeito que nunca havia deixado Nova Iorque era realmente algo necessário. E ele não poderia fazer feio ao lado justamente de John Wayne, um ícone dos filmes de faroeste.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2023
Montgomery Clift - Hollywood Boulevard - Parte 2
Em relação à vida amorosa também havia muitos conflitos. O pai queria que ele se casasse, que formasse uma família. Monty detestava essa ideia. Na verdade ele não queria ser como seu pai, tendo uma vida completamente enfadonha, vivendo de migalhas em um casamento infeliz. Tão ruim era a ideia do casamento que Monty jamais se casaria. Ele adorava ser solteiro, explorar outras possibilidades. Além disso o que ele menos desejava era uma esposa mandona, que o controlasse. A vida de casado era completamente fora de seus planos. E obviamente isso o levou a ter brigas e mais brigas com o pai, até o dia em que o ator viu que era hora de morar sozinho. Ele alugou um apartamento em Nova Iorque foi à luta.
Depois de passar por um exame extremamente concorrido finalmente foi aceito no Actors Studio. Essa foi uma escola lendária de arte dramática, fundada por Elia Kazan e outros grandes professores e diretores, tanto de teatro como de cinema. Estudando e trabalhando em peças pela cidade, Monty foi firmando sua reputação como ator talentoso e profissional. Sempre era pontual nos ensaios e nunca esquecia suas falas. No Actors Studio conheceu Marlon Brando. O colega estava indo para Hollywood, após se consagrar nos palcos de teatro de Nova Iorque. Monty não tinha, pelo menos naquele momento, esse tipo de ambição. Ele queria antes se tornar um grande ator de teatro, para só depois, quem sabe, virar um ator de cinema.
Isso duraria pouco. Monty era um ator profissional e vivia de seu trabalho. Sempre que surgia uma boa proposta de trabalho ele tinha que levar em consideração. Em 1948 um produtor de Hollywood chamado Lazar Wechsler entrou em contato com a agente de Monty em Nova Iorque. Ele queria contratar o ator para atuar no filme "Perdidos na Tormenta" que seria dirigido por Fred Zinnemann. O cachê era excepcionalmente bom, o equivalente a quatro meses de trabalho duro como ator de teatro em Nova Iorque. Monty engoliu todas as reservas que tinha contra os filmes e pegou o primeiro avião para a costa oeste. Ele estava prestes a fazer seu primeiro filme na cidade, algo que definitivamente mudaria sua vida dali em diante.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2022
Elizabeth Taylor - Hollywood Boulevard - Parte 1
segunda-feira, 28 de novembro de 2022
Montgomery Clift - Hollywood Boulevard - Parte 1
Mesmo assim o destino e a sétima arte os uniriam, até mesmo porque a riqueza da família Clift seria tragada por causa da grande depressão que arrasaria a economia americana em 1929, durante a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque. O pai de Monty, um rico especulador de ações, perderia praticamente tudo com a crise. Arruinados financeiramente, a família Clift mudou-se então para Nova Iorque, deixando o meio oeste durante os anos 1930. Essa mudança de cidade iria também mudar para sempre o destino de Montgomery Clift. Criado para ser um dândi da elite de Nebraska, ele precisou rever seus conceitos na grande cidade, na grande Maçã, como Nova Iorque era conhecida.
Ao invés de estudar em colégios privados tradicionais ele foi parar em uma escola pública do Brooklyn. Monty que sempre havia estudado com jovens ricos e bem-educados de Omaha, se viu de repente no meio de um pessoal mais barra pesada, que partia para a briga nos intervalos. Nova Iorque era realmente uma selva e para sobreviver por lá o jovem Monty precisou se impor, não por meio de sua educação refinada, mas sim pela força dos punhos. Sem dúvida foi uma mudança brutal, de um meio aristocrático, para uma realidade bem mais pé no chão.
Em meio a tantas mudanças algo no novo colégio mudaria para sempre sua vida. Ele se apaixonou pelo teatro. O departamento teatral da escola era muito bom, muito original, um ambiente que valorizava o talento dos alunos que mostravam o interesse pela arte de interpretar. Monty foi fisgado desde os primeiros dias. Ele sabia que Nova Iorque era um dos lugares mais efervescentes do mundo em termos teatrais. Havia muitas peças sendo encenadas na Broadway e no circuito Off-Broadway. As oportunidades estavam em todos os lugares. Vendo que poderia arranjar trabalho no meio teatral da cidade ele se empenhou nas peças escolares em que atuou. Seu objetivo era ganhar experiência para partir para a Broadway, até porque trabalhar havia se tornado uma necessidade em sua casa, pois seu pai enfrentava muitas dificuldades para arranjar um emprego.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 16 de setembro de 2022
Rio Vermelho
E o Duke? Bem, ele está novamente ótimo no papel de um velho rancheiro dono de milhares de cabeças de gado, que tem como único objetivo levá-las, em uma grande caravana, para o Estado do Missouri. Conforme o tempo passa e as dificuldades se tornam maiores o personagem de Wayne vai ficando cada vez mais obcecado, tornando insuportável a vida de seus homens. O clímax ocorre em uma feroz luta entre Wayne e Clift. Um duelo entre os velhos e os novos paradigmas do velho oeste. A cena entrou para a história do cinema americano. Em relação à inspirada direção um famoso crítico americano resumiu a opinião da época: "Tendo como pano de fundo as belas paisagens do meio oeste americano, o mestre Howard Hawks faz um dos melhores faroestes dos últimos tempos, não se limitando, no entanto, a falar apenas do expansionismo capitalista americano, povoando terras desertas em meados do século 19. Vai além: realizando um belo painel sobre as relações humanas, através dp choque de personalidades de Dunson (Wayne) e Garth (Montgomery Clift). Criados como pai e filho, protagonizam uma estória de amor e ódio absolutamente emocionante". O filme concorreu aos Oscar de melhor roteiro e Montagem. Uma injustiça não ter ganho nenhum, mas se a Academia não o premiou ele acabou recebendo outro tipo de reconhecimento, e este bem mais importante, o reconhecimento popular daqueles que o assistiram e jamais esqueceram ao longo de todos esses anos.
