sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Duelo de Gigantes

Que tal unir dois dos mais talentosos atores do século XX em um westen, digamos, diferente? Pois foi essa a proposta de "Duelo de Gigantes" que reuniu Jack Nicholson e Marlon Brando em uma obra tão surpreendente como diferente. Em suas memórias pessoais Brando confessa que fez o filme apenas por dinheiro. Como sempre ele estava muito endividado e assim aceitou participar do filme, mas achou o roteiro muito vazio e sem expressão. Só durante as filmagens é que ele teve a ideia de inovar com a figura de seu personagem. Vestiu roupas de mulher, usou um figurino espalhafatoso e exagerado e caprichou na caracterização nada comum do pistoleiro que interpretava. Como era um mito do cinema ninguém ousou ir contra suas decisões durante as filmagens. Outro aspecto curioso de "Duelo de Gigantes" narrado em seu livro foi a falta de respeito do estúdio que não pagou em dia seu cachê combinado. Brando ficou furioso com isso e começou a criar novos problemas. Esquecia as falas, inventava sotaques absurdos para declamar o texto e estragava takes de forma proposital. Até o dia em que um alto executivo foi lhe visitar em seu camarim. Brando deixou claro que se o pagassem em dia provavelmente ele começaria a recordar suas falas e quem sabe até trabalhar direito! Não tardou para que a Warner começasse a lhe pagar conforme estipulava seu contrato!

Marlon Brando e Jack Nicholson eram vizinhos e se admiravam tanto como amigos quanto como profissionais. Brando via em Nicholson um provável sucessor de sua própria carreira. Não eram da mesma geração, quando Jack surgiu no cinema Brando já tinha vários de sucessos na carreira, mas o ator procurou se posicionar num patamar de igualdade com o colega mais jovem. Jack Nicholson, sempre excêntrico, procurou dessa vez não criar muitas encrencas no set, uma vez que Brando já estava criando seus próprios no desenrolar das filmagens. Apesar dos grandes nomes envolvidos, o saldo final se revela um pouco irregular. "Duelo de Gigantes" se destaca por ser diferente, por sair do lugar comum dos filmes de faroeste daquela época. Não chega a ser um filme excepcional, mas as excentricidades de Marlon Brando acabam mantendo completamente o interesse no resultado da obra. De fato o que vemos em cena é um Brando deitando e rolando com os mitos do gênero. Seu pistoleiro, Lee Clayton, é visivelmente andrógino e fora dos padrões. A impressão que temos é que Brando quis mesmo reverter os cânones do estilo. Funciona em certas ocasiões, mas em outras não. De qualquer modo um filme que conseguiu reunir dois mitos desse porte jamais pode ser ignorado pelos cinéfilos e essa é a grande força de "Duelo de Gigantes".

Duelo de Gigantes (The Missouri Breaks, EUA, 1976) Direção: Arthur Penn / Roteiro: Thomas McGuane / Elenco: Marlon Brando, Jack Nicholson, Randy Quaid, Harry Dean Stanton  Kathleen Lloyd / Sinopse: Um rico e próspero rancheiro se vê ameaçado pelo constante roubo de seus cavalos na região onde vive. Os roubos são atribuídos a um conhecido renegado, Tom Logan (Jack Nicholson). Para resolver seus problemas ele resolve contratar o pistoleiro Lee Clayton (Marlon Brando), um exótico fora-da-lei que chama atenção não apenas por sua habilidade no gatilho, como também por seu modo nada convencional de se vestir e se apresentar em público.

Pablo Aluísio.