Rio Vermelho (Red River, EUA, 1948) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Borden Chase e Charles Schnee, baseado na novela The Chisholm Trail de Borden Chase. / Elenco: John Wayne, Montgomery Clift, Joanne Dru, Walter Brennan / Sinopse: Thomas Dunson (John Wayne) é um velho rancheiro, dono de milhares de cabeças de gado, que tem como único objetivo levá-las, em uma grande caravana, para o Estado do Missouri. Conforme o tempo passa e as dificuldades se tornam maiores Thomas vai ficando cada vez mais obcecado, tornando insuportável a vida de seus homens, entrando em conflito com Matt Garth (Montgomery Clift), um cowboy que participa da caravana.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 18 de agosto de 2022
A um Passo da Eternidade
Título Original: From Here to Eternity
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Fred Zinnemann
Roteiro: Daniel Taradash, James Jones
Elenco: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Donna Reed, Frank Sinatra, Philip Ober
Sinopse:
Um grupo de militares americanos, a maioria deles da Marinha (U.S. Navy) estão levando suas vidas enquanto trabalham em navios ancorados no porto de Pearl Harbor, no Havaí. Então. sem nenhum aviso, são surpreendidos por um ataque massivo da Força Aérea Imperial do Japão, se tornando o estopim da entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial.
Comentários:
Esse clássico do cinema americano é até hoje considerado o filme definitivo do ataque japonês ao porto militar de Pearl Harbor. Até aquele momento o governo americano não tinha intenção de entrar na Guerra. Depois do ataque, que matou milhares de militares dos Estados Unidos, a entrada se tornou inevitável. O grande mérito desse roteiro não foi apenas mostrar o ataque em si, em cenas realmente memoráveis, algumas tiradas de arquivo, filmagens reais, mas também de individualizar aqueles militares, mostrando a vida deles antes do ataque, suas paixões, planos, a vida que ia seguindo normal até aquele dia que o próprio presidente Roosevelt diria que "entraria para a infâmia". Dando rosto e história a cada um desses personagens o filme humanizou a face das vítimas do ataque. O filme foi um grande sucesso de público e crítica, sendo premiado em 8 categorias do Oscar. Até hoje é considerado um dos maiores clássicos da história de Hollywood.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 4 de agosto de 2022
O Acidente de Montgomery Clift
Tarde da noite, entrando pela madrugada, finalmente o ator resolveu ir embora. Ele estava completamente embriagado mas como havia chegado sozinho em seu carro pretendia voltar também dirigindo ele próprio seu veículo. A questão era que pelo seu estado de embriaguez não havia muita possibilidade de algo assim dar certo. Bebida e volante nunca combinam. Para piorar a estrada que levava à casa de Elizabeth Taylor era sinuosa e mal iluminada. Primeiro partiu Kevin McCarthy, um dos convidados de Liz e logo em seguida saiu Monty. Numa das primeiras curvas Kevin olhou pelo retrovisor e ainda conseguiu ver o carro de Montgomery Clift saindo pela tangente da pista, indo de encontro a um poste telefônico. A batida foi certeira. O automóvel ficou em frangalhos e o ator estava severamente ferido.
Ao ouvir o barulho da batida Elizabeth Taylor saiu em disparada para o local do acidente. Monty estava encoberto por um banho de sangue. Sem cinto de segurança seu rosto foi de encontro ao volante e partes do para-brisa cortaram seu rosto. A situação era bem grave. Logo uma ambulância foi chamada e ele foi levado ao hospital. Seus ferimentos foram graves e atingiram vários nervos faciais, o que para um ator era uma notícia terrível pois sua capacidade de expressão ficaria comprometida. A produção do filme que estava participando foi suspensa e Monty passaria os meses seguintes sofrendo severas dores de cabeça decorrentes da grande pancada que sofreu. Para amenizar as dores começou a tomar grande quantidade de drogas pesadas, além de aumentar seu consumo de bebidas. Depois do acidente Montgomery Clift jamais foi o mesmo. Entrou em quadro de depressão e começou a lentamente se auto destruir.
Para piorar ele que sempre era considerado um dos atores mais bonitos do cinema começou a enfrentar problemas para arranjar novos trabalhos, uma vez que seu rosto agora exibia diversas cicatrizes que nem os melhores maquiadores conseguiam esconder. Além da queda de sua aparência física havia outros problemas sérios, como uma constante dor de cabeça que nunca o deixava em paz. Isolado e sofrendo ele começou um caminho sem volta. De fato essa terrível fase de sua vida acabou sendo conhecida como o "mais longo suicídio da história de Hollywood". Ele morreria precocemente em julho de 1966, sem nunca ter superado esse trauma em sua vida.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
Elizabeth Taylor e Montgomery Clift
A amizade de Montgomery Clift com Elizabeth Taylor foi longa e muito verdadeira. Isso porque não demorou muito para Liz se colocar na posição de conselheira pessoal e íntima de Clift, algo que os anos provariam não seria nada fácil. Monty tinha muitos problemas emocionais em sua vida privada. Não conseguia se acertar com nenhuma garota por longo tempo (o que daria origem a infundadas fofocas de que era gay) e tampouco conseguia superar seus problemas de alcoolismo e depressão. O relacionamento com o pai também era fonte de vários problemas. O estilo refinado e educado do ator também lhe trazia algumas dificuldades de relacionamento na terra do exibicionismo barato que era Hollywood.
Segundo várias biografias no começo de tudo Montgomery Clift realmente deu vazão a uma paixão platônica em relação a Elizabeth Taylor. Isso ficou bem evidente no set de filmagens de "Um Lugar ao Sol". Não é de se admirar pois Liz e Clift era jovens radiantes, estavam subindo os degraus do Olimpo em Hollywood e viviam negando para a imprensa que havia um romance entre eles. De fato não havia, muito por causa da falta de coragem por parte de Clift em avançar o sinal e tentar algo com sua parceira de cena. Liz poderia ceder, mas ela tinha uma personalidade tão ofuscante que Clift se viu na sombra dela rapidamente. Para não perder sua amizade resolveu não arriscar. Afinal de contas se tentasse consumar um romance com ela e não desse certo, certamente perderia sua amizade.