Com a Corda no Pescoço

Henry Lloyd Moon (Jack Nicholson) é um renegado confederado que após o fim da guerra civil forma um bando de criminosos como ele para roubar bancos e cavalos nas localidades mais distantes do velho oeste americano. Após uma perseguição sem tréguas por homens da lei ele tenta chegar ao Rio Grande onde espera atravessar a fronteira em direção ao México, se livrando assim das mãos do xerife. Ele porém não tem muita sorte e seu cavalo desmaia de exaustão. Preso e levado de volta para a cidade, Moon finalmente é julgado e condenado a morte por enforcamento (a pena padrão para ladrões de cavalos naquela época). Sua única chance de não ser enforcado é ser escolhido por alguma mulher da região como marido. Há em vigor uma lei da guerra civil que livraria os condenados à forca caso alguma senhorita o escolhesse para se casar. A justificativa dessa norma legal era simples: como muitos homens tinham morrido na guerra o número de mulheres solteiras e solitárias era muito grande e todo homem era alvo de disputa mesmo se estivesse condenado a morrer no laço da forca. Dessa forma o casamento livraria o criminoso de ser pendurado na forca até a morte!

Assim no último minuto, já no cadafalso, a senhorita Julia Tate (Mary Steenburgen) então decide escolher Moon para ser seu marido, o livrando da morte! A sorte parece finalmente ter sorrido para ele, mas na realidade mal sabe o ex condenado no que estaria se metendo! Começa assim esse divertido “Com a Corda no Pescoço”, filme estrelado e dirigido por Jack Nicholson. Embora seja passado no velho oeste o roteiro deixa claro, desde o começo, que o tom da produção será leve, divertido, se apoiando muito mais no relacionamento do estranho casal do que em qualquer outra coisa. É quase uma comédia de costumes. Nicholson novamente se sai muito bem. Seu personagem é um bandido sem eira nem beira, barbudo e maltrapilho, que vaga em busca de alguma oportunidade. Ele parece mais um renegado sem futuro do que qualquer outra coisa. Já a atriz Mary Steenburgen está uma graça como uma mulher que resolve se casar com “aquilo” para no fundo ter apenas um empregado de graça em seu rancho e na mina onde sonha encontrar finalmente ouro, depois de muitos anos de busca. O elenco de apoio é acima da média, com destaque para as presenças de Christopher Lloyd, que interpretaria anos depois o cientista Dr. Brown da série "De Volta para o Futuro" e John Belushi, comediante de sucesso do programa "Saturday Night Live" que havia brilhado em "Clube dos Cafajestes" no cinema nesse mesmo ano. Enfim, eis um western com tempero de muito humor, que não deve ser levado à sério, pois é pura e simples diversão pipoca, onde aliás funciona muito bem.

Com a Corda no Pescoço (Goin' South, EUA, 1978) Direção: Jack Nicholson / Roteiro: John Herman Shaner, Al Ramrus / Elenco: Jack Nicholson, Mary Steenburgen, Christopher Lloyd, John Belushi / Sinopse: Moon (Nicholson), ladrão de bancos e cavalos, é salvo no último minuto da forca ao ser escolhido pela senhorita Tate (Steenburgen) como seu marido. A união trará muitas confusões. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Mary Steenburgen).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Game of Thrones - Episódios Finais

Game of Thrones 7.07 - The Dragon and the Wolf
Esse foi o último episódio da sétima temporada, com duração extra de 80 minutos. Pois é, metragem de longa no cinema, mas se formos ver bem pouca coisa acontece. Basicamente Cersei Lannister concede uma audiência para a rainha Daenerys Targaryen e seu "diplomata" Tyrion Lannister para a formação de uma aliança contra os caminhantes mortos-vivos que estão chegando do norte. Claro que tantos personagens que se odeiam não chegam logo a um consenso. Com veneno escorrendo pelo canto da boca, cada um quer uma chance para trair o outro. De uma forma ou outra a aparição de um caminhante que é trazido dentro de uma caixa perante a rainha Cersei acaba impressionando os presentes. Praticamente um esqueleto que anda, a estranha criatura acaba convencendo a líder do clã Lannister que é chegado mesmo o momento de se fazer uma aliança militar contra o inimigo comum. E finalizando apenas dois outros momentos do episódio chamam a atenção. Em um deles ficamos sabendo que Jon Snow provavelmente não seja apenas um bastardo Stark, mas sim o verdadeiro herdeiro do trono de ferro. E na última cena, a melhor, que infelizmente dura pouco, vemos o ataque dos caminhantes contra a muralha do norte que acaba indo abaixo pelo ataque de um dos dragões que agora cercam fileiras com os mortos-vivos, abrindo assim o gancho para a próxima temporada, que vamos esperar para conferir nos próximos meses. / Game of Thrones 7.07 - The Dragon and the Wolf (Estados Unidos, 2017) Direção: Jeremy Podeswa / Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss / Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Kit Harington, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Sophie Turner, Maisie Williams.

Game of Thrones 8.01 - Winterfell
Primeiro episódio da oitava temporada, a última, que tanta polêmica causou. Sim, eu sei, muita gente odiou o episódio final da série, mas ainda não cheguei lá, por isso vou comentando os episódios que vou assistindo nas próximas semanas. Esse episódio na realidade é uma grande preparação para a grande batalha que se travará. Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) está cada vez mais apaixonada por Jon Snow (Kit Harington). Mesmo com toda a tensão ela já não consegue esconder que está completamente atraída por ele, com direito a passeios em cima do dragão e tudo mais. Há uma tentativa de unir todos os clãs contra o Rei da Noite e seus mortos-vivos, mas isso esbarra nos planos da rainha Cersei Lannister (Lena Headey) que está mais preocupada em trair os que esperam por sua ajuda. Ela chega até mesmo a se entregar a um nobre inferior por causa de sua poderosa frota de navios. Algo asqueroso. Esse é um episódio bem mediano, sem maiores supresas. Em certos momentos cai no tédio, o que não é nada bom para uma série como essa. / Game of Thrones 8.01 - Winterfell (Estados Unidos, 2019) Direção: David Nutter / Roteiro: Gursimran Sandhu, Ethan J. Antonucci / Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Kit Harington, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, .

Game of Thrones 8.05 - The Bells 
No total foram oito anos de série. Quase 70 episódios. Assisti do primeiro ao último. E assim chegamos nesse penúltimo episódio. Nos anteriores vimos a destruição do Rei da Noite e seu exército de mortos. Quando tudo parecia perdido, quando todos esperavam pela morte certa, Arya Stark (Arya Stark) se torna a heroína da vez ao apunhalar o Rei da Noite. E tal como acontecia nos antigos filmes de Drácula, uma vez morto o líder toda a sua legião perece em um piscar de olhos. Passada a crise que poderia aniquilar todos os personagens, eles agora se voltam contra Cersei Lannister (Lena Headey). O objetivo é tomar Porto Real, o que não será nada fácil. Porém a rainha Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) não vê limites para sua ambição e sede de poder. Ela não apenas invade Porto Real como também promove um genocídio e uma carnificina jamais vista na série. Crianças, mulheres, idosos, ninguém é poupado. Esse episódio é uma virada de chave, pois mostra que Daenerys não passa de uma psicopata e uma mulher cruel, fria e sem compaixão. O próprio conceito de uma tirana perigosa. Tyrion Lannister (Peter Dinklage) logo percebe bem isso. Andando pelas ruas destruídas da cidade ele finalmente entende com quem está lidando. Jon Snow (Kit Harington) ainda tenta acreditar em algo bom, mas o cenário é devastador demais para se chegar em outra conclusão. / Game of Thrones 8.05 - The Bells (Estados Unidos, 2019) Direção: Miguel Sapochnik / Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss / Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Kit Harington.