Com o passar dos anos Montgomery Clift foi ficando cada vez mais absorvido em si mesmo, em seus problemas. Liz foi testemunhando sua queda lentamente. Mesmo assim resolveu ficar o mais perto possível do ator, tentando colocar ele de volta ao bom caminho. E foi justamente após uma festa em sua casa que Clift sofreu um terrível acidente de carro, por estar dirigindo completamente embriagado. O acidente deformou parte de seu rosto e praticamente destruiu sua carreira em Hollywood. Foi justamente Liz que tentou escalar Clift em vários filmes seus após esse acidente, justamente para que ele não ficasse desempregado e nem deprimido em sua casa.
Esse ato fez com que Montgomery Clift ficasse tão próximo a ela que mais parecia um irmão mais jovem da atriz. Infelizmente nada disso evitou a morte precoce de Montgomery Clift em julho de 1966 em Nova Iorque. Ele tinha apenas 45 anos mas uma vida de excessos havia cobrado seu preço e Monty mais parecia um velho ao morrer. Tinha fortes dores de cabeça em decorrência da batida de seu carro e tentava controlar tudo com forte medicação e muita bebida. Essa mistura explosiva acabou com o restante de sua saúde. Para Clift a morte acabou sendo um alívio de seus demônios pessoais. A tragédia deixou a atriz abalada e ela procurou resumir o amigo de uma forma bem carinhosa ao se referir a ele como "uma alma bondosa e terna".
Pablo Aluísio.
Ilusão Perdida
Título no Brasil: Ilusão Perdida
Título Original: The Big Lift
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: George Seaton
Roteiro: George Seaton
Elenco: Montgomery Clift, Paul Douglas, Cornell Borchers
Sinopse:
Danny MacCullough (Montgomery Clift) é uma sargento da força aérea dos Estados Unidos que é enviado para Berlim, cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Lá ele passa a fazer parte da tripulação de uma das centenas de aeronaves americanas cuja principal missão é enviar alimentos e provisões para o povo alemão, naquele momento histórico passando grandes dificuldades após seu país ter sido destruído pelo conflito. Em Berlim Danny acaba conhecendo a bela jovem e viúva alemã Frederica Burkhardt (Cornell Borchers) por quem se interessa. O problema é que o passado dela esconde segredos inconfessáveis. Filme indicado ao Globo de Ouro.
Comentários:
Para fãs de Montgomery Clift sem dúvida é um filme extremamente interessante. Aqui temos um jovem Monty, antes de virar um astro em "Um Lugar ao Sol" ao lado de Elizabeth Taylor, estrelando um filme que fica no meio termo entre o puro romance nostálgico e a pura propaganda patriota americana. Explico. O cenário é a Alemanha do pós-guerra. As cidades do país estão destruídas, pouca coisa ainda resta de pé. O antes todo orgulhoso povo alemão vive literalmente de sobras, vindas principalmente de programas humanitários das forças armadas americanas que distribuem gratuitamente comida para aquela nação ferida pela derrota no maior conflito armado da história. Hitler está morto e o nazismo sepultado, mas as feridas ainda parecem demorar a cicatrizar. Clift interpreta esse militar americano, um tipo até ingênuo, que acaba se interessando por uma jovem viúva da guerra. Apesar dos conselhos para ir com calma ele acaba entrando de cabeça em sua nova e avassaladora paixão. Para ele aquela garota representa todo o sofrimento daquele povo. Para não morrer de fome, por exemplo, Frederica (Borchers) precisa aceitar trabalhos pesados, na reconstrução da nação, como levantar pedras de prédios destruídos.
Isso acaba sensibilizando o personagem de Montgomery Clift. O problema é que o passado é um farto pesado demais. principalmente em relação à essa sua paixão alemã. A garota vista sob esse ponto de vista não parece tão encantadora, ainda mais ao se descobrir que ela teria sido esposa de um fanático oficial da SS. O roteiro desse filme se revela nos minutos finais surpreendentemente realista. O desfecho que todos acabam esperando não vem. Ao invés disso surge um leve gostinho de ressentimento, mesclado com amargura. A impressão que tive foi que os americanos queriam ajudar os alemães, o problema é que a guerra havia sido amarga demais. Não havia como enxergar aquelas pessoas apenas como vítimas, mas também como cúmplices. A fotografia é desoladora, filmado apenas cinco anos depois do fim da guerra a produção acabou imortalizando aquele triste retrato de um povo em ruínas. As cidades destruídas e as pessoas vagando em busca de alguma comida. Um fim trágico para todo uma nação que resolveu seguir os sonhos insanos de um louco. Assim "Ilusão Perdida" pode até ser considerado sem grandes novidades para alguns, já para outros, mais atentos, é um bela lição de história, tão real na tela como se todos estivéssemos lá.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
Tarde Demais
Por amar muito Morris, a garota então decide romper com o pai para fugir com o amado. O pai imediatamente a deserda de toda a herança. Morris ao saber disso, simplesmente vai embora deixando a jovem destruída emocionalmente para trás. Teria ele fugido por medo, covardia da reação do pai de Catherine ou seria simplesmente o ato de um interesseiro, um golpista do baú? Anos depois, com o falecimento do pai, Catherine se torna finalmente a única herdeira de uma grande fortuna. Para sua surpresa nesse momento sua grande paixão do passado, Morris, reaparece. E agora, dará ela uma segunda chance ao homem que tanto amou?
“Tarde Demais” é uma excelente produção de época, que revive a alta sociedade americana do século XIX. Embora Olivia de Havilland esteja soberba como Catherine, o filme pertence mesmo a Montgomery Clift. Seu personagem, Morris, é muito rico em nuances psicológicas. A todo o tempo o espectador fica perdido, sem saber se ele é de fato um aproveitador ou apenas um homem fraco que não agüentou a pressão do pai de Catherine. O cineasta William Wyler também esbanja elegância e sofisticação nessa adaptação do famoso livro escrito por Henry James. Em suma, eis aqui um dos melhores filmes românticos de Hollywood em sua fase de ouro, em sua fase clássica. Uma obra prima do gênero.
Tarde Demais (The Heiress, Estados Unidos, 1949) Direção: William Wyler / Roteiro: Ruth Goetz, Augustus Goetz, baseados na obra de Henry James / Elenco: Olivia de Havilland, Montgomery Clift, Ralph Richardson, Miriam Hopkins / Sinopse: Rica herdeira fica em um grande dilema após o seu pai desaprovar o romance com o grande amor de sua vida! Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor atriz (Olivia de Havilland), Melhor direção de arte, Melhor figurino e Melhor trilha sonora. Indicado ainda ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante (Ralph Richardson) e Melhor Fotografia. Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Olivia de Havilland).
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
Talvez Seja Melhor Assim
Aqui em seu último papel Montgomery Clift interpreta o professor James Bower, um renomado físico que é recrutado pela CIA para ir até a Europa com o objetivo de ajudar na busca de um cientista russo que se tornou peça vital dentro do jogo de espionagem entre americanos e soviéticos. A trama se passa no auge da chamada guerra fria, bem na fronteira entre as duas Alemanhas, na região que foi apelidada pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill de “Cortina de Ferro”. O enredo foi retirado do sucesso editorial “The Spy”, também conhecido como 'L'Espion', escrito pelo autor Paul Thomas. Clift, já com a saúde bastante abalada, passou por dificuldades para terminar o filme.
Muito abatido, sem energia, enfrentou seu último trabalho com muita dignidade mas também com muito sacrifício. Em determinado momento cogitou abandonar as filmagens por não aguentar mais se manter sóbrio, requisito necessário para cumprir o contrato que havia assinado. A crítica por sua vez não gostou muito do resultado. O fato da produção ser europeia, com ritmo devagar e características bem diferenciadas da indústria americana, fizeram com que a produção também fosse ignorada pelo público. Clift não viveria muito após o lançamento do filme vindo a falecer em julho de 1966 em Nova Iorque. O cinema perdia assim um dos mais talentosos atores de sua história.
Talvez Seja Melhor Assim (L'espion, The Defector, Alemanha, França, 1966) Direção: Raoul Lévy / Roteiro: Robert Guenette, Raoul Lévy / Elenco: Montgomery Clift, Hardy Krüger, Roddy McDowall / Sinopse: Pacato professor de física é envolvido numa complexa rede de espionagem que tenciona levar para o ocidente um renomado cientista russo bem no auge da chamada guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
A Tortura do Silêncio
Provavelmente um dos mais bem elaborados filmes do mestre Alfred Hitchcock. Aqui ele coloca vários dogmas da fé católica na berlinda, ao mostrar um padre que não pode romper o segredo da confissão ao mesmo tempo em que tenta provar sua inocência em razão de um crime que nunca cometeu. Outro ponto interessante é a forma como Hitchcock lida com o celibato dos padres. Logan tem um amor em seu passado, quando era apenas um jovem prestes a ir para a guerra, justamente uma mulher casada que mesmo após tantos anos não consegue esquecer. A montagem do quebra-cabeças acaba levando o padre, um homem de grande fibra moral, ao desprezo público. Todos o consideram culpado, apenas pelo fato de ser um homem religioso que se encontrava com um antigo amor. Será que ele não merecia nem ao menos um voto de confiança? Como pode um homem tão bom e íntegro ser desacreditado assim, praticamente da noite para o dia?
O papel do torturado e existencial Padre Logan se mostra ideal para Montgomery Clift. A fragilidade física do ator, aliada a uma grande fibra espiritual, se mostra perfeita para a proposta do enredo. Há uma cena em que Hitchcock faz um paralelo muito perspicaz sobre o verdadeiro calvário que seu personagem passa. Enquanto ele anda a esmo, na rua, em profundo conflito interior por tudo o que passa, surge em primeiro plano, no alto de uma igreja, uma imagem de Cristo e os soldados romanos durante sua penosa caminhada rumo ao calvário. Um efeito até mesmo simples, mas muito significativo do mestre do suspense. A imagem funciona assim como uma materialização de tudo aquilo que o pobre padre passa naquele momento. A vivência mais plena do que é ser cristão de verdade. A acusação infundada, o abandono por parte de seus próprios fiéis, o escárnio público e a condenação sem provas consistentes.
Por falar no diretor, ele é a primeira pessoa que surge em cena, no alto de uma grande escadaria logo na abertura do filme. Hitchcock sempre fazia essas pequenas aparições em suas produções e aqui o momento é mais do que divertido. Por trás da diversão também havia um aspecto sério a se considerar. A impressão que passa é que o cineasta tentava exorcizar mais um de seus conflitos internos com o filme. Como se sabe Hitchcock tinha uma relação de amor e ódio em relação ao catolicismo, algo que aqui ele acaba passando para a tela. Ao mesmo tempo em que martiriza seu personagem principal, o padre, também o enche de muita dignidade e honestidade. O transforma em um santo perseguido. Uma cristalina imagem do que ele próprio sentia em relação à Igreja de Roma. Assim fica a recomendação desse grande trabalho do genial diretor. Fé, conflito espiritual, tentação, injustiça, mentira e hipocrisia formam o núcleo de uma trama simplesmente brilhante. Assista e entenda porque Hitchcock foi um dos maiores gênios da história do cinema.
A Tortura do Silêncio (I Confess, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: George Tabori, William Archibald / Elenco: Montgomery Clift, Anne Baxter, Karl Malden / Sinopse: Jovem padre passa a ser o principal suspeito de um crime de assassinato. Ele é inocente e sabe quem foi o verdadeiro culpado, mas não pode contar para os policiais pois esse segredo lhe foi passado em confissão, ao qual ele tem que manter sigilo por causa de um dogma de fé da igreja católica. Filme indicado no Cannes Film Festival na categoria de Melhor Direção (Alfred Hitchcock).
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
Os Gays de Hollywood
Em suas estórias poucos astros se salvam. A lista é longa: Rock Hudson, Errol Flynn, Cary Grant, Marlon Brando, Charles Laughton, Montgomery Clift, Katharine Hepburn, Spencer Tracy, Tyrone Power, Rita Hayworth, Mae West, Laurence Olivier, Vincent Price, Randolph Scott, Sal Mineo, Judy Garland e muitos outros. Bowers que está com 88 anos, diz que não queria levar todas essas picantes estórias que viveu para o túmulo e por isso agora. no final da vida, resolveu contar tudo, afinal a grande maioria dos astros já estão mortos. Alguns relatos são de primeira pessoa onde o autor afirma que vivenciou tudo, outros porém ele deixa claro que conhece apenas por “ouvir dizer”, até porque seria simplesmente impossível alguém ser próximo de tantos atores e atrizes ao mesmo tempo. Para gozar da intimidade da vida privada de tanta gente, Bowers teria que ser simplesmente o mais bem relacionado membro da comunidade em Hollywood naqueles anos e até mesmo ele sabe que ninguém acreditaria em tal coisa.