Game of Thrones 8.06 - The Iron Throne 
Finalmente chegamos ao fim. E o que aconteceu nesse episódio final de Game of Thrones? Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) chega ao auge de seu poder. Porto Real, completamente destruída, está aos seus pés. Um massacre foi promovido. Ela finalmente se vê diante do Trono de Ferro feito com mil espadas do inimigo. A destruição foi tão grande que nem sequer mais o salão real existe. O trono está ao céu aberto. A vitória porém tem um gosto amargo. Tyrion Lannister (Peter Dinklage) renuncia ao seu posto e é imediatamente preso. A traição maior porém vem de Jon Snow (Kit Harington). Ele abraça a rainha, fingindo beijá-la, mas na verdade a apunhala na pura traição. A mãe dos dragões morre imediatamente. É o fim de Daenerys Targaryen. O tão cobiçado trono de ferro também não sobrevive, sendo completamente derretido pelo seu dragão. É algo bem simbólico, simbolizando o fim de uma era. Com todos os clãs desorganizados a pergunta que se sucede no caos é simples: Quem será o novo Rei ou Rainha? Para surpresa de todos o escolhido é improvável, o jovem Bran Stark (Isaac Hempstead Wright). Mesmo preso em uma cadeira de rodas ele parece ser uma escolha sensata para liderar os seis reinos. Eu estava apostando mesmo em sua irmã, Sansa Stark (Sophie Turner), mas ela acaba mesmo apenas como a Rainha do Norte. Por fim a última pergunta: que fim leva Jon Snow? Pelas linhas de sucessão ele deveria ser o legítimo herdeiro do trono de ferro, mas acaba em desgraça por ser o assassino. Assim ele é enviado de volta para as muralhas congeladas da fronteira norte. Gostei desse episódio final e em minha opinião ele passou muito longe de ser o desastre que tantos disseram. Nada disso, foi um roteiro adequado, bem escrito, onde prevaleceu o bom senso e os bons valores. Assim "Game of Thrones" chegou ao seu final com a mesma qualidade que atravessou toda a série. Pena que acabou, vai deixar saudades nos fãs de boas séries de TV. / Game of Thrones 8.06 - The Iron Throne (Estados Unidos, 2019) Direção: David Benioff, D.B. Weiss / Roteiro: David Benioff, D.B. Weiss / Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Nikolaj Coster-Waldau, Lena Headey, Kit Harington, Isaac Hempstead Wright.

Pablo Aluísio.

Trágica Fatalidade

Victor Scott (Edward G. Robinson) é um vaidoso promotor de justiça que acaba acusando um homem inocente de assassinato. Condenado à cadeira elétrica descobre-se depois que ele não havia cometido o crime. Em crise existencial pelo ocorrido Victor decide abandonar a promotoria para se tornar advogado de defesa pois em suas próprias palavras prefere deixar 100 culpados soltos do que condenar um inocente à pena capital. Na nova vida como profissional liberal ele abre um pequeno escritório de advocacia onde começa a atender clientes acusados dos mais diversos crimes. Entre eles está Frank Garland (Albert Dekker) que sob a fachada de ser um mero homem de negócios é na verdade um gangster perigoso e violento. Edward G. Robinson fez mais de 100 filmes em sua longa carreira no cinema, quase sempre interpretando gangsters. Aqui ele muda de lado e faz um homem da lei, um promotor e depois advogado, que tenta de todas as formas ter uma postura ética e isenta em sua profissão, o problema é que como descobrirá depois não há muito espaço para esse tipo de postura no meio jurídico americano.

“Trágica Fatalidade” é claramente uma crítica ao sistema judicial, onde definitivamente não há espaço para crises éticas ou existenciais. Robinson está perfeito em seu papel, um sujeito que logo se vê corrompido pelo sistema, tendo que aplicar pequenos (e grandes) golpes para sobreviver entre os tubarões. Para piorar se vê enrolado nas teias do crime organizado após abandonar seu cargo de promotor. O roteiro é muito bem escrito, joga muito bem com as artimanhas do meio jurídico e tira bastante proveito das chamadas brechas da lei. No elenco além da sempre importante presença de Edward G. Robinson temos a bela Jayne Mansfield. Sua interpretação é claramente uma imitação dos trejeitos de Marilyn Monroe em todos os aspectos (até o jeito de falar sussurrando Jayne tenta copiar). Sua personagem é secundária e sem importância durante todo o filme mas assume uma função vital no clímax que ocorre no tribunal. Enfim, para quem gosta de roteiros bem trabalhados e tensos casos judiciais “Trágica Fatalidade” certamente é uma boa opção.