Do que afirma ter vivenciado realmente, um dos casos mais interessantes e chamativos é o que envolve a atriz Katharine Hepburn. Uma das profissionais mais premiadas da história, ela chamava a atenção por nunca ter se casado. Na boca miúda se dizia que tinha um caso escondido com Spencer Tracy, que era casado. Para Bowers tudo não passava de uma farsa. Ele afirma que Hepburn era lésbica e... voraz. Em seu texto o autor diz ter enviado a ela ao longo de vários anos mais de cem mulheres. O suposto romance proibido com Spencer Tracy era assim apenas uma desculpa para encobrir também a homossexualidade do veterano ator. Hepburn se vestia como homem, com ternos de longas ombreiras e não gostava da companhia de outras mulheres como amigas. Bowers vai mais longe e diz que ela tinha uma pele ruim e péssimos hábitos de higiene. Outro que não escapa das revelações de Bowers é o galã Tyrone Power. Embora gostasse também de mulheres (teve vários relacionamentos ao longo da vida com elas) Bowers diz que ele tinha mesmo era uma uma queda especial por jovens latinos, bem apessoados. Chegou a flertar com Rock Hudson, outro galã muito famoso da era de ouro do cinema americano, mas nunca tiveram um caso amoroso.
Por falar em Rock Hudson ele ocupa várias páginas do livro de Bowers. Esse era outro astro com grande apetite sexual. Geralmente dava festas só para rapazes em sua grande mansão nas colinas de Hollywood. Enchia a piscina de jovens aspirantes dispostos a tudo para ganhar um papel em algum de seus filmes. Seu fraco era por jovens loiros e altos, de preferência bronzeados de praia. Se tivessem bigode então cairiam no tipo perfeito na preferência de Hudson. Gostava de brincar dizendo que nem sabia o nome dos amantes, geralmente chamando os loiros de “Bruce” e os morenos de “Carl”. No fim da tarde todos iam para sua sauna particular onde aconteciam grandes orgias gays. Assim que se tornou o astro número 1 em popularidade em Hollywood o estúdio apressou-se em lhe casar com uma secretária de seu agente para encobrir sua homossexualidade, uma vez que sua fama de o “homem preferido da América” valia milhões de dólares. A coisa não deu certo e Rock se separou em pouco tempo voltando para sua rotina de devassidão sexual. Só assumiu publicamente que era gay em seus últimos dias. O ator estava morrendo de AIDS e a imprensa não o deixava em paz. Para dar um bom exemplo e chamar a atenção de todos para o perigo da nova doença, ele finalmente saiu do armário, após ter ficado quase cinquenta anos dentro dele.
Os grandes atores também não escapam. Montgomery Clift seria um gay enrustido e esnobe. James Dean um bissexual porcalhão que tinha problemas com doenças venéreas. Brando um sujeito confuso que gostava de tratar as mulheres como objeto enquanto se apaixonava por homens mais velhos. Nem o mito dos filmes de terror Vincent Price escapa. Para Bowers ele era um gay metido a grã fino que colecionava obras de artes e encontros homossexuais furtivos. Já Randolph Scott e Cary Grant formariam um dos casais gays mais famosos de Hollywood segundo Bowers. Morando juntos e promovendo grandes festas em sua mansão discreta e luxuosa nos arredores de Beverly Hills. No tocante a esse suposto romance encontramos vários problemas. Grant sabia que era alvo de fofocas há muito tempo e no final da vida processou um humorista que fez uma piada na TV sobre sua suposta sexualidade. Ele teve inúmeros casos amorosos com atrizes famosas e se casou várias vezes. Recentemente sua filha lançou um livro negando que seu pai era gay. Outro que saiu em defesa do pai foi o filho de Randolph Scott, Christopher, que também negou veemente em suas memórias que o eterno cowboy do cinema fosse gay. Scott foi casado muitos anos com a mesma mulher e tudo leva a crer que nada de fato aconteceu, apenas amizade no começo de carreira de ambos. As fofocas porém até hoje são conhecidas.
Hollywood se orgulhava de ser livre de preconceitos, cosmopolita e avançada. Mesmo quando alguma história de homossexualidade se tornava notória dentro da comunidade muito raramente chegava na imprensa sensacionalista. Não havia dentro dos estúdios uma penalização ou punição apenas pelo fato do ator ou atriz serem gays, apenas tinha-se um certo cuidado para que sua vida privada não chegasse ao público, prejudicando sua popularidade. Por isso arranjou-se um casamento para Rock Hudson. Dentro da Universal todos sabiam que ele era gay, mas nada era dito sobre isso fora dos portões do grande estúdio. O grande cineasta George Cukor também é alvo nas páginas de Bowers, mas parece ser um caso isolado de diretor gay. O fato porém é que nem todo mundo era gay em Hollywood, nem mesmo na mente de Bowers. Escapam de sua escrita atores que eram obviamente heterossexuais naqueles dias como Paul Newman, Tony Curtis, Charlton Heston, Elvis Presley, Steve McQueen, John Wayne (imaginem esse símbolo do machão do velho oeste como gay!), entre outros.
Os galãs sempre foram muito visados. Nos anos seguintes surgiram boatos de que Richard Gere, John Travolta e até mesmo Tom Cruise eram gays. Richard Gere ficava extremamente aborrecido com essas fofocas. Ele teve romances com modelos internacionais, mas nem isso apagou essa fama de homossexual. Irritado, mandou publicar uma nota em um grande jornal americano negando tudo. Seu ato pegou muito mal entre a comunidade LGBT americana. Parecia que ele se defendia de um crime que havia cometido. Foi um erro lamentável de sua parte. Já John Travolta foi apontado como um gay no armário logo que começou a fazer sucesso. Boatos circulavam no começo de sua carreira. Depois ele entrou para uma religião chamada Cientologia e se casou com a atriz Kelly Preston. Com isso as fofocas foram aos poucos desaparecendo.
Do lado das mulheres houve casos famosos também. Jodie Foster conviveu por anos e anos com fofocas de que seria lésbica. Ela nunca era vista com namorados em eventos sociais de Hollywood e sua vida privada era fechada a sete chaves. Atriz e diretora de talento, parecia obcecada em esconder suas preferências sexuais. Conforme a carreira foi ficando mais bem sucedida, mais a imprensa marrom corria atrás de algum escândalo, até que anos depois, cansada da perseguição da imprensa, decidiu assumir que era lésbica e que vivia há anos com uma mulher. Foi um alívio sair do armário. Já a apresentadora de TV Ellen DeGeneres não apenas assumiu seu caso com a atriz Anne Heche, como se tornou ativista da causa. Pena que no caso dela seu relacionamento não tenha durado muito. Anne Heche se separou dela e depois se apaixonou por um homem, casando com ele e tendo filhos. Mesmo assim DeGeneres continuou seu ativismo em prol dos direitos dos homossexuais.
A melhor atitude em relação a esse tema parece ter sido mesmo a do ator George Clooney. Solteirão convicto, ele não escapou das venenosa línguas de fofoqueiras de Hollywood. A imprensa marrom sempre insinuava que ele seria um gay enrustido dentro do armário. Por que não se casa? Por que não tem filhos? O que o impede de se casar? Cansado desse tipo de boato, o ator foi direto ao ponto. Perguntado por uma jornalista no tapete vermelho do Oscar o ator abriu o sorriso e disse: "Eu sou gay mesmo! Pode publicar aí no seu jornal". Claro, não era verdade, mas sim um ato de solidariedade com a comunidade gay, sempre perseguida por publicações escandalosas. No final vale a resposta de Mae West ao ser informada de que Rock Hudson era gay. Ela sorriu e disse: "Ele era gay? Sorte dos gays. Deixem essas pessoas ser felizes!".
Pablo Aluísio.
Hollywood vai à guerra!
Um dos maiores exemplos de patriotismo veio de James Stewart. Criado no interior, com fortes valores cívicos, Stewart resolveu se apresentar nas forças armadas como um cidadão comum, desprovido de qualquer privilégio. Para tanto acabou entrando nas fileiras de sua tropa como um simples militar da força aérea. Depois, aos poucos, foi subindo dentro da hierarquia militar. Sua boa postura acabou elevando o ator a uma posição de destaque. James Stewart participou de muitas operações e viu de perto algumas das principais batalhas da guerra. Quando deu baixa recebeu a honrosa patente de Coronel, pois havia se tornado piloto de bombardeiros americanos na Europa ocupada pelos nazistas. O curioso é que ele voltaria a interpretar esse mesmo papel em um conhecido filme de guerra chamado "Comando do Ar" que era praticamente uma versão para o cinema do que ele teria vivido durante seu serviço militar na Segunda Guerra Mundial.
Os diretores também entraram no esforço de guerra. Um dos mais famosos, John Ford, logo entrou no campo de documentação e filmagem do exército americano, participando dos registros de várias operações famosas, inclusive do Dia D, quando os países aliados finalmente invadiram a França ocupada por tropas nazistas. Enquanto as tropas aliadas desembarcavam nas praias da Normandia sob fogo pesado dos alemães, a equipe de Ford corajosamente filmava tudo, deixando importantes registros históricos reais do maior conflito da humanidade.
John Wayne já tinha passado da idade certa para prestar o serviço militar, mas participou da guerra vendendo bônus e fazendo publicidade das tropas americanas, em um vasto trabalho para levantar o moral dos soldados americanos no campo de batalha. Ele também decidiu deixar os filmes de western de lado para se engajar numa série de filmes de teor nacionalista a patriótico como os famosos "Tigres Voadores" e "Fomos os Sacrificados". E depois que a guerra acabou, John Wayne continuou a estrelar filmes que reverenciavam a bravura dos militares americanos, como um de seus maiores sucessos, "Iwo Jima - O Portal da Glória" que recriava uma das mais sangrentas lutas da guerra no Pacífico. Ainda hoje esse é considerado um dos maiores e melhores filmes de guerra já feitos por Hollywood.
Já o chamado trio rebelde de Hollywood conseguiu escapar da guerra. Marlon Brando não conseguiu ser habilitado para o serviço militar por ter o joelho destroçado em seus anos como jogador de futebol americano no colégio militar onde estudou. Jovem e na idade certa para servir à guerra, Brando foi dispensado e ficou em Nova Iorque para dar inicio a uma das carreiras mais marcantes da história do cinema. Outro que escapou do front foi o rebelde James Dean. Até hoje pairam dúvidas sobre a razão da dispensa de Dean das forças armadas, mas em biografias recentes o mistério foi desvendado. James Dean abriu o jogo para o agente de convocação e disse que era gay e que morava com um homem em um apartamento de Nova Iorque. A guerra já havia acabado e ele se viu livre do serviço militar. Diante de sua opção declarada logo foi descartado pelo exército americano.
Outro que escapou foi Montgomery Clift. Ele odiava guerras, era um pacifista de coração, mas isso por si não seria motivo para ser dispensado do serviço militar. Ele se apresentou nas fileiras e seguiu todos os procedimentos de alistamento. O que afinal salvou Clift da guerra foi seu corpo franzino e frágil, que foi considerado inadequado para o corpo de fuzileiros navais. Isso aliás não deixou de ser uma grande ironia pois anos mais tarde Clift faria dois grandes clássicos dos filmes de guerra, "A Um Passo da Eternidade" e "Os Deuses Vencidos" mostrando que nem sempre a vida realmente imitava a arte. Afinal se não foi um militar na vida real se tornou um excelente soldado das telas.