Trágica Fatalidade (Illegal, EUA, 1955) Direção: Lewis Allen / Roteiro: W.R. Burnett, James R. Webb / Elenco: Edward G. Robinson, Nina Foch, Hugh Marlowe / Sinopse: Promotor decide abandonar a carreira após trabalhar em um caso onde um homem inocente é mandado para a cadeira elétrica por erro judicial. Após se tornar advogado de defesa de vários criminosos se vê envolvido numa teia de corrupção e violência sob as ordens de um violento gangster.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Projeto Gemini

Eu fui ao cinema assistir a esse filme sabendo pouco ou quase nada sobre ele. Basicamente sabia apenas que era o novo filme de ação de Will Smith. Mais nada além disso. Por isso achei que seria apenas mais um filme genérico desse estilo. Os filmes de ação aliás estão rodando em torno de si mesmos há anos, sem novidade ou criatividade nenhuma. De fato esse "Projeto Gemini" não foge muito disso, porém a despeito de suas falhas acabou me surpreendendo de forma até positiva. Claro, a questão dos clones pode ser encarado como algo saturado, cujo tema já havia se esgotado no cinema. Porém conseguiram deixar esse aspecto mais em segundo plano. Não irrita a nossa paciência e nem ofende nossa inteligência. Nesse aspecto não me senti incomodado.

O roteiro procura muitas vezes desenvolver mais os personagens interpretados por Will Smith. Há o assassino profissional veterano, que agora repensa sobre sua vida de mortes e um clone dele, trinta mais jovem, que é levado pela agência a eliminar o velho assassino justamente porque agora ele começa a ter consciência e pode se tornar um elemento perigoso. O curioso é que o tempo todo os personagens se referem à "agência", mas nunca deixam claro que se trata da CIA. Do jeito que ficou, parece ser qualquer órgão do governo, mas sem especificar. Em termos de efeitos digitais os técnicos do filme precisaram criar um "Will Smith jovem", o seu clone. Ficou bom, mas em algumas momentos também ficou um pouco esquisito. A computação gráfica ainda não atingiu cem por cento de perfeição. E há um segundo clone, esse mais direcionado a ser uma mera "máquina de matar". Ele surge apenas em uma cena, mas causa estrago. No mais há boas cenas de ação (com destaque para a perseguição de motos) e lutas bem coreografadas. O diretor Ang Lee ainda não perdeu a mão para esse tipo de filme. Não chega a ser um clássico dos filmes de ação, mas funciona como entretenimento de fim de semana.

Projeto Gemini (Gemini Man, Estados Unidos, 2019) Direção: Ang Lee / Roteiro: David Benioff, Billy Ray / Elenco: Will Smith, Clive Owen, Mary Elizabeth Winstead,Benedict Wong / Sinopse:      Henry Brogan (Will Smith) é um assassino profissional que passa a ser perseguido por seu próprio clone, fruto do projeto Gemini desenvolvido pelo governo americano. A missão é de queima de arquivo, para que o velho matador não comece a prejudicar a agência de inteligência no qual trabalhou por anos a fio.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Coringa

"Coringa" é um excelente filme! Poucas vezes um personagem de quadrinhos teve um tratamento tão perfeito em termos de desenvolvimento psicológico como o que vemos aqui nessa produção. O espectador inclusive vai se pegar torcendo para um dos vilões mais conhecidos da cultura pop. E isso é fruto da forma como sua história é tecida na tela. Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é um pobre coitado. Ele tem problemas mentais, uma mãe doente em seu pequeno apartamento e todos os dias sai em busca de sua sobrevivência. E como ela é penosa. Trabalhando como palhaço no meio da rua acaba apanhando de um grupo de jovens delinquentes. Pior do que isso, além de ser muito mal pago ainda é alvo de todos os tipos de humilhações possíveis. Tem alma de artista, mas não tem talento para ser comediante de palco, como tanto sonha. Sua única apresentação é melancólica, depressiva e vira alvo de piadas de um apresentador de TV sem caráter (em mais um ótimo desempenho de Robert De Niro).