Frank Sinatra também enfrentou problemas semelhantes, mas no caso dele parece que sua fuga do exército foi proposital. O ator alegou que tinha problemas de saúde e usando de influência entre militares de alta patente conseguiu ser dispensado. A imprensa porém pegou no seu pé imediatamente. Com pavor de ser chamado de covarde ele começou a trabalhar em prol da venda de bônus de guerra. Já atrizes como Shirley Temple e Judy Garland se dedicaram a fazer shows para os soldados. Elas foram para a Europa e se apresentavam em campos para soldados que estavam na linha de frente do campo de batalha. Já Marilyn Monroe era apenas uma mocinha na época. Mesmo assim conseguiu colher frutos positivos em sua vida. Trabalhando como operária numa fábrica de aviões militares em Los Angeles sua beleza chamou a atenção de um fotógrafo que tirou algumas fotos dela em seu macacão de fábrica. As fotografias foram publicadas em grandes revistas de circulação nacional e isso deu o pontapé inicial em sua carreira de modelo. Em suma, a guerra mudou a vida de muitos astros e estrelas de Hollywood. Foi um acontecimento histórico que marcou toda uma geração.
Pablo Aluísio.
sábado, 14 de dezembro de 2019
A Um Passo da Eternidade
O soldado Robert E. Lee Prewitt (Montgomery Clift) é transferido para uma base militar no Havaí após ter alguns problemas com oficiais no quartel onde servia. Lá ele fica sob o comando do Sargento Milton Warden (Burt Lancaster). Prewitt tem fama de bom boxeador, mas não quer voltar aos ringues. Como o Comandante do grupo é fã do esporte ele tenta convencer o soldado a lutar de qualquer jeito ao lhe impor uma rígida disciplina militar. Seu objetivo é forçar Previtt a lutar na competição militar, mas ele resiste bravamente. Nesse ínterim, o Sargento Milton decide começar um caso extraconjugal com a bela Karen Holmes (Deborah Kerr); O problema é que ela é a esposa de seu Capitão!
"A Um Passo da Eternidade" é um dos clássicos mais famosos da história do cinema americano. O que o distingue dos demais filmes de guerra da época é que o roteiro do filme procura desenvolver o máximo possível o aspecto mais humano dos personagens em cena. O papel de Clift é um exemplo. Ele é um novato que sofre todos os tipos de humilhações dentro da base. Mesmo assim resiste ás provocações para demonstrar seu ponto de vista. Ao se envolver com a dançarina de cabaré Lorene Burke (Donna Reed) ele procura acima de tudo uma redenção em sua vida, algo que valha a pena lutar. O enredo gira em torno dele, mas o filme não se resume a isso pois tem como pano de fundo o grande ataque japonês ao porto americano de Pearl Harbor, fato que ocasionou a entrada dos EUA na II Guerra Mundial. O argumento assim tenta dar um rosto e uma história para os milhares de militares americanos que estavam no Havaí nesse grande bombardeio das forças do império japonês.
Baseado no romance best-seller de James Jones, "A Um Passo da Eternidade" é, em essência, um filme sobre relacionamentos humanos, paixões, rivalidades nas vésperas de um dos maiores acontecimentos da história norte-americana. Além do filme em si ser um marco, a produção ficou conhecida também por várias histórias de bastidores. Uma das mais conhecidas envolveu o cantor Frank Sinatra. Na época ele estava em um péssimo momento na carreira. Após ter um problema vocal suas vendas despencaram e assim Sinatra ficou sem muitas alternativas. Ao descobrir que a Columbia faria "A um Passo da Eternidade" resolveu lutar pelo papel de Angelo Maggio, um soldado boa praça que é vítima de um guarda sádico (interpretado pelo sempre ótimo Ernest Borgnine). O drama para Sinatra começou quando o diretor Fred Zinnemann o recusou para o filme. Segundo afirmam alguns livros o chefão mafioso Sam Giancana, atendendo a um pedido desesperado de Sinatra, colocou Zinnemann contra a parede para que ele escalasse o cantor em decadência. O fato acabou sendo utilizado em "O Poderoso Chefão" em uma cena em que um cantor italiano pede ajuda a Don Vito Corleone para que ele fosse escalado para um filme importante. A cena é impactante quando uma cabeça de cavalo decepada é colocada ao lado da cama de um cineasta famoso.
De qualquer modo, seja lá como entrou no filme, o fato é que Sinatra conseguiu voltar ao auge. Ele venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação e o filme acabou se tornando o grande premiado de seu ano, levando para casa ainda mais sete prêmios. Uma consagração praticamente completa na mais prestigiada premiação do cinema mundial. Burt Lancaster também foi indicado ao Oscar de melhor ator, mas não venceu. Havia um certo preconceito contra ele, por ser um astro de filmes de ação e aventura na época. Já Montgomery Clift foi completamente esquecido em mais uma daquelas famosas injustiças da Academia. A consolação para Lancaster veio pelo fato de ter feito a cena mais famosa de sua carreira, quando beija Deborah Kerr na beira da praia. Um momento considerado extremamente ousado para a época, com sensualidade à flor da pele.
A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Daniel Taradash baseado no romance de James Jones / Elenco: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Frank Sinatra, Donna Reed, Ernest Borgnine, Philip Ober / Sinopse: Nas vésperas do ataque japonês à base de Pearl Harbor, fato que levou os Estados Unidos a entrarem na II Guerra Mundial, um grupo de soldados vivem seus dramas pessoais em um regimento do Havaí. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Fred Zinnemann), Melhor Roteiro (Daniel Taradash), Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Melhor Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Melhor Fotografia em Preto e Branco (Burnett Guffey), Melhor Som (John P. Livadary) e Melhor Edição (William A. Lyon). Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção (Fred Zinnemann) e Melhor Ator Coadjuvante (Frank Sinatra),
Pablo Aluísio.
sábado, 25 de maio de 2019
As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 9
Quando o filme começou a ser rodado nos desertos de Nevada e Califórnia, John Huston percebeu que não, esse não seria o seu melhor filme. Como sempre Marilyn causou problemas. Não chegava na hora certa, não decorava suas falas e tinha ataques de Pânico. Pior do que isso, ele criou uma inimizade, uma raiva irracional contra o ator Clark Gable. O galã veterano já não tinha idade para segurar uma barra daquelas. Era muito stress para ele naquele momento de sua vida.