Enquanto consegue manter sua medicação Arthur consegue manter, a duras penas, um pé na sanidade. Quando o serviço social de que participa é fechado por corte de custos, Arthur fica sem remédios e ao "Deus dará". A partir desse ponto ele deixa cada vez mais de ser o sofrido Arthur para virar o Coringa, um palhaço criminoso que mata com um riso constrangido no rosto. O filme nesse ponto se torna dramaticamente muito rico, pois ao mesmo tempo que ficamos chocados com os crimes do "Joker", também sentimos uma compaixão pela situação que ele vive. E o curioso é que o roteiro também tem um toque de luta de classes. A família Wayne é retratada como parte de uma elite corrupta, sem sentimentos, mais preocupada em manter o fosso que a separa de uma cidade cheia de pobres e almas desesperadas. Esse aspecto do argumento vai tocar fundo em muitas pessoas - principalmente naquelas que cultivam um viés político mais à esquerda. Embora ele seja uma pessoa apolítica, seu ponto de vista com uma visão negativa do mundo é a que prevalece no filme.

O elenco está excepcional. Desnecessário elogiar a atuação de Joaquin Phoenix, Ele está estupendo! Coloca inclusive o veterano Robert De Niro no bolso e ainda dá troco. A alma de Heath Ledger (que Deus o tenha em boa mãos) que me perdoe, mas ele foi superado nesse papel. Seu Coringa era excepcional, mas ainda era um coadjuvante em um filme de Batman. Aqui temos o palco inteiro para o vilão da DC Comics brilhar. E com um background de história pessoal tão rico fica mesmo complicado superar. Não é de hoje que elogio Phoenix, mas nesse filme ele não apenas superou todos os demais, ele superou a si mesmo. E isso definitivamente não é pouca coisa. Deixo meus aplausos para ele nesse trabalho memorável. Que o Oscar lhe faça justiça na próxima premiação. Torcerei por ele por uma questão de pura justiça e merecimento.

Coringa (Joker, Estados Unidos, Canadá, 2019) Direção: Todd Phillips / Roteiro: Todd Phillips, Scott Silver / Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz / Sinopse: Arthur Fleck (Phoenix) vive um dia de cada vez. Ele mora com a mãe em um pequeno apartamento de Gotham City, uma cidade repleta de sujeira, crimes e violência. Fleck também precisa controlar sua doença mental, mas a cada dia isso vai se tornando cada vez mais complicado. A insanidade sempre parece estar batendo sua porta. E nessas ocasiões o Joker pode entrar em sua vida de uma vez por todas.

Pablo Aluísio. 

Fugindo do Inferno

Um grupo de prisioneiros ingleses e americanos tenta de todas as formas fugir de um campo de prisão alemão durante a II Guerra Mundial. O local foi especialmente construído pelo Terceiro Reich para abrigar os maiores mestres em fugas sob custódia no conflito. Esse é certamente um dos filmes mais lembrados quando se trata de fitas sobre fugas espetaculares. Além disso é considerado uma das produções mais populares estreladas pelo carismático Steve McQueen, na época no auge de sua popularidade como astro de filmes de ação. Embora pouca gente perceba isso o fato é que "The Great Escape" tem grande "parentesco" com outro clássico estrelado por McQueen, "Sete Homens e Um Destino". Ambos foram dirigidos pelo mesmo cineasta e conta com praticamente a mesma equipe no mesmo estúdio. Se compararmos os dois porém veremos que "Fugindo do Inferno" conta com uma produção bem acima do anterior, fruto é óbvio do grande sucesso do famoso western. Por trás das câmeras se sobressai o trabalho do excelente (e subestimado) John Sturges, que aqui entrega uma pequena obra prima dos filmes de guerra.

O roteiro foi baseado no livro de memórias de um participante da fuga (que foi real e aconteceu em 1944, já na fase final da II Guerra Mundial). Claro que o filme toma enormes liberdades com o material original, o livro de Paul Brickhill. O túnel que vemos em cena certamente é irreal, tal o seu grau de sofisticação. Obviamente que a escavação real mais parecia com um mero buraco do que qualquer outra coisa, muito longe do que vemos na tela. Aliás essa falta de veracidade seria satirizada anos depois na comédia "Top Secret" de 1984. O fato é que "Fugindo do Inferno" é acima de tudo uma obra de entretenimento e não esconde isso, principalmente em seus letreiros iniciais quando deixa claro que embora baseado em história real houve várias mudanças nos personagens, locais e tempo em que aconteceram os fatos reais. Longo em sua duração o filme não cansa o espectador pois a trama é muito bem amarrada e mantém o interesse. O roteiro também causa surpresa por ter basicamente dois finais, o primeiro na fuga e o segundo nos acontecimentos que ocorreram após a mesma ter sido levado a cabo. De qualquer forma "Fugindo do Inferno" é certamente um dos melhores filmes de guerra já feitos. Movimentado, bem escrito e com muito suspense e emoção. Se não conhece ainda não deixe de assistir.

Fugindo do Inferno (The Great Escape, EUA, 1963) Direção: John Sturges / Roteiro: James Clavell, W.R. Burnett baseados no livro de Paul Brickhill / Elenco: Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, James Donald, Charles Bronson, Donald Pleasence, James Coburn, Hannes Messemer, David McCallum / Sinopse: Um grupo de prisioneiros ingleses e americanos tenta de todas as formas fugir de um campo de prisão alemão durante a II Guerra Mundial. O local foi especialmente construído pelo Terceiro Reich para abrigar os maiores mestres em fugas sob custódia no conflito.

Pablo Aluísio.

Jovens Demais Para Morrer

Roteiro e Argumento: O roteiro de Young Guns II mistura fatos reais com ficção. De forma geral é bem mais fantasioso do que o primeiro filme. Existem cenas que jamais aconteceram na história real como o encontro de Billy The Kid com o governador. Outras são totalmente corretas do ponto de vista histórico como a fuga de Billy da delegacia e a morte dos dois homens da lei. De maneira em geral o roteiro adaptou muita coisa para dar mais agilidade ao filme no que fez bem pois o resultado final é bem dinâmico e não há problemas de ritmo na fita.

Produção: Essa franquia Young Guns sempre foi muito bem produzida. Filmada no Arizona o clima da região em que viveu Billy The Kid é muito bem recriada em cena (embora a história real tenha se passado no Novo México, muito mais árido e inóspito). De resto tudo está muito bem fiel, tanto do ponto de vista de figurinos (Billy quase sempre está com roupas modestas) como de costumes (apenas o bordel mostrado do filme é muito mais luxuoso do que realmente era na época).

Direção: Esse é o filme de maior projeção da carreira do diretor Geoff Murphy. Dele só consigo me lembrar do péssimo Freejack, aquele filme B com o Mick Jagger. De qualquer forma temos que reconhecer que seu trabalho aqui está muito bom. Na verdade alguns membros da equipe dizem que o filme foi co-dirigido por Emilio Estevez que apenas não quis se comprometer assinando a direção também.

Elenco: A franquia Young Guns é conhecida por reunir em seu elenco jovens atores que estavam na crista da onda na época. Assim temos além de Emilio Estevez como Kid, os atores Kiefer Sutherland (Garotos Perdidos), Lou Diamond Phillips (La Bamba). Como coadjuvantes algumas boas surpresas como a presença do veterano James Coburn e de Alan Ruck (O amigo de Mathew Broderick em Curtindo A Vida Adoidado).

Jovens Demais Para Morrer (Young Guns II, EUA, 1990) Direção: Geoff Murphy / Roteiro: Geoff Murphy / Elenco: Emilio Estevez, Kiefer Sutherland, Lou Diamond Philiphs, Christian Slater, Alan Ruck, James Coburn e Viggo Mortensen / Sinopse: O filme narra os últimos momentos da vida do famoso pistoleiro Billy The Kid (Emilio Estevez) ao mesmo tempo em que levanta a curiosa hipótese em que Billy não teria sido morto por Pat Garret como diz a história oficial mas sim que teria sobrevivido e chegado à velhice, onde finalmente revela sua verdadeira identidade.

Pablo Aluísio.