Estranhamente após a morte de Gable, poucos meses depois do filme ficar pronto, a própria Marilyn confessaria que estava se vingando da figura de seu pai ausente ao tratar mal o velho ator. Acontece que Marilyn associou sua imagem à do próprio pai, que para ela era desconhecido, pois sua mãe jamais conseguiu contar a Marilyn quem era o seu pai verdadeiro. Numa crise que apenas Freud poderia explicar perfeitamente, Marilyn resolveu tratar mal Gable, que no final das contas não tinha nada a ver com seus traumas e complexos de infância.
Nunca é demais lembrar que Marilyn Monroe havia entrado numa espécie de frenesi com psicólogos e analistas de Los Angeles, o que a tornou mais confusa ainda do que já era, segundo disse Billy Wilder. Assim Marilyn indiretamente boicotou o filme que mesmo com todas as dificuldades seria o seu último a ser terminado e lançado nos cinemas. Talvez por vingança ou talvez por pura maldade, o diretor John Huston encaixou uma cena gratuita onde Marilyn ficava jogando pingue pongue, rebolando da forma mais vulgar. Era uma cena desnecessária, mas que para Huston demonstrava que Marilyn era acima de tudo uma "boneca do sexo".
Os Desajustados (The Misfits, EUA, 1960) Direção de John Huston / Elenco: Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Thelma Ritter, Eli Wallach / Sinopse: Roslyn Taber (Marilyn Monroe) é uma mulher sensível, que está se divorciando. Gay Langland (Clark Gable) e um cowboy frio, que passou a vida pegando cavalos e conquistando mulheres divorciadas. Ela não aceita a captura de cavalos selvagens para virarem comida de cachorro, enquanto que ele não haveria nada demais naquilo. No meio de tantos conflitos, nasce uma paixão entre os dois.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 25 de abril de 2019
Montgomery Clift - Além da Alma - Parte 2
De fato a alcunha de esnobe em relação a Clift não me surpreende. Ele era uma pessoa discreta, tímida na vida privada. Geralmente os tímidos são confundidos com esnobes. Não faz diferença. O fato é que Clift teve uma vida sexual das mais discretas em Hollywood. Tentativas de tachá-lo de gay nunca tiveram comprovação inequívoca. Na realidade não são poucos os que acham que ele na realidade era assexuado (uma definição que só há pouco tem se tornado mais comum).
Montgomery Clift realmente não era visto com mulheres em sua passagem por Hollywood. Ator consagrado de teatro resolveu ir para a capital do cinema atraído pelos bons cachês. Mesmo assim nunca se considerou um membro ativo daquela comunidade. Pouco ia a festas e eventos sociais e procurava manter sua privacidade a todo custo. Tanta discrição acabou despertando suspeitas. Como não era visto com mulheres em público logo se começou a especular se era gay. O interessante é que ao contrário de outros gays famosos em Hollywood, como Rock Hudson, por exemplo, tampouco existem testemunhos de algum ex amante do astro. O que parece ter realmente acontecido foi um simples desinteresse sexual por parte de Montgomery Clift, seja por homens, seja por mulheres. Era neutro ou como se diz atualmente, assexuado, desinteressado por sexo.
Clift tinha grandes paixões platônicas geralmente por mulheres. Sua paixão não realizada por Elizabeth Taylor era conhecida. Taylor sempre casando e descasando nunca deu uma chance para Mont e o considerava apenas um grande amigo. Equivocadamente ela pensava que ele era gay mas tampouco chegou a ver ele com qualquer homem em todo o tempo que conviveu ao seu lado. A eterna solteirice de Clift incomodou inclusive seu pai. Confrontado o ator simplesmente explicou: "Minha vida já é complicada demais sem outra pessoa, por isso não me envolvo mais seriamente com alguém. Mesmo assim darei 10 mil dólares a qualquer um que comprove que não gosto de garotas". Depois que sofreu um grave acidente de carro Montgomery Clift ficou ainda mais recluso e retraído. Sentindo fortes dores de cabeça e sofrendo com as consequências do acidente as chances de sair para cortejar com qualquer pessoa, seja homem ou mulher, ficaram nulas. Clift morreu solteirão e carregando uma injusta fama de homossexual quando na verdade ele simplesmente parecia estar além do sexo.
Pablo Aluísio.
Montgomery Clift - Além da Alma - Parte 1
Mesmo assim o destino e a sétima arte os uniriam, até mesmo porque a riqueza da família Clift seria tragada por causa da grande depressão que arrasaria a economia americana em 1929, durante a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque. O pai de Monty, um rico especulador de ações, perderia praticamente tudo com a crise. Arruinados financeiramente, a família Clift mudou-se então para Nova Iorque, deixando o meio oeste durante os anos 1930. Essa mudança de cidade iria também mudar para sempre o destino de Montgomery Clift. Criado para ser um dândi da elite de Nebraska, ele precisou rever seus conceitos na grande cidade, na grande Maçã, como Nova Iorque era conhecida.
Ao invés de estudar em colégios privados tradicionais ele foi parar em uma escola pública do Brooklyn. Monty que sempre havia estudado com jovens ricos e bem educados de Omaha, se viu de repente no meio de um pessoal mais barra pesada, que partia para a briga nos intervalos. Nova Iorque era realmente uma selva e para sobreviver por lá o jovem Monty precisou se impor, não por meio de sua educação refinada, mas sim pela força dos punhos. Sem dúvida foi uma mudança brutal, de um meio aristocrático, para um realidade bem mais pé no chão.
Em meio a tantas mudanças algo no novo colégio mudaria para sempre sua vida. Ele se apaixonou pelo teatro. O departamento teatral da escola era muito bom, muito original, um ambiente que valorizava o talento dos alunos que mostravam o interesse pela arte de interpretar. Monty foi fisgado desde os primeiros dias. Ele sabia que Nova Iorque era um dos lugares mais efervescentes do mundo em termos teatrais. Havia muitas peças sendo encenadas na Broadway e no circuito Off-Broadway. As oportunidades estavam em todos os lugares. Vendo que poderia arranjar trabalho no meio teatral da cidade ele se empenhou nas peças escolares em que atuou. Seu objetivo era ganhar experiência para partir para a Broadway, até porque trabalhar havia se tornado uma necessidade em sua casa, pois seu pai enfrentava muitas dificuldades para arranjar um emprego.
Pablo Aluísio.